As Aventuras de Pierre Verger

09/out

O Museu Afro Brasil, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, em parceria com a Fundação Pierre Verger, inaugurou a exposição “As Aventuras de Pierre Verger”. A mostra foi elaborada para possibilitar, inclusive ao público infanto-juvenil, a apreciação da obra do etnólogo e babalaô, reconhecido como um dos maiores nomes da história da fotografia no mundo.

 

Reunindo cerca de 270 imagens registradas por Pierre Verger em diversas partes do mundo,  destacando o cruzamento da fotografia com vídeos, tecidos artesanais de diferentes países e artes sequenciais (quadrinhos), a exposição marca a finalização do projeto Memórias de Pierre Verger, patrocinado pela Petrobrás e pela Odebrecht e que, por quatro anos, encampou a tarefa de duplicar digitalmente o valoroso acervo fotográfico da Fundação e de concluir o seu acondicionamento em condições adequadas.

 

A mostra que chega ao Museu Afro Brasil já foi exibida em Salvador, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), de março a maio de 2015, com um grande sucesso de público, recebendo mais de 30.000 visitantes.

 

A curadoria e coordenação é de Alex Baradel, responsável pelo acervo da Fundação Pierre Verger, é uma das mais completas realizadas pela instituição criada pelo próprio fotógrafo francês na Bahia, local que escolheu para residir depois de viajar pelo mundo registrando as expressões culturais e o cotidiano de diversos povos.

 

O público é convidado a “embarcar” numa instigante viagem que retrata as experiências vividas por Pierre Verger (Paris, 1902 — Salvador, 1996), em um século marcado pelo desbravamento de fronteiras e guerras mundiais.

 

 

Fronteiras

 

A exposição está dividida em nove módulos: Paris, Viagens, Polinésia, Saara, China, Peru, África, Projeto e Educativo. São cerca de 220 imagens expostas ao longo do circuito e outras 50 que integram os vídeos que compõem a exposição. Onze ilustrações do artista visual baiano Bruno Marcello (Bua) também acompanham a mostra, retratando o personagem Verger em diversos episódios e contextos vividos por ele.

 

A exposição se destaca também por explorar o paralelo entre a obra de Verger e As Aventuras de Tintim, histórias em quadrinhos editadas entre 1929 e 1983, bastante populares e que se tornaram clássicas graças ao apuro estético dos traços e aos roteiros bem elaborados pelo autor belga Georges Prosper Reni, mais conhecido como Hergé.

 

 

Até 30 de dezembro.

Os incríveis anos 60

A Pinacoteca Ruben Berta, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, exibirá a exposição “OS INCRÍVEIS ANOS 60 – britânicos na Pinacoteca Ruben Berta”, um verdadeiro tesouro escondido. Por ter sido poucas vezes mostrada na sua totalidade, e por não existirem telas com este perfil na maioria dos museus brasileiros, a exposição é uma rara oportunidade de apreciar o trabalho de artistas britânicos vistos como visionários nos anos 60, época culturalmente revolucionária.

 

A exposição apresenta peças criadas por nomes que no calor daqueles “anos incríveis” já haviam conquistado importantes lugares no mundo das artes como Graham Sutherland, John Piper, Kitaj e Alan Davie. Mas também de um artista, como Allen Jones, naquele momento apenas iniciando uma carreira que o tornaria, como os demais, uma referência da Arte Pop no mundo inteiro. Outros tantos, ao longo das décadas seguintes atuariam com trajetórias constantes, seja como professores, ou projetando-se no mercado de arte internacional, como Michael Buhler ou Mario Dubsky.

 

As linguagens destes trabalhos – consoantes com as profundas mudanças da sociedade dos anos 60 – influenciaram sucessivas gerações de brasileiros que miraram nestas expressões atuantes na Inglaterra. Estas obras que aportaram na capital do Rio Grande do Sul são representativas dos desdobramentos lírico, expressionista e informal da pintura e apontam para a consagração dos elementos pictóricos que compuseram a Arte Pop, em especial nos procedimentos gráficos desenvolvidos pela publicidade e pela propaganda.

 

A Pinacoteca Ruben Berta foi doada à Prefeitura de Porto Alegre em 1971 pelos Diários e Emissoras Associados, conglomerado pertencente à Assis Chateubriand. O magnata das comunicações empreendeu entre 1965 e 1967 a criação de cinco museus – entre eles a Pinacoteca Ruben Berta – instalados em diversas regiões do país. Um dos nichos destas coleções era formado por obras de artistas britânicos adquiridas em galerias londrinas obras de Alan Davie, Michael Buhler, Allen Jones, John Johnstone, Neville King, Bill Maynard, John Piper, Patrick Procktor, Graham Sutherland, Mario Dubsky e Peter Behan.

 

 

De 13 de outubro a 30 de novembro.

Wanda Pimentel na Frieze Masters

A artista brasileira Wanda Pimentel é um dos destaques da Frieze Masters, feira que reúne mestres da história da arte contemporânea, que acontece de 14 a 18 de outubro, no Regent’s Park, em Londres. Segundo o site da feira, Wanda Pimentel possui uma importante e reconhecida trajetória artística de quase 50 anos. Ela apresenta na feira  de Londres nove pinturas produzidas nos anos 1960.

 

No Brasil, o trabalho da artista pode ser visto no Rio de Janeiro, na Anita Schwartz Galeria, na Gávea, onde ela apresenta, até o dia 17 de outubro, a exposição

 

“Geometria/Flor”, ocupando todo o espaço expositivo da galeria com pinturas, desenhos e esculturas inéditas. Os trabalhos da exposição têm a ver com um processo iniciado pelo artista em 2011, de rever o passado.

 

“Esses trabalhos tem um tom dramático, têm a ver com as minhas memórias, mas, ao mesmo tempo, é uma saudação à vida, rompendo com tudo que já fiz. Vou dissecando lembranças e construindo novas memórias”, afirma a artista.

Nário Barbosa: além do clique

Enquanto a sociedade ainda discute o que é atividade masculina e feminina, Nário Barbosa, artista representado pela OMA | Galeria, comprova que tradição é tradição e que esta pode virar arte quando se permite ultrapassar barreiras pré-existentes do tipo. Isso porque, ele que é reconhecido por atuar como repórter fotográfico há mais de 22 anos – venceu um dos principais prêmios, o Metro Challenge Photo 2014, na categoria Fuga Urbana – decidiu, em 1997, unir duas paixões: a fotografia e os bordados aprendidos com as mulheres de sua família. De lá para cá, não parou mais e ampliou sua criatividade ao criar imagens com costura e outras intervenções, formando peças únicas. “Nasci em uma cidade sergipana em que muitas pessoas vivem do artesanato. Então, esse universo sempre me foi comum. Quando eu tive a ideia de alterar os meus registros, logo imaginei que o ponto cruz, por exemplo, seria uma de minhas experimentações”, conta o artista.

 

Desde então, seus registros compõem coleções e comumente são inseridas em projetos de decoração de ambientes. Segundo o galerista da OMA | Galeria, Thomaz Pacheco, o segredo das obras de Nário está nas emoções que elas causam, principalmente a primeira vista. “O trabalho que ele faz, sempre gera algum tipo de comoção. Alguns ficam curiosos em identificar o que foi feito na obra. Outros acham uma loucura mexer em um registro fotográfico. Outros se encantam com a complexidade que ele consegue atingir fazendo simples modificações. É muito interessante observar essas reações”, comenta.

 

Em novembro, as peças do artista poderão ser vistas na PARTE – Feira de Arte Contemporânea –, edição Paço das Artes, entre os dias 4 e 8, no estande da OMA | Galeria. Além dele, outros cinco artistas representados pela galeria – Andrey Rossi, Daniel Melim, Giovani Caramello, RIEN e Thiago Toes – e uma artista visual convidada, Juliana Veloso, vão apresentar suas mais recentes e inéditas produções.

 

 

Entre 04 e 08 de novembro.

Na Casa do Bandeirante

08/out

A Casa do Bandeirante, Praça Monteiro Lobato, s/n, Butantã, São Paulo, SP, abriga “Arrasto” a nova exposição individual de Marcelo Moscheta, vencedor do PIPA Voto Popular Exposição 2010. A exposição é um relato da expedição realizada pelo artista em toda a extensão do Rio Tietê, desde sua nascente em Salesópolis até a foz no Rio Paraná, entre março e agosto de 2015.

 

Nesse período, foram coletadas rochas, argilas, areias e minerais diversos das duas margens, e tudo foi documentado e classificado. O resultado é um pequeno museu de curiosidade e memórias, em que o artista flerta com a arqueologia, a geografia e a história dos Bandeirantes. Durante esta jornada, Moscheta catalogou, coletou, documentou e classificou argilas, rochas, areias e minerais das duas margens do rio. Com este material de referências de arqueologia, geologia e do movimento dos bandeirantes paulistas, o artista formou um pequeno museu de curiosidades sobre as particularidades do leito do rio.

 

Um dos destaques desta obra fica por conta de um grande desenho de uma queda d’água do Rio Tietê, adicionado ao que foi coletado na expedição. Expostos lado a lado, desenho e rochas criam um diálogo entre representação e a paisagem transferida para o interior da obra.

 

Durante todo o período da instalação, será distribuída, gratuitamente, uma publicação sobre a expedição do artista, com relatos de viagem, fotos da produção da instalação e textos dos artistas plásticos: Divino Sobral e Douglas de Freitas, além do próprio Moscheta.

Sobre a Casa do Bandeirante

 

A Casa do Bandeirante representa um dos exemplares típicos das habitações rurais paulistas construídas entre os séculos XVII e XVIII, localizadas predominantemente junto à bacia dos rios: Tietê e o seu afluente Pinheiros.O local tem uso museológico desde 1955.

 

Mais que uma exposição, o projeto “Arrasto”recebeu a Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais 2014 e resulta também em uma publicação, com distribuição gratuita, sobre a expedição, com textos de Divino Sobral, Douglas de Freitas e do próprio artista, além de fotos e relatos.

 

 

 

Até 19 de dezembro.

Martin Parr : Covers Exhibition

A Galeria Lume, Jardim Europa, São Paulo, SP, exibe “Covers Exhibition”, exposição individual do fotógrafo britânico Martin Parr, com curadoria de Iatã Cannabrava e Paulo Kassab Jr. Ao propor um conceito curatorial inédito, a mostra é composta por 22 fotografias – a maior parte nunca exposta no Brasil -, coloridas e em preto e branco, que foram capas de livros publicados pelo artista entre 1982 até 2014, e que traduzem seu estilo irônico, crítico e bem humorado de registrar os hábitos da sociedade moderna. Além das fotografias, uma linha do tempo conta a trajetória de Martin Parr, montada com as 76 capas de todos os seus livros.

 

Aos olhares mais ingênuos, as imagens de Martin Parr podem parecer exageradas, com temas estranhos, cores gritantes e perspectivas incomuns. “Ao mesmo tempo, suas fotografias nos mostram, de um jeito penetrante, o modo como vivemos, como nos apresentamos uns aos outros, e a que damos valor.”, comenta o curador alemão Thomas Weski. Não à toa sua fama de “cronista da sociedade moderna”, Martin Parr cria narrativas sobre o cotidiano de forma única e original, capturando o momento na exata fração de tempo, sempre munido de um olhar crítico e, de certa forma, satírico. Na própria definição do artista: “Com a fotografia, gosto de criar ficção a partir da realidade. Eu tento fazer isso tirando o preconceito natural da sociedade e acrescentando um toque especial.”. Sua pesquisa, há várias décadas, recai sobre as singularidades da vida em sociedade e aborda temas como lazer, consumo e comunicação, permitindo uma justaposição de imagens entre signos universais e experiências visuais incomuns, sem a intenção de resolver ou discutir contrassensos – o que agrega um toque de excentricidade em sua obra.

 

Ao longo desses mais de 40 anos dedicados à fotografia, Martin Parr produziu constantemente e lançou 76 livros, publicados desde o início da década de 1980 – até então, o fotógrafo registrava tudo em preto e branco; a partir de 1983, passa a usar apenas filmes coloridos, quando a saturação de cores se torna uma das principais características de sua produção. Em sua primeira individual no circuito cultural brasileiro, a proposta dos curadores é apresentar este trabalho em uma montagem nunca vista: contar a trajetória do artista através das capas de seus 76 livros, em uma linha do tempo, destacando 22 dessas capas em fotografias ampliadas para a exposição.

 

Por transcender os tradicionais tipos de fotografia, as imagens de Martin Parr se encaixam tanto no contexto da arte, em exposições e livros, como nos campos da publicidade e do jornalismo. Assim, ao desvendar toda a genialidade deste verdadeiro artista, a Galeria Lume oferece ao público a chance de entrar em contato com um dos fotógrafos mais importantes da atualidade, cuja obra é referência e fonte de inspiração às gerações mais novas de profissionais. Como diz o artista: “Fotografia é sorte, mas é sorte merecida.”. A coordenação é de Felipe Hegg e Victoria Zuffo.

 

 

De 15 de outubro a 14 de novembro.

Elifas Andreato nos Correios/Rio

06/out

A exposição Elifas Andreato, 50 Anos está em cartaz no Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, reunindo alguns dos principais trabalhos elaborados pelo artista paranaense ao longo de cinco décadas de carreira. A Mostra traz obras que marcaram a fase áurea da música popular brasileira, a luta contra a ditadura e o teatro brasileiro. Depois, segue para o Museu dos Correios, em Brasília, e para o Centro Cultural Correios, em São Paulo.

 

A mostra tem início com uma linha do tempo narrando desde os primeiros trabalhos, realizados ainda nos tempos de operário, até as mais recentes produções, passando por alguns dos principais capítulos da história da música, do teatro e da política no Brasil. No campo musical, trabalhos feitos para alguns dos mais importantes nomes da MPB, como Elis Regina, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Tom Zé, Clara Nunes, Clementina de Jesus, Chico Buarque, Adoniran Barbosa, Carmen Miranda e Vinicius de Moraes, entre outros.

 

Em estações multimídia, os visitantes podem selecionar e assistir a depoimentos do artista sobre a realização de alguns de seus principais trabalhos para a música: capas de disco, coleções de fascículos, projetos culturais. Os visitantes podem ainda sentar-se em torno de estações digitais para ouvir discos que Elifas embalou, a partir de um aplicativo que reproduz as velhas vitrolas, seus característicos chiados e sua forma de operação. A obra do artista voltada para o universo infantil também está representada, com destaque para uma reprodução em grande escala da arca e dos bichinhos que compõem a capa do inesquecível LP “Arca de Noé”, de Vinicius de Moraes. Crianças e adultos podem se colocar dentro da capa, em uma proposta expográfica que desdobra os planos da obra, quase como em um livro pop-up.

 

A mesma experiência, de adentrar os trabalhos de Elifas, os visitantes têm através dos discos como Canto das Lavadeiras, de Martinho da Vila, e de cartazes para Elis Regina e para peça Rezas de Sol para a Missa do Vaqueiro. A contribuição para o teatro ganha espaço também com a reprodução de cartazes como A Morte de Um Caixeiro Viajante, de Arthur Miller, com direção de Flávio Rangel; Mortos Sem Sepultura, de Jean-Paul Sartre, dirigida por Fernando Peixoto; e Murro em Ponta de Faca, de Augusto Boal, com direção de Paulo José.

 

A atuação política, sobretudo durante o regime militar, tem espaço com a reprodução de alguns dos trabalhos que ilustraram a resistência à ditadura no período, como capas para publicações alternativas que fundou e dirigiu: os jornais Opinião e Movimento e a revista Argumento. Como denúncias dos crimes cometidos pelos militares estão 25 de Outubro (1981), que escancarou em tela o assassinato do jornalista Vladimir Herzog nas instalações do DOI-CODI, e o majestoso painel A Verdade Ainda que Tardia (2012), encomendado pela Comissão da Verdade da Câmara. A exposição traz ainda um raro exemplar do Livro Negro da Ditadura Militar, com capa assinada pelo artista, além de outras reproduções e objetos valiosos que ajudam a recontar a trajetória de Elifas Andreato e seu compromisso com a cultura e a história do País.

 

 

Sobre o artista

 

Elifas Andreato nasceu no Paraná em 1946. O marco inicial da sua carreira é 1965, quando abandonou o trabalho de aprendiz de torneiro mecânico na fábrica da Fiat Lux, em São Paulo, para dar os primeiros passos em sua trajetória artística profissional. Nos anos 1960, na Editora Abril, participou da equipe de criação de inúmeras revistas, fascículos e coleções, como Placar, Veja e História da Música Popular Brasileira. Durante o regime militar, fundou órgãos da imprensa alternativa como Opinião, Argumento e Movimento. Iniciou também o trabalho como programador visual e cenógrafo para peças teatrais memoráveis. Ainda nesse período, destacou-se como criador de capas de discos para os mais importantes nomes da MPB. Ao longo da carreira, calcula que tenha produzido em torno de 400 trabalhos – capas antológicas de praticamente todos os grandes nomes da nossa música. A partir dos anos 1990, seu trabalho voltou-se para a área editorial, tornando-se responsável pelas históricas coleções MPB Compositores e História do Samba, ambas lançadas pela Editora Globo, e pelo Almanaque Brasil, publicação mensal que circula nos vôos da TAM. Em 2011, pelo conjunto da obra, recebeu o Prêmio Especial Vladimir Herzog, concedido a pessoas que se destacam na defesa de valores éticos e democráticos e na luta pelos direitos humanos. O reconhecimento, assim como a comenda da Ordem do Mérito Cultural, se junta a diversos prêmios que recebeu ao longo da carreira pela contribuição ao País, seja no campo artístico, político ou social.

 

 

Até 29 de novembro.

Prêmio CCBB Contemporâneo

02/out

O artista paulistano Jaime Lauriano, 30 anos, intitula sua primeira individual no Rio de Janeiro com uma das frases atribuídas a Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, na carta-relato ao rei Dom Manuel, sobre a chegada dos portugueses ao Brasil: “Nesta terra, em se plantando, tudo dá”. A exposição entra em cartaz no CCBB Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Um dos dez contemplados pelo Prêmio CCBB Contemporâneo, o projeto de Jaime Lauriano para esta mostra se fundamenta na pesquisa do artista sobre a formação do Estado brasileiro, a partir das violências que este impõe sobre o corpo da sociedade civil, com foco na disputa de terras, entre a iniciativa privada e o Estado e a população. Ele leva em conta não só a violência física, mas também a simbólica, a do discurso, e aí, inclui a mídia.

 

O artista avalia que a arte contemporânea é uma ferramenta de produção de conteúdo e de crítica, se estende para as áreas de História, Antropologia e Sociologia e potencializa essas relações interdisciplinares para apresentar um olhar artístico contemporâneo sobre o processo de formação do Brasil como nação.

 

– A disputa de terras foi gestada na primeira invasão dos portugueses e segue até nossos dias. Em momentos de crise intensa, instala-se uma situação de exceção, como no Brasil Colônia, no Brasil Império, na ditadura militar e na ascensão conservadora do Congresso Nacional hoje, argumenta Lauriano.

 

O trabalho que intitula a exposição é um objeto, no qual uma muda de pau-brasil cresce dentro de uma estufa, até que suas raízes e galhos destruam a estrutura que a contém. Ao romper seu suporte a planta está fadada à  destruição, condicionando, assim, sua existência ao aprisionamento.

 

– A violência imposta pela arquitetura da estufa alude à violência impingida aos povos nativos da Terra Brasilis durante o processo de colonização, compara o artista.

 

 

“Nesta terra, em se plantando, tudo dá”

 

Além da estufa com pau-brasil plantado, a mostra apresenta ainda os seguintes trabalhos inéditos:

 

– “Calimba”: manchetes de jornal pirografadas e impressas a laser sobre placas de madeira. Todas se referem a pessoas amarradas e espancadas na rua, entre 2013 e 2015. Calimba é o instrumento usado para marcar os escravos com o brasão de seu dono. A palavra só é encontrada em dicionários da diáspora negra;

 

– “Suplício nº3”: o artista pesquisou em jornais de todo o país os elementos mais usados em ataques a cidadãos por preconceito religioso, principalmente contra as práticas afro-brasileiras – pedras portuguesas, vidros, entulho de construção e peças de madeira, e os reuniu em uma vitrine de museu;

 

– “Quem não reagiu está vivo” é um conjunto de 11 textos curtos ilustrados, impressos sobre papel, sobre disputa de terras, desde o descobrimento do Brasil até 2015;

 

– “Ordem e progresso” é um desenho de chão, em que a frase, desenhada com arame incandescente, acende e apaga, acionado por um transformador.

 

Germano Dushá fecha assim seu texto de apresentação da mostra: “Por meio de operações que inclinam sobre as possíveis relações do período colonial com as gravidades sociais que acometem os dias de hoje, o artista lida com lesões abertas que marcam impetuosamente nosso cotidiano. Podemos, então, com sorte, pensar criticamente a respeito do que se fez nesta terra e, sobretudo, como se tem contado suas histórias. O que foi que se plantou, e o que foi que deu.”

 

 

Sobre o artista

 

Jaime Lauriano (São Paulo, 1985) vive e trabalha em São Paulo. Graduou-se em Artes pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, em 2010. Entre suas exposições mais recentes, destacam-se as individuais: Autorretrato em Branco sobre Preto, Galeria Leme, São Paulo, 2015; Impedimento, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, 2014, e Em Exposição, Sesc Consolação, São Paulo, 2013; e as coletivas: Frente à Euforia, Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo, 2015; Tatu: futebol, adversidade e cultura da caatinga, Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, 2014; Taipa-Tapume, Galeria Leme, São Paulo, 2014; Espaços Independentes: A Alma É O Segredo Do Negócio, Funarte, São Paulo, 2013; Lauriano tem trabalhos na coleção da Pinacoteca do Estado de São Paulo, e na do do MAR – Museu de Arte do Rio.

 

Sobre o Prêmio CCBB Contemporâneo

 

 

Em 2014, pela primeira vez, o Banco do Brasil incluiu no edital anual do Centro Cultural Banco do Brasil um prêmio para as artes visuais. É o Prêmio CCBB Contemporâneo, patrocinado pela BB Seguridade, que contemplou 10 projetos de exposição, selecionados entre 1.823 inscritos de todo o país, para ocupar a Sala A do CCBB Rio de Janeiro. O Prêmio é um desdobramento do projeto Sala A Contemporânea, que surgiu de um desejo da instituição em sedimentar a Sala A como um espaço para a arte contemporânea brasileira. Idealizado pelo CCBB em parceria com o produtor Mauro Saraiva, o projeto Sala A Contemporânea realizou 15 individuais de artistas ascendentes de várias regiões do país entre 2010 e 2013.

 

A série de dez individuais inéditas, começou com o grupo  Chelpa Ferro [Luiz Zerbini, Barrão e Sergio Mekler], seguido das mostras de Fernando Limberger [RS-SP] e Vicente de Mello [SP-RJ]. Depois da de Jaime Lauriano [SP], vêm as de Carla Chaim [SP], Ricardo Villa [SP], Flávia Bertinato [MG-SP], Alan Borges [MG], Ana Hupe [RJ], e Floriano Romano [RJ], até julho de 2016. Entre 2010 e 2013, o projeto que precedeu o Prêmio, realizou na Sala A Contemporânea exposições de Mariana Manhães, Matheus Rocha Pitta, Ana Holck, Tatiana Blass, Thiago Rocha Pitta, Marilá Dardot, José Rufino, do coletivo Opavivará, Gisela Motta&Leandro Lima, Fernando Lindote, da dupla Daniel Acosta e Daniel Murgel, Cinthia Marcelle, e a coletiva, sob curadoria de Clarissa Diniz.

 

 

De 06 de outubro a 09 de novembro.

Bate-papo no Recife

30/set

O Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Rua da Aurora, Boa Vista, Recife, PE, convida para o dia 01 de outubro, às 19h, quando será realizado um bate-papo no Mamam com os curadores Agnaldo Farias e Valquíria Farias e o artista Gil Vicente para discutir a exposição “Inimigos”, atual cartaz na casa.

Delson Uchôa na SIM Galeria

A pintura é o assunto central da exposição individual de Delson Uchôa, que entra em cartaz na SIM Galeria, Batel, Curitiba, PR. A mostra reúne pinturas e fotografias do consagrado artista alagoano “que buscam conversar com olhos de quem sabe ouvir”. A pintura é apresentada como um conto, com alto teor de narrativa.

 

“Enquanto pinto, penso, e o pensamento permanece preso, ele é o espírito da pintura. Esse é o princípio. Então essas pinturas convidam para uma conversa. Há casos que elas falam sozinhas, há casos em que elas mandam me chamar, aí conversamos juntos.E são só ensinamentos. Por isso, a conversa é longa entre a pintura pensante, o autor, e quem contempla a obra”, explica Uchôa.

 

Uma fluidez própria da água aparece de maneira direta ou indireta em todas as grandes pinturas que integram a mostra, como “Oceano e Equinócio”, ambas de 2012. “O Oceano propõe uma luz transgênica, uma totalidade luz-cor. Ele é auto idêntico. Gosto da pintura porque ela ensina os homens a ver o sensível e o místico. A pintura é boa para o homem, ela nos ajuda a dialogar”, acredita.

 

“Neurocondução”, trabalho mais recente de Delson Uchôa na mostra, faz uma conexão do artista com a paisagem e a topografia, e também enfatiza a relação dele com uma cor que viaja e se transforma no tempo. O título é uma das inúmeras referências biológicas e clínicas com que Delson, formado em Medicina, povoa sua história nas artes plásticas, como explica Daniela Name no texto de abertura da exposição.  A obra é uma tela feita de lona muito grossa com desenho em preto feito a partir das linhas de dobra (como um origami). Essa superfície foi exposta ao ar livre, à ação do sol e da chuva.

 

“Neurocondução” fala da condição carnal da minha pintura, da eletricidade da cor; do sensível e sensitivo fio condutor, axônio. Quando o assunto é a apresentação do corpo médico ao corpo da pintura, da pele humana a pele da tela, do vermelho venoso purpúreo, ao sangue arterial oxigenado. O meu vermelho é o encarnado”, informa Uchôa, informando que “Entretela”, uma das obras da exposição, também é resultado da construção de uma “tela cultivada”.

 

Delson também usou os elementos e cores de sombrinhas, daquelas feitas de nylon made in China, como referência de cor para pinturas e também compor cenários que foram registrados em fotos da série “Bicho da Seda”, realizada no sertão nordestino. Algumas obras da série integram a individual na SIM Galeria.

 

De acordo com o artista, no seu trabalho a foto aparece mais como um suporte, portanto a obra se torna uma pintura expandida.  “O bicho da seda é um projeto que prioriza  a luz do sol, aconteceu no cerrado,  no descampado luminoso luz tórrida, árida paisagem, atmosfera e temperatura fabulosa para estridente palheta. A pintura se instala, ou seja, é construída com a cor das sombrinhas chinesas”, contextualiza.

 

“Quando o bicho é personagem, sua imagem conversa com o teatro, performance, vídeo, cinema, fotografia, e então o Bicho testemunha o entorno, ele é um reporte, um brincante.  Ele é mitologia, ele sou eu”, conclui.

 

O artista estará – em novembro – com uma exposição no Ludwig Museum, na Alemanha. Considerado um dos nomes mais importantes da Geração 80, Delson Uchôa tem obras que compõe as coleções permanentes da Pinacoteca de São Paulo, da Fundação Edson Queiroz, do MAC de Niterói, do Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Recife), do Museu Nacional de Belas Artes,  e também do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Nos últimos anos, o artista também foi convidado para participar da Bienal de Veneza, Bienal do Cairo, Bienal de Havana, na Bienal Internacional de Curitiba (2013), e na 24ª Bienal de São Paulo.

 

 

Sobre a SIM Galeria

 

Fundada em 2011 em Curitiba, a SIM Galeria nasceu para atuar como um espaço difusor de arte contemporânea, exibindo artistas brasileiros e internacionais com investigações nos mais variados suportes:  pintura, fotografia, escultura e vídeo. Ao longo dos últimos três anos, a SIM foi palco de uma série de mostras individuais e coletivas organizadas por curadores convidados, como Agnaldo Farias, Jacopo Crivelli, Denise Gadelha, Marcelo Campos, Fernando Cocchiarale e Felipe Scovino. A galeria também é responsável pela assinatura de catálogos e outras publicações. A SIM ainda trabalha em conjunto com instituições brasileiras e estrangeiras com o intuito de promover exposições e projetos de artistas nacionais e internacionais.

 

 

De 01 a 31 de outubro.