Do arcaísmo ao fim da forma na Pinacoteca

21/ago

A Pinacoteca do Estado, Luz, São Paulo, SP, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São

Paulo, exibe até 27 de setembro a exposição “Marino Marini: do arcaísmo ao fim da forma”.

Com curadoria de Alberto Salvadori, diretor do Museo Marino Marini em Florença, a exposição

é a primeira retrospectiva no Brasil do artista italiano reconhecido mundialmente por suas

esculturas em bronze, e um dos nomes fundamentais da arte moderna italiana.

 

A mostra proporciona ao público uma visão ampla e generosa da produção artística de Marini,

expondo 68 peças, entre esculturas, pinturas e desenhos, de distintos períodos de sua carreira

e reúne obras das duas importantes instituições dedicadas à obra do artista na Itália, o Museo

Marino Marini de Florença e da Fondazione Marino Marini de Pistoia – cidade natal de Marini.

 

A exposição “Marino Marini: do arcaísmo ao fim da forma”, tem patrocínio da Pirelli e apoio do

Istituto Italiano di Cultura di San Paolo. Esta iniciativa faz parte do “Ano da Itália na América

Latina” promovido pelo Ministério das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional da

Itália e já foi apresentada na Fundação Iberê Camargo em Porto Alegre.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em Pistoia (1901 – 1980), na região da Toscana, Marini cresceu cercado pelas

influências da vizinha Florença, nutrindo uma forte ligação com a arte etrusca e com a arte

egípcia pertencente aos museus da região, desenvolvendo em sua obra quatro temáticas em

particular: o retrato, a Pomona – a encarnação do eterno feminino –, os cavalos e os cavaleiros

e o circo. Por este último era extremamente fascinado, sentindo-se intrigado pela natureza do

ofício do malabarista, do palhaço e dos acrobatas. “A relevância de Marino Marini foi de um

artista que não se comportou como um filólogo, não aceitou os dados históricos consumidos

pelo estudo e pela interpretação antropomorfa do sujeito, mas revelou, no seu trabalho, uma

dimensão de atualidade da matéria numa relação direta entre homem e sujeito”, destaca

Alberto Salvadori.

Em memória de artistas plásticos brasileiros

18/ago

Grandes representantes da arte visual brasileira da segunda metade do século XX já partiram

deixando saudades, mas perpetuam-se na história através de suas criações. A exposição “Era

só saudade dos que partiram”, no Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, Portão 10, São

Paulo, SP, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, homenageia alguns dos

artistas que fazem parte da trajetória artística do artista plástico Emanoel Araújo, fundador e

Diretor Curador da instituição.

 

A mostra é composta por aproximadamente 40 obras, entre pinturas, gravuras, esculturas e

fotografias, que revelam a diversidade de personalidades marcantes que partiram nos últimos

anos, como Antônio Henrique Amaral, Antonio Maluf, Arcangelo Ianelli, Edival Ramosa, Gilvan

Samico, Hércules Barsotti, Ivens Machado, Odetto Guersoni, Marcelo Grassmann, Maria Lidia

Magliani, Mestre Didi, Sonia Castro, Tomie Ohtake e Otávio Araújo, recém-falecido, aos 89

anos, no último dia 25 de junho de 2015.

 

Emanoel Araújo comenta: “Esta exposição é uma homenagem à memória dos artistas plásticos

brasileiros, falecidos em diferentes momentos, deixando lembranças das suas humanidades e

de suas criações.”

 

Alguns destes artistas fazem parte do Acervo do Museu Afro Brasil, como: Maria Lidia Magliani

(1946 – 2012), artista irreverente e marcante com suas pinceladas e cores; Mestre Didi (1917 –

2013) um “sacerdote-artista”, que foi um dos fundadores de uma linguagem afro-brasileira

com sua obra escultórica; Arcangelo Ianelli (1922 – 2009) que com cores fortes e uma

particular geometria, o acompanhou por toda sua vida em suas pinturas e esculturas; Edival

Ramosa (1940 – 2015), autor de pinturas, objetos, esculturas e jóias que se manteve fiel as

suas escolhas formais e cromáticas por toda sua carreira, unindo materiais naturais e

industriais e Otávio Araújo (1926 – 2015), que produziu gravuras, desenhos e pinturas

sensuais, aglutinadoras de uma poesia de mistérios e imagens e evocadoras de uma magia

atemporal.

 

 

De 18 de agosto a 18 de outubro.

Lançamento

27/jul

Será lançado no dia 6 de agosto, a partir das 19h00, na Cinemateca Brasileira, Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, São Paulo, SP, o livro sobre a obra do artista plástico Inos Corradin, “O Ilusionista na estrada”. O volume procura ser fiel ao trabalho de Inos. O título, “O Ilusionista…”, se refere ao mágico e comovente personagem constante em sua pintura e é também uma referência à Commedia dell’ arte, fonte histórica de sua arte. E também é uma alusão a própria vida deste pintor de 85 anos, herói aos 14 anos da resistência italiana na Segunda Guerra Mundial, e tão poeticamente entusiasmado hoje quanto foi na sua adolescência.
A seguir um pequeno recorte do ensaio do crítico de arte Jacob Klintowitz sobre Inos

 

 

  Em Inos Corradin todo mar é lua e toda lua é sonho.

 

Todas as coisas querem ser preservadas até a eternidade. Aliás, se a eternidade existe, tudo é eternidade, inclusive o que deseja se tornar eternidade. É tão persistente a sobrevivência de certas técnicas, como a pintura, e de algumas formas artísticas, que penso que elas fazem parte deste duplo, o desejo de ser eterno e o oceano de eternidade.

 

Em apoio à complexidade do seu personagem principal, a alma manifesta do trabalho de Inos Corradin, aquele que o acompanha desde sempre, o Ilusionista, o mágico, este artista da transformação e das aparências, existem relatos ancestrais, narrativas míticas de sua onipresença, pois o Ilusionista é um ser especial e sagrado. A primeira carta do Tarô é o Ilusionista. É ele que oficia o diálogo entre o céu e a terra. O Ilusionista canaliza o fluxo luminoso entre o Homem e o Divino.

 

Talvez Inos Corradin pertença ao grupo restrito de profetas, aqueles que denunciam os poderosos e as práticas convencionais e amortecedoras e preveem as desgraças futuras.

Ou, talvez, seja só um pintor poeta, e esteja entre aqueles cuja obra pretende traçar um mapa do labirinto incompreensível e indecifrável onde estamos: a nossa vida neste universo constituído de formas que englobam formas e de presenças que não vemos e só deduzimos. Este universo que ora nos parece sem sentido, ora nos parece fruto de um plano perfeito.

 

…Inos Corradin fica entregue aos seus solilóquios, à lembrança de sua pregressa vida aventurosa, à leitura de ficção e história, e ao desenrolar espontâneo dos seus pensamentos. Inos filosofa. É neste momento que ele desenha e planeja a sua pintura do dia que virá. À noite, o raciocínio, o discernimento, a capacidade de estabelecer os limites, o contorno dos objetos, das paisagens, dos personagens. A cada noite a sua meditação. De dia, a emoção de colorir o mundo, de dar vida ao pensamento, de permitir que a emoção aflore, que o amor domine tudo e o que pensou, o que desenhou, se torne pintura e sensação do mundo. A cada alvorecer, o sentimento do universo.

Exposição “Caro, Cara”.

14/jul

O MARGS, Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, Centro Histórico, Porto Alegre,

RS, apresenta como exposição complementar e em paralelo à mostra individual do artista

Alessando Del Pero, a coletiva temática “CARO, CARA”. Composta de retratos e autorretratos ,

o acervo exibe peças raras como “Retrato de Walmir Ayala”, de Inimá de Paula, “Retrato de

Maria Helena Lopes”, de Glauco Rodrigues A curadoria do evento é de André Venzon.

 

“CARO, CARA”:

 

Artistas participantes: Ado Malagoli, Aldo Locatelli, Alessandro Del Pero,

Alessandro Ruaro, Alexandre Pinto Garcia, Amália Cassullo, Ana Nunes, Arthur

Timótheo da Costa, Bea Balen Susin, Britto Velho, Bruno Goulart Barreto , Carla

Magalhães, Carlos Petrucci, Carlos Scliar, Cláudio Tozzi, Djalma do Alegrete, Edgar

Koetz Eduardo Cruz, Edy Carollo, Elaine Tedesco, Elle de Bernardini, Ernesto

Frederico Scheffel, Ernst Zeuner, Felipe Alonso, Flávio de Carvalho, Flavya Mutran,

Francisco Brilhante, Franz Von Lenbach, Gastão Hofstetter, Gilberto Perin, Gilda

Vogt, Glauco Rodrigues, Guignard, Heloisa Schneiders, Henrique Bernardelli,

Henrique Cavalleiro, Henrique Fuhro, Iberê Camargo, Inimá de Paula, J.C. Reiff

Jacintho Moraes, Jesus Escobar, João Bastista Mottini, João Fahrion, João Faria

Viana, João Otto Klepzig, Jorge Meditsch, José Carlos Moura, José de Souza Pinto,

Juan Uruzzola, Julio Gavronski, Julio Ghiorzi, Kira Luá, Leandro Selister, Leda Flores,

Leo Santana, Lepoldo Gotuzzo, Letícia Remião, Luiz Antônio Felkl, Luiz Carlos

Felizardo, Luiz Zerbini, Magliani, Marcelo Chardosim, Marcos Noronha, Maria

Leontina, Maria Tomaselli, Mariana Riera, Marilice Corona, Mario Agostinelli, Mario

Palermo, Mariza Carpes, Martin Heuser, Miriam Tolpolar, Neca Sparta, Nelson

Wilbert, Patrício Farias, Patrick Rigon Regina Ohlweiler, Ricky Bols, Roberto

Magalhães, Roberto Ploeg, Rochele Zandavali, Rodrigo Plentz, Roosevelt Nina,

Roseli Pretto, Sandra Rey, Sergio Meyer, Silvia Motosi, Sioma Breitmann, Sotero

Cosme, Telmo Lanes, Téti Waldraff, Theo Felizzola, Tiago Coelho, Trindade Leal,

Ubiratã Braga, Vasco Prado, Vitória Cuervo, Walter Karwatzki, Xico Stockinger, ZIP.

 

 

     A palavra do curador

 

O retrato daquele que fica. Dos notáveis e dos anônimos. O

retrato de pompa, da classe dominante, da burguesia.

O retrato do oprimido. O retrato imponente e o impotente. A

rebeldia do retrato. O retrato de família. O nu retratado. O retrato

do ídolo e da criança. O autorretrato.

O retrato imaginário, o anti-retrato.

O retrato como obsessão.

 

 

Caro, Cara…

Retratos correspondentes no acervo MARGS e artistas convidados

 

O retrato enfoca o humano no que possui de mais marcante: o rosto. Seja de perfil, voltado a

três quartos, de corpo inteiro, da cintura ou dos ombros para cima, equestre, de nobres,

militares, políticos ou religiosos; de artistas, personalidades ou marginais, de mulheres e

crianças. O retrato pintado, esculpido em carrara e encarnado − ou cuspido e escarrado como

no popular − desenhado, gravado, fotografado, em preto e branco, colorido, lambe-lambe,

3×4, polaróide, still, grafitado, no Facebook, a selfie…

 

A intensidade e qualidade das obras em retratos e autorretratos do artista italiano Alessandro

Del Pero, serviram de ensejo para a presente exposição Caro, cara, que busca valorizar na

correspondência entre obras do acervo do MARGS e artistas convidados, o que identificam a si

mesmo e ao outro por meio do olhar. Portanto esta é uma curadoria endereçada mais aos

artistas do que às obras, pois seus retratos representam o lugar mais próximo que podemos

estar deles, aonde o Museu também quer estar: ao lado dos artistas.

 

São diversos os exemplos de quanto este tema fascina os artistas. A começar pela literatura,

podemos citar o polêmico “O retrato de Dorian Gray” (1890), de Oscar Wilde, que faz uma

crítica social e cultural da sociedade britânica à sua época; o autobiográfico “O retrato do

artista quando jovem” (1916), de James Joyce, em que recorre a fases da sua vida para

construir o personagem alter ego do autor; o épico “O retrato” (1951), da trilogia “O Tempo e

o Vento”, de Érico Verissimo, cuja atmosfera histórica evoca na passagem do tempo as

gerações que se sucedem; até o romance “O pintor de retratos” (2001), de Luiz Antônio de

Assis Brasil, que expõe os questionamentos e contradições de um pintor frente à sedução da

fotografia.

 

No cinema, no filme de Giuseppe Tornatore, Stanno tutti bene (1990), Marcello Mastroianni

interpreta um pai que ao sair em viagem para rever os filhos exibe vaidoso pelo caminho uma

foto das suas crianças, fantasiadas como atores de ópera. O diretor ao introduzir esta imagem

do retrato como objeto de construção da sua narrativa visual, além de fazer uma rica menção

ao teatro, coloca-nos no lugar do personagem, que ao sentir saudade recorre ao álbum para

lembrar-se do outro.

 

É claro que nas artes plásticas também são inúmeras as criações que têm o retrato como

assunto central, a começar pelo quadro mais célebre da história da arte a enigmática Mona

Lisa (1503-1517), de Leonardo da Vinci. Ainda, entre as 12 obras de arte mais famosas de

todos os tempos, figuram nove retratos, como o revelador “Retrato do artista sem barba”

(1889) de Vincent van Gogh e o zeloso “O retrato do Dr. Gachet” (1890) do mesmo artista,

além das pinturas “Garota com brinco de pérola” (1665), de Veermer, que revela a intimidade

de uma modelo anônima; a familiar cena “Mulher com sombrinha” (1875), de Monet, cujo

enquadramento mais casual já é uma influência direta da fotografia; assim como o

descontraído “O almoço dos remadores” (1881), de Renoir; ou o angustiante “O grito” (1893),

de Munch; em contraste ao apaixonado “O beijo” (1909), de Klimt; até a inspiradora “Dora

Maar com gato” (1941), musa e amante, do cubista Picasso.

 

Segundo o filósofo francês Merleau-Ponty (1908-1961) “o retrato celebra o enigma da

visibilidade”, pois cada um tem sua própria história e devaneios. Por isto mesmo, o interesse

em revelar o retrato do contemporâneo, a partir do retrospecto deste gênero artístico no

acervo do MARGS, foi desde o início o principal objetivo deste projeto curatorial, que mostra a

diversidade da face do artista e seus pares, ao longo de obras da coleção que recuam há um

século e meio, até chegar à contemporaneidade que faz do retrato, enquanto disfarce sua

faceta mais interessante da liberdade de expressão do nosso tempo.

 

Há que destacar, porém, que o contínuo processo histórico ao longo do século passado de

transformação do sujeito retratado − apesar de representar uma revolução visual, entretanto,

passou por períodos de exceção em que o retrato do indivíduo ficou marcado pela

deformação. Foi desfeito, para não dizer destruído, durante os períodos de guerra e regimes

totalitários, causando a perda da identidade, da voz e da imagem, como representação visual

da humanidade. A ponto de, a multidão prevalecer quase totalmente sobre o indivíduo, que

esteve sem nome, sem título, tornando-se precário, excluído, invisível, não sendo mais capaz

nem de ser associado ao rosto que lhe carrega. Uma verdadeira castração psicológica que

transformou o humano em coisa.

 

Contudo, o modo de lidar com a sociedade de hoje não é ignorando-a. Os novos valores

estabelecidos, as mudanças e a rebeldia atual, nos ensinam cotidianamente ver com olhos

mais perspicazes e críticos este mundo de imagens em que estamos imersos.

 

Então, o que a arte e uma exposição de retratos podem nos levar a pensar e imaginar sobre

nós mesmos e o outro?

 

No mundo super contemporâneo, todos carregamos um pedaço de plástico com uma tela de

vidro na mão o dia inteiro… É quase uma extensão do nosso corpo a produzir imagens mobile

compartilhadas via redes sociais. Este tipo de comportamento − se de forma alienada − investe

contra a imaginação e a potência da visualidade. Na contramão deste movimento, a criação

artística assegura a permanência dos signos visuais e ao suscitar múltiplas possibilidades

perceptivas faz da imagem uma força de resistência contra o arbítrio da padronização.

 

Todavia, no campo da arte os retratos e autorretratos permanecem a ser construções de

exposição absoluta do indivíduo, nas quais os artistas se valem do próprio corpo ou do outro

como objeto de representação e veículo expressivo, pelo qual revelam sutis e sensíveis

verdades. Evidenciando, ao final, que a única coisa que podemos salvar é o olhar do outro, e o

retrato − ou o autorretrato, é a imagem pela qual verdadeiramente nos vemos.

 

 

Até 26 de julho.

A influência de Picasso

07/jul

A exposição “Picasso e a Modernidade Espanhola”, que reúne obras de Pablo Picasso e de outros artistas espanhóis, chegou ao Rio de Janeiro. A exposição, com aproximadamente 90 obras de 37 autores, aborda a contribuição de Pablo Picasso ao cenário espanhol e internacional da arte e a influência do fundador do cubismo e de seus contemporâneos. A maioria das obras de Picasso e dos demais artistas pertencem ao Museu Rainha Sofía de Madri.

 

 

Entre as obras de Picasso presentes na mostra destacam-se Cabeza de Mujer (1910), Busto y Paleta (1932), Retrato de Dora Maar (1939), El Pintor e la Modelo (1963) e Mujer Sentada Apoyada Sobre los Codos (1939). Entre as pinturas, esculturas, desenhos e gravuras da mostra também destacam-se as obras Siurana, el Camino, de Miró; El Violín, de Juan Gris e Composición Cósmica, de Óscar Domínguez.

 

 

A mostra está dividida em oito salas, entre as quais “Picasso: O Trabalho do Artista” e “Picasso, Variações”, que mostram a relação do artista com a modernidade e sua diversidade criativa. Uma terceira sala entra no imaginário do artista para tentar descrever como ele concebeu “Guernica” e inclui estudos da obra sobre o bombardeio nazista sofrido por essa cidade. Os outros espaços mostram de forma transversal a relação do pintor malaguenho e dos demais modernistas espanhóis.

 

 

 

Até 07 de setembro.

Guignard no MAM-SP

O MAM-SP, Portão 3, Parque do Ibirapuera, SP, apresenta a exposição “Guignard – A memória plástica do Brasil moderno”. A curadoria é do crítico de arte Paulo Sergio Duarte.

 

 
A palavra do curador

 
Guignard e o arquipélago moderno no Brasil

 
Um dos férteis caminhos para se pensar a formação da arte moderna no Brasil é uma metáfora geológica. Imaginemos um arquipélago em formação, com ilhas de diferentes altitudes, umas mais elevadas, outras menos. Estamos bem antes de um território contínuo, de um continente, como veremos se formar a partir dos anos 1950, com a assimilação das linguagens construtivas do segundo pós-guerra, no qual as linguagens das obras promovem um intenso diálogo entre si, independentemente das relações pessoais entre os artistas.

 

A ideia do arquipélago vem do caráter idiossincrático das linguagens exploradas, já modernas, que, entretanto, não conversam umas com as outras, cada uma buscando seu próprio caminho. Poderíamos pensar o início da formação desse arquipélago com algumas ilhas já decididamente modernas, por exemplo, Almeida Júnior (1851-1899), Castagneto (1851-1900), Eliseu Visconti (1866-1944), essas ilhas irão se multiplicar com Anita Malfatti (1889-1964), Tarsila do Amaral (1886-1973), Lasar Segall (1891-1957), Goeldi (1895-1961), Di Cavalcanti (1897-1976), Vicente do Rego Monteiro (1899-1970), Ismael Nery (1900-1934), Pancetti (1902-1958), Candido Portinari (1903-1962), Cícero Dias (1907-2003), entre tantos outros. Para o impulso multiplicador, teve papel importante, entre outros fatores, uma vontade de ser moderna, que aflige a cultura brasileira ao longo das primeiras décadas do século passado e se consubstancia na Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo. Trata-se, agora, não só de experiências modernas isoladas – como os romances de Machado de Assis e Lima Barreto, ou a poesia dos simbolistas Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens –, mas também de uma atitude de combate sistemático, conduzida por artistas, escritores e intelectuais, contra os valores acadêmicos que ofereciam obstáculo à modernidade. Entre as ilhas modernas desse arquipélago, encontra-se uma de elevada altitude: a obra de Alberto da Veiga Guignard (Nova Friburgo, RJ, 1896 – Belo Horizonte, MG, 1962).

 

O lirismo de Guignard é único em nossa modernidade. As paisagens e festas que muitas vezes fazem flutuar – numa atmosfera azul acinzentado, às vezes muito escuro – edificações, casas, igrejas, junto a balões, parecem expor uma fenomenologia do aparecimento, tal como os desenhos e monotipias de Mira Schendel, e as pinturas de Rothko. É como se a arte flagrasse o momento em que as coisas surgem, antes mesmo de encontrarem seu lugar definitivo em um terreno. Os retratos de Guignard, juntamente com as paisagens, são outros capítulos privilegiados da obra do artista.

 

Seriam muitos os retratos em que poderíamos nos deter, mas os autorretratos, perseguidamente realizados ao longo de décadas, apontam para o lábio leporino que, segundo seus biógrafos, interferiu decisivamente em sua existência, particularmente, na vida amorosa. Mas, surpreendentemente, não se intrometeu na vida do educador. Guignard foi um grande formador de artistas, utilizando-se de gestos e da voz deformada pela deficiência; era capaz de ensinar e, de suas escolas, saíram grandes artistas, antes no Rio de Janeiro e, particularmente, na experiência desenvolvida em Belo Horizonte, a partir de 1944, convidado pelo prefeito Juscelino Kubitschek. Das lições de Guignard, é preciso lembrar aquelas do desenho, recordadas por um dos nossos maiores artistas, seu discípulo Amilcar de Castro, sobre o uso do lápis duro, o grafite seco que não permitia correções. Errou, tem que assumir. E, segundo Amilcar, do desenho ensinado por Guignard, deriva toda sua obra escultórica. Não é pouco.

 

Diz-se que sua obra é decorativa; Matisse também foi um grande revolucionário decorativo. Agradar aos olhos, hoje, pode ser um pecado, mas, quando uma grande obra se emancipa na modernidade, trazendo prazer à contemplação, e apresenta, com ela, momentos de reflexão junto com o prazer de olhar, é tudo de que precisamos. Aqui, ela está apresentada, com momentos de alguns de seus contemporâneos. Espera-se que o prazer de olhar seja acompanhado pelo gozo do pensar.

 

Paulo Sergio Duarte

 

 

A partir de 07 de julho.

Rossini Perez no MAR

02/jul

Entrará em cartaz no térreo do pavilhão de exposições do MAR, Museu de Arte do Rio, Zona

Portuária, Centro, Rio de Janeiro, RJ, a exposição “Rossini Perez, entre o Morro da Saúde e a

África”. Rossini Perez é um dos principais artistas a difundir a prática da gravura na Região

Portuária do Rio de Janeiro, onde vive, e no mundo. Ao longo dos últimos 50 anos, Rossini

também tem utilizado a gravura como disparador fundamental de processos educacionais,

alguns deles coordenados pelo artista no Senegal nos anos 1970.

A exposição percorre sua trajetória por meio de núcleos definidos pelos curadores Maria de

Lourdes Parreiras Horta, Marcelo Campos, Márcia Mello e Paulo Herkenhoff.

 

 

A partir de 28 de julho.

Presença de Jean Boghici

09/jun

Nome fundamental do mercado de arte brasileiro, Jean Boghici, nascido em 1928, na Romênia, chegou ao Brasil em 1948 fugindo da Segunda Guerra na Europa, clandestino em um navio francês, após em anos em fuga ao lado de amigos judeus.  Iniciou suas atividades nos anos 1960, quando abriu, no Rio de Janeiro, a galeria Relevo. Jean Boghici, foi um dos maiores colecionadores de arte do país e pioneiro no mercado de arte brasileiro. Ao longo do tempo colecionou obras de artistas como Volpi, Guignard e Di Cavalcanti, mas também investiu em nomes como Antonio Dias, Ivan Serpa, Vegara e Rubens Gerchman. À frente da galeria que leva seu nome, em Ipanema, Boghici tinha um rico acervo, com trabalhos de Modigliani, Lucio Fontana, Rodin, Alexander Calder e Maria Martins, entre outros. Ajudou a formar duas das maiores coleções de arte brasileira, como as de Gilberto Chateaubriand e Sergio Fadel, e trouxe ao país obras de artistas internacionais como Corneille. O MAR, Museu de Arte do Rio, homenageou-o com a exposição intitulada “O Colecionador”, com quadros representativos do modernismo, do surrealismo, da pintura primitiva, da abstração informal, da abstração construtiva, da nova figuração e da pintura russa; sendo estes os maiores interesses de Boghici em termos de movimentos artísticos. Com 136 obras, de nomes como Tarsila, Lygia Clark, Di Cavalcanti, Brecheret, Kandinsky e Rodin, entre outros grandes artistas dos últimos séculos, a mostra recebeu 258 mil pessoas de março a setembro de 2013.

Miró no Instituto Tomie Ohtake

02/jun

O Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, organizou e inaugurou “Joan Miró. A força da matéria”. Esta é a maior mostra dedicada a Joan Miró no Brasil. A exposição reúne mais de 100 obras do artista, entre pinturas, esculturas, desenhos, gravuras e objetos (pontos de partida para a criação de suas esculturas). Na composição da mostra, fotografias sobre a trajetória do genial pintor catalão.
A mostra ficará em cartaz em São Paulo até 16 de agosto, e seguirá para o MASC – Museu de Arte de Santa Catarina, Florianópolis, de 02 de setembro a 14 de novembro.
Texto
O texto de “Joan Miró – a força da matéria” , do escritor Valter Hugo Mãe, integra o catálogo da exposição. Confira um trecho abaixo:

 

A reinauguração da cultura, sobre Joan Miró

 

“Las miradas son semillas, mirar es sembrar Miró trabaja como un jardinero y con sus siete manos traza incansable – círculo y rabo, io! y ah! – la gran exclamación con que todos los dias comienza el mundo.”
Octavio Paz

 

A morte da pintura está para Joan Miró como a morte de deus esteve para Friedrich Nietzsche. Foi fundamental que saísse da equação para que o exercício da arte, que é o mesmo que dizer vida, correspondesse à mais do que genuína personalidade do mestre catalão.

 

 
A desmistificação é ponto essencial para o domínio da identidade. Alguns artistas não consentem, nem remotamente, com propagar o expectável. A arte, em sua superior oportunidade, é mais o enunciado de um novo postulado do que a obediência a quaisquer premissas estabelecidas. Ou, como diria Merleau-Ponty, a arte “é antes a realização de uma verdade do que o reflexo de uma verdade prévia” (Merleau-Ponty, 1999). Para Miró, por essência, a arte foi sempre um imperativo de liberdade. Se quisermos simplificar o seu aparecimento no mundo podemos declarar que se definiu exatamente por uma fúria imprescindível pela liberdade. Ao manifestar-se interessado em assassinar a pintura está a dizer que quer ser sem ser o mesmo. Quer ser sem ser o mesmo, o que justificaria o seu constante modo de fuga, desatando obrigações para com academismos prévios e, sobretudo, impiedosamente divergindo de si, a cada tempo começando outros métodos, explorando outros materiais, problematizando estilos, tão surpreso quanto sempre angustiado pela compulsiva busca.

 

 
Joan Miró atravessa o pior do século XX. Numa Europa em guerra, plena de ideologias totalitárias e predadoras, a sua origem catalã será invariavelmente um radical para permanente inconformismo e protesto. Uma espécie de mácula afetiva, como um pecado original de que ele se orgulharia e pelo qual se bateria sempre. A passagem por Paris, fundamental para a sua depuração, nunca lhe roubaria a convicção de ser catalão, coisa que evidenciaria constantemente na obra como linha de força e também como digno sofrimento. A liberdade possível é sempre uma ansiedade na assunção de uma identidade. Para Joan Miró, a Catalunha foi a base para todas as ansiedades, lugar plástico e espiritual de onde retiraria as referências mais recorrentes e inelutáveis, como quem cataloga os tópicos materiais de uma alma. Faria arte como quem é e como quem luta.

 

 
Discursando na sua distinção durante o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Barcelona, em 1979, Miró terá dito: “Quando um artista se expressa num contexto em que a liberdade é difícil, deve converter cada uma das suas obras numa negação das negações, numa libertação de todas as opressões, de todos os preconceitos e de todos os falsos valores estabelecidos.” (Punyet-Miró 2014). Antoni Tàpies, claramente influenciado pela obra de Miró e por ele também instigado a um mesmo brio para com a Catalunha, viria a declarar que “o impacto clandestino da obra de Joan Miró, como também a de Picasso, foi uma contribuição importantíssima para uma tomada de consciência que não se reduzia, é claro, aos problemas da estética, mas sim, como provoca todo o criador, se estendia a toda a vida. (…) Miró gozou com todos os oficialmente bem pensantes, porque ninguém demonstrou como ele o fracasso e a inutilidade de todas as falsas hierarquias que perdem o tempo a condecorarem-se, e depois têm de correr precipitadamente atrás dos passos dos que realmente fazem caminho.” (Tàpies, 2002). Neste sentido, é importante entender que a assunção de uma identidade nunca foi um modo de fechar o sujeito, ou a arte, num lugar ou num tempo, muito pelo contrário. A identidade é o único modo de converter um sujeito, ou a arte, num tópico de respeito universal. Vale a pena atentar no diz Joan Punyet-Miró, ponderando acerca da atenção de Miró à cultura de outros lugares, como a chilena, e estabelecendo um paralelo com outros génios seus contemporâneos, como seriam Picasso e Dalí: “havendo criado uma poética artística universal, transladam-se mais além do limite nacional, político ou geográfico, para acabar sendo de qualquer lugar e de lugar nenhum por vezes.” (Punyet-Miró, 2014).
De outro modo, a urgência pela oportunidade de uma realidade própria era já coisa antiga no espírito de Joan Miró. Contrário à padronização e fascinado com a amplificação dos sentidos, diria: “Quando saía com o meu pai de casa e lhe dizia que o céu era violeta, zoava de mim. E isso dava-me muitíssima raiva.” (Dupin, 2004). Para Miró era claro que o artista não podia simplesmente existir à maneira do mundo. O mundo precisava também de existir à maneira do artista.

 

 
O criador é um distúrbio no universo da continuidade. Lembro sempre uma passagem de Clarice Lispector, no livro Água Viva, para ponderar acerca destes assuntos: “Minha liberdade pequena e enquadrada me une à liberdade do mundo – mas o que é uma janela senão o ar emoldurado por esquadrias?” (Lispector, 2012). Do mesmo modo, a tela branca de um pintor, como assim a folha de um escritor, se apresenta também como uma ordem já bastante imposta à imaginação que se debate para materializar. A tela branca é uma regra, que Miró haveria de problematizar e contra a qual haveria de se rebelar inúmeras vezes. Miró foi a mais frequente perturbação de toda e qualquer continuidade artística.
Miró, que se assumiu um pessimista, um homem profundamente insatisfeito, buscava na arte a transgressão a todas as coisas, não apenas aos cânones estabelecidos, ele lidava com algo incrivelmente mais poderoso e que se punha como uma revelação cosmogónica, uma certa reinauguração da expressão, para uma expressão mais pessoal e, ao mesmo tempo, universal. O caminho mais verdadeiro para a universalidade acabou por encontrá-lo no aprofundamento constante da sua própria consciência. É na meditação sobre si mesmo e suas raízes que o mestre pode tornar-se infinitamente sapiente e conservar todo o esplendor e a frescura mais típicos do que é começador ou menino. A verdade, dentro dele, é um diamante que se reparte em todos os gestos, sempre puro na sua essência. Fácil se torna de entender porque na candura de tantos dos seus trabalhos, mesmo dos que discorrem sobre assuntos difíceis ou violentos, há uma espécie de reaprendizagem do gesto artístico ou um primitivismo que tinge tudo de espontaneidade, de originalidade. Nenhum outro artista moderno logrou tal grau de originalidade.
[…]

No Museu de Arte do Rio/MAR

29/mai

O Museu de Arte do Rio, MAR, Centro, Rio de Janeiro, RJ, exibe a exposição “Tarsila e Mulheres Modernas no Rio”. Por meio de 200 peças (entre pinturas, fotografias, desenhos, gravuras, esculturas, instalações, documentos, material audiovisual e objetos pessoais), a exposição explicita a maneira pela qual a atuação de figuras femininas foi fundamental no que diz respeito à construção das sociedades carioca e brasileira, entre os séculos 19 e 20, nas mais diversas áreas – como artes visuais, literatura, música, teatro, dança, medicina, arquitetura, esporte, religião, política etc. Hecilda Fadel, Marcelo Campos, Nataraj Trinta e Paulo Herkenhoff assinam a curadoria da mostra.

 

A exposição “Tarsila e Mulheres Modernas no Rio” retrata mulheres com importante atuação em seus campos, do final do século XIX até hoje, e suas contribuições para a história da arte brasileira. O visitante se depara com mulheres com uma visão moderna não apenas nas artes visuais, mas nas ciências, na saúde, na segurança pública, na música, na dança. A exposição faz uma homenagem também às mulheres anônimas que revolucionaram nossa história ao demonstrar coragem e firmeza para fazer valer seus direitos.

É a primeira vez que Tarsila é contextualizada para além do campo das artes, abordando também o período pelo qual o Brasil e o Rio passaram, de lutas pelos diretos das mulheres que assumiam seu papel na sociedade, seus corpos e desejos. Nesse contexto, a vida e a obra da artista, representada com 25 pinturas e dez desenhos, serve como ponto de partida para a mostra da qual também fazem parte outros grandes nomes como Djanira, Maria Martins, Maria Helena Vieira da Silva, Anita Malfatti, Lygia Clark, Zélia Salgado e Lygia Pape.

 

O percurso tem inicio com as mulheres retratadas por Debret no século XIX, em ilustrações que evidenciam o uso de muxarabis – treliças de madeira que ocultavam a figura feminina nos recônditos do lar. A evolução da mulher na sociedade passa pelo direito ao voto e o reconhecimento do trabalho das domésticas no Brasil – incluindo a primeira publicação de reportagem sobre o assunto nos anos de 1950. O Aterro do Flamengo e o papel feminino na arquitetura do Rio moderno estão representados por Lota de Macedo Soares e Niomar Moniz Sodré, entre outras.

 

O momento em que as mulheres despontam na música, com apresentações em night clubs – até então um ambiente predominantemente masculino –, é contado por meio das histórias e canções de grandes divas do rádio, como Marlene e Emilinha Borba. As tias do samba e a mistura entre música e religião aparecem em fotos que revelam as feijoadas e os encontros nas comunidades da cidade, antes de se tornarem acessíveis ao publico em geral nas escolas de samba. Na dança, a primeira bailarina negra do Theatro Municipal, Mercedes Baptista, e outros nomes do balé clássico e contemporâneo, como Tatiana Leskova e Angel Vianna, também fazem parte da mostra.

 

O espaço dedicado à literatura lança luz sobre outras facetas de Clarice Lispector – as crônicas femininas publicadas sob o pseudônimo Helen Palmer, o trabalho como pintora e fotos de sua intimidade registradas pelo filho. Raridades como o manuscrito de O quinze, de Rachel de Queiroz, também fazem parte da seleção. A mostra reúne ainda fotografias e recortes de jornais para contar a história de mulheres que, ao contrário das retratadas por Debret, foram às ruas para lutar por seus direitos e de seus familiares, como a Pagu, primeira presa política do país, e a viúva de Amarildo, que enfrenta a polícia na busca pelo corpo de seu marido.

 

 

Até 20 de setembro.