A Galeria Marcelo Guarnieri, apresenta, entre 29 de março e 02 de maio, a primeira mostra de Claudio Tozzi na unidade de São Paulo. A exposição reúne obras realizadas entre 1968 e 2024, percorrendo mais de cinquenta anos de intensa produção, período no qual o artista refletiu sobre o poder da imagem construída em um trânsito visual entre o espaço público e o espaço privado. A exibição conta com texto crítico assinado pelo curador Diego Matos.
Claudio Tozzi iniciou sua produção artística na década de 1960, realizando, através de uma aproximação com a linguagem da Pop Art e ao programa da brasileira “Nova Figuração”, uma leitura crítica sobre a emergente cultura de consumo de massas que se integrava a uma Ditadura Militar recém-instaurada. Dedicava, por exxemplo, nesses primeiros anos, uma especial atenção aos símbolos ligados à militância popular, como as imagens da multidão em protesto ou do rosto de Che Guevara. O parafuso, um objeto trivial dotado de uma forte carga política quando associado à classe operária, atravessa algumas décadas de sua produção, convertendo-se em um símbolo em si mesmo dentro de sua poética. Claudio Tozzi explora suas geometrias, qualidades escultóricas, função estrutural e sua capacidade, enquanto objeto perfurante, de articular o espaço-dentro ao espaço-fora.
Seu interesse pelas possibilidades técnicas e visuais da retícula, exploradas inicialmente por meio da serigrafia, foi se reconfigurando através de pinturas pontilhadas ou de obras como “Polution” (1973), na qual explorou o ponto como partícula na composição física da atmosfera. Ainda na década de 1970, dentro de suas investigações sobre estruturas compositivas, sobre a formação da imagem em processos de integração e desintegração, dedicou-se às relações entre luz, cor e pigmento. Em produções mais recentes, entre os anos de 2022 e 2024, explorou o caráter reticular do formato da grade através de composições geométricas serializadas que utilizavam-se de materiais tão diversos quanto a borracha e o nylon.
Como observa Diego Mattos no texto crítico que acompanha a exposição: “Tozzi nunca perdeu de vista uma perspectiva de futuro em que mantém de maneira resiliente a ideia: é necessário que o capital não exceda a poesia. Essa é talvez uma reflexão que funciona como âncora conceitual de sua produção e que foi apropriada no trabalho mais recente selecionado para a mostra. (…) Desse modo, em um momento de grande sensibilidade aos impasses não resolvidos no passado como a discussão da lei de anistia e a luta por memória, verdade e justiça, as obras do artista ganham uma nova injeção de pertinência histórica e nos ajuda a pensar nas emergências reais do agora. Basta perceber, por exemplo, a profusão da imagem de astronautas representados das mais variadas formas em suas obras: uma figura heroica dos tempos da guerra fria e que segue como ideário na corrida espacial e na disputa de poder simbólico.”.