Para rever: Alex Flemming

10/out

Fotogravuras, móveis pintados – com escritos – e livros são algumas das obras em exposição Alex Flemming, na Biblioteca Mário de Andrade, Consolação, São Paulo, SP. A mostra tem curadoria de Mayra Laudanna. Nela, Alex Flemming mostra suas experiências artísticas com fotografias e gravuras que começaram na época em que ele era estudante da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

 

Alex é considerado um dos primeiros artistas no Brasil a utilizar essa técnica e, ainda assim, de modo não convencional. O artista interferia nas placas gravadas e após  a impressão da série, destacava alguma área da composição com pinceladas, a exemplo de “Garçom”, que tem a sua gravata borboleta em vermelho. Essas gravuras da série “Paulistana” e as que pertencem a série “Eros Expectante”, estão expostas no terceiro andar da Biblioteca.

 

Ainda nesse espaço, a mostra exibirá dois livros do artista: “Colagens & Desenhos” e “Alex Flemming”, este último feito com mapas do Brasil. No saguão da entrada principal estarão dispostos objetos construídos pelo artista ao longo de sua carreira, móveis e bicho mumificado, que se referem a uma das diretrizes do pensamento de Flemming: dar uma nova vida aos objetos.

 

No salão de leitura, ao qual se tem acesso a partir da avenida São Luís, serão estampadas imagens e carimbado o nome do artista, não só para relembrar procedimentos constantes em suas obras, como também para procurar despertar o interesse do leitor anônimo que usa esse espaço. Com a intenção de instigar o frequentador da Biblioteca e por quem passar por sua entrada principal, na Rua da Consolação, serão impressos nos vidros da fachada retratos que remetem a uma das obras mais conhecidas de Alex Flemming, os painéis com anônimos da Estação Sumaré do metrô.

 

 

Até 01 de novembro.

Guilherme Dable em Salvador

09/out

O artista plástico Guilherme Dable, um dos jovens expoentes da arte contemporânea nacional, faz sua primeira exposição em Salvador na Roberto Alban Galeria, bairro Ondina. Guilherme Dable trabalha com formas geométricas em carvão e acrílica, traduzindo o desejo confesso de abstração diante de um mundo sobrecarregado de imagens. Seus trabalhos são reconhecidos pela crítica e já integram importantes coleções, como as de Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, entre outras.

 

A mostra em Salvador tem um título, no mínimo, intrigante: “Desse lugar entre meio-dia e duas horas da tarde”, reunindo trabalhos em pinturas numa perspectiva que revela o criativo equilíbrio do artista entre a forma e a cor na apreensão dos flagrantes do seu cotidiano.

 

Ao apresentar a mostra, o crítico, curador e estudioso das artes visuais, Guilherme Bueno, enfatiza o papel do desenho nas telas de Dable: “A linha que corre os planos num momento serve para cercar uma área a ser pintada; noutro, delimita a superfície já pintada. Ela se esvai assim do mero caráter projetivo atribuído ao desenho, conferindo-lhe antes um valor de eixo para articular a relação entre esses planos, porém fazendo-o pela anulação de uma estrutura “imediata” de figura e fundo”, diz.

 

 

Reorganizando o mundo

 

Revelando paisagens, o artista aposta num conceito muito particular de abordagem da realidade. Como ele mesmo confessa, o seu trabalho é a maneira que encontrou para “ um reorganizar interno do mundo”. Das caminhadas que faz pelas cidades que se encontra, anotando o que vê em cadernos, fotografando coisas, ele constrói repertório para alimentar o seu ateliê de criações.

 

“Meu trabalho não tem uma figuração explícita, ele alude à cidade, mas na verdade essas anotações sobre a arquitetura, as observações sobre como a luz incide nas coisas pela rua ou como a refração da luz altera a percepção, por exemplo, do que tenho dentro do ateliê em determinada hora do dia, servem como uma espécie de desculpa pra trabalhar, pra mexer com os materiais, pra achar alguma maneira de dialogar com essa experiência quando vou pra frente do suporte”, explica o artista.

 

 

Sobre o artista

 

Guilherme Dable, Porto Alegre, RS, 1976, é bacharel em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com mestrado em Poéticas Visuais. Já participou de coletivas internacionais – como por exemplo, em Londres e Nova Iorque – e realizou seis individuais no país, em cidades como Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.

 

Em 2009, conquistou as suas primeiras premiações, entre as quais é destaque a seleção no Rumos Artes Visuais 2011-2013, maior mapeamento da produção artística brasileira, organizado pelo Itaú Cultural. O último reconhecimento ocorreu em 2013 com a conquista do cobiçado Premio Marcantonio Vilaça, concedido pela Funarte. Além disso, seus trabalhos integram coleções importantes, como Gilberto Chateaubriand/ MAM- RIO; Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS; e Museu de Arte Contemporânea, MAC-RS, Porto Alegre.

 

 

O texto do curador

 

Há duas cenas marcantes da história da pintura na metade do século XX: a primeira, mais conhecida, é a sequência com Jackson Pollock filmada por Hans Namuth, na qual ele comenta rapidamente seu método de trabalho, logo a seguir “demonstrado” em uma tela e um vidro; a segunda, célebre mas menos vista, traz o encontro de Duke Ellington e Joan Miró no ateliê do último em Jan les Pins, no sul da França.  Não é à toa que remetemos a tais referencias para refletir sobre as pinturas de Guilherme Dable. Evidentemente, os sessenta anos que as separam corresponde as diferenças de lugar, prioridades e objetivos. Contudo, servem de pretexto para discutirmos como o artista gaúcho lida com dois termos ali visíveis e correntes em sua produção – a musicalidade e o improviso.

 

Os dois se apresentam principalmente em alguns trabalhos que Dable realiza com seus colegas do Ateliê Subterrânea em Porto Alegre. Neles há a alternância entre composição musical, performance e desenho, criando um “perímetro de energia poética” onde as três linguagens se fundem e se retroalimentam. O improviso ali funciona como um transplante não de uma obra, e sim de uma dinâmica do ateliê enquanto trabalho, isto é, do processo – com suas manobras e soluções – enquanto matéria poética. Nisso eles se desloca da pintura moderna (e os filmes citados testemunham melhor que ninguém) na medida em que tanto no caso de Pollock quanto de Miró / Ellington, a ênfase recaía sobre a correspondência, e não necessariamente sobre a convergência entre meios artísticos. Mas, para nos atermos ao nosso ponto, devemos nos perguntar: o que há e o que não há em comum entre o Dable do ateliê coletivo e o que vemos aqui em sua mostra individual? Esta pergunta se mostra fundamental naquilo em que percebemos suas pinturas como uma condensação num objeto (a tela) daquele campo delineado pela performance. Mais além, nos indaga sobre qual o lugar do improviso – se improviso há – em seus trabalhos. Nesse ponto justo notamos sua incisiva reflexão sobre a pintura.

 

Retornemos momentaneamente a Pollock, tal como o filósofo francês Hubert Damisch analisava sua pintura: “A questão desses entrelaçamentos [ele se refere ao dripping] não é […] um dado sobre o qual a pintura trabalha: ela nasce do gesto, do qual traduz cada um dos desvios, a menor hesitação, as recusas. É a conquista de uma relação imediata […] Um quadro de Pollock não é apenas o resultado de um trabalho, produto acabado que escapa ao produtor, mas o registro das etapas sucessivas de gênese de uma obra em que cada gesto vem, por sua vez, modificar ou completar a estrutura¹”.

 

A lógica aqui descrita é oportuna e permite em certa medida ser transposta para as preocupações de Dable. E nelas sentimos a inflexão, ou melhor, ajuste, entre o improviso e a articulação de uma ordem pictórica. Isso pode ser melhor notado por três fatores: o valor maleável do desenho, o sistema de “cortes” de algumas pinceladas e a equalização de determinadas qualidades plásticas a um meio nem sempre afável a elas.  Desdobremos cada uma das partes.

 

O desenho nas telas de Dable oscila entre uma marcação inicial e uma final. A linha que corre os planos num momento serve para cercar uma área a ser pintada; noutro, delimita a superfície já pintada. Ela se esvai assim do mero caráter projetivo atribuído ao desenho, conferindo-lhe antes um valor de eixo para articular a relação entre esses planos, porém fazendo-o pela anulação de uma estrutura “imediata” de figura e fundo. Ele é um anti-contorno duplamente, naquilo em que não pré-determina o design da pintura, nem produz uma compartimentação que separa em definitivo as áreas, fazendo com que elas se permitam assumir valores conforme as relação com o todo e com segmentos vizinhos. O desenho pode, como dissemos, ser uma marcação final, mas ele não tem um sentido finalista de “concluir” a pintura, de lhe impor o “toque final”.

 

O sistema de “cortes” da pinceladas vai em sentido análogo. A impressão inicial que algumas partes podem suscitar é a de uma geometria, porém o contrário parece ocorrer. Afinal, a geometria é, queira-se ou não, uma estrutura senão aplicada, um instrumental previamente determinado a partir do qual o artista estabelece um método segundo o qual pretende conceituar o espaço dado da tela. Em Dable, as linhas e planos são antes a busca de um modo de definir até onde uma parte se assenta, quando separa ou junta duas áreas, como a pintura se organiza entre a contenção e o transbordamento da tela. Seria lícito, inclusive, perceber que não é contraditória a coexistência entre alguns desses cortes mais secos e a assimilação dos escorridos de tinta, uma vez que ambos trazem a justaposição entre uma dimensão física (a materialidade propriamente dita) e outra ótica (a organização espacial da tela, com seu jogo entre profundidade e superfície) constituintes da pintura, sem fazer a primeira tentar recalcar a segunda.

 

Por fim, o “atrito” entre certas qualidades plásticas e o meio que escolhem. Isto talvez soe estranho, mas se resume ao seguinte desafio: produzir transparências e veladuras com tinta acrílica. As características do acrílico não são das mais afáveis – aliás, tendem muito mais a serem arredias – a tal possibilidade. O acrílico exige execução ágil, na contramão da cadência demorada do óleo, que permite uma acumulação gradativa ou raspagens. A secagem rápida não daria margem para decisões ponderadas mais lentamente, como exigiria a obtenção de uma veladura. Ademais, um plano inferior pode deixar uma “cicatriz” naquele mais externo, dada a corporeidade adquirida pela tinta.  Ou seja, Dable obtém uma qualidade pictórica mediante condições razoavelmente hostis: ela precisa conciliar uma substancial quantidade de intuição com um timming das tintas e misturas de cores num gesto cuja chance do improviso comprometer irremediavelmente a pintura é considerável. Afora isso, há ainda o bom desafio de obter de uma determinada matéria aquilo que ela parecia não oferecer, levando-nos então a reconhecer o quanto um discreto passo é capaz de desencadear um repertório de novos problemas para a pintura.

 

Comprometer-se com a pintura, mesmo sabido que ela não credita mais a sua longa tradição um privilégio hierárquico, não deixa com isso de guardar grandes ambições e expectativas. Depende da sensibilidade em reconhecer diante de supostos limites a fresta que permite esse passo – não para além, nem para trás, tampouco para o lado – certeiro em ativá-la como uma linguagem apta a nos dizer e fazer descobrir sua enorme potência e atualidade.

 

Guilherme Bueno

 

 

De 09 de outubro a 10 de novembro.

Encontro com Vanderlei Lopes

Nesta quinta-feira, dia 9, às 20h, o artista Vanderlei Lopes, que está expondo seus trabalhos na galeria Athena Contemporânea, na mostra “Tudo o que reluz é ouro”, e no MAM-Rio, na exposição “Grilagem”, participa de bate papo com os visitantes e a curadora Fernanda Pequeno. O encontro acontecerá na Galeria Athena Contemporânea, Shopping Cassino Atlântico, Copacanana, Rio de Janeiro, RJ. O artista fará comentários sobre todas as fases de pesquisa das obras que fazem parte de sua exposição individual e também de sua experiência, que inclui uma individual no MAC, participação na Bienal do Mercosul, além de ter participado de “Pinta”, “ArteBA” e ver seus trabalhos em coleções como a Pinacoteca do Estado de São Paulo e a de Gilberto Chateaubriand/MAM-RJ.

Para participar, agende-se pelo telefone (21) 2513-0703 ou contato@athenacontemporanea.com

 

 

Quinta-feira, dia 9, às 20h

A figura humana na Caixa/Rio

A exposição “Figura Humana”, reúne trabalhos de 21 artistas de todo o país, na Galeria 4, da Caixa Cultural,     Centro, Rio de Janeiro, RJ, com obras que dão destaque ao corpo humano e revelam ao público a     diversidade da produção contemporânea brasileira.

 

A mostra reúne pintores de diferentes origens geográficas e gerações, em um arco temporal que vai desde pintores da chamada “Geração 80” até jovens emergentes com pouco mais de vinte anos. A exposição pretende estabelecer um diálogo entre escalas, perspectivas e modos de narrativas através da corporeidade, com obras produzidas a partir de diversas técnicas, como aquarela, guache, óleo, acrílica e spray sobre suportes variados como madeira, chapa de metal, linho e tela.

 

Entre os expositores estão nomes como Cristina Canale, que possui uma sólida produção desde os anos 1980 e é considerada uma das mais importantes pintoras brasileiras da atualidade. O projeto reúne ainda obras de Thiago Martins de Melo, indicado ao prêmio Pipa deste ano, e Rodrigo Martins, o mais jovem entre os pintores da mostra, indicado ao Prêmio EDP nas Artes, em 2014, além de Camila Soato, vencedora do prêmio Pipa, de público, em 2013. Todos contribuem com uma persistência no que diz respeito à centralidade do corpo em suas produções pictóricas.

 

A relação do tema e as pinturas selecionadas busca articular um elemento dos mais clássicos da história da Arte e atualizá-lo nos seus diversos modos de acionamento pela produção artística atual. “A exposição revela a diversidade de se pintar o corpo humano. Alguns artistas utilizam a cor de modo mais visceral e expressivo, outros se aproximam de uma visão mais detalhista e minuciosa do mundo”, explica o curador Raphael Fonseca.

 

Participam: Alex Cerveny, André Andrade, André Renaud, Camila Soato, Clarice Gonçalves, Clarissa Campello, Cristina Canale, Daniel Lannes, Danielle Carcav, Eduardo Sancinetti, Eloá Carvalho, Fábio Baroli,

 

Flávia Metzler, Julia Debasse, Marcelo Amorim, Roberto Ploeg, Rodrigo Bivar, Rodrigo Cunha, Rodrigo Martins, Thiago Martins de Melo e Vânia Mignone, Figura Humana.

 
De 14 de outubro  a 14 de dezembro.

A Coleção Joaquim Paiva no MAM

08/out

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Petrobras, Bradesco Seguros, Light e Organização Techint apresentam, a exposição “Limiares – A Coleção Joaquim Paiva no MAM”,  40 fotografias do acervo pertencente ao diplomata nascido em 1946, em Vitória, que reuniu uma das mais importantes coleções do país em fotografia brasileira e estrangeira. Fotógrafo desde 1970, Joaquim Paiva começou a colecionar em 1978, quando adquiriu trabalhos da fotógrafa americana Diane Arbus, 1923-1971. Depois de se formar em Direito, ingressou na carreira diplomática em 1969, e desde então serviu em vários países, como Canadá, Venezuela, Peru, Argentina, Portugal, Espanha e Estados Unidos.

 

Completam a exposição 19 obras das coleções do MAM e Gilberto Chateaubriand, também em comodato com o Museu.  A ideia de se fazer uma mostra em que as fotografias da coleção dialogassem com obras do acervo do Museu e da coleção de Gilberto Chateaubriand, partiu do próprio Joaquim Paiva e foi prontamente aceita pela curadoria do Museu. “Mostra-se aqui uma parte da coleção de Joaquim Paiva, que não esgota nem esgotará as suas múltiplas leituras. A esse recorte confrontam-se outros trabalhos das coleções do MAM, não necessariamente fotografias, procurando contaminar aquilo que, por motivos de taxonomia, ainda permanece separado: o vídeo com a pintura, o precário com o que foi feito para durar, o documento com a arte”, explicam os curadores do MAM.

 

Em 2005, o MAM passou a abrigar a Coleção Joaquim Paiva sob o regime de comodato, e atualmente estão no Museu 1.963 trabalhos de fotógrafos brasileiros e estrangeiros, adquiridos a partir do início dos anos 1980.

“Embora tenha sido iniciada como uma coleção privada, o gesto do colecionador é invariavelmente público e coloca ao escrutínio coletivo o que foi acervo privado ou criação individual. É sobre diferentes representações do público e do privado no mundo da arte que fala “Limiares – a Coleção Joaquim Paiva no MAM”, propondo ser um recorte sobre as naturezas dos espaços representados na materialidade da imagem, em especial a imagem fotográfica”, afirmam os curadores.

 

Dois trabalhos abrem a exposição: uma série de José Diniz, na qual o aparece o próprio Joaquim Paiva e uma instalação de sacolas de instituições museológicas internacionais, de Jac Leirner, “que iguala, com humor e argúcia, o mundo da arte ao mundo dos negócios, centrando a sua atenção sobre aspectos formais”.

 

A mostra terá, ainda, a fotografia “Gol”, do importante fotógrafo Thomas Farkas, Budapeste, Hungria, 1924 – São Paulo SP, Brasil, 2011, da década de 1940; “Índio Yanomami”, de 1991, da fotógrafa Claudia Andujar, Neuchâtel, Suíça/Brasil, 1931; “Sem título”, de Alberto Ferreira Lima; fotos da série “Natureza Moderna”, de Bill Jorden, entre outras.

 

Dialogando com as fotografias da coleção Joaquim Paiva, haverá obras do acervo do MAM e da Coleção Gilberto Chateaubriand, como a escultura “Mapa Mudo”, de Ivens Machado, de 1979; “Duas casas”, de Nuno Ramos, de 1996; a pintura “A Ilha”, de Luiz Zerbini, de 1995; “Sem título”, de 1979/1988, de Miguel Rio Branco, entre outras.

 

 

Sobre a Coleção Joaquim Paiva

 

Desde 2005, o MAM Rio possui, em regime comodato, grande parte da coleção do diplomata Joaquim Paiva. A coleção teve início em 1981 quando o diplomata começou a adquirir sistematicamente fotografias brasileiras contemporâneas. No museu estão depositadas 1963 obras que registram o que há de mais representativo na fotografia brasileira de nosso tempo. Desde retratos e paisagens à experimentos fotográficos dos anos 1990. Entre os nomes mais representativos da coleção estão: Pierre Verger com a sua preciosa documentação sobre a cultura afro-brasileira; Geraldo de Barros e seus experimentalismos técnicos; Miguel Rio Branco que busca a intensidade das cores no universo mais dura da realidade brasileira, o fotojornalismo ligado à temática social e bem brasileira de Walter Firmo, a atitude questionadora sobre o ato de fotografar da artista Rosângela Rennó entre outros. Nesse sentido a Coleção Joaquim Paiva representa no MAM toda a qualidade e a pluralidade de trabalhos e tendências que a fotografia contemporânea brasileira pode oferecer.

 

 

Texto da Curadoria

 

Em 2005, sob a forma de comodato, o MAM passou a abrigar a Coleção Joaquim Paiva que conta atualmente com 1.963 trabalhos de fotógrafos brasileiros e estrangeiros, adquiridos a partir do início dos anos 80.

 

Embora tenha sido iniciada como uma coleção privada, o gesto do colecionador é invariavelmente público e coloca ao escrutínio coletivo o que foi acervo privado ou criação individual. É sobre diferentes representações do público e do privado no mundo da arte que fala “Limiares – a Coleção Joaquim Paiva no MAM”, propondo ser um recorte sobre as naturezas dos espaços representados na materialidade da imagem, em especial a imagem fotográfica.

 

Mostra-se aqui uma parte da coleção que não esgota nem esgotará as suas múltiplas leituras. A esse recorte confrontaram-se outros trabalhos das coleções do MAM, não necessariamente fotografias, procurando contaminar aquilo que, por motivos de taxonomia, ainda permanece separado: o vídeo com a pintura, o precário com o que foi feito para durar, o documento com a arte.

 

Dois trabalhos abrem a exposição: uma série de José Diniz, na qual o próprio Joaquim Paiva aparece mostrando as diane arbus e os geraldo de barros de sua coleção, e uma instalação de sacolas de instituições museológicas internacionais, Names (Museums), de Jac Leirner, que iguala, com humor e argúcia, o mundo da arte ao mundo dos negócios, centrando a sua atenção sobre aspectos formais.

 

Uma vez definidos os pontos de partida da exposição – o colecionador e o museu –, o percurso se torna aberto e não linear ao redor das ideias de espaço físico e mental. Os espaços da casa, da rua, da praia ou do abrigo coexistem com os lugares de passagem, a informalidade do espaço público e o enfrentamento social.

 

O espaço do íntimo e as novas relações objeto-sujeito fotografados caracterizam boa parte da produção fotográfica contemporânea. Existem vestígios de subjetividade na materialidade da fotografia que se torna campo de partilha de angústias, fraturas pessoais e afirmação do eu, com particular relevância para o diário e as narrativas/ficções pessoais.

 

Na videoinstalação Os Raimundos, os Severinos e os Franciscos, de Maurício Dias & Walter Reidweg, porteiros nordestinos na cidade de São Paulo simulam um regresso à casa depois de um dia de trabalho, entrando um a um, e agindo como se não estivessem vendo um ao outro, e quando todos estão instalados, olham diretamente para a câmera, deixando evidente a cumplicidade deles com o ato de filmar.

 

A transitoriedade do lugar de quem vê e de quem é visto é patente no “distanciamento” das imagens de Bill Jorden e Anderson Wrangle, na “narrativa em abismo” de Javier Silva Mainel ou nos sujeitos que se tornam objetos de perseguição, em Regina de Paula.

 

Finalmente, a cauda do tatu desaparecendo por baixo de uma mesa (Miguel Rio Branco). Intrigante fotografia. Intrigante animal que se transforma em bola quando ameaçado pelo perigo. Metáfora para pensar as imagens hoje numa dupla condição: a sua abertura às mais imprevistas relações e, no sentido inverso, o fato de os signos terem se tornado tão densos a ponto de formar uma casca dura, através dos quais já não se vê nada.

 

 

Até 18 de janeiro de 2015.

Cruz-Diez na nova Galeria Ipanema

06/out

Obras inéditas no Brasil e de autoria de Carlos Cruz-Diez,  assinalam o novo endereço da Galeria de Arte Ipanema, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, a mais antiga do país em atividade, com quase 50 anos. A mostra intitulada “Cruz-Diez: Um Olhar Sobre a Cor” reúne quinze trabalhos do consagrado artista plástico venezuelano, de 91 anos, como as “Physichromie”  e “Transchromie”.

 

Na primeira série, as estruturas revelam diferentes circunstâncias e condições da cor, que se modificam de acordo com o movimento do espectador e da intensidade da luz. Na segunda, por meio de lâminas translúcidas e dispostas em uma certa ordem espacial, são produzidas várias combinações de cores, que mudam de acordo com o movimento do espectador, da iluminação e da luz natural.

 

A Galeria de Arte Ipanema também exporá obras da série “Induction Chromatique”, em que o artista provoca uma indução cromática. A técnica explora o conceito de persistência retiniana, no qual as cores que observamos se armazenam por um rápido instante em nossa vista. Dessa forma, unindo o que foi armazenado e o que é visto em seguida, Cruz-Diez consegue induzir o observador a perceber uma cor momentânea. Há ainda obras das séries “Couleur Additive’ – baseada na irradiação da cor, ou seja, quando dois planos de cor se tocam, uma linha virtual mais escura aparece na área de contato – e “Couleur dans l’espace”, trabalho que pretende tornar mais evidente a experiência vital da cor formando-se e desintegrando-se no espaço.

 

Premiado na França, Venezuela e Argentina, Carlos Cruz-Diez tem obras expostas em mais de 80 museus pelo mundo e seu trabalho integra coleções permanentes de instituições como Museum of Modern Art (Nova York); Centre Georges Pompidou (Paris); Museum of Fine Arts (Houston); Tate Modern (Londres); Wallraf-Richartz Museum (Colônia) e Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris.

 

 

Até 25 de outubro.

Amador Perez: 40 anos

Em exibição no Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, “Memorabilia – Amador Perez – 40 anos” apresenta 115 obras realizadas entre 1976 e 2014, onde “…o artista reflete sobre a materialidade e singularidade da obra de arte e sua reprodução relacionadas à imaterialidade e multiplicidade da imagem”. Utilizando técnicas manuais e digitais em uma fusão de linguagens, Amador Perez estabelece um jogo interativo entre a sua memória pessoal e a fantasia do espectador. A exposição é composta por três núcleos, “Memorabilia”, “Gioventù” e “Nijinski”, apresentados respectivamente por Roberto Conduru, Rafael Cardoso e Washington Lessa.

Textos de Roberto Conduru, Rafael Cardoso e Washington Lessa

 

 

Memorabilia

 

Uns e eu por Roberto Conduru, condensado do texto para o catálogo da exposição

 

Para Amador Perez, as obras de arte são mundos por explorar. (…) Em Memorabilia, desenhos são relidos por meio de processamento eletrônico e impressão de pigmento mineral a jato sobre tela, um dos suportes arquetípicos da Pintura, embaralhando meios, técnicas, tempos, modos de pensar e agir. (…) é um mergulho na história de sua obra, em sua história, em si. Assim como nos diminutos objetos dentro das pequenas caixas, na epiderme quase imaterial das reimpressões dos desenhos encontram-se elementos que emergem da profundeza das imagens, da interioridade das coisas, e projeções do artista, fundindo seus ] com os de iconografia e objetos artísticos e mundanos, pessoais, alheios e coletivos. Essas obras recentes reiteram que não lhe interessa tanto a representação do mundo, mas, sobretudo, o (seu) mundo da representação.

 

 

Gioventù

 

O ostensivo e o invisível por Rafael Cardoso, condensado do texto para o catálogo da exposição

 

«Enxergar um mundo num grão de areia» é o que preconizou William Blake na primeira linha de seu célebre poema «Auguries of Innocence». Descobrir incontáveis imagens numa única é o que nos propõe, mais modestamente, Amador Perez em Gioventù. Produzida entre 1996 e 1998, a obra é composta por uma série de 63 desenhos a grafite, dividida em três conjuntos de 21 desenhos cada. (…) Pode soar estranha essa sugestão de variação temática, sendo que todos os desenhos remetem ostensivamente ao quadro Gioventù, pintado por Eliseu Visconti em 1898. (…) A palavra-chave é ostensível — de modo aparente, próprio para ser visto. Em cada um dos desenhos que compõem a obra, Amador nos dá a ver algo que estava latente na imagem primordial, mas talvez oculto ou até mesmo invisível.

 

 

Nijinski: SOU

 

Nijinski: variações por Washington Lessa, condensado do texto para o catálogo da exposição

 

Vaslav Nijinski: SOU e Nijinski: imagens (…) estabelecem um diálogo com dois trabalhos anteriores do artista, respectivamente Vaslav Nijinski, de 1976, e Nijinski: imagens, de 1982. (…) Agora, de novo se manifesta a configuração Nijinski, como se já estivesse à espera de uma revisita na maturidade. E os livros atualizam movimentos vitais da poética do artista, envolvendo a transmutação de imagens, o significado construído por justaposição, as variações, a série. (…) Diferentemente da maioria das séries do artista, que se desenvolvem em torno a uma ou algumas imagens, os livros e as duas séries anteriores sobre Nijinski trabalham um personagem, que em suas ressonâncias semânticas associa-se à força disruptiva e instauradora da arte.

 

 

 

Até 07 de dezembro.

Remix de ícones

03/out

A exposição “Sincretismos”,  mostra individual de André Malinski, sob a curadoria de Marco Antonio Teobaldo, é o próximo cartaz da Galeria Pretos Novos, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ. Antes de iniciar a sua trajetória como artista visual, André Malinski flertava com a moda e o design, projetando figurinos, chapéus e outros adereços. Seus estudos e projetos sempre passaram pela prancheta, e mais adiante, nas telas e programas de computador. Em 2006, a partir dessa experiência com o meio digital, surgiram as primeiras propostas para a série denominada que o artista nominou como “Sincretismos”.

 

Atendo-se ao volume e linha que as imagens de santos e santas poderiam lhe oferecer, André Malinski as coloriu com uma palheta vibrante e festiva, sobrepondo uma imagem sobre uma segunda, obtendo assim, uma interseção entre elas, que revelava então uma terceira imagem. Segundo o artista, este trabalho se tornou em uma ação lúdica de encontrar os pares, para que de seu encaixe surgisse uma silhueta híbrida. Obras em bordado, acrílica sobre tela e desenhos formaram um imenso e divertido repertório, em tamanhos e formatos distintos.

 

Passados alguns anos, e motivado por sua admiração pela arte da azulejaria, o artista retoma a série, desta vez destacando apenas alguns detalhes das obras originais e desmembrando-as em duas ou três partes, em tamanhos iguais e formatos quadrados. De acordo com o curador da mostra, esta nova fase do trabalho remete de alguma forma, a uma tradição trazida pelos portugueses, nos azulejos de ícones sagrados afixados no topo das casas dos subúrbios cariocas.

 

Nessa exposição, – “Sincretismos” -, também encontram-se as recentes criações deste jogo de sobreposições em aquarelados sobre tecido, além de infogravuras, obras trabalhadas a partir da linha do contorno de algumas imagens. Este verdadeiro remix de ícones que soam tão familiares na cultura popular brasileira, conduz o visitante a uma suave contemplação ao que é objeto de fé para muitos.

 

 

De 08 de outubro a 14 de novembro.

4ª Edição do Prêmio EDP

Em sua quarta edição, o Prêmio EDP nas Artes, parceria entre o Grupo EDP no Brasil e o Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, com o apoio do Instituto EDP, anuncia os 10 finalistas para concorrer aos três primeiros lugares e participar da exposição no Instituto Tomie Ohtake (de 04 a 26 de outubro de 2014): Bruno Rios e Sara Não Tem Nome, de Belo Horizonte/MG; Daniel Lie, Gabriel Torggler, Janaína Wagner e Pedro Gallego, de São Paulo/SP; Felippe Moraes e Rodrigo Martins, do Rio de Janeiro/RJ; Flavio Yoshida, de Goiânia/GO e Ismael Monticelli, de Cachoeirinha/RS.

 

Dos 153 inscritos, foram selecionados 24 artistas. Após entrevistas individuais via skype, o júri indicou a lista dos 10 finalistas, que tiveram sua produção acompanhada pelo corpo de jurados entre julho e agosto de 2014. Esse acompanhamento diferencia o prêmio dos demais ao possibilitar um diálogo inédito entre o circuito da arte e participantes.

 

Os jovens artistas plásticos que se inscreveram para esta edição são provenientes de 13 Estados brasileiros: 100 de São Paulo; 18 do Rio de Janeiro; 08 de Minas Gerais; 07 do Rio Grande do Sul; 04 do Distrito Federal; 04 do Espírito Santo; 03 do Paraná; 02 de Goiás; 02 do Rio Grande do Norte; 01 do Mato Grosso do Sul. 01 de Pernambuco; 01 do Ceará; 01 da Bahia, além de um holandês residente no Brasil.

 

Compuseram o corpo de jurados: Ana Luiza Bringuente (Coordenadora da Ação Educativa do Instituto Tomie Ohtake); José Augusto Ribeiro (Curador da Pinacoteca do Estado de São Paulo); José Spaniol (Artista e Professor Universitário); Juliana Freire (Galerista da Galeria Emma Thomas); Olívia Ardui (Curadora do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake) e Virgílio Neto (Artista e 1º Lugar da 3ª Edição do Prêmio EDP nas Artes).

 

Os três vencedores, que serão anunciados na abertura da mostra, terão sua produção acompanhada por críticos durante um ano. Caberá ainda ao primeiro colocado uma bolsa de dois meses no The Banff Centre, no Canadá, ao segundo uma viagem ao exterior, pelo programa Dynamics Encounters, e ao terceiro cursos no Instituto Tomie Ohtake. Na edição anterior, em 2012, os vencedores foram o brasiliense Virgílio Neto (1º lugar), seguido pelo sergipano radicado em São Paulo Alan Adi (2º lugar) e pelo paulista André Terayama (3º lugar), enquanto a carioca Fernanda Furtado recebeu a menção honrosa. O vencedor Virgílio Neto ressalta o avanço que o Prêmio EDP nas Artes proporcionou à sua carreia:

 

“Quanto ao Prêmio EDP, há duas coisas que são importantes destacar. Uma é ter o seu trabalho exposto para um júri, para pessoas que estão no sistema da arte, mostrar e conversar com essas pessoas. A outra é participar de uma exposição, principalmente no Instituto Tomie Ohtake, um lugar muito importante para o circuito e que dá visibilidade  nacional. Além disso, tem a troca e o diálogo com outros colegas artistas. Já Banff foi a primeira grande residência que fiz, nunca tinha ido para a América do Norte. Foram dois meses de contato íntimo com o meu trabalho, porque lá você fica isolado e com toda uma infra-estrutura disponível para produzir e pensar sobre a sua obra. Há um grande respeito ao artista. A exposição que fiz depois, pela Funarte, surgiu, em grande parte, a partir dessa residência, dessa experiência”. O prêmio replica a experiência do Grupo EDP em desenvolver talentos nas artes plásticas. As edições anteriores nos mostraram que há jovens com grande potencial, mas sem oportunidades para projeção neste cenário.

 

 

Sobre o Instituto EDP

 

Instituição sem fins lucrativos responsável pelo desenvolvimento e coordenação das ações ambientais e sócio-culturais da EDP e suas controladas.

 

 

Sobre o Instituto Tomie Ohtake

 

O Instituto Tomie Ohtake, inaugurado em 2001, em São Paulo, é referência na América Latina por seu espaço diferenciado para exposições e por sua forte atuação no campo das artes no Brasil e no exterior. Suas exposições já conquistaram vários prêmios, entre os quais: ABCA – Associação Brasileira dos Críticos de Arte, como a melhor do Brasil de 2004; APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte, como melhor exposição de 2007; ABCA – Associação Brasileira dos Críticos de Arte pelo conjunto da programação, em 2007; APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte melhor iniciativa cultural pela programação, em 2008; APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte melhor exposição obra gráfica e indicação Prêmio Bravo melhor programação cultural, em 2009

 

 

De 04 a 26 de outubro de 2014.

Inéditos de Carlos Zilio

Nesta exposição na Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP, Carlos Zilio dá prosseguimento à série apresentada no Centro Maria Antonia em 2011, exibindo trabalhos realizados em 2013 e 2014 nos quais se destaca a peculiar figura do tamanduá. A mostra reúne cerca de 10 obras em técnicas e suportes diversos, que aludem ao icônico animal, recorrente no imaginário do artista desde a sua infância. “Figura da minha história familiar, o tamanduá ganha nestas pinturas uma condição quase de totem no trabalho de subjetivação operado pela pintura”, diz Zilio.

 

Conforme ressalta Ronaldo Brito no texto de apresentação da mostra, “as telas recentes se transformaram em lugares do tempo – elas demandam investidas sucessivas, reviravoltas inesperadas; como o sonho, não se deixam dominar, parecem perseguir um objetivo secreto.”

 

Para Ronaldo Brito, o passado inquietante, fantasmático, às vezes revelador, nos leva a enxergar coisas que jamais notamos embora vivam debaixo de nossos olhos. O crítico cita um exemplo patente e literal na obra de Zilio: uma mancha indelével, no chão de granito do corredor que conduz ao ateliê do artista, “perfeita e inexplicavelmente idêntica à forma do tamanduá em queda livre.”O artista fotografou a mancha, cujas ampliações, com intervenções de suas pinceladas, integram esta exposição.

 

Carlos Zilio, segundo Ronaldo Brito,  pertence a uma geração que vivencia a inauguração da arte contemporânea no Brasil. Denominado pelo crítico como “Pós-pop”, esse grupo de artistas dispunha de um enorme leque de linguagens possíveis: da arte conceitual à interativa; das instalações às performances.

 

Depois de suas primeiras exposições coletivas e individuais realizadas na primeira metade dos anos 70, Zilio é convidado a participar da Bienal de Paris em 1976 e acaba por passar um período de quatro anos morando na capital francesa. Nesse momento há uma transição em seu percurso e passa a privilegiar a pintura como principal suporte de sua atividade artística. Esse movimento acontece ainda nos anos 70, antes do retorno à pintura proposto pela Geração 80.

 

O aprendizado como aluno de Iberê Camargo no Instituto de Belas Artes da Guanabara (atual Escola de Artes Visuais do Parque Lage), também marcou profundamente o trabalho do artista. Na década de 1960, tornou-se assistente do famoso pintor, e logo percebeu que a desenvoltura pictórica de Iberê não era passível de repetição. Segundo Ronaldo Brito, Zilio “… tratou de tomar suas contra medidas— abandona o óleo virtuoso, utilizando, sobretudo o esmalte industrial, diversifica meios e modos para evitar que toda essa sincera agitação pictórica sugira ilusionismo de profundidade e termine, isto sim, numa franca convulsão de superfície”.

 

O que interessa ao artista é, sobretudo, a temporalidade que a pintura tem na história da arte. Segundo Carlos Zilio, a pintura possui uma potencialidade transhistórica. “Está no passado e no presente, permitindo sucessivas retomadas sempre carregadas de uma alta carga de expressão, e isso que me fascina”, afirma Zilio.  A sua relação afetiva com o tamanduá segue essa lógica de trazer à tona questões do passado que se colocam no presente. Essa possibilidade de entrar em contato com um embate de emoções, reativando e reatualizando memórias afetivas.

 

 

Sobre o Artista

 

Carlos Zilio, Rio de Janeiro, 1944. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Estudou pintura com Iberê Camargo no Instituto de Belas Artes e formou-se em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Participou de algumas das principais exposições brasileiras da década de 1960 – Opinião 66 e Nova Objetividade Brasileira, por exemplo, ambas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro –, e de mostras com repercussão internacional: a 9ª, 20ª e a 29ª Bienais de São Paulo (1967, 1989, 2010), a 10ª Bienal de Paris (1977), a Bienal do Mercosul (2005) e Tropicália, apresentada em Chicago, Londres, Nova York e Rio de Janeiro. Na década de 1970 morou na França, onde se doutorou em Artes. Desde o retorno ao Brasil, em 1980, participou de inúmeras mostras coletivas e fez diversas individuais, entre as quais Arte e Política 1966-1976, nos Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de São Paulo e da Bahia (1996 e 1997), Carlos Zilio, no Centro de Arte Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 2000), que abrangeu sua produção dos anos 1990, e Pinturas sobre papel, no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2005) e na Estação Pinacoteca (São Paulo, 2006). A mais recente coletiva que tomou parte foi a exposição Brazil Imagine no Astrup Fearnley Museet, Oslo 2013 e MAC Lyon, 2014. Suas últimas exposições individuais foram no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (Curitiba, 2010), no Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo, 2010) e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2011). Zilio foi professor na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2008, a editora Cosac Naify publicou o livro Carlos Zilio, organizado por Paulo Venancio Filho, sobre sua produção artística. A Galeria Raquel Arnaud representa o artista desde 1997.

 

 

De 09 de outubro a 19 de novembro.