A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, exibe a retrospectiva itinerante do mestre
internacional da arte cinética Abraham Palatnik, com curadoria assinada por Pieter Tjabbes e
Felipe Scovino. “A Reinvenção da Pintura” apresenta 78 obras produzidas entre os anos de
1940 e 2000. A exposição composta por pinturas, desenhos, esculturas, móveis, objetos e
estudos do artista brasileiro conhecido por obras que combinam luz e movimento e, em
muitos caso, utilizam instalações elétricas.
“A obra de Palatnik caracteriza-se por uma qualidade inegável: permite não só observar as
passagens do moderno ao contemporâneo, mas também estudar e reconhecer uma das
primeiras associações entre arte e tecnologia no mundo, um diálogo cada vez mais presente a
partir da metade do século XX. Esta exposição ultrapassa os limites da pintura e da escultura
modernas, intenção que o artista manifestou claramente nos Aparelhos cinecromáticos, nos
Objetos cinéticos e em suas pinturas, quando passou a promover experiências que implicam
uma nova consciência do corpo”, pontuam os curadores no texto de abertura do catálogo da
exposição.
Segundo os curadores, a singular contribuição de Palatnik para a história da arte não se dá
apenas por sua posição como um dos precursores da chamada arte cinética — caracterizada
pelo uso da energia, presente em motores e luzes —, mas também pela leitura particular que
faz da pintura e em especial pela articulação que promove entre invenção e experimentação:
“Seu lado ‘inventor’ está presente em uma artesania muito particular que o deixa cercado em
seu ateliê por porcas, parafusos e ferramentas construídas por ele mesmo e não pelas tintas,
imagem característica de um pintor. O crítico de arte Mário Pedrosa e o escritor Rubem Braga
já afirmavam, na década de 1950, que Palatnik pintava com a luz”.
“Palatnik dinamizou a arte concreta expandindo-a para além de seu campo usual e integrou-a
à vida cotidiana por intermédio do design. Ao longo de sua trajetória, o artista produziu
cadeiras, poltronas, ferramentas, jogos e sofás, entre outros objetos. Sua obra habita o mundo
de distintas maneiras, apontando para uma formação incessante de novas paisagens e leituras
à medida que diminui, desacelera e molda o tempo. Nesta exposição reunimos todos esses
momentos da obra extraordinária de Abraham Palatnik. Uma obra que oferece ao público
experiências marcantes e solicita, em troca, uma entrega total”, concluem os curadores.
A palavra da curadoria
A obra de Abraham Palatnik (1928) caracteriza-se por uma qualidade inegável: permite não só
observar as passagens do moderno ao contemporâneo, mas também estudar e reconhecer
uma das primeiras associações entre arte e tecnologia no mundo, um diálogo cada vez mais
presente a partir da metade do século XX. Esta exposição ultrapassa os limites da pintura e da
escultura modernas, intenção que o artista manifestou claramente nos Aparelhos
Cinecromáticos, nos Objetos Cinéticos e em suas pinturas.
A retrospectiva Abraham Palatnik — A Reinvenção da Pintura começa pelas obras nas quais se
vê a técnica acadêmica com a qual ele romperia no final da década de 1940 para dedicar-se à
arte cinética, caracterizada pelo uso da energia, presente em motores e luzes, com as séries
Aparelhos Cinecromáticos e Objetos Cinéticos.
Essa mudança de rumos na produção de Palatnik ocorreu em um momento decisivo para a
arte nacional. Nascia a Bienal de São Paulo, um dos marcos na entrada do país no circuito da
arte internacional. Palatnik participou da Bienal de 1951 com um Aparelho Cinecromático, uma
invenção — tão artesanal quanto engenhosa — de uma pintura feita de luz e movimento.
Se os Aparelhos Cinecromáticos criaram uma nova forma de pintar, os Objetos Cinéticos
podem ser vistos como uma renovação na forma de ocupar o espaço. No lugar dos volumes da
escultura, esses aparelhos lúdicos, coloridos e quase sempre motorizados ocupam o espaço
com movimento, aproximando a pesquisa de Palatnik das proposições de Alexander Calder e
Soto. Palatnik foi um dos precursores da arte cinética e da arte concreta. Mas também
dinamizou a arte concreta, expandindo-a para além de seu campo usual, e integrou-a à vida
cotidiana por intermédio do design. O experimentalismo e a organicidade sobrevoam a sua
trajetória — em particular na série de obras que utilizam a madeira como suporte e meio,
aproveitando os desenhos naturais dos veios dos troncos de jacarandá.
Na década de 1980, o artista inicia outra pesquisa com cor: a criação de telas com cordas
coladas para dar volume, e novamente a exploração das cores com a tinta. Na série W, o
artista estuda os jogos óticos resultantes do corte (que hoje realiza com laser) e subsequente
reagrupamento de tiras de madeira pintada, técnica que teve origem na série Relevos
Progressivos (feitos com papel cartão) iniciada na década de 1960. Palatnik movimenta as
varetas do ‘quadro fatiado’ no sentido vertical, ‘desenhando’ o futuro trabalho, construindo
um ritmo progressivo da forma, conjugando expansão e dinâmica visual e “explorando o
potencial expressivo de cada material”. A produção de Palatnik, apresentada nesta
retrospectiva em todas as suas facetas, intriga e encanta: suas obras vão construindo uma
narrativa visual marcante e profundamente elaborada sobre os horizontes alargados por ele.
Até 25 de novembro.