ARTHUR OMAR DE NORONHA SQUEFF (1948, Poços de Caldas, MG )

foto do artista

Texto: Internet/Divulgação

BIOGRAFIA:

Artista brasileiro contemporâneo. Trabalha com fotografia, cinema, instalações e artes plásticas. Foi considerado, nos anos 80, um dos primeiros artistas no Brasil a lidar com novas mídias, como o vídeo. Possuidor de obras constantes no acervo dos principais museus do Brasil e em diversas instituições internacionais, o artista tem participado de exibições dentro e fora do Brasil, como por exemplo a Bienal de Valência, Espanha, 2000; Bienal do Mercosul, Porto Alegrer, RS, 1999; Bienal de Havana, 2000; Babel, Museu de Arte Contemporânea da Coréia, 2002, e feiras como ARCO 2000 e 2003, Madrid, Espanha; Foto Arte Brasília, Brasília, DF, 2003; LisboaPhoto, Lisboa, Portugal, 2003, onde ocupou a totalidade do Pavilhão de Portugal com uma grande retrospectiva de seus trabalhos e preto e branco. Em 1999 apresentou no Museu de Arte Moderna de Nova York, Moma, uma retrospectiva em filme e vídeo. Na 24ª edição da Bienal Internacional de São Paulo, em 1998, apresentou a instalação “A Grande Muralha”, um painel com 99 fotografias em grandes formatos, medindo ao todo 40 metros de extensão. Constam em sua filmografia alguns dos mais importantes filmes experimentais realizados no Brasil, tais como “Congo”, 1972; “Tesouro da Juventude “, 1977;  “Vocês”, 1979; “Música Barroca Mineira”, 1980; “O Som ou Tratado de Harmonia”, 1984;  “Ressurreição”, 1987;  “O Inspetor”; 1988;  e o longa-metragem “Triste Trópico”, 1974, reconhecido pela crítica cinematográfica como um dos filmes mais importantes do cinema brasileiro contemporâneo. Publicou os livros de fotografias “Antropologia da Face Gloriosa”; “O Zen e a Arte Gloriosa da Fotografia”; e “O Esplendor dos Contrários”. Em “A Lógica do Êxtase”, editou um livro/referência sobre sua obra em filme e vídeo. Sobre a diversidade de campos de atuação, sua presença em várias áreas na arte brasileira de hoje, e sendo considerado um renovador da linguagem e técnicas para a realização de uma iconografia brasileira, disse: “Cada uma dessas áreas atinge, atende às necessidades de uma zona cerebral e eu procuro manter todas as minhas zonas cerebrais excitadas, em atividade, nem sempre ao mesmo tempo, mas elas são mantidas assim. É por isso que eu não consigo abandonar uma área para me concentrar exclusivamente na outra. Aliás, o meu processo é ao contrário: ‘eu estou numa para não estar na outra’. É um processo negativo. Quando eu faço meus desenhos é exatamente na época em que eu tenho que escrever um roteiro, eles não são tradução do roteiro, eles são mesmo um outro universo. A fotografia é para eu não escrever, eu escrevo para não fazer música, eu faço música para não desenhar etc… Todos os trabalhos meio que surgem como por acaso, como que entre parênteses, é por isso que eu não me identifico com nenhum deles, porque no momento que eu estou praticando um eu deveria até por obrigação contratual, ou por imposição pessoal, estar fazendo o outro. Eu encaro como se fosse uma atividade marginal. Isso é o artista marginal, em cada arte que ele atua ele se sente à margem daquela arte. Eu não estou à margem da sociedade, eu estou à margem de mim mesmo a cada momento que estou produzindo alguma coisa.”  Já para o livro “Viagem ao Afeganistão”, com mais de 626 imagens, afirmou que : “...foi realizado em um país em guerra, é um dos resultados dessa viagem, não como um diário ou uma reportagem, mas como proposição para abarcar questões que transcendem temas geopolíticos. Em março de 2001 o mundo assistiu à explosão de duas gigantescas estátuas de budas na cidade de Bamiyan, no Afeganistão. No início do ano seguinte, fiz uma expedição com o sonho de resgatar um dos pedaços destes monumentos destruídos pelos talibãs para exibi-lo na Bienal de Arte de São Paulo”. A edição, pela Cosac & Naif, traz a apresentação de Antonio Negri - intelectual italiano -, mais três textos de Arthur Omar, relatando sua aventura em temperaturas negativas na busca dos destroços da imagem religiosa. Com um trabalho poético e original, o artista põe em debate conceitos da própria linguagem fotográfica. Em 2001 foi premiado por duas exposições individuais pela Associação Paulista de Críticos de Arte: “O Esplendor dos Contrários”, realizada no Centro Cultural Banco do Brasil-SP, série de fotografias de paisagens amazônicas, nas quais reinventa o espaço e a luz e trabalha com efeitos em 3D, e a exposição “Frações da Luz”, na Galeria Nara Roesler, série de caixas de luz em que explora a luminosidade "interna" de imagens vindas de diferentes suportes.

"As fotos que compõem a coleção da Antropologia da Face Gloriosa foram capturadas exatamente como as imagens dos meus vídeos: nenhum roteiro, nenhum projeto. No início, é apenas o tema, e nada mais. Começo a trabalhar. Lentamente, vai surgindo a questão do ato. Entrando em mim. É o instante em que eu e o outro entramos juntos naquilo que eu chamo de êxtase. O êxtase, na teoria da Antropologia da Face Gloriosa, é o fio condutor básico. Acredito que todos nós estejamos atravessando estados gloriosos, o tempo todo, em algum lugar secreto no nosso psiquismo. Somos figuras mágicas, míticas. Mesmo na pessoa mais elementar do planeta, o potencial humano de transcendência está lá. Mas quando acontece, é numa velocidade que as malhas da consciência não conseguem capturar. Elas são muito largas. Não conseguem apreender a partícula: é um ponto mínimo que atravessa qualquer rede. Um peixe infinitesimal, portanto impossível de ser pescado. O ato fotográfico, o ato de filmar, acontece, na sua radicalidade, quando eu, de alguma forma, através da câmera (e tenho que estar com o aparelho comigo, em disponibilidade, na intenção de realizar aquilo) convoco essa partícula minha. E essa partícula, e mais a do outro, de repente, as duas partículas, como um acelerador de partículas, se chocam naquele instante; é uma fração, é infinitesimal. No instante em que a fotografia é disparada, eu não vejo nada. Uma coisa quase automática. Choque de partícula contra partícula, que me faz atingir um estado transcendente. Mas não posso fazer nada contra este estado, nem tirar dele nenhuma lição, simplesmente porque foi tão breve que nem soube que o atingi. A única coisa que posso fazer é, em etapas posteriores, trabalhar a matéria que foi gerada ali, naquele instante, do qual não conservo memória, pois se passou num grau de resolução menor do que a minha capacidade mental de reter. Tenho que trabalhar esse material a posteriori. Recomeçar o processo do zero, mas num nível superior, numa etapa técnica subseqüente. No caso das fotografias, há a descoberta das faces. Depois uma transformação da matéria. A granulação, o rebaixamento, a seleção de fragmentos, a ampliação, o corte, o recorte, o enquadramento. Uma retrospecção ativa e às cegas de um estado superior que não deixou traço em mim".

 

REFERÊNCIA:

Referências: Ahmed, Flávio. "Dois Curtas de Arthur Omar". Cine Imaginário, ano 3, n.35, outubro 1988; "Partitura literária sobre O Som ou o Tratado de Harmonia - Um filme de Arthur Omar". Letras & Artes, Rio de Janeiro, ano IV, no 10, setembro de 1990; Avellar, José Carlos. "Cinemaníaco", Jornal do Brasil, 09/12/1974; Bentes, Ivana. "Acid Movie ou o cinema feito em pedaços",  Letras & Artes, Rio de Janeiro, ano IV, no 10, setembro de 1990; Canongia, Ligia, Omar, Arthur; Menezes, Aluisio Pereira de; “OMAR, Arthur. O Zen e a arte gloriosa da fotografia : livro de trabalho”, versão em inglês Silveira, Luís Augusto; design Barreto, Sônia Barreto, Rio de Janeiro : Centro Cultural Banco do Brasil, 1999; "Arthur Omar: o êxtase da imagem". In: OMAR, Arthur,  Antropologia da Face Gloriosa. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 1997; Bernardet, Jean-Claude, Trajetória Crítica. São Paulo: Polis, 1978; Cineastas e Imagens do povo, São Paulo: Brasiliense, 1985; Bernardet, Jean-Claude e Ramos, Alcides Freire, in Cinema e História do Brasil. São Paulo: Contexto, 1988; Canongia, Ligia, Quase Cinema: cinema de artista no brasil, 1970/80, Rio de Janeiro: Funarte, 1981; Catálogo da Mostra Bienal Internacional de Vídeo de Belo Horizonte FORUMBHZVIDEO 95, Belo Horizonte: Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte, 1995; Cesar, Ana Cristina, Literatura não é documento, Rio de Janeiro: Funarte, 1980; Da-Rin, Silvio, Espelho Partido: Tradição e Transformação do Documentário Cinematográfico, Editora Azougue, Rio de Janeiro, 2004; Merten, Luiz Carlos, "Arthur Omar sobe morro em busca do sublime", entrevista de Arthur a Merten, O Estado de S. Paulo; Miranda, Luiz F.A., Dicionário de Cineastas Brasileiros, São Paulo: Art Editora/Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, 1990; Paranaguá, Paulo Antonio, "Ruptures et continuité: années soixante-dix - quatre-vingt". In: Paranaguá, Paulo Antônio (org), Le cinema brésilien. Paris: Centre Georges Pompidou, 1987; "STAM", Robert & XAVIER, Ismail, "Brazilian Avant Garde: Metacinema in the Tristes Tropiques", Millenium Film Journal, New York, n.6, Spring 1980;  "Do golpe militar à abertura: a resposta do cinema de autor". In: Ismail Xavier, Jean-Claude Bernardet e Miguel Pereira. O desafio do cinema - A política do Estado e a política dos Autores. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

Texto: Renato Rosa/Bolsa de Arte/Internet/Galeria Paulo Darzé.