As pinturas de Heitor dos Prazeres em NY

02/set

A Galatea e a Simões de Assis participam da feira Independent 20th Century, que ocorre esta semana em Nova York, com o estande solo do artista Heitor dos Prazeres (Rio de Janeiro, 1898 – 1966, Rio de Janeiro).

Heitor foi um artista multidisclipinar, pioneiro na formação do samba carioca e autoditada na pintura, prática que iniciou em 1937, aos 40 anos. Suas pinturas exploram temas relacionados à cultura popular brasileira, retratando e celebrando as tradições e o cotidiano da população negra urbana do Rio de Janeiro.

Recentemente, em 2023, o Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro (CCBB RJ) realizou a maior retrospectiva já dedicada ao seu trabalho, exibindo mais de 200 trabalhos vinculados às artes visuais, à música e à moda. Suas pinturas fazem parte de diversas coleções públicas, tais como: Museum of Modern Art (Nova York); Rennie Museum (Vancouver); Museu de Arte de São Paulo – MASP (São Paulo); Museu Afro Brasil (São Paulo); entre outros.

Reabertura da galeria do BNDES

28/ago

A exibição de “Pretagonismos no acervo do Museu Nacional de Belas Artes” reúne 105 obras de 59 artistas, 46 negros e 13 brancos, que retratam pessoas negras, para apresentar o protagonismo do artista negro neste acervo, que é um dos principais depositários do patrimônio artístico do país. O trabalho mais antigo data de 1780-1800 e o mais recente, de 2023. O corpo curatorial da mostra – Amauri Dias, Ana Teles da Silva, Cláudia Rocha e Reginaldo Tobias de Oliveira, todos da equipe permanente do MNBA, quer frisar as trajetórias de luta, resiliência, transgressão e heroísmo desses negros em uma sociedade que ainda hoje é varada pelo racismo. Pretagonismos abre ao público, no dia 29 de agosto, na galeria do Espaço Cultural BNDES, Centro, Rio de Janeiro, RJ, selando o recente acordo de cooperação técnica entre o banco e o museu, que está em reforma física e conceitual desde o segundo semestre de 2019. Marca também a reabertura do espaço expositivo do BNDES, que estava fechado desde 2020. Em exibição até 14 de fevereiro de 2025.

Até chegar à concepção desta exposição, os curadores aprofundaram a pesquisa que começou em 2018, com a mostra Das galés às galerias: representações e protagonismos do negro no acervo do MNBA, em que múltiplas interpretações do negro e do legado afro-brasileiro vão se constituindo na construção desta nação. “- Agora, queremos avançar no protagonismo de artistas negros, muitas vezes invisibilizados pelas instituições. Com Pretagonismos, aprofundamos a pesquisa sobre os  protagonismos negros neste museu de origem acentuadamente eurocentrada, revela a curadoria. As investigações resultaram em exposições virtuais (início das obras do museu, seguidas pela pandemia), que impulsionaram a realização desta exposição, para ampliar o olhar sobre os artistas negros que integram a coleção do museu”. Na primeira mostra, a ênfase foi nas representações de negros. Agora, é o protagonismo negro no campo das artes visuais e na vida, sem esgotar a totalidade de artistas negros no acervo do MNBA. A curadoria organizou o percurso da exposição em núcleos não cronológicos: Mestres negros pioneiros; Nas brechas das representações: imagens e trajetórias de negros no acervo do Museu Nacional de Belas Artes; Entre a cátedra e o cativeiro: professores negros; Estevão Silva: transgressões e prenúncios da modernidade no MNBA e Decolonialidade em perspectiva: um olhar sobre os artistas negros

Artistas negros: Agnaldo dos Santos, Ana das Carrancas (Ana Leopoldina Santos Silva), Antonio Bandeira, Armando Viana, Artur Timóteo da Costa, Brasiliense (Manuel Dias de Oliveira), Chico Tabibuia, Cincinho (Inocêncio Alves dos Santos), Emanuel Araújo, Estevão Silva, Fernando Diniz, Firmino Monteiro, Francisco Manuel Chaves Pinheiro, Grupo Cultural Benin, Guilherme Santos da Silva, Heitor dos Prazeres, Hélio Oliveira, Joaquim José da Natividade, José de Dome (José Antônio dos Santos), Leôncio Vieira, Lídia Vieira, Louco Filho (Celestino Gama da Silva), Manuel da Cunha, Manuel Messias, Marcos Roberto, Maria Auxiliadora Silva, Maria Lidia Magliani, Mestre Cândido, Mestre Valentim, Mestre Vitalino, Michel CENA7, Michel Onguer, Minelvino, Nhô Caboclo, Nice Nascimento, Otávio de Araújo, Panmela Castro, Pinto Bandeira, PV Dias, Rafael Frederico, Raimundo da Costa e Silva, Rubem Valentim, Tomás Santa Rosa, Valdomiro de Deus e Zé Igino (José Igino da Cruz)

Artistas brancos: Pedro Américo, Jorge Campos, Hostílio Dantas, João Batista Ferri, Margarida Lopes de Almeida, Rodolfo Bernardelli, Emil Bauch,  Johann Moritz Rugendas e Victor Adam, Desmons e Paul de Saint-Martin, Emma Mouroux, Rodolfo Amoedo, José Correia de Lima e Modesto Brocos.

O neologismo “pretagonismo” foi apropriado de Rodrigo França e Jonathan Raymundo.

De 29 de agosto de 2024 a 14 de fevereiro de 2025

Lançamento do livro Reynaldo Fonseca

15/ago

No próximo sábado, dia 17 de agosto, às 16h, a Biblioteca Mário de Andrade, República, São Paulo, SP,  vai realizar o lançamento do livro “Reynaldo Fonseca” (1925 – 2019), de autoria de Denise Mattar e Maurício Redig de Campos. Reynaldo Fonseca é um dos mais importantes artistas pernambucanos de todos os tempos, e, ainda hoje, ocupa um lugar único no circuito de arte brasileiro. A curadora Denise Mattar e Mauricio Redig de Campos, que é sobrinho neto e gestor do acervo do artista, farão uma palestra sobre sua trajetória. Serão distribuídos 100 livros gratuitamente.

Sobre o artista

Pintor, muralista e ilustrador, Reynaldo Fonseca frequentou a Escola de Belas Artes de Pernambuco na década de 1930 onde foi aluno do também pintor Lula Cardoso Ayres. Em 1944 transferiu-se para o Rio de Janeiro para estudar com Cândido Portinari. No Rio estudou ainda com Henrique Oswald no Liceu de Artes e Ofícios e partiu para uma viagem de estudos na Europa. Em meados de 1952, torna-se professor catedrático de desenho artístico na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), também frequentou o Ateliê Coletivo de Abelardo da Hora. Em 1964, realizou um mural para o Banco do Brasil, no Recife. Voltou para o Rio de Janeiro em 1969 e retornou ao Recife no início da década de 1980. Ilustrou diversos livros, entre eles “Pintura e Poesia Brasileiras”, com poemas de João Cabral de Melo Neto. Entre 1993 e 1994, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) promoveu no Rio de Janeiro e em São Paulo uma grande mostra retrospectiva de sua produção. Reynaldo Fonseca manteve, ao longo de sua carreira, temas recorrentes, como cenas familiares com crianças e animais, nas quais predominam um clima de sonho, inquietação e estranheza. O artista inspirava-se em pinturas do primeiro Renascimento italiano e flamengo, também nos pintores primitivos norte-americanos dos séculos XVIII e XIX e ainda no Surrealismo e na pintura metafísica. Sobre o artista o crítico Roberto Pontual escreveu: “Fonseca concentrava-se na armação de enigmas, a meio caminho entre o metafísico e o fantástico.  A retomada da história da arte era realizada de forma paciente, e por vezes com uma parcela de ironia.”

O livro “Reynaldo Fonseca” vem preencher uma lacuna na historiografia da arte brasileira, uma vez que todas as publicações sobre o artista estão inteiramente esgotadas. São apresentados trabalhos desde o início de sua carreira, no Recife, e das diversas temporadas no Rio de Janeiro.  Reynaldo Fonseca teve importante participação na cena artística recifense desde a década de 1940 e grande relevância no movimento de arte carioca.

Sobre a edição

O livro tem 272 páginas, bilíngue, português e inglês, edição capa dura, reunindo um conjunto de obras de toda a produção do artista, desde os anos 1930 até sua morte, em 2019. Uma cronologia ilustrada percorre toda a sua vida e sua significativa inserção na cena cultural brasileira, notadamente nos anos 1980, no Rio de Janeiro. A fortuna crítica com textos de Ariano Suassuna, Francisco Brennand, Frederico Morais, Geraldo Edson de Andrade, José Cláudio, Ladjane Bandeira, Olívio Tavares de Araújo, Olney Krüse, Roberto Pontual e Walmir Ayala permeia toda a publicação. A edição foi realizada com o patrocínio do REC Cultural, através da Lei de Incentivo à Cultura.

A autora do livro, a curadora Denise Mattar declarou: “Fazer este livro foi uma tarefa que se revestiu de extrema dificuldade, pela quantidade de material, de todas as ordens, guardadas pelo artista e conservadas pela família. Uma verdadeira avalanche de desenhos, cartas, entrevistas, catálogos, convites, e artigos de jornais e revistas. A pesquisa desse material revelou a marcante presença de Reynaldo na cena artística pernambucana, apesar de seu legendário retraimento. Como era hábito na época, os textos eram recortados sem referências de data e veículo e, embora tenhamos conseguido situar grande parte deles, outros não puderam ser devidamente catalogados mas, por sua importância, foram mantidos na publicação. Tenho certeza de que esta obra será de significativa contribuição para o entendimento da obra de Reynaldo Fonseca.”

Sobre os autores

Denise Mattar é curadora. Atuou no Museu da Casa Brasileira, SP de 1985 a 1987, do Museu de Arte Moderna de São Paulo, de 1987 a 1989 e do Museu de Arte Moderna RJ, de 1990 a 1997. Como curadora independente realizou mostras retrospectivas de artistas como Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho (Prêmio APCA), Ismael Nery (Prêmios APCA e ABCA), Pancetti, Anita Malfatti, Samson Flexor (Prêmio APCA), Portinari, Alfredo Volpi, Guignard, Yutaka Toyota (Prêmio APCA). Mostras Recentes: 2022 O Gênesis segundo Eva, Museu de Arte Sacra de São Paulo, Armorial 50 Centro Cultural Banco do Brasil, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Magliani, Fundação Iberê Camargo, RS, Sandra Mazzini, Farol Santander, São Paulo, Tereza Costa Rêgo, Galeria Marco Zero, Recife, Modernismo Expandido, Museu Nacional, Brasília. 2023 Ianelli – 100 anos, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Armorial 50, Museu de Arte Popular da Paraíba, Campina Grande, PB, Elke Hering, Instituto Collaço Paulo, Florianópolis, SC, Elas, Fundação Edson Queiroz, Fortaleza, CE, Fachinetti, Danielian Galeria de Arte, XXII Unifor Plástica, Fundação Edson Queiroz, Fortaleza, CE, A Máquina do Tempo – Museu da Fotografia, Fortaleza, CE, Armorial 50, Museu do Estado de Pernambuco, Recife, PE, Di Cavalcanti, 125 anos, Farol Santander, SP, Yutaka Toyota, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife, PE. 2024 Pancetti, Farol Santander, SP, Armorial 50, Museu de Arte da Bahia, Iuri Sarmento, Farol Santander, SP.

Maurício Redig de Campos é sobrinho neto do pintor Reynaldo Fonseca. Bacharel em administração de empresas, com MBA em gestão de pessoas e especialização em comércio exterior. Atua em multinacionais e em empresas consolidadas no mercado nacional. É também proprietário da Redig Artes responsável por todas as atividades institucionais, avaliações de autenticidade, catalogação das obras e gestão do acervo da família.

Lançamento do livro Reynaldo Fonseca

Na ocasião haverá tarde de autógrafos e conversa com os autores. Serão distribuídos 100 livros gratuitamente

Palestra com os autores Denise Mattar e Maurício Redig de Campos: Sábado, 17 de agosto, às 16h: Biblioteca Mário de Andrade – Rua da Consolação 94 – República – São Paulo.

Celebrando quatro décadas

08/jul

A galeria Simões de Assis completou 40 anos! Uma história iniciada em Curitiba, em 03 de julho de 1984, por Waldir Simões de Assis Filho. Desde a sua abertura, artistas como Volpi, Tomie Ohtake, Barsotti, Ianelli, Juarez Machado, Rubens Gerchman, Manabu Mabe, Jorge Guinle, Cícero Dias, entre outros, estiveram presentes em mostras na galeria.

Ao longo dos anos o time de artistas foi expandindo com importantes nomes como: Abraham Palatnik, Antônio Dias, Gonçalo Ivo, Ascânio MMM, José Bechara, Elizabeth Jobim, Angelo Venosa entre outros.

A Simões de Assis dirige o seu olhar para a arte moderna e contemporânea, especialmente, para a produção latino-americana, trazendo expoentes da arte cinética e concreta internacional como Cruz-Diez, Sotto e Antonio Asis.

A Simões de Assis, administrada pelas duas gerações da família desde 2011, propõe uma revisão constante da produção artística do passado a partir de reflexões da arte contemporânea, e promove o diálogo transgeracional entre os artistas.

A galeria se especializou na preservação e difusão do espólio de importantes artistas como Carmelo Arden Quin, Cícero Dias, Emanoel Araujo, Ione Saldanha, Miguel Bakun e Niobe Xandó, contando com a parceria de famílias e fundações responsáveis.

Mostra de Carlos Scliar e Cildo Meireles

24/jun

A Casa Museu Carlos Scliar, Cabo Frio, RJ, completa 20 anos com exposição imersiva que reúne até 25 de junho de 2025, obras de Carlos Scliar e Cildo Meireles.

Para marcar os 20 anos da Casa Museu Carlos Scliar, será inaugurada no dia 29 de junho de 2024, a exposição “Os Artivistas: Carlos Scliar e Cildo Meireles”, que une, pela primeira vez, a obra desses dois importantes artistas. “O Scliar foi fundamental na minha vida”, afirma Cildo Meireles sobre o amigo falecido em 2001. Com curadoria de Cristina Ventura, coordenadora da casa museu, serão apresentadas cerca de trinta obras, sendo algumas inéditas, que cobrem um período que vai desde a década de 1940 até 2021. Completam a mostra obras participativas, inspiradas nos trabalhos dos dois artistas. A exposição, que terá entrada gratuita até o final do mês de agosto, é apresentada pelo Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro através da Lei Paulo Gustavo.

“A ideia é provocar no espectador um convite á reflexão, instigada pela atualidade das questões tratadas pelos artistas em suas obras. Temas como: crimes de estado, meio ambiente, guerra, valor monetário, entre outros. Nosso propósito é que a pessoa pense sobre o seu papel no mundo de hoje”, diz a curadora Cristina Ventura.

As obras de Cildo Meireles e Carlos Scliar serão expostas juntas, como uma grande instalação, sem seguir uma ordem cronológica. São pinturas, desenhos, colagens, estudos, gravuras, objetos e vídeos. De Cildo, estarão as notas “Zero Dólar” (1984) e “Zero Cruzeiro” (1978), a instalação sonora “Rio Oir” (2011), o vídeo “15 segundos” (2021), em homenagem a Marielle Franco, entre outras obras. De Scliar, destacam-se os desenhos “Levante do Gueto de Varsóvia” (1957) e “SOS” (1989), além de desenhos e estudos, alguns inéditos, que tratam de temas como a cultura afro-brasileira e o holocausto. “Sou um grande admirador dos desenhos do Scliar, acho que ele era um desenhista dos mais talentosos do Brasil, verdadeiramente sensível”, afirma Cildo Meireles.

Na mostra, estará, ainda, a matriz da capa da Revista Horizonte, feita por Scliar em 1952, onde se lê: “Assine Apelo Paz”. “A Segunda Guerra Mundial o marcou muito, Scliar foi pracinha, atuou como cabo de artilharia. No período pós-guerra participa ativamente de movimentos a exemplo o Congresso pela Paz ocorrido na antiga Tchecoslováquia, a mensagem trazida na obra é fundamental”, diz a curadora. Uma reprodução tátil desta matriz fará parte da exposição para que o visitante possa manuseá-la. Também estará na exposição um texto inédito do artista, da década de 1980, narrado pela cantora e compositora Marina Lima. No documento, Scliar expressa sua indignação e cansaço diante da nossa construção histórica. A artista cresceu vendo obras de Scliar, colecionadas por seu pai, segundo Marina, “…uma imagem afetiva que nunca esqueço”. A gravação foi feita especialmente para a exposição.

Com trajetórias diversas, Carlos Scliar e Cildo Meireles se conheceram em 1966. “A partir do nosso primeiro encontro, onde mostrei meus desenhos, ele se interessou em mostrar esses trabalhos para alguns colecionadores e a partir daí praticamente me financiou. Sempre foi uma pessoa de uma generosidade muito grande, não só no meu caso, mas também com outros artistas jovens que estavam iniciando. Ele era uma pessoa de um entusiasmo intrínseco, estava sempre incentivando, sempre apoiando”, conta Cildo Meireles. Os dois foram muito amigos durante toda a vida e, em diversos momentos, tratam de questões similares em seus trabalhos, como no período da Ditadura militar. Outras questões também convergem na produção dos dois: a icônica obra “Zero Dólar”, de Cildo Meireles, traz a imagem do Tio Sam, personagem que aparece sobrevoando a Amazônia com asas pretas, como se fosse um urubu, na obra “SOS”, de Carlos Scliar.

Percurso da exposição

A mostra começa com uma linha do tempo sobre Carlos Scliar (1920-2001) e chega-se ao jardim, onde está a grande escultura “Volumes Virtuais”, de Cildo Meireles, doada em 2022 para a Casa Museu. Com seis metros de altura, é a primeira escultura da série feita em metal.  Ainda no pátio, estarão trechos do projeto inédito do painel em mosaico projetado para o Brasília Palace, em 1957, a pedido de Oscar Niemeyer (1907-2012), que nunca chegou a ser executado. A obra traz uma homenagem à cultura afro-brasileira, com elementos da religiosidade africana.

Na sala menor, próxima ao jardim, haverá uma grande caixa em perspectiva, inspirada nas famosas caixas criadas por Scliar, onde o público poderá entrar. Nela, estarão matérias de jornais onde o artista alertava para questões ambientais, trazendo manchetes como “A indignação do pintor”, fazendo um contraponto com o que está acontecendo hoje. “Em muitos momentos, Scliar aproveita o espaço na mídia não para falar de sua obra, mas sim para advertir sobre a forma destrutiva que tratamos nosso habitat. As matérias são atuais, as proporções é que são mais desastrosas”, ressalta a curadora. Ainda dentro da caixa haverá imagens do projeto educativo “Meu lugar, meu patrimônio”, onde adolescentes da rede pública de ensino de Cabo Frio e região, falam sobre questões ambientais, em consonância com a fala de Scliar na década de 1980 e o cenário atual.

Na antessala do salão principal estarão dois jogos interativos, um ilustrado com a obra de Carlos Scliar e outro Cildo Meireles, e a reprodução tátil da obra “Assine Apelo Paz”. Seguindo, chega-se à sala principal, onde estarão as cerca de trinta obras dos dois artistas, montadas como uma grande instalação, ambientada pela escultura sonora “Rio Oir”, de Cildo Meireles, na qual o artista coleta o som de algumas das principais bacias hidrográficas brasileiras, gravadas em vinil. Neste mesmo espaço estará o vídeo “15 Segundos”, no qual a vereadora Marielle Franco (1978-2018) é homenageada. Na mesma sala, haverá obras que destacam a atuação de Carlos Scliar na área gráfica, junto à redação das revistas culturais Horizonte (1950 a 1956) e na criação da revista Senhor (1959 a 1960), além de trabalhos do período da Ditadura militar, que trazem frases como: “pergunte quem”, “urgente”, “pense” e “leia-pense”, além do texto da década de 1980 narrado pela cantora e compositora Marina Lima. “A ideia é que o visitante entre num espaço que o absorva em vários aspectos, seja pelo som da água, seja pelo que está sendo visto ou pelo que não está sendo visto – haverá uma vitrola girando sem disco, denotando ausência, desconforto”, diz Cristina Ventura.

Na sala de cinema haverá a projeção de dois filmes: um de Carlos Scliar falando sobre o compromisso das pessoas com as questões do nosso planeta e outro de Cildo Meireles contando como conheceu Carlos Scliar e sua relação com ele. Para completar a experiência, no segundo andar da Casa Museu está a exposição permanente, onde se pode ver o ateliê de Carlos Scliar, que permanece exatamente como ele deixou.

Sobre a Casa Museu Carlos Scliar

O Instituto Cultural Carlos Scliar (ICCS) foi criado em 2001, mesmo ano da morte de seu patrono. O processo para criação da instituição foi acompanhado pelo artista, um acordo que fez com o filho Francisco Scliar para manter sua memória. Fundada por Francisco Scliar junto com os amigos: Cildo Meireles, Thereza Miranda, Anna Letycia, Regina Lamenza, Eunice Scliar, entre outros conselheiros, a instituição, aberta ao público em 2004, está sediada na casa/ateliê do pintor, em Cabo Frio, Rio de Janeiro. Trata-se de um sobrado oitocentista, com cerca de 1000m², adquirido em ruínas por Carlos Scliar, reformado em 1965 para abrigar seu ateliê e ampliado na década de 1970, com projeto de Zanine Caldas. A casa mantém a ambientação dos espaços deixada por Carlos Scliar, com seus objetos pessoais, acervo documental, bibliográfico, gravuras, desenhos e obras. A coleção resulta da produção do próprio artista ao longo de sua vida, somado a uma expressiva e representativa coleção de obras originais dos mais importantes artistas do cenário brasileiro do século XX, os amigos José Pancetti, Djanira, Di Cavalcanti, Aldo Bonadei, Cildo Meireles, entre outros, além de cerca de 10 mil documentos datados desde a década de 1930. Reforçando seu compromisso sociocultural, ao longo dos últimos três anos foram atendidos mais de 1000 estudantes do Estado do Rio de Janeiro, em projetos educativos. Em 2023, a instituição foi agraciada com o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação Museal, promovido pelo IBRAM.

Calder e Miró no Instituto Tomie Ohtake

21/jun

Com mais de 150 obras, Calder+Miró retoma a ligação entre os trabalhos de Alexander Calder e Joan Miró – assim como os desdobramentos dessa amizade na cena artística brasileira. “Calder+Miró” é uma exposição que reúne dois artistas incontornáveis para quem quer pensar com sensibilidade nos caminhos da arte moderna.

Ocupando quase todos os espaços expositivos do Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, até 15 de Setembro, a mostra contempla a amizade entre um dos principais escultores modernos e um dos mais famosos pintores surrealistas: o escultor norte-americano Alexander Calder (1898-1976) e o catalão Joan Miró (1893-1983). Os dois foram, cada um em sua trajetória, embaixadores da ideia de que a abstração poderia ser um canteiro aberto de experimentação dinâmica, permeado pelos modos de criação intuitivos, de artistas circenses, da mecânica e da poesia.

Com curadoria de Max Perlingeiro, acompanhado pelas pesquisas de Paulo Venâncio Filho, Roberta Saraiva e Valéria Lamego, a mostra traz cerca de 150 peças – entre pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, móbiles, stabiles, maquetes, edições, fotografias e jóias.

Acompanhando todo o período expositivo de Calder+Miró, o Instituto Tomie Ohtake oferece uma programação pública inteiramente gratuita e destinada a públicos diversos. Instigadas pelas obras e pelos processos criativos dos artistas, as diferentes atividades incluirão jogos e ativações lúdicas, oficinas práticas – como de desenho de observação em movimento e de construção de móbiles -, uma programação voltada à exploração sonora das obras, bem como cursos e rodas de conversa que exploram temas como a relação entre vanguarda brasileira e a abstração, o encontro entre a Arquitetura e artes visuais no Brasil, e a produção de artistas contemporâneos. Ainda, o Instituto promoverá uma série de ações voltadas especialmente à educação, oferecendo uma programação de abertura para professores da rede pública, um ciclo de conversas que discutirá a intersecção entre arte e educação, além das visitas mediadas e visitas ateliês oferecidas à escolas e outras instituições.

Ecos Nacionais

Uma seleção de trabalhos de nomes consagrados e influenciados direta ou indiretamente pelas produções de Calder e Miró – incluindo Tomie Ohtake – será colocada em diálogo com as obras dos dois artistas. Entram aí obras de Abraham Palatnik, Aluísio Carvão, Antonio Bandeira, Arthur Luiz Piza, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Ione Saldanha, Ivan Serpa, Mary Vieira, Milton Dacosta, Mira Schendel, Oscar Niemeyer, Sérvulo Esmeraldo e Waldemar Cordeiro.

No Brasil, as obras de Calder e Miró apresentam importantes desdobramentos nos debates estéticos e produções artísticas que, a partir da década de 1940, passaram a pautar a abstração de maneira mais enfática. A relevância das contribuições desses artistas no contexto nacional se mostra, ainda, na larga presença de seus trabalhos em coleções brasileiras – para esta exposição, todas as obras apresentadas são provenientes de coleções públicas e privadas do Brasil.

Além da cor

17/jun

A mostra “Além da Cor”, em exibição até 27 de julho na Simões de Assis, Jardins, São Paulo, SP,  coloca em diálogo Alfredo Volpi, Ione Saldanha, Gonçalo Ivo e André Ricardo, aproximando a pesquisa cromática presente em cada um deles. Os artistas, de diferentes gerações e com poéticas singulares, compõem o espaço expositivo em interlocuções que exploram texturas e técnicas da pintura, como óleo e têmpera em suas composições demonstrando um diverso e enérgico diálogo em um olhar que tangencia a produção artística moderna a partir de reflexões da arte contemporânea.

Texto de Fernanda Pitta

Roberto Longhi certa vez afirmou que “a linha, por mais débil que seja, distrai-nos da cor”. A linha é movimento, carrega o olho para onde quer que ela vá, granjeia, ondula, foge, ataca, distrai-nos como gatos seguindo a agitação da ponta de laser. A cor sozinha não se move, fica ensimesmada, no máximo pulsa, nervosa, a sua fluorescência querendo emanar. Ela só consegue produzir movimento na interação que realiza com outra. Só assim elas se aglutinam ou se repelem, continuam onde parecem interrompidas, aceleram-se ou se retardam.

Na verdade, a cor nunca está sozinha. Uma cor é aquilo que surge da sua interação com uma outra. Joseph Albers fala disso lindamente quando se aprofunda nas complexidades da percepção das cores, enfatizando que elas são constantemente influenciadas por seus ambientes e podem criar efeitos ópticos inconstantes. Sua teoria se desenvolve a partir de sua prática de experimentos que demonstram como uma mesma cor pode parecer diferente dependendo das cores que estão em seu entorno. Albers nos desafia a considerar a natureza subjetiva da percepção das cores e nos incentiva a um envolvimento ativo com elas.

Kandinsky definiu a pintura moderna assumindo a planaridade da superfície, tomando-a como matéria de investigação do “ponto, da linha e do plano”, deixando a cor como um elemento acessório da estrutura pictórica moderna. Ele, no entretanto, foi também aquele que em sua obra inicial explorou a potência e o alcance dos contrastes de cor. Kandinsky acreditava que as cores podiam evocar respostas espirituais e emocionais nos espectadores. Ele via as cores como tendo qualidades musicais inerentes, com cada tonalidade possuindo sua própria personalidade e voz. Seu uso da cor era profundamente simbólico, representando diferentes emoções e estados espirituais. Paul Klee abordou a cor de uma perspectiva mais lúdica e imprevisível. Ele acreditava que as cores tinham sua própria linguagem e podiam se comunicar diretamente com o espectador. Ele também via a cor como uma forma de música visual, criando padrões rítmicos e harmônicos por meio de suas composições complexas. A obra e o pensamento de Klee sobre as cores ensina-nos a explorar combinações inusitadas de cores e formas, assim como a de Albers. Se a obra de Albers parece trazer uma perspectiva mais analítica e sistemática, por meio da dissecação das complexidades das relações entre as cores e as ilusões de óptica, seus experimentos demonstram como as cores podem mudar e interagir umas com as outras.

Os quatro mestres aqui reunidos, Alfredo Volpi, André Ricardo, Gonçalo Ivo e Ione Saldanha, conhecem o dom de fazer cantar o azul na conversa alegre com o rosa, na interação cerebral com verde, na profunda e séria confrontação com o vermelho. Eles estão entre os maiores coloristas da arte brasileira. Mestres em fazê-las superfície matérica, como Volpi e André Ricardo, este formado na lição do primeiro, em revelar suas texturas e organicidade, como Ione Saldanha, ou em ouvir a partitura de seus infinitos matizes, como Gonçalo Ivo.

Seja através da têmpera ou do óleo, em suportes como tela, madeira, bambu ou papel, suas obras refletem sobre a imprevisibilidade da experiência vivida, afirmando a cor como sua concretude pulsante. As relações que produzem são modelos de uma sociabilidade libertadora, solidária e plural. Artistas cuja obra é atenta à capacidade das cores de se relacionarem de modo imprevisto, de desarmarem nossos preconceitos e produzir emoção e engajamento, sua obra nos proporciona o tudo que é vital, com o aqui e com o agora.

O Rio e os 120 anos de um patrono

20/maio

Uma exposição abrangente que traz como destaque imagens da cidade do Rio de Janeiro é o cartaz atual de exposições na Casa Roberto Marinho, Cosme Velho, Rio de Janeiro, RJ.

Rio: desejo de uma cidade

Rio: desejo de uma cidade (1904-2024) celebra os 120 anos de nascimento de nosso patrono Roberto Marinho e antecipa as comemorações dos 460 anos de fundação da cidade em 2025.

Raros homens amaram, produziram e promoveram com tal intensidade sua terra natal. Como jornalista e empresário seus veículos produziram um vocabulário visual que exprime o século XX carioca. Sua contribuição perenizada por meio das novas gerações nas empresas de comunicação e, numa escala íntima, no compartilhamento de sua coleção de arte e na transformação da sua residência em espaço público do carioca.

Esta exposição – curada por Marcia Mello, Victor Burton e eu – reúne fotografias, pinturas, desenhos, gravuras e esculturas que, nesses 120 anos, tiveram o Rio de Janeiro como tema ou principal inspiração. Dela emerge uma cidade dinâmica e vital que se nutre das suas qualidades e, não raro, de suas vicissitudes.

A resiliência criativa sempre foi, desde o início, uma característica nossa. Parecia inviável implantar um aglomerado humano num terreno insalubre, ainda que deslumbrante. Seguidos esforços de engenharia permitiram inventar um núcleo urbano ao incorporar, valorizar e, nada é perfeito, ferir a natureza bela. Como dizia Paulo Mendes da Rocha: “O Rio é uma teimosia tornada possível pela mecânica dos fluxos”…

Depois de se tomar pelo todo, enunciar o país enquanto falava-se do Rio de Janeiro, estamos fadados a olhar o que restou de único: a inesgotável capacidade carioca de produzir imagens e inventar memórias de si mesmo e de seu papel para o Brasil.

Uma cidade que se experimenta reforçando uma identidade própria, com suas qualidades e agruras, sem jamais querer parecer outra.

O urbano se une aqui entremeando topografias e comunidades contrastantes. A recusa de se deixar partida a faz escavar túneis para obter uma síntese que põe em contacto a orla arejada com o avesso das montanhas sem brisa.

Quando quase nada parece restar, nos refugiamos na produção das imagens e sons que ecoam o desejo da beleza que se nutre, também, das desigualdades produzidas pela tragédia perene da desigualdade preconceituosa.

Uma vez Roberto Marinho recebeu uma figura pública, da qual tinha significativas discordâncias, em seu escritório panorâmico no topo do prédio do Jardim Botânico. Não se sabe, ao certo, o que foi conversado. Ficou do encontro apenas o comentário, entre surpreso e tristonho, do jornalista: “Ele não olhou uma vez sequer a paisagem”… Mais carioca, impossível.

Lauro Cavalcanti – Diretor da Casa Roberto Marinho

Maio de 2024

Doação de obras de Samico para o MAC

08/maio

O MAC incorpora a seu acervo trabalhos de um dos principais gravadores do País, Gilvan Samico, um artista que uniu o popular ao erudito. Literatura de cordel e temas populares nordestinos serviram de inspiração para os trabalhos de Samico e tornaram-se indissociáveis da memória de sua obra.

Dragões, pássaros de fogo, demônios e serpentes estão no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. O motivo para a chegada dessa fauna fantástica é a doação que o museu acaba de receber. Trata-se de 45 obras do gravador e pintor pernambucano Gilvan Samico (1928-2013), famoso por seu universo imagético inspirado na literatura de cordel e nas mitologias de vários povos do planeta. As 45 obras recebidas pelo MAC são uma doação de Joaquim e Vivianne Falcão, que foram amigos próximos do artista. Joaquim Falcão é jurista, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), fundador e ex-diretor da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas (FGV) enquanto Vivianne Falcão é advogada e conselheira da Humanitas 360.

A coleção que o casal entrega agora aos cuidados do MAC foi construída ao longo de décadas e comporta diversos presentes oferecidos por Samico. São estudos, pequenas gravuras e rascunhos, alguns deles ainda conservando as dedicatórias, como é o caso da prova do artista de “Cena campestre”, xilogravura de 1957. A obra foi recebida pelo museu acompanhada de um pequeno recorte, onde se lê “Para Vivianne, a primeira xilo. Samico E Célida Olinda, 7 janeiro 2006”. Célida era a esposa do artista.

É um acontecimento para o MAC, que vê sua coleção de obras de Samico saltar de duas para quarenta e sete, além de tornar geograficamente mais plural o acervo do museu, concentrado no eixo Rio-São Paulo. “Samico está entre os grandes gravadores brasileiros”, comenta a professora Ana Magalhães, diretora do MAC. “Ele tem importância fundamental porque está ligado ao Movimento Armorial, junto de Ariano Suassuna e outros artistas e intelectuais, com um papel decisivo na divulgação dessa cultura local.”

Fonte: Jornal da USP/Luiz Prado

Elza & Gerson na Galatea São Paulo

27/mar

“Elza & Gerson: cada indivíduo é um universo”, em exposições individuais com textos de Luiz Fernando Pontes e Tomás Toledo estará em cartaz até 11 de maio na Galatea, Jardins, São Paulo, SP. A exposição coloca em diálogo a produção dos artistas entre os anos de 1950 e 1990, tendo como eixo as múltiplas e diversas formas de existir, narradas no trabalho da dupla.

“Elza & Gerson: cada indivíduo é um universo”, reúne um conjunto de 42 obras produzidas entre 1950 e 1990 pelo casal pernambucano, destacando os pontos de convergência no olhar artístico da dupla. Com texto crítico de Luiz Fernando Pontes e Tomás Toledo, a mostra se alinha com o propósito da galeria de fomentar o reposicionamento histórico e resgatar artistas que foram negligenciados pelas narrativas predominantes e pelo mercado da arte. Cinco décadas após a última exposição conjunta realizada na galeria Oca, no Rio de Janeiro, em 1970, “Elza & Gerson: cada indivíduo é um universo”, retoma o diálogo da produção do casal e toma emprestada a frase que Gerson grafava no verso de suas pinturas, que dá, aqui, o fio da abordagem curatorial, voltada às múltiplas e diversas formas de existir, narradas em seus trabalhos.

Ao se estabelecerem no Rio de Janeiro, em 1946, encontraram inspiração para retratar, por meio da pintura e cores vibrantes, a boemia carioca e a vida cotidiana da cidade; cenas de carnaval e figuras religiosas; além de composições de tom onírico e surreal. Após conhecer o multiartista Augusto Rodrigues, Gerson passa a estudar desenho e gravura na Escolinha de Arte do Brasil, expondo seu trabalho a partir de 1959 já em mostras importantes como a 5ª Bienal de São Paulo. Elza, por sua vez, desenvolve sua produção após estudar com Ivan Serpa no MAM Rio entre 1962 e 1963. Dali em diante, seguiram-se entrevistas coletivas e individuais no Brasil e no exterior, como a mostra “Lirismo Brasileiro” que itinerou pela França, Portugal e Espanha entre os anos de 1968 e 1969.

Com a sensibilidade lírica característica de Elza e a habilidade de Gerson em retratar a rudez humana em suas obras, o trabalho do casal se complementava de maneira única. Enquanto Gerson percorria as ruas da Lapa capturando o olhar das pessoas com uma notável capacidade de fazer com que suas figuras parecessem falar diretamente com o espectador, Elza adicionava uma camada de sutileza às suas criações. A identidade da dupla ficou marcada pela capacidade de resgatar de forma original, a essência da brasilidade e as profundas raízes do cotidiano.

“A complementariedade do trabalho dos dois sempre existiu, sobretudo, pela centralidade da figura humana. Essa foi o grande molde da vida dos dois, que não eram pintores de paisagem, tampouco retratistas, eram pessoas que criavam seus personagens observando pesquisando e sentindo a realidade. Eram pessoas que estavam mais preocupadas com a construção do presente. Então, as figuras vinham do imaginário e do fruto de uma pesquisa, de um olhar para o cotidiano, pessoas comuns, trabalhadores, pescadores, as noivas”, afirma o pesquisador e colecionador de arte Luiz Fernando Pontes. Hoje o trabalho de Elza integra o acervo de instituições como o MAM Rio e o MASP. Em 2007, Gerson realizou sua última exposição individual em vida: uma grande retrospectiva no Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro. Seu trabalho integra coleções como a do Musée d’Art Naïf et d’Arts Singuliers, em Laval, na França.