Patrícia Francisco na Mamute

22/jun

A Galeria de Arte Mamute, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, inaugura a exposição “Slide”, da artista Patrícia Francisco. A mostra com curadoria de Elaine Tedesco apresenta um conjunto de trabalhos que privilegia o uso do vídeo e da fotografia para desenvolver versões do real. Patrícia Francisco busca no plano das memórias roteiro para suas criações e explora fotomontagens e fotoperformances para criar séries contaminadas pelo cinema, sobre o futuro decadente da humanidade ou questionamentos sobre os problemas ecológicos na atualidade.

 

 

 

Uma só fotografia não basta

 

 

Patrícia Francisco vem privilegiando em sua produção artística o uso do vídeo para desenvolver versões do real. Há alguns anos cria filmes, documentários autorais nos quais o roteiro é delineado a partir do encontro com o plano das memórias. São filmes que abordam histórias de cegos, lembranças de sua avó, histórias de algumas mulheres ou um diário de sua percepção sobre casas abandonadas na cidade de São Paulo. Em 2012 passou a explorar a fotografia em fotomontagens e fotoperformances para  criar séries contaminadas pelo cinema apresentadas em instalações, como nos trabalhos Eu Como Um Canto; Leonardo; Vetores; Dominó; Antes/ Depois e Sinal Vermelho. Essas séries são o pano de fundo para a exposição na Galeria Mamute, nela expõe conjuntos de fotografias que tematizam a paisagem urbana de duas cidades – Rio de Janeiro e São Paulo. A série Leonardo, exposta na primeira sala, tem como referência um filme de outro autor A Vida de Leonardo da Vinci, de Renato Castelani(1). Tais trabalhos são montados a partir de slides diapositivos. Neles as molduras (dos slides) agem como quadros que contém múltiplos fragmentos do repertório de Leonardo da Vinci – plantas, textos, uma escultura com sua imagem em Milão – misturados a apropriação de imagens e fotografias feitas pela artista em diferentes cidades. Nessas fotomontagens, indo da primeira à terceira, a presença das molduras de slides é mobilizadora da abstração que ganha corpo na medida em que avança do fundo ao primeiro plano. Na mesma sala, em contraponto a esse trabalho, está Antes/ Depois – uma sequencia de diferentes obtenções fotográficas do mesmo objeto, feita ao longo de um mês na praia de Botafogo, RJ., associada a um diálogo ficcional sobre o futuro decadente da humanidade. O assunto do diálogo escrito sobre a imagem narra possíveis transformações que o homem pode vir a ter: – Seremos homúnculos? Pergunta a artista. Já a série Sinal Vermelho, exposta na segunda sala, tem como motivo seus questionamentos sobre os problemas ecológicos na atualidade, nela os opostos beleza e poluição são tratados em um acordo gráfico. Cenas do cartão postal carioca justapostas com imagens em close do lixo que orbita aquela paisagem. A palheta de cores, quase um tom sobre tom (marfim, verde e preto), faz referência a quadros de natureza morta e ao filme O Catador e a Catadora, de Agnés Varda(2). Esse conjunto de obras nos dá a ver tempos e enquadramentos condensados constituindo o material para criação de cenas urbanas e sugerem repensar o futuro.

 

 

Elaine Tedesco

(1) La Vita di Leonardo da Vinci , 1972/ Renato Castellani

(2) Les Glaneurs et la Glaneuse, 2000/Agnes Varda.

 

 

 

 

Sobre a artista

 

 

Mestrado em Artes – ECA/USP, 2008. Orientação Artística com Carlos Fajardo, São Paulo (2005-2007). Graduada em Artes – IA/ UFRGS. Representada pela Galeria Mamute em Porto Alegre-BR. Artista residente “Programa Internacional de Residências Artísticas”, Fundación ‘ACE, Buenos Aires-AR (2014)  Programa”Obras em Construção”, Casa das Caldeiras, São Paulo-BR (2011). Obras em Coleções: Museu de Arte Contemporânea–MAC (Porto Alegre-BR) Fundação Vera Chaves Barcellos – FVB (Porto Alegre–BR); Videothèque Joaquim Pedro de Andrade – Maison du Brésil – Cité Internationale Universitaire (Paris–FR). Principais Exposições Slide (individual), Galeria Mamute, Porto Alegre/ RS. (junho/2015) De Longe, de Perto, curadoria Angélica de Moraes, Galeria Mamute, Porto Alegre/ RS; Sul-Sur 2014, Espacio de Arte Contemporáneo – EAC, Montevideo, Uruguay ; X Muestra Monográfica de Media Art – Festival Internacional de La Imagen, Manizales, Colombia., 4o Prêmio Belvedere Paraty de Arte Contemporânea (Artista Finalista), Casa de Cultura, Paraty/ RJ;10o Salão de Arte Contemporânea, Marília/ SP; (Prêmio Prata Banco Bradesco); A Inventariante, VIDEOAKT 03 –Bienal Internacional de Vídeo Arte, Barcelona/ES; Entre, curadoria Ana Zavadil, MAC RS, Porto Alegre/RS.

 

 

 

Sobre a curadora

 

 

Doutora em Poéticas Visuais pela UFRGS. Participou da 52ª Bienal de Veneza, 2007 e  2ª e 5ª edições da Bienal de Artes Visuais do Mercosul, 1999 e 2005. Projetos individuais 2014. Wispering, mostra de vídeos no Directors Lounge, durante Residência artística em Berlim a convite do Instituto Goethe Porto Alegre. Curadoria: 2014. Neblina: a fotografia no acervo do MAC RS. Coordena a mostra de vídeos Audiovisual sem Destino, Porto Alegre, RS. Coletivas: 2014. Branco de Forma. Pinacoteca do Instituto de Artes, Porto Alegre. Manifesto, desejo poder e intervenção,  Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS. 2013. Ninhos e o arquivo agora, Porão do Paço Municipal, Porto Alegre, RS. Fazer e desfazer a Paisagem, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul. 2012 – Transição, Galeria Leme, São Paulo. 2011- Do atelier ao Cubo Branco, MARGS. Museu Sensível, MARGS, Porto Alegre. 2010 – Residência SAM Art Projects, e exposição Parcours Saint-Germain, Paris, França. Coleções Públicas MARGS RS. MAC RS. MAC Paraná. MAM Bahia. Museu de Arte de Brasília. Museo de Arte Latino Americano de Buenos Aires (MALBA). Casa das 11 Janelas. Fundação Vera Chaves Barcelos.

 

 

 

De 26 de junho a 07 de agosto.

Geração 80 em Curitiba

18/jun

Entra em exibição na Simões de Assis Galeria de Arte, Curitiba, PR, a exposição “Geração 80: Ousadia & Afirmação”, com curadoria de Marcus Lontra. Artistas de uma geração cuja marca foi a busca da associação do pensar com o fazer serão apresentados na mostra, que traz obras de Barrão, Beatriz Milhazes, Cristina Canale, Daniel Senise, Delson Uchôa, Gonçalo Ivo, Jorge Guinle, Leda Catunda, Leonilson e Luiz Zerbini.

 

 

Em julho de 1984 e 123 artistas de várias partes do país se reuniriam num grande site-specific no prédio do Parque Lage, no Rio de Janeiro. A abertura da exposição foi uma festa que reuniu toda uma geração crescida à sombra de 20 anos de ditadura militar. Na mostra, diversas propostas reunidas pela jovem curadoria de Marcus Lontra, Paulo Roberto Leal e Sandra Mager tendo, como um de seus nortes, a importância da imagem. Intitulada “Como Vai Você, Geração 80?”, a mostra completou 30 anos em 2014 e é, a partir do dia 18 de junho, revisitada por meio de seus principais nomes. Em vez de trazer trabalhos da época da exposição histórica desses artistas, Lontra empreende uma visita à produção mais recente desses que são nomes integrantes da história da arte brasileira. “A mostra reúne obras de décadas variadas e funciona como um caleidoscópio: imagens que se sobrepõem, se movimentam e se alternam na construção de um conjunto íntegro e orgulhoso”, diz o curador.

 

 

 

Geração 80: ousadia & afirmação

“A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”

“Comida” – Titãs, hit dos anos 80

 

 

Há pouco mais de trinta anos, cento e vinte e três jovens artistas se reuniram na Escola de Artes Visuais do Parque Lage no Rio de Janeiro, na emblemática data de 14 de julho, para invadir e ampliar as fronteiras da arte brasileira, na hoje célebre mostra “Como vai você geração 80?”. Eram outros os tempos, repletos de otimismo, e a juventude de então estava certa da necessidade premente de sair às ruas, de ocupar as avenidas e os becos da cidade comemorando a democracia que renascia no Brasil depois de um longo período de trevas. Assim éramos todos, jovens românticos e corajosos, querendo falar de afeto e liberdade, dispostos a construir um novo país e a alimentar uma produção artística que refletisse a pluralidade cultural e étnica do país.

 

 

O Brasil – e em especial o Rio de Janeiro – vivia um momento de ebulição política e cultural. Brizola e Darcy construíam CIEPs, concretizando sonhos de Anísio Teixeira e Paulo Freire. A piscina do parque Lage era a metáfora perfeita para o banho de criatividade que ocupava o casarão de Gabriela Bezanzoni e seus jardins. A curadoria (Paulo Roberto Leal, Sandra Mager e eu) era também jovem e não buscava excessos teóricos que acabam por transformar os artistas em meros ilustradores das geniais teses acadêmicas do teórico de plantão. No texto explicativo da mostra os critérios eram assim explicados: “… durante todo o processo de realização, nós, os curadores, jamais tentamos impor caminhos, forçar a existência de movimentos, de grupos, enfim, comportamentos superados nos quais somente alguns poucos `espertos` se beneficiam. A nós interessa menos o que eles fazem, e mais a liberdade desse fazer. Esse foi o princípio que norteou as nossas funções na coordenadoria da mostra.”

 

 

A total liberdade que permitiu aos artistas a escolha dos lugares onde expor e a correta função da curadoria, colaboraram para o estrondoso sucesso do evento. Em meio a tantos nomes surgiam obras e carreiras que hoje se afirmam na história recente da produção artística do Brasil. A mostra definiu a vocação plural e madura da arte brasileira; permitiu o aparecimento de uma crítica mais comprometida com a inserção da arte no panorama cultural brasileiro, oxigenou o mercado e reavaliou aspectos institucionais. Em sua essência democrática, a geração 80 foi, é e sempre será uma voz a serviço da diversidade. “Gostem ou não, queiram ou não, está tudo aí, todas as cores, todas as formas, quadrados, transparências, matéria, massa pintada, massa humana, suor, aviãozinho, geração serrote, radicais e liberais, transvanguarda, punks e panquecas, pós-modernos e pré-modernos, neo-expressionistas e neocaretas, velhos conhecidos, tímidos, agressivos, apaixonados, despreparados e ejaculadores precoces. Todos, enfim, iguais a qualquer um de vocês. Talvez um pouco mais alegres e corajosos, um pouco mais… Afinal, trata-se de uma nova geração, novas cabeças.”

 

 

Hoje, já na segunda década de um novo milênio, é gratificante constatar que a ousadia desses sempre jovens artistas está presente no cenário da arte contemporânea. Alguns com carreiras internacionais estabelecidas, outros com a certeza de que o tempo caminha ao seu lado, eterno cúmplice da qualidade das obras realmente significativas. A mostra aqui apresentada reafirma a importância de uma história já vivida e de um futuro no qual a liberdade caminhará de mãos dadas com a maturidade e o amplo domínio de seus meios expressivos. Reunir no mesmo espaço físico esse grupo de amigos, permite a curadoria – e ao público principalmente – o reencontro com obras que fazem parte do nosso saber e do nosso sentir. A mostra reúne obras de décadas variadas e funciona como um caleidoscópio: imagens que se sobrepõem, se movimentam e se alternam na construção de um conjunto íntegro e orgulhoso de uma geração que acredita no que faz e que ajuda a compor, cotidianamente, o retrato de sua época, de seu país, de nossos sentimentos e de nossas idéias.

 

Marcus de Lontra Costa – Maio de 2015

 

 

 

Até 01 de agosto.

Na LZ Arte

Os artistas plásticos Ani Cuenca, Bruno Big, Fernanda Ladeira, Denise Perez, Felipe Guga, Herberth Sobral, João César de Melo, Marcelo Catalano, Raquel Vannucci e Smael Vagner, participam no próximo dia 20 de junho, da quarta edição do LZ Arte, projeto cultural da LZ Studio, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. Anny Meisler cuida da inauguração e na atual edição, a mostra exibe obras escolhidas especialmente para o evento. A exposição fica em cartaz pelos próximos seis meses. Participação especial de Thalita Carvalho (Blog de Casa de Colorir/GNT).

 

 

 

Até dezembro de 2015.

Rogério Duarte no MAM-Rio

17/jun

O MAM-Rio, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, através do Edital de Fomento à Cultura Carioca, da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, apresenta, a partir do próximo dia 20 de junho, a exposição “Marginália 1”, uma retrospectiva da obra do artista gráfico, músico, compositor e poeta Rogério Duarte, um dos mentores do Tropicalismo. Rogério Duarte criou capas dos principais discos do período tropicalista, e foi parceiro de Gilberto Gil e Caetano Veloso em algumas músicas. Criou ainda cartazes de filmes emblemáticos do Cinema Novo, como “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, do diretor Glauber Rocha, de quem era amigo. Produziu também capas para álbuns de artistas da MPB, como Gal Costa, Gilberto Gil e Jorge Ben Jor. Como compositor, fez a trilha de “A Idade da Terra”, filme de Glauber Rocha. A mostra terá cerca de 70 obras, dentre capas de discos, publicações e cartazes, incluindo trabalhos inéditos e objetos pessoais, como notas, esboços, rabiscos, fotos, vídeos, estudos, poemas e pedras, para que o público aprecie de perto o rico universo criativo do artista.

 

 

Em 2009, foi realizada uma grande exposição sobre a obra de Rogério Duarte no The Narrows, na Austrália. A partir disso, outras mostras sobre o trabalho do artista foram realizadas em Frankfurt, na Alemanha, em 2013, e na III Bienal da Bahia, em 2014. A exposição do MAM é uma síntese dessas duas últimas mostras. Para a exposição, que tem curadoria de Manuel Raeder e do próprio artista, com a colaboração de seu filho Diogo Duarte, será reeditado o livro “Marginália 1 – Rogério Duarte” (2ª Edição), que reúne diversos trechos da sua obra literária que, em grande parte, permanece inédita. Além disso, no dia 12 de agosto, haverá o evento especial “Musicúpula”, no qual composições musicais de autoria de Rogério Duarte serão apresentadas em uma escultura poliédrica de alumínio que ele chama de “neodésica”.

 

 

 

 

A palavra do curador do MAM-Rio

 

 

“Desde meados da década de 1960, por suas parcerias definitivas em momentos cruciais das carreiras de Glauber, Oiticica e os tropicalistas, a trajetória de Rogério Duarte vem sendo protagonista em nossa história e, ao mesmo tempo, menos valorizada do que deveria. Indo muito além da experimentação marginal dos anos 1960, o design, a inteligência visual e o vigor plástico de sua obra são uma contribuição definitiva para a história da arte no Brasil”, afirma Luiz Camillo Osorio.

 

 

 

Sobre o artista

 

 

Rogério Duarte nasceu em Ubaíra, interior da Bahia, em 1939. Intelectual multimédia, é artista gráfico, músico, compositor, poeta, tradutor e professor. No início dos anos 1960, ele, sobrinho do sociólogo Anísio Teixeira, é enviado ao Rio de Janeiro para estudar arte industrial, tendo sido aluno de Max Bense (fundador de uma nova estética, de base semiótica e teórico-informacional). Militante político de esquerda nos anos 1960, Rogério Duarte aderiu ao movimento HareKrishna na década seguinte. Nos últimos anos, tem se dedicado à tradução de clássicos da literatura da Índia, à luteria (construção de violões), à geologia, à numismática, ao estudo do xadrez, à literatura, tendo criada prolífica obra, e à música. No disco “Abraçaço” (2014), de Caetano Veloso, está uma das canções inéditas de Rogério Duarte, “Gayana”. Além disso, ele vem, há décadas, se dedicando ao seu projeto rural ecológico no interior da Bahia.

 

 

 

Até de 16 de agosto.

Sérvulo Esmeraldo/ Traço volume espaço

O artista plástico Sérvulo Esmeraldo retorna a São Paulo para ocupar o térreo da galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, com obras executadas em 2015, ano seguinte à exposição de parte de seu arquivo pessoal apresentada no IAC-Instituto de Arte Contemporânea, responsável por este acervo que registra, sobretudo, processos de criação. Um dos artistas brasileiros de maior destaque pelo caráter inovador de sua obra, Esmeraldo, 86 anos, continua o inventor de sempre: firme, atento, certeiro. A presente exposição é a evidência do frescor e da vitalidade de uma produção que, embora madura, continua pulsante. Completa a exposição uma série de 10 desenhos realizados em 2015 especialmente para a presente mostra. Caligráficos, eles são o traço que trata do volume e do espaço.

 

 

Na abertura da exposição foi lançado o livro “Sérvulo Esmeraldo – A Linha e a Luz”, com organização de Dora Freitas e Sílvia Furtado, publicado pela Lumiar Comunicação. A obra reúne anotações e escritos de várias décadas do artista em torno de seu trabalho, além de estudos e obras.

 

 

Com 27 trabalhos – 10 esculturas, 07 relevos e 10 desenhos -, sendo 22 inéditos, “Traço Volume Espaço” traz uma síntese da produção do artista partindo de 1978 até 2015. A escolha dos trabalhos pontua de certo modo o seu retorno ao Brasil, no final dos anos 1970, após os 22 anos em que viveu na França. É nesta fase que o artista redescobre a volúpia do clima tropical brasileiro, e se deixa seduzir pela luz natural de Fortaleza, cidade em que vive e trabalha desde então.

 

 

Um dos destaques da mostra é a escultura de grande formato “Discos”, projetada em 1978, que será exposta a céu aberto, no jardim da galeria. Evocando a excelência e o alto rigor construtivo do artista, a obra é composta por dois discos acoplados, em aço pintado em preto e branco, recortando com precisão círculos e semicírculos que impressionam pela coerência geométrica e leveza. Outras duas esculturas de composições móveis, em médio formato – Sem Título (1997-2015), com três discos, e Sem Título (1981-2015), composta por dois prismas – trabalham a ocupação do espaço, interesse constante em sua obra. Completam o núcleo escultórico cinco peças em formatos piramidais e prismáticos, projetadas em 1981 e agora realizadas, que evidenciam a ousadia tropical de Sérvulo, que as pintou em cores vibrantes e luminosas.

 

 

Ao contrário das esculturas, os relevos expostos são obras do artista maduro. O mais antigo, o “Cilindros Parabólicos” (projetada em 2001), da série “Teoremas”, foi realizado especialmente para a presente exposição. As obras dessa famosa série de Sérvulo são mais do que simples evocações poéticas de demonstrações matemáticas. “São apropriações de diagramas de teoremas matemáticos da antiguidade e da modernidade que, despojados de suas referências algébricas, tornam-se imagens sensíveis de ideias abstratas”, aponta o crítico Fernando Cocchiarale. Os demais relevos, em aço, têm contorno e estrutura na linha e podem ser compreendidos como desenhos no espaço. Dois deles são grandes volumes transparentes.

 

 

 

Sobre o artista

 

 

Sérvulo Esmeraldo, nasceu em Crato, CE, vive e trabalha em Fortaleza. Escultor, gravador e desenhista, iniciou-se profissionalmente no final da década de 1940, frequentando o ateliê livre da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), em Fortaleza. Transferiu-se para São Paulo em 1951. O trabalho temporário na Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) nutriu seu interesse pela matemática e repercutiu em seu futuro: em 1957, trabalhando como xilógrafo e ilustrador do Correio Paulistano, expôs individualmente no Museu de Arte Moderna de São Paulo uma coleção de gravuras de natureza geométrica construtiva. O refinamento do seu trabalho foi decisivo para a obtenção da bolsa de estudos do governo francês que o levou, no mesmo ano, para uma longa estada na França. Em Paris, frequentou o ateliê de litogravura da École Nationale des Beaux-Arts e estudou com Johnny Friedlaender. Na década de 1960 dedicou-se à projetos movidos a motores, ímãs e eletroímãs. Utilizando-se apenas da magia da eletricidade estática chegou à série de “Excitables”, trabalho que o particularizou na arte cinética internacional. Em 1977 iniciou o retorno à terra natal, trabalhando em projetos de arte pública que incluíam esculturas monumentais na paisagem urbana de Fortaleza, cidade para onde se mudou em 1980 e que hoje abriga cerca de quarenta obras de sua autoria. Foi o idealizador e curador da Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras (Fortaleza, 1986 e 1991). Com diversas exposições realizadas e participação em importantes salões, bienais e outras mostras coletivas na Europa e nas Américas (Realité Nouvelle, Salon de Mai, Bienale de Paris, Trienal de Milão, Bienal Internacional de São Paulo, entre outras), sua obra está representada nos principais museus do país e em coleções públicas e privadas do Brasil e exterior. Em 2011, a Pinacoteca do Estado de São Paulo organizou importante retrospectiva da obra do artista.

 

 

 

Até 01 de agosto.

Dominique Gonzalez-Foerster no MAM-Rio

Artista francesa que irá expor no Centre Pompidou, em Paris, ganha exposição com obras emblemáticas e um trabalho recente (inédito) no Museu de Arte Moderna, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ. Chama-se “Temporama”, a exposição com doze obras da artista Dominique Gonzalez-Foerster, francesa nascida em Strasbourg, que se divide entre Paris e o Rio de Janeiro. A mostra, que tem curadoria de Pablo Léon de la Barra, ocupará uma área de 1.800 metros quadrados no segundo andar do MAM, e traz obras emblemáticas da artista produzidas entre 1985 e 1991, que serão reconstruídas pela primeira vez para a exposição. Estará ainda em “Temporama” um único trabalho produzido este ano “uma piscina abstrata” com aparições fotográficas da artista caracterizada como Marilyn Monroe. Dominique Gonzalez-Foerster, que integrou a Documenta XI, em Kassel, 2002, ganhará em setembro deste ano mostra no Centre Pompidou, em Paris, e em abril do ano que vem no prestigioso espaço K20, em Düsseldorf, Alemanha. Dominique Gonzalez-Foerster é uma das mais importantes artistas de sua geração, com obras históricas na produção artística internacional dos últimos vinte anos, que sempre integram importantes exposições. Esta será a primeira exposição individual da artista em uma instituição brasileira.

 
O curador Pablo León de la Barra ressalta que “Gonzalez-Foerster tem uma forte relação com o Brasil e com o Rio de Janeiro desde 1998”. “Ela mora parte do tempo no Rio, e isso tem uma importante influência em seu trabalho”. A artista complementa lembrando que realizou “várias apresentações com o grupo Capacete no Rio de Janeiro”, e fez “quatro pequenos filmes no Brasil: ‘Plages’, inspirado no grande desenho de Burle Marx na praia de Copacabana, ‘Marquise’, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, ‘Gloria’, na Praça Paris, no Rio de Janeiro, e ‘Brasília’, no Parque da Cidade, que integra a coleção do Moderna Museet, em Estocolmo”. “Em meu trabalho uso muitas referências de Lina Bo Bardi, Burle Marx, Sérgio Bernardes, entre outros”, afirma.

 
“Temporama” foi pensada especificamente para o MAM e no “modernismo tropical” de Affonso Reidy (1909 – 1964), arquiteto que concebeu o museu em estreito diálogo com o Parque do Flamengo. A exposição busca expandir a noção da retrospectiva tradicional para uma escala de tempo maior, avançando para o futuro e retrocedendo no tempo.

 
A artista explica que “Temporama” “se configura como uma máquina do tempo, um parque, uma praia, uma vista, e um panorama. Um lugar onde podemos parar o tempo e experimentar diferentes tempos-espaços”, diz.

 

 
Filtros vermelhos e turquesas

 
Filtros vermelhos e turquesas, colocados em toda a extensão da exposição transportarão o público às primeiras obras de Dominique Gonzalez-Foerster criadas na década de 1980, mas também ao MAM do século 20. “As fachadas de vidro permitem que a paisagem entre no Museu. Dentro e fora se confundem no espaço de exposição, que se torna uma continuação da paisagem. O vidro também cria um jogo de reflexos e miragens, onde as diferentes imagens do Rio, juntamente com as lembranças e os desejos do visitante, se sobrepõem. Da mesma forma, a arte exposta no MAM não só é exibida dentro do museu, mas também flutua na paisagem, tornando-se parte dela”, afirma o curador Pablo Léon de la Barra.

 
A exposição será acompanhada de uma publicação, com textos do curador Pablo León de la Barra, de Tristan Bera e da própria artista, a ser lançado ao longo do período. As fotos que farão parte do livro serão feitas na exposição, incluindo também as etapas de montagem.

 
O trabalho da artista integra as coleções da Tate Modern, em Londres; do Centre Pompidou, do Musee d’Art Moderne de la ville de Paris e do Fonds National d’Art Contemporain, em Paris; do Guggenheim Museum e Dia Art Foundation, em Nova York; do MUSAC e da La Caixa Foundation, ambos na Espanha; do Moderna Museet, na Suécia; do 21st Museum of Contemporary Art, no Japão, e do Van Abbemuseum, na Holanda. O Instituto Inhotim exibe, em sua coleção permanente, sua instalação “Desert Park” (2010).

 

 
Sobre a artista

 
Nascida em Estrasburgo em 1965, Dominique Gonzalez-Foerster estudou na École des Beaux-Arts de Grenoble, onde se formou em 1987, e na École du Magasin do Centre National d’Art Contemporain de Grenoble, antes de concluir seus estudos em 1989 no Institut des Hautes Études en Arts Plastiques, em Paris. Morando em Paris e no Rio de Janeiro, Gonzalez-Foerster é celebrada por sua prática interdisciplinar e, ao lado de contemporâneos como Philippe Parreno e Pierre Huyghe, é considerada uma das figuras proeminentes da estética relacional, termo proposto pelo crítico e curador Nicholas Bourriaud para descrever práticas surgidas na década de 1990 que exploravam os relacionamentos humanos e os contextos sociais em que eles ocorrem. Com seu interesse especial pela arquitetura, interiores e espaços e seu fascínio pela literatura, cinematografia, mídia e tecnologia, seu trabalho assumiu primordialmente a forma de instalações, com frequência site-specific, embora muitas vezes utilize também o filme como suporte. Entre a série de obras dos anos 1990 em torno da ideia de quartos estão RWF (Rainer Werner Fassbinder) (1993), a recriação do apartamento do falecido cineasta alemão, e Une Chambre en Ville (1996), que apresentou um quarto parcamente decorado, porém acarpetado, contendo um pequeno número de objetos para comunicação de informações e mídia, tais como um rádio-relógio, uma TV portátil, telefone e jornais diários. Entre 1998 e 2003, produziu uma série de 11 filmes apresentados como a compilação Parc Central (2006), contendo filmagens de parques, praias, desertos e paisagens urbanas de diversos locais, de Kyoto a Buenos Aires, de Paris a Taipei. Em 2002, ganhou o Prix Marcel Duchamp, Paris. Entre suas principais obras e projetos desde a virada do milênio estão Roman de Münster (2007), em que criou réplicas em escala 1:4 de esculturas selecionadas de outros artistas apresentadas antes no Skulptur Projekte Münster; TH.2058 (2008), encomendada para o Turbine Hall da Tate Modern como parte da série Unilever, que consistia de 200 estruturas de metal de camas-beliche dispostas em fileiras, com livros espalhados por cima e enormes réplicas de esculturas de artistas como Louise Bourgeois e Bruce Nauman elevando-se sobre elas; e “Desert Park”, nos trópicos de Inhotim (2010), para a qual construiu pontos de ônibus de concreto inspirados na arquitetura modernista brasileira, que instalou num campo próximo a uma floresta tropical. Sua prática transdisciplinar e muitas vezes colaborativa também se estendeu ao âmbito da música e do teatro, com peças como NY.2022 (2008), com Ari Benjamin-Meyers e a Richmond County Orchestra de Staten Island, no Peter B. Lewis Theater do Guggenheim Museum, Nova York; K.62 (2009), no Abrons Art Center, Nova York, como parte da Performa 09; e T.1912 (2011), em homenagem do 99º aniversário do naufrágio do Titanic, no Guggenheim Museum, Nova York. Aperformance M.2062 começou na Memory Marathon da Serpentine Gallery em 2012 e foi apresentada em diversas versões desde então, inclusive com o título Lola Montez in Berlin (2014). Em 2006, a artista participou da 27ª Bienal de São Paulo, com curadoria de Lisette Lagnado. Entre suas mostras individuais estão “Chronotopes & Dioramas” na Dia Art Foundation, Nova York (2009), “Splendide Hotel” na Reina Sofia, Madri (2014), e exposições em desenvolvimento para o Centre Pompidou de Paris (2015) e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2015).

 

 
De 20 de junho a 09 de agosto.

 

Matheus Rocha Pitta na Athena

15/jun

No dia 2 de julho a galeria Athena Contemporânea, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, abre a mostra “Assalto”, do artista Matheus Rocha Pitta, que agora passa a ter suas obras representadas pela galeria.

 

Matheus apresentará uma série composta por onze lajes, inédita no Brasil, produzida especialmente para a Bienal de Taipei, em 2014. Em cada uma das lajes, o artista insere imagens do noticiário impresso e diversos recortes de gestos manuais retirados de anúncios publicitários. Juntos no mesmo plano frio do concreto, as imagens criam um choque com os gestos, como em um assalto: mãos ao alto!

 

A escolha bastante singular pelo concreto (baseado na técnica de construção de sepulturas de baixo custo) parece congelar um momento dialético e delicado, em que as imagens publicitárias são convertidas para um tema enigmático, mas não menos político.

 

A obra do artista é marcada pela pesquisa e investigação de lugares marginais, tanto em suas dimensões físicas quanto simbólicas. Seus trabalhos estão em importantes coleções como a Coleção Gilberto Chateaubriand – MAM, Rio de Janeiro, Brasil; Coleção Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna da Bahia, Brasil; Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil; Centro Dragão do Mar de Arte Cultura, Fortaleza, Brasil; Maison Europenne de la Photographie, Paris, França; Castelo de Rivoli, Torino, Itália e Fondazione Nomas, Roma, Itália.

 

 

Sobre o artista

 

Matheus Rocha Pitta cresceu na cidade de Tiradentes, MG, e mudou-se, quando adolescente, para a cidade serrana de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Morou no Rio de Janeiro, em 1999, quando estudou História na UFF e Filosofia na UERJ. Em 2003, foi bolsista do Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte e em 2007 ganhou a Bolsa Iberê Camargo, uma residência na Universidade do Texas, Austin, EUA. No mesmo ano, ganhou o prêmio aquisição do 14º Salão da Bahia. Em 2011, participou da coletiva “Rendez Vous”, no Institut d’Art Contemporain de Lyon e realizou a individual “Provisional Heritage”, na Sprovieri, Londres, Reino Unido. Foi também 1º lugar do I Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea em 2012 e realizou individuais no Paço Imperial, Rio de Janeiro e Fondazione Volume, Roma. Vive e trabalha no Rio de Janeiro atualmente.

 

 

De 02 de julho a 1º de agosto.

Andy Warhol – Ícones POP

12/jun

O Shopping Leblon, Lounge, 3º piso, Rio de Janeiro, RJ, leva ao público a partir de 18 de junho a mostra “Andy Warhol – Ícones POP”, com 16 serigrafias catalogadas e certificadas do artista americano, um dos nomes mais fortes da Pop Art. Inédita no Rio, a exposição é assinada pela galeria catalã Antic & Modern, de Barcelona, e reúne, em tamanhos diversos algumas das mais representativas imagens criadas por Andy Warhol. A seleção de obras inclui personagens como Marilyn Monroe e Mao Tsé Tung, além de outros ícones mundiais do movimento, como o símbolo do dólar e a emblemática Campbell´s Soup.

 

 

De 18 de junho a 12 de julho.

Tinho na Galeria Movimento

 

Tinho, um dos mais conceituados artistas urbanos do Brasil, abrirá a mostra “Tinho – Verdades que habitam em coisas que restam”, na Galeria Movimento, com participação do público para arrecadar roupas para o Instituto da Criança. A partir do dia 02 de julho a Galeria Movimento, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, apresenta ao público os trabalhos de Walter Tada Nomura, o TINHO, um dos precursores da arte urbana no Brasil. O artista paulista faz parte de um grupo, incluindo OSGEMEOS, que rompeu com a estética da arte urbana no Brasil, criando traços próprios e ousados, alavancando o nível mundial, inovando e levando mensagens politizadas para a arte de rua. Tinho foi convidado pela Xucun Comuna de Arte Internacional, uma importante Instituição de Arte Chinesa, para fazer uma residência na China ainda este ano, em agosto.

 

 

Em paralelo à exposição na Galeria Movimento, será realizada uma campanha de arrecadação de roupas e o público será convidado a participar. Interessados poderão levar roupas para doação, que primeiramente irão compor uma instalação que Tinho assina pensando nesta doação que será feita ao Instituto da Criança, que é uma organização do Terceiro Setor que promove o Empreendedorismo Social. Na medida em que o público trouxer as roupas, a instalação ganhará volume e criará forma.

 

 

A mostra, inédita, gira em torno dos bonecos de retalhos, personagens criados pelo artista em 1993, quando inicialmente eram inteiramente brancos ou pretos, somente com olhos e alfinetes coloridos. São sete obras de um metro e meio de altura, artesanais e únicos, em oposição aos brinquedos industrializados. São frutos analógicos do início desse milênio que ruma para a vida digital. Para o artista simboliza uma figura protetora e acolhedora, como um último recurso para uma criança abandonada. Esse aspecto sombrio é uma característica da sua busca artística. Crianças tristes fazem as pessoas pensarem, uma vez que chamam a atenção e despertam a curiosidade. “Todo adulto tem uma criança interior, que deve aprender a cuidar ao longo do curso da vida”, conta o artista. Tinho também vai apresentar 14 telas inéditas que envolvem o cotidiano urbano e todo o caos proporcionado pela metrópole. Em suas obras ele dialoga com o público sobre tentativa de estabelecer uma comunicação com o espectador, de forma a levantar e discutir questões contemporâneas.

 

 

 

Sobre o artista

 

 

Tinho participa de discussões e palestras regularmente, como aconteceu na VII Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, em 2007. Acumula em seu currículo participações em mostras coletivas de instituições como Centro Cultural São Paulo, Paço das Artes, MIS, Caixa Cultural, Santander Cultural, Memorial da América Latina e Pavilhão das Culturas Brasileiras, assim como nas bienais de Havana, 2009 e Vento Sul, Curitiba, 2009. Realizou exposições individuais em diversas galerias privadas ao redor do mundo e, a convite do Itamaraty, expôs em Londres e em Moscou. Em 2006 foi convidado a produzir um painel gigante para a Copa FIFA 2006, em Berlin, e também já participou de exposições em Grenoble e Hossegor, França; Gold Coast, Melbourne e Torquay, Austrália; Beijing e Shangai, China; Barcelona, Espanha; Rotterdam, Holanda; Moscou, Russia; Zurich, Suíça; Berlin e Munique, Alemanha; Varsóvia, Polônia; Milão, Itália; Buenos Aires, Argentina; e Santiago, Chile.

 

 

 

De 02 de julho a 1º de agosto.

 

Em Curitiba

11/jun

A SIM galeria, Curitiba, PR, anuncia sua próxima exposição: “Carbono 14″, individual de Marcelo Moscheta. O artista combina diversas técnicas em seus trabalhos como o emprego de gouache e colagem de transferidores e réguas de acrílico sobre impressão com tinta pigmentada mineral sobre papel Hahnemühle photo rag 300gr. Marcelo Moscheta recebeu texto de apresentação de Paulo Myiada.

 

 

Do que nomeia os saberes de Marcelo Moscheta

 

Marcelo Moscheta vive em tensão com esse modelo de organização do conhecimento. Por um lado, ele investe grande energia em deslocamentos por ambientes naturais – o Ártico polar, o deserto do Atacama, a fronteira entre Brasil e Uruguai – nos quais imerge como um explorador fenomenológico da paisagem, das pedras, dos caminhos e da natureza; neste aspecto, ele procura os ambientes limítrofes em relação ao campo organizado da cultura e dos saberes. Por outro lado, ele herda da tradição ocidental (e mais diretamente de seu pai, professor de botânica) uma série de princípios de organização sistemática das coisas do mundo: catalogação, medição, seriação, tabulação, reprodução e nomeação de espécimes, fragmentos do mundo natural traduzidos como itens em compêndios supostamente objetivos e verdadeiros.

 

Todas essas ações frias do saber técnico – identificadas com o cientificista pathos do pensamento moderno – integram os processos criativos de Moscheta da mesma forma que os cálculos de resistência dos materiais integram os projetos de um bom arquiteto. São modelos herdados que fazem com que a criação não parta exclusivamente da folha em branco, mas também de equações já apreendidas sobre o comportamento das coisas: imposição de limites que lhe reveste o pensamento com um véu de objetividade e verdade. Estamos falando de relações preexistentes entre formas de pensar, modos de olhar e ações de análise que são exacerbados pelo artista até se tornarem estruturas conceituais, esquemas compositivos e gestos poéticos, respectivamente.

 

Na obra de Moscheta, tudo que havia de peculiar, pesado e artificioso na organização dos já nostálgicos ficheiros das bibliotecas retorna ampliado e reformado por desígnios poéticos muitas vezes alimentados por imersões em paisagens desconhecidas e por projeções de forma, desenho e enquadramento. Assim, o que é dura artificialidade da organização do saber recebe uma paródia sagaz e se transmuta em lúdico arranjo.

 
É sabido que o pensamento analítico torna-se mais e mais cego para a totalidade do contexto quanto mais se aprofunda na tarefa de nomear e estruturar partículas menores e mais recortadas da realidade concreta – Marcelo Moscheta não corrige essa miopia, mas se aproveita dela para trapacear no jogo do pensamento moderno e criar suas máquinas de sonho presente.

Paulo Myiada

 

 

De 18 de junho a 01 de agosto.