Premiação de Rosângela Rennó

17/jul

Uma das maiores pensadoras brasileiras da fotografia, Rosângela Rennó recebeu o prêmio Women In Motion de Fotografia 2023, tornando-se a primeira brasileira na lista de ganhadoras. O anúncio foi feito pelo Grupo Kering e o Festival Les Rencontres d’Arles, que é um dos mais importantes festivais de fotografia do mundo.

Desde a criação do prêmio, em 2015, no Festival de Cannes, a Women In Motion tem destacado a criatividade e a contribuição das mulheres na cultura e nas artes, com produções que nos levam a questionar nossa visão de mundo e a pensar em novos futuros. O prêmio inclui a aquisição de obras da artista para o acervo do festival Rencontres d’Arles. Anteriormente, o prémio foi atribuído a Susan Meiselas em 2019, Sabine Weiss em 2020, Liz Johnson Artur em 2021 e Babette Mangolte em 2022.

O prêmio será entregue a Rennó em uma cerimônia no Théâtre Antique d’Arles. Na ocasião, a artista realiza uma mostra individual de seu trabalho, apoiada pela Women In Motion, e dedicada a ela no La Mécanique Générale, em Arles. Ainda, divide com o público sua trajetória e suas perspectivas sobre o lugar da mulher na fotografia e na sociedade em geral. Essa será a primeira grande exposição monográfica de Rennó organizada na França.

Rosângela Rennó já foi premiada no Les Rencontres em 2013, quando recebeu o Prix du Livre Historique 2013, por seu livro de artista baseado na história do furto da coleção de fotografias de Augusto Malta que pertencia ao Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Até 24 de setembro, a artista expõe uma mostra individual de sua carreira durante o Encontro de Fotografia de Arles, um importante festival anual do segmento fundado em 1970.

Fotografias de Miguel Rio Branco

12/jul

A Paulo Darzé Galeria, no Corredor da Vitória, em Salvador, BA, inaugurou a mostra “Beware of Darkness”, com fotografias de Miguel Rio Branco, um dos mais destacados fotógrafos brasileiros no cenário contemporâneo.

Fotógrafo, diretor de fotografia e pintor, Miguel Rio Branco começou sua carreira profissional em 1964, com uma exposição de pinturas em Berna, Suíça. Entre as principais instituições em que expôs estão o Museu Georges Pompidou, em Paris, e o MASP, em São Paulo. Ele é autor do livro de fotografias “Salvador da Bahia”, editado em 1985.

Sua obra figura entre as principais coleções de arte, dentre as quais as de Gilberto Chateaubriand, no Rio de Janeiro, Stedjelik Museum, em Amsterdam, Museum of Photographic Arts, em San Diego, e a de David Rockefeller, em Nova York.

Entre os prêmios de Fotografia de Miguel Rio Branco estão o Grande Prêmio da Primeira Trienal de Fotografia do MAM de São Paulo (1980) e o Prix Kodak de la Critique Photographique, Paris (1982), Bolsa de Artes da Fundação Vitae, em 1994, e Prêmio Nacional de Fotografia da Fundação Nacional de Arte – Funarte, em 1995.

As fotografias de Miguel Rio Branco ficarão expostas na Galeria 1, no andar térreo da Paulo Darzé Galeria. A exposição tem entrada gratuita e ficará aberta ao público até o dia 12 de agosto.

MAM Rio em cinco perspectivas

A mostra “Museu-escola-cidade: o MAM Rio em cinco perspectivas” propõe um exercício de memória no 75º aniversário do museu: um ato de olhar para o passado, para o que já foi feito e as coisas que lá aconteceram, como convite para pensar o que o MAM Rio pode ser hoje e no futuro. Focando nas primeiras três décadas de sua história, a exposição apresenta cinco áreas que ancoram as ações do MAM Rio, e um evento que marcou seu curso. Educação, design, cinema, o experimental e os movimentos de criação artística que atravessaram a existência do museu são os campos de atuação escolhidos, os quais cimentam a relevância de uma instituição intimamente ligada às dinâmicas da cidade.

Como evento, o incêndio ocorrido em 1978 no museu representa um momento de mudanças caracterizado pelo engajamento coletivo de profissionais da cultura e da população, e pela revisão institucional. Em cada um desses eixos, obras do acervo do MAM Rio são apresentadas junto com documentos provenientes, em sua maior parte, dos arquivos do museu, escrevendo histórias por meio de objetos, imagens e impressos.    .

Até 03 de dezembro.

Artista do Recife

O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro, Rio de Janeiro, RJ,  recebe, a partir de 15 de julho, a exposição “Desculpe Atrapalhar O Silêncio De Sua Viagem”, de Lia Letícia, em sua primeira exibição individual na cidade. Com curadoria de Clarissa Diniz, a exposição apresenta singularidades do percurso da artista, que busca redimensionar e representar corpos invisibilizados ou excluídos da história oficial da arte. Na mostra serão apresentadas obras, práticas, intervenções e documentos que, conectando Rio Grande do Sul, Pernambuco e Rio de Janeiro, visam potencializar esses cruzamentos geopolíticos em contínua transformação e expressar um desejo vivo pela criação em coletividade. Com realização de Rosa Melo Produções Artísticas e incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio do Funcultura, a mostra ficará em cartaz até o dia 26 de agosto, sempre com entrada franca.

Como destaca a curadora, Clarissa Diniz, certamente quem frequenta ônibus, trens e metrôs das grandes cidades já foi abordado por um “desculpe atrapalhar o silêncio de sua viagem”. Mesmo proibidas no Brasil, as atividades comerciais nos meios de transporte são o meio de sobrevivência de milhares de pessoas. O comércio de itens tão díspares quanto balas, pendrives, biscoitos e fones de ouvido divide espaço com músicos, poetas, dançarinos e vários outros artistas que também fazem desses veículos palco para suas performances. Esse contexto de disputa entre desigualdade social e a pujança criadora permeia a produção de Lia Letícia.

“É nessa complexidade política, social e estética das formas de trabalho que se inscreve a obra de Lia Letícia. Nesse contexto, sua obra atua não apenas como denúncia, mas como uma provocativa, irônica, inventiva e bem-humorada terapêutica social. A exposição é um convite para a aproximação desses públicos às práticas da artista que também fará uma criação coletiva junto a doceiras da Saara”, destaca a curadora Clarissa Diniz.

Gaúcha radicada em Recife, PE, desde 1998, Lia Letícia tem sua obra lastreada não na excepcionalidade e pretensa autonomia da arte, mas em seu oposto: sua ordinariedade, suas disputas, suas violências. Para a artista, a arte é parte dos conflitos e construções da cultura e, como tal, deve ser pensada, criticada e tensionada por práticas culturais que se situam à margem do coração de sua hegemonia econômica, política e simbólica. Por isso, há quase três décadas, tem convocado camelôs e artistas de rua para usos não-especializados da ideia de arte e suas práticas políticas. Ela usa o humor e convida mulheres, indígenas, negros e outros sujeitos que foram subalternizados pela colonização para um diálogo e um conjunto de intervenções e propostas que, agora, pela primeira vez serão articulados e apresentados como um corpo.

Lia Letícia considera que sua atuação como artista e seu papel como educadora se retroalimentam. “Toda obra, mesmo quando pensada individualmente pelo artista, traz dentro de si um pensamento coletivo, da vivência do artista enquanto ser social”, afirma.

O trabalho que leva o nome da exposição contou com a participação do musicista Jessé de Paula, que tocava nos coletivos de Recife, e atuou de forma ativa e insubmissa. Segundo Lia Leticia, a conversa com Jessé de Paula mudou, em diversos aspectos, a própria feitura da obra. “Essa tensão, essa fricção entre como uma obra é pensada, como ela é executada e como chega ao espectador é o que me interessa. Busco trazer para dentro do meu trabalho as contradições desses outros corpos e coletividades”.

Também faz parte da exposição “Thinya” (2015-2019), obra realizada pela artista a partir de duas residências artísticas, uma em Berlim – Alemanha -, e outra no Território Indígena Fulni-ô, no agreste de Pernambuco. Com a sinopse “Minha primeira viagem ao Velho Mundo. Minha fantasia aventureira pós-colonial”, o trabalho foi premiado em festivais como o Janela Internacional de Cinema, de Recife, e o Pachamama – Festival de Cinema de Fronteira, no Acre, e tem em sua trajetória a passagem por mostras nacionais e internacionais.

Antonio Dias entre o Brasil e a Europa

06/jul

O crítico e historiador de arte Sérgio Martins aborda a trajetória do grande artista Antonio Dias (1944-2018) no livro “Arte negativa para um país negativo: Antonio Dias entre o Brasil e a Europa” (Ubu Editora, 2023), com 256 páginas e 95 imagens, fruto de pesquisa dentro de programas da Faperj e do Capes. A história singular de Antonio Dias, que foi para Paris com uma bolsa de estudos em 1966, onde participou dos movimentos de maio de 1968, e depois segue para Milão, onde passou a fazer parte de um dos principais centros de irradiação artística das décadas seguintes, sem nunca se desconectar do Brasil. Em 1999, fixa residência no Rio de Janeiro, sem deixar de fazer constantes viagens internacionais.

Sobre o livro

“Arte negativa para um país negativo: Antonio Dias entre o Brasil e a Europa” lançamento da Ubu Editora, foi lançado na Livraria da Travessa Ipanema, Rio de Janeiro. O legado de Antonio Dias é representado, com exclusividade, pela galeria Nara Roesler (São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York). O projeto para o livro começou em 2018, “embora a ideia já tivesse começado a se delinear um pouco antes, por conta de meus trabalhos prévios sobre a obra do Antonio”, conta Sérgio Martins. “A pandemia e a morte do próprio Antonio trouxeram dificuldades e mudaram os rumos da pesquisa. Mas contei com financiamentos da Capes, da Fundação Alexander von Humboldt – que me permitiram passar um ano e meio como pesquisador visitante na Freie Universität Berlin -, do Getty Research Institute, e sobretudo da Faperj, que foram fundamentais para a pesquisa internacional e para a realização do livro”. Ele acrescenta que “o foco original era o álbum “Trama”, mas isso mudou e o livro acabou se voltando para dois períodos de transição: 1968, com as pinturas negras, e 1971-1974, com a série “The Illustration of Art”. Entretanto, o livro se expande para períodos anteriores e posteriores, diz o autor. O exemplar custa R$ 89,90. A crítica Sônia Salsztein afirma que descobre-se com prazer, no curso da leitura, tratar-se de um notável experimento de reflexão e escrita sobre arte contemporânea, em que o domínio da cultura histórica e o rigor na exposição dos argumentos em nada intimidam o movimento dubitativo e experimental das ideias, diante de questões que ainda se mantêm em aberto no horizonte contemporâneo”.

Sobre o artista

Nascido em Campina Grande, Paraíba, em 1944, Antonio Dias migrou para o Rio de Janeiro em 1958, onde teve aulas com Oswaldo Goeldi (1895-1961) no Atelier Livre de Gravura da Escola Nacional de Belas Artes. Participa da 4ª Bienal de Paris, em 1965, e recebeu uma bolsa de estudos do governo francês, dando então início a um autoexílio na Europa.

Antonio Dias – Trajetória Transnacional

“A ideia era refletir sobre a especificidade da trajetória transnacional do Antonio, na medida em que ele se forma em meio ao debate vanguardista brasileiro, mas logo em seguida adentra uma cena artística muito mais estruturada, mercantilizada – e que rapidamente assumia uma feição pós-vanguardista – a partir da centralidade que Milão tinha em relação ao circuito europeu naquele momento. É como se o Antonio e sua obra encarnassem um ponto de contato muito vivo entre duas dimensões geopoliticamente distintas do fazer artístico naquele momento: uma vanguarda semiperiférica e a circulação da arte num mercado central – ainda que num país, a Itália, que também tinha certos traços semiperiféricos”, observa Sérgio Martins.

Ele acrescenta que no livro tenta “acompanhar as idas e vindas do trabalho do Antonio ao longo de diferentes manobras poéticas que ele experimenta para dar conta dessa fricção”. “O interessante é ver que ele evita tanto se colocar como um artista latino-americano ou brasileiro na Europa – no sentido não buscar cultivar essa identidade como meio de se situar e se promover – quanto aderir a grupos italianos e europeus como a Arte Povera, apesar de aberturas e flertes que acontecem ao longo do caminho. Então eu tento acompanhá-lo nesse limiar tênue, atentando para o diálogo com várias figuras importantes no Brasil e na Europa naquele momento, como Pierre Restany, Hélio Oiticica, Harald Szeemann, Giulio Paolini, Tommaso Trini, Giulio Carlo Argan, o grupo Fluxus e a pintura analítica italiana, entre outros”.

Sobre Sérgio Martins

Nasceu no Rio de Janeiro, em 1977. Estudou história da arte na University College London (UCL), onde obteve o mestrado em 2005 e o doutorado em 2011, com bolsa do Higher Education Funding Council for England e da UCL Graduate School. Sua tese resultou no livro “Constructing an Avant-Garde: Art in Brazil, 1949-1979” (MIT Press, 2013). Em 2014, tornou-se professor do Departamento de História da PUC-Rio e, entre 2020 e 2022, foi pesquisador visitante na Freie Universität Berlin com bolsa Capes/Humboldt Senior Fellowship. É pesquisador bolsista do CNPq desde 2023 e do programa Jovem Cientista do Nosso Estado (JCNE) da Faperj desde 2018. Em 2012, organizou o número especial “Bursting on the Scene: Looking Back at Brazilian Art” do periodic inglês “Third Text”. Tem artigos publicados também nos periódicos “October”, “ARTmargins”, “Artforum”, “ARS”, “Modos e Novos Estudos Cebrap”, entre outros, e contribuiu para os catálogos de mostras como “Cildo Meireles” (Fundação Serralves/Museo Nacional Reina Sofia, 2013), “Hélio Oiticica: to Organize Delirium” (Carnegie Museum/ArtInstitute of Chicago/Whitney Museum, 2016), “Alexander Calder: Performing Sculpture” (Tate Modern, 2015), “Anna Maria Maiolino” (MoCA Los Angeles, 2017), “Lygia Pape: a Multitude of Forms (The Metropolitan Museum of Art, 2017)”, “Antonio Dias: derrotas e vitórias” (MAM-SP, 2021) e “Louise Bourgeois: Imaginary Conversations” (The National Museum, Oslo, 2023.

Fotos de German Lorca

29/jun

A Galeria Marcelo Guarnieri apresenta, entre 08 de julho e 05, “Galeria São Luís – Geometria das Sombras”, primeira exposição de German Lorca (1922- 2021) em seu endereço de São Paulo. A mostra reúne 50 fotografias produzidas entre as décadas de 1940 e 2010 e se organiza em três núcleos: “Galeria São Luís”, que consiste em uma reedição da exposição do artista na Galeria São Luís, em 1966; “Icônicas”, que apresenta um conjunto de suas fotografias mais clássicas e “Série Geometria das Sombras”, composta por 24 imagens desenvolvidas por Lorca em 2014, já aos 92 anos, e exibidas integralmente pela primeira vez.

Um dos pioneiros da fotografia moderna no Brasil, German Lorca nasceu em São Paulo em 1922 e assim como outros filhos de imigrantes europeus que chegaram à capital paulista no início do século XX, cresceu no operário bairro do Brás. Ali pôde testemunhar, desde criança, a dinâmica da vida do bairro em meio a transformações que alteravam sucessivamente o ritmo e a paisagem urbana. Lorca forma-se como contador no Liceu Acadêmico de São Paulo em 1940 e tem o seu primeiro contato com a fotografia em 1945, registrando eventos familiares. Em 1948 ingressa no Foto Cine Clube Bandeirante, um clube de fotógrafos frequentado por entusiastas, amadores e profissionais, que acreditavam que a fotografia era uma forma de arte que podia revelar a estética oculta da modernidade cotidiana. Lorca pôde explorar, em uma troca constante com os outros integrantes, as especificidades da técnica fotográfica, entendendo os enquadramentos, jogos de luz e solarizações como recursos plásticos e discursivos.

Na década de 1960, German Lorca já havia participado de diversos salões de fotografia no Brasil, na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa, e em paralelo à sua produção artística, se estabelecia como um premiado fotógrafo de publicidade. Em 1966, ano em que transfere seu estúdio para um prédio maior e mais adequado à escala de suas produções comerciais, realiza a segunda exposição individual de sua carreira, na Galeria São Luís, em São Paulo. A Galeria São Luís, que abrigou exposições de importantes artistas brasileiros como Tomie Ohtake, Mira Schendel e Flávio de Carvalho, foi fundada em 1959 pelo empresário e colecionador Ernesto Wolf (1918-2003) e dirigida por Anna Maria Fiocca (1913-1994), antiga proprietária da Galeria Domus. Naquela ocasião, Lorca apresentou fotografias realizadas desde os anos 1950, em que registrava paisagens, retratos e cenas do cotidiano, explorando a geometrização de suas composições de maneira mais sutil. O fotógrafo também experimentava com cenas em movimento, ressaltando os aspectos plásticos da imagem desfocada, como em “Aeroporto 61” (1961), exibida no ano anterior na VIII Bienal Internacional de São Paulo. A versão original do cartaz da mostra de 1966, reeditado a partir da intervenção de J. Henrique Lorca para a atual exposição na Galeria Marcelo Guarnieri em 2023, é de autoria do designer Alexandre Wollner.

Em outubro de 2014, durante um período em que precisou ficar recluso em sua residência por ordens médicas devido a problemas de saúde, German Lorca dedicou-se ao estudo das formas das sombras causadas pela luz do sol em interação com estruturas, ambientes e objetos que o rodeavam. Naquela ocasião, acompanhado de sua Leica M9 Digital, Lorca registrou as 24 imagens que formam o ensaio fotográfico que ele denominou de “Geometria das Sombras”, impresso em 2015 pelo processo giclée com pigmento Ultrachrome em papel de algodão Hahnemühle Photo Rag Baryta. Esta é a primeira vez que o ensaio, sua última produção em vida, é exibido integralmente.

Sua obra integra importantes coleções ao redor do mundo como Museu de Arte de São Paulo (MASP), Pinacoteca do Estado (São Paulo), Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), MoMA (New York), Cisneros Fontanals Art Foundation (Miami) e Itaú Cultural (São Paulo).

Exposição prorrogada

A exposição “Haverá consequências” foi prorrogada até 22 de julho devido ao grande fluxo de visitantes e contatos para agendamentos. Uma boa oportunidade e para visitar a Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS. Trata-se da primeira mostra com curadoria da professora e pesquisadora Bruna Fetter à frente da Direção Cultural da FVCB, função assumida em abril de 2022.

Realizada integralmente a partir do Acervo da instituição, “Haverá consequências” representa um exercício de encontros e aproximações que se materializam por meio de rastros e vestígios da memória, reverberando no presente e nos desdobramentos futuros. As obras presentes na mostra – seja em termos temáticos, materiais ou mesmo formais – são compreendidas simultaneamente como imagem-índice-percurso, o que possibilita diferentes leituras, relações e caminhos. Fazem parte da seleção apresentada trabalhos em fotografia, vídeo, gravura, pintura, objeto, arte postal, serigrafia e livro de artista.

Nas palavras da curadora, Bruna Fetter: “Ao partir da noção de rastro e vestígio, Haverá consequências busca tecer fios que atravessam nossas compreensões de passado-presente-futuro, causa e consequência. Na mostra encontraremos imagens e objetos que são resíduos de pensamentos e ações ocorridas no passado, mas que pela sua condição de obra de arte tornam-se testemunhos perenes a nos acessar em diferentes contextos e tempos. Reunindo um grupo de obras da coleção da FVCB, a exposição resulta de uma imersão minha neste Acervo, e também de um trabalho muito próximo a todas as equipes da instituição, inaugurando meu trabalho como diretora cultural da Fundação.”

A mostra, reúne mais de 60 obras de 57 artistas do Brasil e do exterior.

Artistas participantes

Begoña Egurbide | Bill Viola | Brígida Baltar | Cao Guimarães | Carla Borba | Carlos Krauz | Christian Cravo | Cinthia Marcelle | Claudia Hamerski | Claudio Goulart | Clovis Dariano | Darío Villalba | Dennis Oppenheim | Dirnei Prates | Elaine Tedesco | Elcio Rossini | Eliane Prolik | Ethiene Nachtigall | Fabiano Rodrigues | Fernanda Gomes | Frantz | Geraldo de Barros | Guilherme Dable | Heloisa Schneiders da Silva | Hudinilson Jr. | Ío (Laura Cattani e Munir Klamt) | Jaume Plensa | Joan Fontcuberta | João Castilho | Lluís Capçada | Luanda | Lucia Koch | Mara Alvares | Marco Antonio Filho | Margarita Andreu | Mariana Silva da Silva | Mario Ramiro | Marlies Ritter | Michael Chapman | Nelson Wiegert | Nick Rands | Patricio Farías | Paulo Nazareth | Perejaume | Regina Vater | Rosângela Rennó | Roselane Pessoa | Sarah Bliss | Sascha Weidner | Sol Casal | Susy Gómez | Telmo Lanes | Tuane Eggers | Vera Chaves Barcellos | Wanda Pimentel | Yuri Firmeza

Visitação

De segunda a sexta-feira e aos sábados, mediante agendamento prévio, até 22/07/23

Contatos: educativo.fvcb@gmail.com | (51) 98229 3031

Local: Sala dos Pomares da Fundação Vera Chaves Barcellos – Av. Senador Salgado Filho, 8450, parada 54, Viamão/RS (ponto de referência: ao lado do pórtico do Condomínio Buena Vista) – Entrada franca.

Heitor dos Prazeres no CCBB Rio

Retrospectiva no CCBB, Centro, Rio de Janeiro, RJ, destaca perfil multimídia de Heitor dos Prazeres e a importância histórica de sua obra. A exposição “Heitor dos Prazeres é meu nome” reúne mais de 200 trabalhos, entre pinturas, desenhos e esboços, mobiliário, indumentárias, partituras e acervo documental

Décadas antes de o termo multimídia (ou mesmo “mídia”) se popularizar, Heitor dos Prazeres (1898-1966) já atuava em várias frentes artísticas, da música à pintura, da cenografia ao figurino, passando pelo mobiliário. Nascido dez anos após a abolição da escravatura, registrou, em suas composições e, a partir da década de 1930, com pincéis, tintas e suportes variados, da madeira à tela, crônicas do Rio suburbano da primeira metade do século XX.

Da mesma forma que frequentou as casas das tias da Praça Onze, como a da célebre Tia Ciata, e colaborou na fundação das primeiras escolas de samba da cidade, a exemplo de Mangueira, Portela e Deixa Falar (que originou a Estácio de Sá), sua produção nas artes visuais retratou temas ignorados na época pela academia, como os cultos de matriz africana, as primeiras rodas de samba e a transformação do subúrbio rural em cenário urbano, com o surgimento das primeiras favelas.

Com curadoria de Raquel Barreto, Pablo León de la Barra e Haroldo Costa, a seleção reúne obras de coleções particulares, incluindo telas pouco vistas, e de instituições como o Masp, a Pinacoteca de São Paulo, o MAM do Rio, o Ipeafro e os Museus Castro Maya.

Entre as raridades, estão duas de suas obras mais antigas, criadas poucos anos após seu início na pintura, em 1937: “O sonho” (1939) e “Caboclo”, da década de 1940. O título da mostra é retirado de uma fala do próprio pintor no documentário que leva seu nome, dirigido por Antônio Carlos da Fontoura em 1965. Uma apresentação que o situa entre os grandes nomes das artes brasileiras no século XX e, ao mesmo tempo, introduz sua produção ao público mais jovem.

– O título o reafirma como um homem negro que se coloca como sujeito de sua própria história e a representa assim. Ele foi nomeado de naïf, mas, se não fosse o racismo estrutural, um artista desta grandeza seria considerado um pintor moderno – acredita Raquel Barreto. – Outra importância da sua obra foi ter retratado a religiosidade afro-brasileira, que, neste momento, está sob ataque. Heitor era ogã, o responsável, no candomblé, por tocar para que o orixá desça à Terra. É uma função de mediador, um trânsito que ele também desempenhou em sua vida artística.

Curador de arte latino-americana do Guggenheim, de Nova York, Pablo León de la Barra destaca a importância histórica da mostra.

– A História da Arte tratou artistas como Heitor por muito tempo como primitivos ou ingênuos, o que é mais grave num país como o Brasil, onde o racismo dificulta o acesso à educação, o que tem de ser considerado numa releitura como a que estamos propondo – ressalta o curador. – A própria Tarsila (do Amaral) poderia ter sido considerava uma pintora naïf, pela forma como abordava os temas, como romantizava a realidade brasileira, mas isso não aconteceu, como no caso do Heitor.

Autodidata, Heitor começou a ser reconhecido também na pintura a partir da década de 1950, quando fica com o terceiro lugar para artistas nacionais na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, e ganha uma sala especial na 2ª Bienal, em 1953. Em 1966, participou do I Festival de Artes Negras em Dakar, no Senegal, meses antes de sua morte (a retrospectiva traz obras de Heitor e outros dois brasileiros na seleção, uma tela de Rubem Valentim e uma escultura de Agnaldo dos Santos). O evento marcou a memória de Haroldo Costa, que sentou ao lado do pintor no voo.

– Tive o privilégio de fazer parte da delegação brasileira para Dakar, e outro maior ainda de ir sentado ao lado do Heitor. Fomos conversando durante todo o voo e passei a admirá-lo ainda mais desde então – recorda Costa. – Ele é o melhor exemplar que conheço do “milagre brasileiro”. Tinha tudo para dar errado, mas foi grande em várias áreas. Muito graças à ultrassensibilidade que teve ao longo da vida, como pioneiro na observação do cotidiano da população negra e periférica, com a qual ele convivia.

Fundadora da MT Projetos de Arte, pela qual captou recursos para a exposição via Lei Federal de Incentivo à Cultura, a colecionadora Margareth Telles começou a planejar a mostra durante a pandemia, mas só no início do ano teve o projeto contemplado. Além de mostrar a uma nova geração de espectadores a obra de Heitor dos Prazeres, ela desejava fazer um paralelo com o momento atual da arte contemporânea brasileira, no qual questões sociais e relacionadas à diáspora africana estão no centro do debate.

– Além de ser apaixonada por seu trabalho, achava necessário fazer um recorte de sua produção agora, para colocá-lo em diálogo com artistas da nova geração, como o Dalton Paula, o Arjan Martins, o Maxwell Alexandre. Ele foi pioneiro em tudo, foi o primeiro artista negro a ser premiado numa Bienal, em 1951, ao lado do (suíço) Max Bill – contextualiza Margareth. – Foi o artista que abriu este caminho, retratando essa modernidade negra, da transição do rural para o urbano, das rodas de samba, do Brasil pós-abolição.

Ralação com a moda

Entre os legados da mostra, está a restauração da tela “Praça XV” (1965), da coleção Castro Maya, apresentada em 1966 no 1° Festival Mundial de Artes Negras, em Dakar, e do figurino do Balé do IV Centenário de São Paulo (1954), criado pelo pintor. Além das peças exibidas ao público pela primeira vez no CCBB, outra indumentária assinada por Heitor para a companhia de dança pode ser vista no Museu de Arte do Rio (MAR), na mostra “Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros”, que tem Raquel Barreto como uma das curadoras.

– Mostramos um pouco deste envolvimento dele com a moda, assinando o figurino do balé, uma coleção de tecidos da Rhodia, além do fato de ser um homem muito elegante, que se vestia sempre de forma impecável – destaca Raquel.

Para a curadora, a obra de Heitor dos Prazeres faz um registro precioso da realidade da população negra do Brasil em seu tempo, mas de forma diferente de outros pintores modernos que se debruçavam sobre o tema, como Di Cavalcanti e Portinari.

– Um dos aspectos que a gente quis destacar foram as cenas que ele pintou da infância de crianças negras. Isso era uma ideia muito nova, porque não existia durante a escravidão, e no pós-abolição essa infância era abreviada pela necessidade do trabalho – comenta Raquel. – E em várias telas com brincadeiras, vemos muito a imagem da pipa, do balão no céu, o que traz uma ideia de liberdade.

Fonte: Veja – por Por Nelson Gobbi.

Vitória Taborda no Paço Imperial

O Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a  exposição “Aparência”, exibição individual de Vitória Taborda que permanecerá em cartaz até 20 de agosto. A exposição marca o reencontro da artista com sua cidade natal, após um longo período morando em Nova York, nos EUA. Foi no Rio de Janeiro onde ela fez toda a sua formação em arte contemporânea, tendo sido integrante da chamada “Geração 80”. Com curadoria de Vera Beatriz Siqueira, apresenta 141 obras inéditas, pertencentes a três séries: “Animale Insectum”, “Paisagismo” e “Ovo Duro”, produzidas desde 2016 até hoje, nas quais a artista reconfigura esteticamente elementos existentes na natureza, criando obras ao mesmo tempo semelhantes e diferentes da nossa fauna e flora.                                                                  

 Os sentidos não se fixam, estão sempre cambiantes, há um jogo de ilusão e encantamento, que não se resolve. Essa é a grandeza do trabalho. É como a obra do Magritte: “Isto não é um cachimbo”. Na obra da Vitória poderíamos dizer: Isto não é um inseto. Gera uma dúvida, é um enigma que não se fecha”, conta a curadora Vera Beatriz Siqueira.

Em comum, todos os trabalhos se apropriam de elementos retirados da natureza, que são reconfigurados e ressignificados. “É um trabalho puramente estético, mimicando a natureza e a sua resistência a interpretações intelectuais, a despeito de nossas incessantes tentativas. Tenho interesse na geometria, cores e formas encontradas na natureza, como padrões/vocabulário pré-existentes. Gosto também de forma antes de função”, afirma a artista.

A pesquisa para estes novos trabalhos começou a partir da mudança da artista para a Região Serrana do Rio de Janeiro. “Moro numa casa no meio da Mata Atlântica, que tem uma enormidade de asas, patinhas e partes de insetos variados. Fui reconfigurando-os dentro de uma estrutura correta do inseto em termos de número de patas, asas, etc, mas seguindo uma estética de acordo com o meu olhar. Seguindo esta mesma noção, fiz o mesmo com as plantas, colhendo galhos, folhas secas, etc.”, conta a artista.

“O trabalho de Vitória Taborda parte de encanto estético com a exploração da natureza, invertendo a direção e a função da tarefa mimética. Recolhe pequenos galhos, folhas secas, corpos de insetos mortos, formando uma coleção de coisas usadas para mimetizar não a forma atual da natureza, e sim a sua versão fabulosa e imaginativa, nascida do contato duradouro, persistente e compassivo com o mundo que o origina”, diz a curadora.

Série em exposição

“Animale Insectum” – Inspirada pelo significado em latim da palavra “Insectum”, que significa “cortar em partes”, esta série é composta por 99 trabalhos nos quais a artista cria novos insetos a partir de partes de insetos existentes na natureza, tendo sempre uma preocupação estética. “O artista anseia por criar trabalhos únicos que desafiem classificações pré-existentes, em busca de melhor compreensão de nossa existência. O cientista também anseia em descobrir algo ainda escondido, seja um novo fenômeno ou um sistema sem precedentes, para melhor compreender o mundo existente. Desta forma, este trabalho é um diálogo entre ciência e arte, suas simetrias e semelhantes buscas”, afirma a artista.

Em alguns destes trabalhos, chamados “Mimetismo” (fenômeno no qual animais e plantas imitam o padrão de coloração ou o comportamento de outro organismo como forma de proteção), a artista coloca os insetos sobre pinturas geométricas, feitas por ela, como se estivesse mimetizando a pintura como estratégia de sobrevivência.

Em pequenos formatos, medindo 15 cm X 10 cm e 15 cm X 22 cm, os trabalhos serão apresentados dentro de caixas de coleções entomológicas, assemelhando-se à classificação biológica feita pela ciência. Estima-se que existam cerca de seis milhões de insetos no planeta, mas somente um milhão foi classificado até agora. Partindo desta premissa, a artista cria seus próprios insetos e questiona: “Seriam então, os insetos ainda não classificados, não existentes? Ou talvez, eles ainda não foram inventados? Seriam os insetos a serem classificados o potencial recontar da mesma história ou, novamente, a recombinação dos mesmos elementos de outros insetos?”.

Nas caixas, a artista acrescenta o termo “animal em segmentos livres”, “ecoando os versos livres da criação poética moderna, que inspiram a sua paciente artesania, costurando partes de diferentes origens. A natureza é imitada em sua dimensão estética, resistindo a toda classificação e racionalização”, ressalta a curadora.

“Paisagismo” – Seguindo a mesma linha dos insetos, nesta série composta por 15 obras, Vitória Taborda cria trabalhos a partir de galhos, troncos e folhas secas. “São o resultado do trabalho cuidadoso de selecionar e modelar os galhos finos recolhidos depois que caem. São também dendrogramas, representações esquemáticas e suavemente nostálgicas de árvores ausentes. E são ainda projetos, planos fabulosos de podas geométricas, de controle da neve, de casas fantásticas a serem mobiliadas por nossa imaginação. Apontam, assim, para o futuro de uma realização mágica, mas também recendem a melancolia de uma realidade que não existe mais”, afirma a curadora Vera Beatriz Siqueira.

“Ovo Duro” – Esta série é composta por 27 obras feitas com ovos de galinha brancos e azuis, unindo-os, criando novas formas. “Este projeto trabalha com a desconstrução da estrutura do ovo, um objeto percebido e compreendido universalmente, não só pelo seu formato como também pela consistência, informações que são imediatamente decodificadas”, diz a artista.

“Vitória cuidadosamente desconstrói, esvaziando-os, recortando-os, colando-os uns aos outros. As configurações que alcança falam de uma nova unidade, mas também de coisas inevitavelmente partidas. São outros seres segmentados que recolocam a temporalidade simultaneamente passada e futura no agora da arte”, completa a curadora.

Sobre a artista

Vitória Taborda estudou no Parque Lage nos anos 1980 e participou da exposição “Como vai você Geração 80”, em 1984, além de alguns salões de arte no Rio de Janeiro. Em 1988, foi para Nova York estudar Ilustração na School of Visual Arts. Estudou também encadernação e restauração de livros e produziu algumas edições limitadas de Livro de Artista, dois dos quais hoje pertencem à coleção do MoMA e a várias bibliotecas nos EUA. Neste período, participou de duas exposições coletivas de ilustração no Arts Director’s Club. De volta ao Brasil, em 2002, continuou seu trabalho de arte, pintando a óleo em papel cartão (binder’s board), pensando nas partes e no todo, pensando nos fragmentos e no inteiro até se enveredar por colagens com elementos pré-existentes na natureza.

Sobre a curadora

Vera Beatriz Siqueira é historiadora da arte, professora e pesquisadora do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É autora de vários livros sobre arte brasileira, incluindo Arte no Brasil anos 20 a anos 40, Wanda Pimentel, Cálculo da Expressão: Goeldi, Segall, Iberê, Iberê Camargo, Burle Marx, Milton Dacosta, além de vários artigos em livros e revistas. Atuou como curadora de exposições na Fundação Iberê Camargo, Museu Lasar Segall, Museus Castro Maya e Paço Imperial, entre outros espaços culturais. Foi Coordenadora da área de Artes e membro do Conselho Técnico Científico do Ensino Superior (CTC-ES) junto à Capes/Ministério da Educação, entre 2018 e 2021. Atualmente coordena o Programa de Pós-graduação em História da Arte da Uerj.

Siamo Foresta

 

Quinze artistas brasileiros participam de mostra internacional concebida pela Fondation Cartier na Triennale Milano.

Até o dia 29 de outubro, a Triennale Milano e a Fondation Cartier pour l’Art Contemporain apresentam a exposição “Siamo Foresta”. Com curadoria do antropólogo francês Bruce Albert e do diretor artístico da Fondation, Hervé Chandès, a mostra reúne 27 artistas de diferentes países. Desses, 15 brasileiros, entre os quais nove são indígenas: Adriana Varejão, Aida Harika (Yanomami), Alex Cerveny, André Taniki (Yanomami), Bruno Novelli, Cleiber Bane (Huni Kuin), Edmar Tokorino (Yanomami), Ehuana Yaira (Yanomami), Jaider Esbell (Makuxi), Joseca Mokahesi (Yanomami), Luiz Zerbini, Morzaniel Ɨramari (Yanomami), Roseane Yariana (Yanomami), Santídio Pereira e Solange Pessoa.

Para sublinhar as conexões emocionais, afinidades estilísticas e conceituais entre as obras, os artistas estão idealmente conectados entre si também por meio das soluções cenográficas de Zerbini, que concebeu um projeto expositivo que abarca todos os trabalhos e permite que a floresta, com seus elementos e ritmo vital, entre nas salas da Triennale Milano.

Mais de 70% das obras pertencem acervo da Cartier pour l’Art Contemporain e contam, em especial, a história de sua relação com artistas de algumas comunidades indígenas da América do Sul. O encontro com esses mundos estéticos e metafísicos, indígenas e não, foi a ocasião para dar vida a novos projetos artísticos, obras inéditas e colaborações.

“Siamo Foresta apresenta um diálogo inédito entre pensadores e defensores da floresta, artistas indígenas e não indígenas que se inspiram em uma visão estética e política comuns da floresta como um multiverso igualitário de povos vivos, humanos e não humanos, e, como tal, oferece uma alegoria vibrante de um mundo possível além do nosso antropocentrismo. Desde suas origens, a tradição ocidental dividiu e hierarquizou os seres vivos segundo uma escala de valores da qual o ser humano é o ápice. Essa supremacia do humano distanciou progressivamente a humanidade do resto do mundo vivo, abrindo caminho para todos os abusos de que resultam a destruição da biodiversidade e a catástrofe climática contemporânea. A filosofia das sociedades indígenas americanas, por outro lado, acredita que seres humanos e não humanos – animais e plantas – embora se diferenciem pela aparência de seus corpos, estão profundamente unidos por uma mesma sensibilidade e intencionalidade”, explica Bruce Albert, antropólogo francês que trabalha há quase 50 anos com os Yanomami.

Para sublinhar as conexões emocionais, as afinidades estilísticas e conceituais entre as obras selecionadas, os artistas estão idealmente conectados entre si também por meio das soluções cenográficas orquestradas por Luiz Zerbini. De fato, o artista concebeu um projeto expositivo contínuo que abarca todas as obras e permite que a floresta, com seus elementos e ritmo vital, entre nas salas da Triennale Milano.

Por um lado, a floresta já não é um espaço alheio à cidade e à cultura, mas o lugar onde se celebra o encontro de culturas: Siamo Foresta é um grito de reivindicação de artistas que pensam a unidade do planeta através da ideia de floresta. Por outro lado, é por meio da arte que diferentes culturas podem dialogar e se transformar: a exposição relata as influências que as populações nativas da Amazônia e de outras regiões exerceram sobre as culturas visuais não nativas. O espaço expositivo torna-se o local onde as artes mostram o caminho para repensar o planeta e o seu futuro de forma diferente.

Siamo Foresta é enriquecido por uma publicação dedicada, contendo a documentação iconográfica do percurso expositivo, e por um guia com atividades exploratórias para crianças que exploram os conteúdos das obras, a par de um conjunto de workshops nas salas expositivas.

Os artistas em exibição

Adriana Varejão (Brasil), Aida Harika (Yanomami, Brasil), Alex Cerveny (Brasil), André Taniki (Yanomami, Brasil), Angélica Klassen (Nivaklé, Paraguai), Bruno Novelli (Brasil), Brus Rubio Churay (Murui-Bora, Peru), Cai Guo-Qiang (China), Cleiber Bane (Huni Kuin, Brasil), Efacio Álvarez (Nivaklé, Paraguai), Edmar Tokorino (Yanomami, Brasil), Ehuana Yaira (Yanomami, Brasil), Esteban Klassen (Nivaklé, Paraguai), Fabrice Hyber (França), Fernando Allen (Paraguai), Floriberta Fermín (Nivaklé, Paraguai), Fredi Casco (Paraguai), Jaider Esbell (Makuxi, Brasil), Johanna Calle (Colômbia), Joseca Mokahesi (Yanomami, Brasil), Luiz Zerbini (Brasil), Morzaniel Ɨramari (Yanomami, Brasil), Sheroanawe Hakihiiwe (Yanomami, Venezuela), Roseane Yariana (Yanomami, Brasil), Santídio Pereira (Brasil), Solange Pessoa (Brasil) e Virgil Ortiz (Cochiti Pueblo, Novo México, Estados Unidos).