Um gesto de desejo e pertencimento.

10/abr

No meu jardim tudo se mistura

A Ocre Galeria, bairro São Geraldo, 4° Distrito, Porto Alegre, RS, apresenta a exposição individual “no meu jardim tudo se mistura”, de Téti Waldraff (Sinimbu, RS, 1959), com curadoria de Paula Ramos. A mostra revela o profundo vínculo da artista com a Natureza, que se manifesta em sua prática de desenhar, pintar e criar a partir das formas orgânicas e dos ciclos de vida observados em seus jardins.

Para Téti Waldraff, o ato de desenhar e pintar é também um gesto de desejo e pertencimento. É no cotidiano entre Porto Alegre e Faria Lemos, cercada por árvores, arbustos e flores, que ela encontra matéria e inspiração. O jardim é espaço de cultivo e de criação, um território onde o natural e o artístico se fundem. Ali, o ato de observar o desabrochar das flores se transforma em linhas, cores e formas. Seu ateliê é móvel, adaptável: um banco, um bloco de notas, papéis soltos. Em cada gesto, emerge o desejo de registrar o instante e a matéria viva que o compõe.

A exposição expande essa experiência sensível, ao mesmo tempo em que desdobra pesquisas formais e conceituais realizadas em projetos anteriores, a exemplo da série “Nos rastros do Jardim de Giz”. Produzidos durante o período de isolamento social, imposto pela Pandemia, os desenhos da série surgiram a partir do painel produzido por pela artista junto ao Centro Cultural da UFRGS, em março de 2019.

No dia 12 de abril, às 11h, a Ocre Galeria promove uma conversa com Téti Waldraff e mediação da curadora Paula Ramos, crítica, historiadora de arte e professora do Instituto de Artes da UFRGS. O evento é uma oportunidade para o público conhecer mais sobre o processo criativo da artista e os caminhos que levaram à construção da exposição. A entrada é franca e o espaço tem acessibilidade.

Até  03 de maio.

Coletiva A Coisa dRag.

01/abr

Reunindo artistas emergentes e consolidados no circuito de arte brasileira, a mostra apresenta obras relacionadas ao fenômeno drag e seus elementos de transgressão. No dia 04 de abril, no Centro Cultural da UFMG, inaugura-se a exposição coletiva a Coisa dRag, Belo Horizonte, MG, reunindo produções de 34 artistas brasileires, sob curadoria de Sandro Ka e assistência curatorial de Elis Rockenbach.

A mostra é resultado de um amplo mapeamento realizado em 2024, integrado à pesquisa A dragficação como fenômeno cultural e problemática na produção artística contemporânea (PRPq/UFMG), desenvolvida na Escola de Belas Artes da UFMG. A partir desse levantamento, o conjunto exposto revela um recorte da produção de artistas atuantes em diversas partes do país.

Participam da exposição: Adriano Basilio, Amorim, André Venzon, Augusto Fonseca, Avilmar Maia, Caio Mateus, Camila Moreira, Carambola, Carolina Sanz, Cassandra Calabouço, Cavi Brandão, Cynthia Loeb, Dods Martinelli, Efe Godoy, Lili Bertas, Elis Rockenbach, Sarita Themônia, Glau Glau, Hugo Houayek, Ítalo Carajá, Karine Mageste, Lai Borges, Lia Menna Barreto, Lorenzo Muratorio, Maria Carolina, Rafa Bqueer, Renato Morcatti, Rodrigo Mogiz, Sandro Ka, Tatiana Blass, Téti Waldraff, Thix, Tolentino Ferraz e Victor Borém.

Até 16 de maio.

Pequenas fábulas visuais de Liliana Porter.

27/mar

A exposição “Otros cuentos inconclusos”, da artista argentina Liliana Porter, apresenta mais de 30 obras, compondo um panorama da sua produção dos últimos cinco anos. Radicada em Nova York desde 1964, a artista soma mais de 60 anos de carreira, período em que desenvolveu uma sólida e significativa pesquisa em torno da representação da condição humana. Essa é a quinta exposição da artista – até 07 de junho – na Luciana Brito Galeria, São Paulo, SP, que também promoveu sua primeira mostra individual no Brasil, em 2001.

“Otros cuentos inconclusos” empresta o seu título da sua mais recente obra em audiovisual, “Cuentos inconclusos” (2022), concebida em parceria com a artista Ana Tiscornia. Como o título sugere, o vídeo nos coloca diante de pequenas narrativas, cujos desfechos podem ser atribuídos de acordo com a nossa própria imaginação. Para tanto, o vídeo é apresentado em cinco partes, por meio de narrativas construídas com a combinação de frases extraídas da obra de literatura infantil “Simbad, o Marujo” e cenas animadas das instalações da artista. A trilha sonora, assinada por Sylvia Meyer, representa papel importante, ajudando não apenas na ambientação das cenas, como também dando vida aos personagens inanimados.

A produção de Liliana Porter nos coloca diante de pequenas fábulas visuais, ou crônicas atemporais da nossa própria condição de ser humano. Uma de suas grandes habilidades recai no poder de síntese das suas representações, que paradoxalmente (ou ironicamente) acontece a partir do colecionismo. Bibelôs, brinquedos, ornamentos e outros pequenos objetos garimpados ganham vida pelas mãos da artista. Eles permanecem armazenados até serem “licenciados” pela sua poética, por vezes ácida, por vezes bem humorada. O poder da simples combinação desses elementos, muitas vezes acrescidos de pinturas e desenhos, pautam questões profundas e inerentes da sociedade contemporânea, como é o caso da obra “The Anarchist (Woman in Red)” (2022), onde uma pequena figura executa a grande tarefa de desenrolar um novelo de lã inteiro para criar obstáculos àqueles que quiserem adentrar o ambiente. Ou em “The Way Out (with red car)” (2022), em que uma grande barreira não é páreo para um simples carro vermelho. A artista também apresenta um conjunto de 20 pequenas assemblages sobre papel e outras dez micro-instalações, onde objetos minúsculos ganham um grande poder narrativo, por meio de metáforas que tratam do tempo e da memória presente nos nossos repertórios mais íntimos.

Celebrações em torno de Pedro Moraleida.

Organizada pela curadora e crítica de arte Lisette Lagnado, a mostra que homenageia Pedro Moraleida Bernardes ocupará dois endereços – até 21 de junho – da nova Almeida & Dale, São Paulo, SP, como parte das celebrações pelos 25 anos da morte do artista mineiro, que partiu precocemente aos 22 anos de idade. Intitulada Nossa Senhora do Desejo, a exposição propõe diálogos entre sua obra, artistas que o influenciaram e uma nova geração que compartilha de sua inquietação e irreverência.

A produção intensa de Pedro Moraleida, marcada pela desobediência, escatologia e crítica social, segue sendo revisitada e reinterpretada ao longo do tempo. Graças ao empenho de seus pais, Luiz Bernardes e Nilcéa Moraleida, junto a professores e artistas, seu acervo sempre esteve acessível a pesquisadores, estimulando novos estudos sobre a obra. Desde setembro de 2024, a Academia Mineira de Letras (AML), em parceria com o Instituto Pedro Moraleida Bernardes (iPMB), o Viaduto das Artes e o Grupo Oficina Multimedia, tem promovido seminários e exposições em Belo Horizonte, ampliando a reflexão sobre o seu legado. Em 2019, o Instituto Tomie Ohtake realizou a primeira retrospectiva do artista fora de sua cidade natal, com curadoria de Paulo Miyada.

Embora frequentemente associada, de maneira simplista, ao neoexpressionismo alemão, a prolífica obra do artista – que abrange desenhos, pinturas, textos e experimentos sonoros – vai muito além dessa influência. Pedro Moraleida teve acolhida entusiasmada por parte de curadores brasileiros e estrangeiros, e, segundo Lisette Lagnado, “ainda há muito a ser explorado sobre as fontes que o inspiraram”.

Nossa Senhora do Desejo mergulha em temas recorrentes em sua produção, como capitalismo, patriarcado, saúde mental, guerra planetária, direito à vida e vida artificial. Dentre os vários nexos iluminados pela mostra, destaca-se aquele que o aproxima do poeta francês Antonin Artaud: a opção por “uma existência que se recusa a anestesiar as emoções”. Como sintetiza a curadora, “…ambos examinam uma sociedade abusiva e tóxica, vociferando contra o pecado católico e a perversão acumulativa da burguesia”.

Num movimento tentacular, outros elos vão se desenhando, como a sintonia entre sua força insubmissa e a arte de Jaider Esbell e Arthur Bispo do Rosario (em registros flagrados pela lente do mestre da cor Walter Firmo), que brota da violência institucional e a transmuta poeticamente em “energia de combate”. O caráter iconoclasta e a mordacidade política conectam a produção de Pedro Moraleida à de Leon Ferrari, figura fundamental do conceitualismo latino-americano, presente na exposição com a série “Releituras da Bíblia”. Figuras como Jean-Michel Basquiat e José Leonilson, usualmente lembradas como influências para Pedro Moraleida, também fazem parte dessa constelação de referências evidenciadas pela exposição. Além dessas relações de caráter mais histórico, há na seleção proposta por Lisette Lagnado a presença importante de duas artistas que conheceram Pedro Moraleida, a mineira Cinthia Marcelle e a hispano-brasileira Sara Ramo – da mesma geração surgida no final do século passado, elas prestaram uma assessoria especial no processo de pesquisa e concepção da mostra. O conjunto inclui ainda produções recentes que ecoam a mesma inquietude, como as da paulistana Lia D Castro e do suíço-carioca Guerreiro Do Divino Amor, cuja instalação “Civilizações Super Superiores” foi originalmente apresentada no Pavilhão da Suíça da 60ª edição da Bienal de Veneza.

A expografia dos dois espaços é assinada pelo arquiteto e urbanista Tiago Guimarães, formado pela Universidade Federal do Ceará e atuante em São Paulo desde 2005. Além dos nomes já citados, completam a mostra obras de Castiel Vitorino Brasileiro, desali, Flávio de Carvalho, ⁠ Francisco de Almeida, Lia D Castro, ⁠Linga Acácio, Trojany, ⁠Marta Neves, Regina Parra – artista que apresenta uma performance na abertura da exposição – e ⁠Thiago Martins de Melo. O poeta floresta participa da publicação que será lançada durante a exposição com uma seleção de sete poemas extraídos de seu livro rio pequeno (ed. Fósforo, 2022).

Artistas participantes.

Antonin Artaud, Castiel Vitorino Brasileiro, Cinthia Marcelle, desali, Flávio de Carvalho, floresta, Francisco de Almeida, Guerreiro do Divino Amor, Jaider Esbell, Jean-Michel Basquiat, José Leonilson, León Ferrari, Lia D Castro, Linga Acácio e Trojany, Marta Neves, Pedro Moraleida, Regina Parra, Sara Ramo, Thiago Martins de Melo, Walter Firmo.

Classificação indicativa: mão recomendado para menores de 18 anos. Esta exposição contém imagens com teor sexual, sexo explícito e nudez. Acesso mediante a presença do responsável ou acompanhante com autorização por escrito.

Bel Barcellos no Museu da República.

12/mar

Linha e agulha são suas ferramentas, tendo a costura e o bordado como linguagem essencial de suas referências femininas e dos seus saberes ancestrais, para criar trabalhos impregnados de delicadeza e memórias, que contam histórias viscerais.

Corpo abrigo é a individual que a artista brasileira Bel Barcellos (Boston, 1966) inaugura no dia15 de março na Galeria do Lago, no Museu da República, Rio de Janeiro, sob curadoria de Isabel Sanson Portella. A mostra marca 30 anos de atividades da artista nas artes visuais e é oferecida pela Equinor, multinacional de energia com atuação no Brasil há mais de 20 anos. Bel Barcellos define como “autoficcional” o conjunto de dez trabalhos inéditos desta exposição, nos quais desenha com bordado sobre lona ou linho, tendo a figura humana feminina como ponto focal e o universo emocional como trama subjetiva e, pela primeira vez, ela incorpora a cerâmica à sua produção. Os fazeres manuais do desenho, do bordado e da cerâmica convergem no universo criativo de Bel Barcellos, unindo a contemporaneidade a saberes herdados das avós, para revolver memórias afetivas comuns a todos. A costura sempre esteve presente em sua vida pessoal e no trabalho com figurinos, mas desde o contato com a obra de Arthur Bispo do Rosário, o bordado ganhou mais relevância no processo criativo de Bel Barcellos, embora a artista já bordasse símbolos e escritos em meio a suas pinturas anteriormente. A partir dos anos 2000, o bordado prevalece como elemento compositor da obra como um todo.

A costura sempre esteve presente em sua vida pessoal e no trabalho com figurinos, mas desde o contato com a obra de Arthur Bispo do Rosário, o bordado ganhou mais relevância no processo criativo de Bel Barcellos, embora a artista já bordasse símbolos e escritos em meio a suas pinturas anteriormente. A partir dos anos 2000, o bordado prevalece como elemento compositor da obra como um todo. A nova pesquisa da artista é a cerâmica, que aparece em Corpo abrigo em instalações, com a marca da figuração feminina, ora como suporte para seus bordados, ora levando este material à superfície da tela ou pintando a lona com o barro e o pó da terra.

A curadora Isabel Portella diz em seu texto de apresentação: “As obras de Bel Barcellos dizem muito mais do que se possa imaginar. Chegam carregadas do aprendizado e da energia de várias gerações de mulheres e formam um solo fértil de onde brotam as sementes compartilhadas. Elevam, ao surpreendente, o trabalho com as mãos, a delicadeza do bordado e da cerâmica. Pedem silêncio para que se possa mergulhar nesse rio e sabedoria para aceitar a inevitável passagem do tempo. Precisam de entendimento e desvelo para que se perceba que, por dentro, somos todos absolutamente iguais.”

 

Os 4 de Bagé em Brasília.

11/mar

A Caixa Cultural Brasília e a Fundação Iberê Camargo apresentam o legado do Grupo de Bagé. Mostra com mais de 180 obras de Carlos Scliar, Danúbio Gonçalves, Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti, abre no dia 18 de março e permanecerá em cartaz até 29 de junho.

Uma trincheira em defesa da liberdade na arte e na vida, cavada com as armas da inteligência e do bom humor na região sul do Rio Grande do Sul e conectada com os principais polos culturais do país. É o que caracteriza o legado de Pedro Wayne (1904-1951), escritor, poeta e jornalista e agitador cultural com enorme capacidade de articulação, inclusive nacional. Baiano que passou a infância em Pelotas, na metade sul do Rio Grande do Sul, chegou em Bagé em 1927, e lá exerceu uma extensa gama de atividades. Carlos Scliar (1920-2001), que tinha parentes morando em Bagé e ideias semelhantes às de Pedro Wayne, frequentava sua casa e o tinha como bom amigo.

Foi em torno deste importante personagem da cultura local que, na metade da década de 1940, Glauco Rodrigues (1929-2004) e Glênio Bianchetti (1928-2014), com 16 e 17 anos respectivamente, começaram a desenhar e a pintar. Pedro Wayne “adotou os guris” e mostrou a eles o que havia de mais avançado nas artes visuais na Europa. Mais tarde, o escritor introduziu Danúbio Gonçalves (1925-2019) ao “ateliê”, que trouxe para o Grupo, a partir de sua experiência na França. Já a influência da pintura moderna veio com a passagem do artista carioca José Moraes, que ficou um período na cidade quando ganhou uma bolsa de viagem de estudos.

Carlos Scliar, quando voltou de sua estada na Europa e participação na II Guerra Mundial, se interessou pelo movimento daqueles jovens e passou a frequentar, e praticamente liderar as atividades do Grupo interessados em realizar uma crítica social, levando-os a se envolver, na década de 1950, na criação do Clube de Gravura de Porto Alegre (1950) e do Clube de Gravura de Bagé (1951).

Inspirados no movimento do Taller de Gráfica Popular do México, os Clubes (que posteriormente foram unidos) criaram um importante e independente sistema de divulgação dos artistas regionais. Contar essa história é o objetivo principal da exposição. A versatilidade e a rica produção dos quatro artistas serão exibidas através de gravuras, pinturas, aquarelas e capas de revistas, a partir de novas leituras e percepções acerca do trabalho do Grupo. Com curadoria de Carolina Grippa e Caroline Hädrich, a exposição reúne mais de 180 itens como obras, ilustrações dos clubes de gravura de Bagé e de Porto Alegre, além de exemplares raros das revistas Horizonte, Senhor.

Sobre os artistas.

Carlos Scliar (1920-2001) – Nasceu em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul, e foi ainda pequeno para Porto Alegre, onde, com 11 anos, colaborou com as seções infanto-juvenis de jornais locais e, mais tarde, frequentou o departamento gráfico da Revista do Globo. Em 1940, foi para São Paulo e começou a fazer parte da Família Artística Paulista, mas após quatro anos foi para a Itália a serviço da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial, entre 1958 e 1961, trabalhou como diretor artístico na Revista Senhor. Comprou, em 1964, um sobrando em Cabo Frio, RJ, onde morou e trabalhou por quarenta anos. No ano de seu falecimento, foi criado o Instituto Cultural Carlos Scliar, na cidade de Cabo Frio, e seu acervo se encontra atualmente tombado pela municipalidade.

Danúbio Gonçalves (1925-2019) – Nasceu em Bagé, fazendo parte de uma tradicional família de estancieiros da campanha. Aos sete anos, partiu para o Rio de Janeiro onde mais tarde teve aulas no ateliê de Cândido Portinari, manteve contato com outros pintores modernistas e participou de diversas edições do Salão Nacional de Belas Artes, recebendo prêmios e menções honrosas. Em 1950, foi estudar em Paris. Com um espírito imbuído dos ideais revolucionários e uma ligação com o Partido Comunista, Danúbio Gonçalves voltou ao Brasil e se juntou a Carlos Scliar, Glênio Bianchetti e Glauco Rodrigues, formando o Clube de Gravura de Porto Alegre e, posteriormente, o de Bagé. A partir de 1962, a convite do escultor Francisco Stockinger, passou a trabalhar no Ateliê Livre da Prefeitura de Porto Alegre, chegando a ser diretor. Lá, durante trinta anos ensinou litografia (técnica que aprendeu com Marcelo Grassmann, em 1962) e formou muitos artistas gravadores, atualmente reconhecidos no âmbito regional e nacional.

Glaudo Rodrigues (1929-2004) – Nasceu em Bagé e foi colega de escola de Glênio Bianchetti, com quem dividiu o interesse pela pintura. Recebeu ensinamentos sobre pintura de José Moraes e aproximou-se da gravura e, junto com Glênio, Danúbio e Scliar fundou, em 1951, o Clube de Gravura de Bagé e iniciaram suas viagens de estudos a estâncias da região. Com a união do Clube de Bagé ao de Porto Alegre, Glauco mudou-se para a capital gaúcha e, depois, em 1958, seguiu para o Rio de Janeiro.  Glauco Rodrigues participou da primeira Bienal de São Paulo, entrou na equipe da revista Senhor e começou a sua produção abstrata, que perdurou por 10 anos. Em 1962, viajou a Roma a convite do embaixador Hugo Gouthier para trabalhar no setor gráfico da embaixada brasileira, e ficou alguns anos na Itália. Nesse período, participou da delegação brasileira na Bienal de Veneza (1964), no mesmo ano em que os estadunidenses chamaram atenção pela sua produção pop. Retornou ao Brasil em 1966 e, aos poucos, a figuração voltou à sua obra, que seguiu até a sua morte.

Glênio Bianchetti (1928-2014) – Nasceu em Bagé, oriundo de uma família ligada ao comércio na cidade. Foi a mãe de sua namorada, Ailema (com quem posteriormente casou-se), que passou ensinamentos iniciais de pintura para ele e Glauco Rodrigues, que depois foram aperfeiçoados com a chegada de José Moraes a Bagé. Interessado pela pintura, ingressou no Instituto de Belas Artes em Porto Alegre no ano seguinte – mas não chegou a finalizar o curso.   Fundou, em 1951, ao lado de Glauco Rodrigues, Danúbio Gonçalves e Carlos Scliar, o Clube de Gravura de Bagé, tendo Bianchetti a maior produção de gravuras da época. Na década de 1960, mudou-se com sua família para Brasília (cidade onde viveu o resto de sua vida), devido ao convite de Darcy Ribeiro para lecionar na recém-inaugurada Universidade de Brasília, mas sendo afastado devido à perseguição na ditadura militar, sendo reintegrado apenas em 1988. Atualmente, sua casa-ateliê, com seu grande acervo, é mantida por sua família.

Arte Brasileira Subdesenvolvida.

20/fev

Até o dia 05 de maio, o CCBB Rio recebe a exposição “Arte Subdesenvolvida”, que propõe uma reflexão sobre a produção artística brasileira entre meados da década de 1930 e início de 1980, a partir de seu embate com a ideia de subdesenvolvimento, que seria tanto uma condição para aqueles que viviam no Brasil como algo a ser superado a partir de suas contradições.

A mostra tem como eixo a problematização da ideia de subdesenvolvimento. Sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, países econômica e socialmente vulneráveis passaram a ser denominados “subdesenvolvidos”. No Brasil, artistas e intelectuais reagiram a esse conceito. Parte do que produziram nessa época está presente na exposição. O conceito durou cinco décadas até ser substituído por outros, entre os quais países emergentes ou em desenvolvimento.

Articulando trabalhos de mais de 20 artistas, incluindo documentos históricos, fotografias e escritos, a mostra incorpora manifestações também nos campos da literatura, cinema, teatro e da educação, com obras que adensam a pluralidade artística brasileira, tensionando a relação entre a arte vibrante presente nas paredes e a escassez de recursos e de urbanidade, dos litorais ao interior.

“Arte Subdesenvolvida” tem curadoria de Moacir dos Anjos e conta com trabalhos de artistas como Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Cildo Meireles, Daniel Santiago, Hélio Oiticica, Carolina Maria de Jesus, Elza Soares, Ferreira Gullar, José Claudio, Graciliano Ramos, Henfil, Luís Sacilotto, Obaluayê, Paulo Bruscky, Paulo Freire, Rachel de Queiroz, Glauber Rocha, Solano Trindade, Randolpho Lamounier, dentre outros.

Interações e tensões plásticas.

04/fev

 

A Nara Roesler São Paulo convida para abertura, em 06 de fevereiro, da exposição “A Cor entre Linhas”, que investiga a relação dinâmica entre cor e linha, suas mútuas interações e tensões plásticas, presentes nas obras de grandes artistas, de diferentes linguagens: Abraham Palatnik, Amelia Toledo, Antonio Dias, Artur Lescher, Carlito Carvalhosa, Fabio Miguez, Jose Dávila, Milton Machado, Mira Schendel, Sérgio Sister, Tomie Ohtake.

A mostra tem como ponto de partida a instalação inédita “Entrelinhas”, em latão e linhas de multifilamento, medindo 5 metros de altura, por 5,90 metros de largura e 8,40 metros de comprimento, criada especialmente por Artur Lescher para o projeto, idealizado pelo Núcleo Curatorial da Nara Roesler.

Abraham Palatnik, nome fundador da arte cinética, explorou esses elementos plásticos visando à obtenção de dinamismo e jogos óticos, que terminavam por engajar o espectador na composição, que assim passa a ter uma relação mais ativa com a obra. Nas pinturas de Tomie Ohtake, por seu turno, a relação entre linha e cor se dá de modo tácito, meditativo, com amplas áreas cromáticas, compostas de discretos tonalismos, entrecortadas por linhas absolutas e sinuosas. Já Amelia Toledo enxerga essa relação principalmente através da linha do horizonte, que explora por meio de paisagens nas quais retém apenas os elementos essenciais, trabalhando dessa forma no limite entre figuração e abstração.

No trabalho de Mira Schendel, a linha se apresenta de maneira caligráfica, em especial em suas monotipias, realizadas a partir da década de 1960, e feitas sobre papel de arroz. Essas obras apresentam traços, linhas e grafismos que parecem flutuar ante o fundo branco do suporte, servindo, ao mesmo tempo, como material precípuo da comunicação escrita e signo visual independente. Dentre os artistas que participaram do processo de retomada da pintura em uma chave contemporânea a partir da década de 1980, integram a mostra Sérgio Sister, Fabio Miguez e Carlito Carvalhosa. No trabalho do primeiro, a relação entre linha e cor extrapola o plano pictórico, se detendo também na tridimensionalidade, de modo que sua poética termina por contribuir para a ideia de pintura expandida. Carlito Carvalhosa, por seu turno, utiliza como suporte chapas de alumínio espelhadas ou mesmo espelhos, sob os quais aplica matéria pictórica, por vezes através de grandes áreas de cor, e seu gestual acaba por se fazer presente em linhas que imprime sobre a matéria, destacando o que está “por baixo” da cor. Em Fabio Miguez, na sua produção mais recente, a relação entre linha e cor caminha na projeção de espacialidades e arquiteturas, em que o artista faz releituras de pinturas de grandes mestres do Renascimento italiano, porém removendo das cenas os personagens e conservando apenas as situações espaciais.

Em Milton Machado, o conjunto de telas “Terras”, que parecem evocar as cores e formas de tijolos, é composto de um fundo marrom e grids que vão de tons do vermelho ao preto. A matéria-prima empregada é pó de tijolo macerado, e o trabalho faz portanto menção ao material que pretende evocar. Jose Dávila, cujo principal interesse poético consiste em explorar tensões e equilíbrios resultantes da relação de materiais díspares, revisita a história da arte construtiva buscando composições formadas por linhas, planos e cores. Ao inserir, lado a lado, trechos desses trabalhos referenciais, acaba enfatizando a sensação de incompletude gerada por essa composição. Artur Lescher traz a exploração da relação entre linha e cor para o âmbito escultórico, objeto primordial de sua poética, levando em conta sobretudo a relação com o espaço.

Em cartaz até 15 de março.

A agenda da Galeria Contempo.

03/fev

 

Após realizar individual da artista Ana Durães, a agenda de exposições de 2025 começou aquecida na Galeria Contempo, Jardim América, São Paulo, SP. Será inaugurada no dia 15 de fevereiro, a primeira exibição coletiva do ano na casa da Gabriel Monteiro. “cons.tru.ção | definição em aberto” reunirá 13 artistas representados pelas sócias Marcia, Monica e Marina Felmanas: Aldir Mendes de Souza, Beto Fame, Greta Coutinho, João di Souza Luiz Dolino, Márcio Swk, Marina Ryfer, Natan Dias, Pavel, Renato Dib, Rubens Ianelli, Sérgio Guerini e Thiago Nevs.

Através de trabalhos nos mais distintos suportes, incluindo a pintura, a escultura e a instalação, cons.tru.ção aponta para o desenvolvimento recente de um grupo de artistas. Todos eles, jovens ou mais consolidados, comprovam que continuar produzindo é um exercício de reinvestir na construção de um sentido, ainda que seja ele pessoal e afetivo. A exposição poderá ser visitada até o dia 08 de março.

Sobre a Galeria Contempo.

Atuando no mercado desde 2013, a Contempo é um desdobramento da ProArte Galeria e foi idealizada por Monica, Márcia e Marina Felmanas. A galeria foi criada com o propósito de reunir a produção artística contemporânea, representando artistas emergentes e alguns já consolidados. Natan Dias, Thiago Nevs, Mario Morales, João Di Souza, Presto, Greta Coutinho, Marina Ryfler e J. Pavel Herrera são alguns dos que têm se destacado. A Contempo também agrega em seu portfólio obras produzidas por artistas visuais com carreiras consolidadas.

Cosmos – Outras Cartografias.

 

A Nara Roesler São Paulo convida para a abertura, em 06 de fevereiro, da exposição coletiva “Cosmos – Outras Cartografias”, com curadoria da artista Laura Vinci em parceria com o núcleo curatorial Nara Roesler. A ideia de mapas é discutida em 32 obras de 20 artistas de diferentes gerações e origens: Brígida Baltar, Paulo Bruscky, Jonathas de Andrade, Carlos Bunga, Jaime Lauriano, Ana Linnemann, André Vargas, Alfredo Jaar, Marina Camargo, Rivane Neuenschwander, Talles Lopes, Vanderlei Lopes, Arjan Martins, Carlos Motta, Nelson Leirner, Nelson Felix, Paulo Nazareth, Anna Bella Geiger, Runo Lagomarsino e Laura Vinci.

No dia da abertura Laura Vinci fará uma visita guiada à exposição às 19h.

Laura Vinci diz que “das várias crises que o nosso planeta enfrenta atualmente – sejam elas políticas, migratórias ou ambientais – o objetivo desta exposição é inspirar a reflexão sobre essas questões urgentes”. “Alguns trabalhos podem ter uma perspectiva mais política ou geopolítica, enquanto outros podem enfatizar preocupações ambientais. Juntas, as obras incentivarão um diálogo mais amplo sobre o mundo em que vivemos”, afirma a curadora.

Em cartaz até 15 de março.