Fotógrafos e fotógrafas

18/jul

Em cartaz no MIS, Museu da Imagem e do Som, Jardins, São Paulo, SP, a coletiva “Imagens para o futuro” propõe uma reflexão sobre os modelos atuais de convivência. Com curadoria de Ivana Debértolis e Mônica Maia, a mostra apresenta o trabalho de 16 fotógrafas e 16 fotógrafos e traz um recorte visual de possíveis caminhos para a sociedade brasileira.

No dia 05 de agosto, sábado, às 15h, ocorrerá uma conversa com Simonetta Persichetti, jornalista especializada em fotografia e integrante do Conselho Editorial da @artebrasileiros, para debater o tema da exposição com o público.

Buscando construir uma narrativa imagética contestadora e abrangente, foram selecionados fotógrafos e fotógrafas de diversas regiões do país, tais como: Amanda Perobelli, Bruno Morais, Helen Salomão, Hudson Rodrigues, Hugo Martins, Ingrid Barros, Isis Medeiros, Lalo de Almeida, Luisa Dörr, Raphael Alves. Imagens em formatos maiores na área externa da sala estarão acompanhadas de depoimentos, entre eles um trecho da ativista indígena Txai Suruí: “Através da arte os povos originários vêm espalhando e semeando sonhos para adiar o fim do mundo.”.

Em cartaz até 13 de agosto.

A geometria de Dolino

17/jul

Pintor e gravador, Luiz Dolino obedece os fundamentos geométricos em seus trabalhos que serão exibidos a partir de 25 de julho na Galeria Patricia Costa, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ.

Dolino por Leonel Kaz

Escrevi uma apresentação para a exposição de Dolino na Patricia Costa.

Será que fui atrevido?,  perguntou-me Dolino, à porta de sua casa-atelier em Petrópolis.

Logo que voltei ao Rio, fui ao dicionário: atrever-se vem do latim e significa “achar-se capaz de algo, destinar-se a algo”.

Curioso o destino deste homem, entre a arte e a matemática econômica, sustentado pelas frestas e arestas do geometrismo – onde ele poliu sua alma e seu destino de artista.

Sim, Dolino, você é um atrevido! Morou e expôs de ceca a meca em países da América Latina e viveu até em Costa do Marfim. Você me contou, ao lado de Ismélia, da festa de cores nas vestimentas de quem vai a um funeral em Abdijan. Celebra-se ali um destino, certo? De certa forma, a vida, colorida, virada ao avesso. Afinal, virar ao avesso a vida não é a função da vida e da morte em sua dupla face: a arte?

Ainda em tua casa, você já havia apontado um elenco de gravuras propondo que elas pudessem ser montadas de trás para diante, de baixo para cima, em qualquer ordem…Achei delicioso porque, afinal, tudo o que é pode não ser, nessa mágica combinatória de todas as coisas – como as crianças nos ensinam.

Tudo pode combinar com tudo, independente de critérios, ordenamento, hierarquias. Daí, tua obra, sempre, interminável. Por que? Ora, a ordem de teus geometrismos pressupõe a desordem do olhar de quem a vê.

Esta a experiência que você propõe a quem contempla tuas pinturas ou gravuras: que cada qual que reinvente, a partir de teus geometrismos, o modo de ver as coisas. Que cada qual seja… atrevido em seu estar-no-mundo!”

Daniel Feingold no Sesc Ramos 

 A exposição “Experiência Cromática”, do artista carioca Daniel Feingold, encontra-se em cartaz – até 24 de setembro – no Sesc Ramos, Rio de Janeiro, RJ. Com curadoria de Paulo Venancio Filho, são apresentadas cerca de 50 pinturas, recentes e inéditas, produzidas desde 2019 até hoje, em óleo e bastão oleoso. A exposição é uma das selecionadas pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar 2022/2023.

Para o artista, é uma alegria poder expor em Ramos, bairro com o qual ele tem uma relação afetiva de longa data. “Estudei durante cinco anos na extinta Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Silva e Souza, no período da noite. Foi uma fase muito boa, que contribuiu muito para a minha formação”, conta Daniel Feingold.

A exposição, composta apenas por obras em pequenos formatos, que começaram a ser produzidas durante a pandemia de Covid-19, como uma maneira mais rápida e produtiva de trabalho. Mas o formato deu tão certo que o artista seguiu fazendo as “pinturinhas”.

“De imediato, se percebe, essas pinturas e desenhos de Daniel Feingold parecem conter uma tensão incompatível com seus pequenos formatos. O que está dentro quer ir além; tensionar o espaço pictórico, e a experiência cromática que elas proporcionam indica a inquietude que as cores exprimem”, afirma o curador Paulo Venancio Filho.

Apresentando pinturas, que são uma continuidade da pesquisa iniciada recentemente pelo artista na qual utiliza tinta a óleo e bastão oleoso, criando campos cromáticos inéditos, explorando cores mais vivas, muitas delas em neon, além de introduzir o prata, trazendo mais luz e vitalidade para as telas. “O fundo prata ou alumínio energiza fisicamente a superfície chapada”, afirma o curador, que completa: “Aqui cores são fontes de energia, impulsivas, elétricas, ácidas, como uma dança de formas – cortes e angulações inesperadas, superposições dissonantes, continuidade e descontinuidade – que, entre si, disputam o espaço total e insistem em se conter nos limites da tela, que a custo a ação do artista procura controlar – o élan cromático gestual”.

Além de novas formas e novas cores, Daniel Feingold utiliza nas novas obras da exposição a tinta a óleo. “O óleo é uma tinta com alma, que se move, se refaz, se perde e tem vida. Para essas pinturas só o óleo faz sentido, pois este se movimenta, enruga, fere”, completa Daniel Feingold, que propositalmente deixa os “acidentes” de percurso na tela, como respingos e manchas, que acabam se incorporando à obra.

Formado em arquitetura, Daniel Feingold não faz nenhum esboço prévio antes de criar suas pinturas. “As formas começam a ser “recortadas” na hora. É tudo resolvido na tela, no momento da pintura”, diz o artista, que morou muitos anos em Nova York, período “muito esclarecedor para a minha poética de temática abstrata”. Além da exposição, estão previstos também uma visita guiada com o artista, um bate-papo, além de um catálogo digital em formato e-book.

Sobre o artista

Daniel Feingold nasceu no Rio de Janeiro, em 1954. Formou-se em Arquitetura na FAUSS, RJ, em 1983. Estudou História da Arte e Filosofia na UNIRIO/PUC, de 1988-1992; Teoria da Arte & Pintura e Núcleo de Aprofundamento, na EAV Parque Lage, de1988-1991 e fez mestrado no Pratt Institute, Nova York, em 1997. Dentre suas mais recentes exposições individuais estão “Pequenos Formatos” (2022/2023), no Paço Imperial, “UrbanoChroma” (2019) – Projeto Tech_Nô, no Oi Futuro Flamengo; “Acaso Controlado” (2017), no Museu Vale do Rio Doce – Vitória, ES; “Fotografia em 3 séries” (2016), no Paço Imperial do Rio de Janeiro; “Acaso Controlado” (2016), no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, PR.

Iole de Freitas no Instituto Tomie Ohtake

 

Em instalação monumental inédita, a artista retoma a dança para sublinhar o movimento, o espaço e a forma. Ao entrar no grande hall do Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, – até 17 de setembro – o visitante vai se deparar com uma surpreendente instalação de dimensão monumental concebida pela artista visual que completa cinco décadas de carreira. “Iole de Freitas: Colapsada, em pé”, com curadoria de Paulo Miyada, é uma mostra organizada em torno desta instalação, produzida com tubos metálicos e placas de policarbonato marcados pelo uso prévio como partes de instalações feitas pela artista nos últimos vinte e cinco anos. Essa nova peça apoia-se sobre o solo e se ergue como um abrigo aberto repleto de movimento.

“Ela dispensou a possibilidade de criar novas linhas e planos suspensos na idiossincrática arquitetura desse espaço de passagem e cruzamento desenhado por Ruy Ohtake, e desceu ao chão de seu ateliê as peças constituintes de dez de suas exposições. Tubos metálicos e placas de policarbonato marcados pelo uso (com arranhões, manchas, sujidades e desgastes) foram então girados, recombinados, aparafusados, soldados”, explica o curador chefe do Instituto Tomie Ohtake.

Para a concepção da obra, pela primeira vez em seis décadas, a dança retornou direta e explicitamente ao seu fazer artístico, como modo de apreensão do espaço e concepção da forma. Neste processo ela começou a experimentar fragmentos de dança, cenas curtas ou anotações corporais em meio à obra em construção. Conforme Paulo Miyada, mover-se, só ou na companhia de seu neto, Bento, transformou-se numa espécie de notação que antecipa e testa relações entre partes e formas. “Trata-se da dança como régua, sismógrafo, desenho, maquete, laboratório”, ele destaca.

A questão com o corpo contida neste imenso “acontecimento da obra construída” convida as pessoas a percorrer a instalação em livre movimento. “Essa peça é um abrigo aberto, uma cena à espera de atores voluntários, uma partitura espacializada de dança, um dispositivo de medição do corpo e do espaço; é uma máquina para a vivência de múltiplos estados de presença, para a experimentação de modos de aparecer e perceber-se”, completa Paulo Miyada. Os fragmentos filmados dessa experiência com a dança integram duas videoinstalações inéditas como parte da exposição desenvolvida em diálogo entre artista e o curador, que resultará ainda em uma publicação a ser distribuída gratuitamente.

Enquanto no Instituto Moreira Salles, em “Iole de Freitas, anos 1970 / Imagem como presença”, exposição em cartaz com curadoria de Sônia Salzstein, a artista apresenta uma parte de sua história reelaborada por uma instalação contemporânea, no Instituto Tomie Ohtake, ela abre novos caminhos em sua obra ao reprocessar elementos constitutivos de sua trajetória: a dança e a própria matéria de suas instalações.

Sobre a artista

Nascida em Belo Horizonte (MG), em 1945, Iole de Freitas mudou-se aos seis anos para o Rio de Janeiro, onde iniciou sua formação em dança contemporânea. Estudou na Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), cidade em que hoje vive e trabalha. A partir de 1970, viveu por oito anos em Milão, onde começou a desenvolver e expor seu trabalho em artes plásticas a partir de 1973. A artista participou de importantes mostras internacionais, como a 9ª Bienal de Paris, a 16ª Bienal de São Paulo, a 5ª Bienal do Mercosul e a Documenta 12, em Kassel, Alemanha. Além de comparecerem a individuais e coletivas em várias cidades do mundo, seus trabalhos integram importantes coleções, entre as quais, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP); Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP); Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Museu Nacional de Belas Artes, RJ; Museu do Açude, RJ; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio); Museu de Arte do Rio (MAR); Bronx Museum (EUA); Winnipeg Art Gallery (Canadá); e Daros Collection (Suíça).

Premiação de Rosângela Rennó

Uma das maiores pensadoras brasileiras da fotografia, Rosângela Rennó recebeu o prêmio Women In Motion de Fotografia 2023, tornando-se a primeira brasileira na lista de ganhadoras. O anúncio foi feito pelo Grupo Kering e o Festival Les Rencontres d’Arles, que é um dos mais importantes festivais de fotografia do mundo.

Desde a criação do prêmio, em 2015, no Festival de Cannes, a Women In Motion tem destacado a criatividade e a contribuição das mulheres na cultura e nas artes, com produções que nos levam a questionar nossa visão de mundo e a pensar em novos futuros. O prêmio inclui a aquisição de obras da artista para o acervo do festival Rencontres d’Arles. Anteriormente, o prémio foi atribuído a Susan Meiselas em 2019, Sabine Weiss em 2020, Liz Johnson Artur em 2021 e Babette Mangolte em 2022.

O prêmio será entregue a Rennó em uma cerimônia no Théâtre Antique d’Arles. Na ocasião, a artista realiza uma mostra individual de seu trabalho, apoiada pela Women In Motion, e dedicada a ela no La Mécanique Générale, em Arles. Ainda, divide com o público sua trajetória e suas perspectivas sobre o lugar da mulher na fotografia e na sociedade em geral. Essa será a primeira grande exposição monográfica de Rennó organizada na França.

Rosângela Rennó já foi premiada no Les Rencontres em 2013, quando recebeu o Prix du Livre Historique 2013, por seu livro de artista baseado na história do furto da coleção de fotografias de Augusto Malta que pertencia ao Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Até 24 de setembro, a artista expõe uma mostra individual de sua carreira durante o Encontro de Fotografia de Arles, um importante festival anual do segmento fundado em 1970.

Fotografias de Miguel Rio Branco

12/jul

A Paulo Darzé Galeria, no Corredor da Vitória, em Salvador, BA, inaugurou a mostra “Beware of Darkness”, com fotografias de Miguel Rio Branco, um dos mais destacados fotógrafos brasileiros no cenário contemporâneo.

Fotógrafo, diretor de fotografia e pintor, Miguel Rio Branco começou sua carreira profissional em 1964, com uma exposição de pinturas em Berna, Suíça. Entre as principais instituições em que expôs estão o Museu Georges Pompidou, em Paris, e o MASP, em São Paulo. Ele é autor do livro de fotografias “Salvador da Bahia”, editado em 1985.

Sua obra figura entre as principais coleções de arte, dentre as quais as de Gilberto Chateaubriand, no Rio de Janeiro, Stedjelik Museum, em Amsterdam, Museum of Photographic Arts, em San Diego, e a de David Rockefeller, em Nova York.

Entre os prêmios de Fotografia de Miguel Rio Branco estão o Grande Prêmio da Primeira Trienal de Fotografia do MAM de São Paulo (1980) e o Prix Kodak de la Critique Photographique, Paris (1982), Bolsa de Artes da Fundação Vitae, em 1994, e Prêmio Nacional de Fotografia da Fundação Nacional de Arte – Funarte, em 1995.

As fotografias de Miguel Rio Branco ficarão expostas na Galeria 1, no andar térreo da Paulo Darzé Galeria. A exposição tem entrada gratuita e ficará aberta ao público até o dia 12 de agosto.

MAM Rio em cinco perspectivas

A mostra “Museu-escola-cidade: o MAM Rio em cinco perspectivas” propõe um exercício de memória no 75º aniversário do museu: um ato de olhar para o passado, para o que já foi feito e as coisas que lá aconteceram, como convite para pensar o que o MAM Rio pode ser hoje e no futuro. Focando nas primeiras três décadas de sua história, a exposição apresenta cinco áreas que ancoram as ações do MAM Rio, e um evento que marcou seu curso. Educação, design, cinema, o experimental e os movimentos de criação artística que atravessaram a existência do museu são os campos de atuação escolhidos, os quais cimentam a relevância de uma instituição intimamente ligada às dinâmicas da cidade.

Como evento, o incêndio ocorrido em 1978 no museu representa um momento de mudanças caracterizado pelo engajamento coletivo de profissionais da cultura e da população, e pela revisão institucional. Em cada um desses eixos, obras do acervo do MAM Rio são apresentadas junto com documentos provenientes, em sua maior parte, dos arquivos do museu, escrevendo histórias por meio de objetos, imagens e impressos.    .

Até 03 de dezembro.

Artista do Recife

O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro, Rio de Janeiro, RJ,  recebe, a partir de 15 de julho, a exposição “Desculpe Atrapalhar O Silêncio De Sua Viagem”, de Lia Letícia, em sua primeira exibição individual na cidade. Com curadoria de Clarissa Diniz, a exposição apresenta singularidades do percurso da artista, que busca redimensionar e representar corpos invisibilizados ou excluídos da história oficial da arte. Na mostra serão apresentadas obras, práticas, intervenções e documentos que, conectando Rio Grande do Sul, Pernambuco e Rio de Janeiro, visam potencializar esses cruzamentos geopolíticos em contínua transformação e expressar um desejo vivo pela criação em coletividade. Com realização de Rosa Melo Produções Artísticas e incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio do Funcultura, a mostra ficará em cartaz até o dia 26 de agosto, sempre com entrada franca.

Como destaca a curadora, Clarissa Diniz, certamente quem frequenta ônibus, trens e metrôs das grandes cidades já foi abordado por um “desculpe atrapalhar o silêncio de sua viagem”. Mesmo proibidas no Brasil, as atividades comerciais nos meios de transporte são o meio de sobrevivência de milhares de pessoas. O comércio de itens tão díspares quanto balas, pendrives, biscoitos e fones de ouvido divide espaço com músicos, poetas, dançarinos e vários outros artistas que também fazem desses veículos palco para suas performances. Esse contexto de disputa entre desigualdade social e a pujança criadora permeia a produção de Lia Letícia.

“É nessa complexidade política, social e estética das formas de trabalho que se inscreve a obra de Lia Letícia. Nesse contexto, sua obra atua não apenas como denúncia, mas como uma provocativa, irônica, inventiva e bem-humorada terapêutica social. A exposição é um convite para a aproximação desses públicos às práticas da artista que também fará uma criação coletiva junto a doceiras da Saara”, destaca a curadora Clarissa Diniz.

Gaúcha radicada em Recife, PE, desde 1998, Lia Letícia tem sua obra lastreada não na excepcionalidade e pretensa autonomia da arte, mas em seu oposto: sua ordinariedade, suas disputas, suas violências. Para a artista, a arte é parte dos conflitos e construções da cultura e, como tal, deve ser pensada, criticada e tensionada por práticas culturais que se situam à margem do coração de sua hegemonia econômica, política e simbólica. Por isso, há quase três décadas, tem convocado camelôs e artistas de rua para usos não-especializados da ideia de arte e suas práticas políticas. Ela usa o humor e convida mulheres, indígenas, negros e outros sujeitos que foram subalternizados pela colonização para um diálogo e um conjunto de intervenções e propostas que, agora, pela primeira vez serão articulados e apresentados como um corpo.

Lia Letícia considera que sua atuação como artista e seu papel como educadora se retroalimentam. “Toda obra, mesmo quando pensada individualmente pelo artista, traz dentro de si um pensamento coletivo, da vivência do artista enquanto ser social”, afirma.

O trabalho que leva o nome da exposição contou com a participação do musicista Jessé de Paula, que tocava nos coletivos de Recife, e atuou de forma ativa e insubmissa. Segundo Lia Leticia, a conversa com Jessé de Paula mudou, em diversos aspectos, a própria feitura da obra. “Essa tensão, essa fricção entre como uma obra é pensada, como ela é executada e como chega ao espectador é o que me interessa. Busco trazer para dentro do meu trabalho as contradições desses outros corpos e coletividades”.

Também faz parte da exposição “Thinya” (2015-2019), obra realizada pela artista a partir de duas residências artísticas, uma em Berlim – Alemanha -, e outra no Território Indígena Fulni-ô, no agreste de Pernambuco. Com a sinopse “Minha primeira viagem ao Velho Mundo. Minha fantasia aventureira pós-colonial”, o trabalho foi premiado em festivais como o Janela Internacional de Cinema, de Recife, e o Pachamama – Festival de Cinema de Fronteira, no Acre, e tem em sua trajetória a passagem por mostras nacionais e internacionais.

Antonio Dias entre o Brasil e a Europa

06/jul

O crítico e historiador de arte Sérgio Martins aborda a trajetória do grande artista Antonio Dias (1944-2018) no livro “Arte negativa para um país negativo: Antonio Dias entre o Brasil e a Europa” (Ubu Editora, 2023), com 256 páginas e 95 imagens, fruto de pesquisa dentro de programas da Faperj e do Capes. A história singular de Antonio Dias, que foi para Paris com uma bolsa de estudos em 1966, onde participou dos movimentos de maio de 1968, e depois segue para Milão, onde passou a fazer parte de um dos principais centros de irradiação artística das décadas seguintes, sem nunca se desconectar do Brasil. Em 1999, fixa residência no Rio de Janeiro, sem deixar de fazer constantes viagens internacionais.

Sobre o livro

“Arte negativa para um país negativo: Antonio Dias entre o Brasil e a Europa” lançamento da Ubu Editora, foi lançado na Livraria da Travessa Ipanema, Rio de Janeiro. O legado de Antonio Dias é representado, com exclusividade, pela galeria Nara Roesler (São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York). O projeto para o livro começou em 2018, “embora a ideia já tivesse começado a se delinear um pouco antes, por conta de meus trabalhos prévios sobre a obra do Antonio”, conta Sérgio Martins. “A pandemia e a morte do próprio Antonio trouxeram dificuldades e mudaram os rumos da pesquisa. Mas contei com financiamentos da Capes, da Fundação Alexander von Humboldt – que me permitiram passar um ano e meio como pesquisador visitante na Freie Universität Berlin -, do Getty Research Institute, e sobretudo da Faperj, que foram fundamentais para a pesquisa internacional e para a realização do livro”. Ele acrescenta que “o foco original era o álbum “Trama”, mas isso mudou e o livro acabou se voltando para dois períodos de transição: 1968, com as pinturas negras, e 1971-1974, com a série “The Illustration of Art”. Entretanto, o livro se expande para períodos anteriores e posteriores, diz o autor. O exemplar custa R$ 89,90. A crítica Sônia Salsztein afirma que descobre-se com prazer, no curso da leitura, tratar-se de um notável experimento de reflexão e escrita sobre arte contemporânea, em que o domínio da cultura histórica e o rigor na exposição dos argumentos em nada intimidam o movimento dubitativo e experimental das ideias, diante de questões que ainda se mantêm em aberto no horizonte contemporâneo”.

Sobre o artista

Nascido em Campina Grande, Paraíba, em 1944, Antonio Dias migrou para o Rio de Janeiro em 1958, onde teve aulas com Oswaldo Goeldi (1895-1961) no Atelier Livre de Gravura da Escola Nacional de Belas Artes. Participa da 4ª Bienal de Paris, em 1965, e recebeu uma bolsa de estudos do governo francês, dando então início a um autoexílio na Europa.

Antonio Dias – Trajetória Transnacional

“A ideia era refletir sobre a especificidade da trajetória transnacional do Antonio, na medida em que ele se forma em meio ao debate vanguardista brasileiro, mas logo em seguida adentra uma cena artística muito mais estruturada, mercantilizada – e que rapidamente assumia uma feição pós-vanguardista – a partir da centralidade que Milão tinha em relação ao circuito europeu naquele momento. É como se o Antonio e sua obra encarnassem um ponto de contato muito vivo entre duas dimensões geopoliticamente distintas do fazer artístico naquele momento: uma vanguarda semiperiférica e a circulação da arte num mercado central – ainda que num país, a Itália, que também tinha certos traços semiperiféricos”, observa Sérgio Martins.

Ele acrescenta que no livro tenta “acompanhar as idas e vindas do trabalho do Antonio ao longo de diferentes manobras poéticas que ele experimenta para dar conta dessa fricção”. “O interessante é ver que ele evita tanto se colocar como um artista latino-americano ou brasileiro na Europa – no sentido não buscar cultivar essa identidade como meio de se situar e se promover – quanto aderir a grupos italianos e europeus como a Arte Povera, apesar de aberturas e flertes que acontecem ao longo do caminho. Então eu tento acompanhá-lo nesse limiar tênue, atentando para o diálogo com várias figuras importantes no Brasil e na Europa naquele momento, como Pierre Restany, Hélio Oiticica, Harald Szeemann, Giulio Paolini, Tommaso Trini, Giulio Carlo Argan, o grupo Fluxus e a pintura analítica italiana, entre outros”.

Sobre Sérgio Martins

Nasceu no Rio de Janeiro, em 1977. Estudou história da arte na University College London (UCL), onde obteve o mestrado em 2005 e o doutorado em 2011, com bolsa do Higher Education Funding Council for England e da UCL Graduate School. Sua tese resultou no livro “Constructing an Avant-Garde: Art in Brazil, 1949-1979” (MIT Press, 2013). Em 2014, tornou-se professor do Departamento de História da PUC-Rio e, entre 2020 e 2022, foi pesquisador visitante na Freie Universität Berlin com bolsa Capes/Humboldt Senior Fellowship. É pesquisador bolsista do CNPq desde 2023 e do programa Jovem Cientista do Nosso Estado (JCNE) da Faperj desde 2018. Em 2012, organizou o número especial “Bursting on the Scene: Looking Back at Brazilian Art” do periodic inglês “Third Text”. Tem artigos publicados também nos periódicos “October”, “ARTmargins”, “Artforum”, “ARS”, “Modos e Novos Estudos Cebrap”, entre outros, e contribuiu para os catálogos de mostras como “Cildo Meireles” (Fundação Serralves/Museo Nacional Reina Sofia, 2013), “Hélio Oiticica: to Organize Delirium” (Carnegie Museum/ArtInstitute of Chicago/Whitney Museum, 2016), “Alexander Calder: Performing Sculpture” (Tate Modern, 2015), “Anna Maria Maiolino” (MoCA Los Angeles, 2017), “Lygia Pape: a Multitude of Forms (The Metropolitan Museum of Art, 2017)”, “Antonio Dias: derrotas e vitórias” (MAM-SP, 2021) e “Louise Bourgeois: Imaginary Conversations” (The National Museum, Oslo, 2023.

Emanoel Araujo na 35ª Bienal de São Paulo

04/jul

É com alegria que a Simões de Assis, São Paulo, Curitiba e Balneário Camboriú, anuncia que Emanoel Araujo (Santo Amaro da Purificação, 1940 – São Paulo, 2022) integra a seleção de artistas da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível – com curadoria de Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel.

O artista explorou fortemente a presença da herança africana na cultura brasileira a partir de formas gráficas, objetos e gestos que traduziam uma dimensão expandida e transcendente, sendo referência para diversos artistas. Na exposição, com abertura prevista para 06 de setembro, o relevo escultórico em madeira de Araujo integra um conjunto de trabalhos que retomam as vozes das diásporas e dos povos originários, ampliando o diálogo local e internacional, valorizando diversos contextos impossíveis e como os artistas desenvolveram estratégias para contorná-los.