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FestFoto 2023
24/jul
No dia 05 de agosto, sábado, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, recebe – até 20 de agosto – mais uma edição do Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre – FestFoto 2023. Neste ano, o conselho curatorial optou por trabalhar com uma proposta sem provocação temática como ponto de partida para desenvolver um tema. Essa curadoria sem filtro possibilitou radicalizar a escuta das práticas artísticas recentes e resultou em uma mostra que reúne do documental ao uso de inteligência artificial em trabalhos marcados pela performatividade e ficcionalização da narrativa fotográfica. No dia da abertura, a entrada é gratuita.
São mais de 200 trabalhos em exposição, entre fotografias e vídeos, divididos em três núcleos. Artistas convidados apresenta mostras individuais de José Diniz, Flávio Edreira e Luciana Brito, cujas trajetórias vêm sendo acompanhadas ao longo de várias edições do FestFoto.
José Diniz ocupará duas salas com a exposição “Pau Brasil”. A mostra reúne 53 obras sobre a pesquisa que o artista vem realizando sobre biomas brasileiros há mais de uma década. Entre fotografias, vídeos, monotipias, colagens e livros artesanais, resgata a história da árvore fundadora do Brasil – curiosamente pouco conhecida por ter sido extirpada da Mata Atlântica entre os séculos 16 e 19. Metaforicamente, seu trabalho reflete sobre aspectos do poder e da opressão ao discutir as sofridas imposições sociais e culturais do período colonial e pós-colonial. Ao mesmo tempo, traz à tona o descaso com as questões ambientais dos dias atuais. O resultado obtido revela o olhar crítico do artista, que revive poeticamente as travessias transatlânticas para promover um entendimento mais profundo de alguns aspectos de nossa sociedade. Seus comentários levam a lugares distintos em temporalidades cruzadas, atualizando temas polêmicos e oficialmente esquecidos. No fluxo e refluxo da imaginação, a tinta virou cor no papel, o papel virou livro, o livro virou poesia espraiada em imagens. A brazilina que tingiu o tecido converteu-se em bandeira, símbolo inequívoco de resistência do autor.
O Fotograma Livre traz os dez finalistas da convocatória internacional realizada pelo FestFoto, e o Ateliê FestFoto apresenta obras desenvolvidas no programa continuado de desenvolvimento de projetos fotográficos.
As artistas Luciana Brito e Reisla Oliveira apresentam uma autoperformance para abordar a condição das mulheres negras no Brasil, enquanto Ana Leal usa a inteligência artificial para a construção de imagens e Angela Plas explora o rio Guaíba.
Outro destaque é a ficcionalização no trabalho com performance de Marc Lathuilliere, FR. Mostrando a França como um museu, a série de Marc Lathuilliere expõe um país cujo povo, receoso do futuro, se define, cada vez mais, em termos de patrimônio e memória. O trabalho explora a construção de identidades individuais e nacionais em uma era de turismo global. O Musée National reúne mil retratos contextuais de francesas e franceses que usam uma máscara idêntica, desenvolvida ao longo de quinze anos. Desfigurando e congelando os sujeitos, a máscara lança uma luz estranha sobre o que os rodeia, revelando os estereótipos sobre os quais constroem as suas vidas: vestuário, mobiliário, arquitetura, paisagem, rituais profissionais ou cotidianos. O projeto foi apresentado também em centros de arte contemporânea da Alemanha e Áustria.
Onde você estava no dia 27 de janeiro de 2013?
Passados dez anos do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, RS, ninguém foi condenado criminalmente pela tragédia que matou 242 pessoas e feriu mais de 600. Dos 28 indiciados por envolvimento direto e indireto – entre donos da boate, integrantes da banda, funcionários da prefeitura e até bombeiros -, apenas quatro foram levados a julgamento. Em agosto do ano passado, os desembargadores da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça gaúcho anularam o júri que havia condenado, meses antes, os réus: os sócios da boate Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, o músico Marcelo de Jesus dos Santos e o auxiliar de palco Luciano Bonilha Leão. Enquanto esperam por justiça, a busca pela memória da tragédia da boate Kiss é uma das mais fortes bandeiras de luta de sobreviventes, pais, amigos e familiares de vítimas. Esse é, também, o objetivo do projeto “Fotografar para lembrar”, coordenado por Ricardo Ravanello.
“Meus trabalhos autorais possuem duas linhas temáticas, em uma persigo uma leitura estético-criativa do mundo, das emoções e das subjetividades humanas. Em geral, essas imagens são produzidas com maiores intervenções, produzindo cenas que são estranhas à forma como vemos naturalmente o mundo. Em outra, estão as imagens mais próximas de uma linguagem documental, onde apresento minhas fotografias de caráter crítico-narrativo, resultado e expressão da minha visão política sobre a realidade”, explica.
Neste projeto, ele optou pelo uso colódio úmido, técnica que surgiu nos anos 1850 e exige uma preparação maior para a execução da imagem. A escolha pela técnica teve algumas motivações que, segundo o professor, foram descobertas na medida em que ele pesquisava e estudava sobre processos antigos de fotografia. Uma delas é que fotografar com colódio úmido é um processo lento de execução. Enquanto preparava o equipamento e explicava como seria feito, sobreviventes, pais, familiares e amigos de vítimas e profissionais que trabalharam envolvidos com o incêndio ou com suas consequências contavam suas histórias. Essa lentidão permitiu que as pessoas se revelassem. “Cada fotografia é absolutamente única, como era a vida das pessoas que se foram. Conforme o corte da câmera, às vezes, pega no braço e aí tu não sabes se ali tem uma queimadura da pessoa ou é uma borda do processo. Elas se fundem, se misturam”, explica Ricardo Ravanello. Ele conta, ainda, que, quando as fotografias foram digitalizadas e ampliadas, um outro elemento se tornou visível: “Quando olhamos de perto as imagens ampliadas, o claro e escuro, parecem ser formados por uma fuligem, parece a fuligem que sobra como resto de um incêndio.”
Artistas participantes do 16º FestFoto
Alessandro Celante (Jundiaí, Brasil) – FURYO Utopias Possíveis; Ana Sabiá (Florianópolis, Brasil) – Caligrafias; Andrea Bernardelli (São Paulo, Brasil) – ENTANGLEMENT; Caio Clímaco (Rio de Janeiro) – Ara’puka peró – Armadilha de branco; Creusa Muñoz (Argentina) – La piel de la terra; Daniela Pinheiro (Brasília, Brasil); Flávio Edreira (Goiania, Brasil) – I Forget to remember; José Diniz (Rio de Janeiro, Brasil) – O Pau-Brasil; Luciana Brito (Salvador) – Interrogação; Marc Lathuilliere (França) – Musée national (National Museum); Marisi Bilini (Frederico Westphalen) – A mãe morta; Reisla Oliveira (Belo Horizonte, Brasil) – Embrenhar-se no incolor; Ricardo Ravanello (Santa Maria, Brasil) – Retratos da tragédia; Virna Santolia (Rio de Janeiro, Brasil) – Capilaridade; Alexandre Berner (Petrópolis); Ana Leal (São Paulo); Angela Plas (Porto Alegre); Juliana Freitas (Santana do Livramento); Mari Gemma (Cuiabá, Brasil).
A Fundação Iberê tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Savarauto Perto, Ventos do Sul, DLL Group, Lojas Pompéia e DLL Financial Solutions Partner; apoio da Renner, Dell Technologies, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, e realização do Ministério da Cultura/ Governo Federal
No dia da abertura, a entrada é gratuita, Fundação Iberê Camargo. rio Guaíba, patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Savarauto Perto, Ventos do Sul, DLL Group, Lojas Pompéia e DLL Financial Solutions Partner, apoio da Renner, Dell Technologies, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, e realização do Ministério da Cultura/ Governo Federal, mais uma edição do Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre, boate Kiss, 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça gaúcho anularam o júri que havia condenado, os sócios da boate Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, o músico Marcelo de Jesus dos Santos, o auxiliar de palco Luciano Bonilha Leão, Artistas participantes do 16º FestFoto, Alessandro Celante, FURYO Utopias Possíveis, Ana Sabiá, Andrea Bernardelli, Caio Clímaco, Ara’puka peró, Creusa Muñoz, Argentina, La piel de la terra, Daniela Pinheiro, Flávio Edreira, José Diniz, Luciana Brito, Marc Lathuilliere, França, Musée national, National Museum, Marisi Bilini, Reisla Oliveira, Ricardo Ravanello, Virna Santolia, Alexandre Berner, Ana Leal, Angela Plas, Juliana Freitas, Mari Gemma.
Territórios, encontros e narrativas
19/jul
A mostra “Chão da praça: obras do acervo da Pinacoteca” inaugurou a sala expositiva da Pinacoteca Contemporânea, a Grande Galeria, Luz, São Paulo, SP. Com coordenação curatorial de Ana Maria Maia, curadora chefe da Pinacoteca, e Yuri Quevedo, a mostra reúne cerca de 60 trabalhos do acervo de arte contemporânea, em montagem pautada pelo desejo de falar sobre territórios, encontros e narrativas de atravessamento. Desenhos, pinturas, fotografias, vídeos e performances compõem a narrativa que é orientada por três grandes ideias: travessias, vizinhanças e transcendências. Em exibição até 30 de julho.
Travessias, Vizinhanças e Transcendências
A ideia de travessia e seu espectro é contemplada nas obras Irruptivo Series (Série irrompimento) (2010), de Regina Silveira (Porto Alegre – RS, 1939), e Galinha d´Angola (2017), de Paulo Nazareth (Governador Valadares – MG, 1977) e na performance Modificação e apropriação de uma identidade autônoma (1980), de Gretta Sarfaty (Atenas – Grécia, 1954).
Já a ideia de vizinhança ganha força pela localização do edifício Pinacoteca Contemporânea, que amplia o perímetro urbano com o qual o museu dialoga diretamente. Além disso, situações de encontro e afeto dão a tônica de uma longa parede, ocupada em uma montagem de obras de Lúcia Laguna (Campos de Goytacazes – RJ, 1941), Bené Fonteles (Bragança – PA, 1953), Matheus Rocha Pitta (Tiradentes – MG, 1982), Yuli Yamagata (São Paulo – SP, 1989), entre outros.
Por fim a ideia de transcendências é apresentada com Parede da memória (1994-2005), de Rosana Paulino (São Paulo – SP, 1967), que elabora uma identidade coletiva entremeando exercícios de lembrar e imaginar. Além de obras como Quebranto (2021), de Jonas Van (Fortaleza – CE, 1989) e Juno B. (Fortaleza – CE, 1982), e Yiki Mahsã Pâti (Mundo dos espíritos da floresta) (2020), de Daiara Tukano (São Paulo – SP, 1982).
Os Artistas
Analívia Cordeiro (SP), Antonio Poteiro (Portugal), Bené Fonteles (BA), Brígida Baltar (RJ), Carmela Gross (SP), Carmézia Emiliano (RO), Castiel Vitorino Brasileiro (ES), Claudia Andujar (Suíça), Claudio Tozzi (SP), Cristiano Mascaro (SP), Daiara Tukano (SP), Delson Uchôa (AL), Djanira (SP), Duhigó (AM), Emanoel Araújo (BA), Emmanuel Nassar (PA), Ernesto Neto (RJ), Gisela Motta e Leandro Lima (SP), Gretta Sarfaty (Grécia), Hudinilson Jr (SP), Ilê Sartuzi (SP), Jonas Van e Juno B (CE), Laura Lima (MG), Lucia Laguna (RJ), Lygia Pape (RJ), Lygia Reinach (SP), Marepe (BA), Maria Bonomi (Itália), Martinho Patrício (PB), Matheus Rocha Pitta (MG), No Martins (SP), Paula Garcia (SP), Paulo D’Alessandro (SP), Paulo Nazareth (MG), Paulo Pjota (SP), Regina Silveira (RS), Renina Katz (RJ), Rommulo Vieira Conceição (BA), Rosana Paulino (SP), Sandra Cinto (SP), Sara Ramo (Espanha), Sidney Amaral (SP), Tiago Sant’Ana (BA), Vera Chaves Barcellos (RS), Yuli Yamagata (SP) e Zica Bérgami (SP).
A exposição “Chão da praça: obras do acervo da Pinacoteca” tem patrocínio do Bradesco, na cota Apresenta, e da Bloomberg, na cota Prata.
Curadoria: Ana Maria Maia e Yuri Quevedo, com colaboração de Ana Paula Lopes, Horrana de Kassia Santoz, Pollyana Quintella, Renato Menezes, Thierry Freitas e Weslei Chagas.
Um prêmio internacional
Cildo Meireles ganhou o maior prêmio de arte da Europa. O escultor foi vencedor do Prêmio Roswitha Haftmann, com um valor de 150 mil euros. A premiação será feita em 22 de setembro deste ano.
O artista brasileiro foi consagrado com o Prêmio Roswitha Haftmann – o mais conceituado da Europa -, sendo, em 22 anos, o primeiro latino-americano a recebê-lo. Com um valor de 150 mil euros (cerca de R$ 800.000,00), a premiação é apresentada desde 2001 por um júri presidido pelo diretor do Kunsthaus Zürich.
Sobre o artista
Nascido no Rio de Janeiro, Cildo Meireles, de 75 anos, é conhecido por suas obras que questionam a censura e a violência ao longo da História Brasileira. Com uma variedade de expressões artísticas, que vão de esculturas até performance, o artista surpreende com suas instalações altamente sensoriais e imersivas, trazendo um trabalho com grande valor poético, conceitual e social.
Fotógrafos e fotógrafas
18/jul
Em cartaz no MIS, Museu da Imagem e do Som, Jardins, São Paulo, SP, a coletiva “Imagens para o futuro” propõe uma reflexão sobre os modelos atuais de convivência. Com curadoria de Ivana Debértolis e Mônica Maia, a mostra apresenta o trabalho de 16 fotógrafas e 16 fotógrafos e traz um recorte visual de possíveis caminhos para a sociedade brasileira.
No dia 05 de agosto, sábado, às 15h, ocorrerá uma conversa com Simonetta Persichetti, jornalista especializada em fotografia e integrante do Conselho Editorial da @artebrasileiros, para debater o tema da exposição com o público.
Buscando construir uma narrativa imagética contestadora e abrangente, foram selecionados fotógrafos e fotógrafas de diversas regiões do país, tais como: Amanda Perobelli, Bruno Morais, Helen Salomão, Hudson Rodrigues, Hugo Martins, Ingrid Barros, Isis Medeiros, Lalo de Almeida, Luisa Dörr, Raphael Alves. Imagens em formatos maiores na área externa da sala estarão acompanhadas de depoimentos, entre eles um trecho da ativista indígena Txai Suruí: “Através da arte os povos originários vêm espalhando e semeando sonhos para adiar o fim do mundo.”.
Em cartaz até 13 de agosto.
A arte de Chico da Silva
Sob o título de “Chico da Silva e a Escola do Pirambu” acontece na Pinacoteca do Ceará, a maior mostra já realizada sobre o artista em Fortaleza.
Em parceria com a Pinacoteca de São Paulo, a mostra reúne 148 obras entre pinturas e desenhos, além do filme em super-8 da performance “Homens Trabalhando”, digitalizado e com cores recuperadas pelo Museu da Imagem e do Som do Ceará.
A exposição destaca a Escola do Pirambu, um ateliê coletivo na casa de Chico da Silva, onde ele apresentava aos jovens da vizinhança sobre o ofício da pintura a partir do universo fabulado de suas criaturas.
A exposição no Ceará tem curadoria de Thierry Freitas e Flávia Muluc. Com obras de acervos como o do Governo do Ceará, do Museu de Arte da UFC (Mauc) e do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), além de coleções particulares de várias partes do país, a mostra é ampliada com trabalhos das décadas de 1970 e 1980 assinados por Chico da Silva e um vaso de flores pintado pelo artista.
Sobre o artista
Nascido no Acre entre 1910 e 1922 (a data é incerta), Chico da Silva vem para o Ceará ainda na infância e constrói sua trajetória artística no Pirambu, bairro da periferia costeira de Fortaleza onde morou até falecer, em 1985. Das pinturas com carvão e cacos de telha nos muros da Praia Formosa, até a composição do ateliê coletivo com jovens da comunidade em que vivia, o imaginário fantástico do pintor que criava seres míticos da fauna e da flora é a marca de sua obra, reconhecida com a menção honrosa na Bienal de Veneza de 1966. Por volta de 1963, ele incorpora novos elementos, figuras, tamanhos e formatos nas obras, que crescem em dimensão e passam a ter a colaboração direta de artistas como Babá (Sebastião Lima da Silva), Chica da Silva (Francisca Silva) – sua filha -, Claudionor (José Claudionor Nogueira), Ivan (Ivan José de Assis) e Garcia (José dos Santos Gomes), único integrante ainda vivo.
Sobre o filme
O filme “Homens Trabalhando” é o registro da obra-performance de mesmo nome, produzida pelo Grupo de Estudos “Chico da Silva e a Escola do Pirambu”, formado por Gilberto Brito, Hélio Rôla e David Silberstein. O trabalho – selecionado para o Salão de Abril de 1977 – foi registrado em fotografia e em filme super-8 por Marcus Vale e João Vale. A película original passou por higienização, recuperação de cores e digitalização em 2k pelo Museu da Imagem e do Som do Ceará em 2023 para a exposição na Pinacoteca do Ceará. A obra audiovisual foi doada pelo artista Hélio Rôla para o acervo do MIS-CE
A geometria de Dolino
17/jul
Pintor e gravador, Luiz Dolino obedece os fundamentos geométricos em seus trabalhos que serão exibidos a partir de 25 de julho na Galeria Patricia Costa, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ.
Dolino por Leonel Kaz
Escrevi uma apresentação para a exposição de Dolino na Patricia Costa.
Será que fui atrevido?, perguntou-me Dolino, à porta de sua casa-atelier em Petrópolis.
Logo que voltei ao Rio, fui ao dicionário: atrever-se vem do latim e significa “achar-se capaz de algo, destinar-se a algo”.
Curioso o destino deste homem, entre a arte e a matemática econômica, sustentado pelas frestas e arestas do geometrismo – onde ele poliu sua alma e seu destino de artista.
Sim, Dolino, você é um atrevido! Morou e expôs de ceca a meca em países da América Latina e viveu até em Costa do Marfim. Você me contou, ao lado de Ismélia, da festa de cores nas vestimentas de quem vai a um funeral em Abdijan. Celebra-se ali um destino, certo? De certa forma, a vida, colorida, virada ao avesso. Afinal, virar ao avesso a vida não é a função da vida e da morte em sua dupla face: a arte?
Ainda em tua casa, você já havia apontado um elenco de gravuras propondo que elas pudessem ser montadas de trás para diante, de baixo para cima, em qualquer ordem…Achei delicioso porque, afinal, tudo o que é pode não ser, nessa mágica combinatória de todas as coisas – como as crianças nos ensinam.
Tudo pode combinar com tudo, independente de critérios, ordenamento, hierarquias. Daí, tua obra, sempre, interminável. Por que? Ora, a ordem de teus geometrismos pressupõe a desordem do olhar de quem a vê.
Esta a experiência que você propõe a quem contempla tuas pinturas ou gravuras: que cada qual que reinvente, a partir de teus geometrismos, o modo de ver as coisas. Que cada qual seja… atrevido em seu estar-no-mundo!”
Daniel Feingold no Sesc Ramos
A exposição “Experiência Cromática”, do artista carioca Daniel Feingold, encontra-se em cartaz – até 24 de setembro – no Sesc Ramos, Rio de Janeiro, RJ. Com curadoria de Paulo Venancio Filho, são apresentadas cerca de 50 pinturas, recentes e inéditas, produzidas desde 2019 até hoje, em óleo e bastão oleoso. A exposição é uma das selecionadas pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar 2022/2023.
Para o artista, é uma alegria poder expor em Ramos, bairro com o qual ele tem uma relação afetiva de longa data. “Estudei durante cinco anos na extinta Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Silva e Souza, no período da noite. Foi uma fase muito boa, que contribuiu muito para a minha formação”, conta Daniel Feingold.
A exposição, composta apenas por obras em pequenos formatos, que começaram a ser produzidas durante a pandemia de Covid-19, como uma maneira mais rápida e produtiva de trabalho. Mas o formato deu tão certo que o artista seguiu fazendo as “pinturinhas”.
“De imediato, se percebe, essas pinturas e desenhos de Daniel Feingold parecem conter uma tensão incompatível com seus pequenos formatos. O que está dentro quer ir além; tensionar o espaço pictórico, e a experiência cromática que elas proporcionam indica a inquietude que as cores exprimem”, afirma o curador Paulo Venancio Filho.
Apresentando pinturas, que são uma continuidade da pesquisa iniciada recentemente pelo artista na qual utiliza tinta a óleo e bastão oleoso, criando campos cromáticos inéditos, explorando cores mais vivas, muitas delas em neon, além de introduzir o prata, trazendo mais luz e vitalidade para as telas. “O fundo prata ou alumínio energiza fisicamente a superfície chapada”, afirma o curador, que completa: “Aqui cores são fontes de energia, impulsivas, elétricas, ácidas, como uma dança de formas – cortes e angulações inesperadas, superposições dissonantes, continuidade e descontinuidade – que, entre si, disputam o espaço total e insistem em se conter nos limites da tela, que a custo a ação do artista procura controlar – o élan cromático gestual”.
Além de novas formas e novas cores, Daniel Feingold utiliza nas novas obras da exposição a tinta a óleo. “O óleo é uma tinta com alma, que se move, se refaz, se perde e tem vida. Para essas pinturas só o óleo faz sentido, pois este se movimenta, enruga, fere”, completa Daniel Feingold, que propositalmente deixa os “acidentes” de percurso na tela, como respingos e manchas, que acabam se incorporando à obra.
Formado em arquitetura, Daniel Feingold não faz nenhum esboço prévio antes de criar suas pinturas. “As formas começam a ser “recortadas” na hora. É tudo resolvido na tela, no momento da pintura”, diz o artista, que morou muitos anos em Nova York, período “muito esclarecedor para a minha poética de temática abstrata”. Além da exposição, estão previstos também uma visita guiada com o artista, um bate-papo, além de um catálogo digital em formato e-book.
Sobre o artista
Daniel Feingold nasceu no Rio de Janeiro, em 1954. Formou-se em Arquitetura na FAUSS, RJ, em 1983. Estudou História da Arte e Filosofia na UNIRIO/PUC, de 1988-1992; Teoria da Arte & Pintura e Núcleo de Aprofundamento, na EAV Parque Lage, de1988-1991 e fez mestrado no Pratt Institute, Nova York, em 1997. Dentre suas mais recentes exposições individuais estão “Pequenos Formatos” (2022/2023), no Paço Imperial, “UrbanoChroma” (2019) – Projeto Tech_Nô, no Oi Futuro Flamengo; “Acaso Controlado” (2017), no Museu Vale do Rio Doce – Vitória, ES; “Fotografia em 3 séries” (2016), no Paço Imperial do Rio de Janeiro; “Acaso Controlado” (2016), no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, PR.
Evento cerâmico no Instituto Ling
A “Oficina de Cerâmica: Fūrin – Sino de Vento”, com o ateliê Tori No Su será aberta no Instituto Ling, Três Figueiras, Porto Alegre, RS, sábado, 22 de julho.
Sobre este evento
Nesta oficina, você irá aprender a modelar um sino de vento em cerâmica com os ceramistas Kazue Morita e Denny Chang, do ateliê Tori No Su, de Porto Alegre. O ateliê oferece aulas de torno e oficinas de modelagem manual e tem sua produção de utilitários inspirada na cerâmica do leste asiático. A dupla compartilha mais sobre a história e os significados do fūrin, com referências para estimular a criatividade em cada projeto.
Fūrin, o sino de vento, é um objeto muito conhecido no oriente. Embora sua origem esteja ligada à China, foi no Japão que ganhou popularidade. Em meio ao calor do verão japonês, os sinos de vento anunciam a brisa que ameniza a temperatura e, acredita-se, ainda oferecem proteção aos lares, afastando os maus espíritos e atraindo felicidade e sorte. Durante a oficina vamos trabalhar na construção de todas as partes de um fūrin:
. cúpula
. duas pequenas esculturas
. pintura em uma tira de papel, que fica na extremidade do sino
Para a modelagem dos sinos e seus acessórios, vamos trabalhar a técnica do belisco (pinch), aprendendo a abrir a argila, sentindo sua textura, umidade e espessura à medida que a peça for construída. Também vamos trabalhar o acabamento das peças, aprendendo a tirar o excesso de argila, criar texturas e grafismos a partir de diferentes tipos de ferramentas e materiais. Os alunos não precisam de experiência prévia. Só precisarão respeitar o elemento tempo: após a modelagem, os sinos seguirão para o processo de secagem e queima, sendo entregues aos alunos 45 dias após a atividade.
As vagas são limitadas e os materiais estão inclusos no valor de matrícula. Classificação indicativa: a partir de 14 anos.
Com quem vamos aprender
A cerâmica Tori No Su (鳥の巣), palavra de origem japonesa que significa ninho de pássaro, tem como maior inspiração esse universo imenso, com diferentes elementos e formas de vida, que é a natureza. “Nosso pássaro (tori) é o artesão, a figura que nos inspira na modelagem das peças e nos mostra que, com um galho de cada vez, vamos modelando nossa cerâmica e deixando impressa a marca do fazer manual”. Todas as etapas do processo de produção são feitas por Kazue Morita e Denny Chang, e “…ficamos muito felizes em poder criar objetos manuais que farão parte da vida de outras pessoas”, afirmam os artistas.
Iole de Freitas no Instituto Tomie Ohtake
Em instalação monumental inédita, a artista retoma a dança para sublinhar o movimento, o espaço e a forma. Ao entrar no grande hall do Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, – até 17 de setembro – o visitante vai se deparar com uma surpreendente instalação de dimensão monumental concebida pela artista visual que completa cinco décadas de carreira. “Iole de Freitas: Colapsada, em pé”, com curadoria de Paulo Miyada, é uma mostra organizada em torno desta instalação, produzida com tubos metálicos e placas de policarbonato marcados pelo uso prévio como partes de instalações feitas pela artista nos últimos vinte e cinco anos. Essa nova peça apoia-se sobre o solo e se ergue como um abrigo aberto repleto de movimento.
“Ela dispensou a possibilidade de criar novas linhas e planos suspensos na idiossincrática arquitetura desse espaço de passagem e cruzamento desenhado por Ruy Ohtake, e desceu ao chão de seu ateliê as peças constituintes de dez de suas exposições. Tubos metálicos e placas de policarbonato marcados pelo uso (com arranhões, manchas, sujidades e desgastes) foram então girados, recombinados, aparafusados, soldados”, explica o curador chefe do Instituto Tomie Ohtake.
Para a concepção da obra, pela primeira vez em seis décadas, a dança retornou direta e explicitamente ao seu fazer artístico, como modo de apreensão do espaço e concepção da forma. Neste processo ela começou a experimentar fragmentos de dança, cenas curtas ou anotações corporais em meio à obra em construção. Conforme Paulo Miyada, mover-se, só ou na companhia de seu neto, Bento, transformou-se numa espécie de notação que antecipa e testa relações entre partes e formas. “Trata-se da dança como régua, sismógrafo, desenho, maquete, laboratório”, ele destaca.
A questão com o corpo contida neste imenso “acontecimento da obra construída” convida as pessoas a percorrer a instalação em livre movimento. “Essa peça é um abrigo aberto, uma cena à espera de atores voluntários, uma partitura espacializada de dança, um dispositivo de medição do corpo e do espaço; é uma máquina para a vivência de múltiplos estados de presença, para a experimentação de modos de aparecer e perceber-se”, completa Paulo Miyada. Os fragmentos filmados dessa experiência com a dança integram duas videoinstalações inéditas como parte da exposição desenvolvida em diálogo entre artista e o curador, que resultará ainda em uma publicação a ser distribuída gratuitamente.
Enquanto no Instituto Moreira Salles, em “Iole de Freitas, anos 1970 / Imagem como presença”, exposição em cartaz com curadoria de Sônia Salzstein, a artista apresenta uma parte de sua história reelaborada por uma instalação contemporânea, no Instituto Tomie Ohtake, ela abre novos caminhos em sua obra ao reprocessar elementos constitutivos de sua trajetória: a dança e a própria matéria de suas instalações.
Sobre a artista
Nascida em Belo Horizonte (MG), em 1945, Iole de Freitas mudou-se aos seis anos para o Rio de Janeiro, onde iniciou sua formação em dança contemporânea. Estudou na Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), cidade em que hoje vive e trabalha. A partir de 1970, viveu por oito anos em Milão, onde começou a desenvolver e expor seu trabalho em artes plásticas a partir de 1973. A artista participou de importantes mostras internacionais, como a 9ª Bienal de Paris, a 16ª Bienal de São Paulo, a 5ª Bienal do Mercosul e a Documenta 12, em Kassel, Alemanha. Além de comparecerem a individuais e coletivas em várias cidades do mundo, seus trabalhos integram importantes coleções, entre as quais, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP); Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP); Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Museu Nacional de Belas Artes, RJ; Museu do Açude, RJ; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio); Museu de Arte do Rio (MAR); Bronx Museum (EUA); Winnipeg Art Gallery (Canadá); e Daros Collection (Suíça).