Os percursos nada óbvios de Alair Gomes

03/ago

POR VITOR ANGELO

 
Uma pequena pérola brilha em preto e branco, de forma intensa, no centro da cidade de São

Paulo. Desde sábado, a exposição “Alair Gomes – Percursos”, que fica até o dia 4 de outubro

na Caixa Cultural, na praça da Sé, joga luz não só para questões contemporâneas como o

voyeurismo e o desejo, a releitura do homoerotismo da Grécia clássica como o próprio status

da fotografia.

 

Alair Gomes, que teve seu trabalho reconhecido depois de sua morte, em 1992, utiliza as

contradições em seu jogo dialético de descobrir a essência da fotografia, o denominador

comum de uma imagem e isto só é possível de termos entendimento pela excelente curadoria

e montagem da exposição feita por Eder Chiodetto.

 

Logo na entrada da exposição temos as fotos até então inéditas feitas por Alair na Praça da

República, em São Paulo. É a antítese do que estamos acostumados a conhecer do que seria as

fotos de Gomes. Não estamos na região das praias, nem dos corpos seminus, apreciados à

distância por uma teleobjetiva, como nos seu conhecidíssimo trabalho conhecido como a série

fotográfica Sonatines, Four Feet. Aqui, ele se aproxima de seus objetos como identificação,

não como algo que deseja. Ele encara as pessoas com sua câmera, que sabem que estão sendo

encaradas e muitas vezes olham direto na lente, como reflexo. Elas estão razoavelmente

vestidas, mas aí entra outro um componente que o fotografo aprendeu com Antiguidade

Clássica e seu trabalho de fotografar as estátuas greco-romanas, conseguir extrair erotismo do

que vê.

 

Ele entende que o erotismo é um componente presente no êxtase e ora trabalha no campo da

sexualidade ora da religiosidade as confrontando no que existe de seus opostos e em suas

semelhanças como se fosse a síntese de uma Santa Teresa D’Ávila e um Marquês de Sade. Um

dos pulos do gato da exposição é colocar as Sonatines, de caráter mais terreno e físico com

seus Beach Triptychs que dialoga, à sua maneira (espiritual em carne), com os trípticos

religiosos da arte renascentista.

 

Existe também a questão da narrativa, ou movimento, como algo que se dá no tempo, e aquilo

que é estático, está hibernado de calor carioca e se dá no espaço. O que era um problema para

a pintura, a questão do movimento narrativo, para Alair é solução, está ali o que ele considera

o específico da fotografia, que a diferencia de outras artes visuais e podemos perceber isto de

forma clara nas Sonatines que contam uma história entre uma foto e outra. Mas isto não

invalida os closes estáticos e explícitos de pênis e ânus que encontramos em Symphony of

Erotic Icons, ali ele apreende aquilo que se dá no tempo (o sexo), como algo no espaço (o

desejo voyeur).

 

Os jogos em contradição que Alair cria em sua intensa experiência fotográfica também diz

muito de nós, da nossa vontade inerente de desejar, da solidão do olhar que deseja, da

distância (muitas vezes abissal, muitas vezes não) imaginada entre o que te erotiza e o prazer e

mais do que tudo: que aquilo que alimenta nosso desejo está muito mais em nós ( a tal

erotização) do que no que é desejado.

Osgemeos comunicam

31/jul

A partir de amanhã, 01, das 23:57 até 00:00 de cada noite do mês de Agosto, estaremos

apresentando uma animação dos nossos personagens, em meio a um dos lugares mais

urbanos e emblemáticos do mundo: no Times Square, em NYC. “Conexão Paralela” é o titulo

deste nosso novo projeto que participará do “Midnight Moment”, apresentado pela The Times

Square Advertising Coalition (TSAC) e Times Square Arts em parceria com a Galeria Lehmann

Maupin e produção da Birdo Studio. Em seus tradicionais painéis eletrônicos e bancas de

notícias, a Times Square sinaliza as 23:57 a contagem regressiva de se tornar durante 3

minutos uma galeria de arte digital a céu aberto. Através desse momento, queremos

estabelecer uma conversa entre o imaginário e o mundo real, conectar as pessoas com os

aspectos alegres e mágicos que cada indivíduo tem dentro de si através dos sonhos.

Lançamento da ST.024

29/jul

 

Chega ao circuito cultural a edição número 1 da ST.024, portfólio de imagens em formato de

revista que será lançada dia 04 de agosto na Zipper Galeria, Jardins, São Paulo, SP, com ensaios

de João Castilho, Luiz Braga, Julio Bittencourt, Alexandre Battibugli e Drago, além de uma

agenda dos eventos de fotografia. A proposta do publisher Renê de Paula é oferecer uma

experiência tátil com a fotografia, um contato lento e sensível com a imagem impressa – tão

incomum nos dias de hoje, especialmente em razão da quantidade infinita de imagens

disponíveis no ambiente virtual.

 

Disponibilizada unicamente em versão impressa, a ST.024 não possui textos, apenas

fotografias, e reúne todos os recursos técnicos disponíveis em sua criação, para que a

reprodução das imagens fique o mais próximo possível do que se encontra no arquivo original,

produzido pelo fotógrafo. A publicação ainda possui um encarte, em formato de pôster, com

duas imagens selecionadas entre os principais editoriais de cada edição. “Os leitores vão

encontrar na St.024 um ambiente plural, pautado sempre pela qualidade e pela busca de

proporcionar experiências transformadoras para aqueles que, de alguma forma, se comunicam

através de imagens.”, comenta Renê de Paula. Em um primeiro momento, a ST.024 terá

periodicidade bimestral e poderá ser encontrada nas principais bancas e livrarias de São Paulo,

e muito em breve em todo o Brasil. A edição número “zero” foi lançada em novembro de

2014, e teve Andy Summers como fotógrafo convidado, autor da capa e do editorial principal.

Com Sergio Gonçalves

27/jul

A Sergio Gonçalves Galeria, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição individual “Sobre Águas”, do artista plástico Newman Schutze. Nessa mostra, o artista paulista apresenta 16 obras inéditas incluindo 6 telas e 10 desenhos sobre papel. As obras de Schutze são afeitas às longas durações. O tempo sempre comparece como elemento constitutivo do trabalho, mesmo quando a ideia é desafiá-lo, como nos desenhos quase instantâneos feitos a nanquim. O artista é conhecido por esses desenhos em que utiliza aguadas para obter um efeito bem diluído da tinta sobre o papel.

 

Depois de três anos de atuação no Centro Histórico do Rio de Janeiro, a Sergio Gonçalves Galeria inaugurou novo espaço no CasaShopping, na Barra da Tijuca. O lugar passa a ser mais uma opção para os amantes da Arte Contemporânea no Rio de Janeiro.

 

 

 Até 29 de agosto.

Registro

O Sesc Santo André, Vila Guiomar, Santo André, São Paulo, SP, como parte da programação de atividades paralelas à mostra “A Experiência da Arte”, promoveu a palestra Ideias Sobre Experiência nas Artes, com o curador Paulo Miyada. Na ocasião, o convidado conversa com o público sobre arte, estética e as inúmeras possibilidades de vivenciar experiências de visitas em exposições, desde as tradicionais até as formas experimentais e artísticas. A exposição A Experiência da Arte conta com a curadoria de Evandro Salles e nove obras, independentes entre si, dos artistas Cildo Meireles, Eduardo Coimbra, Eleonora Fabião, Ernesto Neto, Waltercio Caldas, Wlademir Dias-Pino e Vik Muniz. Entre esculturas, fotografias, instalações, obras sonoras, performances e poemas visuais, a mostra propõe uma imersão plena no universo poético da arte, ao apresentar peças com diferentes abordagens e estratégias de relação com o público: algumas de total interatividade, outras reflexivas ou inteiramente contemplativas.

 

 

Sobre Paulo Miyada

 

É curador do Instituto Tomie Ohtake, onde coordena o Núcleo de Pesquisa e Curadoria desde 2011 e ministra cursos pela Escola Entrópica. Em 2013, concluiu mestrado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Atualmente é também curador adjunto do Panorama da Arte Brasileira de 2015.

 

 

Sobre o Sesc Santo André

 

Inaugurada em 09 de março de 2002, a unidade possui 31.684,87 metros quadrados de área, nos quais lazer, esporte e cultura estão presentes em permanente atividade. O projeto arquitetônico, de autoria de Tito Lívio Frascino e Vasco de Mello, oferece ao público espaços amplos, confortáveis, agradáveis, que abrigam os mais atuais conceitos em arquitetura e equipamentos. As instalações compreendem teatro, espaço de eventos, biblioteca, CDteca, área de convivência, lanchonetes, parque aquático, quadras, salas de múltiplo uso, salas de ginástica, odontologia, internet livre, estacionamento, vestiários e gramado.

 

Com capacidade para receber 4.500 pessoas por dia, o SESC Santo André atua como um polo regional, atendendo às várias comunidades simultaneamente, beneficiando diretamente a categoria comerciária que nelas reside e trabalha. O SESC tem claramente esse objetivo e essa vocação. É mais uma unidade desenvolvendo seu trabalho de natureza educacional, elegendo a educação informal, como cursos, oficinas, palestras, seminários e atividades físicas competentes, prazerosas e interativas, sempre em busca do novo e do atual, democratizando a cultura, no aprimoramento da cidadania.

Pedro Lobo na 1500 Babilônia

A 1500 Babilônia, Leme, Rio de Janeiro, RJ, exibe “Espaços Aprisionados”, do fotógrafo brasileiro Pedro Lobo, com curadoria de Miguel Rio Branco. Utilizando a fotografia de arquitetura como meio de tecer comentários sobre as pessoas que vivem e ocupam as moradias retratadas, o artista leva este olhar para a Penitenciária do Carandiru, apresentando 13 imagens feitas durante os últimos dias de ocupação pelos presos e momentos antes da demolição do complexo prisional.

 

A temática na produção de Pedro Lobo gira em torno de moradias populares e os que ali habitam, provavelmente como resultado do interesse pela arquitetura, sua área de formação. Registrou favelas do Rio de Janeiro, comunidades e outros aglomerados semelhantes em cidades do sudoeste brasileiro, com o objetivo de mostrar o empenho dessas pessoas em manter a dignidade, apesar de todos os problemas, já que não possuem outra saída a não ser viver nestas comunidades excluídas. A convite de Maureen Bisiliat, fotógrafa, video maker e escritora brasileira, fotografou a carceragem do Carandiru, em São Paulo, como parte de um projeto de memória da penitenciária. Logo constatou que os encarcerados se referiam às celas como “barracos”, termo usado para identificar as casa nas favelas, e passou a captar imagens com o mesmo objetivo de seus trabalhos anteriores. Na série Espaços Aprisionados, Pedro Lobo desvenda estes ambientes de reclusão, mostrando as condições de limpeza e conservação das celas, bem como os trabalhos de arte nas paredes e portas – resíduos materiais das poucas formas de expressão pessoal permitidas. Com pesar, desperta a lembrança de que tudo aquilo se perdeu quando os prédios da penitenciária foram demolidos, e retrata, para a posteridade, os resquícios de memórias das rebeliões e do massacre de 111 presos, ocorrido em 1992.

 

Com forte sensibilidade, Pedro Lobo permeia o ambiente tenso da carceragem e agrega traços de humanidade a esta paisagem carregada de dor e violência. Nas palavras do fotógrafo: “Estas imagens não são a respeito de crimes, ou criminosos, mas sim sobre seres humanos que se encontram, ou se colocaram, em situações extremamente adversas e que, apesar de tudo, decidiram não abandonar a luta por uma existência digna.”.

 

No dia 1º de agosto, a partir das 14h, acontece um encontro com Pedro Lobo, no espaço da 1500 Babilônia, ocasião em que os presentes poderão conversar com o artista sobre sua produção, processo criativo e outros temas relacionados. A direção é de Alex Bueno de Moraes.

 

 

Até 17 de outubro.

Na Galeria Eduardo Fernandes

A artista Claudia Melli abre mostra inédita na Galeria Eduardo Fernandes, Vila Madalena, São Paulo, SP. Claudia Melli, que acaba de encerrar uma temporada de três meses no MAM-Rio, onde apresentou um recorte de sua carreira, expõe em São Paulo um trabalho totalmente novo em sua trajetória. Na mostra “E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música”  Claudia Melli exibe uma instalação de 26 metros composta por 37 peças de tamanhos variados, unidas de maneira linear, ocupando toda a extensão da galeria.

 

A artista utiliza nas peças a mesma técnica dos últimos trabalhos, nanquim sobre vidro, e explora limites entre o desenho e a pintura, que remetem à fotografias. Claudia Melli usa lâminas de vidro onde encontrou seu suporte ideal. Ela o banha em nanquim diluído em água e desenha na parte de trás com  nanquim. “O vidro tem sido o suporte que melhor responde à minha intenção de aproximar o desenho da fotografia. Para isso trago para o trabalho questões que são do universo da fotografia, como enquadramento, veracidade da imagem e principalmente a luz. A luz é potencializada pela transparência e reflexividade do vidro, características próprias desse material que está longe de ser um suporte passivo. Sua transparência deixa vazar o que está atrás, o tempo todo nos vemos e vemos o entorno refletidos quando observamos o trabalho,

 

Nesta instalação a artista conversa com o público sobre o humano. Ela conta que a linguagem do corpo ultrapassa as barreiras da  língua, as barreiras culturais, é a fala mais potente e honesta que se pode ter. Usou como referência os movimentos de Pina Baush, coreógrafa e bailarina alemã, ícone e criadora da “dança-teatro” contemporânea, focada no elemento humano e na sensibilização e reflexão do público. “Quando comecei a pensar essas imagens tinha em mente como as individualidades se relacionam, se fragmentam, se conectam,  desconectam, e seguem sendo únicas”, diz a artista. É notório, na história da arte, que fotógrafos tenham se inspirado na obra de grandes pintores e na forma como eles captavam a luz. Goya, Caravaggio e todo o impressionismo francês fazem parte dessas referências. A exposição “E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos pelos que não podiam escutar a música” percorre justamente o caminho inverso: o código fotográfico é o caminho para a artista chegar a seus desenhos.

 

 

Sobre a artista

 

Claudia Melli nasceu em São Paulo, onde morou até os 14 anos. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1980, onde construiu sua formação artística. Começou a se interessar por pintura no final dos anos 90 e passou a frequentar aulas no Parque Lage, de pintura, desenho, gravura, teoria, arte digital, entre outros. Claudia Melli vem traçando sua carreira utilizando o desenho, a luz, o enquadramento e o pensamento da fotografia. Já participou de exposições individuais no Rio de Janeiro, São Paulo e em Basel (Suiça), e recebeu em 2012 o II Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea. Seus trabalhos estão em coleções como o Instituto Figueiredo Ferraz; Coleção Gilberto Chateaubriand – MAM RJ; Coleção Banco Espírito Santo ; Artur Lescher; Heitor Martins e José Olympio Pereira.

 

 

Até 17 de outubro.

Álbum de família


O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição

“Álbum de família”, com cerca de quarenta trabalhos emblemáticos de mais de vinte artistas

brasileiros e estrangeiros, como Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Bill Viola, Candice Breitz,

Charif Benhelima, Fábio Morais, Gillian Wearing, Jonathas de Andrade, Michel Journiac,

Ricardo Basbaum, Rosângela Rennó, Santu Mofokeng, Tracey Rose, Victor Burgin e Zanele

Muholi, que ocuparão todas as salas expositivas da instituição. “Álbum de família” terá

pinturas, objetos, fotografias, desenhos, videoinstalações, instalações sonoras e filmes. A

mostra será acompanhada de um seminário transdisciplinar, nos dias 25, 26 e 27 de agosto.

 

“A exposição vem em um momento em que o conceito de família é revisto, em que se

elaboram novas leis relativas a relações homoafetivas e à adoção, em que aumentam as

denúncias de violência sexual doméstica, em que surgem mais asilos particulares e,

consequentemente, mais idosos são privados do convívio familiar, e em que, paralelamente,

grupos conservadores procuram manter intacto a imagem e o modelo tradicional de família”,

observa a curadora Daniella Géo. Ela conta que ao longo da história da arte “o retrato sempre

ocupou lugar privilegiado na produção artística, e o retrato de família, para além de sua

qualidade plástica, serviu, com freqüência, à afirmação do status social, da linhagem, da

coesão familiar, da hierarquia patriarcal, entre outros valores que, ao mesmo tempo, refletiam

e reforçavam o ideário da família-pilar da sociedade”.

 

A mostra reflete sobre a família e suas questões, como um tema permanente da produção

artística. “Em sua abordagem contemporânea, as obras vêm abarcar perspectivas mais amplas

e íntimas, nas quais a família é pensada e representada em relação a questões de ordens

diversas, sejam elas sociais, políticas, econômicas, psicológicas, afetivas, religiosas, morais

etc”, observa a curadora. Desde diferentes configurações ao ideário matrimonial, passando

pelo abuso de poder e violência doméstica, até a família como construção política, a exposição

aborda ainda laços familiares, amor e noção de coesão à ausência, perda e solidão; espaço

íntimo e dimensão pública; mito e estereótipos, e de como a sociedade afeta e é afetada pelas

famílias.

 

Estão na exposição obras de nove artistas brasileiros – Adriana Varejão, Anna Bella Geiger,

Dias & Riedweg, Fabio Morais, Jonathas de Andrade, Leonora Weissmann, Julian Germain,

Murilo Godoy, Patricia Azevedo e jovens que vivem nas ruas de Belo Horizonte, Ricardo

Basbaum, Rosana Palazian e Rosângela Rennó, e trabalhos dos artistas Bill Viola, Daniel W.

Coburn, Candice Breitz, Charif Benhelima, Gillian Wearing, Michel Journiac, Richard Billingham,

Santu Mofokeng, Sue Williamson, Tracey Rose,  Victor Burgin, Zanele Muholi.

 

 

SOBRE AS OBRAS

 

De Adriana Varejão estarão três pinturas: a pouco conhecida “Em Segredo” (2003), que evoca

amor, gestação, aborto, tabu, perda;e “Filho Bastardo (estudo)”, de 1991, que trata da

construção colonialista da “família brasileira” ou da nação por atos de violência sexual. Anna

Bella Geiger participa com o díptico “Brasil Nativo – Brasil Alienígena” (1977), que coloca em

questão a noção de origem e identidade nacional, e evoca noções de domesticidade e o lugar

da mulher na família; e com o livro de artista “Encontros” (1974), uma espécie de diário sobre

encontros marcantes em sua vida, reais e imaginários, em que aparece com membros de sua

família direta ou com artistas de referência. O emocionante vídeo de Bill Viola, “The Passing”

(1991, 56’), um dos marcos da narrativa visual do século 20, trata da existência, do ciclo de

vida e morte, e inclui imagens do filho recém-nascido, e da mãe, em suas últimas horas de

vida. A videoinstalação “Mother” (2005, 13’30), de Candice Breitz, em seis canais, é composta

de imagens apropriadas de filmes hollywoodianos, e põe em questão estereótipos. De Charif

Benhelima estarão quatro fotografias e seis pequenos textos da série “Welcome to Belgium”

(1990-1999), e o livro de artista “Semites: The Album” (2003-2005), que evocam sua posição

social de órfão de mãe belga e pai de origem marroquina sefardita, em uma sociedade em que

a discriminação é institucionalizada. Em “Semites, ele combina fotografias de álbuns de família

(sua e de outros), fotografias de arquivo e de documentos de identidade, de pessoas de

origem semita – tanto judeus quanto árabes – fazendo alusão não somente a sua própria

origem, como a noções de identidade cultural, e de memória ou esquecimento. Daniel W.

Coburn mostra nove fotografias de 2014 encenadas por membros de sua família, como forma

de representar os altos e baixos da convivência afetiva. Na videoinstalação “Os Raimundos, os

Severinos e os Franciscos” (1998, 4’, e fotografia colorida), Dias & Riedweg abordam o universo

dos porteiros que trabalham em edifícios da cidade de São Paulo, e tratam da noção de família

em sua relação com a identidade cultural, regional, e a imigração. Fábio Morais, em seu livro

de artista “Foto… Bio… Grafia…” (2002), traz uma imagem fotográfica de uma criança, junto a

um homem que talvez seja seu pai, escavada livro adentro, sendo esvaziada de sua história e

evocando a noção de ausência e perda. Em seu vídeo “Trauma” (2000, 30’), Gillian Wearing –

vencedora do Turner Prize de 1997, e detentora da Ordem do Império Britânico (OBE) – traz

depoimentos sobre abuso acontecido dentro do núcleo familiar, gravado em uma microssala,

que faz alusão a um confessionário. A fotoinstalação “amor e felicidade no casamento” (2007),

de Jonathas de Andrade, põe em questão a noção conservadora de casamento e sua

representação de amor e felicidade. As pinturas “Eu, Theo e a Gruta” (2012) e “Gruta para

mamãe” /”Série Florestas Encantadas” (2010) de Leonora Weissmann mostram sua mãe junto

a uma gruta e um autorretrato com seu filho, então bebê, também junto a uma gruta, em

alusão à nossa gênese, à existência, ao que nos é primitivo. Michel Journiac, referência da arte

corporal e performática francesa, discute as relações afetivas e suas disfunções na série de

fotoperformances “L’inceste (O Incesto”)/”Mère-amante Fils-garçon-amant Fils-voyeur” (Mãe-

amante Filho-menino-amante Filho-voyeur), de 1975, de 1972. O coletivo No olho da rua 1995

> 2015 (Julian Germain, Murilo Godoy, Patricia Azevedo e jovens que vivem nas ruas de Belo

Horizonte) apresenta, em forma de jornal, parte do projeto que desenvolve há vinte anos, com

pessoas em situação de rua, resultando em uma outra noção de família e suas relações

afetivas. Na instalação sonora inédita, feita especialmente para a mostra, Ricardo Basbaum

coordena uma oficina em que o grupo de participantes discute o familiar e o estrangeiro. Em

sua segunda apresentação pública, e a primeira fora da Inglaterra, o filme “RAY” (2015), feito

originalmente em 16mm e transposto para digital HD, Richard Billingham – artista finalista do

Turner Prize de 2001 – usa atores para revisitar a vida cotidiana de seu pai alcoólatra e sua

mãe violenta. Rosana Palazyan apresenta a série de desenhos “… uma história que você nunca

mais esqueceu?” (2000/2002), compostos a partir de relatos de menores internos em

instituição penal no Rio de Janeiro, que abordam suas famílias e situações de violência

doméstica e urbana.   Rosângela Rennó apresenta uma seleção de trabalhos da série “Corpo da

Alma. O Estado do Mundo” (2003), compostos de fotografias apropriadas da imprensa, com

intervenções suas, que mostram pessoas que perderam entes queridos em atos de violência

urbana, além de retratos das próprias vítimas. Santu Mofokeng faz a projeção da série de

fotografias “The Black Photo Album – Look at me”, apropriadas de álbuns de famílias negras

prósperas na África do Sul, no final do XIX e início do XX. Sue Williamson registra no

videorretrato “Better lives” (2003, 3’05), feito inicialmente em 35mm e transferido depois para

DVD, imagens posadas de imigrantes que buscaram uma vida melhor na África do Sul e

deixaram suas famílias para trás.Tracey Rose realiza o vídeo “Just What Is It That Makes

Today’s Children So Different, So Appealing?” (2005/2007), em que crianças encenam, como

em uma brincadeira, situações familiares que lhes são comuns, mas que tratam de violência

doméstica, abuso, assistência social, entre outros temas. Victor Burgin, em seu livro de artista

de 1977, trata de como o modelo capitalista afetou e transformou a família através das novas

relações de trabalho. Zanele Muholi documenta casais de mulheres negras na África do Sul, na

série “Being”, de 2007.

 

 

SOBRE A CURADORA

 

Daniella Géo é curadora independente e crítica residente entre Antuérpia, Bélgica, e Rio de

Janeiro. Doutora e mestre em Estudos cinematográficos e audiovisuais pela Sorbonne

Nouvelle-Paris III. Atualmente, é co-curadora da 4e Biennale de Lubumbashi, RDCongo (2015).

Foi co-curadora da 5e Biennale internationale de la Photographie et des Arts visuels de Liège.

Curadorias recentes incluem as retrospectivas Roger Ballen: Transfigurações, fotografias 1968-

2012, MAC-USP (até 27 de setembro de 2015),  MON, Curitiba (2013-2014), MAM-Rio (2012);

Charif Benhelima: Polaroid 1998-2012, Museu Oscar Niemeyer, Curitiba (de 05 de dezembro

de 2015 a 20 de março de 2016), MAC de Niterói (2013). É professora da Escola de Artes

Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, e conferencista convidada do Hoger Instituut voor

Schone Kunsten, Gent, Bélgica. É curadora associada do Artist Pension Trust, NY.

 

 

SEMINÁRIO

 

O seminário, que terá a presença de, propõe gerar um debate sobre as diversas questões

evocadas pelas obras em exposição, sem se limitar às perspectivas do campo das artes visuais.

“Busca, ao contrário, proporcionar um diálogo entre diferentes campos de saber e, assim,

promover um debate amplo sobre problemáticas atuais relativas à família e relacionar

profundamente arte e vida”, explica Daniella Géo.

 

 

De 01 de agosto a 19 de setembro.

SIM Galeria na SP-Arte/Foto 2015

17/jul

Todas as atenções se voltarão para a fotografia durante a 9ª edição da SP-Arte/Foto, Shopping JK Iguatemi, 3º piso, Vila Olímpia, São Paulo. A feira de fotografia é considerada a mais importante da América Latina e terá a participação de 30 galerias de arte do Brasil, que trabalham a partir do suporte fotográfico. Em sua quarta participação na SP-Arte/Foto, a SIM Galeria vai apresentar obras de cinco artistas: Isidro Blasco, Marcelo Moscheta, Julia Kater, Romy Pocztaruk e Rodrigo Torres.

 

A instalação fotográfica “New York I”, do artista espanhol Isidro Blasco será um dos destaques da SIM na feira. Feita em impressão colorida, madeira e passe par tout, a obra é uma ‘fotoforma’ (objetos tridimensionais) criada a partir do encadeamento de imagens planas. O trabalho retrata Nova York, cidade onde o artista reside desde 1996, e também a maneira particular de Isidro Blasco enxergar a realidade a sua volta.

 

Os recortes e colagem de fotografias sobre papel algodão assinados pela Julia Kater também foram selecionados para esta ocasião. De poética envolvente, as obras da artista fazem referência à relação entre projeção de luz e desenho, pois fica a dúvida se a paisagem que ela sutilmente sugere se encontra abaixo da superfície, se foi projetada sobre o papel ou, ainda, se é imaginária.

 

Romy Pocztaruk, importante nome da fotografia brasileira contemporânea,  também terá suas obras expostas na SP-Arte/Foto. A SIM selecionou os trabalhos da artista que retratam a exploração fotográfica da rodovia Transamazônica e da cidade abandonada de Fordlândia. Essas obras da Romy foram apresentadas na última Bienal de São Paulo.

 

3 D – O público da SP-Arte/ Foto vai poder conferir a série ‘Geographic Misionformation System’ (recortes em impressão colorida, papel algodão e lápis) do Rodrigo Torres. O objetivo do artista ao criar a série foi construir um grande mapa 3D, por meio de colagem de fotografias utilizando imagens provenientes de satélite, assim como fotografias do solo feitas pelo próprio artista a curta distância. Entretanto, as imagens foram combinadas  para formar um novo relevo, ou seja, não indicam uma localização, mas criam um novo lugar.

 

Um dos trabalhos mais recentes do artista plástico Marcelo Moscheta, a série A.A.A. (Arquivo Araucária Angustifolia), que aproxima a estética científica a uma abordagem sensível da flora paranaense, também será levada para a feira. A série resulta do tratamento minucioso da fotografia como forma de análise de um objeto que se torna quase irreconhecível, sobrepujado pelo volume das fotos dispostas como absurdas fichas de catalogação ou gavetas de ficheiro.

 

 

Sobre a SIM Galeria

 

Fundada em 2011 em Curitiba, a SIM Galeria nasceu para atuar como um espaço difusor de arte contemporânea, exibindo artistas brasileiros e internacionais com investigações nos mais variados suportes:  pintura, fotografia, escultura e vídeo. Ao longo dos últimos três anos, a SIM foi palco de uma série de mostras individuais e coletivas organizadas por curadores convidados, como Agnaldo Farias, Jacopo Crivelli, Denise Gadelha, Marcelo Campos, Fernando Cocchiarale e Felipe Scovino. A galeria também é responsável pela assinatura de catálogos e outras publicações. A SIM ainda trabalha em conjunto com instituições brasileiras e estrangeiras com o intuito de promover exposições e projetos de artistas nacionais e internacionais.

 

 

De 20 a 23 de agosto.

Iole de Freitas no MAM/Rio

Neste sábado, dia 18 de julho, às 15h, o MAM Rio, Parque do Flamengo, inaugura a exposição “Iole de Freitas – O peso de cada um”. Com curadoria de Ligia Canongia, a mostra vai ocupar o Espaço Monumental do Museu com uma instalação inédita, feita especialmente para o local, composta por três esculturas de grandes dimensões, duas suspensas e uma no chão, em aço inox espelhado e fosco, que pesam no total quase quatro toneladas.

 
Um dos grandes nomes da arte contemporânea, Iole de Freitas comemora 70 anos em 2015, e a exposição no MAM traz ainda trabalhos em vidro com impressão fotográfica sobre película, da série “Escrito na água”, de 1996/1999, pertencentes a seu acervo pessoal e à Coleção Gilberto Chateaubriand/ MAM Rio.

 
Com uma trajetória de mais de quarenta anos de atividade, celebrada em exposições em espaços prestigiosos no Brasil e no exterior, Iole de Freitas está trabalhando agora com chapas de aço, e não mais com as estruturas em policarbonato e tubos de aço inox, que marcaram sua produção desde 2000, quando expôs no Centro Municipal de Arte Helio Oiticica, no Rio.

 
Iole de Freitas construiu para o Espaço Monumental do Museu duas esculturas aéreas, suspensas no ar, com chapas de aço inox de 6m x 1,5m, curvadas, com fortes torções, tensionadas por linhas de aço – que a artista chama de “flechas” – pesando cada em torno de 700 a 800 quilos. A terceira escultura estará no chão, em meio às outras duas, pesando em torno de duas toneladas, com aproximadamente 7,80m de comprimento, cinco de metros de largura e três metros de altura. Envio abaixo o convite virtual.

 

 

Texto de Ligia Canongia

 

Nesta exposição, Iole de Freitas substitui as placas de policarbonato anteriores por

lâminas de aço inox, cuja resistência é maior e a maleabilidadedifícil, exigindo torções

mais intensas.Apesar dessas propriedades, contudo, as esculturas são suspensas no

ar, evoluem como uma coreografia aérea imponderável, contrapondo a seu peso

original a ideia de leveza e movimento.

 

A linha tênue entre o gesto expressivo e a precisão formal, que sempre acompanhou o

trabalho, permanece agora, mas com a recuperação discretados reflexos e

espelhamentos que a artista utilizava nas peças dos anos 1970.

 

De sua formação em dança, Iole guardou o valor dos deslocamentos e da elasticidade

dos corpos no espaço, assim como o caráter ao mesmo tempo preciso e volúvel das

formas. As placas resistentes do aço surgem, portanto, como um desafio para o

trabalho, com novos arranjos formais, maior dispêndio de forças em seu equilíbrio,

tensões mais arrojadas entre a escultura e o lugar, além de um embate enfático entre

o poético e o estrutural.

 

Entre o espelhamentoturvo de um lado da lâmina e a opacidade absoluta da outra

face, inscreve-se simultaneamente um corpo rígido e fluido, que ora absorve o

exterior, ora se afirma como obstáculoradical ao olhar. A obra, afinal, delimita um

campo ambíguo, que, em última instância, flutua entre o gosto clássico e o espírito

pré-romântico, no debate constante entre o exame racional das formas e sua

exuberância lírica.

 

Ligia Canongia