Com Millan & Raquel Arnaud

06/out

 

 

A Galeria Millan e a Galeria Raquel Arnaud, São Paulo, SP, apresentam a exposição coletiva “Vício impune: o artista colecionador”, com curadoria de Gabriel Pérez-Barreiro. A mostra reunirá, nos espaços das duas galerias, uma seleção de nove artistas representados, ao redor do diálogo entre seus trabalhos e coleções. Dentre os artistas colecionadores, estão: Artur Barrio (Porto, Portugal, 1945), Iole de Freitas (Belo Horizonte, MG, 1945), Paulo Pasta (Ariranha, SP, 1959), Sérgio Camargo (Rio de Janeiro, RJ, 1930 – 1990), Tatiana Blass (São Paulo, SP, 1979), Thiago Martins de Melo (São Luís, MA, 1981), Tunga (Palmares, PE, 1952 – Rio de Janeiro, RJ, 2016), Waltercio Caldas (Rio de Janeiro, RJ, 1946) e Willys de Castro (Uberlândia, MG, 1926 – São Paulo, SP, 1988).

 

 

Desenvolvida ao longo dos últimos anos, a pesquisa de Pérez-Barreiro sobre o colecionismo encontra no contexto desta mostra um campo de análise, em que o espectador é convidado a compreender as nuances de diferentes relações entre artistas colecionadores e suas coleções. Em seus mais diversos modelos, as práticas de coletar e colecionar mostram-se singulares em cada um dos nove casos apresentados e essenciais para a compreensão de cada produção artística em sua complexidade. Segundo o curador, “as coleções dos artistas podem nos dizer não apenas sobre sua própria prática: o que eles vêem no trabalho de outros que os impacta, mas também estão frequentemente na vanguarda de reconhecer e valorizar fenômenos antes subestimados”. Foi com esse propósito que as galerias decidiram realizar a exposição.

 

 

Esculturas e relevos de Sérgio Camargo são expostas ao lado de parte de sua vasta coleção de pinturas de Hélio Melo (Vila Antinari, AC, 1926 – Goiânia, GO, 2001), seringueiro, artista e compositor autodidata. O contraste entre as pinturas fantásticas de Melo e a estética construtiva de Camargo traz à tona uma nova abordagem sobre este artista já consolidado na história da arte brasileira, assim como revela a permeabilidade entre movimentos e tendências.

 

 

Duas esculturas (ambas Objetos ativos) de Willys de Castro – cuja frase publicada em artigo empresta título à exposição – são exibidas ao lado de uma coleção de arte indígena, uma dentre tantas que o artista preservou e estudou. Com trabalhos de arte plumária e cestarias amazônicas, o conjunto montado nos anos 1970 e 1980 revela um outro lado de seu fascínio pelas formas e padrões geométricos, desdobrados em diversos níveis da percepção ao longo de sua produção.

 

 

Em diversos contextos, as coleções evidenciam interesses e obsessões singulares, como é o caso de Waltercio Caldas e sua afeição pelo formato do livro e seus desdobramentos em uma coleção de livros de artistas, trabalhos que discutem possibilidades a partir desta formação primária. Em paralelo, o interesse de Artur Barrio pelo mergulho foi a razão que impulsionou sua coleção de 3 mil grãos de areia, iniciada em 1983, em que cada grão é o registro de um mergulho realizado. A busca pelo registro de cada situação vivida é não somente essencial, para Barrio, mas também para o desenvolvimento de sua produção artística – daí figuram suas séries “Situações e Registros”. Cada grão de areia que compõe esta coleção demonstra, entretanto, que a busca pelo registro da experiência extrapola, em Barrio, o trabalho de arte e está presente em outras esferas de sua vida.

 

 

Conjuntos criados por artistas colecionadores podem, em muitos casos, representar rastros afetivos de suas relações pessoais. A coleção de Tatiana Blass, composta por trabalhos de seu tio-avô, Rico Blass (Breslau, Alemanha, 1908 – ?), desafia-nos a questionar em que medida essas relações se estabelecem como intercâmbios diretos ou indiretos. O mesmo ocorre à vista do trabalho inédito e instalativo de Thiago Martins de Melo e de sua coleção de desenhos de amigos também artistas. Os conjuntos de Martins de Melo e Blass fazem saltar aos olhos a potência afetiva do ato de guardar e os desdobramentos subjetivos deste ato em suas escolhas formais.

 

 

As pinturas de Paulo Pasta estão em diálogo com uma coleção de alguns de seus mestres: Mira Schendel (Zurique, Suíça, 1919 – São Paulo, SP, 1988), Alfredo Volpi (Lucca, Itália, 1896 – São Paulo, SP, 1988) e Amilcar de Castro (Paraisópolis, MG,1920 – Belo Horizonte, MG, 2002), em uma troca potente entre grandes nomes da arte brasileira. De maneira semelhante, opera a relação entre Iole de Freitas e sua guarda de desenhos e decalques inéditos de Tarsila do Amaral, em que se delineiam os caminhos metodológicos das célebres pinturas da segunda artista. Processo e método estabelecem-se aqui em seus rastros, passíveis de serem compartilhados entre práticas de diferentes gerações.

 

 

A coleção de um artista é capaz de revelar traços de reflexões latentes que conduziram a suas práticas e a poéticas. Nesse sentido, as obras de Tunga apresentam-se neste eixo de interlocução com sua coleção de trabalhos dadaístas e surrealistas franceses – entre eles, quatro gravuras de Marcel Duchamp (Blainville-Crevon, França, 1887 – Neuilly-sur-Seine, França, 1968). Dentre os trabalhos de Tunga, além de seus desenhos, está também a instalação “Evolution” (2007), realizada a partir do emprego da mesma linguagem da instalação/performance “Laminated Souls”, exibida entre 2007 e 2008 no MoMA P.S. 1, em Nova York.

 

 

Até 30 de outubro.

 

Homenageando Esmeraldo

15/set

 

 

Sérvulo Esmeraldo foi artista plural que explorou, ao longo de sua carreira, as diversas linguagens plásticas, sendo considerado escultor, gravador, ilustrador e pintor. Para homenagear seu legado, a Pinakotheke São Paulo abriu, dia 13 de setembro, a exposição “Sérvulo Esmeraldo 1929-2017”.

 

 

No espaço estarão reunidas pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, objetos e excitáveis criados pelo artista cearense durante o período, com curadoria assinada por Hans-Michael Herzog. A exposição seguirá aberta para visitação até o dia 16 de outubro.

 

Um jardim imaginário

03/set

 

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul, MARGS, instituição vinculada à Secretaria de Estado da Cultura do RS, Sedac, exibe a partir do dia 04 de setembro, a exposição inédita “Yeddo Titze – Meu jardim imaginário”.

A mostra tem por objetivo prestar uma homenagem ao professor e artista gaúcho falecido em 2016, aos 81 anos. Com curadoria de Paulo Gomes e Carolina Grippa, “Yeddo Titze – Meu jardim imaginário” tem lugar na Galeria Iberê Camargo e na sala Oscar Boeira, no segundo andar do Museu, e seguirá em exibição até 28 de novembro.

Apresentando mais de 40 obras desde a década de 1950 até 2010, “Meu jardim imaginário” contempla a trajetória de Yeddo Titze (1935-2016) desde o início da sua formação até seus últimos anos de produção. Com ênfase na temática de jardins, flores e paisagens, destaca uma série de tapeçarias e pinturas, produzidas em diversas técnicas.

A exposição traz a público obras dos acervos do MARGS, da Pinacoteca Aldo Locatelli da Prefeitura de Porto Alegre e da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo da UFRGS, que são agora pela primeira vez reunidas e exibidas. Trata-se de um conjunto de peças adquiridas recentemente pelos acervos, por meio de doação da família do artista, ao qual se somam obras já anteriormente pertencentes às coleções das instituições.

No texto curatorial, os curadores Paulo Gomes e Carolina Grippa escrevem:

“Yeddo Titze é um nome que, quando citado, lembra antes a sua atuação como professor na UFSM e na UFRGS. Em Santa Maria, instalou o primeiro curso de tapeçaria em uma universidade federal, divulgando o suporte têxtil em toda sua potencialidade artística; e, em Porto Alegre, dedicou-se ao ensino da pintura. Mas e o artista? (…) A maioria dos trabalhos, agora expostos, nunca foi vista pelo público, sendo este um gesto de reconhecimento da importância do artista para a arte sul-rio-grandense e um convite à aproximação entre os seus públicos e a sua poética.”

“Yeddo Titze – Meu jardim imaginário” integra o programa expositivo do MARGS intitulado “Histórias ausentes”, voltado a projetos de resgate, memória e revisão histórica. Com o programa, procura-se conferir visibilidade e legibilidade a manifestações e narrativas artísticas, destacando trajetórias, atuações e produções artísticas, em especial aquelas inviabilizadas no sistema da arte e/ou pelos discursos dominantes da historiografia oficial. Assim, a presente exposição dá prosseguimento ao programa “Histórias ausentes”, que estreou com a mostra “Otacílio Camilo – Estética da rebeldia”.

Nas palavras do diretor-curador do MARGS, Francisco Dalcol: 

“Esta exposição presta uma homenagem ao mestre e artista Yeddo Titze, tendo por objetivo oferecer um justo e necessário resgate em sua memória. Assim, com essa união de esforços entre as instituições, a intenção é também valorizarmos as políticas de aquisição de nossos acervos públicos, celebrando esta importante doação da família em seu conjunto e conferindo a devida e necessária solenidade ao gesto.”

Desde sua reabertura, em 11.05.2021, o MARGS mantém uma série de medidas sanitárias e de regras de acesso para garantir uma visita segura e que ofereça uma experiência que possa ser aproveitada da melhor maneira: controle de fluxo de entrada e quantidade de público, uso obrigatório de máscara, medição de temperatura e respeito à distância de 2m.

TEXTO CURATORIAL

Yeddo Titze – Meu jardim imaginário

“Quando acordo pela manhã, abro minha janela e através de uma leve cortina vejo o meu jardim imaginário. Ele está bem próximo de mim, oferecendo-me suas folhas e flores, que pelo visto tentam dialogar comigo, transmitindo-me uma mensagem”. Yeddo Titze, março 2004

Yeddo Titze (1935 – 2016) é um nome que, quando citado, lembra antes a sua atuação como professor na UFSM e na UFRGS. Em Santa Maria, instalou o primeiro curso de tapeçaria em uma universidade federal, divulgando o suporte têxtil em toda sua potencialidade artística; e, em Porto Alegre, dedicou-se ao ensino da pintura. Mas e o artista? Essa exposição, inserida no programa “Histórias ausentes” do MARGS, tem como objetivo destacar o Yeddo artista, mostrando um recorte de sua produção, desde a década de 1950, enquanto aluno no Instituto de Artes, até o ano de 2010, próximo ao seu falecimento. A mostra é uma ação conjunta de três instituições públicas de Porto Alegre, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, a Pinacoteca Barão de Santo Ângelo (Instituto de Artes, UFRGS) e a Pinacoteca Aldo Locatelli (Prefeitura de Porto Alegre), que já possuíam obras do artista, mas que receberam recentemente importantes doações de trabalhos e documentos.

As flores, as paisagens e as cores são elementos distintivos na produção de Yeddo Titze, que perpassam as diversas técnicas e os gêneros que ele praticou. A maioria dos trabalhos, agora expostos, nunca foi vista pelo público, sendo este um gesto de reconhecimento da importância do artista para a arte sul-rio-grandense e um convite à aproximação entre os seus públicos e a sua poética.

Paulo Gomes e Carolina Grippa 

Sobre o artista

Yeddo Nogueira Titze nasceu em 10 de janeiro de 1935, em Santana do Livramento, RS, filho de Roberto Titze e de Desideria Nogueira Titze. Em 1955, matriculou-se no Curso de Artes Plásticas no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre, sendo diplomado em 1960. Entre 1960 e 1962, foi bolsista do governo francês em Paris, estudando pintura no ateliê de André Lhote e na École Nationale Superieure des Arts Decóratifs, onde foi aluno de Marcel Gromaire. Após essa temporada em Paris, mudou-se para Florença, onde estudou na Academia de Belas Artes. Ao retornar ao Brasil, recebeu o Prêmio de Pintura no 9º Salão de Artes Plásticas do Instituto de Belas Artes (1962) e, em seguida, foi contratado como professor para a Faculdade de Belas Artes, na recém-criada Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Um dos primeiros professores do curso, Yeddo foi o responsável por implementar a disciplina de Arte Decorativa, baseando-se nas experiências adquiridas no Instituto de Belas Artes e na École de Paris. Retornou à França entre 1968 e 1969, para estudar tapeçaria em Aubusson. Após o período lecionando em Santa Maria, transferiu-se para o Rio de Janeiro e, depois, para Brasília. Nesta cidade, entre 1976 a 1979, foi o responsável pelo Setor de Artes Plásticas na Funarte e também coordenador da Galeria Oswaldo Goeldi. Após essa temporada, retornou ao Rio Grande do Sul, atuando como professor na UFSM e, após, no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde permaneceu até a sua aposentadoria, em 1993.  Em 2011, recebeu foi homenageado com Destaque Especial do Prêmio Açorianos, da Prefeitura de Porto Alegre, e no mesmo ano teve sua obra reconhecida e homenageada em uma mostra na Sala Angelita Stefani na Universidade Franciscana (UNIFRA), em Santa Maria. Faleceu em Porto Alegre, em 2016.

Homenagem ao mestre e artista

Considerado um importante representante da geração moderna das artes visuais do Rio Grande do Sul no século 20, Yeddo Titze morreu em 2016, aos 81 anos, após ser vítima da fatalidade de um atropelamento em Porto Alegre. Notabilizou-se sobretudo como professor, tendo uma trajetória que o consagrou em nossa história da arte como um dos pioneiros da tapeçaria, uma referência da arte têxtil, tendo por isto obtido reconhecimento nacional e mesmo internacional. Mas Yeddo foi mais do que tapeceiro. Dedicou boa parte de sua produção à pintura, sendo apontado como um dos primeiros a explorar ou flertar com a abstração no Rio Grande do Sul ao lado de artistas como Rubens Cabral, Nelson Wiegert e Carlos Petrucci. Era um passo ousado, uma vez que a pintura abstrata foi repelida pelo então cenário conservador do Estado, que via nela a invasão de uma tendência internacional descomprometida politicamente e capaz de corromper os valores da arte figurativa vigente e de viés regionalista. “Yeddo Titze – Meu jardim imaginário” presta uma homenagem ao mestre e artista, tendo por objetivo oferecer um justo e necessário resgate em sua memória. A exposição traz a público obras dos acervos do MARGS, da Pinacoteca Aldo Locatelli da Prefeitura de Porto Alegre e da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo da UFRGS, que são agora pela primeira vez reunidas e exibidas. Trata-se de um conjunto de peças adquiridas recentemente pelos acervos, por meio de doação da família do artista, ao qual se somam obras já anteriormente pertencentes às coleções das instituições. Assim, com essa união de esforços, a intenção é também valorizarmos as políticas de aquisição de nossos acervos públicos, celebrando esta importante doação em seu conjunto e conferindo a devida e necessária solenidade ao gesto. “Yeddo Titze – Meu jardim imaginário” integra o programa expositivo do MARGS intitulado “Histórias ausentes”, voltado a projetos de resgate, memória e revisão histórica. Com o programa, procura-se conferir visibilidade e legibilidade a manifestações e narrativas artísticas, destacando trajetórias, atuações e produções artísticas, em especial aquelas inviabilizadas no sistema da arte e/ou pelos discursos dominantes da historiografia oficial. Assim, a presente exposição dá prosseguimento ao programa “Histórias ausentes”, que estreou com a mostra “Otacílio Camilo – Estética da rebeldia” (2019).

Francisco Dalcol – Diretor-curador do MARGS

Sobre os curadores

Paulo Gomes 

Professor Associado no Bacharelado em História da Arte na UFRGS e no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da mesma instituição. Historiador, curador e crítico de arte. Atua como membro do Comitê de Acervo da Pinacoteca Aldo Locatelli (PMPA) e do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) e coordena a Pinacoteca Barão de Santo Ângelo (Instituto de Artes/UFRGS). É membro das seguintes instituições: AICA – Associação Internacional de Críticos de Arte, ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte, CBHA – Comitê Brasileiro de História da Arte e da ANPAP – Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas. Dentre suas publicações, destacam-se: “MARGS 50 anos” (2005), “Artes plásticas no Rio Grande do Sul: uma panorâmica” (2007), “Pedro Weingärtner: obra gráfica” (2008), “100 anos de artes plásticas no Instituto de Artes da UFRGS” (2012), “Pinacoteca Barão de Santo Ângelo: catálogo geral 1910-2014” (2015), “Zoravia Bettiol: o lírico e o onírico” (2016), com Paula Ramos.

Carolina Bouvie Grippa

Mestra em História, Teoria e Crítica de Arte (UFRGS), bacharela em História da Arte (UFRGS) e em Moda (Universidade Feevale). Desde 2017, pesquisa sobre tapeçaria brasileira, com foco na produção do Rio Grande do Sul. Desenvolve trabalhos em curadoria, como as mostras que realizou juntamente com Caroline Hädrich: “Influências da arte pop em acervos de Poa”, no MARGS (2018), pela qual receberam o Prêmio Açorianos 2019 na categoria “Difusão de acervos”; e “Os quatro – Grupo de Bagé”, na Fundação Iberê Camargo (2019). Também atua na produção cultural, sendo produtora da 12° e 13° Bienal do Mercosul.

Elisa Bracher na Galeria Estação

01/set

 

 

Com uma instalação, desenhos, monotipias, pinturas em papel, gravuras e esculturas, a individual “Terra de Ninguém”, de Elisa Bracher, na Galeria Estação, Pinheiros, em São Paulo, propõe, a partir da sua poética contemporânea, figurações e objetos de vestígios de artefatos, matérias-primas e técnicas manuais tradicionais

 

 

Pelo gesto do fazer, presente de modos diversos na produção e no percurso artístico de Elisa Bracher, “Terra de ninguém”, individual da artista na Galeria Estação, em SP, expõe a partir da sua poética contemporânea, figurações e objetos de vestígios de artefatos, matérias-primas e técnicas manuais tradicionais. A exposição, que estreou em 28 de agosto, permanecerá em cartaz até 02 de outubro, apresenta 35 obras dispostas em três espaços da Galeria, entre elas, desenhos, monotipias, pinturas em papel, gravuras, esculturas e uma instalação.

 

 

Na entrada da Galeria Estação, uma enorme escultura em madeira angelim curvada na parede e pousada no chão, inclina-se em direção ao espectador. Na realidade, esse trabalho parte da forma das gamelas, esses antigos utensílios nos quais se guardavam alimentos e refeições, e no espaço expositivo desequilibra o nosso olhar e perde a sua funcionalidade originária.

 

A segunda escultura, um cubo aberto feito em pau a pique – técnica usada para a construção de antigas casas populares do interior -, é cortada, agora não mais, como era tradicionalmente, por uma árvore, mas por uma canha. A terceira é uma escultura em madeira e cerâmica materializada em três blocos de madeira empilhados, nos quais as casinhas típicas do interior, feitas de pau a pique, encontram-se encaixadas, deixando aparentes somente as suas fachadas. A quarta retoma a plástica das casinhas encaixadas nas estruturas, mas, desta vez, com os blocos pregados na parede e posicionados um ao lado do outro. A quinta escultura traz uma base de terra redonda em declive, com uma estrutura de madeira apoiada na parte superior.

 

 

A instalação expõe os vestígios de madeiras, mármores e cerâmicas, materiais que aparecem apoiados uns nos outros, como se tentassem delimitar um espaço entre o interno e o externo da obra. Como pontua Elisa Bracher: “Esta exposição apresenta trabalhos iniciados há mais de dez anos. Desenhos e gravuras mostram montanhas e paisagens que se desfazem e se reconstroem com o passar do tempo. As esculturas só aconteceram no momento em que encontraram lugar para estar. No momento em que acertamos fazer a exposição na Galeria Estação, os trabalhos vieram a existir. Em mim já habitavam, mas faltava o sítio que os acolhesse. A instalação “Restos em novo corpo é a transição”.

 

 

As cinco esculturas e a instalação que serão mostradas ao público, e que trazem elementos da tradição da cultura material brasileira, dialogam com os desenhos. Em seu processo, Bracher parte do material, é ele que sugere a forma e a construção da imagem. De maneira diversa das linhas das gravuras, construídas com a precisão de ferramentas em metal sobre papel de arroz, nos desenhos as colinas traçadas em linhas finas e frágeis sugerem um desprendimento, um afastamento do solo. “Elas pairam sobre uma superfície manchada com um colorido de oxidação ou sangue coagulado. São visões de longe, muito longe, de lugares que estão por lá, mas que ninguém enxerga de perto”, afirma Tiago Mesquita em texto curatorial.

 

 

Por sua vez, o trabalho com as monotipias presentes na exposição parte de um diálogo com o maestro e pianista Rodrigo Felicíssimo. Bracher exercita nessa linguagem visual a marcação espacial formada por linhas desprendidas acima das curvas e formas das montanhas. Trata-se de uma paisagem plástica que dialoga com a pesquisa do pianista.

 

 

A pesquisa de Rodrigo Felicíssimo se debruça sobre um dos métodos de criação do maestro Heitor Villa-Lobos. Para a composição da Sinfonia nº 6, intitulada “Sobre a linha das montanhas”, Villa-Lobos compôs o desenho da partitura musical a partir da observação das curvaturas das linhas que os topos das montanhas traçam no horizonte. Tanto na sinfonia como na pesquisa de Bracher, a forma manifesta no espaço não se desvincula da abstração da sonoridade; em Felicíssimo, a paisagem sonora amplia os sentidos pela percepção da paisagem plástica.

 

 

Houve participação especial da cantora Mônica Salmaso, acompanhada em um pocket show do maestro e pianista Rodrigo Felicíssimo no vernissage de abertura da exposição “Terra de ninguém”. A individual de Elisa Bracher na Galeria Estação relaciona o trabalho em monotipia da artista com a pesquisa musical de Felicíssimo.

 

 

Nas monotipias, Bracher exercita a noção de paisagem visual, com a marcação espacial formada por linhas desprendidas acima das curvas e formas das montanhas. Por sua vez, a pesquisa de Felicíssimo sobre paisagem sonora parte de um dos métodos de criação do maestro Heitor Villa-Lobos; para a composição da Sinfonia nº 6, intitulada “Sobre a linha das montanhas”, Villa-Lobos concebeu o desenho da partitura musical a partir da observação das curvaturas das linhas que os topos das montanhas traçam no horizonte.

 

 

Até 02 de Outubro.

 

 

 

Célia Euvaldo na Roberto Alban Galeria

25/ago

 

 

 

A Roberto Alban Galeria, Salvador, tem o prazer de anunciar a primeira exposição da artista Célia Euvaldo na galeria, também sua primeira mostra individual na Bahia. A artista, amplamente conhecida por suas pinturas em preto e branco, realizadas ao longo de mais de três décadas, apresenta um conjunto inédito de trabalhos em que explora a presença da cor, dando continuidade à sua pesquisa iniciada em 2016. A galeria estará aberta para visitação de 04 de setembro até o dia 16 de outubro. A mostra também poderá ser vista de modo virtual pelo site da galeria (www.robertoalbangaleria.com.br).

 

 

A partir de meados dos anos 1980, Célia Euvaldo investiga, majoritariamente no campo da pintura, as relações entre gesto e matéria. Suas telas de grande formato exploram as múltiplas possibilidades da relação entre o branco e o preto, em uma fatura marcada pela riqueza de texturas, nuances e gestualidade.

 

 

A dimensão física do corpo da artista na realização de seus trabalhos é um dos aspectos fundamentais como chave de leitura para a compreensão de sua produção artística. Suas telas são fortemente marcadas pela relação entre seu corpo e a escala do quadro, revelando – em camadas insuspeitadas e mesmo surpreendentes – a presença do gesto como força motriz e fundamental em sua criação.

 

 

“Um aspecto do meu trabalho é a presença do gesto. Mas não me refiro ao gesto expressivo, impulsivo, de descarga emocional. É o gesto em si, ou melhor dizendo, o esforço, a energia do gesto. Para isso, as dimensões grandes são essenciais. Isso vem desde meus trabalhos mais antigos, de 30 anos atrás”, afirma a artista.

 

 

Desde 2016, Célia Euvaldo tem se dedicado a uma investigação inédita em sua vasta produção pictórica, realizando um corpo de trabalho com a presença de cores abertas, como o vermelho, o laranja e o lilás. Os trabalhos reunidos para sua primeira exposição na Roberto Alban Galeria apontam, justamente, para este momento de ruptura e renovação de sua obra.

 

 

São pinturas que instauram, portanto, uma harmoniosa convivência entre o usual p&b e uma nova paleta de cores – telas que conjugam o preto em suas habituais texturas espessas, a partir de um uso robusto da tinta a óleo, a seções coloridas realizadas com a tinta mais diluída, em tons mais discretos de cinza ou em tonalidades fortes de cores laranja, azul e variações.

 

 

“Em todos os quadros eu deixo uma parte da tela sem pintar. Faço isso porque vejo essas duas matérias como “coisas”, “corpos”, algo quase escultórico. Se eu cobrisse toda a tela, essas “coisas” virariam áreas, e não quero isso. Quero esse peso e materialidade de coisa”, acrescenta a artista.

 

 

O texto do historiador e crítico de arte Ronaldo Brito reflete também sobre esta nova fase da pesquisa de Célia Euvaldo:

 

 

“A meu ver, as cores vibrantes surgem como fatores a mais de irritação e questionamento em uma pintura que opera numa área exígua e tira sua força ao vencer, repetidamente, a ameaçadora entropia. A questão substantiva passa a ser a seguinte: como agem esses contrastes cromáticos, às vezes gritantes, em um espaço pictórico que até então se resumia às invasões maciças do preto sobre o branco, a renegociar os limites entre a forma e o informe? Assim como ocorre com o preto marfim, também as cores abertas não destilam uma química de pintura, empenhadas em revelar a identidade única deste violeta, desse laranja ou daquele azul. Elas irrompem no quadro, resolutas, instintivamente misturadas e diluídas”.

 

 

Sobre a artista

 

 

Pintora e desenhista, Célia Euvaldo nasceu em 1955, em São Paulo, onde atualmente vive e trabalha. Realizou suas primeiras exposições coletivas no circuito nacional em 1987, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e em 1988, no Projeto Macunaíma, Funarte, também na mesma cidade. Obteve o 1º prêmio – Viagem ao Exterior – no 11º Salão Nacional de Artes Plásticas em 1989. Nos anos 90, realizou individuais na Paulo Figueiredo Galeria de Arte, em São Paulo, em 1991 e 93; no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, em 1995 e em 1999; dentre outras. Suas últimas individuais foram na Galeria Simões de Assis, em Curitiba, em 2020, e na Galeria Raquel Arnaud, em São Paulo, em 2018. Suas obras estão em diferentes coleções públicas como no Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Coleção de Arte da Cidade de São Paulo, Fundação Cultural de Curitiba e Museu do Estado do Pará. Célia Euvaldo marca um importante período da arte contemporânea brasileira, participando de mostras como a 7ª Bienal Internacional de Pintura de Cuenca, no Equador, em 2001 e da 5ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, em 2005, e realiza individuais em instituições como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, intitulada “Brancos”, em 2006, Instituto Tomie Ohtake em 2013, entre outros. No âmbito internacional, a artista participou da mostra coletiva “Cut, Folded, Pressed & Other Actions” na David Zwirner Gallery, em Nova York, em 2016.

 

Centenário da Semana de 22

19/ago

 

 

Celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e lançar luz aos traços, remanescências e conquistas que o movimento trouxe, no decorrer dos últimos 100 anos, às artes plásticas do Brasil e refletir, a partir da atualidade, sobre um processo de rever e reparar este contexto.  Este é o objetivo de “Brasilidade Pós-Modernismo”, mostra que será apresentada entre 01 de setembro e 22 de novembro no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, com patrocínio do Banco do Brasil e realização por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, da Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo e Governo Federal.

 

Com curadoria de Tereza de Arruda, a mostra chama atenção para as diversas características da arte contemporânea brasileira da atualidade cuja existência se deve, em parte, ao legado da ousadia artística cultural proposta pelo Modernismo. Nuances que o público poderá conferir nas obras dos 51 artistas de diversas gerações que compõem o corpo da exposição, entre os quais Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Arnaldo Antunes, Cildo Meireles, Daniel Lie, Ernesto Neto, Ge Viana, Glauco Rodrigues, Jaider Esbell, Rosana Paulino e Tunga.

 

 

“Esta exposição não é idealizada com o olhar histórico, mas sim focada na atualidade com obras produzidas a partir de meados da década de 1960 até o dia de hoje, sendo algumas inéditas, ou seja, já com um distanciamento histórico dos primórdios da modernidade brasileira”, explica Tereza de Arruda. “Não é uma mostra elaborada como um ponto final, mas sim como um ponto de partida, assim como foi a Semana de Arte Moderna de 1922 para uma discussão inovadora a atender a demanda de nosso tempo conscientes do percurso futuro guiados por protagonistas criadores”, completa a curadora.

 

 

Organizada em seis núcleos temáticos:

 

 

Liberdade; Futuro; Identidade; Natureza; Estética e Poesia  a mostra apresenta pinturas, fotografias, desenhos, esculturas, instalações e novas mídias. Segundo Tereza de Arruda, por meio deste conjunto plural de obras, “a Brasilidade se mostra diversificada e miscigenada, regional e cosmopolita, popular e erudita, folclórica e urbana”.

 

 

Para aproximar ainda mais o público da Semana de 22, serão desenvolvidas, ao longo do período expositivo, uma série de atividades gratuitas no Espaço de Convivência do Programa CCBB Educativo – Arte e Educação conduzidas por educadores do centro de arte e tecnologia JA.CA. Também haverá um webappl com um conjunto compreensivo de conteúdos da mostra, garantindo a acessibilidade de todos.

 

 

LIBERDADE

 

 

Abrindo a exposição, o núcleo “Liberdade” reflete sobre as inquietações e questionamentos remanescentes do colonialismo brasileiro do período de 1530 a 1822, além de suas consequências e legado histórico. São fatores decisivos para a formação das características do contexto sociopolítico-cultural nacional, que se tornaram temas recorrentes em grande parcela da produção cultural brasileira.

 

 

Em 1922, os modernistas buscavam a ruptura dos padrões eurocentristas na cultura brasileira e hoje, os contemporâneos que integram esse núcleo – Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, José Rufino, Rosana Paulino, Farnese de Andrade, Tunga, Ge Viana e José De Quadros – buscam a revisão da história como ponto de partida de um diálogo horizontal, enfatizando a diversidade, a visibilidade e inclusão.

 

 

FUTURO

 

 

O grupo da vanguarda modernista brasileiro buscava o novo, o inovador, desconhecido, de ordem construtiva e não destrutiva.  E um exemplo de futuro construtor é Brasília, a capital concebida com uma ideia utópica e considerada um dos maiores êxitos do Modernismo do Brasil. “Sua concepção, idealização e realização são uma das provas maiores da concretização de uma ideia futurista”, comenta Tereza de Arruda.

 

 

Com foco em Brasília como exemplo de utopia futurista, este núcleo reúne esboços e desenhos dos arquitetos Lina Bo Bardi, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, obra da artista Márcia Xavier, e registros captados pelo fotógrafo Joaquim Paiva e o cineasta Jorge Bodanzky.

 

 

IDENTIDADE

 

 

A busca por um perfil, uma identidade permeia a história da nação brasileira. E é partir desta busca que se forma o conjunto exibido no núcleo “Identidade”. As obras de Alex Flemming, Berna Reale, Camila Soato, Daniel Lie, Fábio Baroli, Flávio Cerqueira, Glauco Rodrigues e Maxwell Alexandre apresentam uma brasilidade com diversas facetas da população brasileira.

 

 

“Falamos aqui do “Brasil profundo”, enfatizado já em obras literárias emblemáticas e pré-modernistas como o livro “Os sertões”, de Euclides da Cunha (1866-1909), publicada em 1902. Já neste período, o Brasil estava dividido em duas partes que prevalecem até hoje: o eixo Rio-São Paulo, das elites consequência de uma economia promissora proveniente do desenvolvimento financeiro e intelectual, e consequentemente berço da Semana de Arte Moderna realizada 20 anos após esta publicação, e o sertão, desconhecido, acometido pela precariedade e desprezo de seu potencial”, reflete Tereza de Arruda.

 

 

NATUREZA

 

 

O território brasileiro é demarcado por sua vastidão, pluraridade de biomas e importância de caráter global. Neste núcleo, as obras dos artistas Armarinhos Teixeira, Caetano Dias, Gisele Camargo, Luzia Simons, Marlene Almeida, Paulo Nazareth, Rosilene Luduvico e Rodrigo Braga norteiam questões de enaltação, sustentabilidade e alerta quanto à natureza e o relacionamento do ser humano como corpo imerso no legado da “Terra brasilis”.

 

 

ESTÉTICA

 

 

Reunindo trabalhos de Barrão, Beatriz Milhazes, Cildo Meireles, Daiara Tukano, Delson Uchôa, Emmanuel Nassar, Ernesto Neto, Francisco de Almeida, Jaider Esbell, Judith Lauand, Luiz Hermano, Mira Schendel e Nelson Leirner, este núcleo surge a partir da reflexão sobre movimentos como o antropofágico, ação fundamental para o entendimento da essência da Brasilidade e um marco na história da arte do Brasil. Foi através dele que a identidade cultural nacional brasileira foi revista e passou a ser reconhecida.

 

 

E, segundo explica a curadora, isso se deu em 1928 com a publicação do “Manifesto Antropófago” publicado por Oswald de Andrade na Revista de Antropogafia de São Paulo. No texto, o poeta fazia uma associação direta à palavra “antropofagia”, em referência aos rituais de canibalismo nos quais se pregava a crença de que após engolir a carne de uma pessoa seriam concedidos ao canibal todo o poder, conhecimentos e habilidades da pessoa devorada. “A ideia de Oswald de Andrade foi a de se alimentar de técnicas e influências de outros países – neste caso, principalmente a Europa colonizadora – e, a partir daí, fomentar o desenvolvimento de uma nova estética artística brasileira. Na atualidade, como aqui vemos, não está à sombra de uma herança e manifestações europeias, mas sim autônoma e autêntica miscigenada com elementos que compõem a Brasilidade dominada por cores, ritmos, formas e assimilação do díspar universo de linguagens e meios que a norteiam”, comenta Tereza de Arruda.

 

 

POESIA

 

 

A Semana de Arte Moderna e o movimento modernista em si pleitearam a independência linguística do português do Brasil do de Portugal. Os modernistas acreditavam que o português brasileiro haveria de ser cultuado e propagado como idioma nacional.

 

Neste núcleo, são exibidas obras de poesia concreta, poesia visual e apoderamento da arte escrita – a escrita como arte independente, a escrita como elemento visual autônomo, a escrita como abstração sonora – dos artistas André Azevedo, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, Floriano Romano, Júlio Plaza, Lenora de Barros, Rejane Cantoni e Shirley Paes Leme.

 

 

Lista completa de artistas

 

Adriana Varejão, Alex Flemming, André Azevedo, Anna Bella Geiger, Armarinhos Teixeira, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos/Júlio Plaza, Barrão, Berna Reale, Beatriz Milhazes, Camila Soato, Caetano Dias, Cildo Meireles, Daiara Tukano, Daniel Lie, Delson Uchôa, Ernesto Neto, Emmanuel Nassar, Fábio Baroli, Farnese de Andrade, Flávio Cerqueira, Floriano Romano, Francisco de Almeida, Ge Viana, Glauco Rodrigues, Gisele Camargo, Jaider Esbell, Joaquim Paiva, Jorge Bodansky, José De Quadros, José Rufino, Judith Lauand, Júlio Plaza, Lenora de Barros, Lina Bo Bardi, Lúcio Costa, Luiz Hermano, Luzia Simons, Márcia Xavier, Marlene Almeida, Maxwell Alexandre, Mira Schendel, Nelson Leirner, Oscar Niemeyer, Paulo Nazareth, Rejane Cantoni, Rodrigo Braga, Rosana Paulino, Rosilene Luduvico, Shirley Paes Leme e Tunga.

 

 

Sobre a curadora

 

 

Tereza de Arruda é mestre em História da Arte, formada pela Universidade Livre de Berlim. Vive desde 1989 entre São Paulo e Berlim. Em 2021 bolsista da Fundação Anna Polke em Colônia para pesquisa da obra de Sigmar Polke. Como curadora, colabora internacionalmente com diversas instituições e museus na realização de mostras coletivas ou monográficas, entre outras, em 2021, Art Sense Over Walls Away, Fundação Reinbeckhallen Berlin; Sergei Tchoban Futuristic Utopia or Reality, Kunsthalle Rostock; em 2019/2021, Chiharu Shiota linhas da vida, CCBB RJ-DF-SP; Chiharu Shiota linhas internas, Japan House; em 2018/2019, 50 anos de realismo – do fotorrealismo à realidade virtual, CCBB RJ-DF-SP; em 2018, Ilya e Emilia Kabakov Two Times, Kunsthalle Rostock; em 2017, Chiharu Shiota Under The Skin, Kunsthalle Rostock; Sigmar Polke Die Editionen, me collectors Room Berlin; Contraponto Acervo Sergio Carvalho, Museu da República DF; em 2015, InterAktion-Brasilien, Castelo Sacrow/Potsdam; Bill Viola na Bienal de Curitiba; Chiharu Shiota em busca do destino, SESC Pinheiros; em 2014, A arte que permanece, Acervo Chagas Freitas, Museu dos Correios DF-RJ; China Arte Brasil, OCA; em 2011, Sigmar Polke realismo capitalista e outras histórias ilustradas, MASP; India lado a lado, CCBB RJ-DF-SP e SESC; em 2010, Se não neste tempo, pintura contemporânea alemã 1989-2010, MASP. Desde 2016 é curadora associada da Kunsthalle Rostock. Curadora convidada e conselheira da Bienal de Havana desde 1997 e cocuradora da Bienal Internacional de Curitiba desde 2009.

 

 

VISITAÇÃO

 

 

O CCBB-Rio de Janeiro funciona de quarta a segunda (fecha terça), das 9h às 19h aos domingos, segundas e quartas e das 9h às 20h às quintas, sextas e sábados. A entrada do público é permitida apenas com agendamento online (eventim.com.br), o que possibilita manter um controle rígido da quantidade de pessoas no prédio. Ainda conta com fluxo único de circulação, medição de temperatura, uso obrigatório de máscara, disponibilização de álcool gel e sinalizadores no piso para o distanciamento.

 

 

 

Carlos Mélo na Galeria Kogan Amaro

16/ago

 

 

O artista multimídia Carlos Mélo reflete sobre o Nordeste em exposição inédita na Galeria Kogan Amaro. Obras em diferentes suportes utilizam-se de jogos de imagens e palavras para desmontar o estereótipo da região brasileira. As flexões semânticas são características marcantes no trabalho processual de Carlos Mélo. É a partir delas que o artista articula e ativa determinados assuntos, como a questão do lugar, especificamente o Agreste e o Nordeste, locais investigados pelo artista na exposição “Transes, rituais e substâncias”, cartaz da Galeria Kogan Amaro, Jardim Paulistano, São Paulo, SP.

 

 

Pinturas, fotografias, esculturas, desenhos e painel de neon são alguns dos suportes do conjunto de 16 obras inéditas exibidas na mostra. Em comum, elas buscam desfazer a ideia de nordeste, construindo um novo campo simbólico. “Todo meu trabalho artístico em torno das questões do nordeste tem como objetivo desmontar o estereótipo do Nordeste como o lugar com determinada comida, um sotaque determinado e com o chão rachado. A minha perspectiva é de uma região contemporânea, industrial e tecnológica, aonde as questões se dão a partir de uma realidade que não depende necessariamente da localização geográfica, mas sim de um campo simbólico.”, explica o artista.

 

 

Três esculturas têxtis da série “Overlock”, apontam para a forte produção da indústria de jeans no Agreste do Pernambuco. As obras são produzidas com diversos tecidos produzidos artesanalmente por uma cooperativa de costureiras que utilizam resíduos de fabricas de confecções. As esculturas criam uma forte referência às golas do maracatu, a mantos cerimoniais, e trazem uma reflexão em torno da modelagem e customização (paetês e spikes) das confecções de jeans na indústria no interior do estado.

 

 

Durante o período em que se aprofundava sobre a indústria têxtil, Carlos constatou o número crescente de motos com a finalidade de transporte de mercadoria, tanto no agreste, como no interior do Brasil, além do grande número de motoboys na cidade devido à pandemia. O resultado é a escultura com capacetes “Cascos”, produzidas com resíduos de capacetes em desuso pelos motoboys de Itu onde o artista residiu e coletou em cooperação com a Associação de Motoboys da cidade.

 

A série “Abismos” apresenta três autorretratos que carregam referências ao Nordeste. Em um deles, a figura com cabeça de carranca, cria uma forte relação com as mitologias do Rio São Francisco e seus projetos de transposição representado com a cabeça de uma carranca, em outro desenho o homem parece flutuar coberto de ossos bovinos carregando entres as mãos um ramalhete de flores, e a terceira imagem traz um corpo barroco onde é possível notar um conjunto de ossos, capacete e flores sobre parte do corpo vestido com uma calça jeans.

 

 

Uma série de fotografias e um backlight, advindos de uma performance de longa duração compõem a série “Sapukaia” (ave que grita ou galinha, no vocabulário tupi). Nela, o artista aparece vestido com um paletó em meio a uma paisagem com galinhas vivas sobre o seu corpo. “Os meus trabalhos artísticos ocorrem a partir do ritual e do transe. Eles surgem a partir da ativação deste lugar, deste território. No caso, este trabalho ativa novos campos simbolistas em meio ao impacto cultural e ambiental causado pela presença das indústrias na região.”, pontua Carlos Mélo.

 

 

Texto curatorial

 

 

Carlos Melo é uma invenção de si mesmo. Artista, humanista, escritor e poeta. Pernambucano, estudioso, de fala branda. Carlos é uma fera! Conquistou prêmios, bolsas e reconhecimentos públicos. Seu trabalho fala com as vísceras. Essa exposição revela uma parte da sua obra. Desenhos, pinturas, fotografias, esculturas, vídeos e performance. Tudo para nos fazer sentir o gosto da sua terra. Carlos incorpora mitos e tradições religiosas em sua poética visual. Retomando ritos e costumes dos povos originários. Carlos é um pesquisador e desbravador da nossa língua. Expandindo significados e interpretações. Carlos Melo é um artista completo. Dos pés a cabeça. Seu legado é uma esfinge. Tenho muito orgulho e admiração pelo seu trabalho e pela nossa amizade.

 

 

Marcos Amaro – julho de 2021

 

 

Sobre o artista

 

Riacho das Almas, Pernambuco – Brasil, 1969.
Carlos Mélo é um artista plástico brasileiro, nascido em Permanbuco, uma região formada por uma cultura complexa vista por várias nações africanas, algumas tribos indígenas e europeias de origem Moura. Seus trabalhos passam por vídeo, fotografia, desenhos, instalação, escultura e performance, em uma investigação do lugar que o corpo ocupa no mundo. Através de anagramas e ações de performance, o artista aborda imagens e palavras praticando o contorcionismo semântico. Busca convergir o corpo em situações de interação com o ambiente e imagens conceituais que sugerem que seja definido de forma relacional, operando simultaneamente um resgate de aspectos da formação cultural brasileira. Para Suely Rolnik, “a obra de Carlos demarca um território, ou melhor, o estabelece. Como nos animais, isso é feito por meio de dispositivos sempre ritualizados, que são, sobretudo, ritmos. No entanto, diferentemente dos animais. Aqui, o ritual e seu ritmo mudam constantemente; são inventados a cada vez, dependendo do ambiente em que são feitos e do campo problemático que procuram enfrentar, para isso o artista se instala na imanência do mundo, aos pés do real vivo, apenas apreensível pelo carinho.”

 

 

Idealizou e realizou a 1ª Bienal do Barro do Brasil, Caruaru (2014). Participou de exposições coletivas como a 3ª Bienal da Bahia, Salvador (2014); No Krannert Art Museum, Universidade de Illinois, Champaign, EUA. (2013); No Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife (2010 e 1999); No Itaú Cultural, São Paulo (2008, 2005, 2002 e 1999); Entre outras. Exposições individuais foram realizadas na Galeria 3 + 1, Lisboa, Portugal (2010); No Paço das Artes, São Paulo (2004); E na Fundação Joaquim Nabuco (Recife, Brasil, 2000). Foi vencedor do Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça de Artes Plásticas (2006). Vive e trabalha em Recife.

 

 

A Gentil Carioca em São Paulo

09/ago

 

No ano em que completa 18 anos, A Gentil Carioca expande suas atividades para São Paulo e inaugurou seu novo espaço expositivo numa charmosa vila localizada na Travessa Dona Paula, 108, Higienópolis.

 

 

A galeria chega na capital paulista com a coletiva Bum bum Paticundum Prugurundum, com Aleta Valente, Ana Linnemann, Arjan Martins, Cabelo, Ernesto Neto, Jarbas Lopes, João Modé, José Bento, Laura Lima, Marcela Cantuária, Maria Laet, Maria Nepomuceno, Maxwell Alexandre, OPAVIVARÁ!, Renata Lucas, Rodrigo Torres e Vivian Caccuri.

 

 

Bum bum Paticumbum Prugurundum é no corpo/espírito, no balanço, no equilíbrio. As obras dispostas no espaço de exposição entram numa rítmica temperança, distraem-se no espaço, sem um logos analítico, levadas na subjetividade do som do tambor que o título traz. Bum bum, a subjetividade dos sons, pa ti cum, o ritmo no entendimento do corpo/coração que bate tum tum, cum bum… gera temperança, ou excitação, acalma, serena, levanta, trabalha a alma, cura, repensa prugurundum.

 

“Bum bum Paticumbum Prugurundum

O nosso samba minha gente é isso aí, é isso aí” – Bum Bum Paticundum Prugurundum – Beto Sem Braço e Aluízio Machado

A exposição acontece no espaço físico da galeria com visitação de 10 de agosto a 09 de outubro.

 

Agende sua visita pelo email sampa@agentilcarioca.com.br
De terça à sexta, das 10h às 19h e sábado das 10h às 18h.

 

 

Reverenciando Nise da Silveira

27/jul

 

A médica Nise da Silveira revolucionou – no Brasil – o tratamento de pessoas com transtornos psiquiátricos. E o CCBB RJ apresenta uma mostra com o trabalho desenvolvido pela psiquiatra que uniu ciência e arte.

 

 

A exposição “Nise da Silveira – A Revolução Pelo Afeto” encontra-se em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, Centro, até 16 de agosto. É uma chance de conhecer com mais profundidade a atuação inédita da doutora Nise da Silveira.

 

A mostra ocupa três salas, reunindo cerca de 90 obras de clientes do Museu de Imagens do Inconsciente, ao lado de peças criadas por importantes nomes da arte nacional que dialogam com o universo da doutora Nise da Silveira. São trabalhos de Lygia Clark, Zé Carlos Garcia e Alice Brill, além de vídeos de Leon Hirzsman, Tiago Sant’Ana, entre outros.

 

 

Série “Brujas” no Galpão

07/jul

 

A Fortes D’Aloia & Gabriel apresenta no Galpão, São Paulo, SP, “Brujas”, a nova exposição individual de Nuno Ramos. “Brujas” toma um único gesto repetido infinitas vezes como elemento central em trabalhos que mesclam conceitualmente desenho e monotipia. São 25 obras feitas com carvão, pigmento, grafite e tinta óleo sobre papel, que ocupam sequencialmente o espaço, como em uma galeria de retratos.

 

 Composições cromáticas, luminosidade e uma cadência na intensidade do gesto definem a identidade individual de cada trabalho e também sua filiação em subgrupos. As passagens gradativas fazem da instalação das 25 obras um conjunto cuidadosamente orquestrado. A prática da monotipia está no cerne da fatura, mas Ramos desenha no avesso do papel. A superfície é atravessada pela ponta que desenha e a matéria que se acumula. O pó interage e negocia seu espaço com os poros do papel determinando o resultado final, sem o total controle do artista. “A superfície do País está totalmente tomada pela discursividade fátua, maluca, louca, mentirosa, violenta, e parece que temos que atravessar essa camada e encontrar uma porosidade que permita pegar uma coisa mais verdadeira, mais amorosa, mais interessante”, diz o próprio.

 

 

 Bruxas – aqui em espanhol “Brujas” – faz referência ao pintor espanhol Francisco de Goya, que usou imagens de bruxas como uma crítica social contemporânea.  Em pinturas e gravuras, do final do século XVIII, os seus trabalhos ligados ao tema viam a bruxaria – a partir da Inquisição – como uma lembrança perene dos perigos e males da religiosidade extrema. Nas palavras de Nuno Ramos: “é uma evocação e um chamado de uma potência que não é dispensável agora. É como se a gente precisasse de forças para reagir e lutar de volta contra o que está acontecendo”. As obras que integram a mostra lidam com incertezas e uma necessidade incontestável de mudança.

 

 

 A exposição é acompanhada de um texto crítico do pesquisador, professor e curador Diego Matos.

 

 

Sobre o artista

 

Nuno Ramos nasceu em São Paulo em 1960, onde vive e trabalha. Suas exposições individuais recentes incluem: A extinção é para sempre, Sesc São Paulo (São Paulo, 2021); Sol a pino, Fortes D’Aloia & Gabriel | Galeria (São Paulo, 2019); O Direito à Preguiça, CCBB (Belo Horizonte, 2016); O Globo da Morte de Tudo, em parceria com Eduardo Climachauska, SESC Pompéia (São Paulo, 2016); HOUYHNHNMS, Estação Pinacoteca (São Paulo, 2015); Ensaio Sobre a Dádiva, Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre, 2014); Anjo e Boneco, Museu Oscar Niemeyer (Curitiba, 2013); Fruto Estranho, MAM Rio (Rio de Janeiro, 2010). Destacam-se ainda suas participações na Bienal de São Paulo (2010, 1994, 1989 e 1985) e na Bienal de Veneza (1995). Em 2019, a editora Todavia publicou “Verifique se o mesmo”, uma nova compilação que agrupa textos escritos entre 2008 e 2017, alguns já publicados em jornais e revistas, outros inéditos. Seu livro, “Junco”, lançado em 2011 pela editora Iluminuras, ganhou o Prêmio Portugal Telecom de Literatura na categoria Poesia. Em 2008, ganhou o Prêmio Portugal Telecom de melhor livro do ano com “Ó”, também publicado pela Iluminuras.