A NY de Ivan Pinheiro Machado

01/abr

Ivan Pinheiro Machado, pintor, arquiteto e fotógrafo, abre a exposição “O Mundo Como Ele Não É”, no Espaço Cultural Citi, Avenida Paulista, São Paulo, SP, com curadoria de Jacob Klintowitz. A mostra conta com 28 telas que reproduzem cenas da cidade de Nova York com exatidão e realismo.

 

A precisão da fotografia e o fascínio pessoal por grandes centros urbanos representam as maiores inspirações de Ivan, levando-o a recriar, em suas pinturas, todos os “cacos” cotidianos que se manifestam em placas, avenidas, becos, sinais, etc. “É tão forte o realismo das cenas urbanas de Ivan Pinheiro Machado que podemos não sentir que se trata de ficção. A sua obra tem a particularidade de uma delicada luz que a percorre e é quase despercebida.”, comenta o curador da exposição. Com o tema urbano, o artista registra uma existência visível em detalhes da megacidade: “Gosto dos contrastes, como dos “yellow cab” novaiorquinos contra o cinza da cidade. Curto os outdoors, as pontes, os edifícios, os engarrafamentos, os semáforos agrupados…”, nas palavras do artista.

 

Resultado de um desenvolvimento técnico que vive há quase 40 anos, Ivan Pinheiro Machado usa fotografias como ponto de partida para suas pinturas, seguindo uma estética realista, pautada em grafismos, e demonstrando domínio técnico singular. A temática de seu trabalho pode variar, mas sempre possui uma grande cidade como fundo, evidenciando as surpresas que as ruas e esquinas lhe oferecem. O essencial, para ele, são os detalhes da metrópole: a cor, a luz, o estranho, o inusitado, onde o ser humano atua como “presença ausente” na maioria das telas. “Eu gosto de partir de uma foto e transformá-la, propondo um ângulo intrigante, curioso e até dramático. Aí então o pintor é gratificado, pois as pessoas olham com espanto, como se fosse a primeira vez que estivessem vendo aquilo.”, conclui.

 

 

De 07 de abril a 06 de junho.  

Inéditas de Rogério Reis

31/mar

Fotografar na praia já foi fácil. Nos anos 70, 80, um fotógrafo era recebido de braços abertos pelas tribos que frequentavam as areias cariocas. O tempo passou e o que ficou difícil nos anos 90 virou quase impossível nos dias de hoje. Sacar uma Canon no calçadão é promessa de confusão. O direito de imagem é levado tão a sério atualmente que a solução do fotógrafo Rogério Reis, um apaixonado por personagens que habitam este cenário tão democrático da cidade, foi distribuir tarjas e formas geométricas coloridas sobre o rosto das pessoas. Portanto, da dificuldade surge o trabalho “Ninguém é de Ninguém”, um projeto iniciado há três anos, e que agora chega à Galeria da Gávea, Alto Gávea, Rio de Janeiro, RJ, com 20 fotografias, seis delas em série inédita, intitulada “Paisagens Humanas”.

 

Será a primeira oportunidade de apreciar, de forma panorâmica, este trabalho que encantou a Maison Européenne de la Photographie, a MEP, a ponto da instituição francesa comprar todas as 34 fotos, quando exibidas no “FotoRio 2011″. Ou seja, a fase com o nome de “Paparazzi do Anônimo” faz parte do acervo francês e o carioca pouco viu ao vivo este trabalho. No momento, algumas fotos estão em cartaz no CCBB-Rio, na mostra “Amor, Amor, Amor”.

 

A novidade em “Paisagens Humanas” é que Rogério Reis recorre a imagens mais abertas, com menos closes e mais pessoas, mas sempre com suas tarjas coloridas, criando harmonia entre personagens e a luz obtida nas fotografias. Rogério Reis sempre se interessou por temas urbanos. Investiu tempo e olhar sobre a violência em trabalhos como “Microondas” e “Travesseiros Vermelhos”. Passado este momento, seu assunto agora é a beleza dos beijos, dos corpos em roupa de banho, suor, cadeiras, barracas e tudo o mais que nos remeta ao universo praiano.

 

 

De 16 de abril a 23 de maio.

Mario Carneiro em livro

A belíssima edição do livro que apresenta a obra completa de Mario Carneiro contribui com valor inestimável para a memória das artes visuais do país e será lançado na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, dia 10 de abril. Os autores realizam bate papo com o público antes dos autógrafos. O livro será distribuído gratuitamente ao público presente.  Seu “olhar educado nas artes visuais” – como o próprio Mario Carneiro gostava de dizer – foi o diferencial na sua fotografia de cinema, imprimindo nas suas imagens uma sensibilidade e uma temporalidade características.

 

Sua concepção de iluminação foi identificada e celebrada por companheiros de trabalho e estudada por teóricos do cinema.   No entanto, sua extensa e rica obra visual, composta por desenho, pintura, gravura e fotografia ainda não haviam sido reunidas e estudadas. A publicação do livro “Mario Carneiro  Trânsitos”,  vem preencher esta lacuna, evidencia a dimensão da obra do artista e colabora para acrescentar informação à história da arte brasileira recente.

 

Os textos do curador, poeta e crítico de arte Adolfo Montejo Navas, do jornalista, escritor, pesquisador e crítico de cinema, Carlos Alberto Mattos e de Fabiana Éboli, artista plástica, professora e pesquisadora de artes visuais, respondem eficientemente ao conceito central do livro que é a ideia do trânsito do artista pelas diferentes linguagens. Dividido em sete capítulos com cerca de 300 imagens, a edição descortina a vasta produção visual do artista multimídia reconhecido como o grande fotógrafo do Cinema Novo. Sua atividade profissional nos meios cinematográficos dispensa apresentação. Contemplado com o Prêmio Procultura de Estímulo às Artes Visuais – 2010, o livro será distribuído gratuitamente às principais instituições culturais de todo o país.

 

 

Sobre Mario Carneiro

 

Mario Carneiro fez desenho, gravura, pintura, fotografia, cinema e se assumia como pintor. Sua formação universitária foi em arquitetura. Formou-se em 1955 na Faculdade Nacional de Arquitetura, no Rio de Janeiro, paralelamente ao estudo da pintura. O desenho foi uma constante, feito em casa ou no ateliê, nos sets de filmagem ou na prancheta. No período passado na França, fins da década de 1940 e início da de 1950, onde Mario Carneiro conhece Iberê Camargo e com ele estabelece uma amizade e há uma grande produção de gravura, ao lado do estudo da pintura. Nesta mesma época, junto com o pintor Jorge Mori, faz cópias dos grandes mestres no Louvre, exercita a fotografia e logo surge o cinema através de uma câmera presenteada pelo pai por sugestão da irmã. A fotografia em preto e branco atesta, já nos fotogramas da década de 40, um olhar agudo nos contrastes. Em 1953, Mario faz seus primeiros filmes amadores, alguns de caráter experimental e influência dadaísta, entre eles “A Boneca”, com colaboração de Mori. A obra de Mario Carneiro, a maior parte produzida na segunda metade do século XX, é marcada pela passagem da modernidade para a contemporaneidade. Mario fez parte de uma geração de artistas que criou pontes nessa transição, explorando várias linguagens artísticas e deixando uma obra diversa e coerente com seu momento histórico.

 

 

Sobre os autores

 

Adolfo Montejo Navas é poeta, critico e curador independente. Correspondente da revista internacional Lápiz, de Madri, desde 1998, e colaborador de diversas revistas culturais. Ganhou Premio Mario Pedrosa de Ensaio Arte e Cultura Contemporânea (2009, Fundação Joaquim Nabuco). Sua última produção bibliográfica inclui “Anúncios” (Katarina Kartonera, 2012), “O outro lado da imagem – A poética de Regina Silveira” (Edusp, 2012), “Poiesis Bruscky” (Cosac Naify, 2013).

 

Carlos Alberto Mattos é jornalista, crítico de cinema e escritor. Autor de livros sobre os cineastas Walter Lima Jr., Eduardo Coutinho, Carla Camuratti, Jorge Bodanzky, Maurice Capovilla e Vladimir Carvalho. Foi coordenador de cinema do CCBB-Rio e presidente da Associação de Críticos  de Cinema-RJ. Criou o DocBlog (extinto) em O Globo. É editor da revista Filme Cultura.

 

Fabiana Éboli Santos é Mestre em Linguagens Visuais – EBA- UFRJ, artista plástica, professora na Escola de Belas Artes UFRJ. Socióloga, curadora e pesquisadora em artes visuais, com diversos prêmios em seu currículo, exposições e textos publicados.

 

Medos Modernos

27/mar

O Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, promove a segunda edição de seu programa “Arte Atual”. Elaborado pelo Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake (NPC), foi concebido para promover exposições coletivas de artistas emergentes, em que projetos experimentais ambiciosos possam ser concretizados e apresentados ao público, contando, para isso, com o apoio ativo de galerias de arte presentes no país. Para esta segunda edição, o Instituto Tomie Ohtake apresenta Medos Modernos, exposição dos artistas Luiz Roque, Matheus Rocha Pitta e Nicolás Robbio.

 

Com curadoria do Núcleo de Pesquisa e Curadoria, “Medos Modernos” é uma exposição pensada a partir de entendimentos do que é o moderno – palavra-chave associada às transformações aceleradas desde meados do século XIX, com seus múltiplos desenvolvimentos científicos e sociais e implicações que vão desde a inovação e contraposição ao passado, passando pela industrialização e progresso, até a padronização e controle social resultantes do avanço tecnológico. O moderno – seja enquanto período histórico, sinônimo de vanguarda, tempo presente ou evolução – gerou um processo dúbio, em que há ora otimismo e entusiasmo ora dissintonia do indivíduo frente às facilidades, invenções e alienações de um vasto contexto.

 

As obras que integram a mostra “Medos Modernos” apontam para a permanência da ansiedade que surgiu com a modernidade, sem necessariamente citar as vanguardas do modernismo. Assim, reverbera processos que marcaram profundamente as estruturas sociais e psíquicas dos indivíduos, chegando ao extremo de quadros de ansiedade e neurose. Atualmente, os sintomas inerentes dessa civilização moderna seguem latentes na tensão e insegurança frente ao imperativo da produtividade e desperdício da economia capitalista, como se colocará em questão na instalação de Matheus Rocha Pitta; à necessidade de adequar-se a categorias e padrões identitários e comportamentais pré-estabelecidos, como problematizado pelo vídeo de Luiz Roque; e à imposição de sistemas de catalogação e normatização dos sujeitos, dos objetos e do espaço, como tensionado pela produção de Nicolás Robbio.

 

 

Artista e Obras

 

Luiz Roque, Cachoeira do Sul, RS, 1979. Trabalhando principalmente com fotografia e vídeo, Luiz Roque se apropria de elementos da cultura de massa e da mídia para levantar tanto questões identitárias e existenciais, quanto as diferentes formas de manifestações de poder. Muitas vezes o artista gaúcho propõe cenários artificiais, beirando a ficção científica, que apontam soluções para impasses e situações de conflito. Para “Medos Modernos”, Luiz Roque apresentará um desdobramento do seu projeto “Ano Branco”, apresentado e realizado na ocasião da 9ª Bienal do Mercosul, em 2013, que aborda a questão da transexualidade. Depois de quase um ano de pesquisas em colaboração com o Centro de Engenharia Mecatrônica da PUC-RS, o artista projetou um futuro no qual esse tipo de intervenção já tinha passado por uma batalha política de aceitação e institucionalização. O resultado é um filme que flerta com a ficção científica no qual uma mulher está sendo preparada ou acabou de passar por uma cirurgia de mudança de gênero. Em uma sociedade ainda pautada por parâmetros conservadores no que diz respeito à sexualidade e formas de experienciá-la, o cenário futurista e a ambiguidade do filme de Luiz Roque instigam os espectadores a refletir sobre a identidade sexual e a liberdade sobre o próprio corpo, assim como as implicações excludentes dos conceitos de “normal” e  “natural”.

 

Nicolás Robbio, Mar del Plata, Argentina, 1975. Artista residente em São Paulo desde 2002 e graduado em artes plásticas, tem no desenho sua principal ferramenta de expressão e elaboração conceitual, presente mesmo em instalações e projeções. Desenhos técnicos e elementos da arquitetura integram corriqueiramente a sua produção, que questiona e readapta uma série de sistemas de representação usuais. Para “Medos Modernos”, Nicolás Robbio parte do padrão de representação gráfica dos fluxogramas de autoatendimento telefônico, sistemas funcionais e lógicos baseados em perguntas que exigem respostas binárias – sim ou não. O artista apresentará uma instalação que materializa um diagrama no espaço expositivo, onde objetos diversos tomariam o lugar das células. A transição entre um e outro elemento não se faz por relações lógicas evidentes, como nesses esquemas operacionais, mas por associações acidentais e enigmáticas. Assim, Nicolás Robbio aponta as lacunas e disfuncionalidades de um sistema de representação que tem como ambição a racionalização e a elucidação de uma situação complexa.

Matheus Rocha Pitta, Tiradentes, MG, 1980. O artista cria suas obras a partir do interesse na relação entre sociedade, mercado e consumo, produzindo intervenções no espaço que trazem à tona temáticas sobre a valorização do capital e a força de trabalho humana. Faz uso de linguagens como instalação, escultura, fotografia e vídeo, em que sempre articula imagens e objetos conhecidos e retirados do cotidiano para discutir questões políticas e mercadológicas e incitar o público a desenvolver um raciocínio pautado em suas referências. Em “Medos Modernos”, Rocha Pitta exibirá uma versão de seu trabalho “Deposição”, de 2013, exposto inicialmente no Kunst Im Tunnel – KIT, em Düsseldorf, Alemanha. Para a sala do Instituto, a instalação será composta por alimentos industrializados, dispostos diretamente sobre o chão, prontos e disponíveis para o consumo. O visitante será convidado a experimentar – sem o auxílio de talheres – esses produtos, que estarão abertos, sugerindo o consumo, mas colocando um desafio para o seu conforto. O artista trata, então, do valor das coisas desprovidas de seu estatuto de mercadoria, em uma condição de oferenda, sujeita ao desperdício.

 

 

Sobre o Núcleo de Pesquisa e a curadoria

 

O Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake, coordenado por Paulo Miyada e integrado por Carolina de Angelis, Julia Lima, Olivia Ardui e Priscyla Gomes, vem pesquisando arte brasileira desde 2011. Com projetos de exposição e pesquisas como a Linha do Tempo da Arte Brasileira, o NPC já colaborou com exposições como Paulo Bruscky, Estranhamente Familiar, Jasper Johns, Louise Bourgeois, Arquitetura Brasileira, Tomie Ohtake, entre outras.

 

Paulo Miyada, São Paulo, 1985. Curador e pesquisador de arte contemporânea. Arquiteto e urbanista pela FAU-USP, onde realizou seu mestrado na área de História e Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo. Trabalhou como assistente de curadoria da 29a Bienal de São Paulo (2010), compôs a equipe curatorial do programa Rumos do Itaú Cultural 2011-13 e foi curador das exposições coletivas “Em Direto”, novembro de 2011, e “É Preciso Confrontar as Imagens Vagas com os Gestos Claros”, setembro de 2012, ambas na Oficina Cultural Oswald de Andrade, entre outras.

 

 

Até 04 de maio .

Tabuleiros de Leila Pugnaloni

26/mar

A exposição “Tabuleiros”, de Leila Pugnaloni, curadoria de Marco Antonio Teobaldo, ocupará os espaço da Galeria Pretos Novos, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ. “Tabuleiros” reveste-se como uma espécie de retrospectiva da artista, em que ela pontua historicamente questões relacionadas ao trabalho escravo no Brasil, ao mesmo tempo que resgata lembranças de sua infância no Rio de Janeiro e a influência que a cidade exerceu sobre a sua trajetória profissional. Além dos tabuleiros, a artista exibirá pinturas sobre telas e madeira (séries “Módulos de Luz” e “Jujus”), desenhos e fotografias, produzidas a partir de 2007 até 2014. Nessa exposição a artista cria um arco no tempo através de uma poética desde vida dos escravos, aos ambulantes de hoje em dia.

 

A partir de sua visita ao sítio arqueológico Cemitério Pretos Novos, a artista realiza uma pesquisa sobre o mercado da escravidão no Rio de Janeiro, que remonta um traçado sobre a vida dos escravos de ganho até a rotina dos vendedores ambulantes de hoje em dia. Criando uma instalação com tabuleiros repletos de referências históricas, antropológicas e até mesmo auto-biográficas, Leila Pugnaloni promove, a partir de seu trabalho, uma reflexão sobre a importância do negro no Brasil.

A Galeria Pretos Novos é um espaço voltado à pesquisa curatorial e ocupações artísticas instalado sobre o sítio arqueológico do recém descoberto Cemitério dos Pretos Novos, na Gamboa. Único do país, o IPN tem como missão a preservação da memória da cultura nacional e, com a programação da galeria, divulgar e promover arte contemporânea produzida por artistas brasileiros.

 

Leila Pugnaloni realizou no Museu de Arte do Rio – MAR uma série de oficinas de Desenho, Poesia e Movimento, a partir de leitura de textos do poeta Paulo Leminski e modelos (passista de escola de samba, dançarinos de funk, charm e passinho).

 

 

Até 11 de maio.

Trio na galeria Vermelho

25/mar

Um inédito cartaz triplo é o que oferece a galeria Vermelho, Pacaembu, São Paulo, SP, através das exposições individuais “Neste Lugar” de Daniel Senise (salas 1 e 2), “Repetição da ordem” de Nicolás Robbio (sala 3) e a instalação “Escalpo Islâmico” de Dora Longo Bahia (Terraço). Na abertura aconteceu o lançamento – pelas Edições Tijuana- do livro de artista “La Pintura Española” de Daniel Senise.

 

A arquitetura dos espaços do cotidiano alimenta a concepção e a produção das obras de Daniel Senise, constituindo a poética que permeia sua obra como um todo. O conjunto das obras que integram a individual “Neste Lugar” mantém em sua gênese essa característica e retoma um elemento conceitual importante já utilizado por Senise no início dos anos 2000. Nelas, o artista volta a revelar o interior de grandes espaços expositivos, como nas colagens National Gallery, Gemäldegalerie e Musée D’Orsay.  O resultado do interesse de Senise pela arquitetura, história e dinâmicas empregadas nestes grandes acervos públicos está presente na instalação “Eva”, mostrada no Centro Cultural São Paulo, em 2009. Na obra, composta por blocos similares a tijolos feitos em papier maché, a partir da reciclagem de catálogos, livros de arte e convites de exposições, Senise aponta para o apagamento pelo qual passam vários dos acervos públicos. Em 2009, Senise literalmente escondeu a escultura “Eva”, de Brecheret, atrás de quatro paredes feitas com os restos de papel destas instituições.

 

O mesmo suporte foi utilizado por Senise na instalação apresentada na 29ª Bienal de São Paulo, em 2010. Nesse caso, os blocos de papel reciclado contendo milhares de informações acerca de pintura foram usados não apenas na construção do espaço expositivo mas se transformaram na obra em si, conduzindo o observador, como menciona Marco Silveira Mello, “para atentar às superfícies e ver, nos pequenos  vestígios das placas,… acontecimentos pictóricos ou evocativos à compleição da pintura”. Na instalação “Parede com 5 buracos”, criada por Daniel Senise para o projeto “Travessias 2 – Arte Contemporânea na Maré”, na favela da Maré, RJ, em 2013, a referência a essas grandes instituições é literal. A obra foi apresentada sobre uma parede localizada na entrada do espaço expositivo, com cinco buracos por onde podia-se ver as maquetes idênticas às salas de museus, como o Musée D’Orsay (Paris), o MoMA (Nova York), o National Gallery (Londres), e o MAM RJ (Rio de Janeiro). No ultimo buraco, o observador podia visualizar o espaço onde ele se encontrava. Segundo o artista, a obra revela algo comum nos dias de hoje que é a substituição da presença real decorrente da democratização da informação. “Neste Lugar” contará com duas maquetes. Uma delas será montada na fachada da Vermelho, e reproduzirá o hall de entrada da galeria, sugerindo um jogo metalinguístico entre experiência física e representação pictórica.

 

Já nas obras “Musée du Louvre”, “Museo del Prado”, “Galleria degli Uffizi” e “National Gallery” da série “Museu”, todas de 2013, Senise fragmenta as reproduções publicadas por esses museus sobre suas coleções e acondiciona todo esse conteúdo em caixas de acrílico transparente, criando uma ideia análoga a de coleção, gênese de todo museu. Comentar a história da arte e, mais especificamente, a história da pintura integra o léxico de Senise. Na exposição “Neste Lugar”, entretanto, essa estratégia aparece ampliada, evidenciando o caráter impalpável e imprevisível que intermedia a relação entre observador e obra de arte. “La Pintura Española”, livro de artista que Senise lançou na data de abertura da individual, materializa por meio de um jogo de luzes e espelhos, esse procedimento.

 

 

“Repetição da ordem”

Nicolás Robbio

 

A individual “Repetição da ordem” de Nicolás Robbio foi construída a partir de três símbolos que representam o Poder: a bandeira, a grade e a moeda. Símbolo de estados soberanos, clãs ou de sociedades de pessoas regidas por lei ou pela tradição, a bandeira aparece na vídeo instalação “Sem Título” (2014), representada apenas pela sombra que reproduz. Sua matriz, nesse caso ausente, nos daria pistas de sua procedência. Porém, o interesse de Nicolás Robbio está na simbologia da “Bandeira”. “Los de arriba, los de abajo. Los buenos, los malos”, vídeo criado por Robbio em 2011, emprega imagens de grades de ferro utilizadas em casas e edifícios, para tecer um comentário sobre a impossibilidade de permanência e de conciliação entre opostos. O acúmulo de poder aquisitivo acontece por meio da moeda. No “Todos os caminhos levam a Roma” [2014], duas moedas de países diferentes, como Inglaterra e Colômbia, se relacionam de forma equilibrada num sistema de engrenagem, como se o valor que representam pudesse ser equivalente. Em “Repetição da ordem” Robbio cria uma representação acerca da sociedade atual, por meio dos símbolos do poder que a fazem funcionar.

 

 

Escalpo Islâmico

Dora Longo Bahia

 

Obra criada e apresentada originariamente no 2º andar do Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera, durante a 28ª Bienal de São Paulo, em 2008, “Escalpo Islâmico”, de Dora Longo Bahia, emprega motivos islâmicos sobre um fundo de tinta acrílica vermelha, para tecer um comentário acerca da violência.

 

 

Sobre os artistas

 

Daniel Senise. Naceu no Rio de Janeiro, Brasil, 1955. Exposições Individuais (seleção): Daniel Senise 2892 – Casa França Brasil – Rio de Janeiro – Brasil (2011); Daniel Senise – Estação Pinacoteca – São Paulo – Brasil (2009); Daniel Senise – Trabalhos Recentes – Museu Victor Meirelles – Florianópolis – Brasil (2008); Daniel Senise – Galeria Vermelho – São Paulo – Brasil (2007); Paintings from the North Ramis Barquet Gallery – Nova York – EUA (2001). Exposições Coletivas (seleção):  O Gesto e o Signo – White Cube – São Paulo – Brasil,  2013; Gravura em campo expandido – Pinacoteca do Estado – São Paulo- Brasil,  2012; Jogos de  Guerra – Caixa Cultural Rio de Janeiro- Rio de Janeiro – Brasil, 2011; 29ª Bienal de São Paulo: Há sempre um copo de mar para um homem navegar – Fundação Bienal de São Paulo – São Paulo—Brasil, 2010; After Utopia – Museo Centro Pecci – Prato – Itália, 2009.

 

Nicolás Robbio. Nasceu em Mar del Prata, Argentina, 1975. Exposições Individuais (seleção): Bandeira em branco não é bandeira branca – Galeria Vermelho – São Paulo – Brasil (2011); O Amanhã de Ontem não é Hoje – Programa Emissores Runidos – Episódio 1 – Fundação Serralves – Porto – Portugal (2009); Indirections – Pharos Centre for Contemporary Art – Nicosia – Chipre (2008). Exposições Coletivas (seleção): Sextanisqatsi: desordem  habitável  – Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey (MARCO) – México (2012); 32º Panorama da arte Brasileira – Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) – São Paulo – Brasil (2011); Para ser Construidos – MUSAC – Léon – Espanha (2010); 2° Trienal Poli/Gráfica De San Juan – Porto Rico (2009);  28ª Bienal de São Paulo – Fundação Bienal de São Paulo – Pavilhão Ciccillo Matarazzo – São Paulo – Brasil (2008).

 

Dora Longo Bahia. Nasceu em São Paulo, Brasil, 1961. Exposições Individuais (seleção) Desastres da Guerra, Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil [2013]; Trash Metal, Galeria Vermelho, São Paulo, Brasil (2010); Escalpo carioca e outras canções, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM), Recife e Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Rio de Janeiro, Brasil (2006]; Marcelo do Campo 1969 –1975, Centro Mariantônia, São Paulo, Brasil (2003). Exposições Coletivas (seleção): Imaginarios Contemporâneos, Museo Tecnológico de Monterrey, Monterrey, México (2013]; The Spiral and the Square, SKMU Sorlandets Kunstmuseum, Kristiansand, e Trondheim Art Museum, Trondheim, Noruega (2012); Destricted.br, Galpão Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil (2011); IX Bienal Monterrey FEMSA, Centro de las Artes, Monterrey, México (2009); 28ª Bienal Internacional de São Paulo, Fundação Bienal, São Paulo, Brasil (2008); Farsites: urban crises and domestic symptoms in recent contemporary art, Centro Cultural Tijuana e San Diego Museum of Art, Tijuana – Mexico/San Diego, EUA (2005); Imagem Experimental, Museu De Arte Moderna (MAM SP), São Paulo, Brasil (2000).

 

 

Até 05 de abril.

Gabriela Machado em Ribeirão Preto

A Galeria Marcelo Guarnieri, Ribeirão Preto, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Um olhar viajante” da artista Gabriela Machado. Em sua primeira individual na galeria, Gabriela Machado exibe uma seleção recente de desenhos, pinturas e esculturas. Os desenhos e pinturas se apresentam quase sempre em grandes formatos, ocupando o espaço com cores cítricas. A tinta aguada cria uma fluidez aos trabalhos, que tem origem através de uma poética que se cria pelo pensar e fazer concomitantes, fazendo dela não um reflexo da natureza, mas sim uma reflexão do que nela está embutido. Já as esculturas aparecem como um desdobramento deste pensamento poético, elas saem das pinturas e retornam a elas, com o desafio de fazer uma construção através de um material que não é fluido, que necessita de força bruta, que não surge do imediatismo, onde é necessária a percepção da necessidade do tempo, passando pela percepção de como estar no mundo, de como se inserir no espaço.

 

 

 

Sobre a artista

 

Gabriela Machado nasceu em 1960 em Santa Catarina, atualmente vive e trabalha no Rio de Janeiro. Dentre as diversas exposições em que participou, destacam-se as recentes: “Cadência”, Paço Imperial, Rio de Janeiro – Brasil, 2012; “Os jardins de Lisboa em Gabriela Machado”, Carpe Diem Arte e Pesquisa, Lisboa – Portugal, 2011; “Doida disciplina”, Caixa Cultural Rio de Janeiro e São Paulo – Brasil, 2009.

 

Gabriela Machado – Um “Olhar Viajante”, Criando Sempre

 

 

Texto de Jorge Emanuel Espinho

 

Tantas e tantas vezes verificamos – num qualquer percurso artístico de que somos testemunhas -, a coerência e o recorte formal característicos desse criador funcionarem como pragmáticas e invioláveis prisões, que por fim encerram e limitam a própria liberdade criativa do artista. Sua pretensa liberdade fica assim reduzida e rebaixada apenas a uma teórica possibilidade nunca exercida. Se naturalmente esperamos e aplaudimos uma prática livre e inclusiva como parte fundamental da ação do artista, é com frustração e pesar que vemos se vulgarizar um encerramento da sua criatividade bem dentro da própria obra, assim feita percurso a respeitar e prosseguir, assim feita limitação e fronteira, encerramento e repetição. Muitas e demasiadas vezes, o próprio caminhar do artista se faz numa paisagem imutável e esterilizada, em derrapagem de infinito desdobramento dos seus temas e pressupostos, métodos e meios; sem que assim se veja avanço ou diferença, inovação ou aventura…

 

Questões como as lógicas do mercado ou o reconhecimento são muitas vezes apontadas como responsáveis por essa repetitiva continuidade. Aqui preferimos enaltecer e sublinhar a coragem voluntariosa face ao risco da mudança – que presenciamos fortemente nesta exposição -, e a lúcida autocrítica, como alvos a perseguir e alcançar. Uma positiva ambição criativa da artista promove, nesta mostra, novos experimentos, fazeres e avanços.  Será essa, julgamos, a mais elevada razão e motivação do ser criativo.

 

O trabalho de Gabriela Machado vem do desenho e da pintura – e de uma pintura em que o traço é desenhado, livre, expressivo e grosso, tantas vezes fluido e aquoso -, na manifestação solta de uma energia vital que parece querer ser, desde sempre, o grande sujeito escondido, o grande alvo principal, do trabalho da artista. Reconhecida pelas suas grandes pinturas de flores que sempre recusaram ser apenas isso – e que antes se reconfiguram num aquático escorrimento sensual de côr e de encontro, como exemplos momentâneos e poéticos da força delicada e firme que as habita, suspensas em branco vazio -, a artista apresenta nesta mostra individual o lugar múltiplo em que agora se encontra. Ou melhor, que para si criou e permitiu, generosa e disponível, experimentando e abrindo para si própria – e para nós com ela -, o seu mais novo, desse seu agora.

 

Poderíamos, na nossa imparável ânsia de nomear, chamar a esse lugar de Cruzamento, pois nele muito se encontra e cruza, e dele muito em futuro já se descobre. Ou Farol, suspeitando e vislumbrando também já outras paisagens, ainda mais longe, a iluminar criando. Ou talvez Sentido, já que o suave tacto da mão que mexe o barro, traz outro sentir/saber nesse fazer, que é um olhar novo a experimentar: avançando, tacteando, sempre em improviso. Sublinhe-se desde já, que quer seja nas pequenas esculturas ou nas maiores – mais recentes, das quais encontramos um exemplar produzido na própria galeria para esta mostra -, a artista manipula diretamente agora, sem tela mediando, a tal força vital que bailava ébria em suas pinturas. Com simultânea intimidade curiosa e descoberta, familiaridade e novo encontro, aprofundamento e maior leveza.

 

Parece acontecer aqui, e no percurso já longo da artista, uma gradual aproximação ao âmago do acontecimento, seu centro físico, sua origem. Pois se o seu trabalho revelava o resultado pictórico de eventos e manifestações registrados no seu olhar o mundo; agora surge um fazer mais delicado e artesanal, noutro sensível; resultado do encontro com esse mesmo centro. Este centro é, ou torna-se aqui, e claramente reunidos: dispersão e fonte, intenção e forma, corpo e função, lazer e essência. Apetece dizer que, ao contrário de se deixar levar por percursos e passeios lógicos e inócuos pela própria obra, a artista recua em profundidade, avançando: aproximando-se e dando o íntimo corpo que é seu, a esse manancial etéreo de cuja natureza nos foi, ao longo dos anos, sussurrando e discorrendo.

 

Podemos afirmar que se aqui arriscamos essa difusa fonte enquanto origem de sua obra, com maior firmeza dizemos que para onde esta vai e seguirá será mistério a ser desvendado com incerteza e parcimonia. E talvez seja esta a grande qualidade processual a que assistimos nesta mostra: o raro momento de intersecção e cruzamento entre um passado de leitura do real, e o futuro da sua nova escrita que aqui a artista esboça.

 

Onde antes se descrevia inventando, agora se cria a construir; onde se cantavam qualidades agora se afirma a realidade, sempre em seu forte potencial infinito. Por fim, o eterno bailado hipnótico da cor e forma, deu lugar ao sumário espesso do que tudo cria: barro, mão, órgão.

 

Para nós que agora olhamos, mais de longe a querer ver, esta é a fundamental lição de (des)educar o olhar. Talvez para um dia, depois, melhor o (re)criar. Nas palavras de Gabriela Machado, é esse “Olhar Viajante” que aqui se nos apresenta. Orgânico, mais solto, mais fundo e transformado, agora talvez, em Criando Sempre.

 

 

Até 18 de abril.

Graphos: Brasil, mulheres

A Graphos:Brasil, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou duas exposições que têm a temática feminina como eixo central: a individual da escocesa Clare Andrews e a coletiva “Mulheres, chegamos!” com a participação do elenco feminino da galeria, além de cartazes do grupo Guerrilas Girls.

 

Clare Andrews apresenta as pinturas da série”Deeds not Words” nas quais relata um dos mais importantes momentos na luta das mulheres  pela conquista de seus  direitos na sociedade, o movimento sufragista. Clare Andrews apresenta 40 trabalhos em óleo sobre tela inspirados no conjunto de manifestações realizadas por mulheres no final do século XIX em luta pelo direito ao voto e em “sufragettes” como Emily Wilding Davison – mártir do movimento após ter sido golpeada pelo cavalo do rei no Derby da Inglaterra em 1914.

 

A segunda  exposição, “Mulheres, chegamos!”, traz pinturas, esculturas, fotografias, instalações e cartazes das artistas Anna Bela Geiger, Bettina Vaz Guimarães, Cristina Ataíde, Daniela D’Arielli,  Gabriela Noujaim, Liliana Porter, Monica Barki, Monica Potenza, Sani Guerra e Susana Anágua. Nesta mostra o público também vai poder conferir a arte provocativa das Guerrilas Girls, coletivo norte-americano, que utiliza performances e cartazes com apelo pop  para questionar o lugar da mulher na sociedade contemporânea, particularmente das artistas mulheres. A exposição apresenta 25 cartazes do grupo fundado em 1985 e que até hoje mantém sigilo sobre a identidade de suas integrantes, utilizando máscaras de gorila durante as aparições públicas em alusão a benfeitores anônimos como Batman e Homem-Aranha. Famosas em todo o mundo por sua arte engajada e de humor irônico, as ativistas participaram da 51ª Bienal de Veneza e de diversas exposições e apresentações ao redor do mundo.

 

“Observando a coleção de  posters feitos pelas Guerrilas Girls e o mote principal de sua luta – a  dificuldade das artistas mulheres se fazerem presentes nos museus, instituições e, principalmente, nas galerias de arte norte-americanas – me dei conta de que nós, diferentemente do mercado estrangeiro, damos bastante espaço às nossas artistas (só no time da Graphos temos 11) porque consideramos que artista é substantivo e/ou adjetivo de dois  gêneros. Não faz diferença, quando se trata de qualidade e expressão, se os criadores da beleza são homens ou mulheres”, declara o galerista e curador, Ricardo Duarte.

 

 

Até 12 de abril.

Mais pinturas: Fernando Burjato

A Galeria Virgílio, Pinheiros, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Mais pinturas”,individual de Fernando Burjato. O artista paranaense de quarenta e um anos, em sua terceira individual na Galeria Virgílio, apresenta catorze obras recentes, onde são radicalizadas algumas características que já eram visíveis em sua produção anterior: áreas de cores intensas, dégradés, camadas de tinta a óleo que se acumulam em volumes. E a um tempo a afirmação da pintura e um olhar irônico sobre sua tradição e suas convenções.

 

A cor, sempre um elemento fundamental, se faz visível através de camadas espessas de tinta, que literalmente se estendem para além do espaço dos quadros, ou que se dobram sobre eles, como franjas. Segundo Bruno Oliveira, que assina o texto de apresentação, nessas pinturas “não há qualquer ímpeto de escapar da materialidade, nem do objeto (…) a tinta é um pedaço de pele disposta sobre um corpo. Esse corpo é o quadro, coberto por um manto de tinta e cor. Essa derme-pintura não é pele lisa, perfeita, jovem. Ela é casca grossa, uma pele velha, cheia de imperfeições e cicatrizes, maquiada exageradamente, como se o desejo fosse esconder as marcas do tempo, os defeitos da história.”

 

Em muitas obras recentes, em pequenas dimensões, as telas têm espessuras variáveis, não raramente muito maiores que o habitual, na forma de paralelepípedos. O que se pode chamar de pintura não se atém à superfície frontal, mas se estende às laterais. A pintura é uma superfície, e ao mesmo tempo um objeto. Uma janela (para a cor) e um bloco.

 

 

Sobre o artista

 

Fernando Burjato é formado pela escola de Música e Belas Artes do Paraná desde 1994 e mestre em artes pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNES), desde 2011. Realizou exposições individuais, entre outros lugares, na Galeria Virgílio, na Galeria Casa da Imagem, Curitiba, Centro Cultural São Paulo, Centro Universitário Maria Antonia e participou da 6º Bienal de Curitiba. Possui obras nos acervos do Museu de Arte Contemporânea do Paraná, MAC/PR e do Museu Municipal de Arte de Curitiba, MuMA. É autor do livro de contos “Cabeça, corpo caveira e alma”, Bom Texto, 2000, e em parceria com Daniela Vicentini, publicou “Arte Brasileira nos Acervos de Curitiba”, Segesta, 2010. Vive e trabalha em São Paulo.

 

 

De 16 de março a 19 de abril.

Personagem de Pierre Lapalu

A Galeria Paralelo, Pinheiros, São Paulo, SP,  exibe “Joaquim Nunes de Souza – O Etnógrafo Naïf”, exposição do artista plástico curitibano Pierre Lapalu, que também assina a curadoria da mostra. Trata-se de uma instalação narrativa, com 36 desenhos, sobre a vida e obra de um artista fictício criado por Pierre, chamado Joaquim Nunes de Souza, o qual teria produzido uma série de desenhos retratando pessoas no espaço urbano.

 

De natureza introvertida e origem humilde, Joaquim não tem formação acadêmica e nem aplica rigor científico em seus desenhos de observação, seu único meio de interação com a sociedade. Seu trabalho apresenta recortes de cenas do dia a dia – relances do cotidiano que permanecem em nosso imaginário -, revela protagonistas de pequenos detalhes da vida. Joaquim age como um “etnógrafo naïf”, fazendo um levantamento do tipo físico e do comportamento desses habitantes da cidade de Curitiba, em uma tentativa intensa de perceber a realidade social e entender a configuração local, da qual se sente excluído.

 

Apesar da linearidade em relação à cronologia da história de Joaquim, mostrada na exposição com disposição clara de início e fim, os desenhos foram feitos aleatoriamente, sendo que todas as pessoas retratadas, os locais dos textos e dos retratos, de fato existem (ou existiram). Sobre seu processo criativo, Pierre comenta: “A escolha do desenho, basicamente nanquim sobre papel, dá-se pela facilidade que um artista teria de desenhar na rua, já que todos os desenhos seriam supostamente produzidos durante observações de populares em praças, terminais de ônibus e demais locais de convivência comum, mas que passam despercebidos pelos que ali transitam”.

 

Tomando a urbanidade como tema e o uso da ficção como mediação com o público, Pierre Lapalu nega a premissa do artista como um executor do próprio estilo, emprestando seus traços e jeito de desenhar a Joaquim. “(…) entendi que deveria procurar desenvolver a metamorfose que o traço e o estilo de um artista teria durante toda sua vida, pois o estilo muda conforme sua percepção vai se descolando da realidade, o que é observável pelo traço”. Coordenação: Andrea Rehder e Flávia Marujo.

 

 

De 29 de março a 03 de maio.