Brennand no Rio, na Carpintaria

11/fev

Brennand - Carpintaria

A Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, e a Gomide & Co têm o prazer de apresentar “Francisco Brennand: Um primitivo entre os modernos”. Com curadoria de Julieta Gonzalez, a exposição é um desdobramento da mostra homônima ocorrida na Gomide & Co entre 27 de novembro de 2021 e 29 de janeiro de 2022, em São Paulo.

“Brennand optou por trabalhar contra a corrente da abstração geométrica, dedicando-se à exploração de formas primitivas e arcaicas. Ao longo de toda sua vida, desenvolveu uma linguagem pessoal independente das narrativas artísticas dominantes que informavam a arte de seus contemporâneos no Rio de Janeiro e em São Paulo”. – Julieta González.

 

Abertura : 19 de fevereiro.

Lidia Lisbôa na Galeria Millan

03/fev

 

 

A Galeria Millan, São Paulo, SP, apresenta até o dia 19 de fevereiro, “Acordelados”, primeira individual de Lidia Lisbôa, Guaíra, PR, 1970, na galeria, abrindo o programa institucional de 2022. A artista ganha mostra antológica, com curadoria assinada por Thiago de Paula Souza. A exposição repassa a trajetória da artista desde o final dos anos 1990 até suas investigações mais recentes.

 

A primeira sala da mostra na Galeria Millan contará com as obras da série intitulada “Tetas que deram de mamar ao mundo”, cuja produção foi iniciada em 2011. Tratam-se de esculturas têxteis de grandes dimensões que são alçadas ao teto e caem próximas ao chão, numa forma que remete aos seios femininos. A exposição contará também com trabalhos inéditos, como as esculturas moldadas ora em cerâmica, ora em porcelana, junto a pedaços de vidro fundido que tomam a forma de elementos naturais em “Costelas de Adão” ou antropomórficos, na série intitulada “Alienígenas”. A exposição apresenta ainda desenhos da artista cujas formas reportam aos seus trabalhos escultóricos, em especial, à série “Cupinzeiros”. Nesta série, também presente na exposição, as esculturas em cerâmica estabelecem relações formais e materiais com os cupinzeiros que ocupam a paisagem do campo brasileiro e que remetem às memórias da infância de Lidia Lsbôa.

 

A artista trabalha com diversos materiais e técnicas, como desenho, arte têxtil, crochê, performance e esculturas em cerâmica, argila, porcelana e botões. Segundo afirma, “meu trabalho busca evocar a força e o poder do feminino, a potência da mulher como força motriz da significação de sua própria existência no mundo.” Suas obras se relacionam com a memória e as experiências que a artista vivenciou em sua infância no campo. Assim como abordam as formas do corpo feminino, o processo da maternidade e as relações que os modos de vida estabelecem com a territorialidade. Ao reportar-se à sua produção, ela afirma que “(…) em meus trabalhos quero tecer e moldar para desestruturar, para desfazer o que deve ser desfeito e dar vistas a modos de vida e expressões que muitos anos de ocultação quiseram lançar ao esquecimento”.

 

Sobre a artista

 

Após ter se mudado para São Paulo, em 1986, Lidia Lisbôa trabalhou em ateliê de alta costura e, em 1991, iniciou sua produção artística. Obteve formação de Gravura em Metal pelo Museu Lasar Segall, escultura contemporânea e cerâmica no Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MuBE) e no Liceu de Artes e Ofícios. Em 1997, participou da exposição coletiva “Tridimensional”, no Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MuBE) e, neste mesmo ano, realizou sua primeira exposição individual no Instituto Goethe, em São Paulo. Em 1998, a artista recebeu o Prêmio Maimeri – 75 anos, concedido pelo Liceu de Artes e Ofícios. Em 2020, Lisbôa expôs no Centro Cultural São Paulo e na 12ª Bienal do Mercosul, em 2021, integrou as exposições coletivas “Enciclopédia Negra”, na Pinacoteca de São Paulo; “Carolina Maria de Jesus: um Brasil para brasileiros”, no Instituto Moreira Salles; e a mostra “A Substância da Terra: O Sertão”, com curadoria de Simon Watson, que ocorreu primeiro no Museu Nacional da República com itinerância na Slag Galery em Nova York.

 

Oficina Brennand, 50 anos

26/out

 

Foi em 11 de novembro de 1971 que Francisco Brennand (1927-2019) iniciou a reforma das ruínas da antiga Cerâmica São João, transformando-a em seu ateliê. Ao longo de décadas, aquele foi seu espaço de criação, ao passo em que ocupava os jardins e galpões com instalações de suas obras, ganhando contornos de museu.

A Bergamin & Gomide e o Instituto Brennand convidam para a celebração dos 50 anos da Oficina Brennand e abertura da exposição “Devolver a terra à pedra que era”, com curadoria de Julieta González e Júlia Rebouças, que integra um programa comemorativo do cinquentenário e marca um novo momento institucional.

Devolver a terra à pedra que era
20 de novembro 2021
Reserve esta data e junte-se a nós nessa comemoração.

RSVP até 29 de outubro

Mais informações em 50anos@oficinabrennand.org.br

O Museu do Pontual, reinventado

08/out

 

 

 

A partir deste sábado, dia 9 de outubro, estará aberto à visitação pública o novo espaço do Museu do Pontal, próximo ao Bosque da Barra, com atividades voltadas para as crianças, como espetáculos de teatro de mamulengos, de palhaços, perna de pau, diversas oficinas – uma especializada para bebês, e outra com o artista Getúlio Damado, de Santa Teresa, conhecido pelos bondinhos que cria – além de contação de histórias e experiências sensoriais. A capacidade é limitada para cada atividade, e as senhas serão distribuídas por ordem de chegada. Instalado em um terreno de 14 mil metros quadrados, próximo ao Bosque da Barra e ao lado do condomínio Alphaville Residências, o Museu do Pontal possui dez mil metros quadrados de área verde, onde estão plantadas dezenas de milhares de mudas de 73 espécies nativas brasileiras. Esta inauguração é resultado de uma grande colaboração coletiva que envolveu mais de mil pessoas e empresas como BNDES, Instituto Cultural Vale, Itaú Cultural, entre outras, a partir da Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal. E ainda, especialmente, o IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus) e a Prefeitura do Rio de Janeiro. Referência internacional em arte popular brasileira, com mais de nove mil obras de 300 artistas – o maior acervo do gênero -, e de relevância reconhecida pela Unesco, o Museu do Pontal inaugura sua nova sede com o conjunto de seis exposições “Novos ares: Pontal reinventado”, que mostram a riqueza e a diversidade do Brasil, marcando este importante momento na história do Museu. A curadoria é de Angela Mascelani, diretora artística do Museu do Pontal, e de Lucas Van de Beuque, diretor executivo, com a colaboração da designer Roberta Barros e do arquiteto Raphael Secchin no desenho expositivo, pesquisa Moana Van de Beuque e coordenação de conteúdo de Fabiana Comparato. Com coordenação de Cecília Einsfeld, a programação educativa deste fim de semana, em torno de uma hora de duração por cada atividade, é a seguinte:

 

 

09 de outubro

10h – Oficina Bebê – Brincadeiras Musicais, com Bebel Nicioli – Para bebês e crianças até 3 anos, com duração de 1h.

11h, 14h30 e 16h30 – Visita Musicada, com os arte-educadores Beatriz Bessa e Pedro Cavalcante, com duração de aproximada de 1h30, classificação livre.

14h30 – Oficina Fazer Brinquedos, com Getúlio Damado, criador de maquetes do bondinho de Santa Teresa – A partir de oito anos de idade, vagas ilimitadas.

15h30 – Espetáculo Solo Protocolo, com Ricardo Gadelha – Classificação livre, com duração de 40 minutos.

10 de outubro

10h e às 15h30 – Teatro de Mamulengo com o espetáculo “A Sambada de Simão nas Terras de São Saruê”, de Adiel Luna – Classificação livre, com duração de 1h.

11h, 14h30 e 16h30 – Visita Musicada, com os arte-educadores Beatriz Bessa e Pedro Cavalcante, com duração de aproximada de 1h30, classificação livre.

14h30 – Oficina Fazer Brinquedos, com Getúlio Damado, criador de maquetes do bondinho de Santa Teresa – A partir de oito anos de idade, vagas ilimitadas.

 

 

O conjunto das exposições inaugurais se chama “Novos ares: Pontal reinventado”, marcando este importante momento na história do Museu. São seis exposições, uma de longa duração, e cinco temporárias, que reúnem 700 conjuntos de obras, com um total de cerca de duas mil peças. O Museu do Pontal terá um café/restaurante, uma loja, e uma extensa programação para todos os públicos.

 

 

Em meio às exposições, o público verá a riqueza da arte popular através de vídeos e textos poéticos, e em depoimentos de personalidades como Gilberto Gil, Dona Isabel, Ailton Krenak e José Saramago. O percurso expositivo de mil metros quadrados terá cores e aberturas em suas paredes, que permitem vislumbrar uma perspectiva do amplo espaço, de modo a revestir de magia e encantamento o mergulho do público no universo da arte popular.

 

 

“Novos ares: Pontal reinventado” abrange obras do acervo do Museu e de importantes coleções convidadas. A exposição de longa duração faz uma homenagem à proposta original de apresentação das obras do Museu do Pontal criada por seu idealizador e fundador, Jacques Van de Beuque (1922-2000), que estabeleceu uma maneira própria e inovadora para apresentar o Brasil profundo revelado por seus artistas populares. Esta concepção foi revisitada à luz de 2021, com uma nova compreensão dos ciclos criados por ele, que apontavam as transformações do Brasil com a migração da área rural para a cidade.

 

 

Em torno da exposição central estarão cinco outras exposições nucleares, temporárias, focadas na diversidade da produção artística do país, com esculturas que dialogam com temas fortes da cultura brasileira, a partir dos olhares originais de seus autores.

 

 

 

Agora online | Exposição individual de Ernesto Neto

29/set

 

 

A Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, tem o prazer de apresentar “O beijo Vi de Só e Té Água e Fô e outras tecelã”, uma exposição de Ernesto Neto incluindo trabalhos inéditos que tratam da inter-relação entre o céu e a terra, cerâmica e crochê, escultura e espaço. Juntas, essas novas obras são entremeadas à arquitetura da Carpintaria, onde o chão, a parede e o teto foram integrados na montagem de uma experiência imersiva.

 

 

Carta Serpente para um corpo porvir

por Catarina Duncan

 

 

Peço licença, aos meus mais velhos e aos meus mais novos, de todas as espécies que coabitam o mundo, reconheço a vida que há em tudo. Peço licença para abrir os caminhos dos encontros, para criar essa carta em direção a um organismo que se forma, mas que ainda não existe. Escrevo a partir de vestígios de memórias do que ainda está por vir, uma composição, uma dança, entre muitas vidas, muitas gotas, que formam um corpo só. Seja bem-vinda beijo vida, de terra e sol, e outras tecelagens.

 

Neto percebe a escultura como um organismo vivo e transgressor, que se devora e se transforma constantemente e àqueles que a observam. O ambiente criado pelo artista nesta montagem sugere uma (re)construção do espaço social e do mundo natural, atravessando os limites do corpo escultural em uma paisagem reinventada.

 

 

Um céu de crochê dá suporte a esculturas compostas de formas longilíneas suspensas, como gotas preenchidas por folhas de ervas ou nozes que caem em direção a peças de cerâmica, que por sua vez “brotam” do chão, aludindo a beijos entre corpos distintos. Aqui, o artista propõe uma metáfora de um encontro amoroso entre o céu e a terra.

 

 

No novo corpo de trabalho ‘entidade tecelã’, o artista usa bastidores de MDF em recortes biomórficos e fios de malha de algodão coloridos para manualmente criar tramas, com uma técnica de tecelagem que opera entre a microtensão dos fios entrelaçados e os espaços vazios de respiro.

 

 

Outras obras feitas de galhos secos envoltos por barbantes, explora a relação de tensão e equilíbrio entre diferentes materiais do cotidiano e formas da natureza.

 

 

“Para acompanhar esse nascimento foi convocada uma entidade tecelã, que cria o mundo enquanto se cria, forjando teias que brotam de dentro, conectam e integram nos lembrando que nada existe em isolamento”

 

 

Catarina Duncan

 

 

“Um dos principais saberes que as sociedades indígenas têm e que torna seu pensamento valioso é justamente uma outra maneira de conceber a relação entre a sociedade e a natureza, entre os humanos e os não-humanos, uma outra forma de conceber a relação entre a Humanidade e o restante do cosmos.”

 

 

Cristine Takuá

 

 

Sobre o artista

 

 

Ernesto Neto nasceu no Rio de Janeiro, em 1964, onde vive e trabalha. Outras exposições recentes incluem: Mentre la vita ci respira, Galleria d’Arte Moderna e Contemporanea di Bergamo (Bergamo, 2021), SunForceOceanLife, The Museum of Fine Arts (Houston, 2021); Sopro, Centro Cultural La Moneda (Santiago, 2021), MALBA (Buenos Aires, 2019), Pinacoteca do Estado de São Paulo, (São Paulo, 2019); GaiaMotherTree, Zurich Main Station, apresentada pela Fondation Beyeler, (Zurich, 2018); The Body that Carries Me, Guggenheim Bilbao (Bilbao, 2014). Seu trabalho integra as coleções do Centre Georges Pompidou (Paris), Guggenheim (New York), MoMA (New York), Museo Reina Sofía (Madrid), Tate (London), entre outras.

 

Catálogo de obras do MACRS

30/jun

 

 

Ficou pronto e já foi lançado o Catálogo Geral de Obras do Acervo do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). O projeto Arte Contemporânea RS, responsável por esta ação fundamental no campo das artes visuais, direcionou seu olhar para a catalogação do acervo do MACRS, resultando em uma publicação em formato impresso e digital. O cuidadoso trabalho desenvolvido pela equipe de pesquisa, coordenado pela gestora e produtora cultural Vera Pellin, e orientado pela pesquisadora e curadora do projeto Maria Amélia Bulhões, catalogou 1813 obras de 921 artistas.

Em edição trilíngue (português, espanhol e inglês), o catálogo também é apresentado em versão online gratuita para download no site www.acervomacrs.com.  A versão impressa é composta de 304 páginas e tem tiragem de 1.200 exemplares, a distribuição será administrada pela Associação de Amigos do MACRS (AAMACRS).

 

 

O processo de trabalho, realizado pelo conjunto de profissionais e colaboradores, incluiu as etapas de pesquisa, documentação, digitalização, edição e impressão, demandando intensa dedicação, atenção e aprendizado. Entre os possíveis desdobramentos do projeto está a difusão e divulgação em diferentes mídias deste acervo de arte contemporânea que vem se constituindo ao longo de quase três décadas. Diferentes visões de mundo e expressões a respeito do nosso tempo disponíveis a partir de agora em condição permanente. A partir do olhar desta geração de artistas se manifesta a história da arte contemporânea no Rio Grande do Sul, sendo o MACRS o principal Museu do estado focado nas atividades de preservação e conservação desta memória para as gerações futuras.

 

 

“A edição do Catálogo do Acervo do MACRS, com 1813 obras de 921 artistas, tem caráter inédito e viabilizará à comunidade artística a promoção, difusão, preservação e acesso à informação deste valioso patrimônio cultural, além de fonte de pesquisa ao público especializado e interessado. Sua edição impressa e digital possibilitará a emersão de novos processos de leitura e significação da arte ao conhecer, de forma ampliada, todas as obras que compõem este valioso acervo, suas linguagens, diversidade de técnicas e práticas artísticas”, afirma Vera Pellin.

 

 

Para o diretor do MACRS, André Venzon, a publicação é um forte indício da consistência desse caminho do Museu, de resgate da biografia desses artistas, doadores, gestores, servidores, estagiários e colaboradores que apontaram essa história, do seu início até hoje, para as novas gerações. “Trata-se de uma publicação indispensável para todos que desejam conhecer mais sobre arte contemporânea, com toda a força e pluralidade que a sua produção representa.”

 

 

“Compartilho de uma emoção coletiva ao finalizar o projeto Arte Contemporânea RS, destinado à catalogação do acervo do MACRS, que foi um grande desafio para todos os colaboradores e uma realização pessoal e institucional”, afirma a curadora Maria Amélia Bulhões. Para a professora e pesquisadora da UFRGS, “agora é possível olhar a totalidade do trabalho desenvolvido e perceber a amplitude e diversidade desse acervo, ondem se destacam obras em fotografia (469) e gravura (422), seguidas de pintura (236), desenho (167) e escultura (126), além de categorias mais recentes como vídeo (82) e livros de artistas (30), entre outras”.

 

 

A leitura da publicação, assim como da exposição, propõe um exercício experimental de compreensão, que amplia significados sem criar categorias ou estereótipos, destacando obras que marcam significativamente mudanças de perspectiva na produção artística da contemporaneidade, por suas estratégias, seus recursos materiais, formais ou de conteúdo. “Certas obras investigam os universos não hegemônicos, como o feminino, o negro, o indígena ou o marginal, procurando instaurar no sistema da arte a crítica e os debates de gênero, etnias e relações sociais conflitantes. O corpo é forte presença, colocando em pauta aspectos reprimidos da sexualidade. A relação com todas essas problemáticas tem espaço no conjunto da coleção”, complementa a curadora.

 

 

O projeto ainda contempla uma significativa exposição do acervo no MACRS, que pode ser conferida até 22 de agosto, com curadoria de Maria Amélia Bulhões, nas galerias Sotero Cosme e Xico Stockinger, além do espaço Vasco Prado, no 6º andar da Casa de Cultura Mário Quintana. De forma presencial e também virtual, o público pode conferir mais de setenta obras em diferentes suportes, marcando a multiplicidade e representatividade desse acervo.

 

Nova artista na Bergamin & Gomide

12/maio

 

 

A Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP, tem o prazer de anunciar a representação da artista Maria Lira Marques e sua primeira exposição individual na galeria, no segundo semestre de 2021. Maria Lira faz parte de uma longa e profícua linhagem de artistas no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, entre os quais se incluem Isabel Mendes da Cunha, Noemisa Batista dos Santos e Ulisses Pereira Chaves. Assim como muitos desses ceramistas, ela se iniciou nas artes visuais trabalhando com o artesanato utilitário pelo qual a região é conhecida. Porém, como não se considerava hábil para a olaria tradicional, passou a desenvolver experimentalmente criações próprias, buscando nas raízes da cultura popular a inspiração para suas obras. Nos anos 1970, Maria Lira começou a expor seu trabalho autoral em cerâmica, como bustos, presépios e as máscaras antropomórficas evocativas da sua herança africana e indígena.

Maria Lira traça a genealogia de sua vocação artística a partir da influência de sua mãe, que trabalhava como lavadeira e exercia em paralelo seus dons manuais com a cerâmica. Paralelamente à cerâmica, Maria Lira desenvolveu uma pesquisa musicológica a partir da forte tradição oral de sua região. Desde os anos 1990, ela vem se dedicando ao corpo de obra pelo qual se tornou mais conhecida, Bichos do Sertão, pinturas de animais imaginários que compõem um vasto bestiário que se caracteriza pela integração de sua linguagem gráfica com a paisagem sertaneja. Essas obras são desenhadas com uma mistura de barro e cola sobre papel ou seixos rolados, usando paleta cromática terrosa e texturas orgânicas, resultando em superfícies pictóricas de forte impacto visual.

Além de ser uma artista com mais de quarenta anos de carreira, Maria Lira é também uma pesquisadora, ativista e divulgadora da cultura popular, sobretudo das raízes indígenas e negras, que, como ela aponta, normalmente são invisibilizadas e negligenciadas pela sociedade. “O negro como o índio são as pessoas mais massacradas pela sociedade”, disse a artista em uma entrevista de 1983. “Não que a opressão esteja somente nessas minorias, pois que está geral, mas a gente vê muito bem e sente na pele que o negro, às vezes, não é aceito pela sociedade; o índio você vê que também está muito explorado (…). E [esta] é a minha cultura.”

Em 2010, ela participou da fundação do Museu de Araçuaí, em parceria com frei Xico, o frade holandês Francisco Van der Poel, com quem mantém interlocução há cinco décadas. O museu foi criado com o objetivo de abrigar um acervo de objetos e documentos que registram a religiosidade, os usos e costumes e os ofícios que constituem a história de Araçuaí, um dos principais polos de cultura popular do país.

Maria Lira fez sua primeira exposição em 1975 no Sesc-Pompeia, em São Paulo, e já expôs em diversas instituições no Brasil e internacionais, em países como Bélgica, Holanda, Dinamarca, França e Estados Unidos. Sua obra foi estudada pela pesquisadora Lélia Coelho Frota, uma das principais autoridades em arte popular brasileira, e em 2007 sua trajetória foi homenageada em uma peça com seu nome dirigida por João das Neves.

É, portanto, com muita alegria que a Bergamin & Gomide passa a representar, em parceria com a mineira AM Galeria, essa grande artista, ampliando o reconhecimento merecido de sua obra. Sua exposição individual, prevista para o segundo semestre deste ano no novo espaço expositivo, a casa projetada por Flávio de Carvalho, será acompanhada por um ensaio inédito do crítico e curador Rodrigo Moura, curador chefe do El Museo del Barrio, em Nova York.

 

Tudo o que você me der é seu: prosas de mulheres na arte popular

13/jan

 

Arte popular

A exposição “Tudo o que você me der é seu: prosas de mulheres na arte popular” encontra-se em exibição até 30 de janeiro na Central Galeria, Vila Buarque, São Paulo, SP. É arte de raiz popular de alta qualidade vista através dos trabalhos das artesãs Nilda Neves, Lira Marques, Rosana Pereira e Efigênia Rolim, “quatro artistas com produções permeadas por símbolos de identidade, consistência e particularidades”. Texto do curador Renan Quevedo

 

Tudo o que você me der é seu: prosas de mulheres na arte popular Antes de tudo que vem a seguir, houve silêncio.

 

É louvável notar que, nos últimos anos, as instituições de arte tenham revisto seus históricos e esforços a respeito da diversidade em seus acervos. A fim de reconhecer locais de fala e trazer novas vozes argumentos para uma discussão mais democrática e pagar a vergonhosa dívida secular com grupos invisibilizados, projetam exposições em que o norte é o equilíbrio. A mostra Tudo o que você me der é seu – prosas de mulheres na arte popular é uma delas; traz as obras de quatro mulheres de diferentes origens, gerações e repertórios.

 

 

Faço minhas as palavras de Paulo Rezutti: “Não! As mulheres não precisam de mais um homem para falar por elas. A mulher brasileira tem voz própria há anos”.  Aqui, oferecemos o espaço para essas artistas cujas obras falam por si mesmas. Com o Novos Para Nós, me proponho a contar as histórias que presencio e escuto sobre a obra e a vida, que nunca se desassociam, dos artistas populares (utilizarei este termo, embora com ressalvas). Ainda que 77% dos artesãos brasileiros sejam mulheres, a agenda artística e cultural se mantém distante dessa realidade. É um apagamento? Na exposição, buscamos contextualizar as histórias vividas, inventadas e testemunhadas por Nilda Neves, Lira Marques, Rosana Pereira e Efigênia Rolim, quatro artistas com produções permeadas por símbolos de identidade, consistência e particularidades.

Fazendo uso de barro, papel, plástico, tinta, tecido e metal, entre tantos outros materiais, as quatro artistas tecem narrativas. De acordo com Walter Benjamin (1892-1940), a prática da arte de narrar está ligada às mais antigas formas de trabalho manual. Ao passo que os homens saíam para caçar, as mulheres ficavam responsáveis pela produção de cestaria, bordado, tapeçaria e trançado, além da propagação para as próximas gerações, trocando experiências.

 

Nilda Neves (1961) é natural do sertão de Botuporã (BA). Bisneta de tupis-guaranis, estudou contabilidade e foi professora de matemática e comerciante, entre outras profissões. Em São Paulo, virou dona de bar. Os calotes a forçaram a ser manicure, o que só fazia a clientela gritar de dor. Nilda conta, gargalhando, que foi colocada para cortar cabelo – “e eu nunca tinha cortado nem cabelo de rato” . Como pagamento de uma dívida, ganhou três DVDs: dois não funcionaram e o terceiro mostrava um religioso lendo um livro. A situação, que a deixou revoltada, também trouxe ideias: “Vou escrever o meu livro”. Uma sequência de páginas com histórias, crônicas e pensamentos sobre a vida tomou forma. Com a falta de dinheiro, Nilda se viu forçada a fazer o desenho para a capa. As pessoas gostaram do que viram dentro e fora do livro e a incentivaram no novo ramo.

 

Nilda, então, começou a pintar telas com temáticas referentes à vida no sertão, retratando tempos e costumes: cangaceiros, retirantes, atividades manuais, animais, paisagens, comidas, profissões, vínculos afetivos, conflitos e folclore. Lançou mão de pinceladas arrastadas e secas, que preenchem a tela e dão origem a texturas e padrões. O bom humor, uma das características mais marcantes no trabalho de Nilda, divide espaço com lamentos, introspecções, solitudes e vazios. “Me chamavam de artista plástica, mas eu dizia que não era porque achava que esse termo era pra quem fazia arte com plástico”, conta rindo. “O que as pessoas acham feio, eu acho bem bonito.”  

Lira Marques (1945), nascida em Araçuaí (Vale do Jequitinhonha, MG), tem um diálogo com a natureza em diversas formas. Sabe e entende que veio da terra e que para ela voltará. Sua mãe fazia bonecas de pano e presépios de barro para presentear os vizinhos, e assim foi despertada a curiosidade de Lira: ainda criança, começou a fazer pequenas esculturas com cera de abelha, posteriormente se dedicando à cerâmica. Os desenhos em papel e pedra – que hoje são seu carro-chefe – só surgiram em 1994, após fortes dores nos braços. Hoje, Lira coleciona diferentes tons de pigmentos minerais que encontra pela região e aplica em seu trabalho, além de investigar e acumular um conhecimento inesgotável sobre a cultura popular, o comportamento, a música, os habitantes e sobretudo a vida dos que lá persistem.

 

 

A série aqui exposta foi batizada por Lira de “Meus bichos do sertão”. São representações feitas em barro com traços da economia e da estética rupestres: figuras bípedes e quadrúpedes que se assemelham a aves, répteis e anfíbios e, frequentemente, são híbridos entre real e imaginário. Os animais são definidos por seus bicos, penas, chifres e rabos; ora sozinhos, ora acompanhados por seus ovos, índices da flora e minerais. Em determinados momentos, Lira agrupa elementos em formas ovaladas que sugerem exposição em pedras e pastos, reclusão em cavernas e buracos; ou, ainda, os escava como uma arqueóloga da própria vida e história. A aridez estética é marcada pelo relevo da matéria-prima e reforçada pelos ângulos agudos das extremidades dos bichos. Podem ser “mansos, mas também ariscos” – está pronta para soltá-los em troca de proteção e adiamento dos apocalipses.

 

 

Também do Vale do Jequitinhonha, Rosana Pereira (1988) nasceu em Caraí (MG) com uma bolinha de barro nas mãos. Filha, neta, bisneta, tataraneta de ceramistas – e aqui nos perdemos na incerteza de sua árvore genealógica, mas seguros da atividade quase tricentenária na região – desde pequena foi iniciada na modelagem do barro. A produção de Rosana é diretamente ligada à produção de seu avô, Ulisses Pereira Chaves (1922-2006), celebrado como um dos maiores escultores brasileiros por Burle Marx e Lélia Coelho Frota.

 

 

Influenciada esteticamente por Ulisses, Rosana adquire temática própria e flexiona a rigidez das figuras do avô com movimentos e interações entre os corpos. De poucas palavras e grande timidez, encontrou na escultura a melhor forma para se comunicar. Suas obras mostram figuras antropozoomórficas, com corpos humanos e rostos de animais. A figura feminina, em sua grande maioria, traja um vestido de noiva, e, a masculina, terno completo para o casamento. Subvertendo a rígida tradição local, há uma inesperada relação entre os personagens: os femininos têm o poder e o controle da cena. São eles quem rastejam, caem, fraquejam, obedecem, são carregados e fragilizados. Rosana, a mais jovem presente na exposição, resume a série com: “Faço isso porque a mulher também é importante”, levantando uma bandeira não de superioridade, mas de igualdade entre os gêneros. 

 

 

Efigênia Rolim (1931), natural de Abre Campo (MG), iniciou sua produção artística em Curitiba (PR). Conhecida como “Rainha do Papel de Bala” há mais de 30 anos, um fato mudou toda a sua história: andava pela rua quando viu um objeto brilhante no chão. Surpresa, se abaixou para pegá-lo; era “apenas” um papel de bala. Pensou nas relações que estabelecemos com pessoas e concluiu que, enquanto o papel tivesse uma função embrulhando o doce, despertaria interesse por parte de alguém. Chamou-o, então, de “mísero caído”. Começou a recolher todos os que via pela frente, pensando: “Se conseguir um por dia, no final do ano tenho 365” – enquanto as pessoas só a chamavam de louca. “Ninguém achou que eu fosse vingar.” 

 

 

Os papéis invadiram suas vestimentas e, juntamente com outros materiais considerados “lixo”, são matérias-primas das esculturas, compondo também apresentações e poemas. “As pessoas ficam impressionadas com o trabalho que tenho para fazer minhas peças, mas não há nada que eu goste mais do que isso. É preciso de imaginação e querer fazer.” Marcados pelo processo de acúmulo, destruição, construção, ressignificação e bricolagem, seus trabalhos apresentam narrativas oniscientes inspiradas em contos de fada. Seus personagens e histórias transitam entre o real e o extraordinário, frequentemente manipulados com o recurso pedagógico da repetição. Apresentamos a inédita série “Natureza racional”, justificada pela artista com: “Cansei de falar com os homens, agora vou falar com os animais”. Autointitulada Guardiã do Mundo, com a voz no presente e seu eco no futuro, Efigênia nos provoca a respeito da sustentabilidade e das próximas etapas da humanidade ao interferir no tamanho real dos homens e bichos, propondo novas dimensões e relações entre eles. 

 

 

Nilda e Lira se voltam para o meio de criação rural como base para a formação de seus discursos, enquanto Rosana e Efigênia projetam narrativas com preocupações a princípio urbanas, embora certamente de interesses universais. O equilíbrio também ocorre por meio das intersecções, similaridades e dissonâncias de suas falas: feminino, cotidiano, deslocamento, força, tempo, igualdade, resiliência, ancestralidade e consciência ambiental, entre tantos outros temas. A distância acadêmica revela uma crescente pesquisa de matérias e experimentações técnicas em busca de um apuro narrativo e estético.

 

 

As histórias contadas através dos trabalhos presentes na mostra foram construídas com base na observação do cotidiano vivido ou percebido, dos costumes e da sensibilidade. São narrativas que moram nas quatro artistas e as mantêm vivas. Já os objetos perdem o valor contemplativo e podem assumir caráter de devoção, evocando suas crenças, sonhos, pensamentos e questionamentos. Recusando serem caladas, as ideias que propagam se baseiam na perpetuação, preservação e libertação de suas raízes, do cotidiano e do futuro que agoniza e sufoca.

 

 

Se “por muito tempo na história, ‘anônimo’ era uma mulher”, como escancara Virginia Woolf (1882-1941), queremos que as prosas das mulheres sejam notadas, que suas vozes sejam ouvidas e que possamos nos inspirar com suas histórias. É preciso visitá-las e revisitá-las para que grupos periféricos ganhem um novo e merecido espaço na noção de arte brasileira, em nossas agendas e em nossa sociedade, abandonando as margens. “Tudo o que você me der é seu” é uma generosa troca, e somos nós que ficamos com o presente.

Mulheres: Argentina & Brasil

11/jan

 

Cerca de 80 obras de 15 artistas mulheres da Argentina e do Brasil, reunidas pela curadora Maria Arlete Mendes Gonçalves, ocuparão todo o prédio do Centro Cultural Oi Futuro no Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, na exposição Una(S)+, de 13 de janeiro a 28 de março. A mostra ocupará do térreo à cobertura, passando pelas galerias, escadas, elevador e pátio externo, e inaugura a programação do Oi Futuro em 2021, seguindo todos os protocolos de segurança sanitária. Produzidas em dois momentos – antes e durante a pandemia – as obras afirmam a potência feminina na arte.

Prevista inicialmente para maio de 2020, e adiada duas vezes por conta do coronavírus, a exposição “ganhou um caráter mais amplo, ao incorporar o estado quarentena da arte”. A curadora decidiu incorporar à mostra também as obras criadas pelas artistas durante o confinamento em suas casas, já que elas produziram continuadamente, mesmo sem a estrutura de seus ateliês. “Elas ampliaram seus campos de trabalho e ousaram lançar mão de novas linguagens, materiais, tecnologias e redes para romper o isolamento e avançar por territórios tão pessoais quanto universais: a casa, o corpo e o profundo feminino”, explica Maria Arlete Gonçalves. “São obras de artistas de gerações distintas e diferentes vozes, a romperem as fronteiras geográficas, físicas, temporais e afetivas para somar potências em uma grande e inédita ocupação feminina latino-americana”, assinala a curadora.

A exposição nasceu da instalação “Fiz das Tripas, Corazón”, da artista portenha/carioca Ileana Hochmann, que ao expor em Buenos Aires em 2019 convidou artistas da Argentina e do Brasil, com a ajuda de Maria Arlete Gonçalves, para dialogarem com seu trabalho. Agora, esta exposição chega ao Rio de Janeiro ampliada, com mais artistas e desdobrada com trabalhos surgidos na pandemia.

As artistas que integram a exposição são, da Argentina: Fabiana Larrea (Puerto Tirol, Chaco), Ileana Hochmann (Buenos Aires), Marisol San Jorge (Córdoba), Milagro Torreblanca (Santiago do Chile, radicada em Buenos Aires), Patricia Ackerman (Buenos Aires), Silvia Hilário (Buenos Aires); do Brasil: Ana Carolina Albernaz (Rio de Janeiro), Bete Bullara (São Paulo, radicada no Rio), Bia Junqueira (Rio de Janeiro), Carmen Luz (Rio de Janeiro), Denise Cathilina (Rio de Janeiro), Evany Cardoso (vive no Rio de Janeiro), Nina Alexandrisky (Rio de Janeiro), Regina de Paula (Curitiba; radicada no Rio de Janeiro) e Tina Velho (Rio de Janeiro).