Exposição Claudio Valério Teixeira

05/jun

5

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, apresenta de 15 de junho a 13 de julho a exposição “Claudio Valério Teixeira: trabalhos do ateliê”. A mostra contará com 29 telas de médias e grandes dimensões do renomado artista e restaurador, filho do importante pintor, Oswaldo Teixeira. Dentre as obras que serão expostas destacam-se “O mundo de Van Gogh”, “Ateliê Picasso”, “Onírico” e “Califórnia em azul”.

Como artista plástico, participou de diversas exposições coletivas, como Salão Nacional de Belas Artes (MEC/RJ), Salão Eletrobrás – Luz e Movimento (MAM/RJ), Bienal Nacional (Parque do Ibirapuera/SP), Salão de Verão (MAM/RJ), Mostra de Artes Visuais do Rio Grande do Sul, Concurso Nacional de Artes Plásticas de Goiás, Salão Carioca (Funarte/RJ), “Universo do Carnaval-imagens e reflexões” (Acervo Galeria de Arte/RJ), “Universo do Futebol” (MAM /RJ), “Arte e Violência” (UFF/RJ), Salão Nacional de Arte Moderna (MAM/RJ), onde conquistou o Prêmio de Isenção do Júri.

Entre as exposições individuais, destacam-se as realizadas na Galeria Rodrigo Mello Franco de Andrade, Funarte/RJ, Acervo Galeria de Arte/RJ, Museu Nacional de Belas Artes/RJ, Galeria Multiarte/CE, Museu Antônio Parreiras, Niterói/RJ, Pinacoteca do Estado de São Paulo/SP e Museu Benedito Calixto – Pinacoteca de Santos. Em 2003, criou, a convite do arquiteto Oscar Niemeyer, painel de grandes proporções para o Memorial Roberto Silveira, localizado no Caminho Niemeyer em Niterói, RJ.

Atualmente é professor adjunto do Departamento de Arte e Preservação da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, membro do Comitê Brasileiro do International Council of Museums (ICOM), da Association Internationale des Critiques d´Art (AICA), da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e da Associação Brasileira de Conservadores-Restauradores de Bens Culturais (ABRACOR).

 

Sobre o artista:

Os azuis e as cores de Claudio Valério, docemente iluminados em aquarelas e afrescos arejados, abrigados à sombra das tragédias cotidianas ou desembaraçando dourados em reverências à memória da história da arte e da pintura em particular, designam, em boa medida, o feitio de sua aflita e generosa personalidade, sua densa e lúcida obra, suas ideias e originalidades: em pausas breves, levam-nos a transpor e descobrir, terna ou dramaticamente, as singularidades entre forma e significação, técnica e emoção, íntimo e solidário.

A liberdade de escolha dos temas vem sendo consolidada desde o início da carreira, quando, em 1978, estreou a primeira exposição individual na galeria Rodrigo Melo Franco de Andrade, no prédio do Museu Nacional de Belas Artes, e já então elegeu a violência implacável da ditadura militar como objeto de uma série de desenhos em tamanho natural e em alguns suportes monumentais. A mostra foi amplamente elogiada pela crítica de arte, à época com nomes de lastro. Jovem talentoso saído dos ateliês da Escola de Belas Artes, censurado no 1º Salão Carioca de Arte em 1977, insistiu no desafio da denúncia política, chamando atenção para “o confronto entre a barbárie e a placidez” – em suas palavras-, esta última representada pela inclusão de figuras velazqueanas ao redor do corpo nu de uma mulher torturada. Trinta e três anos depois, Claudio refez os grandes desenhos perdidos e reuniu-os a alguns remanescentes, em exposição no MNBA. Agora, com menos fúria, mais refinamento e a mesma dramaticidade. Açougue latino, de 1982, é um exemplar contundente da época e do tema.

Na década de 1990, Van Gogh e Picasso foram objetos de duas extraordinárias exposições: “Cartas a Vincent”, um inspirado comentário pictórico das tantas infelicidades do pintor holandês, a partir da correspondência com seu irmão Theo, apresentada em Niterói, no Rio e em Fortaleza, entre 1990 e 1991; e “La California” e um tríptico, casa e ateliê do espanhol em Cannes nas décadas de 1950-1960, exibida em Niterói, Rio e São Paulo. Na presente mostra, seis expressivas obras das duas séries podem ser apreciadas: “O mundo de Van Gogh” e “Cipreste: caixa de pintor”, ambas de 1990; “Ateliê Picasso”, 1984; “Onírico”, 1993; “La table” ou “London, London”, 1993 e “Puertas y ventanas”, 1994. Em “La California”, Valério examina, decompõe e sutilmente sugere a geometrização dos planos, a expressão espontânea do pensamento, cruzando e associando detalhes arquitetônicos, objetos deslocados, vegetação mediterrânea e memórias tremendas de Guernica devastada durante a guerra civil espanhola. Em “Cartas a Vincent”, a tragédia existencial de Van Gogh é tratada numa perspectiva audaciosa e fraterna entre os signos da vida e da obra do atormentado pintor e a sensível cumplicidade que aproxima, ambos, do dilema da arte.

 

“Egon Schiele”, de 1987, único afresco desta exibição, confirma o que já se sabe e se espera de Claudio Valério: domina o saber e a habilidade das técnicas artísticas. A vivência familiar em torno do admirado pai, Oswaldo Teixeira, e de alguns irmãos igualmente dedicados às artes, assegurou a formação de um artista sofisticado, comprometido, e com as pálpebras viradas às paixões e misérias humanas. Recentemente Claudio e uma equipe de amigos pintores realizaram um belíssimo afresco sobre o muro de sua casa, em Niterói, representando elementos da natureza vegetal em composição que homenageia o pintor e paisagista Roberto Burle-Marx.

 

A solidão e o anonimato urbanos, os conflitos e injustiças sociais merecem a permanente atenção do artista. “Ônibus”, de 1981, e “Argentina”, de 2002, embora descrevam momentos e lugares distintos, enfrentam o desencanto e o esgotamento da tolerância diante dos desacertos oficiais. Argentina reproduz cena de rebelião popular no país, em 2001; Ônibus exibe a contemplação exausta e a indiferença à vista de dois mascarados no carnaval; estes, com fantasias medonhas, parecem mais assustados do que assustar, temem mais do que amedrontam. Não por acaso, a pintura é envolta numa obscuridade cromática conciliada ao desconforto e à precariedade. Um repertório de realismo e realidade que não dispensa espaço para a ilusão.

 

“Quartier Latin”, de 2001, recorta um trecho da paisagem urbana parisiense em que inúmeras chaminés projetadas contra o céu nublado como que ocupam o vazio humano na sequência de janelas e mansardas. Os dois nus, um a carvão, crayon e giz e outro a carvão, crayon, giz e pastel, comprovam o domínio técnico e artístico de Claudio Valério no desenho sólido e estruturado do modelo vivo, praticado semanalmente em conjunto com amigos artistas, desde a juventude e até hoje. Os dois óleos de nus femininos decorrem da excelência do desenho, complementada pela materialidade e cromatismo pictóricos, além do notável e minucioso trabalho de reprodução da colcha de retalhos.

 

Por fim, e não menos atraente, destaco duas pinturas que acomodaria na categoria dos temas íntimos, entre os demais trabalhos selecionados no ateliê em Niterói e ora expostos na elegante galeria de Evandro Carneiro: “Orange”, 2006 e “Autorretrato”, 2004, ambos da série “Vida de artista”. Quase dois autorretratos. A composição com objetos é tão radiosa que é como se a luz amparasse e persuadisse instrumentos, ferramentas, intuição e intelecto. Já o Autorretrato propriamente dito confronta o espectador com o sentimento arrebatado do artista, a exemplo do Autorretrato desesperado, de Courbet, e do assombrado soldado 33, de Pedro Américo: sem hesitar, Claudio firma sua dedicação à pintura, e os pincéis em riste, quase escapando da tela, consagram sua vocação.

Maria Elizabete Santos Peixoto

Historiadora e Crítica de Arte (Abril/2019)

Leda Catunda e o Projeto Parede 

03/maio

O MAM, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, apresenta até 28 de julho, o “Projeto parede/ Paisagem moderna”, painel assinado por Leda Catunda.

 

 

A palavra do curador 

 

O que é o bom gosto? Neste painel, Leda Catunda reúne diversos materiais e imagens associados ao aprazível: paisagens sinuosas, curvas ondulantes, gatinhos, tecidos estampados, cores intensas. Tais elementos são aproximados do público pelo fazer brejeiro da artista, pois o traço dos desenhos parece infantil e espontâneo, assim como os recortes que delimitam as várias peças. A estratégia para aproximar o público da obra passa pelo reconhecimento dos diversos aspectos familiares nela contidos. Porém, sua presença num museu traz um problema: por que ela é considerada arte, enquanto um desenho amador bonito não seria? Ao conseguir despertar essa reflexão no público, a artista questiona os parâmetros de gosto, de arte, de banalidade e de erudição: mexendo assim com nossos valores presentes, a paisagem se torna moderna.

Felipe Chaimovich

Homenagem à Bahia 

02/maio

Como parte das comemorações dos seus 15 anos, o Museu Afro Brasil, abre no dia 07 de maio, as exposições “A cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também” e “Aberto pela Aduana – Livro de Artista de Eustáquio Neves”, ambas com curadoria de Emanoel Araújo.

 
“Essa exposição (sobre a Bahia) fala de alguns fatos e pessoas, sobretudo dos artistas, dos homens e das mulheres. Mulheres que fizeram da Bahia essa mágica, inusitada e preciosa cidade, de todos os santos, de muita sensualidade e de pouco pudor, que se esvai pelas ladeiras e ruas sinuosas”, declara Emanoel Araújo.

O núcleo central da mostra é composto pelo modernismo baiano, representado por uma robusta seleção de telas de Carlos Bastos (1925 – 2004), tapeçarias de Genaro de Carvalho (Salvador, Bahia, 1926 – 1971), esculturas em ferro ou “ferramentas de santo”, ligadas à religiosidade afro-brasileira, de José Adário dos Santos (1947), esculturas e gravuras de Rubem Valentim (1922 – 1991), além de jóias de Waldeloir Rego (1930 – 2001).
A representação da baiana está presente na escultura de Noêmia Mourão, nos vestidos de renda Richelieu, além de dezenas de bonecas de cerâmica, madeira e louça. Carmen Miranda, a “pequena notável” que celebrizou a figura da baiana mundo afora, é também homenageada com a exibição de fotografias de revistas, iconografia em porcelana esmaltada, além de um vestido original. A seção inclui ainda fotografias de outras baianas ilustres como Marta Rocha (1936), Miss Brasil em 1954, e Helena Ignez, musa do Cinema Novo.

 
Fotografias e pinturas de personalidades baianas do século XX como o escritor Jorge Amado (1912 – 2001), o compositor Dorival Caymmi, aqui homenageado em painel da artista Regina Silveira, Mãe Menininha do Gantois (1894 – 1986), entre outros, se somam aos bustos em gesso patinado dos alfaiates João de Deus do Nascimento e Luiz Gonzaga das Virgens, e dos soldados Lucas Dantas Amorim Torres e Manoel Faustino dos Santos Lira, realizadas em 2004 pelo artista Herbert Magalhães. Estes são heróis da Revolta dos Alfaiates, também conhecida como Conjuração Baiana ou, ainda, Inconfidência Baiana, revolta social de caráter popular ocorrida em 1798, inspirada pelo ideário da Revolução Francesa.

 
A expressão baiana da arte barroca, que no Brasil diferenciou-se da matriz europeia, não poderia ficar de fora da curadoria. Emanoel Araújo reúne nessa seção fotografias de Silvio Robatto, Davi Glatt, óleos sobre tela de pintores baianos do século XVIII como Joaquim da Rocha (1737 – 1807), Teófilo de Jesus (1758 – 1847) e Veríssimo de Freitas (1758 – 1806), azulejaria, livros e revistas, além de um extenso panorama da cidade de Salvador feito por Floro Freire. A exposição conta ainda com um conjunto de fotografias de Mário Cravo Neto e aquarelas do século XIX da artista inglesa Maria Graham (1785 – 1842), retratando o cotidiano das baianas de Salvador.

“A cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também” reserva ao público a projeção de filmes ligados ao imaginário baiano como: “Barravento” (1962), dirigido por Glauber Rocha; “Bahia de Todos os Santos” (1960), com direção de Trigueirinho Neto, além da série de documentários do projeto “Centenário de Alexandre Robatto Filho – Pioneiro do Cinema na Bahia”, que conta com os filmes “Entre o Mar e o Tendal” (1952-1953), “Xaréu” (1954), “Vadiação” (1954), Igreja” (1960), “Desfile dos 4 séculos” (1949), “O Regresso de Marta Rocha” (1955), “Um Milhão de KVA” (1949), “A Marcha das Boiadas” (1949), “Ginkana em Salvador” (1952), e “Os Filmes que Eu Não Fiz” (2013).

 

Paralelamente a abertura da exposição “A cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também”, o Museu Afro Brasil apresenta “Aberto pela aduana – Livro de Artista de Eustáquio Neves”, a primeira exposição individual do premiado fotógrafo e artista multimídia mineiro em São Paulo desde 2015, quando exibiu “Cartas ao Mar”, também no Museu Afro Brasil.
“Aberto pela Aduana”, além de ser o título da exposição, é o nome da principal obra da mostra, o “Livro de Artista de Eustáquio Neves”, produzido a partir da manipulação de materiais de arquivo do fotógrafo, desenhos, colagens entre outras técnicas. Apesar de ter uma estrutura geral semelhante a um livro, a obra é na verdade um objeto de arte que fala por si próprio. Segundo Eustáquio, o nome “Aberto pela Aduana” foi escolhido para estimular a discussão em torno das múltiplas violações do corpo negro, desde o tráfego negreiro aos dias atuais.

 
Aduana, vale lembrar, é o nome dado a repartição governamental de controle do movimento de entradas (importações) e saídas (exportações) de mercadorias para o exterior ou dele provenientes. E é justamente neste ponto que as relações envolvendo a objetificação de milhares de corpos negros durante o tráfico atlântico e, na contemporaneidade, com os estratosféricos números de mortes por causas violentas de jovens negros em todo o território nacional, são traçadas. Entre as obras apresentadas ao público pela primeira vez, além do próprio “Livro de Artista”, estão trabalhos da emblemática série “Máscara de Punição”, formada por imagens construídas a partir da apropriação de um retrato da mãe do artista mesclado a uma foto de uma máscara de ferro. Compõe a mostra obras da emblemática série “Encomendador de Almas”, de 2006.

 
Nas palavras de Emanoel Araujo, curador da exposição, “a fotografia encontra em Eustáquio Neves um homem devoto dos dramas que envolveram e envolvem um passado atormentado e atormentador da nossa história. História de um povo que foi conduzido ao degredo humano e de tamanha força que não se apaga, não sai da nossa alma. (…) Por certo o seu desempenho de grande artista manipulador dessas imagens comove, penetra, sangra e une passado e presente”.

 

 

“O Universo de Emanoel Araujo, Vida e Obra”

 

Juntamente com a abertura das exposições ocorrerá o lançamento do livro “O Universo de Emanoel Araujo, Vida e Obra”, da Capella Editorial. Com imagens de cartazes, livros, xilogravuras, esculturas em aço, madeira, concreto, fibra de vidro; máscaras, painéis em mármore, concreto e granito; gravuras, totens, relevos, estruturas, biombos, além de textos, entrevistas e pensamentos de Emanoel Araujo, também curador e diretor do Museu Afro Brasil, a obra eterniza o trabalho do artista, cuja produção convida à reflexão sobre a sociedade brasileira – ainda violenta, racista, desigual e injusta. Mais que um livro de arte é um registro histórico da cultura brasileira.

 

 

De 07 de maio a 1º de setembro.

Djanira no MASP

29/abr

O MASP, Museu de Arte de São Paulo, Avenida Paulista, apresenta a primeira grande exposição monográfica dedicada à obra de Djanira da Motta e Silva, Avaré, São Paulo, 1914 – Rio de Janeiro, 1979, desde seu falecimento há quarenta anos. Autodidata e de origem trabalhadora, a artista surgiu no cenário da arte brasileira nos anos 1940. Embora tenha trilhado sólida carreira em vida, nas últimas décadas Djanira foi colocada de lado nas narrativas oficiais da história da arte brasileira. Esta mostra busca, portanto, examinar o papel fundamental da artista na formação da visualidade brasileira e reposicioná-la na história da arte do país durante o século 20.

 

O título “Djanira: a memória de seu povo” – emprestado de uma reportagem dos anos 1970 de Mary Ventura – refere-se à trajetória da artista, à sua história de vida e suas muitas viagens pelo Brasil, bem como sua pintura profundamente engajada com a realidade à sua volta. No caso de Djanira, falar em memória remete ao extraordinário imaginário que a artista criou com base na vida cotidiana, nas paisagens e na cultura popular brasileira, em torno de assuntos frequentemente marginalizados pelas elites.
Esta exposição inclui obras de todos os períodos da produção de Djanira, do início dos anos 1940 ao final dos anos 1970, e segue um princípio cronológico ao mesmo tempo que reúne trabalhos dos principais temas da artista: retratos e autorretratos, diversões e festejos populares, o trabalho e os trabalhadores, a religiosidade afro-brasileira e católica, os indígenas Canela do Maranhão, entre diversos povos e paisagens brasileiros.
A obra de Djanira foi por vezes rotulada pela crítica como arte primitiva ou ingênua, classificações que hoje são entendidas como preconceituosas e perversas, pois refletem uma perspectiva elitista e eurocêntrica segundo a qual todos os trabalhos que não seguem os estilos e gostos eruditos tidos como “oficiais” eram considerados menores – primitivos, ingênuos, naïfs. Esta exposição e o livro que a acompanha visam reparar esses equívocos e incompreensões, devolvendo a urgente visibilidade que a obra de Djanira merece e marcando sua presença fundamental na história da arte brasileira.
“Djanira: a memória de seu povo” inaugura a programação do ciclo “Histórias das mulheres, histórias feministas”, dedicado a artistas mulheres na programação do MASP durante o ano de 2019. A mostra coincidirá com as exposições de Tarsila do Amaral e de Lina Bo Bardi, três pioneiras que trabalharam, cada uma a seu modo, a partir de diferentes fontes populares em suas obras no século 20.

 

“Djanira: a memória de seu povo” tem curadoria de Isabella Rjeille, curadora-assistente, e Rodrigo Moura, curador-adjunto de arte brasileira do MASP.

 

 

Até 19 de maio.

Exposição-ensaio

22/abr

A exposição-ensaio, realizada pelo Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, e organizada pelos seus curadores Luise Malmaceda e Paulo Miyada, parte da obra do artista paranaense Miguel Bakun (1909-1963) para refletir sobre a representação da paisagem subtropical brasileira. “Trata-se de uma paisagem tantas vezes desconsiderada pelo imaginário eminentemente litorâneo, quente e praieiro de um país cujos cartões postais concentram-se ao norte do trópico de Capricórnio”, afirmam os curadores.

 
“Aprendendo com Miguel Bakun: Subtropical”, como sugerem Malmaceda e Miyada, trata-se de uma imersão pela “estética do frio”, conceito elaborado pelo músico gaúcho Vitor Ramil em livro de título homônimo, cuja mediadora são as obras de Bakun, balizadas pelo apreço à paisagem cotidiana de uma Curitiba dos anos 1940, às vésperas de sua modernização e ainda atravessada por indícios de seu entorno rural. Segundo os curadores ainda, o pintor paranaense, ao depositar sobre tela ágeis pinceladas utilizando uma restrita paleta formada pelas cores amarela, azul e verde entremeadas por branco puro, foi capaz de materializar esse imaginário de Brasil adverso às representações da natureza exótica e vibrante historicamente interpretada por viajantes estrangeiros, ou mesmo pelo cânone moderno, e exportada como imagem-ideal do país.

 
“Em pinturas de fatura energética, extrapolou a apreensão do real para formar estudos de uma paisagem interna amparada na subjetividade, disparadoras de reflexões sobre tempo, atenção, singeleza, interior, intuição e silêncio – protagonistas desta exposição, que costura nessa trama temporalidades e poéticas entre artistas de diferentes gerações”, completam.

 

A mostra, com patrocínio do Banco Barigui, Grupo Barigüi, Tradener e Moageira Irati, se propõe apresentar, de forma inédita em São Paulo, um amplo recorte da produção de Bakun, contextualizada na história da arte brasileira. Em diálogo com o artista protagonista, a exposição se divide em três grandes núcleos: um primeiro que contempla a especificidade da paisagem do Sul, sobretudo do Paraná, formado por obras de Alfredo Andersen, Bruno Lechowski, Caio Reisewitz, e Marcelo Moscheta; um segundo dedicado a circunscrever Bakun no interior do modernismo brasileiro, ao lado de Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Iberê Camargo, e José Pancetti; e um terceiro núcleo de artistas contemporâneos que, assim como Bakun, têm na paisagem fonte de inesgotável pesquisa, como Marina Camargo, Lucas Arruda e Fernando Lindote.

 

Miguel Bakun (Marechal Mallet, PR 1909 – Curitiba, PR, 1963) é considerado um dos principais artistas modernos do Paraná. Autodidata, sua incursão nas artes plásticas se dá no final dos anos 1920 por influência do pintor José Pancetti, ambos marinheiros no Rio de Janeiro. Em 1930 é desligado da Marinha e volta para Curitiba, onde trabalha em diversas frentes para manter o próprio sustento e inicia uma obra pictórica intensa. No início dos anos 1940 instala ateliê em prédio cedido pela prefeitura a vários artistas, momento em que estabelece maior convívio com o meio cultural da cidade, que nunca o integrou plenamente. É o período mais produtivo do artista: dedica-se à pintura de retratos, naturezas-mortas, marinhas, e, sobretudo, à pintura de paisagem. A liberdade com a qual apreendeu a paisagem fez com que fosse superada sua complexa condição de trabalho, que incluía desde barreiras técnicas à precariedade dos materiais utilizados, como a paleta reduzida de cores e a tela preparada com estopa. A combinação ousada de amarelos, azuis e verdes, bem como as pinceladas energéticas de densas massas de tinta, fizeram de Bakun um pioneiro da arte moderna no Paraná, ainda que tal reconhecimento tenha se dado postumamente. A difícil situação econômica do artista, assim como a pouca penetrabilidade de sua produção do sistema de artes local, levou ao seu suicídio em 1963, aos 54 anos.

 
De 24 de abril até 26 de maio.

Os perigosos anos 1960

Os anos 1960 foram marcados por movimentos de contestação em vários países do mundo, por motivos diversos – sistemas educacionais, costumes, repressão política, contestação de guerras. No Brasil não foi diferente e, a despeito da censura imposta por um regime de exceção, houve no período uma intensa produção artística, que retratou a atmosfera de tensão e riscos da época.

 

Para revisitar esse contexto, especificamente o período de 1965 a 1970, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, exibirá, entre 30 de abril e 28 de julho, a exposição “Os anos em que vivemos em perigo”, que traz um recorte da coleção focado na segunda metade da década de 1960, um período plural da arte brasileira, que foi fundamental para o desenvolvimento de nossa produção até os dias atuais. Tal cenário transformou o antropofágico caldeirão cultural do país, no mesmo momento em que acontecia a reestruturação do MAM que, em 1969, teve sua nova sede inaugurada, resistindo aos tempos e chegando até o momento atual em que celebra seus 70 anos de história.

 

Com curadoria de Marcos Moraes, a exposição reúne desde a tendência pop até obras de filiação surrealista, muitas das quais exprimindo as inquietações sociais e comportamentais que marcaram aquela época. São ao todo 50 obras de artistas como Antônio Henrique Amaral, Anna Maria Maiolino, Antônio Manuel, Cláudio Tozzi, Maureen Bisilliat, Wesley Duke Lee, entre outros.

 

Pinturas, xilogravuras, fotografias e objetos foram selecionados para apresentar imagens associadas ao ambiente cultural vigente como as manifestações, greves, censura, utopia, repressão, desejo e identidade brasileira – um apanhado que apresenta a potencialidade da ampliação de horizontes produzida pela vanguarda brasileira nesta época. A ação educacional do museu também contribuirá para oferecer aos espectadores oportunidades de pensar sobre a cultura daquela década, oferecendo atividades estimulantes que complementam a experiência da visita ao MAM.

 

“Para a seleção de obras, considerei o contexto, o ambiente efervescente e os acontecimentos que envolveram esses artistas no período dos anos 60 com atitudes radicais frente ao sistema da arte vigente no país, entre eles as exposições: Nova Objetividade Brasileira (MAM RJ), 1ª JAC Jovem Arte Contemporânea (MAC USP), Exposição-não-exposição (Rex Gallery & Sons) e a 9ª Bienal de São Paulo. A proposta desta mostra será refletir sobre esses complexos momentos vividos, tendo como marcos os anos de 1965 e 1970 rebatendo e rebatidos em 2019, suas atmosferas marcadas pela vida e a presença do perigo e da ameaça”, propõe Marcos Moraes.

 

Sobre o curador

Marcos Moraes é doutor pela FAU-USP e bacharel em Direito e Artes Cênicas pela mesma Universidade, além de especialista em Arte – Educação – Museu e Museologia. Professor de história da arte, é coordenador dos cursos de Artes Visuais da FAAP, da Residência Artística FAAP e do Programa de residência da FAAP, na Cité des Arts, Paris. Integrou o Grupo de Estudo em Curadoria do MAM e o corpo de interlocutores do PIESP. É membro do ICOM Brasil e do Conselho do MAM SP. Curador independente, seus mais recentes projetos curatoriais incluem Jandyra Waters: caminhos e processos; Entretempos e Lotada (MAB Centro, Museu de Arte Brasileira FAAP), além de Imagens Impressas: um percurso histórico pelas gravuras da Coleção Itaú Cultural (São Paulo, Santos, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Brasília, Florianópolis). É responsável por publicações sobre artistas como Luiz Sacilotto, Adriana Varejão, Rodolpho Parigi, Mauro Piva.

 

De 30 de abril a 28 de julho.

Exposição Tobias Marcier

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Shopping Gávea Trading Center, apresenta de 27 de abril a 25 de maio a exposição Tobias Marcier. A mostra, que reunirá 45 obras, sendo 28 em acrílica e 17 aquarelas, é inédita ao público. Somente agora, 37 anos depois do precoce falecimento do artista, seu irmão Matias reuniu as obras que estiveram espalhadas por coleções ao longo desse período, escolhendo a Galeria de Evandro Carneiro Arte para realizar a exposição. Filho do artista Emeric Marcier, Tobias caracterizou-se por suas pinturas fantásticas e por retratar cenas e personagens de ruas, festas populares e armazéns do interior do Brasil. O artista, considerado na época um nome promissor nas artes visuais, participou de mostras coletivas e individuais no Brasil, em especial para as individuais ocorridas na Galeria Bonino, Rio de Janeiro, 1973 e 1975, Galeria Guignard, Belo Horizonte, 1977, que tiveram grande repercussão de público e de crítica.

 

 

Sobre o artista

 

Tobias Marcier nasceu em Barbacena, MG, em 20 de março de 1948. Desde pequeno mostrou-se inventivo e interessado em arte, ajudando seu pai no ateliê e confeccionando seus próprios brinquedos e suas ferramentas. Segundo seu irmão Matias, o artista “…brincava só, pegando pedaços de vergalhão de ferro, nos quais batia com um martelo até virarem talhadeiras e ponteiras com que esculpia baixos relevos em tijolos maciços, pedra sabão, madeira etc. Daí saiam patinhos, pássaros e outras coisas, que remetiam à arte rupestre.” (Entrevista oral, 2019).

 

Em 1964, então com 16 anos e autodidata, teve seu talento reconhecido pelo famoso livreiro Trajan Coltescu da Nova Galeria de Arte (no Copacabana Palace), onde expôs seu trabalho escultórico com muito sucesso. Algum tempo depois, passou a dividir sua residência entre o Rio de Janeiro e Barbacena. Desde 1968 Tobias mergulhou na pintura, revelando, igualmente, enorme aptidão e criatividade. Pintava cada vez mais, quase sempre em tinta acrílica sobre tela, com temas figurativos e paisagens oníricas. Nesta época, participou de exposições coletivas nas galerias Irlandini (1969), Montmartre (1970) e Petite Galerie (1972). No mesmo período, fundou,  junto com Hugo Bidet e outros artistas, a Feira de Arte da Praça Gal. Osório.

 

Em 1971 surgiu uma encomenda feita pelo arquiteto Edison Musa, de uma Via Sacra em madeira, realizada para o Colégio São Luís, na Av. Paulista, em São Paulo. Sua abnegada dedicação a esta obra “…deixou o piso do seu conjugado com 20 cm de lascas de mogno dos entalhes” (contou Matias), fazendo Tobias perceber que a escultura demandava grandes espaços, algo difícil para um jovem artista na cidade grande. Além disso, não havia no Rio de Janeiro a abundância de pedra sabão que há em Minas Gerais, seu material preferido para esculpir.

 

Passou, então, a pintar mais e mais até que, em 1973 realizou a sua primeira exposição individual, na Galeria Bonino, com pinturas expressivas, como a tela “Alegoria da Primavera”, exposta agora na Galeria Evandro Carneiro Arte, dentre outras 44 obras do artista. Em 1974 participou de coletivas na Bolsa de Arte e na Petite Galerie. No ano seguinte, outra mostra individual na Bonino o consagrava como “pintor de narrativas fantásticas” (Antônio Bento, 1973, Catálogo da primeira exposição do artista na Galeria Bonino). Desta feita de 1975, destacamos a apresentação de Roberto Alvin Correa no catálogo da exposição e a obra “Mulher”, também reapresentada na atual exibição. Realizou, ainda, uma individual na Galeria Guignard, em Belo Horizonte (1977), com grande sucesso de crítica e público.

 

Apesar da inegável dimensão fantástica em sua obra, Tobias também se caracterizou por retratar cenas e personagens de ruas, festas populares e armazéns do interior do Brasil. Além disso, Walmir Ayala nos lembra que havia nele uma “…atenção às vozes primeiras, como seu pai, mas com a liberdade prodigiosa de ter sabido verter esta audição em vocabulário pessoal e renovado…” (Walmir Ayala, 1979, Catálogo da exposição do artista na Galeria B 75 Concorde, sua última em vida).

 

Ou seja, Tobias era um pintor com estilo próprio, uma carreira promissora e muitos planos para novos projetos. Em 1982, faria uma nova exposição na Concorde B75 no Rio, uma em Santa Catarina, organizada por George Racz e outras duas na França (Paris e Grenoble), através de seu então marchand Paulo Fernandes, quando uma fatalidade do destino o parou. Faleceu de um infarto fulminante, aos 33 anos.

Laura Olivieri Carneiro.

TARSILA NO MASP 

05/abr

Tarsila do Amaral (Capivari, SP, 1886 – São Paulo, 1973) é uma das maiores artistas brasileiras do século XX e figura central do Modernismo. Esta exposição que o MASP, Avenida Paulista, São Paulo, SP, exibe é a mais ampla exposição já dedicada à artista, reunindo 92 obras a partir de novas perspectivas, leituras e contextualizações.

 

De família abastada, de fazendeiros do interior de São Paulo, Tarsila desenvolveu seu trabalho com base em em vivências e estudos em Paris a partir de 1923. Por meio das aulas com André Lhote  e Fernand Léger, aprendeu a devorar os estilos modernos da pintura europeia, como o Cubismo, de maneira antropofágica e produzir algo singular. É importante chamar atenção para a noção de antropofagia, criada por Oswald de Andrade: um programa poético através do qual intelectuais brasileiros canibalizariam referências culturais europeias com o objetivo de digeri-las e criar algo único e híbrido, além de incluir elementos locais, indígenas e afro-atlânticos. De volta ao Brasil, declarou: “Sou profundamente brasileira e vou estudar o gosto e a arte dos nossos caipiras. Espero, no interior, aprender com os que ainda não foram corrompidos pelas academias”.

 
O enfoque da exposição é o “popular”, noção tão complexa quanto contestada, e que Tarsila explorou de diferentes modos em seus trabalhos ao longo de toda a sua carreira. O popular está associado aos debates sobre uma arte ou identidade nacional e a invenção ou construção de uma brasilidade. Em Tarsila, o popular se manifesta através das paisagens do interior ou do subúrbio, da fazenda ou da favela, povoadas por indígenas ou negros, personagens de lendas e mitos, repletas de animais e plantas, reais ou fantásticos. Mas a paleta de Tarsila (que serve de inspiração para as cores da expografia) também é popular: “azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante”.

 
Boa parte da crítica em torno de Tarsila feita até hoje no Brasil enfatizou suas filiações e genealogias francesas, possivelmente em busca da legitimação internacional da artista, mas assim marginalizando os temas, as personagens e as narrativas populares que ela construiu. Hoje, após bem-sucedidas mostras nos Estados Unidos e na Europa, podemos olhar para Tarsila de outras maneiras. Nesse sentido, os ensaios e comentários sobre suas obras incluídos na exposição e no catálogo são elementos fundamentais deste projeto. Não por acaso a polêmica pintura “A negra” recebe atenção especial dos autores e é um trabalho central na mostra. Outra peça que fará uma boa repercussão na exibição é a presença do famoso “Abaporu”, obra cedida especialmente pelo MALBA, Buenos Aires, Argentina.

 
“Tarsila popular” não busca esgotar essas discussões, que levam em conta também questões de raça, classe e colonialismo, mas apontar para a necessidade de estudar essa artista tão fundamental em nossa história da arte a partir de novas abordagens.

 

Esta exposição faz parte de uma série que o MASP organiza reconsiderando a noção de “popular”: desde “A mão do povo brasileiro 1969/2016” e “Portinari popular”, em 2016, até “Agostinho Batista de Freitas”, em 2017, e “Maria Auxiliadora”, em 2018. “Tarsila Popular” é organizada no contexto de um ano inteiro dedicado a artistas mulheres no MASP em 2019 sob o título de “Histórias das mulheres, histórias feministas”. A exposição dialoga com duas outras dedicadas a artistas que exploraram a noção do popular de diferentes maneiras: “Djanira: a memória de seu povo”, em cartaz até 19 de maio, e “Lina Bo Bardi: Habitat”, até 28 de julho.

Tarsila popular tem curadoria de Fernando Oliva, curador do MASP.

 

 

Até 28 de julho.

Natureza-Morta no MAM Rio

03/abr

O MAM RIO, Parque do Flamengo, Rio de janeiro, RJ, apresenta a partir do próximo dia 06 de abril, a exposição “Alegria – A Natureza-Morta nas Coleções MAM Rio”. Com o mesmo título de uma instalação de Adriana Varejão, a exposição investiga este importante gênero da pintura, em obras em diversos suportes pertencentes ao acervo do Museu criadas por 35 artistas de várias gerações. Com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, a mostra reúne mais de 40 obras – entre pinturas, esculturas, vídeos, fotografias e instalações – produzidas por 39 artistas de diferentes gerações. A exposição dá continuidade às investigações de gêneros da pintura a partir dos acervos do Museu, mostradas em “Constelações – O Retrato nas Coleções MAM Rio” e “Horizontes – A Paisagem nas Coleções MAM Rio”, em cartaz até o próximo dia 12 de maio de 2019.

 

Com o mesmo título de um backlight fotográfico de Adriana Varejão, de 1999, a exposição busca revelar não só a dimensão mais histórica do gênero natureza-morta, mas também “possibilidades de releituras contemporâneas desse conceito”, como informam os curadores. O conjunto de obras não foi reunido “somente com base no enquadramento estrito das obras nas características evidentes deste gênero, mas também na livre correlação dos trabalhos com o sentido mais geral da exposição”, explicam. “Sob tal licença, “Alegria” também transborda do âmbito da pintura, da gravura, do desenho e da fotografia, para aquele, expandido, da escultura, do vídeo e de instalações para traçar um panorama aberto desse gênero da pintura no Brasil no exterior”, contam Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes.

 

Os artistas que integram a exposição são de várias gerações, como Volpi, Guignard, Dacosta, Vicente do Rego Monteiro, a portuguesa Lourdes Castro, Wilma Martins, Adriana Varejão, Ivens Machado, Karin Lambrecht, Artur Barrio e Raul Mourão.

 

 

Natureza-Morta

 

A natureza-morta, da mesma forma que o retrato e a paisagem, foi um dos grandes gêneros da pintura europeia, entre os séculos XV e XVI, na Renascença. “Esses gêneros ganharam corpo como alternativa às pinturas de cenas religiosas, proibidas nos países que aderiram à reforma protestante, como a Holanda, que viu nascer o primeiro mercado de arte de que se tem notícia”, dizem os curadores. “As naturezas-mortas podem ser caracterizadas pela representação de objetos inanimados, vistos de uma curta distância. Sua escala intimista, somada à composição feita com base em motivos banais, mas agradáveis – frutas, flores, alimentos e objetos familiares ao olhar burguês – não significava, porém, que tais pinturas tivessem um teor laico-secular, apenas contemplativo, função que somente se consolidaria no começo do modernismo. Ainda que tratassem de cenas domésticas, essas pinturas, a despeito de sua fatura naturalista, tinham um teor simbólico então acessível a todos: evocavam o agradecimento pelo pão nosso de cada dia, conquistado pelo trabalho humano, sob a bênção divina”. O gênero atravessou os tempos, e na segunda metade do século XIX as naturezas-mortas já haviam se libertado de sua simbologia protestante inicial, e se tornaram “fundamentais para a revolução que permitiu à pintura superar a ênfase no tema que a havia marcado no romantismo e no neoclassicismo – batalhas, coroações, funerais e casamentos reais, pintados em formatos grandiosos que direcionavam o olhar para a narrativa e não para a própria pintura”. Os curadores complementam: “A banalidade temática das naturezas-mortas abriu caminho para a contemplação exclusiva de elementos cromáticos, formais, espaciais e compositivos, que não só se tornaram essenciais para a fruição modernista, como abriram caminho para a arte abstrata com Wassily Kandinsky, em 1910”.

 

 

Artistas expositores

 

Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Vicente do Rego Monteiro, Aldo Bonadei, Iberê Camargo, Milton Dacosta, Maria Leontina, Glauco Rodrigues, Lourdes Castro, Anna Bella Geiger, Wilma Martins, Luis Humberto, Eduardo Costa, Ivens Machado, Wanda Pimentel, Artur Barrio, Waltercio Caldas, Vilma Slomp,Claudia Jaguaribe, Karin Lambrecht, Brígida Baltar, Jorge Barrão,Roberto Huarcaya, Marcos Chaves, Edgard de Souza, Franklin Cassaro, Katia Maciel, Adriana Varejão, Efrain Almeida, Raul Mourão, José Damasceno, Julio Bernardes, Pedro Calheiros, Rodrigo Braga e Felipe Barbosa.

 

 

De 06 de abril a 07 de julho.

Alfredo Volpi e Bruno Giorgi

22/mar

Foram dez anos de pesquisas para construir uma exposição sobre a amizade entre dois grandes mestres da arte brasileira do século XX. “Estética de uma Amizade”, será exibida na Pinakotheke, Morumbi, São Paulo, SP, procura pontuar com memórias e produção artística os 50 anos de estreita convivência entre – o pintor Alfredo Volpi e o escultor Bruno Giorgi.

 

A mostra reúne cerca de 100 obras – a maioria apresentada ao público pela primeira vez, entre pinturas, desenhos e esculturas provenientes, da Coleção Leontina e Bruno Giorgi e colecionadores particulares. Os trabalhos são entremeados por fotografias, documentos, depoimentos e gravações com saborosas narrativas sobre esta amizade que perdurou de 1936 até a morte de Volpi em 1988.

 

No raro conjunto de numerosas pinturas de Volpi, esculturas, desenhos e telas de Bruno Giorgi, sobrepõem-se as obras surgidas de relações de amizades ou familiares, como os retratos de Mira Engelhardt e Gilda Vieira, feitos por Volpi, além de Judith, sua mulher, retratada por ele, e um desenho dedicado à sua única aluna Lore Koch; o retrato de Leontina Giorgi, as joias/esculturas projetadas por Giorgi; nus femininos assinados pelos dois artistas; retrato de Giorgi por Volpi e as cabeças de Volpi e Mario de Andrade esculpidas por Giorgi; as interpretações discordantes do poema “Balada de Santa Maria Egipcíaca” de Manuel Bandeira, que ambos fizeram em pintura; e até uma série de trabalhos concebidos na convivência da dupla. Há também as maquetes das obras de Brasília, quando os afrescos de Alfredo Volpi e as esculturas de Bruno Giorgi sublinharam a arquitetura de Oscar Niemeyer.

 

A exposição revela como o pintor, que se mudou com a família para o Brasil com apenas um ano de idade, e o escultor, ambos originários da mesma região italiana, a Toscana, compartilharam a fraterna relação e o saber artístico com igual intensidade. Não foram poucas as vezes que, com um esboço debaixo do braço, Volpi saiu de São Paulo e foi ao Rio de Janeiro discutir uma pintura com o amigo. Leontina, viúva de Bruno Giorgi, que muito contribuiu para a realização desta exposição, disponibilizando obras e arquivo, testemunhou muitas das longas conversas ou silêncios que os dois amigos gostavam de dividir. Ao mesmo tempo foram artistas que puderam comemorar juntos e reciprocamente virtuosas trajetórias: ambos participaram de prestigiosas exposições nacionais e internacionais, entre as quais em edições, às vezes coincidentes, como a Bienal de Veneza e a Bienal Internacional de São Paulo, além de conquistar vários prêmios no Brasil no exterior.

 

O projeto foi possível graças ao empenho dos curadores da exposição Max Perlingeiro e Pedro Mastrobuono, Leontina Ribeiro Giorgi, Instituto Volpi de Arte Moderna e à equipe da Pinakotheke. Com os arquivos do marido, Leontina Ribeiro Giorgi, gravou longas entrevistas, rememorando fatos históricos e pessoais. Nas suas pesquisas, Pedro, que é filho de Marco Antonio Mastrobuono, um dos primeiros colecionadores e amigo pessoal de Volpi, teve a oportunidade de encontrar informações preciosas, sobretudo entrevistas de Bruno Giorgi em Brasília, onde o pintor ítalo-brasileiro era constantemente mencionado.

 

Durante a exposição será lançada a publicação “Estética da Amizade – Alfredo Volpi e Bruno Giorgi” que, além do material da mostra, contém textos de David Léo Levisky, Rodrigo Naves e Mario de Andrade e dos curadores Max Perlingeiro e Pedro Mastrobuono, os quais destacam as personalidades que conviveram com a dupla, como Mário Schenberg, Lasar Segall, Sergio Milliet, e apresentam uma inédita biografia em ordem cronológica entrelaçada dos dois artistas, na qual é possível constatar como arte e amizade pulsavam em particular sintonia.

 

 

Até 25 de maio.