Retrato audiovisual

01/jul

A exposição de Sandra Kogut “No Céu da Pátria Nesse Instante” reproduz falas de um país fraturado e provoca a interação entre o público no Sesc Niterói, RJ.

Sempre transitando entre o cinema, a televisão, a videoinstalação e a arte visual, Sandra Kogut apresenta seu novo projeto: “No Céu da Pátria Nesse Instante”, uma instalação de audiovisual expandido. Em cena, pessoas que participaram ativamente das eleições de 2022, numa espécie de retrato audiovisual de um país dividido. E aí está o trunfo da exposição: para que o visitante possa compreender o que está sendo projetado, ele precisa interagir com o outro, com o vizinho, numa simbologia de reconexão entre as pessoas. A mostra pode ser visitada até 20 de julho.

Numa sala escura, Sandra Kogut projeta frases no ar. São comentários de cidadãos comuns sobre as eleições de 2022, recolhidos ao longo de 2022 e 2023. Ao entrar no local, as pessoas são atingidas por frases que representam posições políticas diversas, tornando-se elas mesmas as telas. “Num lugar que parece não ter nada, você é ao mesmo tempo o suporte e o alvo de comentários de pessoas que não se veem, não se escutam e parecem viver em realidades paralelas. Ao mesmo tempo, para entender o que está acontecendo você precisa do outro. É preciso pedir o apoio de alguém para servir como tela”, explica a artista.

A exposição conta também com um trabalho sonoro de O Grivo, grupo de música experimental, formado pelos mineiros Nelson Soares e Marcos Moreira. Com o apoio de fones, o público pode ouvir um pouco das conversas gravadas pelo projeto. A mostra contempla ainda uma projeção no chão de imagens do 08 de janeiro feitas pela artista. Em 2020, Sandra Kogut ganhou uma bolsa na universidade de Harvard, nos EUA, com a qual registrou os personagens que serviram de matéria-prima para o projeto No Céu da Pátria Nesse Instante. “Meu interesse é falar de política, mas não através das pessoas que estão no centro do poder, os protagonistas usuais, e sim das pessoas comuns, que estão nas ruas. Aqueles que olham para tudo de lado, de trás, do fundo”, diz a artista. O material registrado deu origem ao filme No Céu da Pátria Nesse Instante, documentário longa-metragem que estreou no 56º Festival Brasileiro de Cinema de Brasília e com estreia comercial prevista para o fim do ano. Nessa exposição, a artista utiliza registros que vão além do longa-metragem. “Queria não só fazer um filme como também uma instalação com esse material tão vasto e tão rico, porque tem coisas que não cabem no formato de cinema”, explica a artista.

Sobre a artista

Sandra Kogut nasceu na cidade do Rio de Janeiro. Vive e trabalha entre o Brasil, a França e os EUA. Estudou filosofia e comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. No audiovisual, realizou trabalhos de ficção, documentários, filmes experimentais e instalações. Começou como videoartista nos anos 1980, documentando performances em sua cidade. Uma dessas resultou no vídeo Intervenção Urbana (1984), gravado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Nos dois anos seguintes, realizou uma série de projetos experimentais: Egoclip (1985), com o poeta Chacal; 7 Horas de Sono (1986), com o artista plástico e escultor Barrão; e O Gigante da Malásia (1986). Na década de 1990, criou as Videocabines – uma série de instalações no Metrô carioca, na Casa de Cultura Laura Alvim e no MIS de SP – que deu origem ao trabalho Parabolic People, produzido no CICV Pierre Schaeffer (França) e filmado em Paris, Nova Iorque, Moscou, Tóquio, Dakar e Rio. Sandra participou de exposições no Brasil e no exterior, enquanto paralelamente realizou filmes como os premiados Adieu Monde, Passagers d’Orsay e Um Passaporte Húngaro. Entre seus longas de ficção estão Mutum (2007), Campo Grande (2015) e Três Verões (2019), que receberam prêmios nos grandes festivais e correram o mundo. Entre 2016 e 2022 foi comentarista do programa Estúdio I na GloboNews. Foi professora nas universidades americanas de Princeton, Columbia (Film Program) e University of California, San Diego/UCSD. Foi Visiting Scholar na New York University durante quatro anos.

Exposição Coletiva Diadorim

A NONADA SP, Praça da Bandeira, Centro, São Paulo, SP, exibe até 21 de agosto a mostra  coletiva “DIADORIM”, sob curadoria de Guilherme Teixeira reunindo 17 artistas em torno de 19 obras que exploram temas como corpo, inadequação, pertencimento e gênero, utilizando diversas técnicas e suportes, incluindo pintura, escultura, fotografia, desenho, objetos, videoarte, performance e instalações, atualizando questões conceituais do clássico “Grande Sertão: Veredas” de João Guimarães Rosa, obra da qual a galeria retirou seu nome e conceito. A exibição permanecerá em cartaz até 31 de agosto.

Diadorim, um personagem que se veste como homem para acompanhar os cangaceiros e proteger-se, traz à tona discussões contemporâneas sobre construção de gênero e performance social. Esta narrativa literária oferece um ponto de partida para a reflexão sobre identidades de gênero e seus desdobramentos na sociedade atual.

Guilherme Teixeira, o curador, é reconhecido por seu trabalho que atravessa temas de identidade, sexualidade e pertencimento. A seleção de um grupo diversificado de artistas possibilitou a exibição de suas próprias perspectivas e experiências para o evento. Esta abordagem pluralista permite uma ampla gama de interpretações e provocações sobre as temáticas abordadas. Andre Barion, Andy Villela, Ana Matheus Abbade, Ana Raylander Martís dos Anjos, Amorí, Bruno Magliari, Rafaela Kennedy, Santarosa, Juno, Ode, Diambe, Daniel Mello, Domingos de Barros Octaviano, Linga Acácio, Flow Kontouriotis, Wisrah C. V. da Celestino e Nati Canto trazem uma diversidade de estilos e abordagens. A pluralidade de técnicas e temas reflete o compromisso da NONADA em proporcionar um espaço para a diversidade artística e cultural.

NONADA, cujo nome deriva de um neologismo criado por João Guimarães Rosa, tem como missão preencher lacunas na cena artística contemporânea, promovendo um espaço inclusivo e de experimentação. Seus fundadores, João Paulo, Ludwig, Luiz e Paulo, destacam que a NONADA é um espaço híbrido que acolhe, expõe e dialoga, oferecendo uma plataforma para trabalhos de alta qualidade que abordam temas políticos, identitários e de gênero, entre outros.

Por dentro da paisagem

A exposição coletiva de arte cubana com Alejandro Lloret, Alexis Iglesias e J. Pável Herrera está em cartaz no Instituto Cervantes de São Paulo.

O Instituto Cervantes de São Paulo, Avenida Paulista, inaugurou a exposição “Por dentro da paisagem”, com pinturas e desenhos que mostram manifestações da arte cubana contemporânea, rica em simbolismo e reflexão, tem revelado uma tendência na ressignificação da paisagem e dos objetos do cotidiano através de um olhar singular dos artistas insulares. Na mostra, Alejandro Lloret (1957) Alexis Iglesias (1968), e J. Pável Herrera (1979) se destacam neste movimento, cada um trazendo uma perspectiva única e profunda sobre os espaços da paisagem e suas possibilidades significativas.

Com suas abordagens distintas, os três artistas convergem em uma visão que transcende o mero aspecto visual das paisagens. Eles convidam o espectador a uma contemplação mais profunda, onde cada espaço vazio, cada recorte da paisagem e cada objeto abandonado revelam histórias ocultas e significados transcendentais. Através de suas obras, nos oferecem uma ressignificação do olhar, uma oportunidade de enxergar o mundo com uma percepção mais aguçada, sensível e atemporal, conectando o material ao imaterial e o cotidiano ao permanente.

Rocket na Alma da Rua I

A Galeria Alma da Rua I, Vila Madalena, São Paulo, SP,  inaugurou a exposição “Antigos Agoras” do artista Rocket. A mostra fica em cartaz até 31 de julho, oferecendo ao público uma perspectiva única sobre a evolução da arte urbana e as influências que moldaram o trabalho do grafiteiro.

“Antigos Agoras”, sob curadoria de Tito Bertolucci e Lara Pap,  propõe uma reflexão sobre cenas e ideias que evocam memórias e experiências passadas, muitas vezes despercebidas no cotidiano. Este conceito dialoga com a história da arte urbana, que sempre buscou capturar e refletir as dinâmicas sociais e culturais das cidades. A técnica de Rocket, que utiliza humanoides como elemento central, propõe uma nova interpretação da figura humana e suas interações com o espaço e as cidades. Seu estilo se alinha à tradição da arte de rua, que historicamente tem sido uma forma potente de expressão e resistência cultural.

A exposição na Galeria Alma da Rua I oferece uma oportunidade valiosa para explorar a trajetória do grafite e sua influência na cultura contemporânea. A galeria, conhecida por seu apoio à arte urbana e seus criadores, reafirma seu compromisso com a promoção e valorização deste movimento cultural.

Sobre o artista

Rocket, nascido no bairro Jardim São Pedro, no extremo leste de São Paulo, iniciou sua prática no grafite em 2006. Suas primeiras influências vieram do movimento Hip-Hop, dos amigos e da rebeldia típica da adolescência. Integrante da crew de grafite OTM, Rocket desenvolveu um estilo distintivo que se concentra na criação de personagens humanoides, caracterizados por traços respingados, cores vibrantes e anatomias não convencionais.

Sobre Mares rios e CORES

28/jun

Exposição itinerante sobre arte ambiental inaugura em Fortaleza, CE, com curadoria de Angela de Oliveira e Francisco Ivo na ARTIVO Galeria em exibição até 23 de julho.

Nunca foi tão urgente e necessário falar sobre a preservação do meio ambiente e os impactos cada vez mais evidentes da devastação no planeta. “Mares rios e CORES”, mostra sobre arte ambiental que inaugura na ARTIVO Galeria, apresenta justamente, como principais objetivos, conscientizar acerca destas questões e promover sua conservação, reforçar a comunicação e a participação cidadã na defesa da natureza, incentivando o compromisso político e pessoal contra o aquecimento global e seus efeitos. A exposição abre para visitação no dia 28 de junho, sob curadoria de Angela de Oliveira e Francisco Ivo, e depois de Fortaleza segue para Olinda e Búzios, além de outras cidades pelo Brasil e exterior. Trata-se de um manifesto artístico coletivo em prol da preservação dos rios, mares e florestas em um circuito muito especial: “Através da arte, podemos nos questionar o impacto humano no meio que nos cerca, a forma com que obtemos recursos energéticos para a manutenção da vida material e, por fim, refletir para onde estamos caminhando. Pretendemos passar isso instigando olhares sobre nossas composições artísticas”, diz a curadora Angela de Oliveira, que também idealizou a mostra.

Os artistas irão expor obras produzidas a partir de materiais diversificados, cada qual com sua identidade, e todos focados na temática proposta; a natureza também servirá como pano de fundo para as exibições. Nessa pluralidade de abordagens e expressões, será estabelecido um diálogo com públicos diversos, em diferentes cidades do mundo. Representantes de vários estados brasileiros, entre os nomes selecionados estão: Albina Santos, Andréa Noronha, Colenese, Cybele Fortes Odoni, Francisco Ivo, Flávio Henrique Silveira, Gisele Faganello, Graça Prado, Heloisa Zorzi, Itala Macedo, Lisiane Trindade, Luiz Carlos Lima, Maria Libonati, Mariângela Rettore, Marlene Kirchesch. Marly Ramos, Mauro Kersul, Rosângela Sampaio, Rose Maiorana, Tania Castro, Tuka Carrilho e Tarso Sarraf.

A Art 100 Gallery, que assina a produção do evento e está localizada em Porto Alegre, RS, testemunhou o impacto da recente tragédia ambiental ocorrida no estado do Rio Grande do Sul, o que só reforçou seu compromisso com o projeto que tem como madrinha Rose Maiorana – executiva do Grupo Liberal, empresária e artista plástica de Belém do Pará -, uma fomentadora da arte no norte do país. Rose Maiorana é responsável, com o premiado fotógrafo Tarso Sarraf, pelo projeto “Amazônia Líquida”.

Texto curatorial de Andrea Cardoni

“Assim como o sangue corre em nossas veias, os rios são as veias da Terra. Assim como os rios seguem para o mar, nosso sangue segue em direção a todos os cantos e células de nosso corpo. A natureza é generosa e soberana, estamos acabando com a fluência de suas águas. Na natureza, a vida flui para nos abrigar, como podemos experimentar e cuidar desse harmonioso abrigo? Muito mais que um pedido, é uma súplica: olhem os Mares, dêem passagem aos Rios, se encantem com todas as suas Cores. Nada disso é nosso, a relação é outra, nós somos parte da natureza, ao mesmo tempo que ela é parte de nós. No apelo da Terra, sentindo seus rios sangrarem, seus mares bradarem, nasceu o projeto Mares, Rios e Cores. Ouvindo o chamado de sua alma para despertar o coração dos homens, Angela de Oliveira concebeu esse projeto que fundamenta um movimento para que, através das cores da arte, na fluência caudalosa de rios emocionais, os artistas pudessem desaguar em mares de esperança, cuidado e fé. Rose Maiorana vem como madrinha desse movimento para expandir ainda mais o seu alcance. Estão sendo tocados por esse chamado vários artistas de diversos países, que criarão suas obras para alcançar seu coração, despertar sua mente e mover seus corpos junto conosco no sentido de cuidarmos na nossa natureza. No contato sensível com as obras, queremos chamar a natureza humana que nos difere dos outros animais no ato de sentir. Promovendo uma conexão maravilhosa da sua natureza com a natureza que fazemos todos parte”.

Oficina de aquarela no Instituto Ling

27/jun

A artista e designer Mariana Prestes ensina os segredos da técnica da aquarela, compartilhando no Instituto Ling, Bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS, seu conhecimento de forma leve e acessível, além de estimular cada aluno a encontrar o seu estilo e a sua personalidade. Seja ela impressionista, de tons suaves, ou expressionista, de personalidade forte. Monocromática ou resultando em uma composição de cores e tons. Trata-se de uma atividade aberta ao público: para participar não é preciso conhecimento prévio. Os materiais básicos estarão disponíveis para uso durante a atividade, inclusos no valor de matrícula. Últimas vagas.

Sobre este evento

Data e hora: sábado, 20 de julho – 14:00 até 18:00

O evento dura 4 horas

Impressionista, de tons suaves, ou expressionista, de personalidade forte. Monocromática ou resultando em uma composição de cores e tons. A experimentação com aquarela estimula o olhar e a percepção, a partir de elementos como água, manchas e, sim, a presença do acaso (!). Essa é uma técnica acessível mesmo para quem nunca se aventurou a pintar, que pode funcionar como hobby, terapia ou, ainda, despertar a aplicação para o lado profissional. Neste workshop introdutório, vamos conhecer seus efeitos e texturas e descobrir os materiais adequados para o desenvolvimento da prática. A artista e designer Mariana Prestes ensina os segredos por trás desta técnica tão versátil, compartilhando seu conhecimento de forma leve, acessível e sempre estimulando cada aluno a encontrar o seu estilo e sua personalidade. Uma bela oportunidade para experimentar o lado criativo, exercitando também a concentração e ajudando a desacelerar o corpo e a mente.

Sobre a Ministrante

Mariana Prestes é artista, designer de superfície, de produto e de mobiliário. Mariana Prestes mantém na sua essência criativa o traço autoral. Há sete anos ministra workshops de técnicas artísticas, a partir da Aquarela, Ilustração e Estamparia. Publicitária de formação, especializou-se em design na Europa, onde concluiu diferentes cursos, entre eles o Master in Product and Furniture Design, no Instituto Marangoni, em Milão. Trabalhou para marcas como Moroso, Alias e Alessi, sob direção criativa de Elena Salmistraro, Philippe Nigro e Moreno Vanini, do Studio Nendo. Faz parte do grupo Prisma Project, na Itália. Participou da Milan Design Week com três projetos, um deles para a empresa italiana Cappellini, outro com Snapchat, utilizando realidade aumentada, e com a empresa Mille997, de mármores. Em 2022 participou como jurada do 9º Prêmio Bornancini de Design da APDESIGN – Associação dos Profissionais de Design do RS, uma das principais premiações do design brasileiro. Em 2023 também participou da Milan Design Week e da Dubai Design Week, com a sua mesa Origins, criada para a empresa italiana Mirage.

MASP apresenta Catherine Opie

Artista norte-americana faz primeira mostra individual no Brasil e exibe seus retratos nos icônicos cavaletes de cristal em diálogo com obras do acervo do museu desde 05 de julho até 27 de outubro.

O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, Bela Vista, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Catherine Opie: o gênero do retrato”, com obras de um dos principais nomes da fotografia internacional contemporânea. Catherine Opie (Sandusky, Ohio, EUA, 1961) foi uma das precursoras na discussão sobre questões de gênero entre o fim dos anos 1980 e o início dos anos 1990. Sua produção dialoga com a tradição do retrato – um dos mais tradicionais gêneros da pintura ocidental – de modo a dar legitimidade a novos corpos, subjetividades e experiências que emergem na sociedade contemporânea. Em suas fotografias, Catherine Opie retrata diversas expressões e subjetividades de indivíduos e coletivos que se identificam com gêneros e orientações sexuais diversas, especialmente pessoas queer.

Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, e Guilherme Giufrida, curador assistente, a mostra reúne 63 fotografias de suas séries mais emblemáticas, desenvolvidas ao longo de mais de três décadas. Os retratos de Catherine Opie figuram ao lado de 21 importantes pinturas da coleção do MASP, entre elas, de Pierre-Auguste Renoir, Hans Holbein, Anthony van Dyck e Van Gogh. As obras são apresentadas em diálogo com o objetivo de acentuar os diálogos, tensões e reformulações aos quais o trabalho de Catherine Opie se propõe, além de desdobrar a predileção pela arte figurativa, marca da coleção do museu.

A artista explora o gênero clássico do retrato assumindo algumas de suas características, – fundo neutro, os gestos com as mãos, as expressões e os enquadramentos – e adiciona novos elementos, como a diversidade de gênero, as práticas sexuais, os corpos distintos e os relacionamentos familiares homossexuais. “É fundamental que todos os seres humanos sejam legitimados, isso é necessário para a inclusão de todas as pessoas, para a humanidade. Ao utilizar a estética tradicional do retrato, conforme a minha visão sobre a retratística, busco manter o espectador envolvido na obra durante a observação. Além disso, é uma forma de redefinir o corpo queer dentro de uma formalidade conhecida, e não tratar apenas de uma fotografia documental”, comenta Catherine Opie.

Obras e referências

A fotógrafa tem como uma de suas principais referências o pintor Hans Holbein (1497-1534), inspirando-se nos elementos formais que compõem os retratos do pintor alemão, como o uso da cor chapada ao fundo, especialmente o azul. Suas produções também se assemelham por se tratar de conjuntos de retratos que carregam um sentido de comunidade. Em Holbein, tal recorrência reafirma a ascendência ou a aliança familiar. Já em Catherine Opie, as conexões se sustentam por amizade, identificação e proteção, como em uma galeria de retratos de uma espécie de nobreza queer. Na exposição, a fotografia JD da série Girlfriends (Color) (2008) da artista, é apresentada ao lado da pintura O poeta Henry Howard, conde de Surrey (Circa 1542), de Holbein, o que dá destaque às suas semelhanças e particularidades. “Trata-se da apropriação da tradição e de marcadores associados às elites para dar a mesma condição de visibilidade a gêneros que muitas vezes não fizeram parte do universo de possibilidades da representação”, reflete Guilherme Giufrida.

Being and Having (Ser e ter) (1991) foi a primeira série de retratos de Catherine Opie apresentada em uma exposição individual. A série é composta por 13 fotografias que retratam performances de figuras masculinizadas por seus atributos, como bigodes ou bonés, denominadas drag kings. Ao invés do nome oficial da pessoa retratada, Catherine Opie optou pelo nome fictício, de identificação coletiva e afetivo dentro do grupo de amigas do qual faz parte. O título é uma paródia das teorias de Jacques Lacan (1901-1981) sobre o lugar do falo na construção da sexualidade. Essa série inaugurou no trabalho de Catherine Opie um conjunto de retratos em estúdio que se estende até hoje, sendo que alguns deles possuem referências internas, como a cor de fundo vermelha, as roupas, a pose e o banco que se repetem propositalmente em Pig Pen (1993) e Elliot Page (2022). A fotografia do ator, produtor e diretor canadense Elliot Page, conhecido por produções de sucesso como o filme “Juno”, ilustra a capa de sua biografia Pageboy, que conta a história do seu processo de transição de gênero.

Sobre a artista

Catherine Opie nasceu em Sandusky, em Ohio, USA, em 1961. Atualmente, vive e trabalha em Los Angeles, onde foi também professora no departamento de Artes da Universidade da Califórnia (UCLA). Desde o fim dos anos 1980, realizou diversas exposições individuais em instituições de reconhecimento internacional, como o Guggenheim Museum (Nova York), Los Angeles County Museum of Art (Los Angeles), Regen Projects (Los Angeles), Thomas Dane Gallery (Londres), Institute of Contemporary Art (Boston e Canadá). Seu trabalho integra o acervo de instituições internacionais como Guggenheim Museum, Institute of Contemporary Art, J. Paul Getty Museum, Museum of Contemporary Art, Museum of Fine Arts, National Portrait Gallery, Tate e Whitney Museum.

Catálogo

Serão publicados dois catálogos, em inglês e português, compostos por imagens e ensaios comissionados de autores fundamentais para o estudo da obra de Catherine Opie. A publicação é organizada por Adriano Pedrosa e Guilherme Giufrida, e inclui textos de Ashton Cooper, David Joselit, Guilherme Giufrida, Jack Halberstam e Vi Grunvald. Com design do Estúdio Permitido, a publicação tem edição em capa dura.

A exposição “Catherine Opie: o gênero do retrato” integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da diversidade LGBTQIA+ que também inclui mostras de Gran Fury, Francis Bacon, Mário de Andrade, MASP Renner, Lia D Castro, Leonilson, Serigrafistas Queer e a grande coletiva Histórias da diversidade LGBTQIA+.

Exposição no Instituto Ling

26/jun

 

A inauguração da exposição “Livro Verde” exibição individual de Michel Zózimo no Instituto Ling, Bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS, será no dia 02 de julho, terça-feira, às 19h, com bate-papo entre o artista, a curadora e o público. A mostra permanecerá em cartaz até 11 de outubro.

Livro Verde – Michel Zózimo

O que separa a cobra do tronco? O focinho da trufa? O cheiro da chuva? O pelo do gato? O canto do pássaro? A pedra do frio? O gosto da uva? A raiz da terra? O bico da fruta? A maçã do pavão? A língua da formiga? A semente do abacate? A jaca do céu? O mel da abelha? O rato dos restos? A orelha da rã? A gralha do galho? O verme do vivo? O rio do silêncio? O caju da lágrima nordestina?

A exposição “Livro verde”, de Michel Zózimo, reúne um conjunto de 15 desenhos e uma grande colagem feita a partir de recortes de toda sorte de animais, retirados de antigas enciclopédias naturalistas. Estes trabalhos encontram-se expostos no ambiente, e os desenhos, reproduzidos em um livro de artista de mesmo nome, também disponível na exposição. Há tempos intrigado pelas imagens que os livros de ciências naturais criam para as coisas, Zózimo vem desenvolvendo um conjunto de trabalhos que se relacionam intimamente com o universo das enciclopédias. A verve classificadora que animou intelectuais desde a antiguidade, tanto na tradição ocidental quanto na oriental, buscava circunscrever as fronteiras dos fenômenos e dos seres, isolando o máximo possível suas singularidades. Em direção oposta, a literatura, a arte, as narrativas míticas descortinam a porção arbitrária das divisões e a permeabilidade dos contrários.

O desenho abismal de Michel Zózimo engendra um espaço antes do tempo, onde um animal habita o outro, um olho de cavalo sai de uma folha, um sorriso surge no escuro da mata.  Feitos em lápis aquarela e nanquim sobre papel algodão, construídos mediante um processo de densidades de pontilhados, nuances cromáticas, padronagens diversas de acordo com a pele das coisas, esses trabalhos parecem vindos do avesso de um livro raro, onde o desenho não se separa da mão que o fez, e o olho que vê é o corpo inteiro.

Gabriela Motta – Curadora

Sobre a curadora

Gabriela Kremer Motta nasceu em Pelotas (1975). É pesquisadora, crítica, curadora em artes visuais e professora adjunta no Departamento de Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – DAV-UFRGS. Desenvolveu sua pesquisa de pós-doutorado junto ao PPGAV – UFPEL, na qual propunha a criação de vinhetas radiofônicas sobre arte contemporânea aproximando as noções de performance e curadoria. Como curadora, realizou projetos em diversas instituições, tais como Instituto Ling, Fundação Iberê Camargo, MACRS, MAC Niterói, Itaú Cultural e SESC Santa Catarina, entre outras. Também teve artigos publicados em livros, catálogos e anais. Atualmente, desenvolve o projeto de pesquisa Documentação como preservação – a arte contemporânea no museu.

Sobre o artista

Michel Zózimo nasceu em Santa Maria (1977) e vive e trabalha em Porto Alegre. É doutor em Artes Visuais pelo IA da UFRGS e professor do Colégio de Aplicação da UFRGS. Ele tem dois livros publicados através de Prêmios de Incentivo à Produção Crítica da FUNARTE e, em 2011, recebeu o Prêmio Residência Artística do PECCSP no Hangar, em Barcelona. Entre suas principais mostras estão o Programa de Exposições do Centro Cultural de São Paulo (2010); Rumos Artes Visuais (Itaú Cultural, SP, 2011); Temporada de Projetos Paço das Artes (SP, 2012); 9ª Bienal do Mercosul (Memorial do Rio Grande do Sul, 2013); Festival Vídeo Brasil (SESC São Paulo, 2014); Soft Cover Revolution (Fundación Arte Vivo Otero Herrera, Madri, 2015); RS XXI (Santander Cultural, Porto Alegre, 2017); e 36º Panorama da Arte Brasileira (MAM-SP, 2019). Em 2021, realizou a individual O nome vem depois, com curadoria de Lilia Schwarcz, na Sé Galeria, e, em 2023, participou do Artist-in-residence Programm des Salzburger Kunstvereins, produzindo a publicação de artista BERG.

A arte de Renato Gosling no Museu FAMA

Giz de lousa, palito de fósforo e carteira escolar se tornam obras de arte em “A Verdade sobre a Nostalgia”, mostra que explora o imaginário do visitante e viaja entre passado e presente. A exposição convida o público a relembrar memórias de infância.

O Museu FAMA – Fábrica de Arte Marcos Amaro – juntamente com o artista Renato Gosling, inaugura a exposição individual intitulada “A Verdade sobre a Nostalgia”. Curada por Jhon Voese, a exposição terá início em 29 de junho e permanecerá em exibição até 29 de setembro, com representação de @nata_artdesign

“A Verdade sobre a Nostalgia” mergulha nas profundezas da memória e da emoção, convidando o público a explorar a intersecção entre o passado e o presente através das obras de Renato Gosling. Reconhecido por sua habilidade em capturar a essência da experiência humana, o artista apresenta uma série de trabalhos que evocam sentimentos de nostalgia, mas também questionam a natureza da memória e da Identidade Brasileira.

A exposição estará aberta ao público no Museu FAMA, localizado na Rua Padre Bartolomeu Tadei, 09 – Alto, Itu – SP. Os visitantes poderão desfrutar das obras de Renato Gosling de quarta a domingo, das 11h às 17h, na Sala 5.

Sobre o artista

Renato Gosling, nasceu em 1976, é natural de São Paulo, SP. Em sua obra apropria-se de um trabalho paralelo e sinérgico ao mundo contemporâneo através de micro-narrativas e gatilhos para os espectadores terem suas sensações e exprimentações. No mundo atual onde o 140 caracteres predomina, Renato Gosling  descarrega toda sua inquietude e ansiedade em objetos e fotos que transmitem o cotidiano popular Brasileiro, recorrendo a infância e a memória afetiva.

Sobre o curador

Jhon Voese nasceu em Guarapuava, interior do Paraná e trabalhou por mais de oito anos no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba – PR. Formado em História com Mestrado em Artes pela Unespar, onde escreveu sobre o Faxinal das Artes (2002). Atualmente cursa o doutorado em História na UFPR. Sua pesquisa atual trata da relação Arte e Ecologia e tem como objeto a mostra Arte Amazonas (1992) anunciada pelo MAM-RJ como contrapartida artística para a Eco-92.

Giz de lousa, palito de fósforo e carteira escolar se tornam obras de arte em “A Verdade sobre a Nostalgia”, mostra que explora o imaginário do visitante e viaja entre passado e presente. A exposição convida o público a relembrar memórias de infância.

O Museu FAMA – Fábrica de Arte Marcos Amaro – juntamente com o artista Renato Gosling, inaugura a exposição individual intitulada “A Verdade sobre a Nostalgia”. Curada por Jhon Voese, a exposição terá início em 29 de junho e permanecerá em exibição até 29 de setembro, com representação de @nata_artdesign

“A Verdade sobre a Nostalgia” mergulha nas profundezas da memória e da emoção, convidando o público a explorar a intersecção entre o passado e o presente através das obras de Renato Gosling. Reconhecido por sua habilidade em capturar a essência da experiência humana, o artista apresenta uma série de trabalhos que evocam sentimentos de nostalgia, mas também questionam a natureza da memória e da Identidade Brasileira.

A exposição estará aberta ao público no Museu FAMA, localizado na Rua Padre Bartolomeu Tadei, 09 – Alto, Itu – SP. Os visitantes poderão desfrutar das obras de Renato Gosling de quarta a domingo, das 11h às 17h, na Sala 5.

A Gentil Carioca Rio promove dois eventos

25/jun

Conversa com Novíssimo Edgar e Ativação Parede Territorio’s de Rose Afefé

Nesta sexta-feira, a partir das 17h, A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, propõe dois eventos em torno das práticas dos artistas Novíssimo Edgar e Rose Afefé.

Novíssimo Edgar conduzirá uma conversa sobre a sua exposição “Arqueologia de Si”, atualmente em exibição na galeria. A conversa abordará a pesquisa que inspirou a concepção da mostra, que propõe um léxico próprio composto por formas, símbolos e cores. Esse vocabulário, situado na interseção entre produções históricas e culturais de diversas sociedades, resulta da busca do artista por suas origens: “Estou realizando uma escavação dentro de mim mesmo para encontrar uma civilização perdida, o que toca em questões de ancestralidade, colonialismo e diáspora”.

A partir das 18h, inicia-se a ativação do mural “Parede Teritório’s”, parte da 40ª edição do Projeto Parede Gentil. Concebida por Rose Afefé, esta obra resulta de sua pesquisa artística sobre espaços, ocupações e as interações que proporcionam. Na ocasião, a artista promoverá uma celebração com karaokê, convidando todos a participar. Inspirado na atmosfera de uma festa junina, o evento busca materializar a estética do universo de Terra Afefé, uma microcidade criada pela artista na Chapada Diamantina, interior da Bahia. Todos são bem-vindos, trazendo sua voz, alegria e vestindo seu melhor traje junino!