Na Caixa Cultural – SP

08/jan

A artista plástica paulistana Bel Falleiros, apresenta “Sobre ruínas, memórias e monumentos”, sua primeira individual, já em um dos grandes espaços expositivos da cidade, a CAIXA Cultural São Paulo, Praça da Sé, Centro, São Paulo, SP. Com curadoria de Paulo Miyada e texto crítico de Jacopo Crivelli Visconti, a exposição traz cerca de 20 colagens, 04 grandes pinturas, além de instalações, fotografias e objetos coletados durante a fase de concepção do projeto.
Arquiteta de formação, Bel Falleiros tem a relação com a cidade como um dos temas centrais em seu trabalho. E não apenas São Paulo, mas também Berlim e Nova Iorque, metrópoles onde morou recentemente, e a pequena Ituverava, cidade natal de seu pai no interior paulista, que faz parte de suas memórias afetivas. Ao ser selecionada pelo edital, a artista se propôs a realizar quatro percursos em direção às fronteiras da capital paulista, sempre partindo do antigo marco zero da Sé, e tendo os pontos cardeais como referencial de direção. Para Crivelli Visconti, ao realizar tal ação, a artista retoma o processo criativo iniciado pelo movimento dadaísta, em Paris, no início do século passado. Em suas palavras: “Ao colocar como metas utópicas das suas andanças os lugares, correspondentes aos quatro pontos cardeais, onde a cidade de São Paulo teoricamente acaba, ela situou-se, ao mesmo tempo, na periferia da metrópole e no cerne da linhagem das derivas artísticas… Sua viagem aos confins da cidade aconteceu paralelamente no âmbito físico e no imaginário, considerando que os elementos da realidade ao redor dela eram constantemente comparados com lembranças de Ituverava, onde nasceu seu pai e onde por primeira vez ela vivenciou a sensação de chegar até a extremidade de uma cidade. O deslocamento que qualquer deriva pressupõe, consequentemente, era duplicado aqui pelo fato da viagem acontecer simultaneamente na imaginação e na realidade”, conclui o crítico.

 

Para cada uma das quatro longas caminhas, a artista realizou uma pintura de grande proporção. As quatro obras são apresentadas em uma única sala. Segundo Paulo Miyada, “O surpreendente é que nelas não há espaço para o acúmulo de papéis, texturas e gestos, como outrora nas produções resultantes de leituras urbanas. Há um imenso vazio quase informe, um terreno indistinto e estranhamente desprovido de profundidade. Aqui e ali, dois ou três elementos povoam as paisagens… Estão presentes o primeiro Marco da Independência no Ipiranga, o Farol do Jaguaré, a Ponte Grande e a Serra da Cantareira. Mas eles ocupam um vazio atemporal e sem muitas referências, descolado do skyline paulistano. Mais ainda, convivem com alguns símbolos importados de outra paisagem mnemônica da artista, a cidade de Ituverava, no interior do Estado”. Crivelli Visconti esclarece que “Para além da força inegável dos painéis, é interessante notar que um projeto que foi concebido como uma deriva urbana, e de cunho efetivamente urbanístico, considerando o objetivo (vagamente utópico) de encontrar os limites de uma metrópole, transformou-se numa excursão no campo, rica de reminiscências pessoais”, enquanto Miyada conclui que “para nós, resta a tarefa de encontrar possíveis conexões entre monumentos e ruínas, enquanto nos perdemos no espaço sem tempo da claridade dos desenhos”.

 
Sobre a artista
Bel Falleiros, nasceu em São Paulo, 1983, vive e trabalha na capital paulista. Bacharel em Arquitetura pela FAU-USP, a artista é uma das fundadoras do Aurora, misto de atelier e espaço expositivo localizado no centro da cidade. Foi assistente dos artistas Héctor Zamora e Andrés Sandoval e desde 2012 participa ativamente do Atelier Fidalga. Já realizou uma série de colaborações como ilustradora para o caderno Ilustríssima, da Folha de São Paulo, além de ilustrar livros para diferentes editoras. Já participou das coletivas: Laço, no subsolo do Paço das Artes, São Paulo, 2012; 3 artistas, na Interaction Gallery, Berlim, 2011; Portfólio | Charivari, no SESC Santos, 2011 e Collective Exhibition, no Bushwick Project for the Arts, Nova Iorque, 2010. “Sobre ruínas, memórias e monumentos” é sua primeira exibição individual.

 

 

Atividades extras:

 

18 de janeiro: Conversa com Paulo Miyada e lançamento de catálogo, às 11h.
25 de janeiro: Oficina com Bel Falleiros, às 11h.

 

 

De 11 de janeiro a 16 de fevereiro.

 

 

Antonio Manuel no MAM-Rio

06/jan

O MAM-Rio, Parque do Flamengo, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta 21 obras de Antonio Manuel. Radicado no Brasil desde a infância, o artista português construiu aqui uma carreira marcada pela versatilidade: já enveredou por pintura, gravura, escultura, vídeo, desenho, performance. Essa multiplicidade de interesses se reflete na individual no MAM. Logo na entrada, assoma a recriação de um trabalho de 1998, “Ocupações/Descobrimentos”, formado por três grandes paredes de tijolos com um buraco em cada uma, convidando a uma espiada. Há uma inevitável sugestão de diálogo entre essa criação e uma série de bonitas pinturas em que Antonio Manuel faz furos na tela. Há ainda produções em técnica mista, um óleo sobre tecido e um vídeo, mas o que chama mesmo atenção são as instalações penetráveis a exemplo de “Fantasmas”, um cômodo repleto de pedaços de carvão suspensos por fios, dando a impressão de que estão flutuando.

 

 

A formação e o desenvolvimento da obra de Antonio Manuel se deram em estreita relação com o Museu de Arte Moderna. Há mais de 15 anos sem uma exposição institucional na cidade, trazê-lo agora ao museu é uma espécie de compromisso simbólico: com a sua própria história e com a arte brasileira. Não se trata de uma exposição retrospectiva, sua orientação não é para o passado, mas focada na atualidade de sua produção, tendo em vista articulações com o que já foi e projeções em direção ao que ainda está por vir. Acima de tudo, esta exposição aposta na coerência poética de uma produção múltipla e diversificada. O conceito de polifonia, extraído da teoria literária -significando uma multiplicidade de vozes agindo no interior de um mesmo romance – parece-me interessante para pensarmos a obra de Antonio Manuel. Nela percebemos muitas entonações afetivas e plásticas intensificando-se sem se fragmentarem. Nada menos apropriado para lidar com sua trajetória do que separá-la em duas fases: a político-performativa e a pictórico-formal. A opção em articular a exposição através das instalações foi para evidenciar o quanto o pensamento da forma reverbera na realidade, na vida, sendo esta disseminação sempre política: pelo que diz e pelo que silencia.

 

 

A relação cromática dos “muros” com a paleta solar e mondrianesca de muitas pinturas, a ação de quebrá-los, a explicitação do tijolo, o movimento do corpo ao atravessá-lo, tudo fala de uma experiência ampliada no espaço: do museu e da cidade. As faces marcadas dos presos de “semiótica” e os carvões pendurados no “fantasma” são cicatrizes de uma mesma crise social em momentos históricos distintos. A forma flutuante a as cores primárias dos “frutos do espaço” se projetam para dentro e para fora dos planos chapados na superfície das telas. O líquido que pinga sobre a imagem, apagando a informação, contaminando-a, deslocando-a, liga esta última e inédita instalação aos “flans” do final dos anos 1960. Enfim, uma obra em movimento que segue atualizando-se enquanto exercício experimental de liberdade: como afirmou Pedrosa na noite de 1970 em que Antonio Manuel, neste mesmo museu, transformou corpo em obra. Uma espécie de síntese da máxima construtiva de que menos é mais.

 

 
Até 16 de fevereiro.

 

 

Cildo, Restiffe e Warchavchic no Maria Antonia

20/dez

Funcionando regularmente desde 1999, o programa de exposições do Centro Universitário Maria Antonia da USP, Vila Buarque, São Paulo, SP,  orienta-se por um conceito abrangente de formação, tendo como diretriz geral reunir artistas de gerações diversas. Procura dar espaço às mais diferentes técnicas e poéticas, com especial atenção a propostas de reavaliação de artistas e movimentos atuais e do passado recente, além de mostras de design e arquitetura. No momento o Maria Antonia apresenta  três exposições com a assinatura dos curadores João Bandeira com a instalação “4/4” de Cildo Meireles;   José Tavares Correia de Lira com “Warchavchik – metrópole, arquitetura” e  Agnaldo Farias com “Interseção” de Mauro Restiffe.

 

 

A palavra dos curadores

 

Cildo Meireles – 4/4

 

Percebe-se um recinto por dentro. Não apenas a olho, não só porque nos rodeia. Por dentro também do nosso corpo. Sua existência se realiza na medida em que sentimos a nossa nele. Se for uma sala qualquer e que esteja, em princípio, vazia, não haverá muito mais a fazer. Sendo, no entanto, um espaço de exposições em que se espera encontrar arte, tudo pode mudar de figura. E se ali parece não haver de fato coisa alguma, é bem provável que nossa mente, na hora, relute.

 

Mas se ao nos movermos por esse espaço detectamos alterações meio estranhas, em nós mesmos como na sua arquitetura? Ainda que oco, o espaço agora é um lugar – revela qualidades mais específicas. Lugar inventado por Cildo Meireles, onde alguma coisa discretamente acontece, chama e recua. É difícil dar nome certo a isso que desde dentro, sem sair do aqui-agora, cede também no tempo (pouco a ver com o vácuo mítico de Yves Klein; quem sabe uma volta a mais no parafuso daqueles Cantos, do próprio Cildo), como um golpe por subtração, uma esquiva às palavras rodando na consciência.

 

Pouco vaza, em direção ao vértice de algum futuro, pelos quatro cantos dessa instalação, que se rebatem cruzados, costurando de modo inusitado piso e paredes, dentro e fora. E, paralelamente, não muito mais do que um sinal parece ser captado ali, vindo de mais longe, do mais básico que nos toca como instabilidade de todo abrigo. Num caso e no outro, tudo agora se adensa se lembrarmos que 4/4 está precisamente no mesmo local que desde a terceira década do séc. XX, guardada quase a mesma volumetria, foi parte de uma residência, de uma escola privada, de uma universidade pública, dependência de órgãos do Estado, incluindo escritórios de seu sistema prisional, no período da ditadura militar de 64, até ser devolvido à mesma universidade, expulsa dali naquele período. Que finalmente o destinou, passando por mais outros usos, a abrigar as exposições de artes do Centro Universitário Maria Antonia.

 

A Física moderna permite imaginar que a torções no espaço correspondem outras no tempo, variando vis-à-vis conforme a referência. Empregando livremente essa ideia, seria possível considerar, lado a lado, o projeto arquitetônico de restauro e reforma desenvolvido para essa instituição – que deixa à mostra partes antigas no que foi recém-construído e cria vazios (retirada de muros, extensão da calçada numa laje que, por sua vez, leva a uma praça aberta no miolo da quadra, ligando seus dois edifícios), no esforço de reavaliar na prática uma tradição de lugar público – e a instalação de Cildo Meireles, com sua intervenção radical no histórico do espaço expositivo, que mantém ainda em suspenso o desaparecimento da arte nos fluxos do mundo. (João Bandeira)

 

 

Gregori Warchavchik – Warchavchik – metrópole, arquitetura

 

Gregori Warchavchik transcende em muito a figuração genérica do pioneiro isolado que atravessou o século XX. Manifesta lugares chave da arquitetura entre os processos materiais da sociedade e os esquemas mentais associados às técnicas e programas modernos. Arte social, a mais material das artes, sempre produzida coletivamente e referida aos imperativos práticos, injunções da encomenda e do investimento e à recepção distraída das massas, a arquitetura em Warchavchik imbrica-se à experiência metropolitana.

 

Esta exposição pretende flagrar o arquiteto modernista na São Paulo de 1930 aos anos 1960, quando a cidade passa de um núcleo provinciano à metrópole nacional. Até então achatada e esparramada por colinas e várzeas da região, a cidade observou no período a canalização de rios e córregos, a proliferação de loteamentos, avenidas e arranha-céus, o aparecimento de novas formas de habitação, locomoção, espaços comuns, serviços e múltiplas dificuldades. Sob o influxo avassalador da urbanização, da especulação e da construção civil, os arquitetos transformariam tudo isso em matéria de projetos e planos. Conscientemente ou não, passaram a operar na produção da metrópole: de sua imaginação erudita à sua edificação e ecologia, esquadrinhando e modelando situações, reproduzindo divisões e conflitos reais e fomentando novos arranjos sociais.

 

Os projetos de Warchavchik aqui expostos remetem a posições relevantes quanto aos espaços de vida coletiva na metrópole em seus atributos fundamentais de eficiência e monumentalidade, complexidade e especialização, densidade e fluidez. Com eles, propõe-se repensar o papel representacional do desenho em transmutações de outra ordem que não exatamente sua tradução construtiva. Mas como forma de olhar oblíquo para o real, subterfúgio ativo em relação ao peso das soluções imediatas, investigação do mundo edificado, resposta a convenções espaciais, presença crítica e mesmo visionária na cidade. Todos eles integram um acervo precioso, conservado pela biblioteca da FAU-USP, que ilustra um conjunto variado de especulações em torno das alegorias e materiais arquitetônicos. Exibidos em meio a imagens retiradas ao cinema, à imprensa e à publicidade da época visa justamente potencializar os nexos da arquitetura com as impressões da grande cidade. Submetendo suas formas projetuais e estruturas edificadas ao fluxo de fragmentos e detalhes instantâneos, espera-se fazer ressoar os artefatos arquitetônicos na atmosfera das aparências e na vida dos objetos tangíveis a que, sólidos e duradouros, sorrateiramente, e cotidianamente, se reúnem. (José Tavares Correia de Lira)

 

 

Mauro Restiffe – Interseção

 

Já em sua primeira individual, em 2000, Mauro Restiffe sinalizou que pensaria a relação entre arquitetura e fotografia sob ângulos imprevistos. Não que suas fotos tivessem a arquitetura como tema exclusivo. O assunto preponderante era o lugar da fotografia, a plasticidade com que se aproxima e se afasta do mundo. Isso e mais sua problematização como produto do olhar, do fotógrafo e do visitante que, diante de suas fotos, percebe-se percebendo.

 

Desde o princípio, Restiffe resolveu demonstrar que a arquitetura podia converter-se em fotografia, além de lhe servir como tema privilegiado. Como? Na mostra de 12 anos atrás, ele, em lugar de simplesmente pendurar as fotografias, abriu “três janelas” na longa parede situada à esquerda da entrada da sala expositiva, revelando o muro alto e branco que separava, da casa do vizinho, o lote da casa onde funcionava a galeria, o corredor estreito onde jaziam, até então ocultos, despojos das tralhas típicas de montagens de exposições, e finalmente a vista parcial do tronco de uma árvore emparedada. Fechadas com vidro, as aberturas, por efeito de sua transparência e reflexividade, embaralhavam as imagens de dentro e fora.

 

A obsessão pela arquitetura volta nessa mostra de agora sob a forma de imagens extraídas de dois edifícios, a Casa Serralves, o belo exemplar de Art Déco português construída no Porto, de autoria de Charles Siclis e José Marques da Silva, e o Edifício Cícero Prado, obra do introdutor da arquitetura moderna no nosso país, Gregori Warchavchik.

 

A disposição das imagens na sala confirma a importância que Restiffe confere à relação entre fotografia e arquitetura. Na parede principal, sem portas ou janelas, “Vertigem”, a sucessão de imagens com o mesmo formato, todas reverberando os ritmos escandidos da Casa Serralves. Nas outras três paredes, coerente com as perturbações das aberturas, o jogo com tamanhos e ângulos propiciado pelas linhas de fuga verticais do Cícero Prado.

 

Se a arquitetura, como a música, destrava-se no tempo dispendido caminhando-se em seu interior, Restiffe adverte-nos que ela também acontece quando se olha para cima e para baixo; quando se mira torto; quando se mergulha no infinito inventado pelos ocos das escadas; quando se alça ao sublime do teto intangível. Suas fotos convertem arquiteturas em imagens e, impregnadas por elas e pelo espaço em que estão expostas, flexibilizam-se, ficam de frente, de lado, de cabeça para baixo; seus tamanhos expandem-se e contraem-se, com as maiores imantando à distância, com as menores trazendo para perto, convidando a escrutinizar seus detalhes. (Agnaldo Farias)

 

 

Até 23 de fevereiro de 2014.

Luzia Simons na Pinacoteca

18/dez

A Pinacoteca do Estado de São Paulo, Estação Luz, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Segmentos”,  individual de Luzia Simons. Realizada especialmente para o” Projeto Octógono Arte Contemporânea”, a instalação é composta de quatro obras, quatro ampliações fotográficas moduladas, recortadas em 12 partes que são posicionadas no espaço com suas costas voltadas para cada uma das entradas. Incomuns em seu efeito claro-escuro, de concepção barroca, os scannogramas de Luzia Simons têm uma sonoridade trazida do silêncio para o rumor barulhento da metrópole, voltando depois ao silêncio.

 

Segundo Luzia Simons, a instalação faz uma alusão aos jardins fechados, tradicionalmente encerrados com tramas metálicas ou cercas de madeira. Alude, ainda, ao próprio Jardim do Éden. Este ambiente, no entanto, não se propõe acolhedor, mas sacramental como os ostensivos jardins ou mesmo os museus. A tulipa é o motivo central da série “Stockage”. Suas inúmeras espécies e criações deixam claro para Luzia Simons o que ela chama de “tingimento” e “transferência de cor” ou seja, o processo de adaptação e transformação. As flores brilham em meio a um escuro difuso, o que pode ser entendido como uma releitura das naturezas-mortas holandesas, mas que também trata do aspecto da fugacidade. Afinal, a tulipa tornou-se um dos motivos centrais da vanitas após o colapso do mercado holandês em fevereiro de 1637. Com isso, a artista construiu uma ponte – do século XVII até os tempos atuais, com os aspectos típicos da nossa época, como globalização, nomadismo cultural e marcas multiculturais. A quantidade de referências metafóricas que explicitamente se debruçam sobre temas atuais de nossa sociedade transformou o conteúdo aparentemente „adorável” da peça floral em uma mídia discursiva surpreendente.  Com fotografias, filmes, performances e instalações a artista, residente em Berlim, vem desenvolvendo um corpo de trabalho, desde os anos 1990, em torno de questões como identidade, memória e globalização. Ela desenvolveu sua linguagem no captar e registrar imagens, que denominou “scannograma”. Feito para a digitalização de documentos, o scanner não possui lente nem foco. ao contrário das imagens produzidas, correntemente, com lentes fotográficas. Nesta técnica os objetos são colocados diretamente sobre um scanner, que capta, minuciosamente por um sistema de linhas e pontos, todos seus detalhes formais e variações cromáticas. Os scannogramas reproduzem uma luminosidade dramática e quando ampliados em grande escala ganham teatralidade.

 

 

 

Sobre a artista

 

Luzia Simons nasceu em 1953, em Quixadá, CE. Vive e trabalha em Berlim e já participou de importantes exposições internacionais como:  Flowers and Mushrooms, Museum der Moderne, Salzburg, Áustria, 2013;  Personificação de Identidades, Bienal de Curitiba, Casa Andrade Muricy, 2013; Wenn Wünsche wahr werden, Kunsthalle Emden, Emden, Alemanha, 2013;  Lost Paradise, Mönchehaus Museum Goslar, Goslar, Alemanha, 2012;  Flowers in photography , Tokyo Art Museum, Tóquio, Japão, 2012; Time, death and beauty, FotoKunst Stadtforum, Innsbruck, Áustria, 2011; Wild Things, Kunsthallen Brandts, Odense, Dinamarca,  2010; Nature forte, Kunstverein Wilhelmshöhe, Ettlingen, Alemanha, 2009; e Garden Eden – A representação do jardim na arte desde 1890, Kunsthalle Emden, Emden, Alemanha, 2007. Suas exposições individuais incluem: Jardins Alheios, Kunstverein Bamberg, Bamberg, Alemanha, 2012; Stockage, Centre d’Art de Nature, Château Chaumont-Sur-Loire, França, 2009; Stockage, Künstlerhaus Bethanien, Berlim, Alemanha 2006; Stockage, Städtische Galerie Ostfildern, Alemanha 2005; Face migration: sichtvermerke, Württembergischer Kunstverein Stuttgart, Alemanha 2002 e Transit, SESC Paulista São Paulo, Brasil 2001. Possui trabalhos em coleções públicas como as de Graphisch Sammlung der Staatsgalerie, Stuttgart, Alemanha; Fonds National d’Art Contemporain, Paris, França; Casa de las Américas, Havana, Cuba; University of Colchester, Collection of Latin American Art, Essex, Inglaterra; Museu de Arte de São Paulo Coleção Pirelli, São Paulo, Brasil: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, entre outros.

 

 

Até 02 de março de 2014.

Homenagem Monumental

17/dez

Iole de Freitas dedica a Anna Maria Niemeyer escultura que integra o novo prédio da Fundação Getúlio Vargas, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ. Iole de Freitas está entre os três artistas plásticos que a Fundação Getúlio Vargas convidou para criar obras especificamente para o novo prédio: um círculo de aço gigante, várias linhas que se agitam em torno e dão a impressão de quase ricochetear, mas se desviam em direções impossíveis e abraçam as igualmente gigantescas lâminas de policarbonato transparente.  A dança que se produz no ar, de impactante beleza, dá o tom de “Sopro” – obra de Iole de Freitas que, com sua impressionante monumentalidade, escala a arquitetura da Torre Oscar Niemeyer, o novíssimo prédio-sede da Fundação Getúlio Vargas, na Praia de Botafogo. Obra e edifício serão inaugurados no dia 16 de dezembro, às 12 horas.

 

“Sopro”, começa a descrever sua trajetória a uma altura de 2,5 m do chão.  A escultura de 9m x 9m está posicionada na entrada da Torre, em frente ao Auditório. Numa placa afixada à obra, a dedicatória a Anna Maria Niemeyer reflete os longos anos de amizade entre a artista e a galerista, recentemente falecida. Um toque de delicadeza que brilha no edifício que leva o nome de seu pai, o arquiteto Oscar Niemeyer, autor do projeto do conjunto arquitetônico. A inauguração da escultura e da Torre Oscar Niemeyer, o novo prédio da Fundação Getúlio Vargas, ocorreu no dia 16 de dezembro.

Na Hebraica

A artista plástica Nair Kremer inaugura “Territórios Afetivos”, uma exposição bastante original na Galeria de Arte “A Hebraica”, Jardim Paulistano, São Paulo, SP, com curadoria de Berta Waldmam. Nair Kremer exibe séries compostas por diferentes suportes e técnicas, como desenhos, pinturas, serigrafias, gravuras e instalações, fazendo uma homenagem à Clarice Lispector.

 

Em “Territórios Afetivos”, Nair Kramer pauta-se em títulos de livros da escritora, redimensionando imagens em diversas composições, conforme os espaços e suportes utilizados. Assim, “A paixão segundo G. H.” é colocada como um quebra-cabeça; “Água-viva”, em serigrafias sobre jornal; “A Descoberta do Mundo”, são serigrafias sobre papel Couchet, trabalhadas com tinta acrílica; “Perto do Coração Selvagem”, tornou-se gravuras; “O Ovo e a Galinha”, foi brindado com estruturas arquitetônicas em madeira; “Laços de Família”, ganhou pinturas a óleo; “A Hora da Estrela”, recebeu composições e fotomontagens.

 

Um paralelo entre a artista e a escritora pode ser traçado a partir do processo de criação em que ambas se baseiam, pois a construção da obra se faz por acréscimo, ou seja, fragmentos migratórios retirados de seu lugar de origem, reinstalam-se na composição de novos objetos textuais e plásticos, os quais esperam ser re-significados. “Esses diálogos em diferentes direções favorecem os efeitos circulares, as vozes em eco, que assombram tanto a ficção de Clarice quanto a obra plástica de Nair.”, comenta entusiasmada a curadora Berta Waldmam.

 

 

De 23 de dezembro a 18 de fevereiro de 2014.

Tomie Ohtake no Rio

13/dez

O Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, exibe a exposição “Correspondências”, mostra organizada pelo Instituto Tomie Ohtake, que faz parte das comemorações do centenário da artista e conta com obras de sua produção desde 1956 até 2013, além de trabalhos de artistas contemporâneos. Com curadoria de Agnaldo Farias e Paulo Miyada, a homenagem em forma de mostra aproxima o trabalho de Tomie Ohtake de outros artistas através de interesses em comum, como o gesto, a cor e a textura, e o modo como cada um deles lida com essas características. A partir daí, revelam-se temas e sensações inesperados, tanto na obra de Tomie, como na de seus interlocutores. “Partindo do gesto, por exemplo, somos conduzidos pelas linhas curvas das esculturas de aço pintado de branco de Ohtake, que atravessam o espaço e lhe imprimem movimento, as quais se encontram com a linha inefável dos desenhos Waltercio Caldas e a linha espacial composta pelo acúmulo de notas de dinheiro de Jac Leirner”, ressaltam os curadores.

 

Agnaldo Farias e Paulo Miyada destacam também que a curvatura do gesto das mãos de Tomie anuncia-se nos indícios da circularidade presentes em suas primeiras telas abstratas produzidas na década de 1950 e culmina no círculo completo e na espiral, formas recorrentes nas últimas três décadas de sua produção. Esse percurso é apresentado em companhia de obras que extravasam o interesse construtivo da forma circular, como nas obras de Lia Chaia, Carla Chaim e Cadu. Uma vez que se forma o círculo, discute-se a cor, pele que corporifica toda a produção de Tomie Ohtake e que é fundamental aos artistas que são apresentados nesse grupo. “De contrastes improváveis a variáveis que demonstram a profundidade latente em um simples quadro monocromático, exemplos de pinturas dos anos 1970, figuram lado a lado com obras recentes de Tomie e com telas de especial sutileza na produção de artistas como Paulo Pasta e Dudi Maia Rosa”. Segundo eles, em Tomie, a cor é sempre realizada por meio da textura e da materialidade da imagem, que foi deixada a nu em suas “pinturas cegas” do final da década de 1950 e, desde então, nunca se recolheu, mesmo em telas feitas com delicadas camadas de tinta acrílica.

 

Complementa o pensamento dos curadores a tese de que há uma longa linha de experimentos que desfazem a ilusão da neutralidade do suporte da imagem pictórica, a qual se inicia muito antes das colagens cubistas e possui um momento decisivo nas iniciativas que ousaram liberar-se do verniz em parte de algumas pinturas realizadas no século XIX. “Essa linha de experimentos tem em Tomie uma pesquisadora aplicada, que pode reunir em torno de si figuras tão distintas como Flavio-Shiró, Arcangelo Ianelli, Oscar Niemeyer, Daniel Steegmann Mangrané e Carlos Fajardo”.  A exposição conta com 84 obras, sendo 28 de Tomie Ohtake e mais: Adriano Costa, Angela Detanico & Rafael Lain, Bartolomeu Gelpi, Carmela Gross, Cildo Meireles, Claudia Andujar, Cristiano Mascaro, Fabio Miguez, Israel Pedrosa, Karin Lambrecht,  Kimi Nii, Leda Catunda, Luiz Paulo Baravelli, Maria Laet, Nélson Félix, Nicolas Robbio, Paulo Pasta, Sergio Sister, Tiago Judas e Tony Camargo.

 

 

De 18 de dezembro até 09 de fevereiro de 2014.

Duas mostras de Antonio Henrique Amaral

11/dez

O artista plástico Antonio Henrique Amaral inaugura, aos 78 anos, duas exposições em São Paulo. A primeira acontece na Pinacoteca do Estado, Praça da Luz; e a segunda estará em cartaz na Caixa Cultural, Praça da Sé. Para o jornalista Silas Martí, a obra do artista saiu no início “…do verde ao amarelo e ocre, … frutas que dominaram cerca de 200 pinturas do artista nos anos 1960 e 1970, entraram para a história da arte brasileira como metáfora tropical dos descaminhos da ditadura que começou com o golpe de 1964”.

 

Suas bananas estrearam com um estrondo em 1968, no auge da arte pop e da nova figuração, que dissolviam a austeridade do concretismo e viraram uma espécie de síntese colorida da tropicália de Caetano Veloso e Gilberto Gil. No começo, elas eram verdes, saudáveis, exuberantes. Depois, amadureceram até apodrecer. Foram parar no prato, destroçadas por garfos e enforcadas por cordas até que não sobrasse mais nada Agora, quase três décadas depois do fim da ditadura, Amaral e suas bananas são relembradas nessas duas mostras em São Paulo – uma retrospectiva com 160 obras na Pinacoteca  e a exposição de 100 desenhos e gravuras na Caixa Cultural. A curadoria da mostra da Pinacoteca é de Maria Alice Milliet,  que  vê uma série de elementos nas polêmicas telas. “A banana é o fálico, a latinidade, o luxuriante, o tropicalismo”, afirma. “Elas serviam para tudo.” Também serviram para alçar o artista ao panteão de sua geração no circuito das artes visuais no país.

 

 

A palavra do artista

 

“Queria esculhambar com o governo militar, que estava reduzindo o Brasil a mais uma república das bananas, como eram as republiquetas centro-americanas”.

 

“Meu desafio era pintar e, ao mesmo tempo, refletir sobre a tortura e as prisões numa coisa explosiva, sarcástica, de deboche.”

 

Ele lembra que na ditadura os censores do regime notaram as pencas de ironia plasmadas nas telas. “Mas eles cairiam no ridículo fechando uma exposição de bananas”, afirma. “Esse foi meu jeito de fazer uma sátira sem ser massacrado por eles.”

 

Sou um incoerente confesso”, diz Amaral. “Sempre fui um lobo solitário no meio das tendências.”

 

Na Pinacoteca do Estado de São Paulo,

até 23 de fevereiro de 2014.

 

Na Caixa Cultural,

de 14 de dezembro até 16 de fevereiro de 2014.

 

Fonte: Silas Martí – Ilustrada/Folha de São Paulo.

Iole de Freitas em novo livro

09/dez

No dia 12 de dezembro, às 18h, Iole de Freitas lança o livro “Para que servem as paredes do museu?”, que documenta sua atuação na Casa Daros,  quando participou do“Programa de residência de pesquisa”, entre 2011 e 2013. O lançamento acontece na própria Casa Daros, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ.

 

Com essa obra, a artista conclui uma etapa de seu questionamento “Para que servem as paredes do museu?”, que continuará a provocar reflexões e novas obras. A pesquisa envolveu a criação de uma obra gigantesca em meio à instabilidade da restauração da casa, em 2011, quando teve de trabalhar em condições “fugazes e temporárias”, para usar uma expressão da própria artista.

 

– No livro está o cerne de todo o trabalho realizado para a pesquisa na Casa Daros – comemora a artista. Na pesquisa, a ideia central foi acompanhar o processo de transformação do edifício, e projetar “utopias para lugares que estão mudando, junto com as ideias”, aponta Eugenio Valdés Figueroa, diretor de arte e educação da Casa Daros.

 

O livro também traz imagens da grande instalação de 100 metros quadrados criada pela artista para a inauguração da Casa Daros, em 2013, além de desenhos, maquetes, esboços e protótipos que nunca foram exibidos na sua totalidade, embasados por um texto que resume o processo: – Foram seis cadernos com anotações e esboços desse trabalho, conta a artista.

 

Uma entrevista de Iole de Freitas com Eugenio Valdés Figueroa é outro acréscimo importante. Os dois falam sobre as fases do projeto e o relacionam com momentos anteriores da obra da artista.

 

– Quero deixar claro que este não é um livro-catálogo, acrescenta Iole. Ao lado da “invasão” de ondas verdes (de policarbonato) há desenhos super delicados. São verdadeiros esboços de arquiteturas impossíveis, revela.

 

Confeccionado em três tipos de papel, o livro tem 104 páginas.

Miguel Rio Branco, o livro

06/dez

A Luste Editores lança “Out of Nowhere”, do pintor, fotógrafo, diretor de cinema e artista plástico multimídia Miguel Rio Branco. O livro é um registro da instalação homônima, criada para a 5ª Bienal de La Habana, 1994, e apresenta uma reflexão do artista sobre a obra e suas inspirações. A exposição “Out of Nowhere” passou por diversos países, sendo composta por fotografias, recortes do jornal nova-iorquino Police Gazette (anos 1920), além de stills de filmes antigos e “flashbacks” de suas criações anteriores.

 

As imagens que permeiam o livro foram capturadas na Academia de Boxe Santa Rosa, Lapa, Rio de Janeiro, e mostram figuras do bairro encontradas pelo artista: boxeadores, meninos de rua, jovens prostitutas, marginais. Além deste trabalho, a publicação conta com registros – feitos pelo próprio artista – da instalação, fotografias de outras séries, um texto curatorial de Ligia Canongia, e um depoimento de Miguel Rio Branco. Com uma visão mais atenta, o trabalho surge como uma retrospectiva das imagens e dos assuntos da própria obra de Miguel Rio Branco, uma recuperação geral de seu olhar e das coisas que lhe interessam, ainda que captadas por fragmentos espaciais e memoriais.

 

Nas palavras de Ligia Conongia: “Out of Nowhere coloca de imediato, a partir do próprio título (“Fora de Lugar Nenhum”), a questão da superação dos limites, espaciais e temporais. Funde passado e presente, descentraliza todo e qualquer eixo de percepção (…).”