Diálogos com cor e luz

06/mar

“Diálogos com cor e luz” é uma exposição voltada para a difusão da coleção do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, que apresenta exclusivamente trabalhos desse acervo. Aqui, reunimos um pequeno recorte de obras com ênfase nas relações entre a cor e a luz na arte brasileira da segunda metade do século 20. Vale destacar que, no século passado, o MAM São Paulo desempenhou um papel significativo na introdução e na propagação das tendências abstracionistas no Brasil. Dois exemplos merecem ser citados: a mostra inaugural do museu, Do Figurativismo ao Abstracionismo, realizada em março de 1949 por Léon Degand (1907-1958), e a exposição Ruptura, em dezembro de 1952, que deu início ao movimento concretista na arte brasileira, com a publicação de seu manifesto.

Agrupamos no espaço várias gerações de artistas, sem privilegiar tendências nem estabelecer uma ordem cronológica. Misturamos tempos e linguagens, para incentivar nosso olhar à percepção de semelhanças e diferenças entre as várias poéticas visuais nos diversos tratamentos da luz e da cor. A museografia distribuiu no espaço os painéis radiais, numa referência ao disco de cores – ou seja, ao experimento óptico de Isaac Newton (1643-1727), publicado em 1707 em seu livro Opticks. Nele, o físico inglês demonstra, por meio de um disco de sete cores (vermelho, violeta, azul índigo, azul ciano, verde, amarelo e laranja), sua teoria de que a luz branca do Sol é formada pelos matizes do arco-íris. Ao girarmos o disco com velocidade, as cores se sobrepõem em nossa retina e nos fazem enxergar o branco.

A seleção de obras, ao enfatizar os diálogos com a cor e a luz em diversos suportes, chama atenção para a luz como elemento fundante da percepção. Trabalhar com a luz significa que temos de lidar também com a sombra, a escuridão ou a ausência de luz. E nos interessa justamente o primeiro contato que temos com a cor, anterior às teorizações e aos sentidos que acrescentamos a ela. A cor é indissociável daquilo que ela expressa. Ela mesma já é expressão, não apenas a tradução de uma ideia ou sentido preconcebido.

Fundamental é nos livrarmos dos sentidos já instituídos e sedimentados no campo da cultura, de conceitos anteriores ao vivido, para aí podermos ter a experiência com a duração da cor. Em vez de pensarmos a cor e a luz como elementos idealizados, o contato direto com a arte nos ajuda a restituir o vínculo originário com o mundo. Os diálogos entre luz e cor na arte nos mostram que o mundo pode ser surpreendente e nossa relação com ele, inesgotável.

 

Fábio Magalhães e Cauê Alves

Curadores

Diálogos com cor e luz

Coletiva com Abraham Palatnik, Alfredo Volpi, Almir Mavignier, Amelia Toledo, Arthur Luiz Piza, Cássio Michalany, Hermelindo Fiaminghi, Lothar Charoux, Luiz Aquila, Lygia Clark, Manabu Mabe, Marco Giannotti, Maria Leontina, Maurício Nogueira Lima, Mira Schendel, Paulo Pasta, Rubem Valentim, Sérgio Sister, Takashi Fukushima, Thomaz Ianelli, Tomie Ohtake, Wega Nery e Yolanda Mohalyi.

Até 28 de maio.

Homenagem a Aldemir Martins

19/dez

 

Em cartaz na Choque Cultural, Jardim Paulista, São Paulo, SP, exposição “Aldemir em casa” reúne trabalhos do artista cearense, que completaria 100 anos em 2022.

Através da apresentação de esboços, cadernos de estudo, desenhos sobre papel e uma pintura-desenho em nanquim sobre tela, “Aldemir em casa” traz uma celebração do desenho de Aldemir Martins, que em 1956 recebeu o prêmio máximo da Bienal de Veneza e grande reconhecimento internacional. Em cartaz até 20 de janeiro, a mostra reúne obras que, em sua maioria, datam de 1948 a 1968, entre elas os primeiros esboços de gatos, um caderno da época em que o artista viveu em Roma, retratos de sua esposa, Cora, em casa, e uma parede com sete desenhos que perfazem uma linha cronológica da filha, Mariana Pabst Martins – que assina a curadoria da exposição.

“Através de uma escolha muito pessoal dos desenhos presentes nessa mostra, eu quis iluminar a personalidade  do trabalho do meu pai, expressa na precisão e fluidez do gesto, na intimidade com a pena e o pincel, no rigor do pensamento e no prazer do traço”, explica Mariana. Como o título sugere, “Aldemir em casa” aborda o fazer do artista num contexto de intimidade.

Afirma Mariana Pabst Martins que “…meu pai desenhava todos os dias, o tempo todo, no quarto ou na sala, conversando com amigos ou quieto no seu silêncio pessoal. A imagem dele desenhando vem acompanhada do barulho da pena riscando o papel e do cheiro de nanquim. O gesto elegante e fluido que resultava num traço longo e curvo convivia com a rispidez das hachuras rápidas tracejadas com vigor”.

Marina Pabst Martins procurou colocar lado a lado as nuances gestuais que pode observar cotidianamente com “Aldemir Martins em casa”. Assim, o núcleo principal da mostra traz o exercício do desenho nas mais diversas abordagens, seja em trabalhos de elaboração complexa e densas, seja de mínimos desenhos de pouquíssimos traços. “Não distingui esboços, rabiscos, estudos ou desenhos aparentemente mais bem acabados: para Aldemir não havia nenhuma hierarquia entre os desenhos feitos no papel que forrava a mesa de trabalho daqueles produzidos num papel 100% algodão ou num Schoeller martelado: ambos eram dignos de serem bem emoldurados e expostos”, ela explica.

 

 

Centelhas em Movimento

16/dez

 

O Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP,  visita a Coleção Igor Queiroz Barroso. Em exibição cerca de 190 obras de mais de 55 artistas do acervo cearense.

Esta exposição da Coleção Igor Queiroz Barroso inaugura o programa “Instituto Tomie Ohtake visita”, que busca dar acesso ao grande público a obras de qualidade atestada e pouco exibidas, apresentadas sob diferentes leituras curatoriais. “Ao estar desobrigado de uma coleção permanente, por não ser um museu, o Instituto Tomie Ohtake tem flexibilidade para visitar múltiplos agentes do meio artístico, imergindo em seus repertórios, ações e acervos, e oferecendo aos públicos uma montagem articulada que atravessa a história da arte de modo único e temporário”, afirma Paulo Miyada, que assina a curadoria de “Centelhas em Movimento”, ao lado de Tiago Gualberto, artista e curador convidado para desenvolver a abordagem curatorial da coleção.

Baseada em Fortaleza, CE, a Coleção Igor Queiroz Barroso tem sido formada nos últimos 15 anos, ainda que suas raízes sejam mais antigas. Colecionar arte (em especial, colecionar arte moderna brasileira) é uma dedicação antiga na família de Igor Queiroz Barroso, remontando às iniciativas de seus avós paternos, Parsifal e Olga Barroso, e maternos, Edson e Yolanda Vidal Queiroz, e carregada até ele por seu tio Airton, e sua mãe, Myra Eliane. Essa herança implicou o convívio com a arte, a percepção do sentido do colecionismo e até mesmo a guarda de obras que até hoje estão entre os pilares de sustentação do conjunto que Igor tem reunido. A Coleção Igor Queiroz Barroso conta com cerca de 400 obras e destaca-se por selecionar não apenas artistas de grande relevância histórica, mas por buscar obras de especial significância na trajetória desses artistas.

No recorte realizado para a exposição – de uma coleção que abriga obras produzidas entre os séculos XVIII a XXI de nomes nacionais e estrangeiros – destaca-se a produção de artistas atuantes no Brasil ao longo do século XX, sob a ambivalência do modernismo, movimento tão discutido neste ano em que se comemora os 100 anos da Semana de Arte Moderna paulista.

As esculturas, pinturas e desenhos reunidos indicam a diversidade abarcada pela mostra.  Gualberto destaca obras conhecidas como Ídolo (1919) e Cabeça de Mulato (1934) de Victor Brecheret (1894-1955), Índia e Mulata (1934) de Cândido Portinari (1903-1962), além de trabalhos de Alfredo Volpi (1896-1988), Willys de Castro (1926-1988), Lygia Pape (1927-2004), Mary Vieira (1927-2001), Djanira da Motta e Silva (1914-1979), Chico da Silva (1910-1975) e Rubem Valentim (1922-1991). O curador acrescenta ainda nomes célebres da arte brasileira como Tarsila do Amaral (1886-1973), Anita Malfatti (1889-1964), Maria Martins (1894-1973) e um grande número de obras produzidas entre as décadas de 1950 e 1970. “Esse adensamento de produções também reflete um contingente bastante diverso de artistas, além de nos oferecer privilegiados pontos de observação das maneiras com que os valores modernos foram transformados e multiplicados na metade do século”.

Segundo a dupla de curadores, desde seu primeiro ambiente, a mostra compartilha enigmas sobre a formação da arte brasileira e seus profundos vínculos com o território e a nação. “São convites para que cada visitante encontre seus caminhos e hipóteses por essas montagens, encontrando o modernismo, suas consequências e desvios em estado de ebulição, com sua cronologia embaralhada, suas hierarquias em suspensão e com a constante possibilidade de encontrar retrocessos nos avanços e saltos adiante nos retornos. Uma forma de reacender o calor impregnado na fatura de cada uma das obras”, completam Tiago Gualberto e Paulo Miyada.

Foi neste contexto pensada a expografia de “Centelhas em Movimento”, construída com  painéis flutuantes e autoportantes, que colocam em relações de eco e contraste obras de artistas distintos, de momentos e contextos diferentes: retratos e fisionomias, com Ismael Nery, Di Cavalcanti, Brecheret, Da Costa, Segall; evocações cosmogônicas, com Antonio Bandeira e Antonio Dias, em contato com a Piedade barroca de Aleijadinho; paisagens, com Chico da Silva, Beatriz Milhazes, Manabu Mabe, Danilo Di Prete, Teruz; rupturas concretas ao lado de obras figurativas, com Volpi, Da Costa, Lygia Clark, Maria Leontina; parábolas conceituais que tangenciam sintaxes formais, com Sérvulo Esmeraldo, Mira Schendel, Sergio Camargo, Ivan Serpa; e cheios e vazios com Antonio Maluf, Luis Sacilotto, Ligia Pape, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Rubem Valentim. Como explica Tiago Gualberto: “Evitou-se a aplicação uniforme de organizações cronológicas dos trabalhos ou sua segmentação por autoria. O que certamente tornará a visita à exposição uma oportunidade de deflagrar nuances ou agitadas centelhas resultantes desses encontros”.

 

Sobre Igor Queiroz Barroso

O empresário Igor Queiroz Barroso é, atualmente, presidente do Conselho de Administração do Grupo Edson Queiroz, do Instituto Myra Eliane e da Junior Achievement do Ceará. Também coordena o Conselho do Lar Torres de Melo. Atuou, ainda, na criação do Memorial Edson Queiroz, em Cascavel, no Ceará.

Até 19 de abril de 2023.

 

 

Gregori Warchavchik, um modernista

14/dez

 

Um novo olhar sobre a trajetória e o legado de Gregori Warchavchik, o pioneiro da arquitetura modernista no Brasil. No dia 15 de dezembro chega às livrarias o livro “Gregori Warchavchik – A chegada do moderno”, da BEĨ Editora. Para o lançamento está marcado um bate papo, às 19 horas, na Biblioteca do Insper em São Paulo, SP, com a presença de Silvia Segall, arquiteta e organizadora da edição, Ivo Giroto, professor do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da FAUUSP, o arquiteto Carlos Warchavchik, neto de Gregori, e Maria Cecília Loschiavo, professora de Design da FAUUSP.

A chegada do moderno apresenta uma seleção dos principais projetos de Warchavchik, da casa da rua Santa Cruz aos projetos de clubes do fim dos anos 1950; reunindo obras construídas, projetos não executados e desenhos de mobiliário. O livro mostra, assim, tanto seu caráter de pioneiro do modernismo como a forma como se adaptou às transformações do tempo e do mercado, atuando também como empreendedor e construtor. A obra traz textos de Ivo Giroto, do arquiteto Carlos Warchavchik, e de Maria Cecília Loschiavo, que discorre sobre o design de mobiliário do arquiteto. O volume traz ainda uma entrevista de Paulo Mendes da Rocha – que recorda com humor a convivência de ambos durante a reforma do Clube Paulistano -, além de uma grande coleção de fotografias, desenhos, plantas e croquis que revelam a inventividade, a inovação e o amadurecimento do trabalho do arquiteto ao longo do tempo.

“Warchavchik foi protagonista no esforço de inserção do Brasil em uma rede internacional de trocas de ideias no campo da arquitetura e do design modernos”, comenta Silvia Segall. Apoiado em ampla pesquisa de imagem e em textos que buscam apreender seu tema de diversos pontos de vista, O chamado do moderno lança um novo olhar sobre a trajetória de Gregori Warchavchik em sua complexa carreira, analisando com objetividade e paixão sua importância e seu legado na arquitetura paulista e brasileira. “Pioneiro foi o papel que lhe coube no panorama histórico da arquitetura moderna brasileira […]; visionária foi sua atuação do início ao fim da carreira, marcada pelo aguçado senso de oportunidade e antecipação que definiu um caminho profissional complexo e aberto às transformações exigidas ao longo de meio século de atividade.”, afirma Ivo Giroto.

 

Sobre  Warchavchik

Nascido na Ucrânia, Warchavchik era um jovem arquiteto em 1923, quando migrou para o Brasil. Ao estabelecer-se em São Paulo, casou-se com Mina Klabin, cunhada de Lasar Segall, e travou contato com o círculo de artistas e intelectuais voltados para a discussão da cultura brasileira no século XX – pessoas como Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Flávio de Carvalho, entre outros. A casa que projetou para sua família, inaugurada em 1928 na rua Santa Cruz e hoje tombada pelo patrimônio histórico, foi a primeira construída no país conforme os postulados arquitetônicos modernistas. Em seus projetos, desenhava também o mobiliário interno, bem como elementos como gradis, portões e luminárias.

 

Lançamento

Gregori Warchavchik – A chegada do moderno

Data: 15/12/2022, às 19h – Local: Biblioteca do Insper – Rua Quatá, 300 – Térreo – Vila Olímpia

Inscreva-se e participe do sorteio que será realizado no evento. Iremos sortear 3 exemplares entre os presentes no debate.

 

Ficha técnica

Título: Gregori Warchavchik – A chegada do moderno

Organização: Silvia Segall

Textos: Carlos Warchavchik, Ivo Giroto, Maria Cecilia Loschiavo dos Santos e Silvia Segall Projeto gráfico: Bloco Gráfico

ISBN: 978-65-86205-31-2

Idioma: Português | Inglês Páginas: 256

Formato: 23,4 x 29,5 cm

Acabamento: Brochura com lombo solto, no papel masterblank Ano: 2022

Preço de capa: R$ 120, 00

 

Sobre os autores

Silvia Segall (org.) Arquiteta, dedica-se à curadoria de exposições nas áreas de design e arquitetura, com foco no modernismo brasileiro. Foi cocuradora da Ocupação Gregori Warchavchik (Itaú Cultural, São Paulo, 2019) e organizadora e curadora da exposição A Casa Santa Cruz (Parque Casa Modernista/Museu Lasar Segall, 2019).

Ivo Giroto. Professor do departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Desenvolve estudos sobre arquitetura moderna e contemporânea no Brasil e na América Latina em diversos grupos de pesquisa.

Maria Cecilia Loschiavo dos Santos. Professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Autora do livro “Móvel moderno no Brasil” (Olhares, 2015), entre outros.

Carlos Eduardo Warchavchik. Arquiteto pela Universidade de São Paulo, com pós-graduação em História e Teoria da Arquitetura na Architectural Association de Londres. Atua na área de projetos de arquitetura e construção civil.

 

Sobre a BEĨ Editora

Ao longo de sua trajetória, a BEĨ consolidou-se como uma editora de excelência na concepção e execução de projetos editoriais, mantendo a mesma qualidade nas plataformas de debate e educação que desenvolveu nos últimos anos. O catálogo da editora é formado por livros de arte, design, fotografia, gastronomia, arquitetura, urbanismo e economia, além de títulos voltados para a educação de jovens desde o Ensino Fundamental até a universidade. A palavra beĩ – “um pouco mais”, em tupi – define o espírito que norteia a editora desde sua fundação. O nome reflete o desejo de superar limites, o que se repete a cada projeto executado. A palavra remete ainda ao envolvimento da editora com o Brasil e a cultura brasileira, num compromisso que se reafirma não apenas nas suas publicações, mas no conjunto de suas ações durante um percurso de quase três décadas, que resultou também em iniciativas como a Coleção BEĨ de bancos indígenas do Brasil e a BEĨ Educação.

 

Bardi e Calder na Casa de Vidro

17/nov

 

A partir do dia 19 de novembro, o Instituto Lina Bo e P. M. Bardi inaugura a exposição “Bardi e Calder – Forma- Cor – Luz” que acontece na Casa de Vidro, das 9h às 12h, com acesso gratuito para convidados.

“Forma, cor, luz” compõem a atmosfera da expografia de Lina Bo Bardi para a primeira exposição do artista americano Alexander Calder no Brasil, dirigida por Pietro Maria Bardi no MASP, em 1948, na época diretor do Museu recém-criado em São Paulo à rua 7 de Abril.

Reconhecido por criações de grandes proporções em móbiles, o artista integra, em novembro, três iniciativas conjuntas que marcam o retorno da obra “Viúva Negra” ao país, depois de um longo processo de restauro, realizado na Fundação Calder, em Nova York.

Com o título “Calder, diálogos”, as iniciativas envolvem, além da exposição organizada pelo Instituto Bardi em cartaz na Casa de Vidro até 17 de dezembro, com visitas de quinta a sábado, às 10h, 11h30, 14h e 15h30, outras duas mostras: “Calder Diálogos – Black Widow  1948”, que acontece no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, de novembro de 2022 a fevereiro de 2023 e “Viúva Negra em movimento” e “Plano de Gestão e Conservação”, exposição organizada pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento de São Paulo, de novembro a dezembro de 2022.

 

Bardi e Calder: forma – cor – luz. Casa de Vidro

Visitação de público: quintas, sextas e sábados, com agendamento: até 17 de dezembro de 2022, por e-mail: infobardi@institutitobardi.org

Casa de Vidro: Rua General Almério de Moura, 200 – Morumbi, São Paulo

Calder Diálogos – Black Widow 1948 – Exposição MAC USP  – Até 05 de fevereiro de 2023.

Viúva Negra em movimento e Plano de Gestão e Conservação – Exposição e lançamento de livro no IAB SP, de 19 de novembro a 17 de dezembro.

 

 

Filme sobre vida e obra de Di Cavalcanti

14/nov

 

A Danielian Galeria exibirá um documentário inédito. A projeção está marcada para o próximo dia 19 de novembro, às 15h, trata-se de “Di Cavalcanti – Entre tempos e lirismos” (2022, 25 min), de Ludwig Danielian e Marcela Akaoui, que farão um bate-papo após a projeção do filme. O evento integra o Festival de Gastronomia, Arte e Jazz do Baixo Gávea, BG Arte e Jazz.

O documentário foi feito durante a exposição “Di Cavalcanti – 125 anos”, realizada pela Danielian Galeria entre 06 de setembro e 22 de outubro, e que reuniu aproximadamente 40 obras raras do grande artista, com destaque para duas obras-primas recentemente descobertas em Paris – as pinturas em óleo sobre tela “Carnaval” (década de 1920) e “Bahia” (1935) – vistas em público pela última vez em 1936, na galeria francesa Rive Gauche, durante o exílio do artista na França.

“Di Cavalcanti – Entre tempos e lirismos” aborda vida e obra de Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976) e seu legado para a arte brasileira, com depoimentos de Denise Mattar, curadora da exposição e pesquisadora da obra do artista desde os anos 1990; Elizabeth Di Cavalcanti, filha do artista e pesquisadora; Jones Bergamin, marchand; Marcus de Lontra Costa, diretor artístico da Danielian Galeria, e Miguel Afa, artista visual e muralista.

A arte escultórica de Agnaldo no MAR

 

Com curadoria de Juliana Bevilacqua, estreou no MAR, Museu de Arte do Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, a  exposição com mais de 70 esculturas em madeira do artista baiano Agnaldo Manoel dos Santos. Em exibição até 26 de fevereiro de 2023.

Agnaldo Manuel nasceu na Ilha de Itaparica, na Bahia, em 10 de dezembro de 1926, local onde viveu até 1946. Pouco se sabe de sua vida antes de se mudar para a cidade de Salvador naquele ano. É, no entanto, em 1947, que ele, ao procurar um emprego na região do Porto da Barra, conheceu o artista Mário Cravo Júnior e se tornou vigia do seu ateliê e em seguida seu assistente. Por volta de 1953 que Agnaldo se tornou artista, mais especificamente, um escultor de madeira.

Desde 2013, a curadora Juliana Bevilacqua vem estudando sua obra também com o intuito de mostrar sua trajetória de experimentações que vão além das referências à sua ancestralidade.

“Até hoje, a sua produção vem sendo vinculada a uma conexão profunda com a África, sobretudo através do inconsciente e do atavismo. Agnaldo seria, dessa forma, um produto das ressonâncias africanas na diáspora, não importando o quão marcante foi a sua circulação no meio artístico e os contatos com outros artistas para a sua formação, nem os estudos e as múltiplas referências com as quais lidou ao longo da sua trajetória para realizar as suas obras. Ele se formou como artista no ateliê mais importante da Bahia na década de 1950, fez escolhas conscientes, subvertendo o lugar que o colocavam”, conta a curadora.

Na mostra “Agnaldo Manuel dos Santos – A conquista da modernidade”, estarão reunidas obras de museus e coleções privadas que resgatam seus múltiplos interesses nas formas, temas e referências, explorados em esculturas nos seguintes eixos: Esculpindo uma Trajetória, O Universo das Carrancas, Sobre Gente e Afeto, A África de Agnaldo e Entre Santos e Ex-votos.

“É bastante simbólico que, no ano do aniversário de sessenta anos da morte de Agnaldo, esta exposição esteja sendo apresentada no Museu de Arte do Rio (MAR). A primeira mostra individual do artista, curiosamente, não aconteceu na Bahia, e sim no Rio de Janeiro, em 1956, na emblemática Petite Galerie, com a qual assinou um contrato de exclusividade em 1960”, diz Juliana Bevilacqua.

O recorte escolhido para a mostra reflete o esforço e o empenho em subverter o lugar ao qual se pretendeu delimitar um artista que levava muito a sério seu ofício. “Agnaldo, é, sem dúvida, também uma conquista da modernidade, que se beneficiou de um artista único em muitos sentidos. Ainda que jamais saberemos quais outros voos o escultor alçaria se não tivesse partido tão cedo, em 1962, ele é, sem dúvida, um caso singular da arte moderna no Brasil”, reflete a curadora.

Para o diretor e chefe da representação da OEI no Brasil, Raphael Callou, a chegada da exposição, em parceria com a Almeida & Dale Galeria de Arte, revigora a missão do MAR de trazer mostras aliada a instituições culturais de outras cidades.

“A importância do MAR em receber a exposição individual de Agnaldo é enorme. Agnaldo Manuel dos Santos foi um escultor baiano que trabalhou com grandes nomes da arte brasileira, mas que, ao mesmo tempo, teve sua biografia invisibilizada por muito tempo. Nesse sentido, a mostra possibilita que o nosso público experimente a arte por uma perspectiva mais inclusiva e plural”.

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Assinalar em: Arte Brasileira, Arte Moderna, Museus, Exposições, Escultura, Rio de Janeiro.

 

 

Mostra rompe limites e convenções

10/nov

 

ABERTO 01,  é o nome do evento seminal que ocupará a única casa projetada por Oscar Niemeyer, Rua Silvia Celeste de Campos, 607, Alto de Pinheiros,  em São Paulo, SP, rompe de forma ousada limites e convenções do campo da arte, promovendo encontros potentes entre diferentes obras, atores e campos de expressão plástica e poética. Durante um mês e até 04 de dezembro, o público terá a oportunidade de ver dezenas de criações modernas e contemporâneas, nacionais e internacionais, numa trama complexa que envolve diálogo entre as obras e o espaço arquitetônico, conexão entre produções de tempos históricos e geográficos bastante distintos e uma costura articulada entre diferentes atores e agentes, numa ação conjunta coordenada pelos curadores Kiki Mazzucchelli, Claudia Moreira Salles e o paulista radicado em Londres Filipe Assis, idealizador do projeto. O evento terá caráter transnacional, devendo acontecer em um país diferente a cada ano.

O grande destaque da seleção é a tela “Mulher Nua Sentada”, pintada por Pablo Picasso em 1901. Além de testemunhar a potência criativa do artista espanhol em seus primeiros anos em Paris e pertencer ao amplo conjunto de retratos femininos realizados por ele ao longo de sua vasta carreira, a tela – que virá ao Brasil pela primeira vez, especificamente para essa exibição – tem procedência fascinante. Provavelmente participou da primeira exposição realizada pelo pintor na França, pertenceu a colecionadores importantes até ser confiscada pelos nazistas nos anos 1930, sendo alvo de intensa disputa judicial. Em torno dela se articulará um dos núcleos mais potentes de “ABERTO 01”, um conjunto expressivo de desenhos de nus, assinados por grandes artistas como Pierre-Auguste Renoir, Gustav Klimt, Alberto Giacometti, Marc Chagall, Fernando Botero, Henri Moore e Louise Bourgeois. Esse grupo de trabalhos, que contempla também uma série de obras de cunho erótico, ficará instalada na suíte master da casa projetada por Niemeyer em 1962 e que terminou de ser construída em 1974.

Os outros núcleos da exposição foram pensados em profunda interação com o ambiente, potencializando a fruição de espaços como o jardim de esculturas, ou a criação de uma linha clara que conecta peças relacionadas com os movimentos construtivos de meados do século XX, como um grandioso relevo espacial de Hélio Oiticica, e que deságua em produções atuais como o trabalho especialmente criado por Marcius Galan, numa fértil aproximação entre produções históricas e contemporâneas. A instalação de Galan se soma a uma série de obras comissionadas que se espalham pela residência, em direta relação com o ambiente, assinadas por Daniel Buren, Maria Klabin, Mauro Restiffe e Panmela Castro, entre outros. Para reunir um conjunto tão amplo de trabalhos, a mostra conta com um número amplo de parceiros. “O projeto superou nossas expectativas”, celebra Filipe. “Tem uma potência muito grande essa união de várias galerias importantes, com acervos excepcionais”, complementa Kiki Mazzucchelli.

A elaboração de uma cenografia particular, assinada por Claudia Moreira Salles, ajuda a aprofundar essa integração e amplifica as possibilidades expositivas de um espaço em que predominam paredes curvas, espaços fluídos e grandes superfícies de vidro. “Esta é uma casa simples, diferente e acolhedora”, escreve Niemeyer em uma das páginas do projeto, que integra o segmento especialmente dedicado ao arquiteto dentro da exposição e que contou com o apoio da Fundação Oscar Niemeyer, outro parceiro de peso. O arquiteto está presente não apenas como arquiteto e homenageado no 10º aniversário de seu falecimento, mas também com uma pintura, lado menos conhecido de sua produção. Realizada em 1964 sob o impacto das notícias sobre o golpe de Estado no País, a tela se intitula alegoricamente Ruínas de Brasília.

A valorização de lugares inusitados, com forte carga simbólica, histórica e estética, é a pedra fundamental dessa plataforma de exposições temporárias, idealizada há algum e que só agora ganha corpo, com a possibilidade de uso temporário da casa localizada no Alto de Pinheiros. “Não quero seguir um calendário do mercado, a oportunidade é que vai ditar as possiblidades”, explica Filipe, sublinhando que cada edição do evento terá uma nova conformação e cidade no mundo e reafirmando a importância de abrir outras possibilidades que rompam com a impessoalidade das feiras e dos espaços expositivos neutros de galerias e museus. “Está em aberto”, brinca, em referência ao nome do projeto, que incorpora à cena brasileira uma tendência crescente de entrecruzamento entre arte e arquitetura verificada na Europa.

 

 

O imaginário de Chico da Silva

04/nov

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, apresenta até 08 de janeiro de 2023 a exposição “Chico da Silva: Conexão Sagrada, Visão Global“, sob curadoria de Simon Watson com, aproximadamente 61 pinturas que perpassam seus temas recorrentes da visão do imaginário do artista como peixes e pássaros fantásticos além de criaturas míticas e dragões, já caracterizadas como “visões vívidas e alucinatórias, enraizadas nas cosmologias amazônicas e que vão desde figuras folclóricas e espirituais até plantas e animais antropomórficos.” Com estilo incomparável, as obras de Chico da Silva, “representado por criaturas em ambientes naturais luminosos, são conhecidas por trazer uma conexão entre o sagrado e o natural”, diz o curador.

Francisco da Silva (1910-1985), conhecido como Chico da Silva, foi um artista brasileiro de ascendência indígena. No final da adolescência deixou sua casa no Acre, na região amazônica, e mudou-se para Fortaleza (CE), onde morou o resto da vida. Desde cedo, Chico pintava criaturas fantásticas nas paredes das casas dos pescadores. Foi na década de 1940 que o crítico de arte suíço Jean-Pierre Chabloz conheceu sua obra visionária no Brasil; e foi Chabloz, vindo de uma Europa devastada pela guerra, quem primeiro introduziu Chico à pintura e ao papel. O crítico saudou as pinturas de Chico da Silva como pura manifestação da arte visual brasileira e, posteriormente, tornou-se um defensor das obras do artista. A vida de Chico da Silva foi uma complexa gangorra entre a fama internacional – celebrado na Bienal de Veneza de 1966 e além de inúmeras exposições pelo Brasil e pela Europa – e as lutas contra o alcoolismo e a instabilidade mental, que em certo momento exigiram uma longa internação. Em seus últimos anos, Chico da Silva viveu na fronteira dos sem-teto. Morreu em 1985, aos 75 anos, e nos anos seguintes à sua morte o reconhecimento de sua importante produção artística caiu na obscuridade.

Uma das características das obras de Chico da Silva é a de que seus desenhos e pinturas surgem de forma espontânea, no momento de sua criação, como involuntários impulsos de sua imaginação. O artista não teve de maneira formal nenhuma influência de outros estilos, muito menos de escolas de pintura. Seus traços, que no início eram feitos a carvão, impressionavam pela riqueza de detalhes e abstração. Eram dragões, peixes voadores, sereias, figuras ameaçadoras e de grande densidade e formas. Pintor de lendas, folclore nacional, cotidiano e seres fantásticos. “Por muito tempo suas pinturas foram depreciadas e tidas como arte popular simplória. No entanto, os tempos mudaram e, nos últimos anos, após uma pandemia global e o aumento da conscientização sobre a depredação do meio ambiente, as criaturas visionárias do universo fantástico de Chico da Silva nos revelam o poder absoluto e a maravilha de nosso planeta. – tanto a sua fauna como a sua flora”, define Simon Watson.

“Conexão Sagrada, uma Visão Global” exibe o imaginário de Chico da Silva com criaturas quiméricas que muitas vezes aparecem se devorando ou em posição de combate. “Este é um universo composto por cenas que mesclam fábulas e cosmologias populares amazônicas do norte e nordeste do Brasil, representando um pleno florescimento do traço sofisticado e das cores vibrantes usadas pelo artista, que remetem ao espírito interior das criaturas retratadas e de nós mesmos, espectadores humanos”, diz Watson. A galeria de entrada do museu traz uma instalação em estilo de salão, uma “piscina” das pinturas de peixes do artista, sugerindo uma imersão em um aquário. Em seguida, no espaço expositivo as telas encontram-se divididas em dois temas: uma de criaturas míticas e outra de pássaros e outras criaturas aladas.

“No contexto de crise global, de devastação do planeta e o distanciamento emocional das almas humanas, anestesiadas por distrações digitais, o público de hoje anseia por uma arte visionária que os ajude a lembrar da vitalidade do mundo natural que sustenta nossas vidas. A exposição “Chico da Silva: Conexão Sagrada, Visão Global” incluirá um catálogo online de ensaios acadêmicos a ser publicado no início de janeiro de 2023.”  Simon Watson

 

Projeto “LUZ Contemporânea”

“LUZ Contemporânea” é um programa de exposições de arte contemporânea que se desdobra em eventos e ações culturais diversas, públicas e privadas. Desenvolvido pelo curador Simon Watson, o projeto, atualmente, encontra-se baseado no Museu de Arte Sacra de São Paulo. Nesse espaço, “LUZ Contemporânea” apresenta exposições temáticas de artistas convidados, de modo a estabelecer diálogos conceituais e materiais com obras do acervo histórico da instituição. Embora fortemente focada no cenário artístico brasileiro atual, “LUZ Contemporânea” está comprometida com uma variedade de práticas, cultivando parcerias com artistas performáticos e organizações que produzem eventos de arte.

 

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 Verger por Maureen Bisilliat       

 

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, apresenta, entre 19 de novembro e 28 de janeiro de 2023, “Ver a vida com Verger por Maureen Bisilliat”, exposição que promove um encontro entre a obra de Maureen Bisilliat (1931, Englefield Green, Reino Unido) e Pierre Verger (1902, Paris, França – 1996, Salvador, Bahia), dois fotógrafos que, através do olhar estrangeiro, contribuíram para a formação de um imaginário afirmativo da cultura popular brasileira. A mostra reúne uma seleção feita por Bisilliat de fotografias realizadas por Verger entre as décadas de 1930 e 1950 e fotografias de sua série “Perspectivas” (2021), elaborada a partir de um trabalho de imersão no seu arquivo. “Ver a vida com Verger por Maureen Bisilliat” também inaugura o novo espaço da Galeria Marcelo Guarnieri, que a partir de 19 de novembro funcionará no número 1054 da Alameda Franca. O catálogo da exposição, publicado pela Editora Vento Leste, será lançado durante a abertura.

Em “Perspectivas” (2021), Maureen Bisilliat resgata fotografias dos ensaios “Pele preta”, “Sertões”, “Caranguejeiras” e “A João Guimarães Rosa” para imprimi-las em novas configurações. O formato de 32 x 112 cm escolhido permitiu à artista experimentar com a composição a partir de duas operações: montando sequências de imagens de uma mesma série ou ocupando um terço do canvas com apenas uma fotografia, sendo o restante do espaço dominado pela total ausência de luz. Esse formato, 32 x 112 cm, remete ao da fotografia panorâmica, que permite registrar até 360º de uma paisagem através de capturas de diversos pontos de vista. Embora incorpore em “Perspectivas” (2021) a ideia de uma visão panorâmica, a montagem de Bisilliat não pretende formar uma sequência linear, mas uma sobreposição de temporalidades que lhe permite trabalhar em narrativas de repetições e cortes abruptos. O formato do canvas também remete ao do filme fotográfico e a total ausência de luz que ocupa mais da metade do espaço em algumas dessas obras poderia aludir a uma imagem não revelada da sombria realidade atual. Por meio dessas operações, a fotógrafa coloca em perspectiva o tempo passado, da captura da imagem, e o tempo presente, de suas intervenções, utilizando-se dos contrastes entre luz e sombra, mecanismo estrutural da fotografia, para refletir sobre a opacidade do tempo presente.

“Pele preta”, datado do começo da década de 1960 e realizado nas cidades de São José do Rio Pardo e São Paulo, foi o primeiro ensaio fotográfico de Maureen Bisilliat e marca a transição de seu trabalho da pintura para a fotografia. “A série deriva de meus tempos de estudante, quando frequentava ateliês de modelo vivo, atenta à anatomia, à movimentação do corpo e à iluminação. O corpo humano, minha porta de entrada na pintura, acabou por me levar à fotografia”, conta Maureen. Em 1966, o trabalho foi exposto no MASP, naquela que seria sua primeira grande exposição individual.

A série “Sertões” é composta por fotografias feitas entre 1967 e 1972 em aldeias e lugares santos dos municípios de Canindé, Juazeiro do Norte e Bom Jesus da Lapa, nos estados do Ceará e da Bahia, e contou com o incentivo de uma Bolsa da Fundação Guggenheim. Algumas das imagens dessa série deram origem à publicação “Sertões: Luz & Trevas”, de 1982, que combina trechos do clássico “Os Sertões” (1902) de Euclides da Cunha com os seus registros fotográficos, produzindo diálogos, justaposições e dissonâncias.

Durante os anos em que trabalhou como fotojornalista para a Editora Abril (1964-1972), Maureen Bisilliat pôde fotografar em contextos diversos do Brasil, produzindo ensaios que ficaram célebres, entre eles “Caranguejeiras”, no qual retrata mulheres catadoras de caranguejos na aldeia paraibana de Livramento. O ensaio, que foi capa da edição de março de 1970 da revista Realidade, integrava uma reportagem que contava com texto de Audálio Dantas. Em 1984, as fotografias foram publicadas em livro, acompanhadas pelo poema “O cão sem plumas” (1950), de João Cabral de Melo Neto.

“A João Guimarães Rosa”, realizado durante a década de 1960 em algumas viagens pelo sertão mineiro, surgiu do desejo de Bisilliat de conhecer e retratar os gerais de Guimarães Rosa depois da leitura de “Grande sertão: veredas” (1956). As viagens da fotógrafa eram intercaladas por encontros e trocas com o escritor, que, diante das imagens feitas por ela, indicava nomes de pessoas, lugares, roteiros a seguir e outros detalhes. Em 1969, o ensaio foi publicado em livro, acompanhado por trechos do romance, o que marca o início do seu trabalho de “equivalências fotográficas” com a literatura brasileira que geraria, posteriormente, outros ensaios e publicações produzidas em diálogo com autores brasileiros.

Assim como Maureen, Verger também consolidou sua linguagem fotográfica por meio de viagens, embora não fosse fotojornalista. Durante a década de 1930, passou por países como China, Filipinas, Egito, Máli, Níger, Vietnã e Djibuti. Entre os anos de 1934 e 1939, publicou mais de 1.200 fotografias em jornais, revistas e livros, como o jornal francês Paris Soir e prestigiosas revistas como Life, Daily Mirror, Arts et Métiers Graphiques. Em 1945, depois de ter vivido por dois anos em Buenos Aires e já no Peru, trabalhando para o Museu de Lima, Verger publicou aquele que seria um dos primeiros fotolivros feitos na América Latina e também um dos primeiros registros de antropologia visual: “Fiestas y danzas en el Cuzco y en los Andes”. Ao chegar ao Brasil, em 1946, começou a trabalhar para a revista O Cruzeiro e realizou, durante os dois anos subsequentes, um de seus mais importantes trabalhos sobre a cultura popular nordestina.

A partir de então, Verger também deu início a uma investigação sobre as relações entre Bahia e África, mais especificamente sobre os rituais e costumes das culturas e religiões afro-brasileiras e africanas em Salvador e na Costa do Benin – e se tornou um estudioso do culto aos orixás. Com uma bolsa de estudos, partiu para a África, onde renasceu em 1953 como Fatumbi – “nascido de novo graças ao Ifá” – e foi iniciado como babalaô, um adivinho que se utiliza do jogo do Ifá. Sua pesquisa, que resultou em inúmeros livros, escritos avulsos, fotografias e exposições, é tida como obra de referência para os estudos sobre as culturas diaspóricas. Em 1988 Verger criou a Fundação Pierre Verger, instituição que preserva seu acervo e divulga sua obra até hoje, notadamente através de publicações e exposições realizadas na Bahia, no Brasil e no mundo, assim como incentiva o desenvolvimento da fotografia baiana. A Fundação atende também pesquisadores que dialogam com as temáticas estudadas por Verger ao longo de sua vida e desenvolve através de seu Espaço Cultural atividades educacionais e culturais com as pessoas oriundas dos bairros populares ao seu redor.

Nas fotografias de Pierre Verger selecionadas por Maureen Bisilliat é possível observar uma predominância de retratos, cenas de trabalho e de celebrações. São situações de igual interesse para Bisilliat, nas quais é possível conhecer a cultura de uma população por meio de seus movimentos de corpo e expressões faciais, vestimenta, costumes, instrumentos musicais e arquitetura. Os trabalhos retratados em suas obras, por exemplo, são aqueles comumente executados por pessoas racializadas; trabalhos informais que podem remontar às tradições sertanejas e da pesca ou mesmo do âmbito da construção civil, realizados de maneira coletiva por exigirem grande esforço físico. Verger registra a puxada de rede em 1946 na praia de Itapuã, na Bahia, enquanto Bisilliat vai registrar, vinte anos depois, a cata de caranguejos na aldeia de Livramento, na Paraíba. Imagens que surgem de situações de estranhamentos e afinidades entre fotógrafo e fotografado e que se constroem nessa relação. Tanto para Pierre Verger como para Maureen Bisilliat, essas fotografias tinham o objetivo não só de apresentar Brasis muitas vezes desconhecidos para o próprio Brasil dos grandes centros – no caso de Verger, Áfricas e Ásias para o resto do mundo – como também de reconhecer a importância de tais atividades na preservação de tradições culturais.