LIMITES SEM LIMITES. DESENHOS E TRAÇOS DA ARTE POVERA

21/ago

 

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, apresenta a exposição “LIMITES SEM LIMITES. Desenhos e Traços da ARTE POVERA”, mostra de caráter internacional cuja curadoria é de Gianfranco Maraniello.

 

A Arte Povera marca um distanciamento decisivo com a tradição do “quadro” e dos gêneros artísticos tradicionais em favor da redução de sinais, do encontro com as formas do tempo e da experiência lutando contra o fetiche das obras. Quase todos os artistas do grupo abordaram a prática do desenho, mas com uma técnica muito específica e de renovação do modo considerado “tradicional” de desenhar. Esses artistas enxergavam as obras como janelas para observar o nosso comportamento, para fazer coincidir a arte com o mundo – e tomar o espaço da obra como uma experiência transitória para dar forma à vida e ao tempo. São trabalhos que por vezes parecem extrapolar o perímetro do desenho em direção ao mundo em movimento que está em frente ao trabalho. Sendo assim, o desenho torna-se um limiar do mundo – está também no espaço não circunscrito na parede. As obras feitas com desenhos e que serão apresentadas “fundem” essa técnica com outras, resultando na criação de obras importantes e, por vezes, bastante espetaculares. O tema do desenho, pouco estudado na Arte Povera, será o norte conceitual da exposição.

 

A mostra – na Fundação Iberê Camargo – é o primeiro grande exame do modo como os protagonistas do movimento interpretaram a prática do desenho. Tal técnica é empregada como um traçar, um delinear de signos que identificam e em conjunto superam as margens das obras, desconstruindo, portanto a sua execução, não somente para observação, mas incitando os espectadores a questionar a sua posição, a investigar a superfície do mundo como uma pele ou um limiar, e a considerar a proximidade de suas vidas com os processos naturais e a inesgotável energia da imaginação.

 

 

Sobre Gianfranco Maraniello

 

Nascido na Itália, em 1971. Formou-se em Filosofia e foi professor de Estética dos Novos Meios na Academia de Belas Artes de Brera, Milão. Foi curador do MACRO – Museo Arte Contemporanea de  Roma, 2002-2005, do Palazzo delle Papesse – Centro d’Arte Contemporanea di Siena e da VI Bienal Internacional de Arte de Xangai. Desde janeiro de 2013, é diretor da Instituição dos Museus de Bolonha, que inclui MAMbo, Museo Morandi e outros 11 museus pertencentes à cidade de Bolonha. Foi curador de várias mostras coletivas e individuais realizadas em museus e nacionais e internacionais. Foi autor de artigos e ensaios, encomendados por instituições tais como o Centre Georges Pompidou, Paris; Hiroshima City Museum of Contemporary Art;  Palais de Tokyo, Paris; Fundação de Serralves, Portugal e Galerie pele Zeitgenossiche Kunst , Leipzig.

 

 

De 22 de agosto a 02 de novembro.

Hildebrando de Castro na Paulo Darzé

20/ago

Hildebrando de Castro é pernambucano, mas vive em São Paulo. “Ilusões do real” é sua primeira exposição na Bahia, estreando  na Paulo Darzé Galeria de Arte, Corredor da Vitória Salvador.

 

 

Texto sobre o artista

 

Hildebrando de Castro tem uma trajetória singular, solitária e inteiramente pessoal. Autodidata, sempre teve a ousadia de pintar o que lhe interessa, de tratar obsessivamente um tema e passar a outro assunto quando o considera esgotado. O artista brinca com o desafio de criar a ilusão da realidade, e seu trabalho impressiona pela perfeição da execução – em qualquer uma das técnicas que utiliza. Sua obra é essencialmente narrativa, mas suas histórias não espelham a realidade, elas evocam um mundo paralelo – que o artista enxerga colado ao real. E Hildebrando vê coisas incríveis: a crueldade presente num espeto de corações de galinha, a perversidade inerente ao mundo infantil, a estranheza de seres humanos fantásticos, a agudeza por trás de um olhar flagrado, a impregnação da personalidade num retrato sem foco, a beleza aterrorizante da natureza nas suas manifestações de força. na sua pesquisa mais recente Hildebrando detém a luz que brinca sobre a arquitetura. Fixa sombras, revela detalhes e acentua contrastes. Daí resultam imagens quase concretistas, mas seu trabalho não se esgota na forma, pois, transcendendo a geometria, guarda de forma velada a presença humana que as criou. Sem se deixar guiar por regras ou modismos o artista se impõe como um dos mais originais e criativos do cenário artístico nacional.

Denise Mattar

 

 

Até 20 de setembro.

SP-Arte/Foto no JK Iguatemi

A edição 2014 da SP-Arte/Foto , evento que acontece no JK Iguatemi, Vila Olímpia, São Paulo, SP, reúne cerca de 30 galerias, que representam artistas que utilizam a fotografia como seu principal suporte. Esta será a oitava versão do encontro, um braço da SP-Arte, voltado exclusivamente à fototografia. Já estão confirmadas uma individual de João Castilho e um trabalho de Hildegard Rosenthal, considerada uma pioneira do fotojornalismo no Brasil. A feira também receberá obras de artistas internacionais. É o caso, por exemplo, do italiano Massimo Vitali (Baró Galeria) e do alemão Frank Thiel (galeria Leme). Entre os destaques estão ainda a galeria Kamara Kó, de Belém, que voltará à cidade de São Paulo trazendo Octavio Cardoso; a vanguarda de Thomas Farkas e Geraldo de Barros, trazida pela Luciana Brito; e as obras de Ivan Grilo, que serão expostas na feira pela SIM, de Curitiba.

 

“A oitava edição da SP-Arte/Foto mostra a importância cada vez maior da fotografia no mercado de arte, fruto do interesse do público e de profissionais do meio em criar e divulgar obras de qualidade e relevância artística”, diz Fernanda Feitosa, criadora e diretora da SP-Arte/Foto.

 

Além dos expositores, a feira disponibilizará a programação de palestras, lançamentos e visitas guiadas. No ano passado, o evento contou com um público recorde de 12.000 pessoas. A feira tem entrada gratuita e acontece no terceiro piso do shopping JK Iguatemi, na Vila Olímpia.

 

 

Veja alguns lançamentos

 

Cristiano Mascaro / 22 de agosto de 2014, 17h00/ Stand  Dan Galeria

 

 

Christian Cravo / 23 de agosto de 2014, 18h00/ Stand Galeria Tempo

 

“Christian Cravo”, é quinto livro dedicado à obra do fotógrafo brasileiro, uma edição que reúne 194 imagens inéditas de sua autoria, produzidas entre 1991 e 1993 em Salvador, cidade natal do artista. Christian Cravo (1974) é filho do artista brasileiro Mario Cravo Neto (1947-2009) e da dinamarquesa Eva Christensen; e neto do renomado artista baiano Mario Cravo Jr.

 

O fotógrafo, que passou a infância e a adolescência entre o Brasil e a Dinamarca, fez os registros apresentados neste volume entre os 17 e os 19 anos de idade, período que passou com o pai na Bahia, vindo de uma temporada de dez anos na Europa e prestes a retornar para servir ao exército dinamarquês. Desde o início de sua trajetória, Christian registrou extensamente a Índia, o Haiti e o continente Africano. Fotografa regularmente o Nordeste brasileiro, como um projeto de vida. Vive atualmente em São Paulo.

 

Marcelo Tinoco/ 23 de agosto,  das 18h às 19h/ Stand Zipper Galeria

 

Lançamento de “Diorama”, do artista Marcelo Tinoco. O livro é resultado do XIII Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, tem texto de apresentação do curador Ricardo Resende e é composto por uma série de fotografias que juntam histórias para narrar o tempo. O livro traz também textos dos curadores Mario Gioia e Paula Alzugaray. Marcelo Tinoco usa da manipulação digital de elementos plásticos e figurativos para explorar a fronteira entre o real e o ficcional. O seu processo artesanal de construir “quadro a quadro” define sua técnica como uma espécie de “foto pintura-quadro”, experimentações que ampliam a noção de linguagem fotográfica.

 

Stephen Shore/ 24 de agosto de 2014, 17h00/  Lounge Credit Suisse  

 A natureza das fotografias

 

A natureza das fotografias oferece uma educação do olhar para a fotografia. A partir de sua larga experiência como fotógrafo e professor do Programa de Fotografia no Bard College (no estado de NY), Stephen Shore explora maneiras de ver e entender todo e qualquer tipo de imagem fotográfica – de negativos a arquivos digitais, de fotos feitas por desconhecidos até aquelas mais icônicas – através do que chama de níveis de percepção, abordando de maneira técnica, teórica e metafórica conceitos como bidimensionalidade, enquadramento, tempo e foco. O texto claro, acessível e perspicaz do Shore é ilustrado por fotografias que, por si só, contam uma história do meio: de precursores como Eugène Atget, Alfred Stieglitz, Walker Evans, André Kertész e Brassaï, passando por Robert Frank, Diane Arbus, William Eggleston, Lee Friedlander e o próprio autor, até artistas contemporâneos do porte de Jeff Wall, Vik Muniz e Andreas Gursky. Trata-se de uma ferramenta indispensável para estudantes, professores, profissionais da fotografia e interessados no meio.

 

 

Sobre o autor

 

Stephen Shore nasceu em Nova York, em 1947. Começou a fotografar muito cedo, aos nove anos de idade, com uma camera de 35 mm. Aos quinze, teve três de suas fotografias adquiridas pelo então curador de fotografia do Moma, Edward Steichen, para o acervo do museu. Frequentou ativamente a Andy Warhol’s Factory, fotografando o artista pop e seu grupo. Aos 23, tornou-se o segundo fotógrafo em atividade a ter uma exposição individual no Metropolitan Museum of Art, depois de Alfred Stieglitz, quatro décadas antes. Considerado por muitos um dos pioneiros no reconhecimento da fotografia em cores como expressão artística, seu trabalho tem sido mostrado em inúmeros museus e galerias do mundo, influenciando gerações de fotógrafos. Desde 1982  diretor do Programa de Fotografia do Bard College. Além de  natureza das fotografias, seu único livro teórico, Shore publico diversos fotolivros, entre eles  American surfaces (1972) e Uncommon places (1982).

 

 

De 20 a 24 de agosto.

Fonte: site SP/Arte.com

Quase figura, Quase forma

19/ago

Dando sequência às comemorações de seus 10 anos, a Galeria Estação, Pinheiros, São Paulo, SP, dessa vez em parceria com a Galeria Millan, realiza a exposição coletiva Quase figura, Quase forma, com curadoria do crítico Lorenzo Mammì. A união das duas galerias, que trabalham com grupos de artistas distintos, reforça a efervescente tese de que não há território que separe a produção reconhecida como popular da temática contemporânea.

 

Alcides Pereira dos Santos, Ana Prata, Aurelino dos Santos, Cícero Alves dos Santos, Felipe Cohen, João Cosmo Felix, João Francisco da Silva, José Bezerra, Neves Torres, Paulo Pasta, Sebastião Theodoro Paulino, e Tatiana Blass são os nomes representados pelas duas galerias. Contudo o curador selecionou também artistas que fazem parte de outros elencos, como Marina Rheingantz (Galeria Fortes Vilaça), Fabio Miguez e Sergio Sister (Galeria Nara Roesler) e Paulo Monteiro (Galeria Mendes Wood).

 

Para Lorenzo Mammì, enquanto muitos artistas contemporâneos estão se reaproximando de questões ligadas à representação ou encarando o problema do suporte de maneira mais individualizada e menos conceitual, a arte popular está gradativamente assumindo uma relação formalmente mais livre com seu repertório tradicional.

 

Ainda segundo Lorenzo Mammì, uma análise criteriosa da produção de arte contemporânea e da popular dos últimos trinta anos revela possíveis convergências a serem exploradas.  Para o curador, o final da década de 70 marca o início de uma valorização da figuração em relação à abstração na pintura contemporânea. “Talvez se possa dizer que, se o século XX foi tendencialmente um século de abstração, o XXI começa como século figurativo”, completa.

 

Paralelamente, Mammì defende que a arte popular brasileira – sempre enraizada nos conceitos de imagem, figura e signo – ampliou seu repertório ao permitir que a vocação autoral de seus representantes ganhasse cada vez mais espaço. “Certo apagamento da imagem, certa dissolução de estruturas narrativas tradicionais e simbologias já constituídas, podem ser identificados também, a meu ver, na arte popular mais recente”, diz o crítico.

 

Mammì ressalta que a arte popular no Brasil, “…nunca foi estritamente folclórica, no sentido de repetir, sem pretensão de singularidade, um repertório comunitário herdado”. Segundo ele, com exceção da arte indígena, este repertório praticamente não existia, ou era de importação muito recente. Mammì destaca ainda que o fato de o artesanato se desenvolver desde o começo perto dos centros urbanos ou dentro deles, onde o comércio era mais intenso, favoreceu uma produção com características individuais mais marcadas. “As fronteiras nunca foram rígidas: artistas de origem popular, como Emygdio de Souza, Agnaldo dos Santos, Djanira e Heitor dos Prazeres, circularam em ambiente culto, enquanto pintores de formação erudita (Guignard, Volpi, Pancetti) se aproximaram da linguagem popular”, completa.

 

 

 

De 21 de agosto a 10 de outubro.

Adriana Varejão e as múltiplas influências de sua obra

18/ago

Adriana Varejão é uma das maiores expressões da arte contemporânea brasileira e entre as mais bem sucedidas no circuito mundial, nascida no Rio de Janeiro, cidade onde vive, a premiada artista já participou de mais de 70 exposições em diversos países. Tem presença marcante em inúmeras bienais e seu trabalho já foi mostrado em grandes instituições internacionais como MoMA, Nova York; Fundação Cartier, Paris; Centro Cultural de Belém, Lisboa; Hara Museum, Tóquio e The Institute of Contemporary Art, Boston. Um pavilhão dedicado à sua obra pode ser visto no Instituto Inhotim, em Minas Gerais. Faz parte de acervos, como os da Tate Modern, Fundação Cartier e Guggenheim, entre outros. Adriana Varejão apresenta, no Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, a sua primeira vídeo instalação, “Transbarroco”. A artista mostra no Oi Futuro sua primeira video instalação, “Transbarroco”. Filmada no Rio de Janeiro, Ouro Preto, Mariana e Salvador, apresenta referências do Barroco que foram importantes em sua obra. A curadoria é de Alberto Saraiva.

 

OF. O que significa para você o processo de criação?

 

AV. Toda criança é um ser extremamente criativo. Com o tempo e a educação, ela vai se moldando, seu pensamento, sua percepção, seu olhar. O primeiro passo para criar é resgatar essa percepção não formatada, livre e sem preconceitos que é a percepção infantil. No meu caso, o processo de criação vem junto a um processo de estudo e disciplina. Eu costumo me interessar por assuntos diversos. Nesse sentido, a curiosidade é uma grande aliada. Quando estou entre uma série e outra costumo folhear livros, ver imagens, absorver o máximo possível de informação. Isso estimula a minha criatividade. Também acho que viajar é muito bom, pois te arranca da sua rotina, faz com que você perceba as coisas de outra maneira. Também costumo arriscar muito. Quando já conheço previamente o resultado que o trabalho pode oferecer, tendo a mudar minha pesquisa para outros campos mais desafiadores.

 

OF. Qual a função da arte para o ser humano?

 
AV. Arte não é algo ligado à função. Na verdade, a arte é completamente inútil, senão não seria arte. Quando Duchamp pega a roda da bicicleta e a coloca num banco como num pedestal, ou pega o mictório e o pendura de cabeça para baixo, ele cria um estranhamento fazendo com que esses objetos sejam percebidos em sua integridade em forma e corpo pela primeira vez. Eles não pertencem mais ao mundo da função, onde nós não os percebemos, onde eles são invisíveis. A arte cria essa narrativa paralela que areja a linguagem, como as minhocas arejam a terra.

 

OF. Você tem uma trajetória de muitos anos com obras que remetem ao Barroco. Como isso aconteceu?

 

AV. Eu costumava pintar com uma camada muito espessa de tinta. Quando eu entrei pela primeira vez em uma igreja barroca em Ouro Preto me identifiquei com o excesso e com a volúpia da materialidade barroca. Até hoje me lembro dessa igreja, era a Igreja de Santa Efigênia ou Nossa Senhora do Rosário do Alto da Cruz, uma irmandade negra. A partir dessa primeira epifânia pesquisei profundamente o barroco presente no Brasil e no México.

 

OF. Quais as principais referências que aparecem em suas obras?

 

AV. Meu trabalho tem um caráter polifônico. As referências são inúmeras. O barroco quando chega à America se molda às culturas locais e absorve muitas influências. Esse caráter miscigenado é o que mais me atrai no estilo barroco. No Brasil vemos, por exemplo, forte influência chinesa vinda através da Companhia das Índias nas sedas, nas lacas e porcelanas. Temos também gênios como Aleijadinho e Ataíde que têm traços extremamente pessoais.

 

OF. O que o público poderá esperar desta exposição no Oi Futuro?

 

AV. Os filmes foram feitos em três igrejas – de São Francisco, em Salvador, no Rio e em Ouro Preto. Além de detalhes chineses da Sé de Mariana. Essas igrejas foram escolhidas por serem fortes referências na minha obra. Procurei me aproximar dessas imagens com um olhar mais detalhado, que é como eu olho para elas. A Igreja de São Francisco no Rio (Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência) é carregada em ouro e tem uma talha rica em estilo português. A câmera seguiu um percurso do perímetro completo dessa igreja. A Igreja de São Francisco em Salvador, com seu rico painel de azulejaria do claustro, me serviu de inspiração para diversos trabalhos. A câmera procurou completar todo o perímetro do claustro seguindo um percurso que eu indiquei. Em Ouro Preto gravamos a Igreja de São Francisco feita por Aleijadinho com a nave pintada por Ataíde. Dessa vez percorremos o Perímetro vertical da igreja, indo do chão ao teto. O som tem um caráter polifônico misturando sons locais, ritmos afros do Olodum, além do órgão da Sé de Mariana, etc.

 

OF. Quais os planos para 2014?

 

AV. Minha primeira individual numa importante instituição americana, o ICA Boston, em novembro.

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Fonte: oifuturo.org.br/noticias – Foto: Murilo Meirelles

 

 

Até 26 de outubro.

Histórias Mestiças

15/ago

“Histórias Mestiças”, cartaz do Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, é resultado de mais de dois anos de pesquisa dos curadores Adriano Pedrosa e Lilia Schwarcz que contou com o entusiasmo do diretor do Instituto, Ricardo Ohtake, interessado em realizar uma exposição paralela à 31ª Bienal de São Paulo com profunda e renovada investigação sobre as matrizes formadoras do povo brasileiro: a questão da mestiçagem e seu rebatimento na produção artística.

 

Segundo os curadores, o objetivo dessa exposição é provocar e trazer à tona um tema que, de alguma maneira, tem existência ainda discreta entre nós brasileiros. Quem mestiçou quem? Como se mistura inclusão com exclusão social? Como se combinam prazer e dominação? Quais são as diferentes histórias escondidas nesses processos de mestiçagem? Essas são perguntas que, segundo eles, ainda, nem sempre recebem ou alcançam respostas.

 

A mostra, dividida em seis núcleos – Mapas e Trilhas; Máscaras e Retratos; Emblemas Nacionais e Cosmologias; Ritos e Religiões; Trabalho; Tramas e Grafismos – fricciona telas, esculturas, instalações, mapas, artefatos indígenas e africanos, fotos, documentos, textos, vídeos e histórias. A curadoria propõe reunir e resignificar linguagens sem hierarquizar culturas, mestiçando ainda gerações de artistas e autores com cruzamentos temáticos e conceituais, sem preocupação cronológica. “O nosso intuito foi convidar artistas nacionais, africanos e ameríndios para ‘conversar’ nessa exposição, de maneira a priorizar um aporte mais amplo e que rompa com as margens precisas e expressas pelos nossos cânones Ocidentais”, afirmam os curadores.

 

As cerca de 400 obras reunidas – originais em todos os suportes e parte das quais nunca exibidas –, são provenientes de 60 importantes acervos nacionais e internacionais, entre os quais Musée Quai Branly, National Museum of Denmark, Instituto de Estudos Brasileiros – IEB/USP, Museu de Arqueologia e Etnologia – MAE/USP, Museu Nacional de Belas Artes, coleções Mario de Andrade, Masp, Biblioteca Nacional, Museu Joaquim Nabuco.

 

Fez parte do trabalho da curadoria investigar autores, artistas, suportes e perspectivas pouco conhecidos, ou sob ângulos inusitados, e colocá-los em debate. Além dos trabalhos já existentes,  também foram encomendados a artistas obras que serão especialmente realizadas para essa mostra. Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Luiz Zerbini, Thiago Martins de Melo, Dalton Paulo, Sidney Amaral são alguns dos nomes que aceitaram o desafio de produzir trabalhos em diálogo com a temática da exposição. Na ocasião da mostra, uma antologia de textos estará à disposição, contando com documentos que partem do século XVI – como a análise de viajantes como Jean De Lery, e de filósofos como Montaigne –, passam por ensaios de naturalistas do XVIII, introduzem o olhar de teóricos do determinismo racial do XIX, ensaios mais culturalistas dos anos 1930, teses engajadas dos movimentos sociais até chegar em capítulos mais recentes de autores como Manuela Carneiro da Cunha e Eduardo Viveiros de Castro.

 

Também foi especialmente confeccionado um novo mapa que traça a rota dos escravos do interior da África para o Brasil, tendo como base um estudo inédito de nosso maior africanista, Alberto Costa e Silva, e produção cartográfica de Pedro Guidara Jr.

 

Dentre as peças africanas destacam-se máscaras provenientes do museu Quai Brainly, e peças da famosa coleção de Mariano Carneiro da Cunha, hoje depositadas no Mae. Desse continente virão também máscaras, objetos de uso ritual e de trabalho e até mesmo uma pequena procissão feita em metal. Por outro lado, tangas, máscaras de arte plumária, urnas marajoaras, estatuetas tapajônicas, cestas, pás de beiju,  representarão, entre outros objetos, a riqueza da arte ameríndia e indígena de nosso país. Tudo em diálogo, em um debate ao mesmo tempo afinado e tenso.

 

 

Sobre os curadores

 

Adriano Pedrosa

 

Curador, ensaísta e editor. Foi co-curador da 27ª Bienal de São Paulo e curador responsável do Museu de Arte da Pampulha. Entre seus projetos curatoriais, estão ”F(r)icciones” (Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, 2000-2001, com Ivo Mesquita) e “Farsites: Urban Crisis and Domestic Symptoms in Recent Contemporary Art” (InSite-05, San Diego Museum of Art, Centro Cultural Tijuana, 2005), curador da 12ª edição da Bienal de Istambul, 2011.

 

 

Lilia Moritz Schwarcz

 

Historiadora, antropóloga, escritora e curadora. É professora titular da Universidade de São Paulo e editora da Companhia das Letras. Foi professora visitante e pesquisadora nas universidades de Leiden, Oxford, Brown, Columbia, é hoje Global Scholar pela Universidade de Princeton. Entre seus projetos curatoriais, estão “A longa viagem da biblioteca dos reis” (Biblioteca Nacional, 2003-2004), “Nicolas Antoine Taunay no Brasil – uma leitura dos trópicos” (Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, Pinacoteca, 2008), “Um olhar sobre o Brasil. A fotografia na construção da imagem da nação” (Instituto Tomie Ohtake, 2012), entre outros.

 

Dia 16 de agosto, às 18h30:  Coro da OSESP Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Conduzido pela regente Naomi Munakata haverá um concerto com peças de Pe. José Maurício, Villa-Lobos, entre outros.

 

 

De 15 de agosto a 05 de outubro.

TRANSARTE Apresenta Silvia M

Depois do pintor americano Timothy Cummings e da fotógrafa alemã Iwajla Klinke,  o espaço Transarte, Jardim Paulista, São Paulo, SP, inaugura a exposição de Silvia M, fruto, assim como as duas exposições anteriores, do programa de residência oferecido pelo espaço. Enquanto a vivência favoreceu aos artistas estrangeiros um contato intenso com a realidade brasileira – e o resultado disso está presente em seus trabalhos -, a experiência para a artista paulistana Silvia M está evidente na introspecção e na concentração da própria pesquisa.

 

A artista realiza suas obras com objetos que lhe foram dados ou que a mesma encontrou abandonados no espaço público. Tais objetos então sofreram uma série de intervenções e foram fotografados, moldados em gesso, costurados com espuma ou justapostos a outras peças. Embora a artista afirme que, ao coletar coisas nas ruas, ela tenta selecionar as que lhe parecem mais “plasticamente interessantes”, ela também leva em conta a história de cada artefato.

 

As costuras e os bordados são características dos trabalhos de Silvia M desde “Por dentro” (uma série de caixas manipuláveis expostas no espaço cultural da Caixa Econômica Federal, em 2002). A partir de 2006, a artista cria objetos com imagens cobertas de parafina e moldes de gesso sobre peças de mobília, como gavetas e portas de armário. Os móveis, que não foram produzidos pelas mãos da artista, compõem o trabalho. O procedimento tem como referência os ready-mades de Duchamp e os objets-trouvés dos surrealistas. Também em 2006, Silvia M produziu trabalhos a partir da residência artística do Ateliê Amarelo, utilizando objetos coletados na região paulistana da “cracolândia”, famosa por abrigar usuários de crack. Tais objetos foram substituídos por moldes de gesso e instalados no local em que haviam sido encontrados. Muitos deles foram reaproveitados em trabalhos posteriores e figuram, por exemplo, na própria exposição atual.

 

Em 2009, com a série “Visitas invasoras”, a artista aprofunda sua proposição de caráter relacional, que, anteriormente, era de trocas com o meio (as coisas substituídas pelos moldes). Silvia M propõe uma série de visitas a pessoas que lhe são mais ou menos próximas e, sem escolher, recebe objetos oferecidos por essas pessoas. Moldes de gesso produzidos a partir desses objetos devem ser posteriormente instalados nas casas, como uma espécie de retribuição. Os moldes e as ações da artista são visíveis apenas para os que receberam a obra. Seus vestígios são os registros escritos e fotográficos, além dos próprios objetos doados, que, assim como os objetos descartados, retornam em forma de outros trabalhos. Esses novos trabalhos, por sua vez, não deixam de ser vestígios das ações pelas quais os objetos foram adquiridos, de modo que o conceito de obra de arte é problematizado como um determinado objeto que deve ser apreciado por suas próprias qualidades. O complexo sistema de trocas recíprocas tematizado por Silvia M extrapola as intenções vanguardistas e reproduz os passos estipulados pelo sociólogo Marcel Mauss em Ensaio sobre a dádiva (1925): ao reencenar as obrigações de dar, receber e retribuir está-se exprimindo a vida própria que as coisas parecem ter quando estão em circulação.

 

 

A disposição dos trabalhos de Silvia M foi desenhada pela artista plástica Maria Bonomi. Amplo catálogo de trabalhos da artista foi produzido por Maria Helena Peres Oliveira com textos do artista plástico Arthur Luiz Piza e do crítico José Bento Ferreira.

 

 

De 16 de agosto a 17 de dezembro

Eliane Prolik no MON

12/ago

O Museu Oscar Niemeyer (MON), Curitiba, PR, inaugurou nas salas 1 e 2, a exposição “Da matéria do mundo”, da artista Eliane Prolik. A mostra apresenta a instalação “Atravessamento” e três núcleos de esculturas. Com curadoria de Ronaldo Brito, e Denise Bandeira como assistente de curadoria, a exposição se apropria de materiais industriais que possibilitam o desencadeamento de formas abertas e comunicantes relacionadas ao sentido fluido e emblemático da vida contemporânea. A instalação “Atravessamento”, de 160 metros quadrados de eletrocalhas, envolve e captura o espectador com seu engenho, rumor e desvios. A natureza escultórica de sua obra responde à presença física e à experiência ampliada da percepção do corpo em movimento em interações e tensões junto ao lugar, a arquitetura e a cidade.

 

Para Brito, “Da Matéria do Mundo” diz respeito não somente à aparência do mundo contemporâneo, seu aspecto anônimo e industrial, mas à essência de sua forma: o modo aberto, serial e repetitivo como se organiza, no limite do aleatório, estranho com certeza às noções tradicionais de harmonia e equilíbrio. Metafórica e concretamente, as esculturas de Eliane Prolik convidam a um verdadeiro embate físico que pode muito bem vir a se transformar em disponibilidade lúdica”, analisa. A diretora cultural do MON, Estela Sandrini, ressalta que, “muitos dos trabalhos apresentados nesta exposição foram criados para as salas do MON, a fim de estreitar as relações entre a obra, a arquitetura do espaço e a experiência sensorial do espectador”.

 

 

Sobre a artista

 

Curitibana, a artista é graduada em Pintura e possui especialização em História da Arte do Séc. XX pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP). Desde o final dos anos 1980 trabalha com escultura, objeto e instalação. Participou de diversas exposições nacionais e internacionais, como 25ª e 19ª Bienal Internacional de São Paulo (2002 e 1987), I Bienal do Mercosul (1997), Bienal Brasil Século XX (1994), Panorama da Arte Brasileira (1995 e 1991), “O Estado da Arte – 40 anos de Arte Contemporânea no Paraná 1970-2010” (2010) e “PR/BR – Produção da imagem simbólica do Paraná na cultura visual brasileira” (2013), Museu Oscar Niemeyer. Entre suas exposições individuais destacam-se “Projeto Octógono”, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2004) e “Capulus”, Centro Universitário Maria Antonia, São Paulo (2003). Recebeu premiações no Salão Nacional e Salão Paranaense. Integra os coletivos de arte “Bicicleta”, “Moto Contínuo” e “Escultura Pública”, além de projetos institucionais no contexto paranaense.

 

 

Da Matéria do Mundo por Ronaldo Brito

 

Da Matéria do Mundo diz respeito não somente à aparência do mundo contemporâneo, seu aspecto anônimo e industrial, mas à essência de sua Forma: o modo aberto, serial e repetitivo como se organiza, no limite do aleatório, estranho com certeza às noções tradicionais de harmonia e equilíbrio. No entanto, insistimos em pedir à arte que nos ofereça preciosos objetos únicos, fechados em si mesmos, seguindo o padrão convencional. Há décadas o Minimalismo norte-americano e a Arte Povera italiana investiram contra semelhante conformismo, em favor de uma arte realmente contemporânea, em contato efetivo com o mundo da vida atual. O trabalho de Eliane Prolik aceitou, decidido, o desafio. Ao longo dos anos, a artista foi cultivando uma empatia sutil e sincera com os materiais comuns do nosso cotidiano urbano, foi apurando uma hipersensibilidade em relação a eles, que acabou por torná-los corpo e alma de sua poética.

 

À falta de um conceito ideal, vamos chamar Núcleos Escultóricos a essas peças de metal regulares, com uma configuração aberta, que se modificam necessariamente segundo as exigências de cada ambiente. Soltas no espaço amplo e generoso do Museu Oscar Niemeyer, elas devem ao mesmo tempo tensioná-lo e atravessá-lo, como dita aliás o título de um dos trabalhos da exposição. Em meio à sensação crescente de opacidade, sensação que parece dominar o denso e populoso século XXI, cabe à arte revelar transparências, abrir espaços, fazer brilhar a luz ali onde se tende a ver apenas impasses e muros intransponíveis. Metafórica e concretamente, as esculturas de Eliane Prolik convidam a um verdadeiro embate físico que pode muito bem vir a se transformar em disponibilidade lúdica.

 

 

Até 16 de novembro.

Rodrigo Edelstein em projeto autoral

O GRIS Escritório de Arte, Pinheiros, São Paulo, SP, em parceria com o designer Rodrigo Edelstein, expõe o projeto “Conversa Forjada”, composto por 12 trabalhos sobre papel e 8 peças de design. Com curadoria de Paulo Azeco, esta é a primeira exposição individual da galeria, com sua recente inclusão no circuito cultural paulistano, com uma ação dirigida à busca de novos caminhos de disseminação de arte.

 

Como designer de mobiliário, o trabalho de Rodrigo Edelstein é marcado pelo uso de aço, com peças de estilo industrial e acento brutalista. Em “Conversa Forjada”, sua pesquisa se estabelece no universo das artes plásticas, com um trabalho autoral sobre papel de algodão, utilizando aquarela, nanquim, e caneta BIC. O artista imagina um diálogo seco e curto entre duas pessoas por meio de palavras e símbolos, como assertivamente descreve o filósofo francês Gilles Lipovetsky a respeito da sociedade “hipermoderna”. Porém, o diálogo aqui também é estético, encontra a herança concreta brasileira, e carrega forte interação com seu design e seus materiais do uso cotidiano.

 

O projeto será montado junto a uma retrospectiva de peças do designer, com itens de acervo e objetos de inspiração, no intuito de possibilitar ao expectador uma visita ao universo do artista e a melhor interpretação de seu pensamento criativo.

 

 

 

De 16 de agosto a 20 de setembro.

Arthur Arnold na Galeria Movimento

08/ago

Arthur Arnold, artista conhecido pela sua arte como protesto, abre a mostra “Estado de Sítio”, na Galeria Movimento, Copacabana, Shopping Cassino Atlântico, Rio de Janeiro, RJ, com obras inéditas. O artista já teve seu trabalho premiado no III Concurso de Arte Contemporânea do Itamaraty, foi indicado ao Novíssimos – IBEU 2011 e fará residência no Red Bull Station, em São Paulo, além de ter participado de exposições coletivas na Alemanha, onde estudou, na Bauhaus Universität.

 

Utilizar a arte como protesto é um movimento que não é de hoje. Em 1928, o “Abapuru”, de Tarsila do Amaral, inspirou o Manifesto Antropofágico, escrito no mesmo ano por Oswald de Andrade e que guiou e foi guiado por muitos artistas da época que tinham um envolvimento político e propunham uma revolta a favor de uma maior independência brasileira. Em 1965, com a obra “Não há vagas”, Rubens Gerchman abordou o tema do desemprego no país e, no ano seguinte, através da instalação “Objeto Popular”, Pedro Geraldo Escosteguy, criticou a política do momento.

 

Muitos artistas, até hoje, se manifestam através da arte. Sebastião Salgado e as fotos de Serra Pelada, que denunciam a exploração dos mineradores e Os Gêmeos, que criticam a ação policial nos protestos, são dois exemplos. Com o tema totalmente em voga, Arthur Arnold, conhecido pela sua pintura que aborda questões e situações que vivencia, com uma dose de humor, sarcasmo e até perversidade, onde observações e preocupações são transformadas em narrativas, abre sua exposição individual denominada “Estado de Sítio”, na Galeria Movimento.

 

São dez telas que, segundo o artista, retratam imagens de protesto, violência, desigualdade, discriminação, mutações simbólicas, opressão e criminalidade. Trata-se de uma mostra de pintura e sobre pintura (óleo e acrílica sobre tela), de um artista que vive e trabalha no mesmo contexto de suas imagens. Para a curadora que assina a mostra, Paula Borgui, Arnold nos apresenta uma produção que explora com intensidade tanto as camadas políticas como pictóricas da arte. São trabalhos que incitam o espectador a refletir e que atraem através de sua excelência formal (composição, cor e gesto), para então incitar a uma meditação conceitual e brutal do que é visto dentro e fora da galeria de arte.

 

 

Sobre o artista:

 

Arthur Arnold estudou pintura no Parque Lage, com João Magalhães, e é Bacharel em escultura pela Escola de Belas Artes da UFMG – Belo Horizonte, MG. Estudou um ano na Bauhaus Universität – Weimar, Alemanha, foi indicado ao Novíssimos, prêmio do IBEU, em 2012, e teve sua obra premiada no III Concurso de Arte Contemporânea do Itamaraty, Brasília, DF, 2013. O artista também foi convidado para participar de residência artística no Red Bull Station, em São Paulo, que promete abrigar, além de exposições, residências de artistas plásticos e estúdio de música, e os mais badalados happenings da cidade. O artista já participou de duas exposições individuais no Rio de Janeiro (Galeria Movimento e Centro Cultural Cândido Mendes) e outras duas em Belo Horizonte (Galeria de Arte Beatriz Abi-Acl e no BDMG Cultural). Entre as coletivas estão  a Abre Alas 8 – A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, 2012;  Spuren suchen –  Neues Museum Weimar – Weimar, Alemanha, 2007;  Art on the Edge –  Kunsthalle Weimar – Weimar, Alemanha – 2007.

 

 

De 12 a 31 de agosto.