Ascânio MMM na Marcia Barrozo do Amaral

05/ago

Após a mostra de “Flexos e Qualas”, no MAM em 2008, o escultor Ascânio MMM exibe na Galeria Marcia Barrozo do Amaral, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, espaço que o representa no Rio de Janeiro desde 2006. Esta nova série de trabalhos intitula-se “Quasos” e estes trabalhos são resultado dos estudos que Ascânio tem desenvolvido com o alumínio, material que é a base da sua pesquisa há cerca de vinte anos.

 

Nesta mostra, a torção permanece como movimento original do seu trabalho, porém as torções rígidas dos trabalhos de madeira brancos dão vez às torções flexíveis de tramas de alumínio. Um dos trabalhos evoca a fita de Moebius, com sua torção contínua. As formas exibidas são resultado de uma longa experimentação com alumínio e parafusos, estes agora de vários comprimentos e com diferentes níveis de aperto, para unir as peças de alumínio. O artista conta que deixou de apertar totalmente os parafusos, o que possibilitou que o alumínio se movimente e se expanda, promovendo a alternância entre a solidez e a leveza do material, através de um espaçamento controlado. “São folgas variáveis que apresentam novas formas e novas questões na minha pesquisa”, afirma. O nome desta série tem origem na combinação das palavras “quadrados” e “parafusos”.

 

Outra questão presente nos trabalhos da mostra é a exploração da cor e do brilho do próprio material. O uso da cor também tem sido objeto de estudo do artista e agora aparece de forma sutil, de acordo com a movimentação do espectador e da incidência de luz, gerando resultados surpreendentes.

 

 

Sobre o artista

 

Ascânio MMM nasceu em Fão, Portugal, mas vive e trabalha no Rio de Janeiro desde os 17 anos de idade. Sua formação inclui passagem pela Escola Nacional de Belas Artes entre 1963 e 1964, e pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, FAU/UFRJ, entre 1965 e 1969, onde se formou. Atuou como arquiteto até 1976, mas já a partir de 1966 começou a desenvolver seu trabalho artístico a partir do uso da madeira pintada de branco e, logo em seguida, da organização de ripas de madeira em progressões verticais e horizontais, e criando as caixas lúdicas, espécie de bases de madeira, sobre as quais o espectador pode deslocar quadrados vazados, de tamanhos decrescentes. Neste mesmo ano exibiu pela primeira vez seus trabalhos ao público, incluído na seleção de artistas do I Salão de Abril no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

 

Desde 1966 e durante os anos 1970, explorou a relação entre escultura e arquitetura em seus trabalhos pelo uso da madeira pintada de branco e, logo em seguida, da organização de ripas de madeira em progressões verticais e horizontais. São deste período as caixas lúdicas, cubos de madeira, sobre os quais o espectador pode deslocar quadrados vazados, de tamanhos decrescentes, formando diferentes composições. Na década de 1980 realizou os “Fitangulares” – relevos e esculturas, quando deixou de usar o branco, e a questão da luz e sombra foi abandonada, para explorar a madeira crua de diferentes espécies (cedro, mogno, pau marfim, ipê, freijó, etc.) e tonalidades. Já no final dos anos 80 surgiram as primeiras Piramidais de madeira.

 

Nos anos 1990, a questão das grandes dimensões tornou-se uma preocupação central para Ascânio e os estudos com alumínio se intensificaram. O alumínio tornou-se então a base para a pesquisa de novos trabalhos. As esculturas desta fase caracterizam-se pelos tubos retangulares de alumínio cortados, que geram esculturas de grandes dimensões com vazios internos e sucessões de transparências e sólidos, tornando-as quase imateriais conforme a posição do espectador. Nos anos 2000, desenvolve os Flexos – quando os parafusos que eram usados nas Piramidais foram substituídos por arames de aço inoxidável amarrando os tubos quadrados cortados com 1cm, e gerando tramas tensionadas. Posteriormente, surgiram as Qualas – onde a amarração de arame foi substituída por argolas, conferindo ainda mais plasticidade à trama, permitindo ao artista uma nova relação com o espaço e a luz ambiente.

 

Com exposições individuais no Brasil e no exterior, além de participações em Bienais, Ascânio possui obras instaladas em espaços públicos no Rio de Janeiro, São Paulo, Japão e Portugal. Apenas cidade do Rio são oito esculturas de grandes dimensões, como a do Centro Administrativo São Sebastião, na Cidade Nova e a do Centro Empresarial Rio, em Botafogo, esta última escolhida por “vinte nomes ligados às artes plásticas” como um dos dez trabalhos que não podem deixar de ser vistos na cidade (Revista Rio Show, O Globo, 20/04/2007). A produção artística de Ascânio foi objeto de estudo e análise crítica por Paulo Herkenhoff no livro Ascânio MMM: Poética da Razão (BEĨ Editora, 2012). Em 2005 foi publicado o livro Ascânio MMM (Editora Andrea Jakobsson, 2005), com textos de Paulo Sergio Duarte, Lauro Cavalcanti, Fernando Cocchiarale e Marcio Doctors.

 

 

De 21 de agosto a 19  de setembro.

Leilão na Bolsa de Arte

31/jul

Obras de grandes artistas brasileiros serão leiloadas no dia 31 de julho, às 20h30, na sede da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, em Ipanema, à rua Prudente de Morais, 326.

 

A renda será revertida para a divulgação e lançamento nacional do filme “Hélio Oiticica”, do diretor César Oiticica Filho, sobrinho do artista e curador de seu acervo.

 

Já estão confirmadas obras assinadas por Anna Bella Geiger, Alexandre Vogler, Antonio Manoel, Beth Jobim, Brígida Baltar, Bob N, Carlos Vergara, Caroline Valansi, Claudia Tavares, Cildo Meireles, Eloá Carvalho, Ernesto Neto, Gabriela Maciel, Guga Ferraz, Ivald Granato, Iole de Freitas, Lee Jaffe, Lourival Cuquinha, Maria Lynch, Maria Nepomuceno, Marco Veloso, Marcos Bonisson, Monica Mansur, Nelson Leirner, Nuno Ramos, Opavivará Coletivo, Patricia Gouvêa, Piti Tomé, Raul Mourão, Renan Cepeda, Renato Bezerra de Mello, Ronald Duarte, Thomas Valentin, além de trabalhos do próprio Hélio Oiticica.

 

Exposição das obras: 28, 29 e 30 de julho, das 11h às 19h.

Leilão: 31/07 às 20h30

Leiloeiro: Walter Rezende

 

Link do evento no Facebook, na página da Bolsa de Arte

https://www.facebook.com/events/695358223852132/?fref=ts

 

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Sobre o filme

 

“Hélio Oiticica foi um dos artistas que melhor uniu a reflexão com a criação artística. Suas ideias e proposições, expressas não apenas em textos, mas também em depoimentos e entrevistas, revolucionaram a arte e a cultura, tornando-o um dos mais importantes artistas da segunda metade do século XX. O documentário de César Oiticica Filho, ao utilizar a própria voz do artista como fio narrativo, permite um mergulho único no pensamento, na trajetória e na intimidade de Hélio Oiticica.

 

A extensa pesquisa de imagens faz com que o espectador acompanhe a evolução do artista, o seu início junto ao Grupo Frente, o surgimento do Neoconcretismo, a criação dos Bólides, Penetráveis, Núcleos e Parangolés, o envolvimento com a Tropicália, o período em Nova York, até a volta ao Brasil. É um documento não apenas de um dos maiores artistas que o Brasil já produziu, mas também de um dos períodos de maior efervescência de nossa cultura, o que torna este filme crucial para todos aqueles que querem compreender não apenas a nossa história, mas quem somos agora.

 

Hélio Oiticica é um documentário de 94 minutos, dirigido por César Oiticica Filho e produzido pela Guerrilha Filmes.” (por Sérgio Cohn, da Azougue Editorial)

 

Direção e roteiro: César Oiticica Filho;

Pesquisa de imagem: Antonio Venancio;

Produção executiva: João Villela, Juliana Carapeba, Felipe Reinheimer e César Oiticica Filho;

Direção de Produção e coordenação de finalização: Juliana Carapeba;

Direção de fotografia: Felipe Reinheimer;

Montagem: Vinicius Nascimento;

Consultoria de montagem: Ricardo Miranda;

Consultoria biográfica: Roberta Camila Salgado;

Edição de som e mixagem: Ricardo Cutz;

Produtor musical: Vinicius França;

Trilha sonora: Daniel Ayres e Bruno Buarque;

Participação especial na trilha: Macalé, Celso Sim e Pepê Machado;

Figurino: Julia Ayres;

Coordenadora de lançamento: Milla Talarico.

Peixes na Choque Cultural

Famoso por suas intervenções urbanas, como as pinturas nas ladeiras de Perdizes, na Zona Oeste de São Paulo, o artista argentino Tec inaugurou mostra individual. A exposição denominada “Swimming Pool”, é o atual cartaz da galeria Choque Cultural, Vila Madalena, São Paulo, SP.

 

Para esta exibição , o artista resgatou as figuras de diversos peixes – tema recorrente em seus trabalhos – numa profusão de cores e dimensões distintas. Ao todo, Tec mostra 20 esculturas realizadas em cerâmica colorida, dispostas em um grande aquário. Nessa mesma instalação poderá ser apreciado um conjunto de pinturas recentes do artista.

 

 

Até 06 de setembro.

Marcelo Tinoco: Dioramas Fotográficos

30/jul

A Caixa Cultural, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, na Galeria 1, a exposição “Histórias Naturais”, individual do fotógrafo paulistano Marcelo Tinoco, vencedor do Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, em 2013. Sob curadoria de Mario Gioia, a mostra reunirá doze obras, construídas em grandes formatos a partir de um sofisticado processo de fotomontagem.

 

Por meio de dioramas fotográficos tridimensionais e hiperrealistas, Marcelo Tinoco apresenta, em “Histórias Naturais”, um universo impressionante de sonhos e utopias, que tem no espírito da colagem um de seus principais motores. Detalhista e refinado colorista, o fotógrafo confere grande beleza, e uma certa dose de humor, às cenas contemporâneas retratadas, criando histórias dentro de uma fotografia de arte.

 

“Para montar “Historias Naturais”, procurei recriar situações utópicas, em que o homem se relaciona com animais e a natureza, mesmo que de forma absurda e saudosa, construindo uma relação afetiva entre as partes”, explica Marcelo Tinoco, que se inspirou na pintura flamenga e renascentista para compor suas obras.

 

As telas misturam moinhos a rodas-gigantes e paredões de prédios. Crianças jogando bola no cemitério, ciprestes, árvores com galhos quebradiços e sem folhagem também aparecem. Assim como perdigueiros, gansos, araras, seriemas, porcos, leões, zebras, girafas são inseridos no ambiente urbano com naturalidade. Desta forma, um mundo hiperreal e utópico é montado.

 

O trabalho de criação de Marcelo Tinoco pode ser dividido em três partes.  A partir do ato fotográfico em si, ele documenta a natureza, animais, pessoas e cidades. Em seguida, ele separa e arquiva as fotografias de acordo com as condições em que foram tiradas. Por último, mediante um processo de montagem digital, ele constrói a natureza ficcional de suas telas fotográficas que se assemelham a quadros. Para a composição de cada obra, Tinoco usa aproximadamente 250 fotografias, e leva até três semanas para montá-la e finalizá-la no computador.

 

Com rigor fotográfico, aliado à alta definição e a um trabalho manual de calibragem da luz, Tinoco cria efeitos de tridimensionalidade e hiperrealismo, próprios dos dioramas, em suas obras. “Consciente das contradições dos nossos dias, Marcelo Tinoco constrói pouco a pouco uma obra que realça os paradoxos e a instabilidade do fotográfico (mais que a fotografia) e traça ligações com a história da pintura”, afirma o curador Mario Gioia.

 

 

Sobre o artista

 

Marcelo Tinoco nasceu em 1967, em São Paulo, onde reside. Formado em Artes Plásticas, possui estúdio fotográfico desde 1995, e atuou nas áreas editorial, publicitária e de livros de arte. A partir de 2009, passou a se dedicar exclusivamente à fotografia autoral e pesquisa para aprimoramento de seu trabalho artístico. Começou a expor em 2010. Entre exposições de que participou estão: individual Fotorama, no Consulado Brasileiro de Frankfurt, Alemanha (2011), individual do projeto Nova Fotografia, no Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo (2012), individual Timeless, II Mostra do Programa de Fotografia do CCSP, São Paulo (2012/2013), participação na I Foto Bienal MASP / Pirelli, MASP, São Paulo (2013) e MON, de Curitiba (2013/2014), e a individual  Era uma vez… na Zipper Galeria, com curadoria de Ricardo Resende, São Paulo (2014).

 

No dia 13 de setembro, às 16h, haverá um encontro com Tinoco, que falará sobre seu processo de criação e concepção artística.

 

 

 

De 04 de a 19 de outubro.

Jan Siebert no Rio

O Centro Cultural Correios, Centro Histórico, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “Jan Siebert – “Natureza Urbana”, que reúne cerca de 25 pinturas do artista alemão nascido em Hamburgo, em 1971, e radicado no Rio desde 2009. Os trabalhos têm tamanhos variados e foram produzidos entre 2001 e 2013 em diferentes cidades, como Vera Cruz, no México, Hamburgo, na Alemanha, e Santos, São Paulo e Rio, no Brasil.

 

A exposição se divide que em dois espaços: no primeiro se concentra a produção do artista dedicada à paisagem urbana, e, no outro, estão retratos e ambientes interiores. O trabalho de Jan Siebert é feito durante a noite, no próprio local retratado, em um período que pode durar até uma semana. Ele busca locais como a zona portuária ou o centro da cidade, interessado nesta paisagem urbana e também em determinada luz, e no seu contraste com as sombras que provocam. Durante o dia, esses locais estão plenos de gente, e à noite, desertos, ganham um protagonismo na obra de Jan Siebert.

 

“Às vezes, um local movimentado durante o dia não chama a atenção, é quase invisível, pois as pessoas estão em trânsito, ninguém os vê. São lugares de passagem. Entretanto, à noite, ganham vida, embora desertos”, diz o artista.  Na obra de Jan Siebert, esta paisagem arquitetônica e urbana fica em primeiro plano. Dentre as fotos, estão várias feitas sob a antiga perimetral, meses antes de sua derrubada. Apenas seis pinturas foram feitas durante o dia em ambientes fechado, e mostram retratos feitos em ambientes interiores. Nesses trabalhos, o público pode observar que as pessoas, embora destacadas, se relacionam profundamente com seu entorno, tanto o espaço como os objetos.

 

 

 Até 28 de setembro.

Dois em Ribeirão Preto

A Galeria Marcelo Guarnieri, unidade de Ribeirão Preto, SP,  apresenta as exposições individuais e simultâneas dos artistas Julio Villani e Renata Siqueira Bueno.

 

Sobre Julio Villani e Almost Readymades: Pequenas Madalenas

 

“Se eu usar a geladeira afim de refrigeração, ela é uma mediação prática; não é um objeto, mas um frigorífico. Nesse caso, eu não o possuo. A posse nunca se refere à um utensílio, já que ele é vinculado ao mundo real, mas sempre ao objeto abstraído de sua função, transformado em algo subjetivo ao sujeito”. (Jean Baudrillard, O sistema dos objetos)

 

É por uma breve nota no projeto Passagen-Werk que Walter Benjamin confronta a noção de vestígio à de aura, ambas remetendo às emoções podendo ser despertadas por objetos naquele que os observa. De acordo com o aforismo que o filósofo propõe, “o vestígio é o advento de algo próximo, por mais distante que possa ser o que o deixou; a aura é a manifestação de uma distância, por mais próximo que possa ser o que a evoca.” Os objetos de Julio Villani, são ao mesmo tempo familiares e fantásticos, tributários das duas noções.
A função original dos utensílios desponta sob suas formas, tornando-os – apesar de sua idade – em vestígios de uma memória comum.
O blecaute do destino prático dos antigos apetrechos permite sua apropriação enquanto objetos. As formas domésticas tornam-se então recipientes das projeções imaginárias do artista; elementos que contrariam as exigências da funcionalidade para atender uma experiência de um tipo diferente: viram sonhos, seres com sopro de vida, evasão.
Proporcionando-lhes uma história que os distancia da sua fabricação – transformando os objetos pertencendo à um momento histórico específico em figuras atemporais – Villani os reveste de aura.

 

Esses objetos são, de certa forma, os seus Traumhäuser (casas de sonho). O termo, cunhado por Walter Benjamin, descreve edifícios de formas historicistas – que tem uma “aparência” familiar – reinvestidos de novos usos relacionados com um sonho. Os Traumhäuser surgem à partir de uma prática contraria à da oniromancia surrealista. Ao invés de extrair dos sonhos elementos à serem aplicados à realidade, seu ponto de partida é material: objetos arqueológicos, bibelôs, fragmentos, imagens desbotadas ou utensílios obsoletos, os vestígios se unem para formar um mundo povoado de objetos e seres, criando uma paisagem de sonho, levando a uma experiência fantástica.

 

O olhar que deita Villani sobre os objetos resgatados nos mercados de pulga parisienses é desse tipo: premendo os olhos, ele vê na concha uma garça, a bigorna é tatu.
Os bichos se impõem à visão do artista sem terem sido suscitados por um exercício de memória consciente. Se ele adiciona aqui um rabo, umas asas acolá, é simplesmente para nos dar a ver a sua visão, que se inscreve em seguida no espectador como a revelação de uma realidade nunca percebida – e no entanto presente – no objeto de origem.
Nesse sentido, os almost readymades de Villani materializam o estado de espírito descrito por Proust quando do memorável episódio da madalena: de repente, o que fora perdido é reencontrado. (texto por Betina Zalcberg)

 

 

Sobre o artista

 

Julio Villani, nasceu em 1956, em Marília, São Paulo, Brasil. Vive e trabalha em Paris, França. Cursou Artes Plásticas na FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado, na Watford School of Arts de Londres e na École Nationale Supérieure des Beaux Arts de Paris. Participou de diversas exposições individuais e coletivas, das quais destacam-se nas seguintes instituições: Pinacoteca do Estado de São Paulo; Paço Imperial, Rio de Janeiro; Museo del Barrio, Nova York, EUA; Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, Espanha; MAM – Museu de Arte de São Paulo; MAM – Museu de Arte do Rio de Janeiro; Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris, França.

 
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Sobre Renata Siqueira Bueno e Ascensão

 

Dentro do contexto urbano, somos permitidos a nos enxergar apenas como parte de uma multidão, a aglomeração nos impossibilita uma consciência de autonomia total e pela inércia formamos um grupo. Essa consciência pode sofrer variações, estimulada, por exemplo, por ruídos que ativam a coletividade desse grupo: comportamentos duvidosos ou acontecimentos inesperados. A subitez de uma queda provoca uma reação que é, por excelência, coletiva. O indivíduo que cai ganha um rosto e uma qualidade: a fraqueza, atribuída por esse grupo que agora compartilha do mesmo sentimento.

 

As fotografias se propõem a localizar em outra esfera esse indivíduo que cai, talvez na esfera do sagrado ou do absurdo, apesar da queda ele continua anônimo. O instante da fotografia impossibilita que saibamos o que aconteceu depois, não sabemos quem ele é, talvez não interesse: podia ser qualquer um. A cena captada, que poderia ser um still de um filme proibido ou um registro descompromissado, adquire um caráter misterioso e imaculado, se desassociando da qualidade da fraqueza. É como se o corpo tivesse sido acometido por um momento de luz divina, uma força exterior que desestrutura o indivíduo e o obriga a ter a consciência de autonomia em relação ao coletivo ao seu redor.
Aqueles que aparecem caindo nas fotografias são na verdade amigos, atores ou dançarinos convidados para simular a ação. Isso não é algo que deve estar necessariamente explícito ou oculto. A intenção é que nunca possamos ter certeza de nada através da imagem, essa dúvida é da natureza da fotografia.
Percebemos em Ascensão o confronto entre as especificidades da técnica e o conceito do trabalho. Através de uma reflexão sobre o instante fotográfico, Renata se utiliza de aparelhos analógicos que evidenciam o embate entre dois tempos distintos. Talvez seja esse o tempo da fotografia analógica que possibilite à imagem uma força que faz da queda algo da ordem muito mais do poder, que da falência.

 

Os lugares definidos para as tomadas fotográficas são sempre aqueles onde o indivíduo nunca pode se encontrar em solidão: ou por haver uma aglomeração de pessoas ou pela existência de uma arquitetura construída para abrigar esse corpo coletivo ou, em último caso, pela impossibilidade de não haver a subtração dos rastros humanos na cena. Espaços sem a delimitação de serem públicos ou privados, possíveis de serem identificados ou não. Espaços onde seja evidente a construção da cena ou, ainda, onde haja uma casualidade do instante na captura da imagem. (texto por Julia Coelho e Renan Araújo)

 

 

Sobre a artista

 

Renata Siqueira Bueno, nasceu em 1960, em  Anápolis, Goiás, Brasil. Vive e trabalha entre Ribeirão Preto e São Paulo, Brasil. Tem trabalhado com figurino e cenário para teatro desde os anos 80. Atuando entre Brasil e França. Como artista participou de diversas exposições individuais e coletivas, das quais destacam-se os seguintes espaços: OpenScape – ANOA Gallery/Galerie Patrick Mignot, Paris, França; 8º Paraty em Foco – Festival Internacional de Fotografia, Brasil; Arte e Medicina, Museu Histórico Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil; SESC Santo Amaro, São Paulo, Brasil.

 

 

De 02 a 26 de agosto.

Mira Schendel – Retrospectiva

28/jul

A Pinacoteca do Estado de São Paulo, Praça da Luz, São Paulo, SP, instituição da Secretaria de Estado da Cultura, apresenta a exposição retrospectiva da artista suíça, naturalizada brasileira, Mira Schendel que ao lado de seus contemporâneos Lygia Clark e Helio Oiticica, reinventou a linguagem do Modernismo Europeu no Brasil. Com patrocínio do banco Credit Suisse, a mostra é organizada pela Pinacoteca de São Paulo e a Tate Modern, Londres, em associação com a Fundação de Serralves – Museu de Arte Contemporânea, Porto.

 
Com curadoria de Tanya Barson da Tate Modern e Taisa Palhares da Pinacoteca, a exposição já foi apresentada na Tate onde foi um grande sucesso de público, depois foi para a Fundação de Serralves, Porto, Portugal, e agora completa a última parte da itinerância na Pinacoteca. Mais uma vez, o público brasileiro será privilegiado. Além das obras expostas nas mostras anteriores, no Brasil serão incluídas maior número de trabalhos das séries “Bordados” e “Naturezas-mortas” (década de 1960) e “Mandalas” (década de 1970), bem como a série “Papéis Japoneses” (década de 1980) e um conjunto significativo de trabalhos do acervo do Museu de Arte Contemporânea da USP, que foram doados pelo crítico de arte e amigo da artista, o colecionador Theon Spanudis.

 

Apresentada em ordem cronológica a exposição, que ocupa o primeiro e segundo andar do museu, reúne cerca de 300 obras, entre pinturas, desenhos, esculturas e instalações, todas realizadas entre os anos 1950 e 1987, incluindo a última série produzida em vida pela artista, as pinturas conhecidas como “Sarrafos”. O grande destaque da mostra fica por conta da produção de obras em papel de arroz dos anos 1960: a série “Monotipias”, “Trenzinho”, “Droguinhas”, todas de 1965; a sala de “Objetos gráficos”, 1967, os “Cadernos”, 1970, as instalações “Ondas Paradas de Probabilidade”, 1969, e “Variantes 1977″; além da série “O retorno de Aquiles”, 1964, em que pela primeira vez Mira Schendel utiliza o texto como elemento visual da composição. “Esta é a primeira grande mostra da Mira Schendel desde 1996. De lá para cá, a artista tornou-se muito mais reconhecida no contexto internacional, o que se reflete na exposição pelo grande número de obras de coleções e museus internacionais como o Museum of Modern Art – NY, o Houston Museum, a Tate Modern – Londres entre outros. Neste sentido, é uma oportunidade única para o público brasileiro apreciar essas obras que dificilmente serão expostas novamente no Brasil tão cedo.” Afirma Taisa Palhares.

 

A exposição é acompanhada por um catálogo ilustrado, editado pela Pinacoteca de São Paulo e a Tate Publishing. Com textos inéditos de Tanya Barson, Taisa Palhares, Cauê Alves, Isobel Whitelegg, John Rajchman e Lisette Lagnado, o catálogo é uma versão ampliada da edição inglesa.

 

 

 

Até 19 de outubro.

Pinturas de Cristina Canale

A riqueza formal dos trabalhos de Cristina Canale, que está entre os mais importantes pintores brasileiros em atividade, pode ser vista de perto em sua nova individual na Galeria Nara Roesler, Pinheiros, São Paulo, SP. A mostra, traz cerca de 12 obras produzidas entre 2013 e 2014, reforçando as relações entre figuração e abstração que norteiam a pesquisa incessante da artista desde 1993.

 

Conceituando os trabalhos exibidos na galeria, Cristina Canale afirma: “Procurei criar territórios de abstração dentro de um contexto figurativo. Estas áreas abstratas surgem, por exemplo, como fundo da composição, substituindo o que seria um contexto ambiental ou dentro de algum elemento da pintura – como, no caso da obra Menina e Vento no vestido da mulher – passando então a protagonizar a obra. Ou o geométrico é identificado a um elemento figurativo – como o caso da casa-tenda na tela Casa Triângulo.”

 

Dessa forma, sua produção recente é calcada no binômio figura-abstração, com ênfase no orgânico-geométrico, subvertendo uma divisão da linguagem abstrata em dois recursos distintos. “A abstração como linguagem dentro da História da Arte tem se desenvolvido na direção do geométrico ou do gestual. Nas áreas em que uso a referência geométrica, ela traz também o gestual, uma vez que as formas têm tratamento diferenciado e não inteiramente gráfico. A ideia é confrontar as linguagens da abstração com a da figuração.”

 

“Essa questão já faz parte da minha ‘dramaturgia’ desde sempre, mas com diferentes enfoques. O diferencial nesse grupo de trabalhos é a equivalência de peso entre o plano figurativo e a referência abstrata. A narrativa nessa série também aquiriu tons de abstração, e não mais literários. É mais atmosfera que história”, explica a artista.

 

 

Pesquisa pictórica

 

Para Cristina Canale, o ano de 1993 marcou o abandono definitivo de uma pintura mais matérica e empastada, ao gosto do neorrealismo alemão que caracterizava o grupo de pintores denominado Geração 80 – do qual Canale fez parte ao lado de nomes como Beatriz Milhazes e Daniel Senise (amigos próximos da artista). De acordo com o crítico Fernando Cocchiarale, “a superação, na Alemanha, dos preceitos pictóricos que a situavam no contexto da Geração 80 marca uma inflexão fundamental da obra de Canale. Desde então, as transformações de seu trabalho devem ser buscadas unicamente na maturação interna ao processo criativo”.

 

Em 1993, com sua mudança para Berlim, a artista parte para uma nova busca pictórica que transforma a construção de perspectiva, a temática e a utilização de matéria-prima em seus quadros, sintetizando as dinâmicas do movimento da vida através da tensão entre cultura e natureza, arquitetura e ser vivo. Nesse movimento, ela traduz o fluxo oculto do cotidiano em elementos opostos. Em lugar do excesso de tinta, camadas econômicas, mesmo translúcidas, permitindo superposições. Em vez da perspectiva construída no ponto de fuga, uma tridimensionalidade mínima, quase planar. Em oposição à utilização de símbolos rígidos, a alternância de uma geometria baseada em elementos arquitetônicos, como ladrilhos e lajotas, abandona a frieza formal por meio da inserção de elementos familiares e de seres vivos.

 

Nas palavras do curador Luiz Camillo Osorio, “A figura ganha o primeiro plano e está sendo projetada para fora. Neste aspecto é uma imagem que trabalha em sentido anti-perspectivo, vinda de dentro para fora da tela e não levando o olhar em direção a um ponto de fuga. O olhar do espectador ganha densidade e fluidez, assumindo uma materialidade que as imagens virtuais não têm. A pintura é uma reserva diante da manipulação desenfreada das coisas. Diante das pinturas de Cristina Canale estamos sempre à espera de uma deflagração do mundo enquanto cor.”

 

 

Até 23 de agosto.

Modernos / contemporâneos: design brasileiro de móveis

A nova exposição da galeria Bolsa de Arte, Jardins, São Paulo, SP, “Modernos/Contemporâneos: design brasileiro de móveis”, exibe peças de alguns dos nomes mais expressivos do design nacional. Com curadoria de Alberto Vincente e Marcelo Vasconcellos, sócios da Galeria Memo, a exposição traz cerca de 50 criações, assinadas por artistas das décadas de 1940, 1950 e 1960, mas também de nomes contemporâneos.

 

O critério que norteia a mostra é o caráter pouco óbvio do que será apresentado neste panorama. A exposição traz cerca de 50 criações que dialogam naturalmente com o mercado de arte. A ideia é fazer um contraponto entre itens vintage e novos, ressaltando a essência do que torna cada peça atemporal, mas extinguido qualquer seqüência cronológica na apresentação. Entre os destaques ressalte-se, por exemplo, a cadeira “Três Pés”, de Joaquim Tenreiro, mas também lançamentos como a série “Palafitas” de Brunno Jahara.

 

Entre os contemporâneos está um banco de Zanini de Zanine e peças pouco vistas, como a mesa lateral da série “Desconfortáveis”, dos irmãos Campana, a mesa “Metro” de Carol Gay, a cadeira “Cuica” de Carlos Motta e a mesa “Cone”, de Nido Campolongo, todos de tiragens limitadas. Peças do acervo particular de Aida Boal, uma rara cômoda da fábrica Cimo, um lustre de três andares, assinado por Joaquim Tenreiro, a “Easy Chair vintage”, de Oscar Niemeyer, e a poltrona “Revisteiro”, de Zanine Caldas também poderão ser apreciados na exibição.

 

 

Sobre as duas fases

 

O design de móveis teve uma época áurea no Brasil entre as décadas de 1940 e 1960, com grandes criadores, guiados quase sempre por uma estética alinhada com a arquitetura modernista. Além de peças que ficaram para a história, um grande legado do movimento foi a introdução de aspectos de brasilidade na produção moveleira nacional, contrapondo-se à cultura copista que se impunha até então. Hoje, a atividade vive novamente um momento de efervescência no País. Não se pode falar em movimento, talvez não caiba pensarmos em uma geração (apenas). A diversidade expressiva e do perfil de seus criadores é a marca do design brasileiro de móveis contemporâneos, que hoje ganha o mundo, revivendo com características tão distintas

 

o reconhecimento conquistado há décadas pelos designers brasileiros modernos. Entre
os expoentes de agora, há herdeiros do modernismo, gente da marcenaria, artistas ecléticos, designers próximos da arte contemporânea, outros embrenhados na cultura popular. Madeira, metais, plástico, acrílico, tecidos e revestimentos sintéticos fazem parte deste amplo universo, em processos artesanais e industriais.

 

 

Sobre a curadoria

 

Albert Vicente e Marcelo Vasconcellos são sócios da Galeria MeMo (Mercado Moderno), especializada em design, no corredor cultural do Rio de Janeiro. Entre as ações de divulgação do design em que estão envolvidos nos últimos anos, estão a organização dos livros Móvel Brasileiro Moderno (Aeroplano/FGV) e Design brasileiro de móveis: cadeiras, poltronas, bancos (Olhares), a curadoria das mostras  Hiperbólico – Jahara 10 anos, Isto é uma mesa e Do moderno ao contemporâneo, todas no Museu Histórico Nacional. Além disso, a produção de mostras de Sergio Rodrigues, Fernando Mendes, Rodrigo Calixto e Zanini de Zanine na própria galeria e em espaços como a Casa Electrolux e o Museu Oscar Niemeyer, entre 2012 e 2014. A MeMo foi o único espaço dedicado ao design na América Latina a sair publicada por três anos consecutivos na revista WallPaper, guia de viagem para turistas antenados.

 

 

Sobre a Bolsa de Arte

 

Criada em 1971, a Galeria Bolsa de Arte tem sido um importante agente propulsor do mercado de arte nacional, especialmente no segmento de leilões de arte moderna e contemporânea. Em 1999, lança a edição bilíngue do livro “Joaquim Tenreiro – o mestre da Madeira” com exposição retrospectiva na Pinacoteca do Estado de São Paulo, sob a curadoria da arquiteta Janete Costa, antecipando a revalorização do móvel moderno brasileiro, observada na última década. Com escritórios em São Paulo e Rio de Janeiro, a Galeria foi pioneira, em 2008, quando promoveu um leilão com peças de design.

 

 

Até 04 de agosto.

Leonilson: Truth, Fiction

25/jul

A Pinacoteca do Estado de São Paulo apresenta, no quarto andar da Estação Pinacoteca, Largo General Osório, Santa Ifigênia, São Paulo, SP, a mostra “Leonilson: Truth, Fiction”. Com curadoria de Adriano Pedrosa, a exposição reúne mais de 150 obras de José Leonilson, entre pinturas, desenhos, bordados, objetos e uma instalação. A seleção concentra-se na produção “madura” do artista, com trabalhos realizados a partir de 1987, e inclui a última peça concebida pelo artista: a instalação montada na Capela do Morumbi em 1993.

 

Para Adriano Pedrosa, esse período assinala a intensificação das qualidades sintéticas, ou “minimalistas”, na obra do artista – como em desenhos e bordados feitos com poucas linhas (para representar figuras diminutas e grafar textos breves, valorizando os vazios e as grandes áreas de cor) ou, ao contrário, em papeis e tecidos preenchidos por conjuntos de um mesmo elemento (que pode ser uma sequência numeral ou um punhado de botões).

 

Como sugere o título da exposição, a curadoria também investiga as maneiras pelas quais a obra do artista se compõe tanto da apropriação ou de referências do real como dos exercícios de fabulação. Por exemplo, quando justapõe conteúdos autobiográficos e ficcionais; quando mistura a agenda pública dos noticiários com episódios da vida privada, etc. O nome da mostra, a propósito, vem dos escritos presentes em um desenho de 1990, intitulado “Favorite game”.

 

Ainda segundo o curador, a exposição não deve se distribuir pelo espaço em ordem cronológica, mas dividida em sete módulos, que consideram aspectos formais, temáticos, técnicos ou temporais: “Mapas”, “Diário”, “Matemática e Geometria”, “Brancos”, “Capela do Morumbi” e “1991”, além de um núcleo dedicado às ilustrações que Leonilson publicou no jornal “Folha de S. Paulo” entre 1991 e 1993. Acompanha a mostra, ainda, um livro com entrevista inédita realizada por Adriano Pedrosa com Leonilson, em 1991, e reproduções das obras presentes na Estação Pinacoteca. Nesta entrevista, o artista fala de sua formação artística, do início da trajetória profissional, da arte e da música por que se interessa e do meio artístico no Brasil, entre outras coisas. A edição deste volume, a ser publicado pela Cobogó, é também de Adriano Pedrosa, com a colaboração de Isabel Diegues.

 

 

De 09 de agosto a 09 de novembro.