Exposição Coletiva Diadorim

01/jul

A NONADA SP, Praça da Bandeira, Centro, São Paulo, SP, exibe até 21 de agosto a mostra  coletiva “DIADORIM”, sob curadoria de Guilherme Teixeira reunindo 17 artistas em torno de 19 obras que exploram temas como corpo, inadequação, pertencimento e gênero, utilizando diversas técnicas e suportes, incluindo pintura, escultura, fotografia, desenho, objetos, videoarte, performance e instalações, atualizando questões conceituais do clássico “Grande Sertão: Veredas” de João Guimarães Rosa, obra da qual a galeria retirou seu nome e conceito. A exibição permanecerá em cartaz até 31 de agosto.

Diadorim, um personagem que se veste como homem para acompanhar os cangaceiros e proteger-se, traz à tona discussões contemporâneas sobre construção de gênero e performance social. Esta narrativa literária oferece um ponto de partida para a reflexão sobre identidades de gênero e seus desdobramentos na sociedade atual.

Guilherme Teixeira, o curador, é reconhecido por seu trabalho que atravessa temas de identidade, sexualidade e pertencimento. A seleção de um grupo diversificado de artistas possibilitou a exibição de suas próprias perspectivas e experiências para o evento. Esta abordagem pluralista permite uma ampla gama de interpretações e provocações sobre as temáticas abordadas. Andre Barion, Andy Villela, Ana Matheus Abbade, Ana Raylander Martís dos Anjos, Amorí, Bruno Magliari, Rafaela Kennedy, Santarosa, Juno, Ode, Diambe, Daniel Mello, Domingos de Barros Octaviano, Linga Acácio, Flow Kontouriotis, Wisrah C. V. da Celestino e Nati Canto trazem uma diversidade de estilos e abordagens. A pluralidade de técnicas e temas reflete o compromisso da NONADA em proporcionar um espaço para a diversidade artística e cultural.

NONADA, cujo nome deriva de um neologismo criado por João Guimarães Rosa, tem como missão preencher lacunas na cena artística contemporânea, promovendo um espaço inclusivo e de experimentação. Seus fundadores, João Paulo, Ludwig, Luiz e Paulo, destacam que a NONADA é um espaço híbrido que acolhe, expõe e dialoga, oferecendo uma plataforma para trabalhos de alta qualidade que abordam temas políticos, identitários e de gênero, entre outros.

Por dentro da paisagem

A exposição coletiva de arte cubana com Alejandro Lloret, Alexis Iglesias e J. Pável Herrera está em cartaz no Instituto Cervantes de São Paulo.

O Instituto Cervantes de São Paulo, Avenida Paulista, inaugurou a exposição “Por dentro da paisagem”, com pinturas e desenhos que mostram manifestações da arte cubana contemporânea, rica em simbolismo e reflexão, tem revelado uma tendência na ressignificação da paisagem e dos objetos do cotidiano através de um olhar singular dos artistas insulares. Na mostra, Alejandro Lloret (1957) Alexis Iglesias (1968), e J. Pável Herrera (1979) se destacam neste movimento, cada um trazendo uma perspectiva única e profunda sobre os espaços da paisagem e suas possibilidades significativas.

Com suas abordagens distintas, os três artistas convergem em uma visão que transcende o mero aspecto visual das paisagens. Eles convidam o espectador a uma contemplação mais profunda, onde cada espaço vazio, cada recorte da paisagem e cada objeto abandonado revelam histórias ocultas e significados transcendentais. Através de suas obras, nos oferecem uma ressignificação do olhar, uma oportunidade de enxergar o mundo com uma percepção mais aguçada, sensível e atemporal, conectando o material ao imaterial e o cotidiano ao permanente.

Exposição no Instituto Ling

26/jun

 

A inauguração da exposição “Livro Verde” exibição individual de Michel Zózimo no Instituto Ling, Bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS, será no dia 02 de julho, terça-feira, às 19h, com bate-papo entre o artista, a curadora e o público. A mostra permanecerá em cartaz até 11 de outubro.

Livro Verde – Michel Zózimo

O que separa a cobra do tronco? O focinho da trufa? O cheiro da chuva? O pelo do gato? O canto do pássaro? A pedra do frio? O gosto da uva? A raiz da terra? O bico da fruta? A maçã do pavão? A língua da formiga? A semente do abacate? A jaca do céu? O mel da abelha? O rato dos restos? A orelha da rã? A gralha do galho? O verme do vivo? O rio do silêncio? O caju da lágrima nordestina?

A exposição “Livro verde”, de Michel Zózimo, reúne um conjunto de 15 desenhos e uma grande colagem feita a partir de recortes de toda sorte de animais, retirados de antigas enciclopédias naturalistas. Estes trabalhos encontram-se expostos no ambiente, e os desenhos, reproduzidos em um livro de artista de mesmo nome, também disponível na exposição. Há tempos intrigado pelas imagens que os livros de ciências naturais criam para as coisas, Zózimo vem desenvolvendo um conjunto de trabalhos que se relacionam intimamente com o universo das enciclopédias. A verve classificadora que animou intelectuais desde a antiguidade, tanto na tradição ocidental quanto na oriental, buscava circunscrever as fronteiras dos fenômenos e dos seres, isolando o máximo possível suas singularidades. Em direção oposta, a literatura, a arte, as narrativas míticas descortinam a porção arbitrária das divisões e a permeabilidade dos contrários.

O desenho abismal de Michel Zózimo engendra um espaço antes do tempo, onde um animal habita o outro, um olho de cavalo sai de uma folha, um sorriso surge no escuro da mata.  Feitos em lápis aquarela e nanquim sobre papel algodão, construídos mediante um processo de densidades de pontilhados, nuances cromáticas, padronagens diversas de acordo com a pele das coisas, esses trabalhos parecem vindos do avesso de um livro raro, onde o desenho não se separa da mão que o fez, e o olho que vê é o corpo inteiro.

Gabriela Motta – Curadora

Sobre a curadora

Gabriela Kremer Motta nasceu em Pelotas (1975). É pesquisadora, crítica, curadora em artes visuais e professora adjunta no Departamento de Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – DAV-UFRGS. Desenvolveu sua pesquisa de pós-doutorado junto ao PPGAV – UFPEL, na qual propunha a criação de vinhetas radiofônicas sobre arte contemporânea aproximando as noções de performance e curadoria. Como curadora, realizou projetos em diversas instituições, tais como Instituto Ling, Fundação Iberê Camargo, MACRS, MAC Niterói, Itaú Cultural e SESC Santa Catarina, entre outras. Também teve artigos publicados em livros, catálogos e anais. Atualmente, desenvolve o projeto de pesquisa Documentação como preservação – a arte contemporânea no museu.

Sobre o artista

Michel Zózimo nasceu em Santa Maria (1977) e vive e trabalha em Porto Alegre. É doutor em Artes Visuais pelo IA da UFRGS e professor do Colégio de Aplicação da UFRGS. Ele tem dois livros publicados através de Prêmios de Incentivo à Produção Crítica da FUNARTE e, em 2011, recebeu o Prêmio Residência Artística do PECCSP no Hangar, em Barcelona. Entre suas principais mostras estão o Programa de Exposições do Centro Cultural de São Paulo (2010); Rumos Artes Visuais (Itaú Cultural, SP, 2011); Temporada de Projetos Paço das Artes (SP, 2012); 9ª Bienal do Mercosul (Memorial do Rio Grande do Sul, 2013); Festival Vídeo Brasil (SESC São Paulo, 2014); Soft Cover Revolution (Fundación Arte Vivo Otero Herrera, Madri, 2015); RS XXI (Santander Cultural, Porto Alegre, 2017); e 36º Panorama da Arte Brasileira (MAM-SP, 2019). Em 2021, realizou a individual O nome vem depois, com curadoria de Lilia Schwarcz, na Sé Galeria, e, em 2023, participou do Artist-in-residence Programm des Salzburger Kunstvereins, produzindo a publicação de artista BERG.

Mostra de Carlos Scliar e Cildo Meireles

24/jun

A Casa Museu Carlos Scliar, Cabo Frio, RJ, completa 20 anos com exposição imersiva que reúne até 25 de junho de 2025, obras de Carlos Scliar e Cildo Meireles.

Para marcar os 20 anos da Casa Museu Carlos Scliar, será inaugurada no dia 29 de junho de 2024, a exposição “Os Artivistas: Carlos Scliar e Cildo Meireles”, que une, pela primeira vez, a obra desses dois importantes artistas. “O Scliar foi fundamental na minha vida”, afirma Cildo Meireles sobre o amigo falecido em 2001. Com curadoria de Cristina Ventura, coordenadora da casa museu, serão apresentadas cerca de trinta obras, sendo algumas inéditas, que cobrem um período que vai desde a década de 1940 até 2021. Completam a mostra obras participativas, inspiradas nos trabalhos dos dois artistas. A exposição, que terá entrada gratuita até o final do mês de agosto, é apresentada pelo Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro através da Lei Paulo Gustavo.

“A ideia é provocar no espectador um convite á reflexão, instigada pela atualidade das questões tratadas pelos artistas em suas obras. Temas como: crimes de estado, meio ambiente, guerra, valor monetário, entre outros. Nosso propósito é que a pessoa pense sobre o seu papel no mundo de hoje”, diz a curadora Cristina Ventura.

As obras de Cildo Meireles e Carlos Scliar serão expostas juntas, como uma grande instalação, sem seguir uma ordem cronológica. São pinturas, desenhos, colagens, estudos, gravuras, objetos e vídeos. De Cildo, estarão as notas “Zero Dólar” (1984) e “Zero Cruzeiro” (1978), a instalação sonora “Rio Oir” (2011), o vídeo “15 segundos” (2021), em homenagem a Marielle Franco, entre outras obras. De Scliar, destacam-se os desenhos “Levante do Gueto de Varsóvia” (1957) e “SOS” (1989), além de desenhos e estudos, alguns inéditos, que tratam de temas como a cultura afro-brasileira e o holocausto. “Sou um grande admirador dos desenhos do Scliar, acho que ele era um desenhista dos mais talentosos do Brasil, verdadeiramente sensível”, afirma Cildo Meireles.

Na mostra, estará, ainda, a matriz da capa da Revista Horizonte, feita por Scliar em 1952, onde se lê: “Assine Apelo Paz”. “A Segunda Guerra Mundial o marcou muito, Scliar foi pracinha, atuou como cabo de artilharia. No período pós-guerra participa ativamente de movimentos a exemplo o Congresso pela Paz ocorrido na antiga Tchecoslováquia, a mensagem trazida na obra é fundamental”, diz a curadora. Uma reprodução tátil desta matriz fará parte da exposição para que o visitante possa manuseá-la. Também estará na exposição um texto inédito do artista, da década de 1980, narrado pela cantora e compositora Marina Lima. No documento, Scliar expressa sua indignação e cansaço diante da nossa construção histórica. A artista cresceu vendo obras de Scliar, colecionadas por seu pai, segundo Marina, “…uma imagem afetiva que nunca esqueço”. A gravação foi feita especialmente para a exposição.

Com trajetórias diversas, Carlos Scliar e Cildo Meireles se conheceram em 1966. “A partir do nosso primeiro encontro, onde mostrei meus desenhos, ele se interessou em mostrar esses trabalhos para alguns colecionadores e a partir daí praticamente me financiou. Sempre foi uma pessoa de uma generosidade muito grande, não só no meu caso, mas também com outros artistas jovens que estavam iniciando. Ele era uma pessoa de um entusiasmo intrínseco, estava sempre incentivando, sempre apoiando”, conta Cildo Meireles. Os dois foram muito amigos durante toda a vida e, em diversos momentos, tratam de questões similares em seus trabalhos, como no período da Ditadura militar. Outras questões também convergem na produção dos dois: a icônica obra “Zero Dólar”, de Cildo Meireles, traz a imagem do Tio Sam, personagem que aparece sobrevoando a Amazônia com asas pretas, como se fosse um urubu, na obra “SOS”, de Carlos Scliar.

Percurso da exposição

A mostra começa com uma linha do tempo sobre Carlos Scliar (1920-2001) e chega-se ao jardim, onde está a grande escultura “Volumes Virtuais”, de Cildo Meireles, doada em 2022 para a Casa Museu. Com seis metros de altura, é a primeira escultura da série feita em metal.  Ainda no pátio, estarão trechos do projeto inédito do painel em mosaico projetado para o Brasília Palace, em 1957, a pedido de Oscar Niemeyer (1907-2012), que nunca chegou a ser executado. A obra traz uma homenagem à cultura afro-brasileira, com elementos da religiosidade africana.

Na sala menor, próxima ao jardim, haverá uma grande caixa em perspectiva, inspirada nas famosas caixas criadas por Scliar, onde o público poderá entrar. Nela, estarão matérias de jornais onde o artista alertava para questões ambientais, trazendo manchetes como “A indignação do pintor”, fazendo um contraponto com o que está acontecendo hoje. “Em muitos momentos, Scliar aproveita o espaço na mídia não para falar de sua obra, mas sim para advertir sobre a forma destrutiva que tratamos nosso habitat. As matérias são atuais, as proporções é que são mais desastrosas”, ressalta a curadora. Ainda dentro da caixa haverá imagens do projeto educativo “Meu lugar, meu patrimônio”, onde adolescentes da rede pública de ensino de Cabo Frio e região, falam sobre questões ambientais, em consonância com a fala de Scliar na década de 1980 e o cenário atual.

Na antessala do salão principal estarão dois jogos interativos, um ilustrado com a obra de Carlos Scliar e outro Cildo Meireles, e a reprodução tátil da obra “Assine Apelo Paz”. Seguindo, chega-se à sala principal, onde estarão as cerca de trinta obras dos dois artistas, montadas como uma grande instalação, ambientada pela escultura sonora “Rio Oir”, de Cildo Meireles, na qual o artista coleta o som de algumas das principais bacias hidrográficas brasileiras, gravadas em vinil. Neste mesmo espaço estará o vídeo “15 Segundos”, no qual a vereadora Marielle Franco (1978-2018) é homenageada. Na mesma sala, haverá obras que destacam a atuação de Carlos Scliar na área gráfica, junto à redação das revistas culturais Horizonte (1950 a 1956) e na criação da revista Senhor (1959 a 1960), além de trabalhos do período da Ditadura militar, que trazem frases como: “pergunte quem”, “urgente”, “pense” e “leia-pense”, além do texto da década de 1980 narrado pela cantora e compositora Marina Lima. “A ideia é que o visitante entre num espaço que o absorva em vários aspectos, seja pelo som da água, seja pelo que está sendo visto ou pelo que não está sendo visto – haverá uma vitrola girando sem disco, denotando ausência, desconforto”, diz Cristina Ventura.

Na sala de cinema haverá a projeção de dois filmes: um de Carlos Scliar falando sobre o compromisso das pessoas com as questões do nosso planeta e outro de Cildo Meireles contando como conheceu Carlos Scliar e sua relação com ele. Para completar a experiência, no segundo andar da Casa Museu está a exposição permanente, onde se pode ver o ateliê de Carlos Scliar, que permanece exatamente como ele deixou.

Sobre a Casa Museu Carlos Scliar

O Instituto Cultural Carlos Scliar (ICCS) foi criado em 2001, mesmo ano da morte de seu patrono. O processo para criação da instituição foi acompanhado pelo artista, um acordo que fez com o filho Francisco Scliar para manter sua memória. Fundada por Francisco Scliar junto com os amigos: Cildo Meireles, Thereza Miranda, Anna Letycia, Regina Lamenza, Eunice Scliar, entre outros conselheiros, a instituição, aberta ao público em 2004, está sediada na casa/ateliê do pintor, em Cabo Frio, Rio de Janeiro. Trata-se de um sobrado oitocentista, com cerca de 1000m², adquirido em ruínas por Carlos Scliar, reformado em 1965 para abrigar seu ateliê e ampliado na década de 1970, com projeto de Zanine Caldas. A casa mantém a ambientação dos espaços deixada por Carlos Scliar, com seus objetos pessoais, acervo documental, bibliográfico, gravuras, desenhos e obras. A coleção resulta da produção do próprio artista ao longo de sua vida, somado a uma expressiva e representativa coleção de obras originais dos mais importantes artistas do cenário brasileiro do século XX, os amigos José Pancetti, Djanira, Di Cavalcanti, Aldo Bonadei, Cildo Meireles, entre outros, além de cerca de 10 mil documentos datados desde a década de 1930. Reforçando seu compromisso sociocultural, ao longo dos últimos três anos foram atendidos mais de 1000 estudantes do Estado do Rio de Janeiro, em projetos educativos. Em 2023, a instituição foi agraciada com o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação Museal, promovido pelo IBRAM.

Calder e Miró no Instituto Tomie Ohtake

21/jun

Com mais de 150 obras, Calder+Miró retoma a ligação entre os trabalhos de Alexander Calder e Joan Miró – assim como os desdobramentos dessa amizade na cena artística brasileira. “Calder+Miró” é uma exposição que reúne dois artistas incontornáveis para quem quer pensar com sensibilidade nos caminhos da arte moderna.

Ocupando quase todos os espaços expositivos do Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, até 15 de Setembro, a mostra contempla a amizade entre um dos principais escultores modernos e um dos mais famosos pintores surrealistas: o escultor norte-americano Alexander Calder (1898-1976) e o catalão Joan Miró (1893-1983). Os dois foram, cada um em sua trajetória, embaixadores da ideia de que a abstração poderia ser um canteiro aberto de experimentação dinâmica, permeado pelos modos de criação intuitivos, de artistas circenses, da mecânica e da poesia.

Com curadoria de Max Perlingeiro, acompanhado pelas pesquisas de Paulo Venâncio Filho, Roberta Saraiva e Valéria Lamego, a mostra traz cerca de 150 peças – entre pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, móbiles, stabiles, maquetes, edições, fotografias e jóias.

Acompanhando todo o período expositivo de Calder+Miró, o Instituto Tomie Ohtake oferece uma programação pública inteiramente gratuita e destinada a públicos diversos. Instigadas pelas obras e pelos processos criativos dos artistas, as diferentes atividades incluirão jogos e ativações lúdicas, oficinas práticas – como de desenho de observação em movimento e de construção de móbiles -, uma programação voltada à exploração sonora das obras, bem como cursos e rodas de conversa que exploram temas como a relação entre vanguarda brasileira e a abstração, o encontro entre a Arquitetura e artes visuais no Brasil, e a produção de artistas contemporâneos. Ainda, o Instituto promoverá uma série de ações voltadas especialmente à educação, oferecendo uma programação de abertura para professores da rede pública, um ciclo de conversas que discutirá a intersecção entre arte e educação, além das visitas mediadas e visitas ateliês oferecidas à escolas e outras instituições.

Ecos Nacionais

Uma seleção de trabalhos de nomes consagrados e influenciados direta ou indiretamente pelas produções de Calder e Miró – incluindo Tomie Ohtake – será colocada em diálogo com as obras dos dois artistas. Entram aí obras de Abraham Palatnik, Aluísio Carvão, Antonio Bandeira, Arthur Luiz Piza, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Ione Saldanha, Ivan Serpa, Mary Vieira, Milton Dacosta, Mira Schendel, Oscar Niemeyer, Sérvulo Esmeraldo e Waldemar Cordeiro.

No Brasil, as obras de Calder e Miró apresentam importantes desdobramentos nos debates estéticos e produções artísticas que, a partir da década de 1940, passaram a pautar a abstração de maneira mais enfática. A relevância das contribuições desses artistas no contexto nacional se mostra, ainda, na larga presença de seus trabalhos em coleções brasileiras – para esta exposição, todas as obras apresentadas são provenientes de coleções públicas e privadas do Brasil.

Claudio Goulart na nova Galeria Zielinsky

17/jun

“Fragmentos da memória” é a segunda individual póstuma de Claudio Goulart no Brasil e a primeira realizada em São Paulo, na Galeria Zielinsky, Higienópolis, onde permanecerá em cartaz até 27 de julho. Com a intenção de resgatar a trajetória e a obra do artista, a mostra propõe um olhar atento à sua produção que, mesmo com projeção internacional, é pouco conhecido no cenário brasileiro. A exposição parte da íntima relação de Claudio Goulart com a memória, temática que atravessa suas criações e se faz presente em imagens apropriadas e de referências históricas, bem como em fragmentos de paisagens por onde passou e habitou. Com curadoria de Fernanda Soares da Rosa, pesquisadora e doutoranda em Artes Visuais (PPGAV-UFRGS), a mostra é uma parceria com a Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS que, desde 2015, é a responsável pela salvaguarda do acervo do artista.

Sobre o artista

Nascido em Porto Alegre em 1954 e radicado em Amsterdã desde meados dos anos 1970, Claudio Goulart emergiu como uma figura proeminente no cenário artístico holandês. Sua presença foi marcada por uma atuação intensa, dedicando-se à concepção e realização de projetos em instituições locais, como a Time Based Arts e a Other Books and So. Além disso, sua obra foi reconhecida internacionalmente, com participações em numerosas exposições individuais e coletivas em diversos países ao redor do mundo. Desde Portugal, Espanha, França, Alemanha, Bélgica, Suíça, Inglaterra e Croácia até destinos como Islândia, Cuba, Costa Rica, México, Japão e China, transcendeu fronteiras geográficas através de seus trabalhos. Colaborando com uma rede direcionada de artistas latino-americanos e europeus, Claudio Goulart criou obras em parceria com nomes, dentre outros, como Vera Chaves Barcellos, Flavio Pons, Paulo Bruscky, Ulises Carrión, Aart van Barneveld, Raul Marroquin e David Garcia.

Na Raquel Arnaud SP

14/jun

A Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta até 10 de Agosto, duas exposições com jovens expoentes da arte contemporânea brasileira.  Trata-se da exibição coletiva “Em Mãos” que promove um diálogo entre seis artistas, com curadoria de Ana Roman e Marina Schiesari. Já “Deslocamentos”, é a nova mostra individual de Frida Baranek, com curadoria de Ana Carolina Ralston. As mostras dão continuidade ao legado de renovação estética buscada por Raquel Arnaud ao longo de décadas.

Parte da programação dos 50 anos da instituição paulistana, “Em Mãos” mostra 30 obras de seis jovens artistas contemporâneos. A proposta é trazer um diálogo entre as obras de artistas representados pela galeria – Carla Chaim, Carlos Nunes e João Trevisan – e convidadas: Ana Takenaka, iah bahia e Nathalie Ventura.

“O gesto e sua interação com os jogos de aparição e desaparecimento na esfera dos objetos e das formas são explorados por estes artistas participantes, que, por meio de diversas abordagens, dedicam-se a transformações: elementos visuais e literários surgem para logo se dissolverem”, destaca a curadora Ana Roman. Entre os temas, destacam-se a representação do tempo no mundo contemporâneo veloz, assim como as questões ambientais e experimentações de cor, luz e sombras.

Com três pinturas a óleo, João Trevisan evoca lugares introspectivos realizando uma jornada interior. Depois do sucesso da individual “O Dorso do Tigre”, no início de 2024, o artista apresenta um recorte de seu universo silencioso com “Em Mãos”. Seus trabalhos noturnos mostram a interação entre a tinta a óleo e a porosidade do linho, evidenciando as camadas de tinta que dão densidade às atmosferas. Uma busca pelo sublime pode ser vista em pinturas como “Sinto o Suor Escorrer”. João Trevisan reflete sobre o vazio, o tempo e a luz, convidando o espectador ao meditativo.

“Em mãos” também mostra uma artista dedicada à experimentação: Carla Chaim, que aborda o desenho em uma variedade de formas, incluindo mídias virtuais, tridimensionais e instalativas. Os trabalhos de Carla Chaim revelam o próprio processo de criação, unindo elementos dicotômicos como regras estritas e movimentos físicos naturais.

Já iah bahia apresenta uma intrigante interação entre corpos moles e o espaço, evocando figuras de Lygia Clark e dos neoconcretos. Sua habilidade em alojar esses corpos suspensos evoca também figuras fantasmas, elevando a forma invisível para uma atmosfera volumosa, caso da obra da série “outras frequências”, em papel pardo. “iah bahia forma um gesto quase mágico, encantado”, pontua a curadora.

Buscando inspiração nas pequenas coisas do cotidiano, como objetos simples e a luz, Carlos Nunes revela os processos de esgotamento da matéria. Ele estabelece procedimentos para testar hipóteses sobre a criação do universo, como na obra “Big Bang”. Em “Em Mãos” ele mostra o impacto da luz solar através dos papéis manteiga coloridos, evocando práticas elementares da física em suas obras. Este flerte com o mundo natural também pode ser visto na obra de Nathalie Ventura, que faz justaposições entre ferro e rocha, e explora a turmalina e o carvão. A artista constrói pequenas paisagens com elementos distintos, matérias faturadas para pensar o antropoceno. “Nathalie Ventura dialoga com a discussão ambiental, tema onipresente e urgente”, coloca Ana Roman.

O filosofo francês Jean-Luc Nancy dizia que todas as coisas do mundo podem se encostar, mas elas não se encostam, pois sempre existe um espaço entre elas: inbetween. E é neste lugar, inbetween, que reside o trabalho de Ana Takenaka. Em processos manuais sobre matérias muito delicadas, como o papel japonês, a artista desenvolve gravuras que vão se tornando outra coisa, em um pensamento muito aproximado ao de Mira Schendel, que é uma referência, mas, ao mesmo tempo, a especificidade do trabalho de Ana Takenaka é de não ocupar totalmente a superfície pictórica. Ao preencher o desenho em lugares específicos, a artista explora o espaço entre a superfície que ela se apropria enquanto desenho e a superfície vazia. O trabalho dela recai sobre esse lugar de pensar os espaços “entre”. Como destaca Ana Roman, “Nesta exposição propomos investigar o lugar do gesto e a sua importância e posição dentro da arte. E no trabalho da Ana Takenaka isso se coloca de uma forma muito presente e visível”.

A exposição “Em Mãos” não apenas destaca a diversidade e a inovação características da Galeria Raquel Arnaud, como também traz ao público discussões contemporâneas, políticas e ecológicas que pautam artistas emergentes. Com obras que variam de escultura e instalação a trabalhos em papel e pinturas a óleo, o diálogo temático construído entre os seis jovens artistas transpassa as barreiras das limitações estruturais e materiais.

Já a individual da artista carioca radicada em Portugal Frida Baranek é uma ode ao movimento. “Deslocamentos”, o título da exposição, nomeia também duas esculturas inéditas da mostra, em que a artista trabalha com acrílico e madeira. “É a primeira vez que a artista mostra este estudo tridimensional na galeria”, ressalta a curadora Ana Carolina Ralston. Frida Baranek é uma artista que vem trabalhando com escultura, – tendo estabelecido uma relação formal entre essas técnicas. Em sua obra, Frida Baranek utiliza materiais industriais, como ferro e aço, em contraste com elementos naturais, como pedra e madeira, revelando a contradição entre a impessoalidade da matéria e a delicadeza. “Frida propõe novos formatos. A fluidez com que transita com seu corpo pelo espaço físico aparece na polpa e água que compõem os papéis, fio-condutor da mostra.”, destaca a curadora. Centrada na questão da materialidade do mundo, base da arte contemporânea, Frida Baranek ressignifica objetos ordinários coletados ao longo dos anos. Onde compõe e transforma estes fragmentos em obras de arte. É notável como suas esculturas são marcadas por estruturas que lembram redemoinhos e emaranhados, explorando temas de equilíbrio e desequilíbrio. Em toda obra da artista, a versatilidade é uma característica forte. Seus trabalhos podem assumir diferentes formas em cada espaço. Esta inquietação de Frida Baranek reverencia seus mestres, os escultores João Carlos Goldberg e Tunga. No caso de “Deslocamentos”, o papel está no cerne da exposição. “Nesta mostra, todas as obras têm a celulose. Pode ser em madeira, como parte da matéria prima, ou mesmo no papel. Ela traz o deslocamento pelas figuras geométricas, essa busca de encaixe que, na verdade, nunca acontece. Mas fica a sensação de que pode acontecer.”, destaca a curadora. “Deslocamentos” se relaciona com o encaixe e desencaixe da artista em convenções sociais e momentos artísticos. “Frida Baranek sempre trabalhou em fios emaranhados, essa confusão do material é comum em sua obra: vem do material geometrizado, das formas mais simples e descomplicadas. A complexidade do não encaixe, do objetivo final, é o deslocamento da artista em sua trajetória. É uma artista em movimento”, ressalta a curadora.

Sobre a Galeria Raquel Arnaud

Criada em 1973, com o nome de Gabinete de Artes Gráficas. Com espaços marcantes assinados por arquitetos como Lina Bo Bardi, Ruy Ohtake e Felippe Crescenti, o Gabinete passou por diferentes endereços, como as avenidas Nove de Julho e Brigadeiro Luís Antônio, além do espaço que havia pertencido ao Subdistrito Comercial de Arte, na rua Artur de Azevedo, em Pinheiros, no qual permaneceu de 1992 a 2011. O foco no segmento da abstração geométrica e a atenção especial dada às investigações da arte contemporânea – arte construtiva e cinética, instalações, esculturas, pinturas, desenhos e objetos – perpetuaram a Galeria Raquel Arnaud no Brasil e no exterior, tanto por sua coerência como pela contribuição singular para valorização e consolidação da arte brasileira. Para isso, contribuíram de forma fundamental artistas como Amilcar de Castro, Willys de Castro, Lygia Clark, Mira Schendel, Sergio Camargo, Hércules Barsotti, Waltercio Caldas, Iole de Freitas e Arthur Luiz Piza, entre outros. Atualmente com sede na rua Fidalga, 125, Vila Madalena, a Galeria Raquel Arnaud representa artistas reconhecidos nacional e internacionalmente – Waltercio Caldas, Carlos Cruz-Díez, Arthur Luiz Piza, Sérvulo Esmeraldo, Iole de Freitas, Maria Carmen Perlingeiro, Carlos Zilio e Tuneu. Os mais jovens atestam a consolidação de novas linguagens contemporâneas – Frida Baranek, Geórgia Kyriakakis, Daniel Feingold, Julio Villani, Célia Euvaldo, Wolfram Ullrich, Elizabeth Jobim, Carla Chaim, Carlos Nunes e Ding Musa, Raquel Arnaud também fundou o Instituto de Arte Contemporânea (IAC) em 1997, a única instituição no Brasil que cataloga documentação de artistas.

A arte de Tadáskia

13/jun

Ave preta mística de Tadáskía alça voo e chega ao MoMA de Nova York

Uma vigorosa composição de desenhos coloridos em movimentos expansivos, que tomou as paredes de uma sala circular na edição da Bienal de São Paulo no ano passado, ganhou um novo pano de fundo em exposição no Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova York. A obra ave preta mística mystical black bird (2022), da artista carioca Tadáskía (1993), foi recentemente adquirida pela instituição nova iorquina, uma das mais relevantes dedicadas à arte moderna e contemporânea no mundo.

Muitas vezes localizada entre as canônicas definições formais abstrato e figurativo, a prática artística de Tadáskía não cabe somente nesse tipo de parâmetro. A tenuidade evocada pela artista ao produzir é encontrada também em uma dança entre o visível e invisível, o místico e o mundano, o inteligível e o indecifrável. Formada em Artes Visuais e Licenciatura pela UERJ (2012-2016) e mestra em Educação pela UFRJ (2019-2021), a artista já realizou individuais em São Paulo, Lisboa e Barcelona, e participou de coletivas em Amsterdam, Marselha e Nova York, além de sua cidade natal, Rio de Janeiro. A obra ave preta mística mystical black bird (2022) é composta por 61 páginas soltas de um livro bilíngue, com uma poética que se materializa em desenho e escrita. Quando exposta, é acompanhada por desenhos expandidos – e intuitivos – que envolvem o ambiente no qual é instalada. Em proposição site-specific – criada especialmente para cada ambiente expositivo -, os desenhos feitos com carvão e pastel seco adaptam-se ao espaço e surgem a partir de uma relação criada entre o corpo da artista com o espaço.

Na 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível, Tadáskía também incluiu um grupo de esculturas feitas de bambu, palha e taboa, postas em bases circulares e acompanhadas de elementos como frutas, cascas de ovos costurados e pintados, e pó facial. Segundo declaração da artista, “a ave preta mística é uma população negra reunida além do tempo-espaço conhecido. Livre interpretação de Sankofa, um pássaro preto olhando para trás com um ovo em seu bico. Mística, a ave preta se transforma, tal como na ampliação de seus voos, nos mostrando um desejo incansável de liberdade”. Em participação no Em obras, podcast produzido pela Bienal de São Paulo, a artista relatou como o processo de produção do desenho nas paredes da Bienal exigiu de forma intensa uma entrega do seu corpo ao longo de 15 dias. Sem um projeto prévio para ocupar a sala circular, a artista se entregou a um processo orgânico, sem um ponto de partida e chegada pré-definido, desenhando de olhos fechados em muitos momentos, o que ela chama de “desenho cega”, buscando um estado meditativo e aberto ao inesperado.

Projects: Tadáskía

A aquisição da obra de Tadáskía para o acervo do MoMA é seguida por sua exibição a partir do The Elaine Dannheisser Projects Series, um programa criado pela instituição em 1971 com o intuito de apresentar artistas contemporâneos em ascensão. Atualmente, o projeto acontece em parceria com o the Studio Museum in Harlem, iniciativa que tem como missão o suporte e difusão de artistas afrodescendentes. À frente do the Studio Museum, a Diretora e Curadora Chefe Thelma Golden celebra a presença de Tadáskía enquanto representante da arte brasileira no exterior: “há e sempre houve uma arte incrível vindo do Brasil e estou emocionada que Tadáskía, com seus desenhos e esculturas imaginativas, irá transpor esse dinamismo criativo e fundamentá-lo em uma instalação site-specific para o espaço de projetos do MoMA. Esta colaboração especial é uma oportunidade notável para defender uma voz emergente na arte contemporânea e promove o compromisso do the Studio Museum com artistas de ascendência africana em todo o mundo. Sou infinitamente grata a Glenn Lowry e ao Museum of Modern Art pela parceria, que durante cinco anos garantiu a continuação do trabalho fundamental do the Studio Museum”. Com sua primeira exposição individual ocorrendo em Nova York, Tadáskía se junta a Ernesto Neto, Lygia Clark, Roberto Burle Marx e Tarsila do Amaral, o seleto grupo de artistas brasileiros que já tiveram suas obras expostas em individuais no museu. Em comunicado à imprensa, a artista revela a sensação de estar apresentando sua obra em Nova York: “é como se eu tivesse em um desenho animado, indo para uma terra estrangeira em que nunca estive e realizando um sonho de expor em um dos maiores e mais importantes museus do mundo, o MoMA”.

A relação com a ideia de estrangeiro está fortemente presente nas pesquisas da artista que, a partir de elementos familiares e íntimos, elabora sobre a diáspora negra. Artista negra e trans, Tadáskía utiliza as linguagens do desenho, fotografia, instalação e matéria têxtil, para desdobrar uma poética que dança nas esferas micro e macro, partindo muitas vezes de elementos particulares e íntimos, como sua família, todavia com capacidade de abordar questões mais amplas e coletivas.  Tanto nos poemas e desenhos presentes no livro, como nas esculturas e na instalação site-specific, os conceitos de mudança e efemeridade pavimentam a poética de Tadáskía. A múltipla narrativa em torno da ave preta mística, por exemplo, acompanha as mudanças vividas pela ave, seja pela influência de outras aves em convívio, seja através de adornos por ela utilizados, e sua forma, que se aproxima de outros elementos como estrelas e montanhas. Com uma visão bem resolvida sobre a importância do erro no processo artístico, bem como uma relação menos impositiva com as expectativas de finalização da obra, Tadáskía abre espaço para deixar fluir o pensamento em ação. Seus desenhos e materiais orgânicos escolhidos refletem um estado de espírito buscado pela artista.

Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.

A projeção de um mundo feminino

20/maio

A arte de Pietrina Checcacci ganhará exibição na Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, a partir de 28 de Maio e até 20 de Julho com apresentação e curadoria assinada por Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto

Carnação | Pietrina Checcacci
Tornar carne. Simular a pele humana. Um corpo que cria outro corpo. Pietrina Checcacci dedica-se ao longo de 60 anos de carreira artística a esse espaço de provocação e conquista. Entre a pintura e a escultura, a projeção de um feminino de detalhes, paisagens e cosmos – a matriz da existência. Esta exposição reúne obras de diferentes períodos de sua criação para instigar olhares frescos para uma produção que segue ativa e vibrante.
Pietrina nasceu em 1941 na Itália e com treze anos se mudou para o Rio de Janeiro. Na conturbada década de 1960, integrou-se ao cenário cultural, participou dos principais salões e mostras ao lado de contemporâneos como Rubens Gerchman, Claudio Tozzi e Ivan Freitas, e desenvolveu pinturas com forte influência da pop americana e da denúncia política que marcou a produção daquela geração de artistas.
Nos anos 1970, o corpo feminino assumiu o  protagonismo em suas telas. Neste período no Brasil, entre o exílio e a tortura, o corpo representava o primeiro espaço da manifestação política, frágil pela insegurança e forte pela capacidade de resistência. Além de Pietrina, essa pulsão se manifestou nas obras de diversos artistas dessa época, como em Anna Bella Geiger (Viscerais), Antonio Manuel (O corpo é a obra), Letícia Parente (Made in Brazil), Arthur Barrio (Livro de Carne), entre tantos outros. Mas diferente de artistas que partiram para a exploração de novas mídias, Checcacci manteve-se fiel à imagem e às técnicas tradicionais. Num caminho adjacente às guerrilhas artísticas do cenário, suas investigações estéticas no campo da pintura e do desenho levaram-na a desenvolver uma identidade visual própria que trazia do pop, a apropriação da imagem, e do Kitsch a assimilação de visualidades e linguagens na popularização destas imagens.
“Ao nível da linguagem, Kitsch e vanguarda encontram seus mais importantes pontos de contacto naquilo que tem de processo primitivo, básico, de crítica e criação de signos – um ao nível do consumo e outra a nível da produção.” Décio Pignatari em Informação. Linguagem. Comunicação
Numa postura audaciosa para o mercado brasileiro, Pietrina manteve uma relação mais íntima com o público do que com a crítica de arte, quase sempre impregnada de historicismos e conceitualizações. Sua produção, a partir da década de 1970, reflete estratégias de ação que apostavam na popularização como ferramenta democrática de acesso à arte e de questionamento do papel da mulher na sociedade, sem, no entanto, abandonar a importância do fazer artístico. Na pintura, através de grande habilidade técnica, Checcacci desenvolveu imagens de forte apelo visual que são como jogos para o olhar. Numa visão do corpo como signo cósmico da vida, a artista passou a utilizar a imagem como ferramenta de propagação de provocações, submetendo-as à experiencia primeira do olhar para o belo. “Minhas telas são como um anzol” – afirma.
“A operação metafísica que se liga ao rito antropofágico é a da transformação do tabu em totem. Do valor oposto, ao valor favorável. Nesse devorar que ameaça a cada minuto a existência humana, cabe ao homem totemizar o tabu.” Oswald de Andrade em “A Crise da filosofia messiânica”.
Nas esculturas e nas gravuras, Checcacci investiu na massificação. Entre as noções do design e da “arte condominial”, esta faceta de sua produção busca preencher a vida cotidiana com a experiência artística, tarefa levada a frente por diversos artistas de sua geração que encaravam a arte como meio de democratização, como Carlos Scliar, Glauco Rodrigues e Theresa Miranda. Se o pop americano questionou a sociedade das massas e o kitsch representou a ressignificação de padrões estéticos e plásticos, Pietrina representa um exemplo brasileiro de fricção entre estas vertentes, que encontrou nas cores vibrantes, no desenho de comunicação rápida e na malícia subliminar o caminho para questionar o local do desejo, do corpo e do prazer feminino em nossa sociedade.
A criação de um repertório de imagens autorreferenciadas conecta sua produção às outras artistas que encararam o universo da mulher como espaço de reflexão, como Wanda Pimentel, Wilma Martins, Marília Kranz e posteriormente Nazareth Pacheco, Cristina Salgado e Ana Miguel. As pernas viram paisagens; a exuberante rosa, o sexo feminino e a pele é revelada entre pelos/espinhos. Em suas produções mais recentes, sob o título de “Eu por Eu mesma”, a artista apresenta corpos retorcidos, tensionados e velados que perguntam: Carnes enlouquecidas, me contem porque existo?

Esta mostra tem como principal objetivo fisgar o olhar do espectador para a força criativa de Pietrina Checcacci ao longo de seus 60 anos de carreira. Como no auto retrato aqui apresentado, o corpo se revela como princípio e fim – aventura orgástica do olhar.
Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto

Comemorando o primeiro ano

O Ateliê 31, Cinelândia, Centro, Rio de Janeiro, RJ, comemora um ano de atuação com a exposição coletiva “Como Será o Amanhã”, com a participação de 14 artistas contemporâneos que ocuparam o espaço neste primeiro ano. São eles: Andrea Antonon, Beto Fame Camile Soares, Cecília Maraújos, Cibelle Arcanjo, Cibele Nogueira, Elisa Maciel, Karin Cagy, Lucia Meneghini, Maria Pitú, Noah Scherner, Paloma Carvalho, Renan Andrade e Séan Savage Ferrari.

Com curadoria de Shannon Botelho, a mostra convida o público a refletir sobre o presente como ponto de partida para moldar o futuro, resgatando memórias e inspirando novas perspectivas sobre o que está por vir, com obras em pinturas, desenhos e gravuras.

Até 15 de Junho.