Duas exposições no MAR

06/jun

O MAR, Museu de Arte do Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta até 1º de outubro as exposições individuais de Yhuri Cruz e Jaime Laureano. Uma exposição imersiva que aborda a vingança da vida e a política da presença. Essa é “Revenguê: uma exposição-cena”,  mostra individual do artista Yhuri Cruz. A proposta expositiva do artista visual, escritor e dramaturgo Yhuri Cruz é inspirada numa ficção desenvolvida por ele nos últimos anos, onde apresenta um novo planeta e suas reverberações naqueles que o conhecem. A mostra, que é divida em quatro núcleos, apresenta, em alguns momentos, a performance de Yhuri Cruz e outros seis artistas. Durante essas apresentações o público vai presenciar a criação de novas obras da exposição. A mostra tem curadoria de Marcelo Campos, Amanda Bonan, Jean Carlos Azuos, Amanda Rezende e Thayná Trindade

Aqui é o Fim do Mundo

O passado do Brasil e a sua fonte de questionamentos sobre o atual contexto político, social e cultural são apresentados pelo artista Jaime Lauriano na sua nova exposição individual “Aqui é o Fim do Mundo”, no Museu de Arte do Rio. Cumprindo o papel de artista-historiador Jaime Lauriano apresenta esculturas, vídeos, desenhos e intervenções que revisitam símbolos, signos e mitos formadores do imaginário da sociedade brasileira. Com a curadoria de Marcelo Campos, Amanda Bonan, Amanda Rezende, Jean Carlos Azuos e Thayná Trindade, a mostra “Aqui é o Fim do Mundo”, perpassa diretamente pelos signos do nacionalismo. Essa é uma exposição panorâmica que celebra os 15 anos de carreira de Jaime Lauriano.

  

Fundação Ecarta lança projeto de arte

Os três eventos ocorreram nos diferentes espaços da galeria. A Ecarta apresentou projeto para educadores. O debate de ações pedagógicas na arte e o papel dos artistas no pensamento de novas formas de expressão da educação ganhou espaço na Fundação Ecarta. O projeto “Professor Artista – Artista Professor” traz uma reflexão sobre a temática e o papel do profissional da educação na troca de conhecimento dentro da sala de aula.

“Todo professor pode ser artista? Todo artista pode ser professor? A partir dessa reflexão abrimos este novo espaço para o diálogo sobre a arte e a educação tanto nos espaços escolares ou não”, destaca o coordenador da Galeria Ecarta, o artista visual André Venzon. Para abrir o ciclo de exposições e conversas sobre o tema, foi convidada a artista e professora Téti Waldraff. As atividades do projeto em 2023 têm a mediação do artista e professor Walter Karwatzki.

De acordo com Téti Waldraff, “…é urgente o debate e o foco na formação de arte educadores”. Para a artista, que é professora de Artes Visuais, “…seja na dança, música ou no teatro é necessário qualificar o ensino em todos os espaços possíveis”.

Projeto Potência

Nova exposição do Projeto Potência na Fundação Ecarta De 06 de junho a 09 de julho, o espaço dedicado ao “Projeto Potência” na Fundação Ecarta receberá a exposição “Ruídos de Lembrança”, da artista Isabelle Baiocco. A mostra traz um conjunto de pinturas que partem de fotografias antigas da própria família, desde a infância de seus pais até a sua própria,

“Assim como os ruídos que marcam as fotografias e vídeos analógicos, as nossas lembranças são permeadas de ruídos, pedaços faltantes, cenas borradas, tempos trocados. Aqui o tempo e memória são assuntos inerentes a essas imagens e às nossas lembranças”, pontua a jovem artista porto-alegrense. A artista e professora do Instituto de Artes da Ufrgs, Lilian Maus, aponta que, “…a partir do uso virtuoso do desenho e da pintura em contato com a fotografia e o vídeo analógico, a artista discute o lugar do retrato na arte contemporânea e a própria onipresença das imagens nos veículos de comunicação”. Isabelle Baiocco cursa Artes Visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também é bolsista de Iniciação Científica coordenada pela Professora Marilice Corona. Começou sua experiência com pintura no final de 2017 com aquarela e atualmente trabalha também com outras técnicas como lápis de cor, tinta acrílica e tinta a óleo.

O valor da arte

A Galeria Ecarta também recebeu a exposição “Primeiro Raio”, do artista Santiago Pooter. Com curadoria de Gabriela Motta, rótulos de bebidas, ícones religiosos, logomarcas e outras sínteses imagéticas formam o léxico visual das 20 obras que ficarão expostas até o dia 09 de julho. A partir da aproximação entre essas diversas marcas identitárias – sagradas, profanas, sincréticas -, o artista gera uma tensão relacionada às noções de valor cultural, econômico e simbólico dos objetos e das obras de arte. Aparentemente inacabadas, as telas de Santiago Pooter dividem o espaço com colchões usados, plantas mortas, restos de artefatos, propondo combinações semânticas insuspeitas entre as pinturas e elementos ordinários. Santiago Pooter é artista visual, pesquisador, graduando em História da Arte pela UFRGS e produtor cultural. Já foi indicado ao Prêmio Açorianos de Artes Plásticas em 2021 e 2022.

Paulo Bruscky: Atitude Política

01/jun

A exposição “Paulo Bruscky: Atitude Política”, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti, celebra a chegada de parte do acervo do artista à coleção do Instituto de Arte Contemporânea, IAC, Pacaembú, São Paulo, SP, e foi concebida a partir de pesquisas no infindável arquivo pessoal do artista, essa espécie de “Biblioteca de Babel” borgeana no Recife onde convivem e conversam cartas, obras, poemas, ideias do próprio Bruscky e de um número incalculável de outros artistas, de maneira análoga ao que acontece, de certa forma, no próprio IAC.

O eixo escolhido, em diálogo com o próprio artista, foi o da colaboração, apoio e afinidade do artista com colegas ao redor do mundo que enfrentavam, como ele, as ameaças e os perigos de regimes opressores.

A a abertura da exposição acontecerá no dia 03 de junho, sábado, das 11h às 15h. “Paulo Bruscky: Atitude Política” ficará em cartaz até o dia 05 de agosto.

A exposição tem o apoio da Galeria Nara Roesler, apoio institucional do Arquivo Paulo Brusky e o educativo é apoiado pelo Instituto Galo da Manhã. As atividades do IAC são amparadas pela Lei Federal de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, Governo Federal.

As Cosmococas de Oiticica&Neville

O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro, Rio de Janeiro, RJ, em colaboração com o Projeto Hélio Oiticica, abrirá no dia 03 de junho, às 15h, a instalação inédita “Cosmococa 5 Hendrix War (versão privê)”, da icônica obra “Cosmococa – Programa in Progress”, criada em 1973 por Hélio Oiticica (1937-1980) e o cineasta Neville D’Almeida (1941), que estará presente na abertura da mostra.

A instalação inédita “Cosmococa 5 Hendrix War (versão privê)” será mostrada no Rio de Janeiro, dentro do tour mundial que celebra os 50 anos da emblemática série interativa. Em 13 de março de 1973, o artista Hélio Oiticica (1937-1980) e o cineasta Neville D’Almeida (1941) iniciaram uma colaboração inusitada, e criaram uma série de instalações pioneiras (Quasi-Cinemas), que chamaram de Cosmococas – Programa in Progress, com projeções, trilhas sonoras e proposições para o espectador, elemento ativo, integrante, do trabalho. A “Cosmococa 5 Hendrix War (versão privê)” permancerá em cartaz no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica até 10 de dezembro.

O “Programa in Progress” abrange vários desdobramentos – livro, fotografias, cartazes, instalações públicas e domésticas, como a “Cosmococa 5 Hendrix War (versão privê)”. A obra é a única, das seis criadas especialmente para residências, que nunca havia sido mostrada em público. Foi criada em homenagem a Jimi Hendrix (1942-1970), e elaborada para ser instalada em um espaço residencial, privado, com projetores nos diversos cômodos da casa.

Para a exposição no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (CMAHO), foi montado um apartamento, com mobília, e obras de outros artistas, como Alexandre Murucci, Anna Costa e Silva, Elmo Martins, Julianne Chaves, Lígia Teixeira, Paulo Jorge Gonçalves e Rita Chaves.

A exposição da “CC5” faz parte do tour mundial que durará um ano, em celebração aos 50 anos da criação da emblemática série “Cosmococas”. O tour foi iniciado no dia em 13 de março de 2023, na EAV Parque Lage, no Rio de Janeiro, quando foi mostrada a “Cosmococa 4 Nocagions”. Em seguida, em 18 de março, durante a SP-Arte, a CC4, em versão privê, integrou a mostra “Hélio Oiticica: Mundo-Labirinto”, na Vila Modernista, nos Jardins, em São Paulo, com projeto arquitetônico de Flávio de Carvalho.

Depois, haverá a exibição da “Cosmococa 5 Hendrix War” e da “CC2 Onobject”, na Lisson Galery, em Nova York; “CC2 Onobject” e “CC3 Maileryn” (versões domésticas), na Hunter College, em Nova York; e ainda no The Mistake Room, em Los Angeles, EUA; e Carcará Photo Arte, em São Paulo.

Programa sobre a produção de Hélio Oiticica

A exposição “Cosmococa 5 Hendrix War (versão privê)” integra o programa Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, que seleciona diferentes ações, que vão de performances a aulas de diferentes artistas, pensadores, professores, entre outros profissionais, relacionadas à obra de Hélio Oiticica. Em “Cosmococa/CC5 Hendrix-War(versão privê)”, de 1973, ao som do álbum “WarHeroes” (1972), de Jimmy Hendrix, a sala oferece ao público uma rede, para relaxar. Em sua última entrevista, Hendrix disse: “Quando as coisas ficarem muito pesadas, e chame de hélio, o gás mais leve que existe”.

Breve histórico das Cosmococas – Versões públicas

No dia 13 de março de 1973, o artista Hélio Oiticica (1937-1980) e o cineasta Neville D’Almeida (1941) iniciaram em Nova York uma colaboração inusitada, e criaram uma série de instalações pioneiras (Quasi-Cinemas), que chamaram de Cosmococas-Programa in Progress, com projeções, trilhas sonoras e proposições para o espectador, elemento ativo, integrante do trabalho. Hélio e Neville haviam planejado fazer um filme, e em 1973, em um encontro em Nova York, desenvolveram uma série de slides, onde a câmera fotográfica foi usada como filmadora, o Quasi-Cinema. Na montagem, eles usaram as imagens com duração de alguns segundos, ao contrário das habituais 24 imagens por segundo do cinema. O tempo da obra fica então dilatado, exigindo uma atenção maior do público, que assim se torna ferramenta fundamental no trabalho. “Dessa forma, a Cosmococa é precursora dessa participação em meio cinematográfico das mídias no século 20”, destaca César Oiticica Filho, que coordena o Projeto Hélio Oiticica.

Cosmococas – Formas diversas de participação do público

As 11 instalações multimídias sensoriais-cinco grandes, públicas, e seis versões mais simples, domésticas (ou privês como os artistas chamavam) – que compõem o Cosmococas – Programa in Progress criam diversas formas de participação do público, com o objetivo de deixar as pessoas“em um estado de invenção, que pode ser identificado como um exercício experimental de liberdade, conceito criado por Mário Pedrosa, um dos maiores críticos de arte do século 20″, afirma César Oiticica Filho.

Em Cosmococa/CC1 Trashiscapes(1973), o público recebe uma lixa de unhas e é convidado a despreocupadamente se deitar em colchões, e relaxar. A trilha sonora inclui sons urbanos (Second Avenue, em Nova York), músicas de Jimi Hendrix, e tradicionais pernambucanas – Luiz Gonzaga, Dominguinhos e  Pífanos de Caruaru.

Em Cosmococa/CC2 Onobject(1973), sons de telefone e músicas retiradas do álbum “Fly” (1971), de Yoko Ono, provocam o público a pular e dançar sobre um piso revestido de espuma espessa.

Em Cosmococa/CC3 Maileryn(1973), junção dos nomes de Marilyn Monroe (1926-1962), e seu biógrafo Norman Mailer (1923-2007), o público interage com as bolas laranjas e amarelas espalhadas pelo espaço de piso irregular, ao som da cantora peruana Yma Sumac.

Cosmococa/CC4 Nocagions (1973/2023) é constituída por dois projetores digitais, trilha sonora de John Cage (1912-1992) e slides. Duas telas, colocadas em bordas opostas de uma piscina, exibem imagens do livro “Notations” (Notações, em inglês), de John Cage, com uma coleção de seus manuscritos musicais. Sobre a capa do livro, Hélio Oiticica e Neville de Almeida fizeram intervenções, as “mancoquilagens”. O trabalho convida o público a entrar na piscina, que recebe uma luz verde formando um padrão geométrico. A obra foi dedicada aos poetas concretos Augusto e Haroldo de Campos. Em 2013, a CC4 Nocagions foi a sensação da Berlinale, o Festival Internacional de Cinema, em Berlim.

Em Cosmococa/CC5 Hendrix-War (1973), ao som do álbum “WarHeroes” (1972), de Jimmy Hendrix (1942-1970), a sala oferece ao público um conjunto de redes, e relaxar. Em sua última entrevista, Hendrix disse: “Quando as coisas ficarem muito pesadas, me chame de hélio, o gás mais leve que existe”.

Exposição de Cerâmicas de Rodrigo Torres

A Simões de Assis apresenta até 29 de julho, “A Trilha do Esquecido”, primeira individual do artista Rodrigo Torres na sede de Balneário Camboriú, SC. O projeto dessa mostra foi criado a partir do interesse de Rodrigo  Torres por resquícios de construções, elementos humanos e da natureza encontrados em uma trilha na floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde ele vive e trabalha.

Embora tenha navegado por técnicas diversas, como pintura e colagens, hoje o artista se dedica principalmente à cerâmica. Vasos, jarras, frutas e legumes tornam-se objetos ornamentados e sofisticados subvertendo dessa maneira o gênero da natureza morta. A série de trabalhos apresentada em “A Trilha do Esquecido”, deriva de um longo caminho de experimentos do artista com o material, testando seus limites e esgarçando suas possibilidades físicas.

Pesquisas recentes de Leila Pugnaloni

30/maio

O Museu Oscar Niemeyer, MON, Curitiba, PR, inaugura, em 1º de junho, a exposição “Tela”, de Leila Pugnaloni. A curadoria é de Marco Antonio Teobaldo, que destaca que a exposição “…revela as pesquisas recentes da artista, e abarca outras séries, cinco intervenções sobre as paredes do espaço e uma seção biográfica”.

A artista carioca radicada em Curitiba faz uma individual com obras inéditas e um conjunto de trabalhos emblemáticos de sua trajetória, em um total de 131 obras. Cinco intervenções, em que desenhou diretamente sobre a superfície das paredes do ambiente expositivo; 20 pinturas inéditas, de 2m x 1m, da série “Monocromia”, colocadas em uma parede de 30 metros de extensão; 40 desenhos em pequenos formatos, em nanquim sobre papel, que mostram a pesquisa da artista sobre a figura humana e modos de viver; e uma seção biográfica, com fotografias e publicações.

Leila Pugnaloni nasceu em 1956 no Rio de Janeiro, e passou boa parte de sua infância em Brasília, onde aprendeu a observar “o tracejado certeiro de Lúcio Costa e as linhas curvas de Oscar Niemeyer, referências que a influenciaram por toda a vida”, conta o curador. Na adolescência, em Curitiba, a artista assimilou a sua híbrida visão de mundo, “herdada pela sagacidade de seu pai e a delicadeza de sua mãe”. “Dona de um espírito libertário e inquieto, em 1982, alçou vôo até Nova York, nos Estados Unidos, onde desenvolveu técnicas na renomada escola de artes The Art Students League, que foram decisivas em sua trajetória”, continua Marco Antonio Teobaldo.

“De volta à Curitiba, ela bebeu na fonte da arte moderna brasileira e da americana, flertou com as criações de outros artistas como Alfredo Volpi, Ione Saldanha, Darel Valença e da amiga Anna Letycia. Leila iniciou então, o que se pode chamar de obra da artista, com duas vertentes muito delineadas: o desenho e a pintura”. “É bem verdade que o improvável está presente na sua pintura e também no seu desenho, mas as pinceladas da artista resultam em formas precisas e concretas, enquanto que suas linhas sinuosas são de uma indiscutível leveza poética. Leila se entrega ao ofício da arte com uma grande força e faz ecoar sua feminilidade em sutileza, harmonia e paixão pela vida”, afirma Marco Antonio Teobaldo.

Até 1º de outubro.

Exibição de Ione Saldanha e Etel Adnan

29/maio

Encontra-se em cartaz na Simões de Assis, São Paulo, SP, até o dia 27 de julho a exibição conjunta de Ione Saldanha & Etel Adnan.

Ione Saldanha e Etel Adnan: Duas Coloristas

Ione Saldanha (1919-2001) e Etel Adnan (1925-2021) jamais se conheceram pessoalmente. Tampouco viram a obra uma da outra. Ione era brasileira e viveu quase a vida toda no Rio de Janeiro; Etel era libanesa e viveu entre Paris e São Francisco. Em 2012, a Documenta de Kassel dedicou uma sala à pintura de Adnan. Àquela altura eu preparava uma retrospectiva de Saldanha para o MAM-Rio, Fundação Iberê Camargo e MON. Surpreendeu-me imediatamente as afinidades entre as duas: a vibração da cor, a sensibilidade lírica, o contato poético com a natureza. Ambas fizeram da pintura um exercício de maravilhamento pautado nas composições cromáticas. Construção e natureza se reúnem e se potencializam nas suas poéticas.

Ambas trabalharam à margem dos movimentos de vanguarda, sem deixarem jamais de experimentar com as linguagens visuais. No caso de Adnan, o trabalho com a poesia e com a escrita caminhou paralelamente à produção pictórica. Seus Leporellos desdobram e integram escrita e pintura, concebendo em páginas sanfonadas, articuladas no espaço, uma caligrafia cromática singular. Saldanha foi densificando a matéria cromática sobre a tela até saltar para o espaço nas ripas, bobinas e bambus. Ambas viveram até o limite em uma zona de transição entre uma sensibilidade moderna que fazia da pintura um exercício de depuração da forma visual e uma urgência contemporânea que afirmava o trânsito entre linguagens, suportes e materialidades poéticas.

Nesta exposição, que ensaia um primeiro diálogo entre estas duas artistas, temos ainda a articulação de suas obras com a arquitetura brutalista e oxigenada de Paulo Mendes da Rocha. Volumes abertos integram a forma construída com o entorno natural, diálogo este muito caro a estas duas artistas que cresceram e viveram perto do mar, das montanhas e da luz natural. Quiçá seja a procura pelas variadas formas de deixar a luz penetrar no espaço, seja pictórico, seja arquitetônico, o que reúne esta casa e estas obras.

Por fim, a certeza de que a trajetória de Ione Saldanha merece ser cada vez mais vista, estudada e conhecida. Há nela essa capacidade única de juntar a experimentação com a linguagem pictórica e a desaceleração da percepção. Este diálogo franco com a pintura mais tardia de Etel Adnan, por mais pontual que seja, revela um lugar singular de ambas na história da arte da segunda metade do século XX.

Luiz Camillo Osorio

Mestre Didi no Inhotim

26/maio

A exposição temporária “Mestre Didi – os iniciados no mistério não morrem” chega à Galeria Praça a partir do dia 27 de maio, com curadoria de Igor Simões, curador convidado, e da equipe curatorial do Inhotim, MG. A exibição de cerca de 30 obras da coleção do Instituto Inhotim de Deoscóredes Maximiliano do Santos (1917-2013), o Mestre Didi, faz parte do Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra e apresenta ao público o universo múltiplo onde as atividades de artista, intelectual e liderança religiosa no Candomblé se encontram.

As esculturas expostas utilizam fibras de dendezeiro, búzios, contas, sementes, tiras de couro e outros símbolos que remetem às tradições iorubá. Além de artista, Mestre Didi foi sacerdote supremo do culto aos ancestrais Egungun e fundou, nos anos 1980, a Sociedade Religiosa e Cultural Ilê Asipá, em Salvador, BA. A mostra busca compreender as diversas vivências de sua trajetória, da intelectualidade ao sagrado, sempre em diálogo com as experiências afro-diaspóricas.

Integram ainda a exposição trabalhos de Rubem Valentim, Ayrson Heráclito e comissionamentos do Ilê Asipá. As inaugurações na Galeria Praça de 2023 são patrocinadas pela Shell, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Sobre o artista

Deoscóredes Maximiliano dos Santos (Salvador, Bahia, 1917-2013), mais conhecido como Mestre Didi, foi um sacerdote-artista, filho de Arsênio dos Santos, um grande alfaiate baiano, e de Maria Bibiana do Espírito Santo, conhecida como Mãe Senhora por seu papel de Ialorixá no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, em Salvador. Didi começou ainda na infância a executar objetos rituais associados ao Candomblé, mantendo essa prática ao longo de toda sua vida. Ao mesmo tempo, iniciou-se na religião aos oito anos de idade, aprofundando-se no culto aos Egunguns (ou Ancestrais), parte essencial da cultura nagô de origem iorubana. Em suas peças, fibras do dendezeiro, contas, búzios, tiras de couro, emblemas dos orixás Nanã, Obaluayê, e Oxumarê, reapresentados no campo semântico da arte e, como tal, esgarçando práticas que nem sempre cabem na palavra. Entre a década de 40 e 90, Mestre Didi se posiciona como um intelectual afro-atlântico, e em sua produção estarão presentes traduções do Iorubá para o português, autos coreográficos, contos e escritos que o posicionam como figura incontornável na guarda e na difusão dos saberes da diáspora africana, não apenas no Brasil, como entre as Américas e Europa. Em 1966, viajou para a África Ocidental para realizar pesquisas comparativas entre Brasil e África, contratado pela Unesco. Em 1980, fundou e presidiu a Sociedade Cultural e Religiosa Ilê Asipá do culto aos ancestrais Egun, em Salvador. Foi coordenador do Conselho Religioso do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileira, representando no país a Conferência Internacional da Tradição dos Orixás e Cultura. Mestre Didi realizou importantes mostras individuais e coletivas em instituições como Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu Oscar Niemeyer, Museu de Arte Moderna da Bahia, Museu Histórico Nacional e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, além de participar na Bienal da Bahia e na 23ª Bienal de São Paulo. No exterior, expôs em Valência, Milão, Frankfurt, Londres, Paris, Acra, Dacar, Miami, Nova York e Washington. Seus trabalhos figuram em coleções de destaque, incluindo Museu de Arte Moderna da Bahia, Museu de Arte Moderna de São Paulo, e Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.

Mônica Ventura no Inhotim

A Galeria Praça, uma das mais visitadas do Inhotim, MG, recebe a partir do dia 27 de maio, como parte do Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra, “A noite suspensa ou o que posso aprender com o silêncio” (2023), da artista Mônica Ventura (1985).

A obra foi comissionada pelo Instituto Inhotim para ocupar o vão central da galeria e propõe um olhar para o entorno e a potência local por meio de uma instalação de grande escala.

A parede, o leito e escultura que compõem “A noite suspensa ou o que posso aprender com o silêncio”, foram construídos com terra da região de Brumadinho e convidam o público a desvendar as diversas camadas presentes no trabalho da artista, a partir de materialidades e de simbologias relacionadas a práticas religiosas ancestrais.

Cores e formas da obra tencionam também as noções de feminino e masculino para trazer percepções da síntese das energias do universo. As inaugurações na Galeria Praça de 2023 são patrocinadas pela Shell, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Sobre a artista

Sobre Mônica Ventura

Mônica Ventura nasceu em 1985 em São Paulo, onde vive e trabalha. Artista visual e designer com bacharelado em Desenho Industrial pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) – São Paulo. Mestranda em Poéticas Visuais (PPGAV) pela ECA-USP – São Paulo. Atualmente, pesquisa filosofias e processos construtivos de arquitetura e artesanato pré-coloniais (Continente Africano – Povos Ameríndios – Filosofia Védica). Utiliza essa investigação para a elaboração de práticas artísticas geradas a partir de experiências pessoais. Suas obras falam sobre o feminino e racialidade em narrativas que buscam compreender a complexidade psicossocial da mulher afrodescendente inserida em diferentes contextos. Mulher negra, entoa sua memória corporal friccionando-a em sua ancestralidade a partir de histórias de sua vida e pesquisas. Com sua produção artística leva também o seu corpo a ocupar espaços socialmente interditados. Em suas obras há um interesse especial pela cosmologia e cosmogonia afro-ameríndia para além do uso dos seus objetos, símbolos e rituais.