Barrão: Paleotoca

06/mai

O Galpão Fortes Vilaça, apresenta a exposição individual “Paleotoca” de Barrão. Paleotocas são labirintos gigantes escavados por animais já extintos, como as preguiças. Essas tocas rementem-se a construções precárias, utilizadas por esses animais como proteção e abrigo para o clima hostil que havia há 10 mil anos. Para essa ocasião, as 20 esculturas em resina, com as quais o artista carioca dá continuidade a sua trajetória por entre o universo dos objetos e do colecionismo, procuram estabelecer uma relação direta com espaço físico que as acolhem, além de travar um dialogo com a questão do tempo e ritmo estabelecidos com o processo de produção e criação do artista.

 

Conhecido por sua produção escultórica dedicada à montagens com peças de cerâmica prontas, no último ano Barrão passou a investir num novo processo investigativo, que parte do gesso para chegar na resina como material elementar. Enquanto as colagens fazem com que os objetos percam suas qualidades primárias, as peças de resina monocromáticas (todas na cor branca) vão ainda mais além e demonstram uma qualidade de total disfunção da própria existência e adquirem uma nova atribuição. O artista inicia, dessa forma, uma pesquisa voltada para não fragmentação, por meio de uma coleção de objetos muito mais enxuta e econômica.

 

Essa nova investigação possibilitou ainda ao artista descobrir com mais liberdade as possibilidades estéticas, principalmente no que diz respeito ao gesto escultórico. Barrão explorou não só as vantagens da modelagem e suas possibilidades de repetição, mas também as diferentes formas de combinar, agrupar e empilhar objetos do uso cotidiano, como garrafas, galhos, isopor, caixas de som, fitas cassetes, etc., tudo replicado em composições aleatórias inusitadas. Em “Geo Milho”, de 2015/16, por exemplo, três espigas de milho adequam-se dentro do que seria uma moldura de isopor para compor um único objeto, ao passo que “Castelos de Cassetes – F.S. Torres”, 2015 traz cinco fitas cassetes acasteladas.

 

 

Sobre o artista

 

Barrão nasceu em 1959 no Rio de Janeiro, cidade onde vive e trabalha. Dentre suas exposições individuais, destacam-se: “Fora Daqui”, Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, 2015; “Mashups”, The Aldrich Contemporary Art Museum, Ridgefield, USA, 2012; e “Natureza Morta”, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal, 2010. Em mostras coletivas, o artista também já participou, entre outras, do Panorama de Arte Brasileira em 2007 e de exposições no MAC, São Paulo; Paço Imperial, Rio de Janeiro; Pinacoteca do Estado de São Paulo; além da antológica mostra “Como Vai Você, Geração 80?” no Parque Lage, Rio de Janeiro, 1984. Paralelamente, Barrão ainda integra desde 1995 o coletivo Chelpa Ferro, com Luiz Zerbini e Sérgio Mekler.

 

 

Até 18 de junho.

Burle Marx em NY

05/mai

Na sexta-feira (6), o arquiteto-paisagista Roberto Burle Marx (1909-1984) ganha uma retrospectiva em Nova York. Até 18 de setembro, o Jewish Museum (Museu Judaico), com sede no Upper East Side, em Manhattan, exibe quadros, maquetes de jardins, tapeçaria, vitrais, vasos, azulejos, capas de livros, colares e ilustrações do artista. Trata-se de uma produção tão prolífica – e de formas e estilos artísticos tão diversos – que Claudia J. Nahson, co-curadora da exposição, na tarde de segunda (2), um dia antes da exposição ser apresentada à imprensa, recebia telefonemas de colecionadores. “A última ligação foi de uma pessoa que tinha uma jóia desenhada por Burle Marx e queria saber se podíamos inclui-la na mostra”, explicou a curadora, que declinou a oferta. “Tem sido assim, pessoas nos oferecendo os mais variados tipos de trabalhos de Burle Marx”, completa Jens Hoffmann, o outro curador da exposição.

 

Com 200 trabalhos de Burle Marx e três anos de preparativos, a mostra “Roberto Burle Marx: Brazilian Modernist” (modernista brasileiro) do Jewish Museum detem agora o crédito de ser a primeira grande retrospectiva do artista nos Estados Unidos, com direito a um livro-catálogo (US$ 50), escrito e editado pela dupla de curadores e que põe em perspectiva para o público internacional o trabalho de Burle Marx, além de apresentar alguns de seus seguidores. A mesma exposição, patrocinada pelo Deutsche Bank, segue em julho de 2017 para Berlim. Em novembro de 2017 (e até março de 2018), ela será apresentada no Museu de Arte Moderna do Rio.

 

Embora Burle Marx tenha criado e supervisionado mais de 2 mil projetos de paisagismo internacionais, outras facetas da versatilidade artística dele ainda continuam totalmente desconhecidas nos Estados Unidos, sendo raramente discutidas na mídia. “Ainda tendemos a ser míopes em se tratando da arte moderna que vem de fora”, explica Hoffmann. “Mas existe atualmente uma maior seriedade em explorar o modernismo fora da América do Norte ou da Europa, sem aquela ênfase total no fetichismo e exotismo pelo quais o movimento costuma ser visto”. Nos últimos meses, o Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, confirmou essa tendência, organizando duas exposições que “linkavam” também o trabalho de Burle Marx: “Lygia Clark: The Abandonment of Art, 1948–1988″ (organizada em 2014) e “Latin America in Construction: Architecture 1955–1980″ (exibida no ano passado).

 

A curadora Claudia descreve os diversos estilos de Burle Marx como “um planeta dentro de si próprio”. Exemplos desses mundos do paisagista estão por todos os lados do museu. São fotos do calçadão da praia de Copacabana; desenhos do Arco da Lapa; um auto-retrato, retratos do pai (o judeu alemão Wilhelm Marx) e da mãe (a católica Cecília) e telas inspiradas por Henri Matisse, Cândido Portinari e pelo movimento Cubista.

 

Também expostas estão maquetes para o Ministério da Saúde e Justiça, do Rio de Janeiro, desenhos com a perspectiva do Parque do Flamengo, do jardim suspenso da sede do Banco Safra, em São Paulo, do Parque Del Este, em Caracas, e o design de um mural que Burle Marx criou para o lobby do prédio (projeto do arquiteto austro-americano Richard Neutra) Amalgamated Clothing Workers of America, em Los Angeles. Boa parte dos itens expostos na retrospectiva vieram do sítio do artista em Guaratiba, no Rio.

 

A maior obra da exposição ocupa toda a grande parede do amplo salão do Jewish Museum. Trata-se de um item de tapeçaria em lã, de 26,38 m de largura por 3,27m de altura, comissionado pela prefeitura da cidade de Santo André. Permanentemente exposta no Salão Nobre do Paço andreense, na região do ABC Paulista, a obra agora está fazendo sua segunda viagem internacional (a primeira foi para Paris) desde sua criação em 1969. “Trata-se de uma de minhas peças favoritas. Não somente pelo tamanho colossal, mas pela concentração harmoniosa de estilos de Burle Marx, como o design, pintura e arquitetura”, diz Hoffmann.

 

Os diversos estágios do mais importante projeto de Burle Marx nos Estados Unidos, o calçadão e jardins do Biscayne Boulevard, em Miami Beach, estão documentados na exposição. Há também curiosidades como os projetos não executados do jardim da Organização dos Estados Americanos, na capital americana de Washington D.C., em parceria com o paisagista nascido na Itália e criado na Suíça e Brasil Conrad Hamerman.

 

A homenagem à religião do pai ganha destaque na exposição, com itens nunca antes exibidos. Uma maquete de quatro pilares da sinagoga Congregação Judaica do Brasil, no Rio, foi o derradeiro projeto do artista, em 1994. O Jewish Museum apresenta os desenhos de oito vitrais (não executados) da sinagoga Beit Yaakov, no Guarujá, 1985, e os esboços do projeto para o “Jardim da Árvore da Vida”, inspirado nos ensinamentos da Cabala, que seria construído em Jerusalém.

 

Jens Hoffman credita sua introdução ao “riquíssimo universo de Burle Marx” à artista francesa Dominique Gonzalez-Foerster, em 1999, época em que trabalharam juntos em uma exposição apresentada em Barcelona. Quando os curadores do Jewish Museum bateram o martelo a respeito da retrospectiva de Burle Marx e começaram a fazer visitas ao Brasil, se depararam com a influência do paisagista na obra de artistas contemporâneos e de diversas mídias. A exposição analisa sete deles, incluindo a francesa Dominique.

 

São eles: o pintor venezuelano baseado em Lisboa Juan Araujo, a escultura paulista Paloma Bosquê, a fotógrafa italiana Luisa Lambri, o artista nova-iorquino Nick Mauss, o músico americano Arto Lindsay (que criou três composições musicais especialmente para a exposição) e a artista carioca Beatriz Milhazes, esta última com a instalação “Gamboa”, série de cinco esculturas suspensas e comissionadas para o lobby do museu, apresentada concomitantemente com a exposição do paisagista até 18 de setembro. “O mais importante legado deixado por Burle Marx foi o que ele fez para proteger a natureza com seus designs e arte, e que seres humanos podem comunicar-se com a natureza sem destruí-la”, diz Milhazes em entrevista para o livro da exposição. Texto e fotos por Marcelo Bernardes/Fonte: baixomanhattan.blogfolha.uol.com.br

Pensão artística

03/mai

Durante um período de 5 (cinco) dias, o artista visual Fábio Carvalho participa de um projeto de residência artística na região portuária do Rio de Janeiro, chamado “Pensão Artística”. Para esta residência o artista prepara a intervenção urbana “OCUPAÇÃO OLYMPIA”, idealizada especialmente para o projeto Pensão Artística, que consiste da criação de uma série de pequenas obras em papel com desenhos alusivos a atletas (em particular das práticas esportivas mais tradicionais), que serão aplicadas sobre paredes da Gamboa.

 

Ao estilo lambe-lambe, a obra fará as vezes de azulejos de papel, tendo como referência os azulejos de figura avulsa portugueses. A região da Gamboa tem um rico histórico de ocupação portuguesa, sendo a região ainda pontuada por uma série de imóveis antigos de meados do século XIX ao início do XX cujas fachadas encontram-se azulejadas como quando originalmente construídos, dentro da tradição luso brasileira. As imagens de esportistas serão misturadas com ornamentação floral pintadas à mão pelo artista. As imagens de esportistas serão misturadas com imagens mais tradicionais das figuras avulsas portuguesas, em particular motivos florais.

 

As intervenções com azulejos de papel na forma de lambe-lambe de Fábio Carvalho surgiram em fevereiro de 2015, quando o artista realizou uma residência artística em Lisboa, Portugal. Em Lisboa, na intervenção urbana “APOSTO”, o artista criou novos padrões para os azulejos de papel, baseados em padrões tradicionais portugueses, que foram aplicados em diversas fachadas onde os azulejos originais já estavam em falta, por deterioração ou roubo. Os novos padrões criados por Fábio Carvalho foram planejados de forma a se integrarem aos azulejos já existentes. Em alguns casos, foram criados padrões específicos, visando um maior diálogo entre o padrão original da fachada e o criado pelo artista. Os azulejos de papel, ao mesmo tempo que causam um certo estranhamento ao olhar, podem ser algumas vezes facilmente confundidos com os azulejos originais.

 

Os projetos de arte urbana de Fábio Carvalho atuam como pequenas inserções, peças que invadem o espaço quase como um parasita. As intervenções aparecem mais por tensionarem o que já está lá, em vez de impor-se de cima para baixo a um espaço. As intervenções exigem uma certa intimidade para entrar em ação. Eles permanecem dormentes até que você as ative com o seu olhar. Eles não gritam – sussurram.

 

O dia a dia da residência artística e do desenvolvimento da intervenção urbana OCUPAÇÃO OLYMPIA pode ser acompanhado em um álbum de fotos da página do artista no facebook, através do link: http://tinyurl.com/OcupacaoOlympia

 

“Pensão Artística” é um projeto de convivência compartilhada de curto período na Região Portuária do Rio de Janeiro, onde serão realizadas atividades de produção e exibição de obras de arte em um pequeno hotel, numa zona bem degradada, localizado na Rua Camerino, nº 15 (em frente à Praça dos Estivadores). Dani Soter, Daniela Dacorso, Fábio Carvalho e Heberth Sobral foram convidados pelo curador Marco Antonio Teobaldo para a ocupação deste local durante o período de 5 dias, cujos quartos servirão de residência artística para criação e espaço à visitação pública em horários pré-estabelecidos.

 
“Pensão Artística” pretende explorar todas as direções que estão tomando as manifestações artísticas nos espaços urbanos públicos e privados, sobretudo aqueles que carecem de uma ocupação ordenada e planejada. Transformações que ao largo do tempo vêm causando mudanças profundas nas dinâmicas de trabalho e produção. Assim, as redes colaborativas, o intercâmbio de ideias e de ferramentas são agora, elementos essenciais na criação. A revolução radical que causaram as novas tecnologias e a internet permite esse tipo de conexão, mas continua sendo importante a disponibilidade de um espaço físico para a criação e o encontro de artistas e suas propostas.

​​

PENSÃO ARTÍSTICA – ocupação dos artistas: Dani Soter, Daniela Dacorso, Fábio Carvalho e Heberth Sobral. Curadoria de Marco Antonio Teobaldo.

 

 

De 05 a 09 de maio.

 

Horário de visitação: das 11h às 18h (com agendamento)

Rua Camerino nº15 (em frente à Praça dos Estivadores)

 

Eventos complementares no Jardim do Valongo:

 

5 de maio – 18h – Música de Quinta (Karaokê)
6 de maio – 18h – Na mesa com os artistas (bate-papo)
7 de maio – 17h – Batuke de Ciata, com Mestre Riko

Vergara exibe obras inéditas

Entre o sólido e o pastoso, entre o poético e o plástico, entre o desejo de perpetuar e experimentar, assim situa-se a obra atual do artista Carlos Vergara na Mais Um Galeria de Arte, Ipanema, na exposição “Carlos Vergara – Inéditos”, com cerca de 20 obras produzidas recentemente. Com curadoria de Fernando Cocchiarale, a mostra exibe trabalhos feitos com asfalto sobre MDF recortado, realizados a partir de desenhos selecionados em cadernos do artista, dos anos 1970 aos dias de hoje.

 

“Os desenhos nos cadernos me interessavam, mas tinham um caráter de anotação. A proposta dessa exposição é dar a eles a potência do discurso. Vão para a parede como tatuagens”, comenta o artista.

 

Todo o processo de making off da nova série poderá ser visto num vídeo assinado por Inês Vergara, exibido ininterruptamente na vitrine da galeria. A ideia é levar arte de forma gratuita e democrática para quem estiver passando pela calçada.

 

Além das tatuagens, Vergará ocupará a Mais Um Galeria de Arte com quatro múltiplos em 3D da série “Mangue”, iniciada em 2010, que tem como pretexto os manguezais da Barra, região onde o artista realizou intervenções artísticas de caráter público. Pinturas sobre telas, aquarelas e desenhos também estarão reunidos na mostra.

 

 

Até 30 de junho.

Ulf Lindell, um artista sueco

27/abr

Três anos após ter chegado ao Brasil para mostrar seus trabalhos no Centro de Arte Maria Teresa Vieira, Praça Tiradentes, Centro, Rio de Janeiro, RJ, Ulf Lindell retorna à mesma galeria, com obras em técnica mista sobre alumínio. A mostra está dividida em duas partes: “A Casa do Paraíso”, que dá título à exposição, e “A Noiva Intocável”, série de monotipias, vista a partir da perspectiva de um gato.

 

A inauguração acontece no próximo dia 4 de maio, quarta-feira, às 18 horas.

 

“A Casa do Paraíso” e “A Noiva Intocável” tratam do inatingível. Quando o artista começou a trabalhar com imagens de um casamento desfeito, a casa, segundo ele, era como um sonho que não poderia ser mantido. “Como paredes que nós construímos para proteger as coisas que desejamos manter desesperadamente. Uma metáfora para a segurança, mais do que para a felicidade. A casa torna-se, então, uma ilusão de felicidade”, observa.

 

E Ulf vai mais além: “Da busca desesperada por uma ilusão criada por cada um. O subconsciente não distingue realidade de imaginação. Essa casa do paraíso se encontra na concretude de nosso imaginário, onde os sonhos são uma complexa obra pictórica, e as alucinações integradas fazem uma cena  onírica.

 

As imagens são trabalhadas em uma técnica que é uma espécie de monotipia. Com o tempo, elas se tornaram mais abstratas. Ainda assim, há uma grande parte de abordagens figurativas. O artista busca um equilíbrio entre o figurativo e o abstrato.

Nascido em Örebro, Suécia, Ulf Lindell vive e trabalha dentro de um barco em Estocolmo. Transitou pelo hiper-realismo, instalações e arte abstrata.Em seus quase trinta anos de trajetória artística, acumula exposições em Paris, Moscou, São Petersburgo, Washington, Bogotá, São Paulo, além do Rio de Janeiro, onde já expôs duas vezes, e Estocolmo.

 

De 04 a 25 de maio.

Dois : um dinamarquês, outro sueco

A exposição “Veias”, na Caixa Cultural São Paulo, Centro, São Paulo, SP, exibe 105 imagens em preto e branco de dois grandes nomes da fotografia documental mundial – o sueco Anders Petersen, 1944, Estocolmo, e o dinamarquês Jacob Sobol, 1976, Copenhagen, que expõem juntos pela primeira vez. Com curadoria do sueco Imants Gross, os trabalhos têm em  comum um olhar íntimo sobre cenas cotidianas de pessoas marginalizadas na sociedade, como alcoólatras, viciados em drogas, prostitutas, travestis, criminosos e psicopatas. As imagens se tornam ainda mais impactantes com o grande formato das fotografias, que chegam a 2,5 metros de comprimento.

 

Para este trabalho na Caixa Cultural, os dois fotógrafos criaram uma espécie de diário pessoal onde anotaram reflexões pessoais sobre a vida, as pessoas e a forma como se encontra o mundo de hoje. “À primeira vista, as imagens de Petersen e Sobol podem parecer fortes e impiedosas para alguns, mas, indo além da superfície – ou da pele -, é uma representação intensa, quente e não tão semelhante com a realidade, mas que é sentida como real”, observa o curador Imants Gross.

 

Anders Petersen é considerado uma lenda da fotografia, e é conhecido pela capacidade de criar laços com as pessoas fotografadas, gente desconhecida que ganha um ar distinto. "As coisas que eu faço são uma espécie de fotografia documental privada. Esse é o verdadeiro desafio: estar presente, mas manter a distância", explica o sueco. Uma de suas imagens mais famosas foi usada na capa do álbum “Rain Dogs”, de 1976, do artista canadense Tom Waits.

 

Trinta anos mais novo, Jacob Sobol pode ser considerado um sucessor do mestre sueco, com seus registros repletos de imprevisibilidade do cotidiano. Sobol compara o ofício de tirar fotos ao de um caçador: "A relação que os caçadores estabelecem com a natureza ao seu redor é muito importante. É preciso estar interligado ao todo, e este sentimento tem deixado um grande impacto na minha vida e no trabalho.”

 

Artistas de gerações diferentes, possuem afinidades de linguagem, o que justificou esse encontro. Ambos pertencem à mesma escola de fotografia documental, em que o desafio do fotógrafo é estar presente o mais próximo possível de cenas privadas, mas com um distanciamento suficiente para registrá-las com olhos de voyeur. As suas preocupações os fazem observar muitas vezes o terrível, o compulsivo, o incontrolável e o sentimento de autodestruição que existe nas pessoas, mas ambos são fotógrafos, que destacam o “amor” em suas muitas e diferentes manifestações.

 

“As imagens que Petersen e Sobol nos oferecem, todas em preto e branco, podem parecer frias num primeiro momento, mas quando tomamos conhecimento dos universos retratados e dos personagens, conseguimos sentir o calor dos corpos, a intensidade das situações. É possível enxergar verdade e amor no olhar de quem está sendo revelado e também do seu revelador", conclui o produtor Luiz Prado.

 

Promovido pelo Instituto Cultural da Dinamarca, o projeto começou na Letônia, passou pela Rússia e China antes de vir ao Brasil com temporada já realizada também na Caixa Cultural de Curitiba, Salvador e Rio de Janeiro. ”É com grande satisfação que recebemos a arte de Petersen e Sobol, que têm em comum uma linguagem incomum. As imagens expostas trazem uma ausência de respostas, e revelam muitos questionamentos. Como dizem os dois fotógrafos: “Veias” não é sobre fotografia. É um documentário da vida abstrato, expressivo, emocionante e provocador”,explica Anders Hentze, diretor do Instituto Cultural da Dinamarca.

 

 

 

Até 08 de maio.

Para Ivens Machado

26/abr

O MAM Rio, apresenta uma homenagem ao artista Ivens Machado (Florianópolis, 1942 – Rio de Janeiro, 2015), falecido há um ano, e que ao longo de cinco décadas produziu obras destacadas na cena contemporânea. Com curadoria de Fernando Cocchiarale, serão apresentadas, no Salão Monumental do Museu, dezesseis importantes obras do artista, algumas não vistas pelo público há anos. Estarão esculturas, instalações e desenhos pertencentes à Coleção Gilberto Chateaubriand / MAM Rio, e desenhos e um vídeo do Acervo Ivens Machado, projeto responsável pelo seu legado, a cargo da designer Mônica Grandchamp, colaboradora e amiga próxima do artista.  Ao longo de sua trajetória, iniciada em 1973, quando venceu o V Salão de Verão no MAM, participando a seguir da XII Bienal de São Paulo, Ivens Machado só teve no Museu uma exposição individual, em 1975, embora tenha integrado ali diversas mostras coletivas.

 

“Ivens talvez seja o artista de sua geração mais importante surgido no sul do país, ainda que sua obra tenha florescido no Rio de Janeiro, cidade em que se radicou a partir de 1964”, destaca Fernando Cocchiarale. O curador lembra que Ivens Machado foi “pioneiro da videoarte no Brasil – sua primeira experiência com este meio eletrônico foi feita em 1974, simultaneamente à de outros artistas como Anna Bella Geiger e Sonia Andrade”. “Algumas questões (ou eixos poéticos) atravessam o conjunto da obra de Ivens desde seu florescimento efetivo, lá pelo começo dos anos 1970, até seus trabalhos finais dos dois últimos anos. Tais eixos poéticos resultam de práticas de permanente construção/reversão, acionadas por Ivens para a produção de esculturas contaminadas por métodos e práticas da construção civil popular-comunitária, tanto no que diz respeito aos materiais de que são feitas – cimento, vergalhão, areia, azulejos, pedras etc. – como pelo rústico acabamento dos trabalhos”, observa.

 

Ocupando lugar de destaque no Salão Monumental estará a grande instalação “Cerimônia em três tempos” (1973), que será montada como na versão original, vencedora do V Salão de Verão do MAM Rio. Em uma referência a um açougue, a obra traz sobre um ambiente de  plástico branco três mesas de azulejos brancos, que recebem o sangue que pinga de uma carne pendurada. Na extensa parede de doze metros de comprimento, será projetado o vídeo “Encontro/Desencontro” (2008), de 12 minutos, de Ivens Machado, em codireção de Samir Abujamra. Nele, atores e acrobatas fazem um percurso que vai desde a extinta Perimetral, até uma cena poética em que balançam nus, suspensos em cordas.

 

A curadoria optou por não fazer divisões espaciais, ampliando a visão do espectador do conjunto da exposição, que ocupará ainda os dois espaços contíguos com as esculturas e os desenhos.

 

 

Esculturas e desenhos

 

“Mesas” (1996), em concreto armado, madeira e ferro, não é vista desde 2003. “Tapete” (1979), em concreto armado e vidro, foi exposta há sete anos. A exposição terá ainda uma das mais importantes obras de Ivens Machado, “Mapa Mudo” (1979), um mapa do Brasil feito com cacos de vidro verde cravados sobre cimento. Realizada durante a ditadura militar, a imagem evoca, ao mesmo tempo, as exuberantes florestas brasileiras e os muros das residências bem protegidas, sendo também um símbolo das fronteiras sociais e políticas no país. Em relação às esculturas, Fernando Cocchiarale acentua que “há que considerar também a reversão simbólica desses métodos e práticas representada pela precariedade anticartesiana dos resultados específicos destas obras que sequer correspondem aos quesitos funcionais das construções populares, fator que atribui a esses trabalhos um teor contradiscursivo”.

 

O curador destaca que estarão na exposição os primeiros três desenhos de Ivens Machado, dois de 1974 e um de 1980, em que fez, à mão, pautas sobre cadernos. Mais tarde, o artista passou a intervir “diretamente na operação das máquinas de pautar da indústria de cadernos, ou no velamento de pautas com tintas corretoras de estêncil para mimeógrafo”. “Marco inicial do florescimento poético de Ivens, a questão se manifesta de outra maneira, mas com o mesmo sentido e intenção contradiscursivos”. “Aqui o teor espacial normativo das pautas de caderno é desconstruído graficamente, por meio de linhas que se rompem ou quebram a uniformidade da página original, por meio de desvios e sinuosidades, ou são ‘corrigidas” por corretores de estêncil”, explica.

 

A série de dezesseis desenhos “Fluidos Corretores” (1976), com corretor para estêncil sobre papel, da Coleção Gilberto Chateaubriand / MAM Rio, ocupa uma extensão de quase dez metros, e será complementada com outro desenho da série, de 1974, feito com caneta sobre folha de caderno.

 

 

 

Sobre o artista

 

Ivens Machado (Florianópolis, SC, 1942 – Rio de Janeiro, RJ, 2015). Escultor, gravador e pintor. Estudou gravura na Escolinha de Arte do Brasil (EAB), no Rio de Janeiro, onde foi aluno de Anna Bella Geiger (1933). Em 1974, fez sua primeira exposição individual na Central de Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro. Participou quatro vezes da Bienal de São Paulo – em 1981, 1987, 1998 e 2004 -, e também esteve na Bienal de Paris e na Bienal do Mercosul, em Porto Alegre. Possui esculturas públicas no Palazzo di Lorenço, na Sicilia, Itália, no Paço Imperial, Rio de Janeiro, no Jardim das Esculturas do MAM, São Paulo, no Jardim da Luz, na Pinacoteca de São Paulo, no Jardim das Esculturas do MAM, Salvador, e no Largo da Carioca, Rio de Janeiro (atualmente retirada até a finalização da reurbanização do Centro da Cidade). Sua última exposição individual foi na Casa França-Brasil, em 2011. Além dela, merecem destaque a exposição “Encontro/desencontro” (2008), no Oi Futuro; “Acumulações (2007), no Paço Imperial; “O Engenheiro de Fábulas” (2001), apresentada no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, no Museu de Arte Contemporânea, em Curitiba, e no Museu Ferroviário da Vale do Rio Doce, em Vitória. Em 1975, ele realizou uma exposição individual no MAM Rio. Dentre suas principais exposições coletivas estão: “Lines”, na Hauser & Wirth, em Zurique , na Suiça e “On the Edge: Brazilian Film Experiments of the 1960s and Early 1970s”, no MoMA, em Nova Yok, ambas em 2014; “Sobrenatural”, na Estação Pinacoteca, em São Paulo e “Fato aberto: o desenho no acervo da Pinacoteca do Estado”, em 2013/2014; ”Violência e Paixão”, no MAM Rio e no Santander Cultural, no Rio Grande do Sul, em 2002; “Palavra Imagem”, no MAM Rio, e ”Espelho Cego”, no Paço Imperial e no MAM SP, ambas em 2001; ”Século 20: arte do Brasil-Brasil+500”, na Fundação Caloustre Gulbekian, em Portugal, em 2000; “Vista Assim Mais Parece um Céu no Chão”, 16oSalão Nacional de Artes Plásticas, no MAM Rio, e “Terra Incógnita”, no CCBB Rio, ambas em 1998; “Re-Aligning Vision”, no Museo del Barrio, em Nova York, em Arkansas, Austin, Monterey e Miami, nos EUA, e em Caracas, na Venezuela, em 1997; “A Fronteira dos Vazios – Livro  Objeto”, no CCBB Rio, em 1994; “A Caminho de Niterói” – Coleção João Sattamini, no Paço Imperial, em 1992, e no Centro Cultural São Paulo, em 1993; “Brasilian Contemporary Art”, no MAC – SP e “Brasil Segni D’Arte”, em Veneza, Milão, Florença e Roma, na Itália, ambas em 1993, entre outras.

 

 

 

Acervo Ivens Machado

 

 

O Acervo Ivens Machado é o projeto responsável pela gestão do acervo pessoal do artista, com curadoria da designer Mônica Grandchamp, amiga de longa data de Ivens Machado. Selecionado pelo Prêmio Funarte de Incentivo às Artes Visuais em 2015, para mapeamento da obra de Ivens Machado, e inscrito no Rumos Itaú Cultural 2016 – com resultado previsto para maio – o Acervo Ivens Machado tem como missão a catalogação da produção do artista, sua manutenção e visibilidade. Mônica Grandchamp é formada em desenho industrial pela Faculdade da Cidade, com pós-graduação iniciada em História da Arte e Arquitetura, na PUC-Rio, é professora de História da arte e História do design no Senac-RJ, desde 2011.

 

Texto de Fernando Cocchiarale

 

 

Esta mostra homenageia Ivens Machado, artista recentemente falecido, cuja contribuição para a história da arte brasileira das últimas cinco décadas ainda está por ser criteriosamente estabelecida. A maior parte das peças aqui expostas pertence ao MAM (coleção Gilberto Chateaubriand e coleção MAM), complementadas com obras do Acervo Ivens Machado, projeto responsável pela gestão do acervo pessoal do artista. Pioneiro da videoarte no Brasil (sua primeira experiência com este meio eletrônico foi feita em 1974, simultaneamente à de outros artistas como Anna Bella Geiger e Sonia Andrade, por exemplo), sua produção nessa mídia é marcada pela criação de situações em que o poder e seu tenso exercício é corporificado por atores que podem atuar em interação com o artista ou sem ele. Ivens talvez seja o artista de sua geração mais importante surgido no sul do país, ainda que sua obra tenha florescido no Rio de Janeiro, cidade em que se radicou a partir de 1964. No entanto algumas questões (ou eixos poéticos) atravessam o conjunto da obra de Ivens desde seu florescimento efetivo, lá pelo começo dos anos 1970, até seus trabalhos finais dos dois últimos anos. Tais eixos poéticos resultam de práticas de permanente  construção/reversão,acionadas por Ivens para a produção de esculturas contaminadas por métodos e práticas da construção civil popular-comunitária, tanto no que diz respeito materiais de que são feitas − cimento, vergalhão, areia, azulejos, pedras etc. – como pelo rústico acabamento  dos trabalhos. Há que considerar também a reversão simbólica desses métodos e práticas representada precariedade anticartesiana dos resultados específicos destas obras que sequer correspondem aos quesitos funcionais das construções populares, fator que atribui a esses trabalhos um teor contra-discursivo. Nos desenhos manuais de pautas de caderno, nos trabalhos em que Ivens interveio diretamente na operação das máquinas de pautar da indústria de cadernos ou no velamento de  pautas com tintas corretoras de estêncil para mimeógrafo marco inicial do florescimento poético de Ivens a questão se manifesta de outra maneira, mas com o mesmo sentido e intenção  contra-discursivos. Aqui o teor espacial normativo das pautas de caderno é desconstruído graficamente, por meio de linhas que se rompem ou quebram a uniformidade da página original por meio de desvios e sinuosidades, ou “corrigidos” por corretores de estêncil.

 

 

 

De 30 de abril a 26 de junho.

Verger/Guarnieri no Rio

25/abr

Em parceria com a Fundação Pierre Verger de Salvador, BA, a Galeria Marcelo Guarnieri apresenta a exposição “Pierre Verger” na inauguração de seu espaço expositivo em Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. O local inaugurado exibirá obras produzidas durante toda a trajetória do fotógrafo e etnografista franco-brasileiro. Grande parte do trabalho que ele desenvolveu era dedicado à pesquisa e aos registros ligados às religiões de matriz africana.

 

Verger começou a fotografar e viajar pelo mundo em 1932, aos 30 anos de idade. Durante os 14 primeiros anos de sua carreira como fotógrafo, suas imagens foram publicadas nas mais importantes revistas francesas e internacionais da época. Em 1946, quando chegou à Bahia, converteu-se ao Candomblé, tornou-se o babalaô Pierre “Fatumbi” Verger e, embora levasse um estilo de vida nômade, Salvador passou a ser sua residência fixa. Hoje, a casa onde vivia abriga fundação homônima dedicada à sua obra, às pesquisas e ao intercâmbio cultural entre Brasil e África.

 

Em 2015, a Galeria Marcelo Guarnieri promoveu duas mostras de Verger em suas unidades de São Paulo e Ribeirão Preto. Para a mostra do Rio, a galeria apresentará um novo recorte dividido em 3 blocos. Um deles é dedicado apenas aos registros com foco em apetrechos musicais clicados em países da América Latina e África – essas imagens foram exibidas no MAM-Bahia em 1992 e mostram tambores, instrumentos de sopro e cordas usados em rituais e celebrações.

 

O outro conjunto apresenta uma série de imagens selecionadas pelos editores da Revue Noire – Jean Loup Pivin e Pascal Martin Saint Léon – e pelo próprio fotógrafo, a partir de 300 negativos que foram expostos ou transformados em cópias de altíssima qualidade e, posteriormente, nos fotolitos do livro “Le Messager”. Apresentada no ano de 1993, pela Revue Noire, no Musée d’Art d’Afrique et d’Océanie, na França e na Suiça, “Pierre Verger, – O Mensageiro” destacou a importância da arte e da cultura africana para o ocidente, com mostras que colocaram, novamente, o público europeu em contato com o trabalho do fotógrafo. Verger esteve presente na abertura desta exposição em Paris, e a Revue Noire conseguiu que ele assinasse uma certa quantidade de cópias. Não era uma prática comum na trajetória de Verger, que privilegiava os negativos, por representarem as suas memórias.

 

Por fim, o último bloco da exposição carioca apresenta um grupo vintage de fotos raras ampliadas pelo próprio Verger em diferentes períodos de sua carreira – a partir dos anos 30. Entre elas, se destaca uma vista panorâmica de Pequim, cenas urbanas de Nova York, Mali e França. Importante ressaltar que essas imagens reunidas pela galeria foram ampliadas manualmente em sais de prata e apresentam a assinatura de Verger ou o carimbo de identificação.

 

Além de abrir esta exposição inaugural, a Galeria Marcelo Guarnieri chega ao Rio de Janeiro representando artistas como: Gabriela Machado, Luiz Paulo Baravelli, Masao Yamamoto e Mario Cravo Neto.

 

 

A palavra de Verger

 

“Nós concordamos em definir fotografia nos seguintes termos: a fotografia permite ver o que não tivemos tempo de ver, porque ela fixa. E mais, ela memoriza, ela é memória. O milagre é que essa emoção sentida diante de uma fotografia muda, testemunha de um fato fixado por um instantâneo, possa ser sentida espontaneamente por outros, revelando um fundo comum de sensibilidade, frequentemente reprimida, mas reveladora de sentimentos profundos, constantemente ignorados.” (Pierre “Fatumbi” Verger, na ocasião da exposição Pierre Verger, Le Messager, realizada pela Reuve Noire, em Paris e na Suíça. Abril de 1993.)

 

De 30 de abril a 11 de junho.

Pinakotheke São Paulo/Segall

19/abr

A Pinakotheke Cultural, Morumbi, São Paulo, SP, apresenta na presente exposição, mais de sessenta trabalhos, a maioria proveniente de coleções da família Segall. Estão representadas as diversas linguagens utilizadas pelo artista tendo o papel como suporte:xilogravura, gravura em metal, aquarela e desenhos a tinta preta e grafite. Além dos papéis, a mostra é pontuada por esculturas e pinturas sobre tela, algumas inéditas, como as duas cenas de Meissen, Alemanha, feitas durante a Primeira Guerra Mundial.
Há obras de diferentes épocas, desde os primeiros anos do século 20, quando ele transitava entre a cidade natal de Vilna, na Lituânia – na época parte do Império Russo – e as cidades de Berlim e Dresden, onde frequentou as academias e fez parte do Expressionismo alemão. Os trabalhos mostrados nesta exposição se estendem até os anos 1950, passando pelo período que viveu em Paris, de 1928 a 1932.

 
Vida em Meissen

 
Logo depois da Alemanha declarar guerra à Rússia, em agosto de 1914, os cidadãos russos que viviam em Dresden foram levados para a cidade vizinha de Meissen, famosa por sua porcelana. Em seus escritos autobiográficos Segall fala de sua situação de “prisioneiro civil de guerra”. Em 1915, quando pintou as duas telas desta exposição –“Praça do mercado em Meissen I”, de 1915,e “Praça do mercado em Meissen II”, de 1915 -, sabemos que ele estava ali. Ao lado do pintor Alexander Neroslow, saía com frequência em caminhadas para documentar aspectos da cidade e dos arredores, além de produzir retratos dos amigos.

 
“Verdade interior”

 
A produção do período europeu presente nesta mostra tem nas xilogravuras seus melhores exemplos. Feitas na Alemanha na segunda metade dos anos 1910 e na década seguinte, elas se aproximam das gravuras primitivas, por motivos estéticos e ideológicos. A gravação é marcada por uma simplificação brutal das formas, mostrando que nessa época Segall já estava sintonizado com o Expressionismo alemão, ao dar à sua obra gráfica a força de um panfleto. Os expressionistas se utilizaram dessa linguagem simplificada e veemente, para conduzir à imediata apreensão dos conteúdos, impregnados das ideias políticas e sociais de esquerda que caracterizaram o movimento. Segall explora esse contraste decisivo entre o preto das superfícies carregadas de tinta e o espaço em branco cavado na matriz, como seus predecessores Erich Heckele Karl Schmidt-Rottluff – criadores em 1905 de “A Ponte”, primeiro agrupamento do Expressionismo alemão – ou como Conrad Felixmüller e Will Heckrott, integrantes, como ele, da segunda geração dos expressionistas.  As gravuras de Segall têm como referência o tema do eterno judeu errante, as recordações de sua cidade e os ritos da ortodoxia judaica que povoaram sua infância. A forte impressão que guardou de Vilna, ocupada e arrasada pelos alemães em 1915, também repercutiu em seu espírito solidário – os mortos, mesmo anônimos, eram os de Segall. A devastação da cidade e o desaparecimento de grande parte dos homens deu origem a cenas como “Viúva”, de 1919, e “Viúva e filho”, de 1918, uma mulher grávida tem ao lado o menino de mãos estendidas à espera de uma esmola. Os corpos acuados e as cabeças e olhos imensos dão a dimensão do desamparo humano dessas vítimas da guerra, e esses personagens trágicos têm presença insistente em toda a obra de Segall.
Na xilogravura “Enterro”, de 1915, o branco ilumina a dramaticidade teatral do assunto. O corpo do morto atravessa a cena em diagonal, apoiado no retângulo de um caixão simples de madeira, comum nos enterros judaicos, e sua cabeça é uma máscara negra e paira à direita, em contraste com os rostos brancos dos três personagens que acompanham o enterro. Os olhos vazados, são de desesperança e assombro em presença da morte.
Também são desse período as xilogravuras “Oração lunar”, c. de 1917, “Cabeça de rabino”, de 1919, “Jovem orando”, de 1920 e “Mãe e filho”, de 1921, nas quais a estética expressionista se associa ao repertório pessoal do artista, para dar ênfase à sua “verdade interior”, conforme expressão sua. Em todas elas, as áreas em branco invadem os corpos criando personagens duplos, vidas partidas entre luz e sombra. Nesse sentido, cabe destacar a gravura “Mulheres errantes – II”,versão de 1919, na qual as máscaras dos personagens compõem, com o fundo de formas geométricas, um fantasmagórico tabuleiro de xadrez. Em “Mãe e filho”, de 1921, os rostos unidos são invadidos por um branco simbólico, pelo vazio que anula as personalidades. Nas duas folhas comemorativas em que ele grava homenagens à mãe – falecida quando Segall tinha dezesseis anos – e à avó, o texto em hebraico é uma associação de caracteres geométricos cavados em tábuas de ressonâncias bíblicas.

 
Expressionismo eslavo

 
A obra gráfica de Segall produzida na Alemanha e presente nesta exposição se completa com duas litografias, “Família”, de 1920, em que o corpo feminino estende-se em diagonal como nas telas “Gestante”, de 1919 e “Encontro”, de 1920, cuja composição, na unidade das cabeças e das mãos, repete as soluções da pintura “Dois seres”, de 1919. As coincidências não são casuais. Ao contrário, a reafirmação frequente de certas soluções plásticas é um dos elementos certificadores da poética segalliana.  Há ainda duas gravuras em metal –“Margarete”, c. de 1921, vigoroso retrato da primeira mulher do artista, e uma imagem da série “Mendigos II”, de 1922/ 23, nas quais já estão presentes os traços exatos e as formas geométricas características da Nova Objetividade, tendência que influenciou toda a arte alemã dos anos 1920.

 
Figuras e retratos

 
“Homens à mesa”, c. de 1910 e “Velho de quepe dormindo”, c. de 191, são os desenhos mais antigos desta exposição, povavelmente feitos em Vilna em uma das viagens de férias para visitar a família, quando Segall frequentava a Academia de Dresden. Também nos primeiros desenhos, a escolha dos personagens retratados – velhos, viúvas, mendigos, doentes – segue a indicação de um olhar sem demagogia, compassivo para com os desfavorecidos e marginalizados. Nesses e em outros desenhos que faz mais adiante, é frequente Segall retratar tipos e não individualidades exacerbadas, ao contrário, por exemplo, de seu contemporâneo e amigo Otto Dix, fundador, junto com ele, da Secessão de Dresden- Grupo 1919.
Quando Segall se dedica a figuras femininas como o delicado “Margarete deitada”, c. de 1915, as linhas se suavizam; traços distendidos envolvem a figura em repouso. No retrato de “MobBarzinsky”, de 1917, ou em “Moça de franja”, c. de 1920, e “Retrato feminino”, c. de 1920, as cabeças têm destaque no centro do papel e os retratados vêm igualmente para o primeiro plano. O grafite e o crayon acentuam detalhes aqui e ali, ora o nariz, o pescoço, as olheiras, trabalhando pela expressividade do conjunto. “O Retrato de homem” c. de 1919, um óleo com a transparência da aquarela, também nos encara. “Moça de busto nu”, c. de 1920 é um nu sem erotismo, perturbador na anatomia frágil da modelo. Em “Jovem sentada”, c. de 1920, o grafismo rápido esboça mais do que um retrato (talvez Margarete) e tem uma inquietante permanência em nosso espírito.

 

 

Paisagem brasileira

 
Ao emigrar para o Brasil em fins de 1923, a paisagem humana de Segall altera-se completamente. Ele vê o novo país como uma festa exótica, longe das tensões do mundo europeu, com novas formas e cores a lhe oferecer, um país que lhe revelou “o milagre da cor e da luz”. Fascinado pelos tipos de negros e pela vegetação dos trópicos, surgem “Jovem negra”, c. de 1925, também em aquarela; “Retrato de homem com a mão no rosto”, c. de 1925; e vários desenhos da série “Plantas tropicais”, c. de 1925.
“Três gaivotas e respiradouros” de 1930 é uma gravura da série “Emigrantes”, em que o navio e os detalhes da embarcação dialogam com as aves e o mar à volta, cenário da aventura dos emigrantes. A série “Mangue” – famosa zona de prostituição do Rio de Janeiro, cantada em prosa e verso- está representada por três obras: a xilogravura “Mulher do Mangue com espelho”, de 1926, a ponta-seca “Mulher do Mangue com cactos”, de 1927 e o desenho a pincel “Figuras no Mangue”, c. de 1928.
“Nu de costas”, c. de 1928, aquarela, focaliza uma anatomia feminina mais generosa do que as do período alemão. Os desenhos de nus femininos dos anos 1930 são um capítulo à parte, estendendo sobre o papel a languidez convidativa dos corpos femininos. A sensualidade de linhas curvas e suaves desenha o “Casal”, c. de 1930, que inverte os planos da pintura “Dois nus”, de 1930, na qual o homem ocupa o primeiro plano e a mulher aparece atrás, deitada, parcialmente encoberta pelo corpo masculino sentado à sua frente.
Dois desenhos a grafite de 1936, com o mesmo título -“Mulher nua deitada” – são exemplos dessa sensualidade distraída que Segall retratou como ninguém. O poder de permanência de tais nus femininos encontra seu ápice na série que tem Lucy Citti Ferreira como modelo. Por outro lado, ela aparece identificada na companhia de instrumentos musicais, em obras de diferentes técnicas. “Lucy com violão”, c. de 1936, é um esboço rápido, bem-humorado, enquanto “Lucy com acordeão”, de 1936, compõe um tema que seria retomado em mais de uma pintura sobre tela. Também são de acentuado cunho erótico os desenhos “Casal”, c. de 1945, de linhas limpas, sem interrupção, “Casal abraçado”, c. de 1950, reforçado com insistência pela caneta de tinta vermelha, e o relevo em bronze “Encontro”, de 1954, em que o brilho do metal destaca a anatomia dos corpos. Outra escultura, “Duas mulheres”, de 1936, repete soluções exploradas nos anos 1920. Os corpos juntos e a amarração das mãos, ao centro, transformam os dois personagens femininos em apenas uma entidade.
A família está representada no desenho “Jenny”, c. de 1930, traçado com tinta sépia a pincel e em “Ossi”, de 1931, – Oscar, o filho mais novo -, feito em Arcachon, no período em que o casal Segall viveu na França. A mãe com seus filhos, tema constante, ganha corpo na compacta “Maternidade”, de 195, em bronze.
Cenas do campo e naturezas-mortas surgem em um momento de tranquilidade e vida junto da família, durante a estada francesa. É quando Segall começa a esculpir e, também na pintura, os objetos e animais ganham em presença corpórea, adquirem uma qualidade tátil. As cores se aproximam da solidez e opacidade da argila – ocres,marrons e brancos invadem as telas. “Vacas no campo”, de 1931, e “Natureza-morta com vaso ornamentado”, c. de 1931, são exemplares nesse sentido e prenunciam a matéria densa das paisagens de Campos do Jordão. Dessa época também são as idílicas aquarelas “Animais com pinheiros”, de 1931, cena de inspiração chagalliana, e “Nora”, c. de 1931, a filha de Victor Rubin, amigo e protetor de Segall em Dresden. Após a partida de Lucy para a França, em 1947, Mira Perlov torna-se sua modelo. Ela está presente em três obras aqui exibidas, feitas por volta de 1952. Em tinta preta ou bistre e aquarela, Segall se deteve na bela e delicada figura da jovem.

 
Fiel às origens

 
O ano de 1927 traz a Segall uma dupla tristeza – os falecimentos de Oscar, o irmão com o qual tinha maior afinidade, e de seu pai Abel Segall, que vivia no Brasil desde 1924. Abel com a filha mais nova, Lisa, são os últimos da família a deixar Vilna. A morte do pai é assunto de um desenho a grafite em que aparecem registrados o dia e a hora do acontecimento – “O pai do artista morto” (10/02/1927, 7h30) – e no qual a assinatura de Segall é posta em russo, reafirmando, na presença do pai falecido, as suas origens.
O trágico acontecimento é tratado ainda em óleos sobre tela como “Fim de começo”, de 1929, em que o patriarca aparece ao lado do pequeno “Mussi” (Maurício, filho mais velho de Lasar e Jenny), em xilogravuras –“Pai Segall”, de 1927, “Artista em vigília fúnebre”, c. de 1927, “Vigília fúnebre”, c. de 1927,na água-forte “Kaddish”, de 1927, e na pintura “Vigília fúnebre”, c. de 1928, escura e monocromática, que repete a composição da xilogravura de mesmo título. Na parte superior da pintura, a homenagem do artista na inscrição em hebraico “Pai Segall” (Aba Segall). Ele não deixou, até os últimos anos de vida, de lembrar sua ligação com a ortodoxia religiosa, à qual esteve exposto desde criança. O tema da tela “Judeu com livro de orações”, c. de 1954, rendeu outras pinturas, desenhos, aquarelas e guaches.

 
Campos do Jordão

 
Em Campos do Jordão, região que Segall conheceu em 1935, ele se entregou ao registro poético das florestas e do campo, seus habitantes e grupos de animais que pontuavam a paisagem montanhosa da chamada Suíça brasileira. O delicado “Morro com casas e animais”, c. de 1937, faz lembrar a análise de Mário de Andrade sobre o desenho, chamando a atenção para o caráter mais necessário dele, o de “ser um fato aberto como a poesia. Cada desenho é uma palavra, uma frase. Uma confidência”.
Caminhando pelas estradas de Campos do Jordão com seu bloco de papel ou com suas telas e tintas, Segall explorou em inúmeros trabalhos feitos “do natural”, as árvores, vistas de fora ou de dentro dos bosques. O que interessava a ele era principalmente a arquitetura dos troncos, curvos ou retos, em agitação dionisíaca-“Floresta”, de1951, – ou em ordenamento apolíneo –“Floresta”, de 1955. Alguns desses apontamentos deram origem a pinturas a óleo como a “Floresta fechada”, de 1954, construída por faixas verticais em que não há luz ou qualquer vislumbre de céu. A série “Florestas”, com que Segall se despede da vida, parece indicar seu caminho para a sublimação dos temas e para a verticalização das formas, permanecendo fiel, no entanto, à sua convicção figurativa.
Apesar das florestas de Segall serem florestas e não arte abstrata, como quiseram alguns críticos, o que conta nelas não é a representação do real, mas o valor simbólico da matéria sensual e silenciosa da qual são feitas. Nelas, respiramos Segall, não o ar rarefeito da região montanhosa de Campos do Jordão. E essa aproximação com o artista e sua obra só acontece pela via do sentimento e não da razão. Lembrando mais uma vez Susan Sontag, “em vez de uma hermenêutica, precisamos de uma erótica da arte. Desarmados, temos mais capacidade de perceber que cada esboço, cada pintura, gravura ou escultura de Segall é um documento de identidade impossível de falsear”.

 

 

Texto : Vera d´Horta/Setembro de 2015

 
Até 28 de maio.

Viva o Povo Brasileiro!

O Centro Cultural Correios, Centro Histórico, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “Viva o Povo Brasileiro!”, um panorama poético da arte popular brasileira sob a curadoria de Denise Mattar. Em exibição cerca de 150 obras de arte popular criadas pelos mais representativos nomes de diversas regiões do país como Mestre Vitalino, Jadir, João Egídio, Nhô Caboclo, Zezinha, Isabel, Galdino, Ranchinho, Miranda, Bajado, Miriam, Paul Pedro Leal, Chico Tabibuia, Julião, Ana das Carrrancas, Noemisa, Rita Loureiro, Heitor dos Prazeres, J. Borges, Aurelino entre muitos outros.

 

A proposta da exposição “Viva o povo brasileiro!” é a de mostrar ao público a extrema beleza das diversas formas da arte espontânea brasileira. O conjunto mapeia obras de vários estados exibindo uma visão abrangente que enaltece a qualidade dos trabalhos. As técnicas vão da pintura à escultura em amadeira, cerâmica, ex-votos e tábuas votivas, relevos e objetos. O temas abordam desde os santos às festas, cenas do cotidiano e animais selvagens. Uma explosão de cor, ritmo e alegria, permeada de lirismo, poesia e até de certa melancolia.

 

Segundo a curadora Denise Mattar, estamos finalmente assistindo ao crescimento do prestígio da arte popular brasileira com museus e importantes coleções, ressaltando sua importância, originalidade e requinte: “A exposição Viva o povo brasileiro! pretende revelar esse tesouro e mostrar ao público obras que pertencem a coleções particulares e que nunca foram vistas. A arte popular brasileira sempre foi mais valorizada pelos estrangeiros, e isto acontece desde a colonização. Nomes como o francês Jean de Léry (1536 – 1613), que escreveu sobre a arte plumária indígena, o suíço Blaise Cendrars (1887 – 1961), que encantou-se com a arte do povo mineiro, a italiana Lina Bo Bardi (1914 – 1992), que criou na Bahia um Museu de Arte Popular e realizou a antológica exposição “A mão do povo brasileiro”, são apenas alguns exemplos.”

 

As obras selecionadas pela curadora Denise Mattar e pelo pesquisador Roberto Rugiero, que responde pela consultoria da mostra,  fazem parte das coleções de João Maurício de Araújo Pinho e Irapoan Cavalcanti, duas das mais importantes e completas do Brasil. O projeto expográfico é assinado por Guilherme Isnard.

 

 

Artistas participantes:

 

Agostinho de Freitas | Alcides Pereira | Alcides Santos | Ana das Carrancas | Ana do Baú | Anésio Julião | Antonia Leão | Antonio de Dedé | Artur Pereira | Bajado | Benedito | Bento Sumé | Cícera Fonseca | Chico da Silva | Chico Tabibuia | Dona Eli | Emídio de Souza | Geraldo de Andrade | GTO | Gina | Guma | Heitor dos Prazeres | Isabel | Jadir | João Egídio | J. Borges | J. Coimbra | João Alves | José Antônio da Silva | José de Freitas | Antônio Julião | Júlio Martins | Lafaete | Licídio Lopes | Louco | Luis Antônio |  Maria Auxiliadora | Maria de Beni | Mestre Cunha | Mestre Galdino | Mestre Guarany | Mestre Vitalino | Miriam | Miranda | Mudinho | Nhô Caboclo | Nilson Pimenta | Nino | Noemisa | Nuca | Oziel | Paulo Pedro Leal| Placidina | Ranchinho | Resendio | Rita Loureiro | Romildo | Roberto de Almeida | Roberto Vital |  Sil | Tarcísio Andrade | Timbuca | Tonico Scarelli |Ulisses Pereira | Valentim Rosa | Véio | Vicente Ferreira | Waldomiro de Deus | Willi de Carvalho | Zé Cordeiro | Zé do Chalé | Zezinha | Zezinho de Tracunhaém.

 

Até 13 de junho.