Anna Maria Maiolino – psssiiiuuu…

10/maio

 

 

 

Mostra antológica traz vida-obra de uma das mais relevantes artistas contemporâneas. A exposição inédita de Anna Maria Maiolino – inaugurada no mês em que a artista completa 80 anos – ocupa, com cerca de 300 obras, todas as três grandes salas do andar superior do Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP, espaço só antes dedicado às individuais de Yayoi Kusama e Louise Bourgeois. O curador Paulo Miyada esteve nos últimos três anos ao lado de Anna Maria Maiolino para juntos desenharem a exposição, construída a partir de muitas horas de conversa que resultaram, além de um ensaio aprofundado do curador sobre a produção da artista, em maquetes que dispõem meticulosamente cada obra selecionada.

A mostra antológica, uma vez que traz momentos, obras e acontecimentos significativos na “vida-obra” da artista, como ela mesma nomeou, traz pinturas, desenhos, xilogravuras, esculturas, fotografias, filmes, vídeos, peças de áudio e instalações.  Segundo Paulo Miyada, Anna Maria Maiolino – psssiiiuuu… (onomatopeia que pode ser assobio, chamado, flerte, pedido de silêncio, segredo, sinal) foi concebida como uma espiral que circula entre todas as fases e suportes da carreira da artista. A analogia com a espiral se refere à maneira de voltar e ir adiante ao invés de seguir uma cronologia linear. “Vai-se adiante para se reencontrar o princípio, consome-se energia para devolver as coisas ao que sempre foram”, destaca o curador.

 

Até 24 de julho.

 

Na Casa de Cultura do Parque

05/maio

 

A trajetória e o desenvolvimento do olhar do colecionador – reflexos do tempo e de suas experiências – dão direção à mostra coletiva “Setas e Turmalinas”, uma parceria com o espaço de arte Auroras, em cartaz na Casa de Cultura do Parque, Alto de Pinheiros, São Paulo, SP.

 

 

A escolha curatorial de Gisela Domschke tem como ponto de partida um eixo formado entre uma grande pintura de Francesco Clemente, artista que introduziu Ricardo Kugelmas ao mundo das artes em Nova York, e outra de Laís Amaral, uma de suas mais recentes aquisições. “Pode-se notar neste eixo uma travessia. Busquei absorver essa ideia de passagem, cruzamento e travessia na linha curatorial. No fundo, ao colecionar, você cria uma narrativa de maneira inconsciente e isso tem a ver com suas vivências”, explica Gisela Domschke.

 

 

No texto O Colecionador, o filósofo e ensaísta Walter Benjamin nota como as coisas vão de encontro ao colecionador, ou como ele as busca e as encontra. “Para o colecionador, a ordem do mundo se dá em cada objeto, e no arranjo inesperado com que as organiza – uma percepção quase onírica das coisas”, continua a curadora.

 

 

Ao todo, foram selecionadas mais de 70 obras de arte contemporânea, em tamanhos, técnicas e suportes distintos, como pintura, escultura, desenho, cerâmica e bordado, dos artistas Adriano Costa, Aleta Valente, Alex Katz, Alexandre Wagner, Alvaro Seixas, Ana Claudia Almeida, Ana Prata, Anderson Godinho, Anitta Boa Vida, Antonio Dias, Antonio Oba, Bruno Dunley, Cabelo, Caris Reid, Carolina Cordeiro, Cecily Brown, Cildo Meireles, Cisco Jimenez, Claudio Cretti, Coleraalegria, Dalton Paula, Daniel Albuquerque, David Almeida, David Salle, Eleonore Koch, Emannuel Nassar, Emanoel Araujo, Fabio Miguez, Fernanda Gomes, Flavia Vieira, Flora Rebollo, Francesco Clemente, Gabriela Machado, Gokula Stoffel, Guga Szabzon, Gustavo Prado, Ilê Sartuzi, Jac Leirner, Janaina Tschape, José Bezerra,  Juanli Carrion, Kaya Agari, Kaylin Andres, Laís Amaral, Leda Catunda, Lenora de Barros, Louise Bourgeois, Lucia Koch, Luis Teixeira, Marepe, Marie Carangi, Marina Rheingantz, Mauro Restiffe, Maya Weishof, Melvin Edwards, Moises Patricio, Ouattara Watts, Pablo Accinelli, Paolo Canevari, Paulo Whitaker, Renata de Bonis, Rodrigo Bivar, Santidio Pereira, Sergio Sister, Shizue Sakamoto, Sofia Borges, Sonia Gomes, Sylvia Palacio Whitman, Tadaskia, Tatiana Chalhoub, Thomaz Rosa, Tiago Tebet, Tunga, Valeska Soares, Yhuri Cruz e Yuli Yamagata.

 

 

Em 2019, a exposição “Tensão, relações cordiais”, com curadoria de Tadeu Chiarelli, inaugurou a Casa de Cultura do Parque com uma proposta semelhante: o recorte da coleção da diretora executiva da Casa Regina Pinho de Almeida. Agora, três anos após a abertura, a Casa abre as portas para outro espaço cultural e obras de um colecionador convidado para ocupar a galeria principal. “Esta mostra para a Casa é marcante, pois propõe o encontro de dois espaços, com idealizadores que são colecionadores e têm ideais em comum, como a construção de um espaço plural, com diálogo do público com a arte e a cultura”, pontua o diretor artístico da Casa Claudio Cretti.

 

 

De 09 de abril a 12 de junho.

 

Eu sabia que era desejo

02/maio

 

 

Exposição no Edifício Vera, Rua Álvares Penteado, 87,  Centro, 1º andar, São Paulo, SP. Com curadoria de Núria Vieira, a coletiva atualiza narrativas surrealistas a partir dos desenhos de Louise Bourgeois. Nos desenhos, pinturas, esculturas e instalações, os artistas materializam o sentimento por combinações entre símbolos, objetos e faturas que evocam o desejo no mais amplo sentido. São páginas de caderno, livros, escritos e manifestações de frases, que aparecem como citações que partem inicialmente dos desenhos de Louise Bourgeois. A exposição pretende abordar a atividade surrealista dialogando com intimidade e até, em um nível de pessoalidade com o desejo. São combinações potentes traduzidas em conjuntos de delicados desenhos, posicionados por ímãs contra a parede, em contraste com móveis antigos, pesados, que carregam história de casas e famílias, como herança, combinados à poesia visual, frases e leituras disponíveis para acesso imediato. Do lado de fora, para dentro da exposição.

 

 

Funcionamento normal: quinta e sexta, das 13h às 17h; sábados, das 11h às 17h

De 07 de maio até 03 de junho.

 

Expo Joia

28/abr

 

 

A joia autoral pela perspectiva artística

 

 

Art Lab Gallery, de Juliana Monaco, oferece aos artistas e criativos uma nova vertente de apresentação de seus trabalhos ao público com o início do projeto “Expo Joia”. Em sua edição de estreia, o evento que promove o encontro entre a arte contemporânea e a joalheria autoral, conta com 45 participantes, entre artistas e coletivos, e oferece uma conversa sobre esse universo com as sócias da Casulo Escola de Joalheria: Marilia Arruda Botelho e Maria Regina Mazza.

 

 

Uma joia feita por um artista mantém os atributos de uma obra de arte por ser uma criação autoral, com design e propriedades únicas e, em sua maioria, feitas à mão. Muito próxima de serem consideradas como “Wearable art” – “a arte que pode ser vestida”, também conhecida como “Artwear” ou “arte para vestir”, o termo se refere frequentemente a peças de roupas feitas à mão ou jóias projetadas individualmente, criadas como arte fina ou expressiva, que são desenvolvidas em ouro, prata, metais nobres, bronze, cobre, e suportes diversos como a madeira, porcelana, tecidos, e gemas

 

 

A curadoria de Juliana Monaco não propôs demarcações ou atrelamentos a temas, mas limitou as peças a obras autorais: design e criação de joias brasileiras. Convidados a fazer parte em intersecção com os materiais e formas utilizadas pelas jóias feitas à mão, o escultor Emanuel Nunes, de Moçambique e artista representado pela Art Lab Gallery, exibe suas mais recentes criações em metais diversos. A mineira Regina Misk apresenta um gigante colar de parede, feito à mão, em elos de crochê e madeira e Lena Emediato sócia e criativa do Estúdio Leh, traz delicadas instalações de parede que utilizam madeira, e cristais em sua composição.

 

 

Casulo Escola de Joalheria

 

 

A Casulo, de Marilia Arruda Botelho de Albuquerque e Maria Regina Mazza, foi criada pensando na construção da identidade e do pertencimento através da joia ou do adorno. Adornar-se! Enfeitar-se! Desde os primórdios, as jóias e os adornos demonstram sinais de status cultural, social ou religiosos através de amuletos de proteção. A concepção de uma peça, desde a sua criação, está relacionada ao ato explícito da beleza, transformação de materiais que acompanha a evolução da humanidade, contando a história através das joias. A Casulo, escola de joalheria, acredita na transformação, através do ensinamento, da criatividade e da construção.

 

 

Artistas: As Joias da Rainha, AKLEINDESIGN, Alex Gopa, ALL Design, Aparecida Macena, Carla Abras, Carolina Orfaly, EKSI | Ateliê, Elisa Galvão, Flavia Vidal, Helio Kawakami, Inesita Pasche, Ivone Carmen Joias, Jacque Basso, Jane Costa Biojoias, Joias de Rudá, Juliana Slama, Juliana Xavier Joias, JUOLI, labmobili, LECARLE JEWELS, Lena Emediato, Levess Joias by Elisabeth Vessoni, Lisia Barbieri, Lu Gerodetti , Marcel Motta , Maria Regina Mazza, Marilia Arruda Botelho, NEK, Noliver Maison, O Religare – Uma preciosa terapia, Ourivesaria Rio Preto, Ouro Preto Bellas Jóias, Ouroboros Arts by Fernanda Grizzo, Plume Jóias, PYXIS Joias, Raquel de Queiroz Joias, Regina Misk, Sabrina Azoury, Sádhana Jóias, Silvana Imbelloni Vaquero, SK Design, Somma8, Yonne Designer, Zus Studio, Juliana Monaco, escultor Emanuel Nunes, Regina Misk, Lena Emediato, Estúdio Leh.

 

 

Dias 29, 30 de abril e 01 de maio.

Horário evento: sexta-feira, sábado e domingo, das 11 às 19h

Conversa com a Casulo – dia 29 de abril, sexta-feira, às 18h30

Local: Art Lab Gallery/Rua Oscar Freire, 916 – Jardins, São Paulo, SP.

 

 

 

Dois eventos na Bolsa de Arte SP

12/abr

 

 

Estreou na quinta-feira, 07 de abril, o espetáculo “Lygia.” na Bolsa de Arte, Jardins, São Paulo, SP. O monólogo é interpretado por Carolyna Aguiar com direção de Bel Kutner e Maria Clara Mattos, que também assina a dramaturgia desenvolvida a partir dos diários de Lygia Clark. A cenografia foi concebida pelo Estúdio Mameluca composto por Ale Clark, neta da artista, e Nuno FS.

 

Em parceria com a Associação Lygia Clark, o espetáculo fica em cartaz na Bolsa de Arte até 28 de maio, quintas e sextas-feiras às 20h e sábados às 18h. Os ingressos estão disponíveis na plataforma do Sympla.

 

Através dos diários, o monólogo “Lygia.” pretende apresentar ao público essa artista que usou a própria angústia como material de pesquisa, revelando não só o contexto de criação das obras, mas reflexões sobre o que lia e via, amores, temores, dúvidas e desencantamentos.

 

Juntamente à apresentação do espetáculo, inaugurou, sexta-feira, 08 de abril a exposição homônima com curadoria e texto de Felipe Scovino.

 

A exposição – com entrada gratuita – pode ser visitada de segunda a sexta-feira das 11h às 19h e sábados das 11h às 17h.

 

 

Desejo imaginante

 

 

Uma exposição de Maria Martins, em colaboração com o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), aprofunda uma parceria que remonta não apenas a iniciativas recentes, como também aos tempos de nosso patrono.

 

Uma das primeiras obras a capturar o olhar do visitante, na Casa Roberto Marinho, é a escultura em bronze O implacável (1944), da mineira Maria Martins (1894-1973), instalada diante da fachada do casarão neocolonial, no Cosme Velho.

 

Até 26 de junho.

 

 

Novidade da Gomide&Co

17/mar

 

 

A galeria Gomide&Co, Jardins, São Paulo, SP, anuncia com grande entusiasmo a representação do artista português Tiago Mestre (1978). Radicado em São Paulo há cerca de doze anos, o artista desenvolve o seu trabalho entre a pintura, a escultura e a instalação, meios pelos quais explora questões que relacionam a sua formação inicial em arquitetura com a discursividade da arte contemporânea.

Valendo-se de materiais diversos, Mestre constrói um universo que responde, através da arte, à dimensão retórica dos projetos arquitetônicos e artísticos da modernidade (e seus desdobramentos em nossos dias). O carácter impreciso (e por vezes ambíguo) das suas esculturas e pinturas nos remetem frequentemente para um olhar que atravessa a relação primordial do homem com a natureza e toda a vasta cultura material que daí surge. Não raro, contudo, o seu trabalho se desdobra em especulações voltadas para as relações tensas – mas sempre lúdicas – entre fundo e forma, superfície e estrutura, possibilitando assim uma alternância constante entre questões relativas à especificidade dos meios artísticos (por vezes técnicas ou funcionais) e um exercício de manutenção da liberdade de uma poética mais ampla que evoca outras práticas (cinema, literatura, música…).

“É na exposição que meu trabalho realmente acontece” – sublinha Tiago Mestre, querendo com isso dizer ser ali que o espaço do ateliê realmente termina, contando que muito do raciocínio do artista se vale dessa organização e edição da obra no espaço de apresentação. A exposição torna-se, em si, uma disciplina.

Tiago Mestre formula os seus “comentários do mundo” a partir de trabalhos que não se fixam em um estilo definitivo – cada projeto pode se inscrever em um campo de pesquisa temática e formal particular. A partir do trabalho dessa mão “não especializada”, mas disponível, o artista visa promover o que chama de “descontinuidade/clivagem do estatuto” da obra, possibilitando uma troca mais livre e intuitiva entre disciplinas artísticas, temporalidades históricas, dispositivos de apresentação e narrativas, em contraponto a uma discursividade mais linear e normalizada.

Resgate da arte dos anos 1980

16/mar

 

A Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS, anuncia para o dia 19 a inauguração da exposição “80’s” na Sala dos Pomares. Composta por mais de 30 artistas, esta mostra inédita resgata as transformações no campo das artes visuais na década de 1980. Com curadoria de Vera Chaves Barcellos e texto do historiador de arte José Francisco Alves, “80’s” abrange produções em desenho, pintura, escultura, gravura, colagem, serigrafia e videoarte. A mostra traz um diverso conjunto de trabalhos, destacando a renovação de linguagens tradicionais, como a pintura, a escultura e a gravura, além de experimentos audiovisuais, facilitados pelo crescente avanço dos meios digitais na época.

A profusão da arte nos anos 1980 reflete o contexto de abertura política e de valorização da cultura neste período, com o início do processo de democratização do Brasil e a criação do Ministério da Cultura, o MinC. Outro fator marcante foi a profissionalização do artista, impulsionada pelo incremento da arte universitária e pelo crescimento do mercado, com um maior número de galerias, ampliando a circulação de obras.

A exposição 80’s conta com obras da coleção da FVCB e de artistas convidados – na maioria brasileiros, mas também de estrangeiros radicados no Brasil ou vinculados ao cenário nacional. Entre os destaques estão as telas elípticas de Anna Bella Geiger (Rio de Janeiro, RJ, 1933), em que reavalia criticamente a história da pintura e seus próprios trabalhos; a figuração geométrica da obra de Rubem Valentim (Salvador, BA, 1922 – São Paulo, SP 1991), com símbolos inspirados na cultura popular afro-brasileira; o expressionismo presente na obra de Maria Lidia Magliani (Pelotas, RS, 1946 – Rio de Janeiro, RJ, 2012); a pintura abstrata com cores intensas de Ana Alegria (Porto Alegre, RS, 1947); uma pintura sobre papel de Iberê Camargo (Restinga Seca, RS, 1914 – Porto Alegre, RS, 1994) e a tridimensionalidade em grandes proporções das esculturas de Patricio Farías (Arica, Chile, 1940).

Artistas da exposição

Alberto Luz | Alfredo Nicolaiewsky | Alphonsus Benetti | Ana Alegria | Anna Barros | Anna Bella Geiger | Antonio Dias | Carlos Pasquetti | Elaine Tedesco | Elida Tessler | Frantz | Hamilton Viana Galvão | Heloisa Schneiders da Silva | Iberê Camargo | Ione Saldanha | Karin Lambrecht | Lenir de Miranda | Lenora de Barros | Lucia Koch | Luiz Gonzaga | Maria Lidia Magliani | Maria Lucia Cattani | Maria Tomaselli | Mario Azevedo | Mario Rohnelt | Marion Velasco | Mauro Fuke | Michael Chapman | Milton Kurtz | Patricio Farías | Regina Ohlweiler | Romanita Disconzi | Rubem Valentim | Rufino Mesa | Sonia Moeller | Tatiana Pinto | Vera Chaves Barcellos | Wilson Cavalcanti.

Transporte gratuito
Saída no sábado, 19/03, às 10h30, em frente ao Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/nº – Centro Histórico de Porto Alegre).
Inscreva-se pelo e-mail educativo.fvcb@gmail.com ou pelo telefone (51) 98229-3031, informando nome completo e número do RG.

Visitação até o dia 23 de julho.

 

Inéditos de Afonso Tostes

14/mar

 

 

 

A Mul.ti.plo Espaço Arte, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou no exposição individual de Afonso Tostes. Conhecido por suas esculturas em madeira descartada, na mostra “As coisas que ainda existem” Afonso Tostes apresenta cerca de 16 trabalhos inéditos, incluindo peças esculpidas sobre carvão, material extremamente instável. As novas obras, criadas durante a Pandemia, trazem reflexões sobre os impactos ambientais causados pelo homem, remetendo a queimadas, mudanças climáticas, extinção de espécies, etc. Nas peças apresentadas, além de madeira e carvão, entram também ferro e papel. A exposição permanecerá em cartaz até 29 de abril.

Sem apresentar-se individualmente no Rio de Janeiro desde 2015, na atual mostra da Mul.ti.plo, Afonso Tostes traz exibe três esculturas de grande formato, sete objetos de parede sobre tela e seis desenhos sobre folhas de dicionário, divididos em três séries. “Trabalho sobre o que já existe, coisas descartadas por aí, que sofreram a interferência da mão humana. Me interessa a relação do homem com seu entorno, com a natureza. Não falo apenas da relação com o meio ambiente, mas também das relações pessoais, das nossas expressões visíveis e invisíveis”, explica Afonso Tostes.

A série com carvão é composta de cerca de sete objetos de parede sobre tela, de 40x50cm cada um. O trabalho começou com a coleta de restos de árvores carbonizadas em uma queimada na região de Visconde de Mauá. Depois, ele encontrou numa rua de Copacabana um dicionário ilustrado da década de 1960. “Tinham várias reproduções de pinturas da natureza, uma catalogação das espécies. Comecei a confrontar essas duas ideias e daí nasceu a série, que junta carvão esculpido com ilustrações de borboletas, peixes, aves, roedores, insetos e mamíferos”, explicou o artista.

Em outra série, utiliza as folhas da enciclopédia como base para desenhos feitos com pigmentos de pó residual de madeira, recolhido em seu próprio ateliê. Essas obras medem entre 210x100cm e 60cmx40cm. Para completar a mostra, Afonso Tostes apresenta também esculturas feitas a partir de galhos, amarrados, de 202cmx60cm. “Com uma linguagem potente e singular, as obras de Afonso nessa exposição falam da precariedade humana. Os trabalhos são sofisticados, e carregam uma certa melancolia da hora, um sentimento de fragilidade da vida, dessa capacidade que temos de destruí-la mas também de transformá-la em poesia”, assinala Maneco Müller, sócio da galeria.

 

Sobre o artista

Afonso Tostes nasceu em 1965, na cidade de Belo Horizonte, MG. Sua trajetória artística teve início em sua cidade natal, onde cursou a Escola Guignard (UEMG). No final dos anos 1980, transferiu-se para o Rio de Janeiro, voltando-se para o estudo do suporte bidimensional – posteriormente acompanhado por uma vasta produção escultórica com madeiras encontradas nas ruas. O interesse do artista volta-se para o alcance de métodos simples a partir desses materiais descartados, desenvolvendo esculturas aparentemente despojadas de complexidade estrutural e que carregam no corpo os sulcos e as marcas dos usos anteriores. Em sua obra, opta quase sempre por materiais que já tenham passado por algum processo de utilização. Sua prática também propõe experiências sensíveis nascidas de um olhar crítico para o mundo. Afonso Tostes vive e trabalha no Rio de Janeiro.

Magliani, restrospectiva na Fundação Iberê Camargo

10/mar

 

 

A artista visual Maria Lidia Magliani será homenageada pela Fundação Iberê Camargo com uma grande exposição que aborda 50 anos de produção.

“Não separo a artista da pessoa. Sou toda um mesmo nó – minha escolha é pintar, não saberia como ser de outro modo. Aparentemente fiz e faço muitas outras coisas, na verdade, todas partes de uma só, a pintura.” (1987)

No dia 19 de março, sábado, às 14h, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura uma grande e inédita exposição de Magliani (1946-2012). “Magliani” reunirá cerca de 200 obras provenientes de mais de 60 coleções, incluindo os principais museus do Brasil como Museu de Arte do Rio, Museu Afro Brasil, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAC-USP, MAC-RS, Museu de Arte de Santa Catarina, MARGS, Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Pelotas) e Fundação Vera Chaves Barcellos (Viamão). Com curadoria de Denise Mattar (SP) e de Gustavo Possamai (RS), a mostra inclui trabalhos desde a época de estudante – início dos anos 1960 – até 2012, ano de seu falecimento.

“A obra de Magliani é um desafio. Não é uma arte fácil, é feita para incomodar, para fazer refletir. A artista estava interessada nas questões humanas, nas relações entre os seres, nos problemas e no sofrimento inerente à existência: o desencontro, o desamor, a hipocrisia da sociedade, o medo da solidão. A apresentação de seu trabalho na Fundação Iberê Camargo, torna inevitável o paralelo com o pintor. Em 1993, Iberê disse: “Eu não nasci para brincar com a figura, fazer berloques, enfeitar o mundo. Eu pinto porque a vida dói”. Uma frase que poderia ser de Magliani, que, em 1997, escreveu: “Eu gostaria de dizer às pessoas que veem os meus quadros: !Sinto muito senhores, não é agradável’”, destaca Denise Mattar, que conheceu Magliani em 1987 quando era diretora técnica do Museu de Arte Moderna de São Paulo, e a artista participara do Panorama de Arte Atual Brasileira. Mais tarde, em 2004, a curadora reencontrou a artista no Rio de Janeiro, onde fez a apresentação da exposição “Trabalho Manual”.

Como lembra Gustavo Possamai, responsável pelo acervo da Fundação Iberê Camargo: “Magliani foi uma artista rara e merece todo reconhecimento. Por isso, garimpamos e reunimos o máximo de obras possível, sem medir esforços. Promovemos a restauração de muitas delas, reunimos escritos e depoimentos seus e de quem escreveu sobre seu trabalho, revisamos e ampliamos sua cronologia. É nossa forma de contribuição para a redescoberta de seu trabalho.” Possamai conta que, durante o processo de pesquisa, foi encontrada uma carta de Iberê Camargo para Magliani, datada de 1992, na qual o pintor escreveu: “Nós dois temos a mesma meta, o mesmo ideal, a mesma devoção. Haveremos de deixar nossos rastros neste chão em que nascemos.” Um depoimento precioso que reitera a oportunidade dessa exposição.

“…pinto a solidão no meio da cidade… a solidão do consumo”

Nascida em 25 de janeiro de 1946, em Pelotas, RS, Magliani passa a residir com a família em Porto Alegre, com 4 anos de idade. As informações sobre a família são esparsas. Seu avô era italiano, decorador de paredes; o pai servidor público e a mãe era do lar. A artista, apesar das dificuldades financeiras enfrentadas pela família, desde a adolescência gostava de ler, ouvir música, cinema, teatro, desenhar e de pintar.

Magliani formou-se em Artes Plásticas pelo Instituto de Artes da UFRGS, mas se autodenominava pintora: “…artista plástico faz muita coisa; eu só pinto, desenho, gravo, tudo derivado da pintura”. Apesar da afirmação, ainda na década de 1960, trabalhou em teatro, ilustrando capas de programas, fazendo cenografia e atuando em peças, como “As Criadas” (1969), de Jean Genet, “A Celestina” (1970), de Fernando Rojas, e “O Negrinho do Pastoreio” (1970), de Delmar Mancuso, nesta última como protagonista. A artista também se interessava por moda, e apreciava customizar, costurar e tricotar o que vestia.

Outra área de atuação foram os jornais, onde trabalhou, nos anos 1970, como diagramadora e ilustradora, ofício retomado em algumas mudanças de cidade posteriormente. Os jornais foram Folha da Manhã, Diário de Notícias, Zero Hora e Folha de São Paulo, entre outras participações e ilustrações.

Magliani deixou de residir em Porto Alegre em 1980, morou em São Paulo, em Tiradentes, Cabo Frio e no Rio de Janeiro, mas nunca se desligou nem de Porto Alegre e nem de sua terra natal, Pelotas, realizando regularmente exposições nessas cidades.

Sua produção é intensa e vigorosa e a exposição apresenta um panorama bastante consistente de seus trabalhos. A mostra é complementada por uma publicação dividida em dois volumes: o primeiro concebido como um catálogo de obras, e o segundo reunindo entrevistas e textos de Magliani, cartas, textos sobre ela de autores como: Carlos Scarinci, Teniza Spinelli, Celso Marques, Angélica de Moraes, Maria Amélia Bulhões, entre outros.

Reunindo um volume significativo de obras, a exposição apresenta trabalhos de todo o percurso de Magliani, organizados de forma cronológica e mostrando as alterações que sua obra foi sofrendo ao longo dos anos. Para compartilhar com o público a instigante personalidade da artista e sua multiplicidade, o trajeto da mostra é complementado com algumas frases e fotos da artista em vários momentos de sua vida. Na sequência são apresentadas pinturas do início de sua carreira, de 1964 a 1967, caracterizadas por um clima melancólico e lírico, com a inserção das frases poéticas riscadas sobre a tinta: “A espera do canto”, “O mesmo corpo com som de primavera”, “Autoretrato na nuvem”, “Eu tenho a flor”, e “Eu sou a inútil pureza nascida de dois silêncios” são algumas delas.

Em 1968 há uma mudança significativa na obra da artista, na qual ela se descreve como uma “delatora do desencontro”. É uma fase de passagem, influenciada pela pop art com trabalhos, como “Segundo canto para o amigo triste” e “As portas fechadas da cidade”. Um período difícil da Ditadura militar e a convivência com a Censura nas redações influencia a obra de Magliani. Seu repertório torna-se mais drástico, e, em 1976, ela faz a exposição “Anotações para uma história”, no MARGS. Foi um choque! A sociedade gaúcha não estava preparada para o que viu. No ano seguinte, levou ainda mais longe sua proposta realizando a série “Ela”, com grotescas mulheres seminuas, imensamente gordas, que ela considerava uma espécie de retrato interior da humanidade, e dizia: “Minha intenção é fazer a figura sair da tela, se derramar por cima da gente, sufocando”. A série, muito bem representada na retrospectiva, chamou a atenção dos críticos Jacob Klintowitz e Marc Berkowitz e foi determinante para a mudança da artista para São Paulo. Antes de ir embora, realizou na Galeria Independência, em Porto Alegre, a exposição “Brinquedo de armar”, reunindo desenhos e pinturas, sobre as quais dizia: “Acho que a mulher é o brinquedo mais armado e desarmado constantemente. Mas considero que todo mundo é, ou pode ser, um brinquedo de armar.”

O período de 1980 a 1988, o mais marcante da carreira da artista, coincide com o tempo em que ela residiu em São Paulo. Lá produziria as séries “Retratos falados”, “Crônica do amanhecer” e “Discussões com Deus”. Abandonando os tons sépia, passa a usar cores vibrantes e ácidas; mescla lápis de cor, de cera, pastel, grafite e até materiais de maquiagem, como corretivo e delineador, e muda o tratamento da pintura, usando a tinta acrílica e adotando pinceladas ágeis e gestuais, como traços de desenho, num processo que imprime movimento ao trabalho. É um momento no qual a obra de Magliani conversa de perto com a de Francis Bacon, atingindo o ápice de contundência e visceralidade da pintora. Retorcidos e distorcidos, corpos e rostos se desfazem e refazem, em movimentos bruscos.

Seus trabalhos são apresentados no Panorama do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Bienal Internacional de São Paulo, e, em 1987, Evelyn Ioschpe promove no MARGS uma mostra de caráter retrospectivo: “Auto-retrato dentro da jaula”. Dez anos depois Magliani foi acolhida pelo público de sua cidade como uma estrela, a mais importante artista gaúcha de sua geração. O público poderá ver novamente todas essas séries, hoje integrando coleções de museus como Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAM-SP e MAC-USP.

Em 1989, ela já estava cansada da violência e da poluição e queria fazer pinturas em um lugar mais tranquilo. Escolheu a pequena e histórica Tiradentes, MG. Lá, suas pinturas revelaram a solidão das montanhas, retomando os tons terrosos, nas séries “Em Gerais”, “Madrugada insone” e “Acumulações”. A artista também desenvolve, nesse período, uma série de cabeças, que são esculturas em madeira e papier machê.

Em 1997, mais uma mudança, agora para o Rio de Janeiro, mais especificamente o bairro de Santa Tereza. Passou a frequentar o Estudio Dezenove, onde conhece o artista Julio Castro.

Em 1999, Magliani retornou a Porto Alegre, onde ministrou algumas aulas e oficinas de pintura e papier machê. A passagem pela capital gaúcha durou um ano. No ano 2000 voou para o Rio de Janeiro. Com tantas mudanças a produção de Magliani diminui, mas há séries marcantes nesse período: “Acumulações” e “Alfabeto”, trabalho que deriva para as figuras recortadas das séries “Retratos de Ninguém” e “Todos”. A partir de 2009 é intensa sua produção de gravuras, impressas no Estudio Dezenove. “Um dos sonhos”, “Fábula”, “Da noite” e “O poeta” são algumas delas. Curiosamente, ao lado desse mergulho no universo monocromático, denso e expressionista da gravura, Magliani desenvolve a série mais colorida e lúdica de toda a sua carreira. São pinturas realizadas em estridentes cores acrílicas, recortes em madeira e objetos. Uma parte desse conjunto, sob o título “My baby just cares for me”, apoiada em gravação da cantora Nina Simone, foi apresentada em exposição individual no Museu Imaginário, em Bruxelas, Bélgica.

Todos esses momentos, apresentados em conjunto, revelam com clareza a excelência da obra de Maria Lídia Magliani, que começa a ser redescoberta também internacionalmente.

Magliani humanista

Apesar de pessoalmente engajada na luta pelos direitos humanos, Magliani não admitia que sua obra fosse interpretada como política ou identitária. Era intransigente nessa questão. São muitas as declarações dela a esse respeito. “Meu interesse é pelo que as pessoas sentem, não pelo que elas pensam […] Tenho preocupação com a vida, com a humanidade em geral. Nada a ver com raça específica, religião, nada. Uma coisa que é comum a todo mundo. A essência humana é igual para todos. O que interessa é isso. Todos os outros acréscimos: nacionalidade, cor, ideologia, credo, preferência sexual, time de futebol, tudo isso é acessório.”

Dentro dessa atitude de defesa da autonomia da sua obra, acima de qualquer circunstância, está também a rejeição a todo tipo de abordagem referenciando seu trabalho à Negritude. “Por que sempre me perguntam como é ser negra e ser artista? Ora, é igual ao ser de qualquer outra cor. As tintas custam o mesmo preço, os moldureiros fazem os mesmos descontos e os pincéis acabam rápido do mesmo jeito para todo mundo.”  A posição de Magliani sempre foi candente nessa questão, e ela afirmava, desassombradamente, que era contrária a guetos. Na publicação da UFRGS, “Nós, os afro-gaúchos”, de 1997, fez a seguinte declaração, quase um manifesto: “Sou brasileira, nascida no Rio Grande do Sul. Isto é o bastante. Não quero escolher uma raça em função da cor da minha pele. Não quero ser fatiada, dividida em porções, me aceito como soma.”

Uma lutadora, sem medo de desafios, que, entre divertida e séria, dizia: “Minha mãe falava: ‘Não se pode dar um passo maior que as pernas.’ Então vou ficar sentada, não vale a pena caminhar? Qual é a graça? Dar um passo maior que as pernas sempre. Romper expectativas, e os estereótipos principalmente.” Maria Lídia Magliani faleceu em de 21 de dezembro de 2012, no Rio de Janeiro, vítima de uma parada cardíaca.