Os talentos da Galeria TATO

06/mar

Coletiva traz obras de 28 artistas que participam de duas turmas da Casa Tato, que se consolidou como um dos programas de desenvolvimento de talentos de maior prestígio na arte visual brasileira. A mostra abre no dia 09 de março, com curadoria de Katia Salvany e Sylvia Werneck, na Barra Funda, novo circuito de arte na capital paulista.

A Galeria TATO, Barra Funda, São Paulo, SP,  – polo de atração e desenvolvimento de talentos na arte contemporânea -, inaugura a coletiva “Que dizer de nós?”. A mostra, que permanecerá em cartaz até 30 de março, reúne cerca de 30 obras de artistas participantes de duas edições da Casa Tato, projeto principal da galeria, com foco na inclusão de artistas promissores no sistema da arte. A curadoria é de Katia Salvany, que responde pela Casa Tato 9; e de Sylvia Werneck, responsável pela Casa Tato 10; com assistência de João Pedro Pedro.

A mostra apresenta obras dos seguintes artistas: Adriana Nataloni (Argentina), Alessandra Mastrogiovanni (SP), Alexandre Vianna (SP), Anna Guerra (PE), Anna Vasquez (BA), Bet Katona (RJ), Bianca Lionheart (SP), Danilo Villin (SP), Desirée Hirtenkauf (RS), Diogo Nógue (SP), Edu Devens (RS), Flávia Matalon (SP), Gela Borges (MG), Giovanna Vilela (SP), Glenn Collard (SP), Isaac Sztutman (SP), Isabel Marroni (RS), Jamile Sayão (SP), Janice Ito (SP), Jaqueline Pauletti (SC), Júnia Azevedo (RJ), Laura Martínez (México), Luciano Panachão (SP), Marcelus Freschet (SP), Marina Marini Mariotto Belotto (PR), Neto Maia (BA), Rogo (TO) e Tomaz Favilla (SP).

Criado em 2020, com o objetivo de dinamizar a carreira de artistas promissores, o programa Casa Tato chega à sua décima edição. “Ao longo de seis meses, os participantes fazem uma imersão de mais de 100 horas em encontros e trocas com diversos profissionais do sistema da arte do Brasil e do exterior”, explica Tato DiLascio, diretor da galeria e idealizador do projeto. Entre os curadores convidados participam: Agnaldo Farias, Alice Granada, Andrés Duprat, Daniela Bousso, Francela Carrera, Filipe Campello, Javier Villa, Lorraine Mendes, Lucas Benatti, Ludimilla Fonseca, Marcello Salles, Nancy Rojas, Paula Borghi e Rejane Cintrão.

Na exposição, os artistas participantes das edições 9 e 10 da Casa Tato se encontram no meio do caminho. O primeiro grupo conclui seu ciclo de acompanhamento, enquanto o segundo o inicia. “Com pesquisas bastante específicas e poéticas variadas, podemos dizer que, em seus trabalhos, os grupos partilham da vontade de esmiuçar o cotidiano e, com sorte, vislumbrar algum nexo na aventura de existir”, diz Katia Salvany. “Lidar com o transitório, encontrar o lugar do corpo na urbe, tentar refazer o elo rompido com a natureza ou compreender a memória são algumas das questões abordadas pelos artistas. As linguagens plásticas são tão variadas quanto os caminhos escolhidos para o mergulho em seus processos”, resume Sylvia Werneck.

 

Exposições de Paulo Pasta e Iberê Camargo 

05/mar

 

Paulo Pasta retornou à Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS. Em diálogo com sua exposição, Paulo Pasta fez a curadoria de obras de seu professor e amigo Iberê Camargo para “Eclipses”. São 19 obras, algumas de grandes dimensões, em que percebe cores crepusculares na produção do pintor. As duas aberturas ocorreram no dia 02 de março. O artista e Lorenzo Mammì, um dos nomes mais importantes da crítica cultural brasileira, conversaram sobre a sua produção.  

Após um hiato de dez anos, Paulo Pasta, um dos artistas mais respeitados e bem-sucedidos do país, retornou à Fundação Iberê Camargo – em exibição até 19 de maio – para celebrar 40 anos de trajetória. A exposição “Paulo Pasta Para que serve uma pintura conta com 40 trabalhos de formas distintas faixas horizontais e verticais, quadros, retângulos que desafiam o artista a enfrentar a superfície das telas. A pintura de Paulo Pasta é uma forma de construir um lugar, um ambiente que se transforma conforme as variações de cor e de luz.    

Por outro lado, suas combinações cromáticas, marcadas por baixos contrastes e passagens suaves entre um tom e outro, acabam por tensionar os limites dessas divisões. Paulo Pasta cria a sensação de que áreas do quadro parecem pulsar para fora da tela, como se quisessem se espalhar pelo mundo. Seu processo de construção, em algumas obras, inclui também a utilização da cera, que tira o brilho do óleo, dando “lentidão” para a cor. O trabalho de acrescentar e testar misturas dá origem aos tons impuros e únicos que caracterizam sua pintura.   

No catálogo da mostra, Lorenzo Mammì, doutor em Filosofia pela USP, onde é professor de História da Filosofia Medieval desde 2003, escreve: “Os retângulos não são apenas combinações de linhas e planos: parece que alguma vez, num passado semiesquecido, foram alguma coisa como portas, vigas, colunas, reais ou pintadas, sem que o pintor nos diga (o saiba) o que foram. O mesmo quanto às cores. Elas funcionam, em parte, como timbres musicais, determinando a estrutura do espaço. É um princípio da pintura tonal: cada instrumento de uma orquestra tem um som específico que faz com que pareça mais próximo ou distante. Instrumentos mais carregados de harmônicos (sons secundários que envolvem o som principal) parecem naturalmente mais longínquos: uma trompa será sempre mais distante que um trompete, um oboé de uma clarineta. Da mesma forma, um vermelho, no limite inferior do espectro cromático, será sempre mais encorpado que um azul, que pertence ao limite superior; portanto, o vermelho será mais profundo, o azul mais superficial. Mas o uso da cor nas pinturas de Pasta não leva em conta apenas essas relações físicas e sim, também, o caráter afetivo que toda cor carrega e que é dado tanto pelas experiências anteriores de cada um, quanto, no caso das pinturas, por ser o resultado de uma série de operações e decisões calculadas. Nos trabalhos de Pasta, estas não se revelam por rastros do movimento do pincel na superfície da tela, que costuma ser muito lisa, mas pelo esforço perceptível com que cada cor procura um ajuste com aquelas que estão ao redor. As cores de Pasta são geralmente muito elaboradas, fruto de uma combinação minuciosa de pigmentos. Se, uma vez distendidas na tela, elas parecem simples, é porque atribuímos boa parte de suas características à luz atmosférica, e não à matéria pictórica. Nesse sentido também, as obras de Pasta conservam algum ilusionismo.”   

 

Os Eclipses de Iberê pelo olhar de Pasta  

Em diálogo com sua exposição, Paulo Pasta fez a curadoria de obras de seu professor e amigo Iberê Camargo para “Eclipses”. São 19 obras, algumas de grandes dimensões, em que Pasta percebe cores crepusculares: “Iberê lançava mão da matéria, quase um barro original, de onde tudo poderia brotar. Suas cores também não estariam dissociadas dessa matéria, lugar do qual, no dizer de Ferreira Gullar, elas surgiriam “como gemas sujas da noite, arrancadas ao caos” (…) A melhor metáfora, para mim, sobre as cores de Iberê, é a do eclipse. Para além do aspecto noturno de seus trabalhos, a luz construída por ele parece não iluminar, não aquecer, mais ou menos como a sugestão de um sol que foi fechado.”   

Paulo Pasta conheceu Iberê Camargo no início da década de 1990, em um workshop com artistas consagrados, no Centro Cultural São Paulo. A partir daí, começaram a trocar cartas e telefonemas. Para Paulo Pasta, aquele encontro foi a confirmação de sua vocação, a prova da existência da pintura, e do pintor.  “Naquele momento (que conheceu Iberê), ele representou, para mim, a confirmação da vocação, a prova da existência da pintura, do pintor. No final da década de 1970, quando comecei a fazer faculdade, existia um predomínio da arte conceitual. Também nesse sentido, Iberê representava uma exceção: ele vivia a vida da própria pintura, perfazendo uma relação simbiótica entre arte e vida. Na contramão das tendências nacionais/populares, ele se evidenciava como uma espécie de outsider, construindo uma visão singular dentro da pintura brasileira. Seu realismo era uma escavação interior, o que fazia repercutir, em seu trabalho, um raro acento subjetivo e expressionista. Desde então, eu o vi como uma espécie de exilado, buscando arquitetar uma “pintura grande”, no Brasil, enfrentando o mal-estar de ser um pintor em um contexto carente de tradição (ou, pelo menos, a tradição que ele gostaria). Iberê buscava, assim, criar um lugar de origem, onde memória e autobiografia pudessem se unir para fundar essa espécie de pátria real: a de pintura. Concentrando-se na experiência da pintura e do pintor, e longe de quaisquer bairrismos, sua obra revelava, por meio do seu fazer obsessivo, a gênese do próprio indivíduo, uma verdadeira condensação do próprio tempo. (…) Também penso as cores de Iberê como sendo crepusculares. Elas nos remeteriam a uma escuridão primordial, mesmo porque, na sua prática, o pintor anoitecia as cores, criando uma espécie de blackout. Só assim, talvez, ele poderia terminar uma pintura e se reconhecer nela. Possivelmente, a melhor metáfora, para mim, sobre as cores de Iberê, seja a do eclipse. Para além do aspecto noturno de seus trabalhos, a luz construída por ele parece não iluminar, não aquecer, mais ou menos como a sugestão de um sol que foi fechado. A palavra eclipse vem do grego, que significa despedida, abandono. A experiência com as cores de Iberê, para mim, obedeceria a esse mesmo conteúdo poético. Nelas, no seu sentido de não cor, somos desertados da luz solar, apesar de toda a intensidade reinante”, escreveu Paulo Pasta.    

 

Sobre o artista 

 

Paulo Pasta nasceu em 1959, em Ariranha, São Paulo, e hoje vive e trabalha na cidade de São Paulo. Formou-se no curso de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), em 1983, tornando-se mestre e doutor pela mesma universidade. Em 1984, realiza sua primeira exposição individual na Galeria D. H. L., em São Paulo. Recebe a Bolsa Emile Eddé de Artes Plásticas do MAC/USP, em 1988. Impacta na formação de uma nova geração de pintores através de relevante atividade docente, lecionando pintura na Faculdade Santa Marcelina e desenho na Universidade Presbiteriana Mackenzie, na USP e na Fundação Armando Álvares Penteado FAAP. Atualmente, ministra um curso livre de pintura. Entre as exposições individuais realizadas, destacam-se: Pintura de bolso, Millan, São Paulo (2023); Recent Paintings, David Nolan Gallery, Nova York, EUA (2022); Paulo Pasta, Cecilia Brunson Projects, Londres, Reino Unido (2022); Correspondências, Millan, São Paulo (2021); Paulo Pasta: Luz, Museu de Arte Sacra de São Paulo (2021); Projeto e Destino, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2018); Lembranças do futuro, Millan, São Paulo (2018); Setembro, Palácio Pamphilj, Roma, Itália (2016); Correntes, Sesc Belenzinho, São Paulo (2014); A pintura é que é isto, Fundação Iberê, Porto Alegre (2013); Sobrevisíveis, Centro Cultural Maria Antonia, São Paulo (2011); Paulo Pasta, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2008) e Paulo Pasta, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2006). Entre suas participações em exposições coletivas estão: Abstração: a realidade mediada, Millan, São Paulo (2022); Os Muitos e o Um, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2016); Quase figura, quase forma, Galeria Estação, São Paulo (2014); 30x Bienal, Pavilhão da Bienal, São Paulo (2013); Europalia, International Art Festival, Bruxelas, Bélgica (2011); Matisse Hoje, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2009); Panorama dos Panoramas, Museu de Arte Moderna de São Paulo MAM-SP (2008); MAM [na] Oca, Oca, São Paulo (2006); 3ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2001); Brasil +500 Mostra do Redescobrimento, Pavilhão da Bienal, São Paulo (2000); Panorama das Artes Visuais, Museu de Arte Moderna de São Paulo recebe o Grande Prêmio (1997); Havana São Paulo, Junge Kunsthaus Lateinamerika, Haus der Kulturen Der Welt, Berlim, Alemanha (1995); XXII Bienal de São Paulo (1994) e III Bienal de Cuenca, Equador (1991). Suas obras integram importantes coleções, entre as quais: Museu Reina Sofía, Madri, Espanha; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo MAC/USP; Museu de Arte Moderna de São Paulo MAM-SP; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro MAM-Rio; Museu de Belas-Artes do Rio de Janeiro; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, SP;  Instituto Itaú Cultural, São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Kunsthalle, Berlim, Alemanha, e Kunstmuseum Schloss Derneburg, Hall Art Foundation, Holle, Alemanha.   

 

Sobre o crítico Lorenzo Mammì  

Lorenzo Mammi é formado em Matérias Literárias pela Universidade dos Estudos de Florença e doutor em Filosofia pela USP, onde é professor de História da Filosofia Medieval desde 2003. Como crítico de música e de arte, organizou e publicou ensaios em diversos livros, como Volpi (Cosac Naify, 1999), Carlito Carvalhosa (Cosac Naify, 2000) e Carlos Gomes (Publifolha, 2001). Parte expressiva deles foi reunida nos livros “O que resta: arte e crítica de arte” (Companhia das Letras, 2012), com foco em artes visuais e “A fugitiva” (Companhia das Letras, 2017), que reúne os ensaios musicais. De 1999 a 2005, foi diretor do Centro Universitário Maria Antonia (USP), em São Paulo. De 2015 a 2018, foi curador-chefe de Programação e Eventos do Instituto Moreira Salles.  

 

  

 

Paisagem de um Mundo Partido

04/mar

“Paisagem de um Mundo Partido”, é o título da exibição individual
que a artista plástica argentina Gloria Seddon, inaugura no dia 07 de
março, permancendo em cartaz até 19 de abril, no Edifício Argentina,
Sala Antonio Berni , no Consulado da República Argentina.
Naturalizada brasileira, a artista convidou Alexandre Murucci para
fazer a curadoria desta exposição que celebra seus 25 anos de carreira.
Nestes trabalhos recentes, assim como em outros anteriores, a artista
parte de conceitos intensos que resultaram nas séries: “Urbana”,
“Erótica”, “Psicanalítica” e “Ecológica”, sendo algumas delas
figurativas e outras, abstratas. Em “Paisagem de um mundo partido”,
a artista parte da verificação de uma “grieta” sócio política no mundo
contemporâneo para criar obras abstratas, mas não alheia ao mundo
concreto da realidade.

A palavra da artista
“Na série apresentada nesta individual trago um questionamento sobre
o “mundo partido”, algo que esteve sempre presente em mim. Foi o
que me incitou a criar obras que, mesmo abstratas, pudessem despertar
este sentido no espectador. Sempre procurei uma transcendência,
superar questões que na adolescência eram mais subjetivas e
existenciais; hoje, através da arte, são mais políticas e sociais,
inerentes à cidade”.

A palavra do curador
“Ao reabrir o embate pictórico de seu percurso para buscar um olhar
panorâmico de sua produção dos últimos 25 anos, Gloria Seddon
mergulhou numa viagem ao mesmo tempo genômica e emocional. Em
sua individual de ampla latitude, a artista revisita fases de sua
investigação a partir de um trabalho, que, longe de ser seminal em sua
trajetória, foi um ponto de reflexão no conjunto de sua obra. Dividida
em núcleos entrelaçados por similar vocabulário, Gloria discorre

influências acumuladas ao longo da vida, num mergulho em sua
arqueologia de formação, revelando mentores, admirações e
nostalgias, que a levaram inclusive, até o trabalho de seu pai, artista
por vocação poética da existência, a quem homenageia dando lugar de
honra a um dos seus trabalhos, assim como comentando no vídeo que
estará presente na exposição, as impactantes vivências familiares. Ao
focar uma produção intensa para esta exposição de ares monumentais,
Seddon se deparou com seu pluralismo como base de sua assinatura,
mas também com sua gênese, clara quando vemos a evolução de seu
pensamento plástico, o adensamento de sua pintura, a ampliação de
seu vocabulário e a experimentação em seus limites de abordagem –
ora mais psicológicos, ora narrativos”. Alexandre Murucci.

Sobre a artista
Artista visual, escritora e psicanalista, Gloria Seddon realizou o curso
de Especialização em História da Arte e da Arquitetura do Brasil
(2003-5), titulou-se Doutora em História Social da Cultura na PUC/RJ
(2008-13) e, desenvolveu-se tecnicamente na arte pictórica com
Rubem Gerchman e Maria Teresa Vieira (1975-80); e na EAV com
Fernando Cocchiarale, Anna Bella Geiger, Luís Ernesto, Afonso
Tostes e outros, (1990-2000). Entre as exposições realizadas
destacam-se as individuais: “Retrospectiva”, Atelier da Artista (1999);
“Do sonho à Arte”, Centro Cultural da Universidade Santa Úrsula,
(2000); “Erótica”, Sala Antonio Berni, no Consulado da Argentina,
(2002), e as coletivas com o Grupo Bikoo-Kai (1998-2009) na Sala
Antonio Berni e no Museu Nacional de Belas Artes (2002); “Uma vez
a Arte”, Sala Antonio Berni, com psicanalistas/artistas da Escola
Brasileira de Psicanálise – AMP “Os dejetos Du-Champ na Clínica
psicanalítica” (2011); na Galeria Zagut, curadoria de Augusto
Herkenhoff (2019-22); em O Lugar (2019-23); no “Festival
Internacional de Esculturas – RJ”, Centro Cultural dos Correios Rio,
curadoria de Paulo Branquinho (2019); Museu da República, “Criarte”
curadoria de Martha Niklaus (2019) e “Zum Zum”, curadoria de
Frederico Dalton (2019); no Espaço Cultural dos Correios/Niterói,
curadoria de Norma Mieko Okamura, “Biozius”, (2022); na Triplex,

curadoria de Raimundo Rodrigues (2023); “Paisagem do Mundo
Partido”, curadoria de Alexandre Murucci no Espaço Cultural dos
Correios/Niterói (2023-24). Fundadora do Fórum de Artes e Políticas e
do Bloco Vade Retro, participou de leilões e bienais de arte. Em 11 de
abril de 2023, foi agraciada com a Medalha de Criatividade na
Exhibition in the Dundas Street Gallery, Artcom Expo, em Edinburgh,
Escócia.

 

Expressão e extravasão de Maxim Malhado

29/fev

Estará aberta ao público a partir do dia 05 de março, na Paulo Darzé Galeria, Rua Chrysippo de Aguiar 8, Corredor da Vitória, Salvador, BH, com o título de “Até onde a vista alcança”, a exposição de pinturas e esculturas de Maxim Malhado.

Para o crítico e curador Ricardo Resende, “…a arte para Maxim é sua maneira de desver o mundo, como também era para o poeta, artista mesmo, Manoel de Barros. Era também uma maneira de subverter a vida enfadonha daquele interior de Sítio Novo, cidade onde cresceu na Bahia. Sonhar, desenhar, pintar e esculpir são a sua forma de expressão e extravasão máxima dos sentimentos. Os que despertavam sua curiosidade pelo mundo e os que o afligiam. Um mundo que é só imagem, e até mesmo imagem de uma imagem, nada de nada. Os homens, por sua vez, não passam de imagens, sonhos…”, e concluindo na apresentação no catálogo da exposição que a sua obra “…é a de um menino que via coisas e imaginava mais coisas ainda depois das coisas que via, um claro desejo de sustentar espaços”. A mostra, cumprirá temporada até 05 de abril.

George Love além do tempo

28/fev

O Museu de Arte Moderna de São Paulo (sala Milú Villela), Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3, apresenta de 02 de março a 12 de maio a exposição “George Love: além do tempo”. George Love nasceu em Charlotte, Carolina do Norte, Estados Unidos da América, 1937 e faleceu no Brasil em 1995.

A palavra do curador

No despertar da cultura fotográfica brasileira na segunda metade do século XX, um nome figura entre as maiores referências: George Love. Artista carismático, ele sempre foi cercado por uma aura de mistério, que beirava a lenda, de tão conhecido quanto enigmático que era, pelo tanto que ele foi exposto e como ficou escondido. Atuando em uma era de efervescência intelectual, de questionamento comportamental e de transição de costumes, George exibia um intenso brilho em suas realizações, na interação profissional e no convívio particular. A luz que trazia ao ambiente extravasava paredes e repercutia na atmosfera e nas pessoas, que vislumbravam as infinitas possibilidades de um marcante meio de expressão. Suas ações no meio cultural, editorial e corporativo expandiam os horizontes da fotografia, abrindo caminhos adiante do seu tempo. Conscientemente ou não, gerações de fotógrafos brasileiros seguem sua inspiração e seu modelo, que se realça entre as raízes de nossa contemporaneidade. Chamá-lo de gênio também não é hipérbole. George Leary Love nasceu em 24 de maio de 1937, em Charlotte, Carolina do Norte, Estados Unidos. Negro, filho único em uma família simples e culta, concluiu seus primeiros estudos superiores antes dos 20 anos. Adotou a câmera fotográfica também cedo, vislumbrando a possibilidade profissional no segmento de fotografia de viagem, representado por arquivos de imagens, um mercado importante na época, com o qual se manteria ligado por toda sua vida profissional. Fixando-se em Nova York para mais estudos, logo passou a se dedicar à fotografia como criação autoral, tendo suas primeiras mostras em galerias de Manhattan, dando cursos e palestras. Assim, foi aceito como um dos mais jovens participantes da Association of Heliographers, um grupo restrito de expoentes da fotografia americana que promovia a arte, propunha sua expansão e inovava no uso de impressões coloridas no meio expositivo. George Love se identificava com a proposta, de forma que o ideário dessa associação é chave importante para compreender a obra que desenvolveu por toda a sua vida. Em pouco tempo, o jovem fotógrafo se tornou vice-presidente e coordenador da galeria da associação. Foram dois anos intensos, entre 1963 e o fim de 1965, até o encerramento da entidade, por carência de recursos. A perspectiva de um novo rumo lhe foi oferecida por uma rara heliógrafa estrangeira, que o estimulou a se aventurar pelo continente sul-americano. Em janeiro de 1966, George juntava-se a Claudia Andujar em Belém para uma inusitada expedição no interior da Amazônia, verdadeira epopeia até a terra dos Xicrin. Voltaram para Belém, subiram pelo rio até Iquitos, depois Lima e Bolívia, e entraram de volta no Brasil pelo famoso “trem da morte”. Fixaram-se em São Paulo, no apartamento da Avenida Paulista, casaram-se…e, então, o resto é história.

Zé De Boni – curador

A obra de Eliane Duarte na Central Galeria

Em 2023, a Central Galeria, Vila Buarque, São Paulo, SP, em colaboração com a família da artista Eliane Duarte, iniciou uma pesquisa para resgatar sua obra. Duarte nasceu em 1943 no Rio de Janeiro e teve uma produção artística breve, mas intensa, até seu falecimento prematuro em 2006. Agora, de 09 de março até 11 de maio, Eliane Duarte terá a exposição individual “Reza” na Central Galeria, acompanhada por um texto crítico de Catarina Duncan. A mostra não apenas destaca a relevância ainda hoje do trabalho de Eliane Duarte, mas também enfatiza a importância de sua obra ser compartilhada com novas gerações.

Ao conhecer sua prática, acessamos fundamentos da Natureza, formas orgânicas, flores, cachos e vestes que se materializam em suas obras através de um processo de costura visceral. A costura é uma prática ancestral mas frequentemente associada ao universo feminino domesticado. Entretanto, a voracidade com que Eliane Duarte trabalhou com essas técnicas aproximam o fazer artesanal ao cirúrgico. Suas metodologias explicitam também a urgência de se comunicar de outra forma, tridimensional mas não escultórica,  com costura em pele e não só em tecido, sempre driblando das conformidades práticas do mercado de arte. Sua obra é um legado à prática artística de mulheres no Brasil, que seguem sem o devido reconhecimento na memória coletiva de sua geração, evidenciando os processos patriarcais das decisões históricas sobre quem é reconhecido. Acessamos um conjunto de trabalhos que nunca foram apresentados juntos e assim resgatamos e honramos a memória não só dessa grande artista mas de todas as mulheres, artistas que seguem sem o devido reconhecimento.

Sobre a artista

Eliane Duarte nasceu em 1943 no Rio de Janeiro. Suas obras expandem os limites da tela como suporte e ganham corpo como objetos-amuletos-rezos. Feitos com tecidos, algodão, pigmentos naturais, cera, sementes, corda, penas, moedas e outros elementos que, habitam uma mística, ganhando corpo como entidades e forças únicas. Conforme relato da artista: “Meu trabalho é quase uma reza, no sentido de fazê-los de forma lenta e por uni-los uns aos outros, costurando-os como se fossem patuás. Queria uma coisa que desse sorte às pessoas e tudo que eu coloco tem a função de amuletos”. Eliane Duarte estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, de 1987 a 1989. Começou a se destacar no cenário artístico ao ganhar o 1º Prêmio do Salão Nacional de Artes Plásticas da Funarte em 1994, com a obra “Veste”. Desde então, o sentido de maceração associado à ideia de gerar pele tornou-se um tema proeminente em sua poética. Além de inúmeras individuais nas galerias Anna Maria Niemeyer, no Rio, e Camargo Vilaça, em São Paulo, expôs no MAC Niterói; MAM Rio de Janeiro; Paço Imperial; Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro; Itaú Cultural de São Paulo. No exterior participou de coletivas no Museu Solomon R. Guggenheim, Nova Iorque; Centro Cultural de Arte Contemporâneo, Cidade do México; Museo Alejandro Ottero, Caracas; Centro Cultural Culturgest, Lisboa; Museo del Barrio, Nova Iorque; Museo de Arte Latino-Americana, Buenos Aires; Coconut Grove Center, Miami; BildMuseet, Umea, Suécia; Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris. Suas obras integram as mais importantes coleções brasileiras, como a de João Sattamini/MAC-Niterói; Gilberto Chateaubriand/MAMRio de Janeiro; Coleção do MAC São Paulo; e internacionais como a Coleção Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris, Bernard Soguel, Basel; Cisneros e Museo Alejandro Otero, Caracas.

Curadoria de Theo Monteiro com doze artistas

27/fev

A Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ,  apresentaá, no dia 29 de fevereiro, das 18h às 21h, a exposição “Essa cidade ‘sempre’ maravilhosa”, com trabalhos de doze artistas selecionados pelo curador Theo Monteiro. As obras discutem questões ligadas à cidade do Rio de Janeiro, como a paisagem, lazer, violência, sexualidade, o sagrado, em toda a complexidade que envolve esta metrópole que “desempenha papel decisivo na formação cultural e política do país”. O título da exposição é retirado da apresentação que o grande compositor Ismael Silva (1905-1978) fez antes de cantar seu clássico “Antonico”, no disco “Se você jurar”, de 1973.

Os artistas participantes da exposição são: Alberto Baraya (1968, Bogotá), Ana Hortides (1989, Rio de Janeiro), André Griffo (1979, Barra Mansa; vive no Rio de Janeiro), Arthur Chaves (1986, Rio de Janeiro), Celo Moreira (1986, Rio de Janeiro), Elian Almeida (1994, Rio de Janeiro), Jaime Lauriano (1985, São Paulo), Marcos Chaves (1961, Rio de Janeiro), Priscila Rooxo (2001, Rio de Janeiro), Raul Mourão (1967, Rio de Janeiro), Vik Muniz (1961, São Paulo; vive e trabalha no Rio de Janeiro e em Nova York), Yohana Oizumi (1989, Rubiataba, Goiás; vive e trabalha em São Paulo).

A palavra do curador

No térreo da Nara Roesler Rio de Janeiro, estão os trabalhos que “dialogam diretamente com questões de natureza mais cotidiana….Se fazer presente em uma cidade espremida entre mares, morros e mares de morros requer capacidade humana, técnica, trabalho e estratégia. Paisagens idílicas convivem ao lado de elementos como violência, sexualidade, arquitetura, lazer, propaganda, cultura de massa, histórias e memórias…Falamos de uma urbe que conjuga uma natureza de aparência intocada com a agitação característica de uma metrópole latino-americana. E existe todo um universo no meio e por causa disso. No piso superior, “…afloram os temas ligados ao espírito, aqueles que só a lógica, a sociologia e o intelecto não dão conta de explicar….Em uma cidade onde a vida se faz veemente, só o cotidiano não dá conta. E aí entram o metafísico, o onírico, o sagrado e o celestial…A religião, por exemplo, e seus desdobramentos, afinal, falamos de uma metrópole em que a fé é um destacado agente social e político, mas não somente. Também o futebol (o que é o Maracanã senão um grande templo devotado ao nobre esporte bretão?), o carnaval e a ficção dão as caras por aqui, mostrando uma cidade cujo imaginário se enraiza não só geograficamente, mas também nas almas”.

Em cartaz até 06 de abril.

Conversa com artista e curador no Paço Imperial

 

No dia 02 de março, às 16h, será realizada uma conversa gratuita e aberta ao público com a artista Ana Holck e o curador Felipe Scovino na exposição “Entroncados, Enroscados e Estirados”, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Na ocasião, também será lançado o catálogo da mostra em formato e-book, com 37 páginas, texto do curador, fotos da exposição montada e das obras, com design do Estúdio Afluente. O catálogo terá visualização gratuita no novo site da artista: www.anaholck.com, que também será lançado no sábado.

Em cartaz até o dia 24 de março, a exposição apresenta obras inéditas de Ana Holck, que marcam uma nova fase na sua reconhecida e destacada trajetória de 22 anos nas artes. São apresentados oito trabalhos, pertencentes às três séries que dão nome à mostra. As obras, que foram produzidas este ano, em porcelana e aço inox – materiais até então nunca utilizados pela artista -, transitam entre a ideia de pintura e escultura.

Visualidade afro-brasileira de Luiz Moreira

26/fev

A exposição “A luz da beleza”, de Luiz Moreira, com curadoria de Marcus de Lontra Costa, experiente curador e crítico de arte, que já esteve à frente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, estará em cartaz até 07 de abril, na Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo, SP. A mostra reúne 31 imagens em grande formato, vídeos da série visual do artista “Ayê e Orum” e “Oxum às margens do Rio da Barra”, além de adornos e objetos em colaboração com os artistas Diego Silf, Felipe Maltone e Victor Hugo Mattos. Em 2022, o projeto “A Luz da Beleza” passou pela Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro, atingindo recorde de público na instituição. Agora, na icônica biblioteca da capital paulista, a mostra traz imagens inéditas e uma nova expografia.

A palavra do curador

Nos tempos atuais, quando vemos parte significativa da população brasileira ocupando os espaços de ação que sempre lhe foram negados, jovens pretos ainda são assassinados e episódios de racismo se repetem. Existe, assim, um clamor por igualdade e inclusão, também presente no campo da afirmação estética, na valorização do universo da visualidade afro-brasileira…os trabalhos de Luiz Moreira se apropriam da extrema riqueza visual e dos ritos religiosos vindos da África, dando-lhes um sentido transformador, em diálogo com técnicas e materiais tecnológicos contemporâneos. É o “afrofuturismo” vindo à tona em cores chamativas e cheias de contrastes. As imagens vibram diante do nosso olhar e as personagens fotografadas caminham entre nós como num desfile de carnaval, combinando sedução e encantamento.

Sobre o artista

Dividindo-se entre Miami e o centro de São Paulo, Luiz Moreira nasceu na periferia da capital, no Jardim Ângela, onde morou até os 18 anos. Sua relação com a imagem é inspirada em sua própria experiência como morador de um bairro periférico. Começou a fotografar em projetos acadêmicos no curso de comunicação social e então passou a se dedicar à fotografia de rua em São Paulo e Nova York, explorando o cotidiano desses grandes centros. O trabalho estético e documental do fotógrafo combina uma afinidade com a cultura contemporânea com um interesse pelas perspectivas diaspóricas e o culto às orixalidades das religiões de matriz africana. Suas séries documentais como “Porta do Mar” e “Santo Negro” apareceram em importantes festivais e feiras nacionais e internacionais, como a Art Basel (edição de 2019, em Miami), o Festival AfroPunk (as edições que aconteceram em Johanesburgo, Atlanta e Salvador) e o Troy House Art Foundation London, em 2023.

50 Anos da Galeria Raquel Arnaud

22/fev

Para comemorar seus 50 anos, a Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta a mostra “Galeria Raquel Arnaud – 50 anos”, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti. A exposição mostra como a marchand apostou em expoentes dos movimentos concreto, cinético, abstrato e geométrico, sem deixar de abrir suas portas para artistas de outras vertentes. A marchand iniciou seus trabalho em 1973 com o nome de Gabinete de Arte e promoveu, dentre outros, a obra de artistas como Regina Silveira, Lygia Pape e Vik Muniz.

50 Anos da Galeria Raquel Arnaud.

A história da Galeria Raquel Arnaud é uma jornada pelo mundo da arte contemporânea brasileira e internacional. “Raquel Arnaud na avenida Nove de Julho. Adorei o espaço e fui procurar a Lina Bo Bardi para ver se ela podia me ajudar. Eu tinha pouquíssimo dinheiro. Ela topou de cara. E encontrou soluções incríveis: aquelas ripinhas de madeira entre os tijolos de cimento para podermos bater os pregos, o chão de cimento, e para dar um jeito na iluminação fria, com lâmpadas fluorescentes, ela sugeriu uns panos que colocamos no teto para torná-la mais suave. Depois ela incluiu uma parede que separava o espaço expositivo da reserva técnica e do escritório. Simples e muito bom. A dona Lina era um amor de pessoa, tinha um talento incrível para tirar proveito do espaço. Além disso, era uma mulher que se envolveu profundamente com tudo que fazia. Eu me lembro do sofrimento dela quando decidiram remover as maravilhosas cadeiras de madeira que ela tinha desenhado para o auditório do MASP. Substituindo-as por poltronas comuns. Uma vez ela me chamou para ver o prédio do SESC Pompéia, com janelas recortadas que parecem esculturas do Arp. Naquele momento ficou muito claro para mim que intensidade, além da questão arquitetônica, “as formas” a ocupavam.”

Trecho retirado no livro “Raquel Arnaud  e o olhar contemporâneo” por Rodrigo Naves. 2005

Imagem: Gabinete de Arte Raquel Arnaud na Avenida nove de Julho, SP., 1980 (espaço adaptado pela arquitetura Lina Bo Bardi). (pg 29).