Na Casa de Cultura do Parque

05/maio

 

A trajetória e o desenvolvimento do olhar do colecionador – reflexos do tempo e de suas experiências – dão direção à mostra coletiva “Setas e Turmalinas”, uma parceria com o espaço de arte Auroras, em cartaz na Casa de Cultura do Parque, Alto de Pinheiros, São Paulo, SP.

 

 

A escolha curatorial de Gisela Domschke tem como ponto de partida um eixo formado entre uma grande pintura de Francesco Clemente, artista que introduziu Ricardo Kugelmas ao mundo das artes em Nova York, e outra de Laís Amaral, uma de suas mais recentes aquisições. “Pode-se notar neste eixo uma travessia. Busquei absorver essa ideia de passagem, cruzamento e travessia na linha curatorial. No fundo, ao colecionar, você cria uma narrativa de maneira inconsciente e isso tem a ver com suas vivências”, explica Gisela Domschke.

 

 

No texto O Colecionador, o filósofo e ensaísta Walter Benjamin nota como as coisas vão de encontro ao colecionador, ou como ele as busca e as encontra. “Para o colecionador, a ordem do mundo se dá em cada objeto, e no arranjo inesperado com que as organiza – uma percepção quase onírica das coisas”, continua a curadora.

 

 

Ao todo, foram selecionadas mais de 70 obras de arte contemporânea, em tamanhos, técnicas e suportes distintos, como pintura, escultura, desenho, cerâmica e bordado, dos artistas Adriano Costa, Aleta Valente, Alex Katz, Alexandre Wagner, Alvaro Seixas, Ana Claudia Almeida, Ana Prata, Anderson Godinho, Anitta Boa Vida, Antonio Dias, Antonio Oba, Bruno Dunley, Cabelo, Caris Reid, Carolina Cordeiro, Cecily Brown, Cildo Meireles, Cisco Jimenez, Claudio Cretti, Coleraalegria, Dalton Paula, Daniel Albuquerque, David Almeida, David Salle, Eleonore Koch, Emannuel Nassar, Emanoel Araujo, Fabio Miguez, Fernanda Gomes, Flavia Vieira, Flora Rebollo, Francesco Clemente, Gabriela Machado, Gokula Stoffel, Guga Szabzon, Gustavo Prado, Ilê Sartuzi, Jac Leirner, Janaina Tschape, José Bezerra,  Juanli Carrion, Kaya Agari, Kaylin Andres, Laís Amaral, Leda Catunda, Lenora de Barros, Louise Bourgeois, Lucia Koch, Luis Teixeira, Marepe, Marie Carangi, Marina Rheingantz, Mauro Restiffe, Maya Weishof, Melvin Edwards, Moises Patricio, Ouattara Watts, Pablo Accinelli, Paolo Canevari, Paulo Whitaker, Renata de Bonis, Rodrigo Bivar, Santidio Pereira, Sergio Sister, Shizue Sakamoto, Sofia Borges, Sonia Gomes, Sylvia Palacio Whitman, Tadaskia, Tatiana Chalhoub, Thomaz Rosa, Tiago Tebet, Tunga, Valeska Soares, Yhuri Cruz e Yuli Yamagata.

 

 

Em 2019, a exposição “Tensão, relações cordiais”, com curadoria de Tadeu Chiarelli, inaugurou a Casa de Cultura do Parque com uma proposta semelhante: o recorte da coleção da diretora executiva da Casa Regina Pinho de Almeida. Agora, três anos após a abertura, a Casa abre as portas para outro espaço cultural e obras de um colecionador convidado para ocupar a galeria principal. “Esta mostra para a Casa é marcante, pois propõe o encontro de dois espaços, com idealizadores que são colecionadores e têm ideais em comum, como a construção de um espaço plural, com diálogo do público com a arte e a cultura”, pontua o diretor artístico da Casa Claudio Cretti.

 

 

De 09 de abril a 12 de junho.

 

Fotografias de Daido Moriyama

13/abr

 

 

 

O Instituto Moreira Salles, IMS Paulista, apresenta até 14 de agosto a primeira grande retrospectiva de Daido Moriyama na América Latina. A mostra reúne mais de 250 trabalhos, além de uma centena de publicações e escritos do fotógrafo japonês, um dos principais nomes da fotografia contemporânea mundial. Através de dois andares do instituto preenchidos com o trabalho do artista é possível vislumbrar diferentes momentos de sua carreira, desde o interesse pelo teatro experimental dos anos 1960, passando pelos trabalhos contestadores dos anos 1970, até a documentação das cidades e a reinvenção do seu próprio arquivo nos últimos anos.

A curadoria da exposição é de Thyago Nogueira, coordenador da área de Fotografia Contemporânea do IMS, sendo o resultado de três anos de pesquisa, visitas ao arquivo de Moriyama em Tóquio, e consulta com os pesquisadores japoneses Yutaka Kambayashi, Satoshi Machiguchi e Kazuya Kimura.

 

Sobre o artista

Nascido em 1938, em Ikeda-cho, Osaka, Moriyama passou a infância em diversas cidades. Após se formar em Design, mudou-se para Tóquio em 1961, onde começou a fotografar para jornais e revistas de grande circulação, em um período de crescimento econômico e fortalecimento da cultura de massas. Logo, tornou-se conhecido por suas fotografias em preto e branco, granuladas e de alto contraste. Moriyama desafiou as ideias convencionais de fotografia documental e de realidade fotográfica em sua abundante produção, na qual livros e publicações independentes têm participação fundamental; a produção do fotógrafo está muito associada à indústria editorial, mais do que ao circuito da arte.

O primeiro andar da exposição destaca as décadas de 1960 e 1970, momento inicial de Moriyama influenciado por mestres do pós-Guerra, como Eikoh Hosoe e Shōmei Tōmatsu, e artistas americanos, como William Klein e Andy Warhol. Durante tal período, o fotógrafo documentou a efervescente cultura japonesa, marcada pela destruição da guerra, a ocupação das tropas americanas, o desaparecimento dos modos de vida tradicionais e a ocidentalização do país. Em 1969, Moriyama integrou a equipe da contestadora revista Provoke, formada por artistas e intelectuais que questionavam a submissão das imagens às palavras e o realismo engajado. A publicação consagrava o estilo are, bure, boke (granulado, tremido, desfocado), que marcaria a fotografia japonesa do período. Alguns anos depois, Moriyama produziu o livro Adeus, fotografia! (1972), uma coletânea de imagens feitas de negativos rasurados, riscados e inutilizados, quase indiscerníveis. Segundo o curador, a publicação, que completa 50 anos em 2022, revela “a revolta de um artista contra sua submissão ao código fotográfico, a expressão máxima da descrença no poder de transformação das imagens”. Sobre esse período, o próprio artista afirma: “Tentei desmontar a fotografia, mas acabei desmontando a mim mesmo”.

No segundo andar, a retrospectiva apresenta o retorno de Moriyama ao fazer artístico, nos anos 1980, após um momento de depressão e crise criativa. Entre as obras, estão as famosas séries Luz e sombra e Memórias de um cão, publicadas entre 1982 e 1983. A mostra também traz o arquivo completo da revista Record, seu diário pessoal iniciado em 1972, que chega à 50ª edição em 2022. No centro do andar, uma grande mesa-biblioteca exibe diversos livros do artista, muitos deles disponíveis para leitura do público.

A entrada é gratuita, liberada mediante apresentação do comprovante de vacinação contra Covid-19 (para todos acima de 5 anos). É recomendaddo o uso de máscaras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Kogan Amaro Digital Art Gallery

12/abr

 

 

A galeria Kogan Amaro, amplia sua área de operação e começa a atuar também com NFT, aproximando este universo de artistas, colecionadores, investidores e o grande público.

 

 

A partir de agora, com uma curadoria específica, a Kogan Amaro Digital Art Gallery passa a oferecer ao mercado NTFs com o objetivo de simplificar as atividades nesta área e contribuir com a formação de novos públicos. Com esta iniciativa, a galeria, que tem unidades no Brasil (São Paulo) e na Suíça (Zurique), reforça sua atuação global, expandindo seu alcance e facilitando as operações das carteiras digitais.

 

 

“Nossa intenção é servir como uma ponte entre os universos físico e digital, simplificando os processos em todos os pontos da cadeia de produção de arte em NFT, desde o momento da criação à realização da venda, ao mesmo tempo em que a nossa atuação no mercado físico vive um momento de muito vigor”, declara Ricardo Rinaldi, diretor da Kogan Amaro. Uma das vantagens da operação facilitada via Kogan Amaro é que as compras de NFTs poderão ser realizadas mesmo que o cliente não tenha criptomoedas em carteira. A operação digital da Kogan Amaro já conta com perfil próprio na Foundation.app, uma das plataformas mais importantes do mercado global de NFT, dedicada a construir essa nova forma de atuação em Web 3.0, aproximando artistas e colecionadores em todo o mundo.

 

 

Ao mesmo tempo em que terão forte exposição no mundo virtual, os NFTs passarão a fazer parte dos ambientes físicos da Kogan Amaro. A galeria pretende realizar uma exposição física de NFTs até o fim de 2022 com exposição de obras tokenizadas via painéis de led e televisores especiais. A princípio, a curadoria foi feita dando espaço para artistas físicos da galeria e abrindo espaço para uma série de artistas internacionais que já atuam com ferramentas digitais, em áreas como ilustração, fotografia e animação.

 

 

Entre os artistas físicos já representados pela galeria e que agora também disponibilizam NFTs exclusivos à venda estão: Daniel Mullen, Fernanda Figueiredo e o duo Tangerina Bruno. Entre as novidades estão os artistas e fotógrafos: Kandro, João Branco, Diris Malko, Fxaq27, Attilagaliba, Reinis Couple, UMiDART e Giovani Cordioli.

 

 

 

 

Tim Burton em São Paulo

09/abr

 

 

Uma mega exposição sobre o universo criativo de Tim Burton chegou em São Paulo. Os fãs do diretor responsável por obras como “Edward Mãos de Tesoura” e os remakes de “Dumbo”, “A Fantástica Fábrica de Chocolate” e “Alice no País das Maravilhas” poderão mergulhar nessas obras com a mostra “A Beleza Sombria dos Monstros: 13 Anos da Arte de Tim Burton”.

“É a mais abrangente antologia da obra do cineasta nos últimos quarenta anos”, ressalta Jenny He, curadora da exposição, que acompanhou o projeto em cada detalhe. “À medida que o público adentra as imersivas e interativas experiências presentes nas diferentes galerias da exposição, a ilimitada criatividade e prolífica produção artística de Tim Burton se revelam intimamente”, destaca ela.

O evento terá uma área de 2600m² para a exposição, ocupando dois andares da Oca, no Parque do Ibirapuera. O evento ocorre entre os dias 08 de maio e 14 de agosto.

Marcel Broodthaers: Décor

30/mar

 

Marcel

 

Venho usando telas fotográficas, filmes e slides para estabelecer relações entre o objeto e a imagem desse objeto, além das relações que existem entre o signo e o significado de um objeto particular: a escrita.

M.B., 1968

A Gomide&Co, Jardins, São Paulo, SP, apresenta “Marcel Broodthaers: Décor”, primeira exposição individual do artista belga em galeria comercial no país, abarcando cerca de doze anos de um processo criativo marcado pela crítica institucional e a crítica da representação. Pouco conhecido no Brasil, o artista foi mostrado em duas notáveis ocasiões: na 22ª Bienal de São Paulo, em 1994, com curadoria de Nelson Aguilar, e na 27ª edição do mesmo evento, em 2006, com curadoria de Lisette Lagnado, em homenagem aos trinta anos de sua morte. Repetição e rasura; escritura e imagem; cânones e ficções. Na aparente oposição desses termos, é possível localizar alguns dos principais traços que constituem o horizonte conceitual da produção de Marcel Broodthaers (1924-1976). Com grande dose de ironia, colocou em evidência a questão do gosto e a subscrição de uma assinatura. Sabendo que a finalidade dessa invenção burguesa sempre visou forjar uma ideia de singularidade, resolveu associá-la com o seu princípio o oposto, o da tiragem ilimitada, no título “La Signature”, série 1, Tirage illimité (1969) – que, em contrapartida, se refere a um trabalho ele mesmo de tiragem limitada. Broodthaers foi poeta até sua entrada estratégica no campo das artes visuais com “Pense-bête” (1964), primeiro trabalho escultórico a partir de seu livro de poemas que, imobilizados em gesso, adquirem tridimensionalidade. Desde então, a poesia visual nunca mais será a mesma. Suas experimentações incidem, de saída, sobre a banalidade da cultura cotidiana, como vemos em trabalhos com panelas, frigideiras, carvão, mexilhões, cascas de ovo etc. Ainda que o pintor René Magritte (1898-1967), célebre artista belga com quem estabeleceu intenso diálogo, também tenha questionado a relação entre as palavras e as coisas, Broodthaers irá expandir esta reflexão para fora dos conhecidos limites do quadro. Em meio aos convulsivos eventos de Maio de 1968, Broodthaers participou, com outros artistas, da ocupação do Palais de Beaux Arts de Bruxelas, cujo intuito consistia em contestar o papel daquele museu na capital, ou seja, a relação entre arte e sociedade. A partir disso, resolve fundar, em sua casa, o Musée d’Art Moderne – Département des Aigles, seu projeto mais complexo e hoje um divisor na história da arte do século 20. Estruturado em doze seções, esse “museu fictício” tem seu encerramento decretado em 1972. Durante os cinco anos de existência, em paralelo às seções de seu museu (1968 – 1972), o artista produziu as placas industriais que constituem uma parte importante de sua obra. Broodthaers dedicou todo esse período a legitimar e denunciar, simultaneamente, o funcionamento das coleções e os mecanismos arbitrários do papel da instituição e, em última instância, da Arte. O aparato institucional da Arte seria identificado, assim, a partir de uma série de interdições e elementos operacionais que o constituem. Daí a produção de placas que emulam o sistema de sinalização, como as setas em Museum – musée, Section Cinéma (1971) que, espirituosamente, apontam para direções opostas. Os convites das inaugurações permitem acompanhar o perfil de sua missão, como em seu Musée d’Art Moderne, Département des Aigles, Section Cinéma (1971). Ainda na chave institucional, Marcel Broodthaers introduziu o conceito de Décor, fazendo de cada exposição uma obra em si – donde o desafio constante de reunir peças soltas que possam ser novamente apresentadas como um conjunto organizado. Não seria exagero afirmar que o artista foi um exhibition maker, alguém que dominou tão profundamente a arte do display que conferiu à exposição um estatuto de linguagem, chegando a inserir trilhas sonoras para conectar palavras, objetos, palmeiras no espaço etc. Entre os trabalhos mais representativos desse momento de sua produção, figuram “Un Jardin d’Hiver” e “Ne dites pas que je ne l’ai pas dit”, ambos de 1974. Este último, consiste no arranjo entre uma gaiola com um papagaio-cinzento vivo, duas palmeiras e uma mesa sobre a qual vê-se o catálogo de uma exposição de 1966 que reproduz seu texto “Ma Rhétorique”, que, por sua vez, ecoa em uma gravação em que ouvimos o artista dizer: “Je tautologue. Je conserve. Je sociologue. Je manifeste manifestement.” (Eu tautologo. Eu conservo. Eu sociólogo. Eu manifesto manifestamente). Texto e voz, objeto e imagem, bicho e planta sintetizam o esforço de Broodthaers em explodir os sentidos e abraçar trabalhos multimídia. Sobre isso, o artista comentaria: “Tenho procurado reacomodar objetos e pinturas, que foram feitos entre 1964 e este ano, com o objetivo de formar nas salas um espírito décor. Ou seja, com o objetivo de restituir uma função real ao objeto ou à pintura. O Décor não é um fim em si.”¹

Marcel Broodthaers criou para si um sistema de signos recorrentes a partir de elementos que serão recombinados em diferentes suportes e situações. É o caso das moules – palavra ambígua que, em francês, designa tanto mexilhões como moldes – e das cascas de ovo que aparecem em diversas obras tanto apropriadas in natura como desenhadas, fotografadas ou escritas em textos. Outros exemplos podem ser encontrados nas cores da bandeira da Bélgica e no carvão de “Trois tas de charbon” (1966 – 67). A repetição de imagens variadas de uma mesma figura em “Bateau Tableau”, que consiste em 80 slides projetados, e o livro e filme “A Voyage on the North Sea” ambos de 1973, operam uma espécie de reunião iconográfica (pintura, fotografia e filme) de um mesmo motivo – uma pintura do século XIX – para construir uma imagem relacional e temporalizada: um barco ao mar.

Venho usando telas fotográficas, filmes e slides para estabelecer relações entre o objeto e a imagem desse objeto, além das relações que existem entre o signo e o significado de um objeto particular: a escrita.

M.B., 1968

A poesia visual acompanhou a produção de Marcel Broodthaers ao longo de toda a sua trajetória. Seu interesse pela linguagem escrita seguiu sendo nutrido e exercitado sobretudo através de trabalhos em que aproximações entre palavra e referente são tensionadas de maneiras diversas: seja em uma espécie de investigação da correspondência entre o elemento nomeado e o termo que o designa, como quando repete incessantemente a palavra pot (pote, recipiente) e desenha ao lado um pot; ou em uma espécie de exercício de confusão das correspondências quando escreve a palavra moules ao lado de imagens de ovos. Já a imbricação da gestualidade com a escrita se vê tanto na sua caligrafia por vezes trêmula, rasurada e errante, quanto em trabalhos como “La Pluie” (Projet pour un texte) (1969), em que, debaixo de um temporal, a escrita se resume ao ato, já que quem escreve tem suas palavras diluídas e apagadas pela chuva, mas persiste no gesto. Há, ainda, um frequente jogo entre o significante e o significado, como em “Les Poissons” (1975) quando, sobre a tela, vemos os nomes dos elementos que ali estariam retratados, e não a sua forma, incluindo supostos intrusos em meio aos “peixes”, notadamente o “ovo” ao lado dos “arenques”. Ao ser questionado por seu editor acerca do motivo de publicar um livro, Broodthaers respondeu: “Para fazer dedicatórias e estabelecer essa relação arte/mercadoria.” Este diálogo integra a folha colada nas páginas iniciais da obra “Vingt Ans Après”, de Alexandre Dumas, escrito em 1845, do qual Broodthaers se apropria em 1969 adicionando uma cinta com seu nome e o de seu editor sobre a capa da edição de bolso de Dumas. Segundo Rosalind Krauss, se devêssemos nomear o principal medium de Broodthaers, seria a ficção.² Não se trata de mera coincidência, portanto, que o artista se valha de um romance do século XIX para intervir no imaginário da criação. Se o romance foi o “suporte técnico através do qual a ficção virou convenção durante o século XIX”³, o artista amplificou seu campo especulativo, já que, usando suas palavras, “a ficção nos permite compreender a realidade e, ao mesmo tempo, o que ela esconde.”

O caráter inesgotável dos problemas abordados por Marcel Broodthaers em sua obra é o que nos convida à viagem: é como se, de alguma forma, estivesse tudo ali. Sempre bom lembrar quão carregada de humor é essa produção, conferindo leveza ao estranhamento que pode provocar. Seu recado não poderia ser mais jocoso:

“À mes amis,

… peuple non admis. On joue ici tous les jours, jusqu’à la fin du monde.”

M.B., 1968 ⁴

 

¹ Marcel Broodthaers, L’Angélus de Daumier, vol. II, 1975.

² Rosalind Krauss, A Voyage on the North Sea: Art in the Age of the Post-Medium Condition, 2000.

³ Idem

⁴ “Aos meus amigos, … pessoas não permitidas. Aqui brincamos todos os dias, até o fim do mundo.”

 

Até 28 de maio.

 

Beyond van Gogh no Brasil

17/mar

 

Exposição imersiva da obra monumental de Van Gogh chegou a São Paulo, SP, permanecendo em cartaz até 07 de julho no MorumbiShopping, Jardim das Acácias.

Vivida por milhões de pessoas ao redor do mundo, a experiência “Beyond van Gogh” vai mudar a maneira de ver e sentir a genialidade do artista, usando tecnologia de projeção de ponta para criar uma viagem sensorial extraordinária

Neste ano de 2022, em que o Brasil celebra o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, o público poderá vivenciar uma exposição multimídia do gênio holandês que é um Patrimônio Mundial da Arte

Ao longo de uma carreira surpreendentemente curta, Vincent van Gogh criou uma obra tão deslumbrante que o passar dos anos somente aumentou sua importância e magnitude. “Beyond van Gogh” é uma viagem envolvente, um misto de luz, arte, cor, música e formas, projetadas no chão e nas paredes, dando ao visitante a sensação de estar dentro das obras do pintor apresentando mais de 300 obras-primas do artista que, livres de molduras, ganham vida, aparecem e desaparecem, fluem por múltiplas superfícies, projetadas no chão e nas paredes que se envolvem em luz, cor e formas para revelar flores, cafés, paisagens.

Em uma enorme instalação moderna, que abraça e acolhe o espectador de todas as idades, as cores e as emoções impressas nas obras de Vincent van Gogh serão apresentadas de uma maneira pop e sensorial, em um pavilhão de mais de 2.000 metros quadrados especialmente construído no estacionamento do piso G4 do MorumbiShopping para abrigar a exposição.

Para isso, a configuração de projeção brilha por meio de 332.000 lumens – que determina a intensidade da luz – de 30 projetores, cada um classificado para 10.000 lumens. Cada projetor, por sua vez, se conecta a um dos 12 computadores com monitores utilizando a premiada tecnologia “Watchout” de várias telas. O sofisticado equipamento utiliza três distribuições completas que ultrapassam 100 amperes com 1000 metros de cabos e mais de 400 metros de estrutura suspensa e 500 metros quadrados de tecidos espalhados por todo o pavilhão, para transformá-lo em uma grande tela móvel. Embalada por uma trilha sonora contemporânea e usando os sonhos, pensamentos e palavras do artista, a exposição leva a uma nova apreciação do trabalho impressionante do gênio holandês.

 

 

Eleonore Koch no MAR

11/mar

 

 

A mostra “Eleonore Koch: Espaço Aberto”, no Museu de Arte do Rio, MAR, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta pela primeira um conjunto de quase 150 obras da pintora. O Rio de Janeiro foi a cidade que abrigou a artista alemã, de origem judaica, por quase uma década, desse modo a cidade ganha a sua primeira retrospectiva dedicada à artista.
Eleonore Koch (1926 – 2018) chegou ao Brasil com a família aos 10 anos, fugindo do nazismo. Aqui, se tornou a única discípula do pintor Alfredo Volpi, mas desenvolveu um estilo independente. Tendo vivido em São Paulo, Rio de Janeiro e Londres, deixou um legado expressivo ao país que primeiro a acolheu.
Com curadoria de Fernanda Pitta, da Pinacoteca do Estado de São Paulo, em colaboração com os curadores do MAR, Marcelo Campos e Amanda Bonan, a exposição reúne pinturas em têmpera – técnica que a pintora aprende com Volpi -, desenhos em pastel, carvão e guache, provenientes de diversas coleções.
Muitas haviam sido guardadas pela artista até sua morte e vieram a público com o leilão de suas obras, desejo que expressou em seu testamento. A seleção é completada por documentos, fotos e objetos, que ajudam o público a adentrar o universo de Eleonore Koch.“Na capital carioca, Eleonore Koch ganha características próprias, independentes de seu mestre Volpi, no que diz respeito aos seus temas e às suas estratégias artísticas. É também no Rio que Eleonore passa a trabalhar com a temática da paisagem, até então não muito explorada por ela”, diz a curadora Fernanda Pitta.
Artista ímpar, metódica e irreverente, perfeccionista e temperamental, mas sobretudo consciente de si e de sua prática, Eleonore Koch desenvolveu uma vasta produção ao longo de seus 93 anos. Menos de quatro anos após sua morte, suas obras começam a se tornar amplamente reconhecidas.
Até 1º de maio.

Tarsila, pioneira em Paris

10/mar

 

Pionnieres - Musee - du - Luxembourg

 

O Musée du Luxembourg, Paris, França, apresenta o trabalho de 45 artistas , 45 pintoras, escultoras, diretoras de cinema, cantoras, designers. De Suzanne Valadon a Tamara de Lempicka, a Mela Muter, Anton Prinner e Gerda Wegener, a Paris dos loucos anos 20 volta à vida em toda sua exuberância e riqueza, em formas tão múltiplas quanto fascinantes. E entre elas, a brasileira Tarsila do Amaral.

A exposição oferece uma visão global sobre o empoderamento das mulheres dos loucos anos 20. Das operárias fabris às lutas políticas pelos  direitos das mulheres, ao  empoderamento das artistas femininas e ações identitárias, todas as lutas que movimentaram as  classes feminista e feminina são exibidas, e essas mesmas lutas ainda são atuais, um século depois.

Fauvismo, abstração, cubismo ou surrealismo, dança, arquitetura, design, literatura e até ciências: essas mulheres pioneiras tomaram conta de todos os gêneros, sem colocar limites à sua arte.

Em Paris, na década de 1920, os códigos existenciais estão desmoronando com as festas noturnas . O Quartier Latin, Montparnasse e Montmartre são lugares de exuberância e liberdade: um terreno fértil para essas mulheres que querem conquistar o mundo das artes.

Esses artistas promovidos pelo Musée du Luxembourg lideraram grandes movimentos de arte moderna, embora seus papéis tenham sido esquecidos ou deixados de lado. O museu parisiense acolhe 100 anos depois esta exposição para dar-lhes o seu lugar de direito na história da arte.

Esses trabalhos feitos por mulheres pintoras, escultoras ou fotógrafas mostram a luta dessas mulheres por seu empoderamento. Tinham ateliês, galerias, editoras, retratavam descaradamente corpos nus, reivindicavam o direito de vestir, casar ou amar quem quisessem, sem ter que se prender às algemas que explodiam com um pincel.

O Musée du Luxembourg continua sua programação cultural com foco em artistas femininas, e estamos muito felizes com isso. Com sua nova exposição, chamada “Pionnières. Artistes d’un nouveau gênero dans le Paris des années folles” – Pioneiras. Artistas de um novo tipo na Paris dos loucos anos 20 – o museu nos leva a um mundo ainda desconhecido, mas infinitamente rico. Para descobrir de 2 de março a 10 de julho de 2022.

O Musée du Luxembourg ilumina os artistas dos loucos anos 20 com sua nova exposição. Pinturas, esculturas, fotografias, filmes, obras de arte têxteis e literárias: nenhum gênero artístico foi deixado de lado por essas mulheres multitalentosas que não pensaram duas vezes em abrir mão dos padrões de seu tempo para inovar.

Até o dia 10 de julho, corra e descubra “Pionnières. Artistes d’un nouveau genre dans le Paris des années folles ” – Pioneiras. Artistas de um novo tipo na Paris dos loucos anos 20. Esta exposição mostra mulheres que, pela primeira vez no início do século XX, puderam frequentar uma grande escola de arte e desfrutar de um ensino de arte que até então era apenas para homens.

Chagall no CCBB Rio

08/mar

 

 

O Centro Cultural Banco do Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, exibe “Marc Chagall: Sonho de amor”. A exposição apresenta a trajetória de vida e obra do pintor Marc Chagall (1887-1985), que marcou as artes no século XX com a criação de um universo único, pautado pelo lirismo e pelo uso revolucionário de formas e cores. São mais de 180 obras, produzidas entre 1922 e 1981, através de pinturas, aquarelas e gravuras que abrangem seus temas mais caros: a infância e a tradição russa, o sagrado e suas representações, o amor e o mundo encantado nas ilustrações das Fábulas de La Fontaine. As obras são provenientes de coleções do exterior e de acervos museológicos brasileiros. A curadoria é de Dolores Duràn Ucar.

Até 06 de junho.

Jorge Macchi na Luisa Strina

24/fev

 

 

Reunindo um conjunto de obras de Jorge Macchi, artista argentino, “A estatura da liberdade” fica em cartaz até 19 de março na Galeria Luisa Strina, São Paulo e busca uma experiência que subverta a lógica cotidiana e vá além do palavrório conceitual.

Sem direção definida e objetivo claro, uma pequena mala sobre rodas percorre sozinha a galeria. Colidindo com obras, paredes e visitantes, altera seu rumo a cada obstáculo – como um protozoário, que diante de um estímulo reage de forma primária, afastando-se ou aproximando-se. Trata-se de La estrategia de la ameba (A estratégia da ameba, em tradução livre), de Jorge Macchi. Para o artista argentino, a instalação permite, de forma grotesca e bem-humorada, que a aparente diversidade das peças expostas seja “ridiculamente homogeneizada” na mostra A estatura da liberdade, que entrou em cartaz no último dia 9 de fevereiro na Galeria Luisa Strina em São Paulo.

Os trabalhos, feitos em diferentes materiais e com características distintas, parecem reunidos como em um livro de contos, em que cada obra é independente. A maleta automatizada se apresenta como um “objeto voraz e obstinado, que circula criando relações sempre novas entre as peças”, aponta Macchi. Assim, ela corrobora com a intenção primeira do artista: “Que se perceba um rio subterrâneo que perpassa todos os objetos”, conectando-os de alguma forma.

Porém, talvez não seja possível dar nome a esse rio, colocar essa suposta unidade em palavras. “Geralmente, acham que um artista tem que explicar o seu trabalho, mas estamos falando em outra linguagem: a visual. Não é possível traduzir”, explica o argentino. Tal qual La estrategia de la ameba, percorremos a exposição, criando possíveis relações entre as obras e tentando compreendê-las a partir de sua linguagem primeira, ao invés de defini-las numa tentativa de tradução. “Os statements [essas descrições explicativas], tortura a que somos submetidos diariamente em todo o mundo, são tentativas inúteis de simplificar ao extremo a criação artística para torná-la mais acessível. Acho que são pílulas anti-ansiedade que acalmam o espectador, mas roubam a complexidade do evento artístico”, desabafa Macchi; e complementa: “Diante disso, digo que não há como determinar e delimitar a poética. Pode-se sentir que há algo, mesmo que não se possa colocar em palavras. Meu desejo é que o conjunto de obras que compõem esta exposição nos permita perceber aquele fio ou aquele rio que aparentemente não está ali”.

A estatu(r)a da liberdade

Caminhando pela galeria, nos deparamos com diversos objetos que podem aludir à realidade, mas que de alguma forma a alteram. A série Confésion (Confissão, em tradução livre) traz duas caixas de papelão, que antes armazenavam smart TVs e agora estão vazias, cujas superfícies apresentam padrões de cruz que remetem aos confessionários religiosos. Em Debajo de la mesa (Debaixo da mesa), seis mesas de madeira são conectadas por seus pés, criando um espaço central vazio – consequentemente, o título passa a se referir a uma posição que não existe, já que não há mais “debaixo da mesa”, mas sim o centro de um objeto escultórico. Todas las palabras del mundo (Todas as palavras do mundo) é uma parede sem tijolos, em que só resta o cimento que os mantinha unidos, e cuja forma remete ao formato de um teclado de computador.

Apesar da preferência de Jorge Macchi por não estabelecer uma relação rígida entre o título e a mostra, há nessas alterações do real uma relação. Como ele próprio destaca em entrevista à arte!brasileiros: “Há algo na criação deste título que me interessa: como a adição de uma única letra transforma um objeto (A Estátua da Liberdade) em um conceito (a estatura da liberdade). As obras partem da premissa de introduzir mudanças muito pequenas na realidade e, assim, perturbar a forma como a percebemos ou entendemos”. O artista também acredita que o título possa ser visto como uma referência distante a O Fantasma da Liberdade, do diretor de cinema Luis Buñuel. “O filme é uma sucessão de situações aparentemente independentes, caprichosamente ligadas por um personagem ou uma situação, e cujo resultado é um violento ataque à lógica cotidiana.”

Seguindo essa proposta, diversas das obras parecem suscitar as ideias de presença e ausência, permanência e efemeridade. Se na série Presente estruturas feitas de haste de aço reproduzem as dobras de um papel que em algum momento embrulhou uma caixa – que está ausente -, Acorde nos remete simultaneamente à permanência e a efemeridade, ao que reproduz um teclado de piano em que uma sequência de teclas pressionadas congelam o momento de execução de um acorde de sol menor, “cujo som já se desvaneceu, ou cujo som permanece e, justamente sua permanência o torna inaudível”, conforme explica o texto de apresentação da galeria.

No corredor ao fundo da galeria encontramos ainda uma série de aquarelas. Segundo Macchi, elas são o começo da criação artística. “Se uma imagem surge através de uma experiência urbana, ou de um simples desenho, ou de uma memória, a primeira coisa que penso é como ela pode se materializar.” As pinturas são a atitude mais imediata, a ideia diretamente transposta para o papel. Ao que o artista busca uma forma de melhor comunicar essas imagens e extrair suas maiores riquezas, muitas acabam por gerar outra peça, em um suporte diverso. “Se me prendesse a uma técnica ou a um material, deixaria de lado essa premissa”. Isso agrega certa heterogeneidade não só a essa exposição, mas a seu corpo de obras como um todo. “Em geral, não gosto de reconhecer um artista vendo apenas uma obra. Sou contra a ideia de estilo”, conclui Macchi.

 

Fonte: Giulia Garcia para Arte Brasileiros!