Claudio Goulart na nova Galeria Zielinsky

17/jun

“Fragmentos da memória” é a segunda individual póstuma de Claudio Goulart no Brasil e a primeira realizada em São Paulo, na Galeria Zielinsky, Higienópolis, onde permanecerá em cartaz até 27 de julho. Com a intenção de resgatar a trajetória e a obra do artista, a mostra propõe um olhar atento à sua produção que, mesmo com projeção internacional, é pouco conhecido no cenário brasileiro. A exposição parte da íntima relação de Claudio Goulart com a memória, temática que atravessa suas criações e se faz presente em imagens apropriadas e de referências históricas, bem como em fragmentos de paisagens por onde passou e habitou. Com curadoria de Fernanda Soares da Rosa, pesquisadora e doutoranda em Artes Visuais (PPGAV-UFRGS), a mostra é uma parceria com a Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS que, desde 2015, é a responsável pela salvaguarda do acervo do artista.

Sobre o artista

Nascido em Porto Alegre em 1954 e radicado em Amsterdã desde meados dos anos 1970, Claudio Goulart emergiu como uma figura proeminente no cenário artístico holandês. Sua presença foi marcada por uma atuação intensa, dedicando-se à concepção e realização de projetos em instituições locais, como a Time Based Arts e a Other Books and So. Além disso, sua obra foi reconhecida internacionalmente, com participações em numerosas exposições individuais e coletivas em diversos países ao redor do mundo. Desde Portugal, Espanha, França, Alemanha, Bélgica, Suíça, Inglaterra e Croácia até destinos como Islândia, Cuba, Costa Rica, México, Japão e China, transcendeu fronteiras geográficas através de seus trabalhos. Colaborando com uma rede direcionada de artistas latino-americanos e europeus, Claudio Goulart criou obras em parceria com nomes, dentre outros, como Vera Chaves Barcellos, Flavio Pons, Paulo Bruscky, Ulises Carrión, Aart van Barneveld, Raul Marroquin e David Garcia.

Na Raquel Arnaud SP

14/jun

A Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta até 10 de Agosto, duas exposições com jovens expoentes da arte contemporânea brasileira.  Trata-se da exibição coletiva “Em Mãos” que promove um diálogo entre seis artistas, com curadoria de Ana Roman e Marina Schiesari. Já “Deslocamentos”, é a nova mostra individual de Frida Baranek, com curadoria de Ana Carolina Ralston. As mostras dão continuidade ao legado de renovação estética buscada por Raquel Arnaud ao longo de décadas.

Parte da programação dos 50 anos da instituição paulistana, “Em Mãos” mostra 30 obras de seis jovens artistas contemporâneos. A proposta é trazer um diálogo entre as obras de artistas representados pela galeria – Carla Chaim, Carlos Nunes e João Trevisan – e convidadas: Ana Takenaka, iah bahia e Nathalie Ventura.

“O gesto e sua interação com os jogos de aparição e desaparecimento na esfera dos objetos e das formas são explorados por estes artistas participantes, que, por meio de diversas abordagens, dedicam-se a transformações: elementos visuais e literários surgem para logo se dissolverem”, destaca a curadora Ana Roman. Entre os temas, destacam-se a representação do tempo no mundo contemporâneo veloz, assim como as questões ambientais e experimentações de cor, luz e sombras.

Com três pinturas a óleo, João Trevisan evoca lugares introspectivos realizando uma jornada interior. Depois do sucesso da individual “O Dorso do Tigre”, no início de 2024, o artista apresenta um recorte de seu universo silencioso com “Em Mãos”. Seus trabalhos noturnos mostram a interação entre a tinta a óleo e a porosidade do linho, evidenciando as camadas de tinta que dão densidade às atmosferas. Uma busca pelo sublime pode ser vista em pinturas como “Sinto o Suor Escorrer”. João Trevisan reflete sobre o vazio, o tempo e a luz, convidando o espectador ao meditativo.

“Em mãos” também mostra uma artista dedicada à experimentação: Carla Chaim, que aborda o desenho em uma variedade de formas, incluindo mídias virtuais, tridimensionais e instalativas. Os trabalhos de Carla Chaim revelam o próprio processo de criação, unindo elementos dicotômicos como regras estritas e movimentos físicos naturais.

Já iah bahia apresenta uma intrigante interação entre corpos moles e o espaço, evocando figuras de Lygia Clark e dos neoconcretos. Sua habilidade em alojar esses corpos suspensos evoca também figuras fantasmas, elevando a forma invisível para uma atmosfera volumosa, caso da obra da série “outras frequências”, em papel pardo. “iah bahia forma um gesto quase mágico, encantado”, pontua a curadora.

Buscando inspiração nas pequenas coisas do cotidiano, como objetos simples e a luz, Carlos Nunes revela os processos de esgotamento da matéria. Ele estabelece procedimentos para testar hipóteses sobre a criação do universo, como na obra “Big Bang”. Em “Em Mãos” ele mostra o impacto da luz solar através dos papéis manteiga coloridos, evocando práticas elementares da física em suas obras. Este flerte com o mundo natural também pode ser visto na obra de Nathalie Ventura, que faz justaposições entre ferro e rocha, e explora a turmalina e o carvão. A artista constrói pequenas paisagens com elementos distintos, matérias faturadas para pensar o antropoceno. “Nathalie Ventura dialoga com a discussão ambiental, tema onipresente e urgente”, coloca Ana Roman.

O filosofo francês Jean-Luc Nancy dizia que todas as coisas do mundo podem se encostar, mas elas não se encostam, pois sempre existe um espaço entre elas: inbetween. E é neste lugar, inbetween, que reside o trabalho de Ana Takenaka. Em processos manuais sobre matérias muito delicadas, como o papel japonês, a artista desenvolve gravuras que vão se tornando outra coisa, em um pensamento muito aproximado ao de Mira Schendel, que é uma referência, mas, ao mesmo tempo, a especificidade do trabalho de Ana Takenaka é de não ocupar totalmente a superfície pictórica. Ao preencher o desenho em lugares específicos, a artista explora o espaço entre a superfície que ela se apropria enquanto desenho e a superfície vazia. O trabalho dela recai sobre esse lugar de pensar os espaços “entre”. Como destaca Ana Roman, “Nesta exposição propomos investigar o lugar do gesto e a sua importância e posição dentro da arte. E no trabalho da Ana Takenaka isso se coloca de uma forma muito presente e visível”.

A exposição “Em Mãos” não apenas destaca a diversidade e a inovação características da Galeria Raquel Arnaud, como também traz ao público discussões contemporâneas, políticas e ecológicas que pautam artistas emergentes. Com obras que variam de escultura e instalação a trabalhos em papel e pinturas a óleo, o diálogo temático construído entre os seis jovens artistas transpassa as barreiras das limitações estruturais e materiais.

Já a individual da artista carioca radicada em Portugal Frida Baranek é uma ode ao movimento. “Deslocamentos”, o título da exposição, nomeia também duas esculturas inéditas da mostra, em que a artista trabalha com acrílico e madeira. “É a primeira vez que a artista mostra este estudo tridimensional na galeria”, ressalta a curadora Ana Carolina Ralston. Frida Baranek é uma artista que vem trabalhando com escultura, – tendo estabelecido uma relação formal entre essas técnicas. Em sua obra, Frida Baranek utiliza materiais industriais, como ferro e aço, em contraste com elementos naturais, como pedra e madeira, revelando a contradição entre a impessoalidade da matéria e a delicadeza. “Frida propõe novos formatos. A fluidez com que transita com seu corpo pelo espaço físico aparece na polpa e água que compõem os papéis, fio-condutor da mostra.”, destaca a curadora. Centrada na questão da materialidade do mundo, base da arte contemporânea, Frida Baranek ressignifica objetos ordinários coletados ao longo dos anos. Onde compõe e transforma estes fragmentos em obras de arte. É notável como suas esculturas são marcadas por estruturas que lembram redemoinhos e emaranhados, explorando temas de equilíbrio e desequilíbrio. Em toda obra da artista, a versatilidade é uma característica forte. Seus trabalhos podem assumir diferentes formas em cada espaço. Esta inquietação de Frida Baranek reverencia seus mestres, os escultores João Carlos Goldberg e Tunga. No caso de “Deslocamentos”, o papel está no cerne da exposição. “Nesta mostra, todas as obras têm a celulose. Pode ser em madeira, como parte da matéria prima, ou mesmo no papel. Ela traz o deslocamento pelas figuras geométricas, essa busca de encaixe que, na verdade, nunca acontece. Mas fica a sensação de que pode acontecer.”, destaca a curadora. “Deslocamentos” se relaciona com o encaixe e desencaixe da artista em convenções sociais e momentos artísticos. “Frida Baranek sempre trabalhou em fios emaranhados, essa confusão do material é comum em sua obra: vem do material geometrizado, das formas mais simples e descomplicadas. A complexidade do não encaixe, do objetivo final, é o deslocamento da artista em sua trajetória. É uma artista em movimento”, ressalta a curadora.

Sobre a Galeria Raquel Arnaud

Criada em 1973, com o nome de Gabinete de Artes Gráficas. Com espaços marcantes assinados por arquitetos como Lina Bo Bardi, Ruy Ohtake e Felippe Crescenti, o Gabinete passou por diferentes endereços, como as avenidas Nove de Julho e Brigadeiro Luís Antônio, além do espaço que havia pertencido ao Subdistrito Comercial de Arte, na rua Artur de Azevedo, em Pinheiros, no qual permaneceu de 1992 a 2011. O foco no segmento da abstração geométrica e a atenção especial dada às investigações da arte contemporânea – arte construtiva e cinética, instalações, esculturas, pinturas, desenhos e objetos – perpetuaram a Galeria Raquel Arnaud no Brasil e no exterior, tanto por sua coerência como pela contribuição singular para valorização e consolidação da arte brasileira. Para isso, contribuíram de forma fundamental artistas como Amilcar de Castro, Willys de Castro, Lygia Clark, Mira Schendel, Sergio Camargo, Hércules Barsotti, Waltercio Caldas, Iole de Freitas e Arthur Luiz Piza, entre outros. Atualmente com sede na rua Fidalga, 125, Vila Madalena, a Galeria Raquel Arnaud representa artistas reconhecidos nacional e internacionalmente – Waltercio Caldas, Carlos Cruz-Díez, Arthur Luiz Piza, Sérvulo Esmeraldo, Iole de Freitas, Maria Carmen Perlingeiro, Carlos Zilio e Tuneu. Os mais jovens atestam a consolidação de novas linguagens contemporâneas – Frida Baranek, Geórgia Kyriakakis, Daniel Feingold, Julio Villani, Célia Euvaldo, Wolfram Ullrich, Elizabeth Jobim, Carla Chaim, Carlos Nunes e Ding Musa, Raquel Arnaud também fundou o Instituto de Arte Contemporânea (IAC) em 1997, a única instituição no Brasil que cataloga documentação de artistas.

A arte de Tadáskia

13/jun

Ave preta mística de Tadáskía alça voo e chega ao MoMA de Nova York

Uma vigorosa composição de desenhos coloridos em movimentos expansivos, que tomou as paredes de uma sala circular na edição da Bienal de São Paulo no ano passado, ganhou um novo pano de fundo em exposição no Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova York. A obra ave preta mística mystical black bird (2022), da artista carioca Tadáskía (1993), foi recentemente adquirida pela instituição nova iorquina, uma das mais relevantes dedicadas à arte moderna e contemporânea no mundo.

Muitas vezes localizada entre as canônicas definições formais abstrato e figurativo, a prática artística de Tadáskía não cabe somente nesse tipo de parâmetro. A tenuidade evocada pela artista ao produzir é encontrada também em uma dança entre o visível e invisível, o místico e o mundano, o inteligível e o indecifrável. Formada em Artes Visuais e Licenciatura pela UERJ (2012-2016) e mestra em Educação pela UFRJ (2019-2021), a artista já realizou individuais em São Paulo, Lisboa e Barcelona, e participou de coletivas em Amsterdam, Marselha e Nova York, além de sua cidade natal, Rio de Janeiro. A obra ave preta mística mystical black bird (2022) é composta por 61 páginas soltas de um livro bilíngue, com uma poética que se materializa em desenho e escrita. Quando exposta, é acompanhada por desenhos expandidos – e intuitivos – que envolvem o ambiente no qual é instalada. Em proposição site-specific – criada especialmente para cada ambiente expositivo -, os desenhos feitos com carvão e pastel seco adaptam-se ao espaço e surgem a partir de uma relação criada entre o corpo da artista com o espaço.

Na 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível, Tadáskía também incluiu um grupo de esculturas feitas de bambu, palha e taboa, postas em bases circulares e acompanhadas de elementos como frutas, cascas de ovos costurados e pintados, e pó facial. Segundo declaração da artista, “a ave preta mística é uma população negra reunida além do tempo-espaço conhecido. Livre interpretação de Sankofa, um pássaro preto olhando para trás com um ovo em seu bico. Mística, a ave preta se transforma, tal como na ampliação de seus voos, nos mostrando um desejo incansável de liberdade”. Em participação no Em obras, podcast produzido pela Bienal de São Paulo, a artista relatou como o processo de produção do desenho nas paredes da Bienal exigiu de forma intensa uma entrega do seu corpo ao longo de 15 dias. Sem um projeto prévio para ocupar a sala circular, a artista se entregou a um processo orgânico, sem um ponto de partida e chegada pré-definido, desenhando de olhos fechados em muitos momentos, o que ela chama de “desenho cega”, buscando um estado meditativo e aberto ao inesperado.

Projects: Tadáskía

A aquisição da obra de Tadáskía para o acervo do MoMA é seguida por sua exibição a partir do The Elaine Dannheisser Projects Series, um programa criado pela instituição em 1971 com o intuito de apresentar artistas contemporâneos em ascensão. Atualmente, o projeto acontece em parceria com o the Studio Museum in Harlem, iniciativa que tem como missão o suporte e difusão de artistas afrodescendentes. À frente do the Studio Museum, a Diretora e Curadora Chefe Thelma Golden celebra a presença de Tadáskía enquanto representante da arte brasileira no exterior: “há e sempre houve uma arte incrível vindo do Brasil e estou emocionada que Tadáskía, com seus desenhos e esculturas imaginativas, irá transpor esse dinamismo criativo e fundamentá-lo em uma instalação site-specific para o espaço de projetos do MoMA. Esta colaboração especial é uma oportunidade notável para defender uma voz emergente na arte contemporânea e promove o compromisso do the Studio Museum com artistas de ascendência africana em todo o mundo. Sou infinitamente grata a Glenn Lowry e ao Museum of Modern Art pela parceria, que durante cinco anos garantiu a continuação do trabalho fundamental do the Studio Museum”. Com sua primeira exposição individual ocorrendo em Nova York, Tadáskía se junta a Ernesto Neto, Lygia Clark, Roberto Burle Marx e Tarsila do Amaral, o seleto grupo de artistas brasileiros que já tiveram suas obras expostas em individuais no museu. Em comunicado à imprensa, a artista revela a sensação de estar apresentando sua obra em Nova York: “é como se eu tivesse em um desenho animado, indo para uma terra estrangeira em que nunca estive e realizando um sonho de expor em um dos maiores e mais importantes museus do mundo, o MoMA”.

A relação com a ideia de estrangeiro está fortemente presente nas pesquisas da artista que, a partir de elementos familiares e íntimos, elabora sobre a diáspora negra. Artista negra e trans, Tadáskía utiliza as linguagens do desenho, fotografia, instalação e matéria têxtil, para desdobrar uma poética que dança nas esferas micro e macro, partindo muitas vezes de elementos particulares e íntimos, como sua família, todavia com capacidade de abordar questões mais amplas e coletivas.  Tanto nos poemas e desenhos presentes no livro, como nas esculturas e na instalação site-specific, os conceitos de mudança e efemeridade pavimentam a poética de Tadáskía. A múltipla narrativa em torno da ave preta mística, por exemplo, acompanha as mudanças vividas pela ave, seja pela influência de outras aves em convívio, seja através de adornos por ela utilizados, e sua forma, que se aproxima de outros elementos como estrelas e montanhas. Com uma visão bem resolvida sobre a importância do erro no processo artístico, bem como uma relação menos impositiva com as expectativas de finalização da obra, Tadáskía abre espaço para deixar fluir o pensamento em ação. Seus desenhos e materiais orgânicos escolhidos refletem um estado de espírito buscado pela artista.

Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.

A projeção de um mundo feminino

20/maio

A arte de Pietrina Checcacci ganhará exibição na Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, a partir de 28 de Maio e até 20 de Julho com apresentação e curadoria assinada por Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto

Carnação | Pietrina Checcacci
Tornar carne. Simular a pele humana. Um corpo que cria outro corpo. Pietrina Checcacci dedica-se ao longo de 60 anos de carreira artística a esse espaço de provocação e conquista. Entre a pintura e a escultura, a projeção de um feminino de detalhes, paisagens e cosmos – a matriz da existência. Esta exposição reúne obras de diferentes períodos de sua criação para instigar olhares frescos para uma produção que segue ativa e vibrante.
Pietrina nasceu em 1941 na Itália e com treze anos se mudou para o Rio de Janeiro. Na conturbada década de 1960, integrou-se ao cenário cultural, participou dos principais salões e mostras ao lado de contemporâneos como Rubens Gerchman, Claudio Tozzi e Ivan Freitas, e desenvolveu pinturas com forte influência da pop americana e da denúncia política que marcou a produção daquela geração de artistas.
Nos anos 1970, o corpo feminino assumiu o  protagonismo em suas telas. Neste período no Brasil, entre o exílio e a tortura, o corpo representava o primeiro espaço da manifestação política, frágil pela insegurança e forte pela capacidade de resistência. Além de Pietrina, essa pulsão se manifestou nas obras de diversos artistas dessa época, como em Anna Bella Geiger (Viscerais), Antonio Manuel (O corpo é a obra), Letícia Parente (Made in Brazil), Arthur Barrio (Livro de Carne), entre tantos outros. Mas diferente de artistas que partiram para a exploração de novas mídias, Checcacci manteve-se fiel à imagem e às técnicas tradicionais. Num caminho adjacente às guerrilhas artísticas do cenário, suas investigações estéticas no campo da pintura e do desenho levaram-na a desenvolver uma identidade visual própria que trazia do pop, a apropriação da imagem, e do Kitsch a assimilação de visualidades e linguagens na popularização destas imagens.
“Ao nível da linguagem, Kitsch e vanguarda encontram seus mais importantes pontos de contacto naquilo que tem de processo primitivo, básico, de crítica e criação de signos – um ao nível do consumo e outra a nível da produção.” Décio Pignatari em Informação. Linguagem. Comunicação
Numa postura audaciosa para o mercado brasileiro, Pietrina manteve uma relação mais íntima com o público do que com a crítica de arte, quase sempre impregnada de historicismos e conceitualizações. Sua produção, a partir da década de 1970, reflete estratégias de ação que apostavam na popularização como ferramenta democrática de acesso à arte e de questionamento do papel da mulher na sociedade, sem, no entanto, abandonar a importância do fazer artístico. Na pintura, através de grande habilidade técnica, Checcacci desenvolveu imagens de forte apelo visual que são como jogos para o olhar. Numa visão do corpo como signo cósmico da vida, a artista passou a utilizar a imagem como ferramenta de propagação de provocações, submetendo-as à experiencia primeira do olhar para o belo. “Minhas telas são como um anzol” – afirma.
“A operação metafísica que se liga ao rito antropofágico é a da transformação do tabu em totem. Do valor oposto, ao valor favorável. Nesse devorar que ameaça a cada minuto a existência humana, cabe ao homem totemizar o tabu.” Oswald de Andrade em “A Crise da filosofia messiânica”.
Nas esculturas e nas gravuras, Checcacci investiu na massificação. Entre as noções do design e da “arte condominial”, esta faceta de sua produção busca preencher a vida cotidiana com a experiência artística, tarefa levada a frente por diversos artistas de sua geração que encaravam a arte como meio de democratização, como Carlos Scliar, Glauco Rodrigues e Theresa Miranda. Se o pop americano questionou a sociedade das massas e o kitsch representou a ressignificação de padrões estéticos e plásticos, Pietrina representa um exemplo brasileiro de fricção entre estas vertentes, que encontrou nas cores vibrantes, no desenho de comunicação rápida e na malícia subliminar o caminho para questionar o local do desejo, do corpo e do prazer feminino em nossa sociedade.
A criação de um repertório de imagens autorreferenciadas conecta sua produção às outras artistas que encararam o universo da mulher como espaço de reflexão, como Wanda Pimentel, Wilma Martins, Marília Kranz e posteriormente Nazareth Pacheco, Cristina Salgado e Ana Miguel. As pernas viram paisagens; a exuberante rosa, o sexo feminino e a pele é revelada entre pelos/espinhos. Em suas produções mais recentes, sob o título de “Eu por Eu mesma”, a artista apresenta corpos retorcidos, tensionados e velados que perguntam: Carnes enlouquecidas, me contem porque existo?

Esta mostra tem como principal objetivo fisgar o olhar do espectador para a força criativa de Pietrina Checcacci ao longo de seus 60 anos de carreira. Como no auto retrato aqui apresentado, o corpo se revela como princípio e fim – aventura orgástica do olhar.
Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto

Comemorando o primeiro ano

O Ateliê 31, Cinelândia, Centro, Rio de Janeiro, RJ, comemora um ano de atuação com a exposição coletiva “Como Será o Amanhã”, com a participação de 14 artistas contemporâneos que ocuparam o espaço neste primeiro ano. São eles: Andrea Antonon, Beto Fame Camile Soares, Cecília Maraújos, Cibelle Arcanjo, Cibele Nogueira, Elisa Maciel, Karin Cagy, Lucia Meneghini, Maria Pitú, Noah Scherner, Paloma Carvalho, Renan Andrade e Séan Savage Ferrari.

Com curadoria de Shannon Botelho, a mostra convida o público a refletir sobre o presente como ponto de partida para moldar o futuro, resgatando memórias e inspirando novas perspectivas sobre o que está por vir, com obras em pinturas, desenhos e gravuras.

Até 15 de Junho.

Celebrando a arte de Poty

17/abr

Os 100 anos de Poty Lazzarotto estão sendo celebrados com três exposições inéditas em Curitiba. O centenário foi no dia 29 de março. No Museu Oscar Niemeyer (MON), uma mostra com aproximadamente 500 obras do artista, nome relevante na produção artística paranaense e brasileira, o público pode esperar um recorte das principais temáticas do Poty, como relata a curadora Maria José Justino. A iniciativa vem da doação de mais de 4,5 mil peças do desenhista para o museu, em 2022. Segundo a diretora-presidente, Juliana Vosnika, a mostra é uma das mais grandiosas da instituição.

Com o apoio institucional do MON, a Caixa Cultural inaugurou uma exposição com gravuras do artista que conversam com a arte digital. Além das obras originais, a mostra conta com vídeos, hologramas, uma experiência imersiva em óculos 3D e um documentário inédito, a curadoria é de Juliane Fuganti.

No Museu Municipal de Arte (MuMA) também está em cartaz uma exposição com 100 trabalhos de Poty, distribuídos entre ilustrações, gravuras e um busto em bronze.

“Trilhos e Traços – Poty 100 anos”, no MON, Sala 6

“Poty Expandido”, na Caixa Cultural Curitiba, Galeria do 2º andar

“Poty de Curitiba, Curitiba de Poty”, no MuMA.

Em cartaz até janeiro de 2025,

Exposições simultâneas no Recipiente Porongo

15/abr

O Centro Cultural Recipiente Porongo, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, inaugura dia 19 com duas exposições simultâneas: “Brotar”, coletiva com curadoria de Shannon Botelho com a participação de 30 artistas da cena contemporânea atual. São eles: Aline MacCord, Amador e Jr. Segurança Patrimonial Ltda, Ana Klaus, Camile Soares, Cibele Nogueira, Cibelle Arcanjo, Edu Monteiro, Eloá Carvalho, Fernanda Sattamini, Gabriela Noujaim, Hugo Houayek, Ju Morais, Julia Arbex, Karin Cagy, Kika Diniz, Luanda, Marcelo Monteiro, Mariana Guimarães, Maria Baigur, Maria Palmeiro, Paloma Carvalho, Patrizia D’Angello, Rafael Adorján, Rafael Prado, Rafa Diås, Raul Leal, Stefanie Ferraz, Thadeu Dias, Ursula Tautz, Vanessa Freitag e “Perspectivas para além da visão”, exibição individual de Michele Martines com curadoria de Renata Santini.

Três exposições simultâneas

09/abr

No dia 17 de abril, o Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura três exposições simultâneas: “Transmutação: alquimia e resistência”, da artista Marcela Cantuária, um dos nomes de maior destaque da cena de artes visuais da atualidade; “Davuls de Salé”, de Cadu, com a colaboração de Adriano Motta, Maneno Juárez e Virgilio Bahde, e “bassa danza”, de Nathan Braga. Em cartaz até 07 de julho.

Sobre Marcela Cantuária

Destaque da cena de artes visuais da atualidade, Marcela Cantuária apresentará a exposição “Transmutação: alquimia e resistência”, com obras recentes e inéditas. Com curadoria de Aldones Nino e assistência curatorial de Andressa Rocha, a mostra terá cerca de 20 obras da artista, que há cinco anos não faz uma exposição individual no Rio de Janeiro. No dia da abertura, às 17h, será realizada uma visita guiada com Marcela Cantuária e Andressa Rocha. “Cantuária não se limita a pintar; ela conjura, diariamente engajando-se em uma prática que se assemelha à magia, capaz de remodelar a realidade, redefinir narrativas e transformar perspectivas. Como uma alquimista contemporânea, cada tela age como um encantamento, um chamado à reflexão e à transformação. Ela propõe uma reinvenção constante da criação artística, estabelecendo conexões entre múltiplas temporalidades”, afirmam os curadores no texto que acompanha a exposição. “A exposição vai abordar diversos momentos da minha trajetória, desde onde a minha pintura começa, até onde estou neste momento”, conta a artista.

Dentre as obras inéditas, estão duas pinturas de “Mátria Livre”, pesquisa que a artista desenvolve há oito anos, elaborando, por meio de um vocabulário plástico-formal, narrativas sobre como reencantar figuras femininas de luta contra o capital, o colonialismo e o patriarcado. A espinha dorsal da série consiste em reverenciar aquelas que construíram e disputaram espaços na política, lutando com teoria e prática. As novas pinturas trazem a poeta grega Safo, que viveu na ilha de Lesbos, e Marleide Vieira, militante do MST de Pernambuco, assassinada no ano passado pelo marido ao pedir o divórcio. “Represento mulheres que inspiram ações, trazendo a minha perspectiva, mostrando principalmente a força feminina. São imagens de mulheres que, na maioria dos casos, existem ou existiram enquanto lutadoras. É como criar um panteão dessas mulheres, lugar de merecimento e de imortalidade também”, afirma a artista. Além das pinturas, estará em destaque na exposição a obra “A grande benéfica” (2021), um autorretrato, pintado sobre biombo, medindo 1,80m X 1,80m. “Será uma imagem ícone da exposição. Essa obra fala muito da relação que eu tenho com o tarô, fiz uma releitura da carta dois de copas, que representa o romance, e da carta do mundo, que é a realização, o ciclo, e mesclei com partes íntimas da minha vida”, conta Marcela Cantuária.

Sobre Cadu

Cadu apresenta a exposição “Davuls de Salé”, que contará com a participação de três colaboradores: Adriano Motta, Maneno Juárez e Virgilio Bahde. Com curadoria de Felipe Scovino, a exposição apresenta a diversidade de linguagens exploradas pelo artista individualmente e em parceria, através de fabulações debruçadas sobre a história da pirataria, organizadas pelo escritor Peter Lamborn Wilson em seu livro “Utopias Piratas” (1995). Entre os séculos XVI e XIX, corsários muçulmanos do Magreb devastaram navios europeus, escravizaram povos e fundaram a República Corsária Moura de Salé. Durante esse período, milhares de europeus se converteram ao Islã e se juntaram ao que Wilson chamará de “guerra santa pirata”. Essa forma anárquica de capitalismo, que os piratas tomam para si, encontra ecos nas esculturas, desenhos, filmes e instalações realizadas por Cadu e sua horda de rebeldes do mar. O mar serve de inspiração para a série de desenhos “Nadar Nada Mar”, realizados em grade formato sobre papel. Sereias, Krakens, Leviatãs e outras bestas marinhas amalgamam-se, constituindo quimeras através de grafite, colagem e óleo, num imaginário simbólico barroco de terror e deslumbramento. Reforçando a ideia de fabulação e a conexão intrínseca que seu trabalho tem com a linguagem, Cadu escreveu poemas para cada uma das obras, embaralhando referências das ciências, de cosmogonias e da literatura. Dentre os trabalhos em colaboração estão as esculturas sonoras Beijo para o Mar e Pio para o Píer com Maneno Juárez. Na primeira, 21 apitos divididos em três conjuntos são posicionados a uma distância relativa entre si na galeria, servindo de veículo para diálogos pneumáticos. As esculturas produzem notas musicais, indo do agudo ao grave, do brado ao sussurro. Já na segunda, utiliza-se a técnica tradicional peruana de modelagem para construção de vasos sonoros movidos por água.

Sobre Nathan Braga

A exposição “bassa danza”, do carioca Nathan Braga, é a primeira exibição solo em sua cidade natal, que marca seu retorno após três anos morando em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Doutorando em Arte e Cultura Contemporânea (PPGARTES-UERJ), Nathan foi aluno intercambista de Belas Artes na Universidade de Salamanca, na Espanha, tendo sido o segundo brasileiro a receber a Bolsa Iberoamericana do Santander para tal curso. Com curadoria de Aldo Victorio Filho, serão apresentadas cerca de 25 obras pertencentes a quatro séries diferentes de trabalho, produzidas desde 2019 até hoje, nas quais o artista versa sobre o ponto de inflexão entre as figuras mitológicas de Thanatos e Eros, realçando o jogo erótico envolvido entre as obras e na relação delas com o público visitante.

“Pinturas, esculturas, cerâmicas não são colocadas como linguagens ou modalidades plásticas impermeáveis umas às outras, pois as obras expostas, a despeito da completude técnica e material nas quais se encerram, se afirmam em outra lógica para além da artesania suporte/técnica/material. Se articulam, pois, na indizível força que ativam em conjunto. Uma ópera, um concerto, uma fuga, um silêncio a depender do ir e vir de cada visitante. Uma dança.”, conta o curador Aldo Victorio Filho. A pesquisa para esta exposição se iniciou a partir da leitura que o artista fez do livro “Eros: o Doce-Amargo” de Anne Carson, no qual a autora vai pensar de forma ensaística as relações dicotômicas presentes no desejo, o jogo psicológico entre os amantes e a implicação histórica e social da representação ambígua dessas relações, através de análises iconográficas e semânticas, desde a Grécia Antiga. A aproximação entre arte e literatura tem sido um modus operandi do artista, que já dedicou uma exposição individual ao último livro publicado em vida pelo poeta Mário Quintana, fazendo dessa aproximação uma possibilidade de construção de famílias monstruosas, através de interdisciplinaridades, intermaterialidades e intertextualidades, objetivando borrar as fronteiras entre as coisas, como faz o próprio Eros.

Acontece em BH

01/abr

A Galeria Albuquerque Contemporânea, Savassi, Belo Horizonte, MG, inaugura a primeira exibição individual de Froiid. O artista apresenta trabalhos realizados a partir de sua pesquisa relacionada ao jogo. Intitulada “Mundaréu”, a exposição estabelece um diálogo com o escritor, ator, jornalista e dramaturgo Plínio Marcos (1935-1999) e as suas “Histórias das Quebradas do Mundaréu” (1973).

Ao explorar o universo confabulado de uma mesa de bar e referências ligadas às dinâmicas do jogo, Froiid, artista multidisciplinar, constrói uma narrativa visual, sonora e sensorial a partir de temas como crime, samba, rap, futebol, torcidas organizadas, inteligências artificiais e violência.

“Com esta sala de estar, marcada pelo seu carácter identitário, Froiid desdobra o tempo livre e nos chama para nos aproximarmos mais uns dos outros, para não perdermos as redes sociais físicas e para apreciarmos a profundidade e riqueza do conhecimento popular”, aponta Ana Salazar Herrera no texto curatorial.

A exposição é concebida como um jogo. Ao percorrer a galeria, encontramos obras jogáveis, com destaque para a instalação “É Hora da Onça Beber Água” (2020), uma mesa de bilhar com cerca de 13 metros, que convida o público a criar e jogar com suas próprias regras. A produção de Froiid se estabelece com uma diversidade de materiais e técnicas, como pinturas, fotografias, desenhos, vídeos e instalações sonoras que exploram a riqueza cultural do Brasil.

Em cartaz até 27 de abril.

Um certo espírito POP

27/mar

 

A Fundação Vera Chaves Barcellos destaca caracteristicas da Pop Art em nova exposição intitulada “Sem Metáfora”, mostra coletiva na Sala dos Pomares, em Viamão, RS, na mesma ocasião, haverá o lançamento do material educativo e do catálogo da mostra, que ficará  em cartaz até o dia 10 de agosto.

Essa mostra coletiva destaca produções com caracteristicas da Pop Art, englobando cerca de 70 obras de 42 artistas nacionais e internacionais. A seleção abrange diversas linguagens, como videoarte, fotografia, colagem, assemblage, serigrafia, pintura, desenho, escultura, objeto, gravura, livro de artista, instalação e arte postal, entre outras.

Romanita Disconzi (1940) será homenageada na mostra com um dos espaços do mezanino da sala, por ser uma artista essencialmente pop na concepção de suas obras como pinturas, gravuras, desenhos e objetos.

Nas palavras de Vera Chaves Barcellos (1938), organizadora da exposição: “Partindo da ideia de “um certo espírito pop”, Sem Metáfora evoluiu para a escolha de uma série de obras que são uma derivação das diversas caracteristicas do movimento da Pop Art em seu momento primeiro. Esta, que a nosso ver marca em grande número a produção das gerações futuras de artistas, tem como uma das principais caracteristicas a ausência de metáfora, utilizando-se de uma representação direta do mundo concreto do tempo em que se vive. Os inúmeros e variados aspectos abordados pelos artistas desta mostra se caracterizam por uma forma de linguagem denotativa, pela predominância da objetividade e, consequentemente, de imediata apreensão por parte do espectador.”.

Além das obras do Acervo Artístico da Fundação Vera Chaves Barcellos, Sem Metáfora conta com obras de coleções particulares do Instituto Dalacorte, Renato Rosa e Romanita Disconzi.

Para facilitar o deslocamento até a Sala dos Pomares (Rodovia Tapir Rocha, 8480 – parada 54, em Viamão), serão oferecidos dois horários de transporte gratuito de ida e volta (POA – Viamão – POA), por ocasião da abertura, no dia 13 de abril, com saída ás 10h30 e ás 14h, em frente ao Theatro São Pedro, na Praça da Matriz, no Centro Histórico de Porto Alegre, mediante inscrição prévia (formulário disponível no site fvcb.com.br)

 

Artistas participantes

 

Ana Miguel, Anna Bella Geiger, Antonio Caro, Artur Lescher, Avatar Moraes, Carlos Asp, Carlos Pasquetti, Carmen Calvo, Cinthia Marcelle, Claudio Goulart, Denis Masi, E. F. Higgins III, Edgardo Vigo, Flavio Pons, Guglielmo Achille Cavellini, Hans-Peter Feldmann, Helena d’Ávila, Henrique Fuhro, Hudinilson Jr., Jesus Escobar, Joan Rabascall, Judith Lauand, Mara Alvares, Magliani, Mário Röhnelt, Mary Dritschel, Milton Kurtz, Neide S, Nelson Wilbert, Patricio Farias, Pedro Geraldo Escosteguy, Richard John, Rogério Nazari, Romanita Disconzi, Rubens Gerchman, Sandro Ka, Telmo Lanes, Téti Waldraff, Tony Camargo, Vera Chaves Barcellos, Victor Grippo, Wlademir Dias-Pino.