Exposição de Rosana Paulino

12/abr

O Museu de Arte do Rio – MAR, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no dia 13 de abril a exposição “Rosana Paulino: a costura da memória”. Após temporada de sucesso na Pinacoteca, em São Paulo, a maior individual da artista já realizada no Brasil chega à cidade com 140 obras produzidas ao longo dos seus 25 anos de carreira. Assinada por Valéria Piccoli e Pedro Nery, curadores do museu paulistano, a mostra reúne esculturas, instalações, gravuras, desenhos e outros suportes, que evidenciam a busca da artista no enfrentamento com questões sociais, destacando o lugar da mulher negra na sociedade brasileira.

 

Rosana Paulino surge no cenário artístico nos anos 1990 e se distingue, desde o início de sua prática, como voz única de sua própria geração. Os trabalhos selecionados, realizados entre 1993 e 2018, mostram que sua produção tem abordado situações decorrentes do racismo e dos estigmas deixados pela escravidão que circundam a condição da mulher negra na sociedade brasileira, bem como os diversos tipos de violência sofridos por esta população.

 

Um dos destaques da mostra é a “Parede da Memória”. Realizada quando a artista ainda era estudante, a instalação é composta por 11 fotografias da família Paulino que se repetem ao longo do painel, formando um conjunto de 1.500 peças. As fotos são distribuídas em formatos de “patuás” – pequenas peças usadas como amuletos de proteção por religiões de matriz africana. O mural se transforma em uma denúncia poética sobre a invisibilidade dos negros e negras que não são percebidos como indivíduos. Quando os 1.500 pares de olhos são postos na parede, “encarando” as pessoas, eles deixam de ser ignorados.

 

A exposição também conta com uma série lúdica de desenhos feitos por Rosana Paulino, na qual a artista revela sua fascinação pela ciência e, em especial, pela ideia da vida em eterna transformação. Os ciclos da vida de um inseto são feitos e comparados com as mutações no corpo feminino, por exemplo. A instalação “Tecelãs”, de 2003, composta de cerca de 100 peças em faiança, terracota, algodão e linha, leva para o espaço tridimensional o tema da transformação da vida explorado nos desenhos. Em alguns de seus trabalhos a relação de ciência e arte é destacada, como em “Assentamento, de 2013. A série retrata gravuras em tamanho real de uma escrava feitas por Ausgust Sthal para a expedição Thayer, comandada pelo cientista Louis Agassiz, que tinha como objetivo mostrar a superioridade da raça branca às demais. Para Paulino, “a figura que deveria ser uma representação da degeneração racial a que o país estava submetido, segundo as teorias racistas da época, passa a ser a figura de fundação de um país, da cultura brasileira. Essa inversão me interessa”, finaliza a artista.

 

 

Sobre a artista

 

Doutora em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP, especialista em gravura pelo London Print Studio, de Londres e bacharel em gravura pela ECA/USP. Foi bolsista do programa bolsa da Fundação Ford nos anos de 2006 a 2008 e CAPES de 2008 a 2011. Em 2014 foi agraciada com a bolsa para residência no Bellagio Center, da Fundação Rockefeller, em Bellagio, Itália. Como artista vem se destacando por sua produção ligada a questões sociais, étnicas e de gênero. Seus trabalhos têm como foco principal a posição da mulher negra na sociedade brasileira e os diversos tipos de violência sofridos por esta população decorrente do racismo e das marcas deixadas pela escravidão. Possui obras em importantes museus tais como MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo; UNM – University of New Mexico Art Museum e Museu Afro-Brasil – Pão Paulo.

 

Macaparana, formas e suportes

25/mar

A exposição “formas / suportes”, individual de Macaparana é o cartaz da Dan Galeria, Jardim América, São Paulo, SP, até o dia 30 de abril.

 

Em exibição mais de 30 trabalhos do artista pernambucano reconhecido por uma obra que une o rigor geométrico e a informalidade da abstração; um recorte de sua coleção pessoal e do acervo da galeria com trabalhos produzidos desde os anos 1970 até os dias atuais, obras realizadas em suportes variados: tela, papel, madeira, acrílico, vidro e cerâmica, entre outros. Entre os trabalhos apresentados, uma escultura em aço inoxidável, sem título, que traz duas formas ovais combinadas, materialização em três dimensões de duas telas de formato semelhante, sem título, cobertas por pigmentos e tinta acrílica.

 

De 1983, uma pintura sobre tela que parece figurar tocos de madeira sobrepostos. Dois anos depois, em 1985, Macaparana (José de Souza Oliveira Filho) criou um trabalho semelhante, desta vez fazendo uso de pedaços de madeira de tipos diversos. “Cada trabalho tem uma dinâmica própria. No meu caso, todos geralmente começam no papel, quase como um rascunho livre. Aos poucos, ele vai se materializando, ganhando corpo e pedindo suportes específicos. Tenho séries que nascem em um formato e ganham outro com o tempo. Os resultados são completamente distintos. No que diz respeito, inclusive, na relação que estabelecem com o público”, afirma o artista.

Ai Weiwei no Brasil

12/nov

Agora, as obras de Ai Weiwei – que passaram por exposições na Argentina e no Chile – encontram-se no Brasil. Com curadoria de Marcelo Dantas, “Ai Weiwei Raiz” está em exibição na Oca, Parque Ibirapuera, em São Paulo. A mostra é a primeira individual do artista no Brasil, e uma das maiores realizadas por ele, com quase 8 mil metros quadrados de extensão e cerca de setenta obras.

 

Em 2011, quando o curador Marcello Dantas teve a ideia de fazer uma grande retrospectiva do artista e ativista Ai Weiwei no Brasil, ele não imaginava que demoraria cerca de oito anos para concluir o projeto. A demora é justificada: nesse meio tempo, Weiwei, conhecido por suas críticas ao regime da China, foi preso e impossibilitado de sair de seu país de origem. Quando ele sinalizou que teria o passaporte de volta, Dantas foi à Pequim e posteriormente à Berlim – onde o artista se estabeleceu – para retomar as negociações do que seria a maior individual já realizada do artista chinês.

 

Além de trabalhos icônicos, a exposição reúne peças recentemente confeccionadas, muitas delas em ateliês brasileiros. “Nos dois casos, é importante destacarmos o processo de inoculação pelo qual essas obras passaram. Chamamos essa ideia de ‘mutuofagia’. Esse conceito, que permeia a mostra como um todo, é representativo de um intercâmbio cultural extremo pelo qual Ai Weiwei e o Brasil passaram, em que o artista incorporou-se ao país, ao mesmo tempo que o país incorporou-se ao artista e à exposição, por meio de elementos culturais e processos produtivos.

 

O artista exibe peças da obra “Sunflower Seeds” (Sementes de girassol),  uma das obras mais conhecidas, trabalho composto por milhões de sementes de girassol feitas em porcelana e pintadas à mão por artesãos chineses; “Straight” (Reto), instalação feita com 164 toneladas de vergalhões de aço recuperados dos escombros de escolas em Sichuan (China), após o forte terremoto que abalou o país em 2008; e “Forever Bicycles” (Bicicletas Forever), obra de caráter arquitetônico que utiliza bicicletas como blocos de construção. O nome da instalação é inspirado na famosa marca chinesa de bicicletas Forever, popular na infância do artista.

 

Já entre as peças produzidas no país, destaca-se “F.O.D.A”, múltiplo formado pelos moldes em porcelana de quatro elementos encontrados no Brasil: Fruta do Conde, Ostra, Dendê e Abacaxi. As peças foram todas produzidas em um galpão em São Caetano do Sul, SP, com a consultoria de designers brasileiros. A mostra apresenta ainda uma série de trabalhos feitos com centenárias raízes de pequi-vinagreiro, espécie da Mata Atlântica em risco de extinção. Esses resíduos foram descobertos no meio da floresta, selecionados e trabalhados pelo artista ao lado de carpinteiros chineses e brasileiros.

 

Engana-se quem acha que o título da exposição vem exclusivamente daí: “É um pouco mais profundo que isso. Nesta retrospectiva, tivemos o trabalho de buscar raízes culturais perdidas por Weiwei. A revolução cultural chinesa taxou de burguesa certas técnicas como a porcelana, e muitas delas foram desaprendidas. Recuperar isso está muito presente no trabalho do artista, por exemplo, em peças como “Sunflower Seeds”. Além disso, o nome tem um trocadilho com a palavra raiz, já que as vogais presentes nela são “ai”, o sobrenome de Weiwei,” revela o curador Marcelo Dantas.

 

Conhecido por tratar de importantes questões sociais e humanas, como liberdade de expressão e crise de refugiados, o artista tem um modo de produzir peculiar. O curador destaca que este esquema de pensamento é um ponto essencial para se entender a reflexão em torno da mostra. “O que está em jogo aqui é o processo mental de Weiwei. Quando ele recupera fragmentos de ferro, como na obra “Straight”, ou raízes de uma árvore para compor uma obra, vemos um jeito de trabalhar muito peculiar. O mesmo acontece com “Sunflowers Seeds” e “F.O.D.A” – nas quais o artista movimenta toda uma comunidade no processo de produção das peças. Como o tema dele é a vida, não temos como fazer uma exposição com um único mote. Por isso, demos prioridade a conectar e refletir sobre o jeito que ele pensa, sua obra enquanto método.”

 

 

Até 20 de janeiro.

Brennand no Rio

09/nov

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, exibe de 10 de novembro a 15 de dezembro a exposição “Francisco Brennand”, que reúne 44 peças representativas da grandeza e da diversidade complementar de sua obra, todas elas procedentes do acervo Brennand, com a curadoria de Evandro Carneiro, Maria Helena e Maria da Conceição Brennand.

 

A mostra inclui 13 desenhos e pinturas – dentre as quais algumas telas da série As névoas de Caspar (Caspar David Friedrich) -, cinco lindas cerâmicas vitrificadas, 15 ovos cerâmicos e, ainda, 11 esculturas seriadas. Algumas obras são inéditas ao público, pois serão exibidas pela primeira vez no Rio de Janeiro. Todas as peças estarão à venda.

 

 

Sobre o artista

 

Natural de Recife, Brennand é ceramista, escultor, desenhista, pintor, tapeceiro, ilustrador e gravador. É autor de importantes espaços culturais de Recife: a Oficina Cerâmica Francisco Brennand, o Parque das Esculturas Francisco Brennand e a Academia de Arte Brennand. Francisco Brennand nasceu em 1927, no Recife, em uma família tradicional, ligada à aristocracia rural, e por outro lado, descendente de empreendedores ingleses que trouxeram o nome com o qual o artista ficou conhecido. Ricardo Brennand, seu pai, herdou o Engenho São João da Várzea, que inicialmente produziu açúcar e mais tarde se tornou uma importante olaria. Em 1917 Ricardo fundou a primeira fábrica de cerâmicas da família. Cinquenta e cinco anos depois, sobre as ruínas da Cerâmica São João, Francisco recriou o espaço de territorialidade familiar, construindo ali a sua moradia, mas também a famosa Oficina Brennand, o Parque de esculturas e, mais recentemente a sua Academia. Neste complexo, repleto de significados afetivos, simbólicos e fabris, Francisco Brennand vem desenvolvendo a sua arte, há mais de 60 anos. Uma arte totalizante e complementar nas facetas de pintura, escultura, cerâmica, desenho, gravuras, mas também paisagismo e museologia. Em entrevista concedida a Walnice Nogueira Galvão para a revista Artes e Letras (março de 2000), ele diz: “E posso lhe dizer mais: hoje sou um ceramista porque sou um pintor. E não sei mesmo como alguém pode ser um ceramista se não for pintor ou escultor.” (p.147). Conforme o belo e importante texto de Alexei Bueno no livro O Universo de Francisco Brennand (2011), “Graças a Francisco Brennand, de fato, essa mais primeva entre as matérias, o barro, saiu, entre nós, da categoria do puramente utilitário ou do artesanal para alcançar o patamar da grande arte.” (p.22). Seu trabalho magistral reúne o seu talento nato àquelas aptidões complementares e ainda se somam a sua erudição e o seu humanismo, conferindo sentidos mitológicos, históricos e literários à totalidade de sua obra. Suas esculturas, cerâmicas e pinturas encarnam tradições nas referências que delas emanam, mas recriam significados em sua originalidade. Grécia antiga (O nascimento de Vênus, Lilith, Gnose, Halia…), cabala judaica (Árvore da vida), romantismo alemão (Caspar David Friedrich!), cultura nordestina (Gilberto Freyre, Ariano Suassuna e “a onça castanha” das “terras cor de vinho”…), pintura moderna (Balthus, Klimt, Schiele, Picasso, Miró, Cezánne…) são algumas das referências recriadas em ressurgências artísticas e intelectuais com a marca de Brennand. O artista não possui somente uma assinatura, mas uma marca mesmo: Francisco Brennand é também fábrica de arte e cultura do homo faber. Em telas costuma assinar por extenso, mas também assina F.B. de maneira estilizada e outras vezes carimba a sua marca com um símbolo de Oxossi, referenciando também a tradição afro-brasileira. São signos complementares, como as modalidades artísticas que (re)inventa: “(…) Até a minha assinatura caligráfica foi motivo de especulação e eu que pretendo reduzi-la a um mero F. e um B. desenhados como ornatos, para que não destroem do próprio grafismo das pinturas e, pelo contrário, se identifiquem com ele e até se percam dentro dele.” (trecho de seu diário O nome do livro, 5 de janeiro de 1960, apud. BUENO, 2011, p. 116). Em outra parte de seu diário, o artista ilumina o que dissemos acima: “Jamais esteve nas minhas divagações a possibilidade de criar uma forma nova. Uma forma nova só pode parecer nova à medida de sua paixão. Os olhos que a descobrem nova são igualmente apaixonados. Na verdade – em qualquer arte – a ideia de conceber uma forma inteiramente nova já é em si uma monstruosidade. Seria, em todos os sentidos, invisível aos olhos humanos, uma vez que desconhecida. Nós só ´vemos aquilo que conhecemos´. Trabalhei nesse projeto visionário durante vinte anos, sempre à procura de um mundo genésico, onde, com o decorrer do tempo, isso sim, consegui expressar uma mitologia pessoal. Acrescente-se a esse tempo mais cem anos e não seria ainda suficiente para terminar projeto tão atroz. O seu desgaste natural e os olhos arrebatados das novas gerações saberão como mantê-lo vivo, novo e cada vez mais antigo como o futuro.” (O nome do livro, 11 de setembro de 1992, apud. BUENO, 2011, p. 55).

Traços Brasileiros  

27/jul

 

A exposição “Traços Brasileiros – A cultura brasileira pela ótica de artistas plásticos”, que acontece de 09 de agosto a 06 de setembro no Centro Cultural Light, Centro, é uma coletiva de artistas plásticos oriundos do Atelier Oruniyá (Rio de Janeiro) e do Grupo Casa Amarela (Barra Mansa), além de artistas formandos da Escola de Belas Artes da UFRJ e UFRRJ. A curadoria e coordenação da exposição é do designer e pesquisador Guilherme Lopes Moura. A exposição retrata o Brasil em sua ampla diversidade de manifestações culturais, lendas, hábitos, brincadeiras, ícones artísticos, enfim, os traços que compõem o imaginário brasileiro ao longo de sua extensão geográfica. Os suportes serão os mais diversos: desde a pintura a óleo, gravura e aquarela até oficinas de cerâmica, crochê, mosaico, bordado livre, entre outras técnicas e suportes que, assim como a nossa cultura, só enriquecem o modo de ser – e de se expressar – do brasileiro. Bumba meu boi, Saci-Pererê, Iara, Capoeira, Jongo, Folia do Divino Espírito Santo, Cordel e Festas Juninas são apenas alguns dos temas que serão retratados nesta exposição durante o mês do folclore. Além disso, na abertura da exposição, o artista cearense Cabral da Cabaceira fará declamação de poesia matuta.

 

 

O mês de agosto e o folclore

 

O tão conhecido termo folclore vem do inglês folklore, que é a junção de povo (folk) e sabedoria (lore), significando “sabedoria do povo”. Este termo foi criado pelo arqueólogo inglês William John Thoms em 22 de agosto de 1846 e em pouco tempo passou a ser adotado pelos estudiosos da cultura popular ao redor do mundo. No Brasil, 22 de agosto foi oficializado como o dia do folclore (e por conseguinte o mês) em 1965 por meio de decreto federal. A Carta do Folclore Brasileiro, elaborada no I Congresso Brasileiro de Folclore, em 1951, define que “Constituem o fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular e pela imitação e que não sejam diretamente influenciadas pelos círculos eruditos e instituições que se dedicam ou à renovação e conservação do patrimônio científico e artístico humanos ou à fixação de uma orientação religiosa e filosófica.”

 

 

Sobre o Atelier Oruniyá

 

O Atelier Oruniyá reúne cinco artistas – Ana Moura, Gilliatt Moraes, Lucas Moura, Nelson Macedo e Renato Alvim – que têm como propósito comum o processo de produção da imagem, investigando a construção do sentido abstrato e poético da forma visual e, a exemplo de tantos artistas que nos precederam, entendem que não há outro caminho senão o comprometimento com o legado da tradição. Acompanham também André Bombonatti, Anna Lívia Mohanan, Ayla de Oliveira, Enji fundão, Juliana Mizrahi, Laura de Castro, Letícia Martins, Maria Artemis, Monike Silva, Paula Siebra e Vitor Hara, formandos das Escolas de Belas Artes da UFRJ  e UFRRJ, onde alguns artistas do Atelier Oruniyá lecionam.

 

 

Grupo Casa Amarela

 

Grupo de Artistas e Artesãos oriundos do Espaço Atelier Escola, que buscam uma identidade Nacional, regional e local para sua produção artística e que tem na Arte Nacional e na Cultura do Médio Paraíba sua fonte de inspiração e pesquisa. Tem como objetivo criar um núcleo de Arte no interior do Estado do Rio de janeiro, criar uma pedagogia para criação de grupos artísticos para alavancar a fruição e o comércio das Artes e artesanato, constituir espaços de propagação da arte e do artista local/regional, tornar sustentável espaços culturais que não tem apelo massivos. Formado pelos artistas Alexandre Brante, Andreia Lima, Cristiane Albernaz, Francis Marques, Izabel Meloto, Lélis Maria, Marcelo Campos, Messias Jr, Niki Campos, Paulo Valério, Thaisa Moura, Vera Lúcia Pereira e Viviane da Silva.

 

 

Sobre o curador e coordenador geral

 

Formado em Comunicação Visual – Design na UFRJ, fundador da Folha Verde Design, realizadora da exposição. É fotógrafo e pesquisador da cultura popular brasileira, autor do livro Folia de Reis na Serra Fluminense e idealizador da exposição “Folia de Reis: Mensageiros dos Reis Magos”, que aconteceu em janeiro de 2018 no Centro Cultural Light. Desde 2009 já desenvolveu identidade visual de mais de 100 projetos, entre mostras de cinema, peças de teatro e identidade corporativa.

Dois na Cavalo

23/jul

Na próxima quinta, dia 26 de julho, a Cavalo inaugura as individuais ‘Batom’ de Daniel Albuquerque e “Shaka Sign” de Camila Oliveira Fairclough. As exposições dos artistas cariocas se dividem e se atravessam nas salas da galeria localizada no bairro de Botafogo.

 

Daniel Albuquerque exibe obras tridimensionais que fazem parte de sua produção recente. Os trabalhos utilizam materiais tradicionais da escultura como cerâmica e gesso moldados pelo artista em formas como cigarros, chicletes mastigados e línguas contorcidas, além de obras realizadas em tricô. “Batom”, título homônimo de uma peça presente na exposição, é segundo Daniel um signo que concilia sua pesquisa em questões cromáticas e representação com seu interesse em gestos íntimos. Esses rituais cotidianos e hábitos de prazer se relacionam com diversas vezes com o tabagismo como no caso da obra ‘Retoque’ com a qual o expectador se depara ao entrar na galeria. Em tons carnais e com as dimensões aproximadas de uma banheira doméstica, a escultura remete a algo entre uma prótese bucal e um enorme cinzeiro.

 

Carioca radicada em Paris, Camila Oliveira Fairclough apresenta uma série inédita de pinturas acrílica sobre poliéster baseadas em obras célebres de artistas como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Willys de Castro. Camila reproduz composições geométricas e poesias do movimento Neoconcreto sobre as estampas de bermudas esticadas em chassi numa atitude de apropriação artística. “Shaka Sign” é a primeira individual de Camila Oliveira Fairclough no Brasil e faz referência ao gesto popularmente conhecido como hang loose, uma saudação havaiana incorporada pela cultura surfista. Na tradução e reinterpretação das obras em estampas praianas a artista parece refletir sobre a estereotipação da cultura de um país tropical. Acostumada desde criança a viver em diversos países, a artista possui uma investigação em pintura e instalações vibrantes que abordam linguagem e o emprego de composições já existentes. “Acredito que podemos ler imagens e formas. Eu não escolho entre os dois. É equivalente.” revela Fairclough.

 

‘Batom’ e ‘Shaka Sign’ é um encontro proposto pelos galeristas Ana Elisa Cohen e Felipe R Pena de dois artistas que desdobram a pintura e a tridimensionalidade em língua, tanto a corporal quanto a simbólica. São exposições que encontram nas práticas vistas como triviais uma forma de criar as camadas de um corpo que é, sobretudo, social.

 

 

Até 01 de setembro.

Rodrigo Torres na SIM SP

20/jul

 

A SIM galeria, Cerqueira César, São Paulo, SP, apresenta a série “Neolítico Express”.

 

Os trabalhos da série Neolítico Express, de Rodrigo Torres, estabelecem um diálogo curioso com a tradição: consagram, através de uma profanação minuciosa, a ambiguidade entre a obra intrínseca e extrínseca que marca nossa experiência com a arte contemporânea. No caso, a familiaridade com itens valiosos, num contexto decorativo ou museológico, é discutida em um processo de ruptura com o esperado ponto de vista reverente, aquele certo de encontrar ali algo de cujo núcleo emana uma verdade e beleza integral   , para ser problematizado quanto a um desenvolvimento particular da escultura no Brasil: o estremecimento das bases de uma autonomia, a partir da conclamação da cumplicidade diante de um estágio intermediário em que nada deveria ser visto como autêntico ou acabado de antemão.

 

Podemos pensar de início nosBólidesde Oiticica, no fato de que levam, desde o início da década de 1960, a uma relação renovada do público com o objeto, de outra forma, do participador com uma obra, que é simultaneamente um dispositivo sensorial e conceitual a ser acionado em um segundo estágio de aproximação. Ele participa no sentido de adensar a experiência ótica com uma camada de injunções às vezes precárias que culminam em significativas reconsiderações. E, principalmente, imagina que não há um único vetor construtivo que faz o artista produzir um objeto em uma totalidade que se mostra irredutível, mas um processo com idas e vindas que equaliza a posição de todos em um patamar. Nele o criador se constitui por um espelhamento instantâneo em uma criatura que reivindica seu lugar também como sujeito incompleto.

 

Mais recentemente, os Phanógrafos de projeção e deposição(2010), de Tunga, também se estruturaram a partir de um recipiente, vasos de cristal Baccarat, contidos por caixas articuladas que encerram sua gênese e seu funcionamento implícito. A origem desse fenômeno tange a compreensão de um princípio criativo que se afiança no onírico, superando embates voltados para a subtração de material, substituindo-os por encontros mágicos com o que está ali dado, como se aproveitasse o vácuo deixado pelo fato do ready-made ser, antes de mais nada, uma peça de cerâmica que surgiu no mundo da arte inadvertidamente. Nos Phanógrafos, a equação experimental se apresenta a partir do ficcional, estruturas que sempre comportam um segundo núcleo que irradia cor e materialidade furtiva, pois o objeto central também não se mostra integralmente, e sua cota obscura se preenche pela ansiedade de se conjugar delicadeza e brutalidade.

 

As ânforas de Rodrigo não contêm, não são recipiente, mas o conteúdo parcialmente embalado por um invólucro que se distanciaria no tempo do artefato encontrado pelo arqueólogo. Ali, a máxima minimalista em torno de um cubo anódino, de que “você vê o que você vê”, abre-se em um ciclo de perguntas e respostas bem menos tautológicas: não vemos tudo, e as partes nunca se equivalem, depondo o equilíbrio formal, calçando-o na gravidade, no equilíbrio real de um vaso sobre um balde, dentro de uma caixa ou sobre a mesa.

 

Produzidas e finalizadas em seu estúdio na Fábrica Bhering, no Rio de Janeiro, lugar onde doces eram industrializados, longe de seus ancestrais chineses e gregos, as ânforas demonstram não apenas quebrar a redoma que instaura a obra em uma temporalidade especial que se destaca da cotidiana, mas também eternizar o momento em que esses dois tempos se encontram, quando desembalamos ou embalamos algo, quando encontramos algo que vem, através de uma lição de Joseph Beuys, reforçar potencialidades metafísicas da matéria – títulos desmentidos por legendas induzem a uma manipulação virtual que ocorre, então, junto à observação atenta das propriedades de uma objectualidade que se instaura no provisório.

 

A argila primordial que amalgama o isopor, o papelão, a fita adesiva, resquícios de líquidos já vertidos ou a se verter, incorpora o mimetismo que engloba a pintura, que de fato reveste as peças  e o que parece ser o papelão areado esculpido escrupulosamente para que pareça ser aquilo em definitivo. Como se estivesse mesmo em trânsito, inviolada por alguém, acondicionada anonimamente por outro, cada uma delas se mostra em um pedestal neutro, na galeria, que sustenta outro suporte: a escultura como plataforma para o pensamento a respeito da preciosidade de sua incongruência e seu fascínio atual.

Rafael Vogt Maia Rosa

 

 

 

De 28 de julho até 25 de agosto.

Denise Torbes no CC Correios

06/jun

A exposição “Denize Torbes  – Cerne”, ocupa duas grandes salas do Centro Culltural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com obras recentes e inédita. A artista esteve por quase 10 anos sem fazer uma exibição indiviual no Rio de Janeiro

 

A exposição, traz pinturas, desenhos, objetos em cerâmica e uma instalação, que traçam um contraponto entre o ser humano moderno e o inserido em sua cultura milenar. Os trabalhos tratam da temática da cultura indígena e das queimadas, em trabalhos que se relacionam entre si.

 

O nome da exposição, “Cerne”, vem da parte do tronco que continua intacta após uma queimada. “O cerne na natureza é a parte da madeira queimada que não se destrói e a referência nesta série é o ressurgimento, em vestígios, de elementos próprios da cultura de povos antigos assim como a premência de regeneração, como um esforço de suportar as decorrências destrutivas da ação humana”, afirma a artista, que pesquisa a cultura indígena desde 1987, e cuja avó pertencia à tribo Guarani, localizada até hoje na fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai.

 

No teto da primeira sala, a instalação “Tatuagem”, composta por uma imagem em espiral, símbolo da chuva para a tribo Guarani, pendurados, pedaços de carvão em formatos verticais, com inscrições em vermelho, comuns nas pinturas corporais de índios brasileiros. “Os desenhos constituem uma revelação daquilo que sobreviveu ao fogo. As inscrições, minuciosamente elaboradas com linhas vermelhas sobre o preto intenso do carvão, são como “vestígios de labaredas” que embora tenham alcançado o mais alto nível de destruição, são um apanágio àresistência”, conta a artista.

 

Divididas nesta sala e na seguinte, cerca de dez pinturas, em têmpera e óleo sobre tela, produzidas entre 2010 e 2018, com tamanhos que chegam a 2 m x 1,80 m. Todas elas possuem elementos da iconografia indígena.

 

Duas séries de desenhos inéditos, “Queimada” e “Queimada-cerne”, também estarão divididos por duas salas da exposição. Apesar de alguns terem elementos iconográficos, o foco desses trabalhos são as queimadas. Os trabalhos são feitos em têmpera, que a artista mesma produz, sobre papel. Eles são realizados sem um estudo prévio. “Existe um inicio de ideia, mas que se transforma durante o processo. Os desenhos possuem várias camadas de aguada que vão se modificando. Tem a parte da técnica, mas também o acaso”, conta.

 

Na série “Queimada”, as pinturas sobre papel têm como principais elementos corações, pés e pulmões. “Estes três elementos demonstram o caráter danoso de uma queimada e são, sobretudo, o resultado antagônicoao significado de cerne, que representa o renascimento, o ressurgimento. Simbolizam, portanto, a finitude absoluta, tudo o que se perdeu, que foi consumido pelas chamas, não somente físico, mas incorpóreo e emotivo”, explica a artista. Já na série “Queimada-cerne” as pinturas sobre papel e sobre tela possuem composições formais que fazem uma conexão com as imagens das queimadas, mas com a introdução de formas que remetem aos objetos e pinturas das culturas indígenas.

 

Ao se dirigir para a segunda sala, o visitante verá, na parede da antesala, que a artista chamou de “Cofre”, um conjunto com 100 peças em cerâmica, pintados de dourado, produzidas em 2017 e 2018, intitulado “100 onças”. Nelas, há a reprodução de um padrão de desenho que os índios Assurini criaram especialmente para pintura corporal. Os motivos (desenhos) e seus significados foram extraídos de uma tabela organizada pelo índio assurini Puraké, em 1984. Cada plaqueta contém, além do desenho, duas inscrições, o significado em guarani e a versão para o português. As placas serão colocadas lado a lado, formando uma linha contínua. “Elas são douradas para lembrarem o ouro, algo valioso. Além disso, a onça é a medida do peso do ouro, por isso elas têm esse nome”, diz a artista, que chamou o espaço de “cofre”, por abrigar “barras de ouro” indígenas.

 

Na segunda sala, desenhos e também um conjunto de dez cerâmicas, da série “Línguas”. Em cada uma delas, há um grafismo e uma frase, que são “sabedorias” dos índios brasileiros Pataxó, Yanomami e Kaiapó e estrangeiros, Sioux do Canadá e os norte-americanos Mohawk, Dakota e Ute.“O título possui dois significados: a língua usada para comunicar os aprendizados das nações indígenas e o aspecto formal/estético das peças”, explica a artista.

 

Tanto nas referências indígenas quanto nas obras sobre as queimadas, o que interessa à artista é a parte visual. “O que me encanta é a imagem, a parte gráfica. O meu trabalho acaba fortalecendo o registro dessas nações, mas a intenção é a potência gráfica”, ressalta Denize Torbes.

 

 

Sobre a artista

 

Denize Torbes nasceu no Rio de Janeiro, em 1959. É artista plástica, bacharel em Pintura pela Escola de Belas Artes da UFRJ.

 

Dentre suas exposições individuais destacam-se: “Kosmofonia – 3 sentidos – Verlerouvir” (2009), no Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio de Janeiro; “Denize TORBES – LdeO&Co Mobilier et Ecodesign Brésiliens” (2008), em Paris, França;  “Das Origens” (2006), na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro; “Ícones Tribais – pinturas, cerâmicas e jóias” (2005), com  itinerância pela Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro, e pelo Musée de la Halle Saint Pierre e pela Galerie Panamá, ambos em Paris, França, a mostra no Centro Cultural Banco do Brasil (1994), no Rio de Janeiro, entre outras. Dentre suas exposições coletivas estão: “Salve São Jorge 23” – 9ª edição, no Porto das Artes – Fábrica de Espetáculos, RJ, “Acervo Contemporâneo”, na Galeria Arte UFF, RJ, “Cubo além do cubo – DEZ”, em 2017; “Zona Oculta – 10 anos” (2015), ambas no Centro de Artes Calouste Gulbenkian, RJ; “1ª Bienal Sul-americana de Gravura e Arte Impressa Rio-Córdoba” (2014), no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, e no Museu Emilio Caraffa, em Córdoba, Argentina; “Papel ao cubo” (2013), no Museu D. Diogo de Souza, Museu de Arqueologia, em Braga, Portugal, entre outras.Ao longo de sua trajetória, recebeu diversos prêmios, como: Prêmio CIER – Comissăo de Integraçăo Energética Regional (2004); Seleçăo Pręmio UNESCO – Jovem Arte Brasileira – Pinacoteca do Estado de Săo Paulo (1993); Projeto Beca Ciudad de Mexico (1991); Prêmio aquisição – Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco (1987); Salão de Artes Plásticas da Escola de Belas Artes da UFRJ (1984), entre outros. Possui obras em importantes acervos no Brasil e no exterior, como Companhia Vale do Rio Doce, Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, Museu de Arte Moderna de Santa Catarina, Acervo Contemporâneo da Universidade Federal Fluminense, Galeria Lopez Velarde, México, Museu Nacional de Belas Artes, Society Printmakers of California, Galeria Cândido Mendes-RJ, SESC-RJ, Centro Cultural dos Correios-RJ, Josef-Krainer-Haus, Graz, Áustria, e Museu de Arte do Espírito Santo.

 

 

 

Até 18 de julho.

Desver a Arte

14/maio

A palavra de ordem é diversificar. É com este espírito que a Emmathomas Galeria, Jardins, São Paulo, SP, exibe “Desver a Arte”.  Sob a gestão do artista, colecionador e empresário Marcos Amaro e direção artística do curador Ricardo Resende, a galeria voltou ao mercado de arte com uma proposta mais ousada e inovadora, rompendo amarras e apresentando ao público um corpo de artistas diverso.

 

A exposição “Desver a Arte” marca essa reabertura da Emma, com os 16 artistas representados: ao lado do já consolidado pintor e escultor Gilberto Salvador, por exemplo, Mundano, um dos grafiteiros mais atuantes da cidade de São Paulo. Às delicadas esculturas e cerâmicas da japonesa Kimi Nii, somam-se os objetos imbuídos de narrativa surrealista do paulistano Hugo Curti. Os ambientes e as pinturas realistas em três dimensões de Alan Fontes, contrapõe-se às telas de atmosfera fantástica de Sani Guerra.

 

“De gerações diferentes, de diversas linhagens, vertentes e suportes, são artistas com interesses também incomuns. A galeria ousa mostrar essas diferenças experimentais plásticas e poéticas de cada um dessa família artística, características que se faz visível na diversidade do que é visto na arte contemporânea”, afirma o curador Ricardo Resende.

 

Além dos artistas já citados, comparecem Alex Flemming, Armando Prado, Carl Emanuel Wolff, Carlos Mélo, Francisco Klinger Carvalho, Isabelle Borges, Jens Hausmann, Katia Salvany, Marcia Grostein e Paula Klien.

 

 

Última semana, até 19 de maio.

A Cara do Rio 2018 

23/fev

Tudo começou em 2003, quando 25 artistas se reuniram pela primeira vez na mostra “A Cara do Rio”, na galeria Matias Marcier. Agora, em sua 11ª edição, o curador Marcelo Frazão registra a passagem de 323 artistas pela exibição coletiva, com 743 trabalhos realizados ao longo dos anos para o evento. Revelando talentos e dando sequência a trajetórias, depois de quatro verões, a mostra “A Cara do Rio” está de volta ao Centro Cultural dos Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

 

A Cara do Rio 2018 vai reunir algumas das varias tribos plásticas espalhadas pela cidade, dialogando com o público e apresentando diversas possibilidades técnicas e estéticas através das obras de 90 artistas dentre eles, Paulo Villela,  Denise Araripe, Edineusa Bezerril, Luiz Behring, Marina Vergara, Umberto França, Solange Palatinik, Newton Lesme,  Clare Caulfield, Diana Doctorovich, Fabio Borges, e a jovem Clara Miller (16 anos), além do próprio curador.

 

Neste ambiente plástico de ampla liberdade, o público vai poder apreciar pinturas, fotografias, esculturas monumentais, instalações, cerâmicas, incluindo a ocupação da área externa, entre o prédio do Centro Culural dos Correios e o da Casa França Brasil, com uma obra da escultora Marina Vergara.

 

Os 90 trabalhos apresentados traduzem no seu cerne a visão metalinguística de uma cidade observada através de si própria, contendo abordagens multifacetadas, onde os artistas convidados expressam críticas, declarações, denúncias, ou o descaso. Com um olhar esperançoso, o curador da mostra, – também gravador e professor -, Marcelo Frazão, comenta alguns dos objetivos da exposição: “tentar resgatar a autoestima do carioca, que há anos vem se desgastando, lembrando que o Rio de Janeiro reflete a aura do pais”.

                   

 

De 28 de fevereiro a 22 de abril.