Exposição de Ashley Joy

23/ago

A artista americana Ashley Joy inaugura sua primeira exposição individual no Brasil, na galeria Pop-up, Itanhangá, Rio de Janeiro, RJ. “Chapters”, sob a curadoria de Shannon Botelho e visitação até 21 de setembro. A mostra é composta por 23 pinturas nas quais destaca-se os tons quentes, fluidez e intensidade, que refletem a abordagem abstrata da artista. Ashley Joy explora temporalidade, memória e subjetividade, utilizando a abstração para expressar suas ideias em um mundo em constante transformação, criando estruturas visuais assertivas através de uma criteriosa seleção de cores e formas. Seja em grandes ou pequenos formatos, os trabalhos alcançam uma resolução plástica devido a uma criteriosa seleção de cores e formas que, uma vez estabelecidas, compõem uma estrutura visual funcional e assertiva. “Em todos os trabalhos da artista, os elementos não aparecem gratuitamente, ao contrário, funcionam como artifícios de estabilização da própria pintura e conexão com o cotidiano do ateliê e da cidade”, afirma Shannon Botelho.

Desde que se mudou para o Rio de Janeiro em 2011, suas abstrações adquiriram novos elementos figurativos, influenciada pela presença constante das montanhas na paisagem da cidade. “Nelas a paisagem simula presença, sem imprimir, de fato, o seu registro. Como miragens, as pinturas figuram imagens somente em nossas suposições e expectativas, pois, se olharmos atentamente veremos que diante de nós estão as mesmas formas e cores habituais de sua abstração”.

As referências artísticas de Ashley incluem Tamara de Lempicka, cuja estética art déco e o uso de cores monocromáticas exerceram um impacto profundo em seu desenvolvimento durante a adolescência. Além disso, seu trabalho é profundamente influenciado por sua vida familiar. Desde cedo, ela compartilha com seus filhos o prazer da prática no ateliê, um hábito que herdou de sua própria mãe. “Acredito no potencial de uma criação matriarcal, onde a força e a presença feminina são fundamentais”, diz a artista. Foi logo após o nascimento de sua primeira filha que sua pintura autoral realmente emergiu, resultando em uma explosão criativa que a levou a produzir mais de cem quadros em grandes formatos. Mais recentemente, o universo da arte urbana tornou-se um elemento significativo na pesquisa de Ashley. Estêncil, desenhos, colagem, baixos-relevos, e a técnica de aquarela em acrílica são utilizados para criar camadas vibrantes, delicadas e fluídas.  “Como capítulos, essas camadas de imagens presentes nas ruas das cidades e que contam histórias, compõem temporalidades e estruturam uma narrativa da própria vida”, reforça o curador.

“Chapters” nos convida a refletir sobre o tempo, as memórias e a vida. “A pintura de Ashley, neste sentido, imita o ritmo intenso da vida cotidiana, semelhante a capítulos com as suas sequenciais surpresas, sem perder, contudo, a beleza das cores, das misturas e as esperanças”, conclui Shannon Botelho.

Sobre a artista

Ashley Joy nasceu em 1983, Austin, Texas – EUA. Vive e trabalha entre Brasil e EUA. Artista visual com formação em Belas Artes pela Universidade do Texas – EUA. A relação de Ashley com a pintura é profunda e familiar, acompanhando as diversas fases de sua vida. Após o nascimento da sua primeira filha, sua produção artística cresceu em escala e volume. Influenciada pela Street Art, Ashley Joy experimenta variados processos para construir camadas que revelam diferentes temporalidades em uma única obra. Utilizando técnicas como estêncil, desenho, colagem e alto-relevo, ela desenvolve um estilo único, criando camadas fluidas e delicadas em acrílico.

Novo espaço de exibições

22/ago

O Bradesco inaugura em São Paulo o centro de criatividade e expressão artística Casa Bradesco na região da Avenida Paulista. O espaço – composto por quatro salas – foi projetado para atender a diversidade das experiências culturais. O incentivo a cultura acontece em parceria com o espaço cultural Cidade Matarazzo. A Casa Brasdesco passará a estar disponível para visitação em 15 de setembro.

Na sala Aqui, haverá a exposição do artista plástico Anish Kapoor. No ambiente Ali, a criatividade infantil será o foco, com espaço para interação para as crianças explorarem suas habilidades artísticas. Além disso, no espaço Acima, foi criado um laboratório focado no desenvolvimento de jovens que tem na programação workshops e palestras.

Por fim, a sala Abaixo oferece programações diversificadas com propostas imersivas para cada expressão artística. O projeto conceitual da Casa Bradesco foi idealizado pelo arquiteto Rudy Ricciotti, conhecido por projetar obras experimentais como o exterior da Philharmonie Nikolaisaal, na Alemanha. Na Cidade Matarazzo, Ricciotti desenhou a fachada da Aya Hub.

A inauguração da Casa Bradesco se acrescenta à lista de projetos de naming rights do banco, que, há 15 anos, já conta com o Teatro Bradesco. Atualmente, a Cidade Matarazzo abriga o hotel Rosewood São Paulo, a Torre Mata Atlântica, o edifício corporativo que abriga a AYA Earth Partners. Além disso, também estão presentes no espaço a Capela Santa Luzia e os restaurantes Le Jardin, Blaise e Taraz.

Nara Roesler SP exibe Julio Le Parc

05/ago

Exposição Julio Le Parc: Couleurs, 50 obras recentes e inéditas do gênio da arte cinética estarão em exibição na Galeria Nara Roesler São Paulo, Jardins, SP, a partir do dia 08 de agosto.

Trata-se da exposição “Julio Le Parc: Couleurs” do grande mestre da arte cinética. Pinturas, desenhos, um móbile em grandes dimensões, com quatro metros de altura por três metros e meio de largura, e duas estruturas luminosas – em que a luz interage diretamente com as placas cromáticas, provocando um efeito luminoso vertical e ascendente – ocuparão dois andares da Nara Roesler São Paulo. Ativo aos 96 anos, o artista argentino radicado em Paris desde os anos 1950, deu à exposição um título em francês, que significa “Cores”.

Entre as obras, está um conjunto de treze pinturas da série “Alquimias”, criadas este ano que, vistas de longe parecem nuvens cromáticas que vibram, e de perto se percebem as mínimas partículas de cor presentes nas composições. Nesses trabalhos que têm tamanhos que variam de três metros a 1,5 metro, Julio Le Parc se debruça sobre o estudo da cor, suas diferentes paletas e os resultados obtidos a partir da interação entre elas. Sua paleta é constituída de catorze tonalidades, que vem utilizando desde 1959, e que vai desde tons mais quentes, como o vermelho e o laranja, até os mais frios, como o azul e o roxo. No entanto, nas “Alquimias”, as cores são reduzidas a pequenos fragmentos, como se fossem partículas, que se agrupam e se organizam de diferentes maneiras. Vistas de longe, o espectador tem a sensação de estar diante de nuvens cromáticas que vibram conforme as tonalidades se friccionam entre si, mas, de perto, ficam visíveis as partículas de cor presentes nas composições.

Outra série pictórica presente na mostra na qual Julio Le Parc coloca lado a lado faixas de cor que vão dos tons mais quentes aos mais frios, e que através de esquemas sinuosos as cores se intercalam, criando uma superfície dinâmica. São elas “Ondes 174” (2024), “Gamme 14 couleurs Variation 8” (1972/2024), “Gamme 14 couleurs Variation 7” (1972/2024) e “Théme 72-7” (1973/2023), todas elas em tinta acrílica sobre tela.

Obras tridimensionais de Julio Le Parc, uma de suas marcas de beleza e de experimentos cinéticos, estão também na exposição: “Mobile Color” (2024), com placas de acrílico colorido suspensas por fio de nylon, totalizando quase quatro metros de altura por 3,5m de largura, em que o artista propõe a mesma transição cromática nas séries de pinturas expostas; e as duas estruturas luminosas – “Continuellumière” (1960/2023) e “Continuellumière – verte” (1960/2023), ambas em madeira, acrílico, luz e folha colorida, que contém placas de acrílico coloridas com padrões geométricos. Uma vez acesas, a luz interage diretamente com as placas cromáticas, provocando um efeito luminoso vertical e ascendente.

Um conjunto de 27 desenhos feitos em técnica mista sobre papel, com 29x21cm cada um, chamados de “Proyectos para alquimia”, revela ao público o processo criativo e experimental de Julio Le Parc, nos estudos de cor feitos para suas pinturas da série “Alquimia”. O principal interesse poético de Julio Le Parc é o estudo do movimento, que ao longo de sua trajetória foi explorado das mais diversas maneiras: por meio de pinturas, experimentações com espelhos e outras superfícies reflexivas, instalações, motores e mesmo instalações mais ousadas, como o conjunto que realizou para a Bienal de Veneza de 1966 que, para incluir o espectador, transformou a instalação em um parque de diversões.

Até 19 de outubro.

The other side of morning por Sérgio Fernandes

01/ago

“Despojai-vos de todas as esperanças, antes de entrar.” – leu Dante à entrada do Inferno.

Acontecerá na próxima sexta-feira, dia 02 de Agosto, às 17 horas, a abertura da exposição individual “The other side of morning”, de Sérgio Fernandes, na Kubikgallery São Paulo, Barra Funda.

“Não entramos no inferno, mas no desconhecido. The other side of morning de Sérgio Fernandes é um convite, uma passagem, onde o risco e a incerteza são permanentes. Esta exposição é a segunda parte de Dias Bárbaros, (Kubik Gallery. Porto 2022). Uma vez mais é apropriado citar Torquato Neto “um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela. (…) quem não se arrisca não pode berrar”. Inventando o perigo, cada pintura instiga-nos a confrontar a incerteza e a arriscar. Como Torquato Neto se refere à poesia, Sérgio Fernandes pinta. Arrisca, coloca-se em perigo em nome de algo divino, maravilhoso.

Texto de Joana Duarte

As imperfeições substituem a habitual perfeição. Pinceladas, retirar de matéria, “subtrair até nada ficar” como Sérgio Fernandes refere, denunciam os gestos. Gestos de pintor. Irreverência que coloca questões, mas nunca sugere respostas, já que “nada é perfeito, nada é para sempre”. Este conjunto de pinturas não quer ser mais do que isso mesmo, pinturas. Pinturas a óleo sobre papel onde o vazio é revelado através de uma luminosidade que transparece. Pinturas que sugerem algo que está para além de, algo que não é visível. Passagens. The other side of morning é, à semelhança de Dias Bárbaros, uma reflexão sobre o tempo, sobre o depois da morte e o antes da vida, condições vividas ou por viver das quais não existe memória. É necessariamente o agora. O título sugere isso mesmo, uma reflexão sobre o lado obscuro e desconhecido da manhã, acerca da sua imprevisibilidade, de possíveis inícios sem qualquer objetivo a não ser o próprio início, “dias escuros, porém esperançosos”. É neste limbo que a pintura acontece. The other side of morning é um convite para o desconhecido. Sérgio Fernandes, arrisca, coloca-se em perigo, berra através do silêncio, incitando-nos a berrar com ele.

Joana Duarte

Joana Vasconcelos na Baró Mallorca

24/jul

A primeira exposição de Joana Vasconcelos na Baró Galeria, está em cartaz em Palma de Mallorca, Espanha, até 31 de agosto. A exposição oferece uma visão abrangente da vasta obra de Joana Vasconcelos, apresentando instalações, esculturas, pinturas e desenhos recentes realizados ao longo dos últimos 10 anos, procurando destacar os principais temas na carreira da consagrada artista internacional.

Os olhos, o espelho da alma

Exposição de fotografias do colombiano David Matiz ocupam o Instituto Cervantes de São Paulo. Com mais de uma década de experiencia, David Matiz desenvolveu um estilo particular que combina a técnica fotográfica com uma narrativa visual única, focado especialmente em retratos. A inauguração acontece no dia 1º de agosto e a exposição estará aberta ao público até o dia 31 do mesmo mês.

Apaixonado por capturar a essência da alma através dos olhos, David Matiz criou uma série de retratos que refletem a profundidade e a emotividade de seus sujeitos. Esta exposição busca demonstrar como as expressões oculares podem revelar os verdadeiros sentimentos e pensamentos de uma pessoa. A metáfora poética de que “os olhos são o espelho da alma” foi uma inspiração central para ele, que utiliza sua lente para captar momentos que transcendem as palavras e as ações externas.

“Os olhos, o espelho da alma” convida os espectadores para uma experiência visual, concetando-se com as emoções e a essência interna das pessoas retratadas. Através de suas obras, David Matiz faz com que o público visitante se confronte com o olhar profundo dos sujeitos retratados, revelando uma verdade que só pode ser percebida através dos olhos. A exposição não só destaca o talento de David Matiz, mas também oferece uma oportunidade única para explorar a natureza humana sob uma perspectiva íntima e contemplativa.

Conflitos pintados por Arruda e Dunhham

16/jul

Abre hoje na Almeida & Dale, Jardim Paulista, São Paulo, SP, a exposição “Examining Myself and Others: Victor Arruda e Carroll Dunham”, que reúne Victor Arruda e Carroll Dunham, com um conjunto de pinturas e desenhos. A mostra aproxima as obras dos artistas que, como avaliou o curador Dan Nadel, estão conectados em suas investigações sobre masculinidade, conflito, sexo e consciência por meio de figuras distorcidas e genderizadas compostas em paletas de cores vibrantes e inseridas em ambientes impossíveis. Classificação indicativa: 18 anos

Victor Arruda constrói essa vida pintada com imagens vernaculares desenhadas com uma linha elástica e blocos de cores exuberantes. Suas pinturas são planejadas a partir de desenhos, construídas para máxima comunicação gráfica sobre o amor e o desejo, desequilíbrios de poder entre ricos e pobres urbanos, e os mapas mentais e emocionais que dominam a vida brasileira.

Carroll Dunham dá vida às suas telas improvisando dentro de parâmetros composicionais rigorosos, criando atmosfera nos céus e terrenos, preenchendo-os e a seus corpos com seu toque. Suas cenas primordiais de figuras masculinas cilíndricas lutando por esporte ou em combate, posadas e prostradas, e figuras masculinas e femininas congeladas em pleno ato sexual são a essência de nossos começos compartilhados.

Por dentro da paisagem

01/jul

A exposição coletiva de arte cubana com Alejandro Lloret, Alexis Iglesias e J. Pável Herrera está em cartaz no Instituto Cervantes de São Paulo.

O Instituto Cervantes de São Paulo, Avenida Paulista, inaugurou a exposição “Por dentro da paisagem”, com pinturas e desenhos que mostram manifestações da arte cubana contemporânea, rica em simbolismo e reflexão, tem revelado uma tendência na ressignificação da paisagem e dos objetos do cotidiano através de um olhar singular dos artistas insulares. Na mostra, Alejandro Lloret (1957) Alexis Iglesias (1968), e J. Pável Herrera (1979) se destacam neste movimento, cada um trazendo uma perspectiva única e profunda sobre os espaços da paisagem e suas possibilidades significativas.

Com suas abordagens distintas, os três artistas convergem em uma visão que transcende o mero aspecto visual das paisagens. Eles convidam o espectador a uma contemplação mais profunda, onde cada espaço vazio, cada recorte da paisagem e cada objeto abandonado revelam histórias ocultas e significados transcendentais. Através de suas obras, nos oferecem uma ressignificação do olhar, uma oportunidade de enxergar o mundo com uma percepção mais aguçada, sensível e atemporal, conectando o material ao imaterial e o cotidiano ao permanente.

MASP apresenta Catherine Opie

27/jun

Artista norte-americana faz primeira mostra individual no Brasil e exibe seus retratos nos icônicos cavaletes de cristal em diálogo com obras do acervo do museu desde 05 de julho até 27 de outubro.

O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, Bela Vista, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Catherine Opie: o gênero do retrato”, com obras de um dos principais nomes da fotografia internacional contemporânea. Catherine Opie (Sandusky, Ohio, EUA, 1961) foi uma das precursoras na discussão sobre questões de gênero entre o fim dos anos 1980 e o início dos anos 1990. Sua produção dialoga com a tradição do retrato – um dos mais tradicionais gêneros da pintura ocidental – de modo a dar legitimidade a novos corpos, subjetividades e experiências que emergem na sociedade contemporânea. Em suas fotografias, Catherine Opie retrata diversas expressões e subjetividades de indivíduos e coletivos que se identificam com gêneros e orientações sexuais diversas, especialmente pessoas queer.

Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, e Guilherme Giufrida, curador assistente, a mostra reúne 63 fotografias de suas séries mais emblemáticas, desenvolvidas ao longo de mais de três décadas. Os retratos de Catherine Opie figuram ao lado de 21 importantes pinturas da coleção do MASP, entre elas, de Pierre-Auguste Renoir, Hans Holbein, Anthony van Dyck e Van Gogh. As obras são apresentadas em diálogo com o objetivo de acentuar os diálogos, tensões e reformulações aos quais o trabalho de Catherine Opie se propõe, além de desdobrar a predileção pela arte figurativa, marca da coleção do museu.

A artista explora o gênero clássico do retrato assumindo algumas de suas características, – fundo neutro, os gestos com as mãos, as expressões e os enquadramentos – e adiciona novos elementos, como a diversidade de gênero, as práticas sexuais, os corpos distintos e os relacionamentos familiares homossexuais. “É fundamental que todos os seres humanos sejam legitimados, isso é necessário para a inclusão de todas as pessoas, para a humanidade. Ao utilizar a estética tradicional do retrato, conforme a minha visão sobre a retratística, busco manter o espectador envolvido na obra durante a observação. Além disso, é uma forma de redefinir o corpo queer dentro de uma formalidade conhecida, e não tratar apenas de uma fotografia documental”, comenta Catherine Opie.

Obras e referências

A fotógrafa tem como uma de suas principais referências o pintor Hans Holbein (1497-1534), inspirando-se nos elementos formais que compõem os retratos do pintor alemão, como o uso da cor chapada ao fundo, especialmente o azul. Suas produções também se assemelham por se tratar de conjuntos de retratos que carregam um sentido de comunidade. Em Holbein, tal recorrência reafirma a ascendência ou a aliança familiar. Já em Catherine Opie, as conexões se sustentam por amizade, identificação e proteção, como em uma galeria de retratos de uma espécie de nobreza queer. Na exposição, a fotografia JD da série Girlfriends (Color) (2008) da artista, é apresentada ao lado da pintura O poeta Henry Howard, conde de Surrey (Circa 1542), de Holbein, o que dá destaque às suas semelhanças e particularidades. “Trata-se da apropriação da tradição e de marcadores associados às elites para dar a mesma condição de visibilidade a gêneros que muitas vezes não fizeram parte do universo de possibilidades da representação”, reflete Guilherme Giufrida.

Being and Having (Ser e ter) (1991) foi a primeira série de retratos de Catherine Opie apresentada em uma exposição individual. A série é composta por 13 fotografias que retratam performances de figuras masculinizadas por seus atributos, como bigodes ou bonés, denominadas drag kings. Ao invés do nome oficial da pessoa retratada, Catherine Opie optou pelo nome fictício, de identificação coletiva e afetivo dentro do grupo de amigas do qual faz parte. O título é uma paródia das teorias de Jacques Lacan (1901-1981) sobre o lugar do falo na construção da sexualidade. Essa série inaugurou no trabalho de Catherine Opie um conjunto de retratos em estúdio que se estende até hoje, sendo que alguns deles possuem referências internas, como a cor de fundo vermelha, as roupas, a pose e o banco que se repetem propositalmente em Pig Pen (1993) e Elliot Page (2022). A fotografia do ator, produtor e diretor canadense Elliot Page, conhecido por produções de sucesso como o filme “Juno”, ilustra a capa de sua biografia Pageboy, que conta a história do seu processo de transição de gênero.

Sobre a artista

Catherine Opie nasceu em Sandusky, em Ohio, USA, em 1961. Atualmente, vive e trabalha em Los Angeles, onde foi também professora no departamento de Artes da Universidade da Califórnia (UCLA). Desde o fim dos anos 1980, realizou diversas exposições individuais em instituições de reconhecimento internacional, como o Guggenheim Museum (Nova York), Los Angeles County Museum of Art (Los Angeles), Regen Projects (Los Angeles), Thomas Dane Gallery (Londres), Institute of Contemporary Art (Boston e Canadá). Seu trabalho integra o acervo de instituições internacionais como Guggenheim Museum, Institute of Contemporary Art, J. Paul Getty Museum, Museum of Contemporary Art, Museum of Fine Arts, National Portrait Gallery, Tate e Whitney Museum.

Catálogo

Serão publicados dois catálogos, em inglês e português, compostos por imagens e ensaios comissionados de autores fundamentais para o estudo da obra de Catherine Opie. A publicação é organizada por Adriano Pedrosa e Guilherme Giufrida, e inclui textos de Ashton Cooper, David Joselit, Guilherme Giufrida, Jack Halberstam e Vi Grunvald. Com design do Estúdio Permitido, a publicação tem edição em capa dura.

A exposição “Catherine Opie: o gênero do retrato” integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da diversidade LGBTQIA+ que também inclui mostras de Gran Fury, Francis Bacon, Mário de Andrade, MASP Renner, Lia D Castro, Leonilson, Serigrafistas Queer e a grande coletiva Histórias da diversidade LGBTQIA+.

Calder e Miró no Instituto Tomie Ohtake

21/jun

Com mais de 150 obras, Calder+Miró retoma a ligação entre os trabalhos de Alexander Calder e Joan Miró – assim como os desdobramentos dessa amizade na cena artística brasileira. “Calder+Miró” é uma exposição que reúne dois artistas incontornáveis para quem quer pensar com sensibilidade nos caminhos da arte moderna.

Ocupando quase todos os espaços expositivos do Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, até 15 de Setembro, a mostra contempla a amizade entre um dos principais escultores modernos e um dos mais famosos pintores surrealistas: o escultor norte-americano Alexander Calder (1898-1976) e o catalão Joan Miró (1893-1983). Os dois foram, cada um em sua trajetória, embaixadores da ideia de que a abstração poderia ser um canteiro aberto de experimentação dinâmica, permeado pelos modos de criação intuitivos, de artistas circenses, da mecânica e da poesia.

Com curadoria de Max Perlingeiro, acompanhado pelas pesquisas de Paulo Venâncio Filho, Roberta Saraiva e Valéria Lamego, a mostra traz cerca de 150 peças – entre pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, móbiles, stabiles, maquetes, edições, fotografias e jóias.

Acompanhando todo o período expositivo de Calder+Miró, o Instituto Tomie Ohtake oferece uma programação pública inteiramente gratuita e destinada a públicos diversos. Instigadas pelas obras e pelos processos criativos dos artistas, as diferentes atividades incluirão jogos e ativações lúdicas, oficinas práticas – como de desenho de observação em movimento e de construção de móbiles -, uma programação voltada à exploração sonora das obras, bem como cursos e rodas de conversa que exploram temas como a relação entre vanguarda brasileira e a abstração, o encontro entre a Arquitetura e artes visuais no Brasil, e a produção de artistas contemporâneos. Ainda, o Instituto promoverá uma série de ações voltadas especialmente à educação, oferecendo uma programação de abertura para professores da rede pública, um ciclo de conversas que discutirá a intersecção entre arte e educação, além das visitas mediadas e visitas ateliês oferecidas à escolas e outras instituições.

Ecos Nacionais

Uma seleção de trabalhos de nomes consagrados e influenciados direta ou indiretamente pelas produções de Calder e Miró – incluindo Tomie Ohtake – será colocada em diálogo com as obras dos dois artistas. Entram aí obras de Abraham Palatnik, Aluísio Carvão, Antonio Bandeira, Arthur Luiz Piza, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Ione Saldanha, Ivan Serpa, Mary Vieira, Milton Dacosta, Mira Schendel, Oscar Niemeyer, Sérvulo Esmeraldo e Waldemar Cordeiro.

No Brasil, as obras de Calder e Miró apresentam importantes desdobramentos nos debates estéticos e produções artísticas que, a partir da década de 1940, passaram a pautar a abstração de maneira mais enfática. A relevância das contribuições desses artistas no contexto nacional se mostra, ainda, na larga presença de seus trabalhos em coleções brasileiras – para esta exposição, todas as obras apresentadas são provenientes de coleções públicas e privadas do Brasil.