A dinâmica vital de Janaina Tschäpe

16/nov

As estrelas de Janaina Tschäpe conversando em voz alta é a exposição que encerra a programação de 2023 na Fundação Iberê Camargo, Porto Allegre, RS. Com curadoria de Luisa Duarte, esta será a primeira exposição da artista teuto-brasileira na capital gaúcha e poderá ser visitada de 25 de novembro a 18 de fevereiro de 2024.

Em “Janaina Tschäpe – Estrelas conversando em voz alta”, a mostra apresenta 39 obras da artista, radicada em Nova York há 27 anos, entre pinturas, aquarelas e desenhos, além de fotografias e livros de artista.

“Estrelas conversando em voz alta” é o resultado deste processo, que habita um território maleável entre realidade e fabulação. Exuberantes e impactantes, as pinturas têm um aspecto líquido e translúcido que recorda contornos vegetais, animais ou minerais em paisagens silvestres e subaquáticas. O repertório de formas orgânicas da artista se compõe em grandes superfícies animadas pelo movimento dos seus gestos: os riscos velozes que traça com bastões a óleo sobrepõem-se à fluidez de pinceladas mais largas. A natureza não é retratada fielmente na obra de Janaina Tschäpe, mas tem sua dinâmica vital traduzida em termos pictóricos, em grandes superfícies que envolvem o público numa ambiência inquieta.

Como escreve a curadora Luisa Duarte para o catálogo, “a intensidade dos gestos da artista, que levam o olhar a percorrer velozmente toda a superfície da tela, parece remeter a um silêncio grávido de palavras, pois envolto em uma inquietude tangível, como se a densidade própria de toda floresta doasse um ethos grave à cena. Na mão contrária se encontra o trabalho que dá nome à exposição, Estrelas conversando em voz alta, realizado especialmente para a ocasião da atual mostra na Fundação Iberê, que, com seus verdes, vermelhos e laranjas, nos fazem imaginar uma noite na qual o sol se fez presente”.

“Ao nos determos nos trabalhos que fazem parte dessa produção aqui reunidos nota-se, de maneira evidente, como a técnica serve à sua poética, e não o inverso. Aqui, o olhar é lançado para diferentes direções transitando entre opacidade, brilho e transparência. Se ao fundo, por vezes, a caseína aquosa ainda se faz presente, doando translucidez, no primeiro plano o óleo sempre tem protagonismo. O uso de bastões possibilita uma simultaneidade entre pintura e desenho, conferindo um gestual de cunho caligráfico às obras. Certa vez escrevi que os traços da artista no interior de suas pinturas “remetem à escrita automática dadaísta, ou mesmo ao gesto da criança de rabiscar sem finalidade precisa.”  Mais recentemente, foi dito sobre estas telas que estamos “diante de uma escrita repleta de rabiscos-arranhões entre o signo e o traço mudo, entre a iminência de uma forma significante e a pura expressão gestual”, complementa a curadora.    

Sobre a artista

Janaina Tschäpe é uma artista do mundo. Nasceu em Munique, filha de pai alemão e mãe brasileira. Quando tinha um ano de idade, sua família mudou-se para o Brasil, onde morou no Rio e em São Paulo. Aos onze, todos retornaram à Europa, onde Janaina Tschäpe permaneceu até os 16 anos. Pouco tempo depois, ela fez as malas de volta para o Brasil, desta vez para Curitiba, onde cursou o então colegial. Retornou à Alemanha para graduar-se na Academia de Arte em Hamburgo. Recém-formada, mudou-se para Berlim a fim de fazer alguns cursos e, aos 21 anos, aterrissou no Brasil pela terceira vez para estudar a cultura afro na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Em 1996, Janaina Tschäpe rumou para Nova York para um mestrado na School of Visual Arts (SVA), mas agora seria definitivo. Seu primeiro bairro foi o East Village, o epicentro da arte vanguardista. Em 2000, mudou-se para o Brooklyn, mesmo prédio onde instalou seu ateliê. Ficar junto do estúdio deu mais liberdade à artista e o tempo ganho foi uma virada de chave. A pintura se desenvolveu em termos de materiais, tecnicamente falando, na qual ela passou a utilizar novos materiais (BC1), como bastões de óleo e caseína, uma tinta que lhe deu espaço para desenhar em cima com lápis aquarela.

“Quando estive em Paris para instalar uma exposição, comprei uma mala inteira de bastões a óleo e comecei a experimentar. Como o bastão é grosso, você pode tanto desenhar como pintar. Então o desenho vai entrando na pintura de uma maneira muito mais suave e transparente”, conta Tschäpe. Com o óleo, você cria uma relação com as camadas, a textura, o tempo de secagem. Por outro lado, é um material que tenta te controlar, você entra em cada pintura meio sem saber como vai sair”, diz. Representada pela Fortes D’Aloia & Gabriel, Janaina Tschäpe realizou recentemente as exposições individuais “Soy mi proprio paisaje”, CAC Málaga, Málaga, Espanha (2023); “Restless Moraine”, Sean Kelly, Nova York, Estados Unidos (2023); “FIRE just sparkles in the sky”, Carpintaria, Rio de Janeiro, Brasil (2022); “Counterpoint#5” – (exposição solo), L’Orangerie, Paris, Franca (2021); e “Janaina Tschäpe and Ursula Reuter Christiansen: Das Unheimliche”, Den Frie Center of Contemporary Art, Copenhagen, Dinamarca (2021). Participou também das coletivas “The Big Picture”, Night Gallery, Los Angeles, Estados Unidos (2023); “Earth Works, Hunt Gallery”, Webster University, Luxembourg City, Luxemburgo (2021) e “Abundant Futures”, TBA21, Córdoba, Espanha (2021). A artista tem trabalhos em importantes coleções públicas, incluindo 21st Century Museum of Contemporary of Art, Kanazawa, Japão; Banco Espírito Santo, Lisboa, Portugal; Centre Pompidou, Paris, França; Clifford Chance Collection, Nova York, Estados Unidos; Fondation Antoine de Galbert, Paris, França; Fondation Belgacom, Bruxelas, Bélgica; FRAC Champagne-Ardennes, Reims, França; Harvard Art Museum, Boston, Estados Unidos; Instituto Inhotim, Brumadinho, Brasil; Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Kandinsky Library Collection, Centre Pompidou, Paris, França; Moderna Museet, Estocolmo, Suécia; Mudam Musée d’Art Moderne Grand Duc Jean, Luxemburgo; MAM – Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, Brasil; Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, Espanha; National Gallery of Art: Washington DC, Estados Unidos; Polk Museum of Art, Lakeland, Estados Unidos; SMAK – Stedelijk Museum voor Actuele Kunst, Gent, Bélgica; The Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York, Estados Unidos; Tokyo Roki Co. Ltd, Tóquio, Japão e TBA21 – Thyssen-Bornemisza Art Contemporary, Viena, Áustria.

A Fundação Iberê tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Savarauto Perto, Ventos do Sul, DLL Group, Lojas Pompéia e DLL Financial Solutions Partner; apoio da Renner, Dell Technologies, Pontal Shopping, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, e realização do Ministério da Cultura/ Governo Federal.   

Tempo do Olhar

13/nov

A Galeria Paulo Branquinho, Lapa, Rio de Janeiro, RJ, reúne 14 artistas com curadoria de Lia do Rio. No dia 18 de novembro, às 17h, abrirá a mostra coletiva “Tempo do Olhar”, encerrando a programação de 2023 e celebrando o que está por vir no ano que vem. A curadora Lia do Rio selecionou os trabalhos de Adriana Montenegro, Ana Biochini, Cláudio Bispo, Fernanda Lemos, Gilda Lima, Iraceia de Oliveira, Jarbas Paullous, Maria Ignes Peixoto, Marcia Cavalcanti, Regina Helene, Rosi Baetas, Sandra Fioretti, Sandra Macedo e Sonia Xavier. Serão mostradas esculturas, pinturas, instalação e fotografia, provando que a arte pode e deve abarcar todos os olhares.

Para Paulo Branquinho, a interação e abertura para novas linguagens curatoriais é fundamental: “Lia do Rio, além de ser uma artista de excelência, é conhecida por seus colegas artistas e alunos, como mestra, por sua grande generosidade”, diz ele, que se sente honrado por receber esta mostra para fechar o ano.

“Os artistas participantes dessa mostra atualizam relações entre forma, cor, espaço e tempo, atualizações essas realizadas dentro de um percurso individual. As obras, suportes para reflexões plásticas, solicitam um engajamento a quem se aproxima, a aqueles que se dão o tempo do olhar”, afirma Lia do Rio, curadora.

Sobre os artistas

Adriana Montenegro, poeta e artista, percorre caminhos em que a memória, o onírico e o real constroem-se e descontroem-se, gerando continuamente espaços que, por seu movimento, já deixam de aí estar, inaugurando outros, mas formando um itinerário de vestígios que reaparecem.

Ana Biolchini, com formação na área Biomédica, investiga as interseções e a integração de partes do corpo por meio de sua representação em diversas mídias a partir e um fio condutor que tudo conecta. Trabalha no espaço da arte com pesquisa de memória, ancestralidade, tradições religiosas, simbolismo das letras hebraicas e sistemas de arquétipos relacionados as dimensões do inconsciente coletivo.

Formado em Direito, com curso técnico em desenho de Máquinas e Tubulações, o trabalho tridimensional de Cláudio Bispo realiza-se através da desconstrução de caixas de papelão descartadas, não buscando a beleza, mas sim, a possibilidade de um visual significante e permanentemente instigante.

Fernanda Lemos designer e pós-graduada na COPPE/UFRJ. Trabalhou na Funarte e Fundacen. Cores, formas, risco e acaso, o qual muitas vezes se torna em aliado, fazem do processo um experimento, sendo o que mais a instiga e interessa.

Gilda Lima, com formação em psicologia, trabalha com foto e vídeo. Segue seus processos, que chama de “processos atravessados” sem direção definitiva, sempre perseguindo a ideia da impossibilidade de preencher vazios.

Iraceia de Oliveira, psicanalista, atualmente vive em Portugal. Utiliza-se de materiais reciclados os quais recorta e pinta, e também de madeiras ligadas por dobradiças para dar-lhes movimento e deslocamento. Trabalha com fotos e vídeos de animação e pesquisa a arte digital. É sempre levada a fazer algo por uma ideia que se define no material.

Jarbas Paullous, graduado em Comunicação Social e pós-graduação em Linguagens Visuais, trabalha com pintura, escultura, desenho, vídeo, instalação e performance. Voltado a pesquisa de situações cotidianas em suas pinturas e esculturas nas quais utiliza materiais reciclados e sucatas, já nas performances usa como referência obras de artistas da história da arte.

Maria Ignes Peixoto, mestra em Filosofia e formação em Psicanálise, desenvolve seu trabalho em arte com desenho contemporâneo, seu principal meio de expressão. Dele participam escritas intimistas, vestígios de memórias, movimentos espontâneos, traços ritmados em lápis grafiti, canetas, tintas, dentre outras matérias que livremente se insinuam no suporte.

Marcia Cavalcanti desenvolve seu trabalho a partir do desenho livre, incorporando técnicas como o nanquim, a aquarela, a gravura e a pintura. A partir do experimentar a linha e seu poder de recriação, de invenção através do desenho, surge como resultado um humor inusitado muito peculiar a sua percepção.

Regina Helene, formada em Direito, trabalha em grandes dimensões. Os materiais utilizados complementam-se aglutinados em diversas cores que se harmonizam e ganham ressignificação. A assemblage, linguagem mais utilizada por ela, dá-se pela junção dos mais inusitados materiais. A integralização das partes traduz mitos, arquétipos e a energia existencial criadora feminina.

Rosi Baetas, engenheira química, M.Sc, D.Sc, transmuta conhecimentos de base científica em linguagens visuais, à luz de conceitos inerentes à incompletude, à inconsistência, à imprevisibilidade e à transitoriedade. Elementos contrapostos – nano/macro, frente/atrás, dentro/fora, colagem/descolagem, além de espaços vazios, convidam à decifração. Explora desdobramentos e interações de expressões como pintura, desenho, fotografia, objeto e instalação.

Sandra Fioretti, artista visual com formação em design, traz para as artes visuais sua bagagem de estudos em artes gráficas. Através de pinturas, desenhos e fotografias digitais elabora contrapontos lúdicos criando composições em permanente evolução. Seu trabalho é fruto de observações e pesquisas que elabora há algum tempo referentes a natureza, colonização e brasilidade.

Sandra Macedo, com formação em antropologia, desenvolve trabalhos, por vezes, em escala reduzida e desenhos com fios de linha. Nestes trabalhos a atenção se volta para o frágil e para a ruptura de escala. O pequeno formato pode ser sentido como monumental e ter uma formidável potência de comunicação. Sua produção tem como eixo problemáticas sociais e tangencia questões ligadas à situação de opressão, fragilidade e luta das mulheres.

Sonia Xavier, formada em Pedagogia, utiliza no contexto de suas obras uma teatralização de emoções que remetem a diversificados instantâneos da condição humana usando seu próprio imaginário de modo intuitivo e que se transfigura em propostas ora irreverentes ora declamadoras de um inesperado porvir. Estabelece relações com a poesia, a literatura, a música, o tempo e a memória.

Todas as Rosas

10/nov

O Farol Santander São Paulo, Centro, São Paulo, SP, inaugurou a exposição “Rosas Brasileiras”, exibição coletiva inédita que celebra a trajetória da rosa como inspiração artística e parte viva do cotidiano social.

Ao todo, estarão dispostas ao público, cerca de 130 obras de arte e mais de mil objetos diversos que trazem a rosa como personagem principal. Obedecendo a curadoria de Giancarlo Latorraca e Paulo von Poser, e produção da AYO Cultural, a mostra permanecerá em cartaz até 18 de fevereiro de 2024.

A Geometria em Rubem Valentim

09/nov

A Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta “Rubem Valentim – Sagrada Geometria”, exposição com curadoria de Max Perlingeiro, e consultoria de Bené Fonteles, artista plástico, poeta e amigo mais próximo de Rubem Valentim, e que o acompanhou por duas décadas, até sua morte.

A exposição celebra este extraordinário artista que fez do sagrado sua vida e obra. São 75 obras, em pinturas e desenhos, e ainda seus “objetos”, com pintura sobre madeira, e um ensaio fotográfico de Christian Cravo, dedicado ao celebrado conjunto com 20 esculturas e 10 relevos brancos chamado “Templo de Oxalá”. Este conjunto, feito por Rubem Valentim em 1974, e pertencente ao Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador, é um dos destaques da 35ª Bienal de São Paulo.

Será exibido, em looping, o vídeo “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria”, feito especialmente para a ocasião, com 28’15 de duração, Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador, é um dos destaques da 35ª Bienal de São Paulo.

Até 16 de dezembro.

A mistura poética de Clara Veiga

06/nov

A Galeria Artur Fidalgo, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, apresenta “De-va-nei-os”, série de obras monocromáticas de Clara Veiga.

Sobre a artista

Clara Veiga nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, 1987, cria composições que resultam em desenhos monocromáticos, quase sempre usando canetas esferográficas. Atualmente, busca um aprofundamento na pintura. Sua investigação nesta técnica caminha em direção ao inconsciente e ao vasto território que é o universo dos sonhos. “Poças, águas, imagens refletidas, piscinas e muitos reflexos. Possibilidades que a água permite ver algumas vezes em seu reflexo e dimensões profundas que nos arriscamos a cada mergulho. Uma mistura poética de Psicologia e Arte. Fusões lacanianas”.

Exposições Individuais

Graduada em Desenho Industrial, pela Universidade PUC-Rio, 2011; Técnicas de pintura em tela, pela Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, 2012; Das formas de navegação: a experiência pintura e além, com a artista e mestre Suzana Queiroga, 2017.

Participou de exposições coletivas como Congresso II SILID/ I SIMAR (exposição organizada pelos departamentos de Artes & Design e de Letras) / RJ, 2011; Centro de Movimento Deborah Colker / RJ, 2013; Palazzina Azzura / Itália, 2014; Escola em Transe, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, 2017; Impressão das coisas, Casavoa, 2018; Sala Anexa, Artur Fidalgo galeria, 2019; O que emana da água, Carbono galeria, Fixo só o prego, Espaço Cultural Sérgio Porto, 2020 Ainda fazemos as coisas em grupos, Hélio Oiticica, Casa de Colecionador – Artur Fidalgo galeria, SP Arte Viewing Room, Artur Fidalgo galeria.

Artista francesa no Brasil

01/nov

Exposição retrospectiva da carreira da artista francesa ORLAN ocorre no SESC, Paulista, São Paulo, SP. O projeto traça um panorama dos quase sessenta anos de atuação da artista e apresenta um conjunto de obras ilustrativas de sua trajetória, privilegiando obras fotográficas, vídeos e esculturas. Mireille Suzanne Francette Porte, conhecida como Orlan (Saint-Étienne, 30 de maio de 1947), é uma artista francesa. Ela usa o corpo como suporte para suas artes.

Com curadoria de Alain Quemin e Ana Paula C. Simioni a exposição pretende dar a conhecer ao público de São Paulo o considerável e tão variado trabalho artístico de ORLAN, revisitando suas principais criações e mostrando como essas derivam, em grande parte, de obras seminais que ela fez ainda muito jovem, até as mais atuais. Trata-se ainda de mostrar como a criação, tanto de si mesma quanto de suas obras, e o processo de empoderamento, estão intimamente ligados.

ORLAN tem estado continuamente presente no cenário internacional da arte contemporânea, produzindo um conjunto de obras considerável. Quer seja por sua contribuição para a arte feminista, arte corporal, arte relacionada às tecnologias vivas ou para arte relacionada às novas tecnologias, deve-se notar que ORLAN é, sem dúvida, uma das artistas francesas mais reconhecidas internacionalmente. Há três anos, ORLAN é representada por uma nova galeria internacional, a Ceysson & Bénétière Gallery, que, em muito pouco tempo, já dedicou duas exposições em Paris, além de uma em Nova York, trazendo à tona todo o significado histórico de seu trabalho. Em 2021, ORLAN obteve a mais alta distinção atribuída pelo Estado francês, a Legião de Honra (Legion d´Honneur), pelo conjunto de sua obra, e, nesse mesmo ano, publicou a sua autobiografia pela Editora Gallimard.

Até 28 de janeiro de 2024.

Duas exposições na Fundação Iberê Camargo

23/out

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, abrirá no dia 04 de novembro a exposição “Resistência”, exposição individual do artista do maranhense Thiago Martins de Melo, 41 anos. No mesmo dia, inaugura “Iberê Camargo: Vivo como as árvores, de pé”. Com curadoria de Martins de Melo e Gustavo Possamai, responsável pelo acervo da Fundação, a mostra destaca a forte relação do pintor gaúcho com o meio ambiente.

Em “Resistência”, com curadoria do islandês Gunnar B. Kvaran, a mostra confronta o espectador com quatorze obras de grandes dimensões e complexidade. Com cores fantasmáticas, seu trabalho articula uma densidade narrativa excepcional, feita de referências autobiográficas e mitológicas, sincretismo religioso e ambiência surreal. No centro dessa articulação, emergem, ora de forma sutil ora contundente, temas da política brasileira e da história do país. Tal iconografia crítica faz de Martins de Melo um dos pintores brasileiros contemporâneos a abordar aspectos do cotidiano social. “Eu venho de uma região marcada pela violência; não temos tempo para tratar de questões acadêmicas. Ser artista é um ato político, expor é o nosso poder de fala”, diz.

“Resistência” abre com “A queima do templo do conhecimento” (2021), uma escultura-vídeo-pintura em que o fogo assume o papel principal, fazendo referência ao incêndio que destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro em 2018 e que possuía a quinta maior coleção arqueológica do mundo. Em e-mail enviado a Gunnar, que acompanha a trajetória do artista há mais de uma década, Martins de Melo destaca que a obra foi motivada, sobretudo, pelo que está por trás dessa tragédia. “Isso ocorreu devido a uma queda no investimento em políticas públicas culturais e seus mecanismos. Os cortes na educação e na cultura se aprofundaram nas administrações de direita de Temer e Bolsonaro. O Museu Nacional, agora em recuperação, tem sido a vítima e o símbolo maior desse projeto de desmonte da cultura e da educação no Brasil”, escreveu o artista.

A mostra segue com três pinturas intensas e de grande formato, “Escadaria do decapitado” (2019), “Tupinambás, Léguas e Nagôs guiam a libertação de Pindorama das garras da quimera de Mammón” (2013) e “A Rébis mestiça coroa a escadaria dos mártires indigentes” (2013), onde saltam aos olhos o estado de conflito e violência contínuos. Thiago Martins de Melo associa a opressão dos povos indígenas a importantes figuras libertadoras. Também há, nessas pinturas, uma clara resistência exercida pelos oprimidos, que, muitas vezes, se aliam a entidades divinas e espirituais.

As pinturas da segunda parte da exposição são mais pacíficas, incorporando uma reflexão sobre a origem do mundo, da humanidade e da linguagem, “uma transição entre a besta e o humano”, como escreve o artista. Os sujeitos estão ancorados no mundo real e no metafísico. As narrativas meditativas mostram diálogos sutis entre realidade, religião e mitologia, deixando mais espaço para a interpretação do espectador. Há menos ação e mais silêncio.

“As obras selecionadas para esta exposição formam um todo. Elas nos contam histórias do Brasil, assim como pensamentos e reflexões de Thiago Martins de Melo. Por meio de sua narrativa pintada, ele conduz o espectador através da história complexa e multifacetada do país, referindo-se a eventos que considera marcados por uma profunda injustiça. Ele descreve visualmente as relações problemáticas entre os brasileiros, seus colonizadores históricos e um capitalismo desenfreado. Os temas dessas pinturas giram em torno de questões fundamentais, como os direitos dos nativos, a luta pela terra e a violência que ela pode causar. Trata-se, mais ou menos, de uma história de luta de classes diante de um “Estado corrupto e devorador”, primeiro sob o domínio dos tribunais europeus e depois sob o capitalismo selvagem emoldurado por uma democracia brasileira. Ele também descreve as relações extremamente complexas entre os diferentes grupos étnicos e sociais: os indígenas colonizados, os escravizados africanos, os colonizadores brancos, especialmente os europeus, e a grande mistura de raças com todas as suas diferenças culturais, religiosas e espirituais. Em suas obras há um grande senso de moralidade. Muitas vezes, o artista parte de seu próprio estado, o Maranhão, e de sua cidade, São Luís, que ele conhece muito bem, em termos tanto culturais quanto políticos, antes de estender sua temática a todo o Brasil e à América do Sul. Os comentários e as questões que o artista levanta podem ser adotados em todos os continentes, pois tratam basicamente de direitos humanos e respeito ao próximo. Esses são assuntos universais”, escreve Gunnar B. Kvaran, no texto para o catálogo.

A psicologia para pintar os problemas políticos e sociais

Thiago Martins de Melo é filho de mãe psicóloga e pai artista plástico. Mesmo convivendo em meio as tintas desde criança, foi aos 16 que a pintura se tornou uma paixão. Fez curso de pintura e, anos depois, foi admitido no curso de artes visuais da Universidade Federal do Maranhão, mas não chegou até o final. O universo acadêmico tendeu para o lado materno. Thiago é mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Pará. Chegou a cursar o doutorado, mas abandonou para se dedicar exclusivamente à arte.

“Apesar de ter participado em vários projetos institucionais desde os 16 anos, considero que a maturidade da minha produção começou a se estabelecer em 2008. A psicologia teve um papel preponderante na forma como via o signo pictórico e na articulação de narrativas visuais. (…) Eu tinha o título de mestre em análise do comportamento e, apesar de ser uma área empírica-analítica, meu interesse pelas humanidades foi crescendo. Então, abordei clandestinamente a psicologia social e, mais secretamente, Jung, que desempenhou um papel muito importante no modo como eu encarava o signo pictórico. A compreensão da importância da construção simbólica me fez refletir sobre meus próprios interesses espirituais. Tive experiências de espiritismo na família desde a infância, tanto o espiritismo kardecista quanto a religiosidade afro-brasileira. Essa visão de mundo espiritual afro-brasileira me apresentou ao sincretismo, o que sempre me intrigou. Então me interessei por tarô e outros oráculos. A união com minha primeira esposa Viviane foi providencial nesse sentido. Entre 2008 e 2011, minha produção esteve imersa em questões pessoais que passaram pela paternidade, casamento, papéis de gênero, espiritualidade, etc. Até que meus interesses foram cada vez mais direcionados da micropolítica para uma compreensão do mundo que passa pela luta social”, conta.

Sobre o curador

Gunnar B. Kvaran nasceu em Reykjavík, Islândia, em 1955. Possui doutorado em História da Arte pela Université de Provence, Aix-en-Provence, França, obtido em 1986. Foi diretor do Museu de Arte de Reykjavík, de 1989 a 1997, do Museu de Arte de Bergen, na Noruega, de 1997 a 2001, e do Museu Astrup Fearnley, em Oslo, também na Noruega, de 2001 a 2020. Foi curador de inúmeras exposições de arte contemporânea internacional, incluindo a 2ª Bienal de Moscou, Rússia, em 2007 (junto com Daniel Birnbaum e Hans Ulrich Obrist). Também esteve envolvido na Bienal de Lyon, França, em 2013, e na Bienal de Belgrado, Sérvia, em 2018 (junto com Danielle Kvaran). Atualmente, trabalha como curador independente e reside em Oslo.

Até 28 de janeiro de 2024.

Iberê Camargo: Vivo como as árvores, de pé

Thiago Martins de Melo foi convidado para fazer uma imersão na obra de Iberê Camargo e realizar a curadoria de uma exposição em parceria com Gustavo Possamai, responsável pelo acervo do pintor gaúcho. Iberê se preocupava com as questões político-socioambientais. Ele produziu obras e escreveu sobre o tema: “O homem é o único animal que destrói sua casa, sem pensar na continuidade da prole. Em nome do consumismo desvairado, o inconsciente coletivo da humanidade encaminha o mundo para o apocalipse.” Defensor fervoroso da preservação da natureza e do desenvolvimento de uma “consciência ecológica”, Iberê Camargo dizia viver como as árvores, de pé. Embora não se definisse como um ativista, era crítico ao descuido com o meio ambiente, a exploração e apropriação de recursos naturais, além da relação entre o progresso tecnológico e as consequências ambientais de tais avanços quando geridos de forma irresponsável: “Me sinto na obrigação de dizer um basta a este extermínio da natureza. Não por mim, mas pelas novas gerações que virão.”

Nesta mostra, Thiago Martins de Melo e Gustavo Possamai apresentam um recorte de 146 trabalhos, revelando um aspecto fascinante da personalidade e da obra de Iberê Camargo a partir do acervo da Fundação, além de três guaches da série “Ecológica (Agrotóxicos)” gentilmente cedidos por colecionadores. A série, criada por Iberê Camargo em 1986, foi produzida com a colaboração da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz. Iberê Camargo os viu realizando no Parque da Redenção a intervenção cênica chamada “A dúzia suja”, em referência aos doze agrotóxicos mais prejudiciais ao ser humano e à fauna silvestre. Reproduzindo falas do importante ambientalista José Lutzenberger, o grupo alertava o público quanto ao uso indevido de agrotóxicos nas lavouras gaúchas. Depois disso, a Terreira da Tribo, como é chamado o espaço do grupo, transformou-se em ateliê durante um final de semana, para que Iberê Camargo realizasse os desenhos com os atuadores caracterizados e posando. Entre as personagens estavam o indígena, o FMI, o Tio Sam, o DDT e o militar, entre outros. À época, declarou: “Simpatizo com este projeto. Veja só, já mataram o nosso Guaíba”, referindo-se à poluição do rio que delineia grande parte da cidade. Disse também: “O gato, que é onívoro como homem, sabe exatamente qual a erva que deve comer. Já o homem se envenena. Foi por isso que eu achei que deveria tomar como mestres da minha vida os animais.”.  “Vivo como as árvores, de pé” inclui, ainda, uma série de falas do artista que mantém vivo o seu pensamento. “Com frequência, suas metáforas invocavam imagens da natureza e são um convite para olharmos mais de perto para o mundo finito que habitamos e para as conexões que mantemos com ele. Afinal, como dizia Iberê Camargo, “vivemos num universo que é o resto de uma grande fogueira e as estrelas são suas últimas brasas”, diz o texto dos curadores.

A Fundação Iberê tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Savarauto Perto, Ventos do Sul, DLL Group, Lojas Pompéia e DLL Financial Solutions Partner; apoio da Renner, Dell Technologies, Pontal Shopping, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, e realização do Ministério da Cultura/Governo Federal.

Até 18 de janeiro de 2024.

Palestra de Daniela Name

18/out

A crítica de arte e pesquisadora Daniela Name falará no dia 24 de outubro, às 18h, sobre as obras da artista Amelia Toledo (1926-2017) expostas em “O rio (e o voo) de Amelia no Rio”, na Nara Roesler Rio de Janeiro, que foi prorrogada até 04 de novembro.

Daniela Name foi curadora, juntamente com Marcus de Lontra Costa, da exposição “Forma fluida”, primeira grande mostra panorâmica dedicada à obra de Amelia Toledo no Rio de Janeiro, realizada no Paço Imperial, de 17 de dezembro de 2014 a 1º de março de 2015.

Com mais de 50 obras – entre pinturas, esculturas, objetos, aquarelas, serigrafias e desenhos – “O rio (e o voo) de Amelia no Rio”, na Nara Roesler, ilumina o período frutífero e experimental da produção da artista quando viveu no Rio, nos anos 1970 e 1980, que marcou sua trajetória, reverberando em trabalhos posteriores.

Além de obras icônicas, como o livro-objeto “Divino Maravilhoso – Para Caetano Veloso” (1971), dedicado ao cantor e compositor, ou trabalhos que estiveram em sua impactante individual “Emergências”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1976, a exposição na Nara Roesler Rio de Janeiro traz pinturas e aquarelas inéditas, em que o público pode apreciar sua experiência com a luz, e a incorporação em seu trabalho de materiais como pedras, conchas marinhas e cristais.

Esculturas de Ascânio MMM em retrospectiva

10/out

A exposição “Ascânio MMM: Torções” no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MuBE), Jardim Europa, São Paulo, SP, apresenta uma retrospectiva da carreira de 60 anos do escultor Ascânio MMM. A mostra, organizada por Francesco Perrota-Bosch, reúne 55 esculturas e instalações, 22 maquetes, 12 desenhos, além de fotos antigas e documentos do artista, que é reconhecido como um expoente da abstração geométrica na América Latina.

O conceito central da exposição gira em torno da ideia de “torção”, que se relaciona com a maneira como Ascânio combina módulos, como ripas de madeira ou pequenos blocos retangulares, para criar esculturas que parecem se retorcer sobre si mesmas, criando uma sensação de movimento e dança. Essas obras demonstram a fusão entre precisão matemática e estética, refletindo sua formação dupla em Artes plásticas e Arquitetura.

A exposição está dividida em duas partes: a primeira apresenta esculturas monocromáticas em madeira pintada de branco, que datam do final dos anos 1960 até o início do século 21. A segunda parte exibe obras das últimas duas décadas, nas quais o artista começou a utilizar o alumínio como base para suas criações.

Além das esculturas, a exposição destaca uma cortina de metal formada por pequenos quadrados vazados, que remete à influência de Hélio Oiticica, com quem Ascânio conviveu nos anos 1960. Também são mencionados outros artistas que influenciaram sua obra, como Franz Weissmann e Alexander Calder, conhecidos por suas esculturas geométricas e móbiles. Uma obra de destaque é Escultura 2, que recebeu o prêmio do Panorama da Arte Brasileira de 1972. A exposição também inclui esculturas instaladas na área externa do museu, criadas a partir das esculturas públicas de Ascânio no Rio de Janeiro, que contrastam com a arquitetura do MuBE e convidam os espectadores a interagir com elas de diferentes ângulos.

Até 26 de novembro.

A Casa é Nossa

06/out

Acaba de nascer um novo complexo cultural agregador no Rio de Janeiro: a Sala Partisan, na Lapa. Convidado para assumir a curadoria das exposições do espaço, que abre as portas ao público no sábado, dia 07 de outubro, o produtor de artes visuais Paulo Branquinho logo reuniu um grupo de 21 artistas para uma mostra arrojada, à altura da aguardada ocasião.

Artistas participantes

Adriana Nataloni, Albenzio Almeida, Ana Rutter, Ângelo Milani, Antônia Philipsen Boaventura, Bruca Manigua, Deisi Paiva, Domenico Salas,  Edna Kauss,  Ed Di Lallo, Edson Landim,  Enéas Valle, Ismael Davi, Jung Wladimyr, Lara Milani,  Lina Zaldo,  Lúcia Meneghini, Marcelo Gomes, Mário Campioli, Solange Palatnik e Umberto França integram o grupo convidado para a mostra intitulada “A Casa é Nossa”.

“Além de ser configurada como um grande salão para receber exposições, como esta que será apresentada, a sala dispõe também de um bar e drinqueria, um convite para um bom bate papo, música, artes visuais, performances, lançamentos de livros e o que mais vier com a proposta de incentivar a cena cultural carioca”, diz Paulo Branquinho.

A versatilidade dá o tom deste primeiro evento, antecipando o que está por vir. Conhecido por seus trabalhos com troncos de árvores mortas, o escultor (e velejador) Albenzio Almeida levará suas esculturas em ferro oxidadas pelo mar, criadas especialmente para o evento. Edna Kauss, apresentará uma obra in situ, um portal com iluminação de lâmpadas de neon criado para o local, onde o visitante “entra” em sua obra de linhas e luzes. Mário Campioli, mestre em efeitos especiais e hiper-realismo, promete uma performance no mínimo impactante: chegará acompanhado de um jovem modelado por ele em silicone.

Visitação: de 10 a 28 de outubro.