Explorando o volume e o ar.

11/mar

Iole de Freitas inaugura a exposição “Fazer o ar”, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com sua mais recente e inédita produção. Com mais de 50 anos de trajetória, Iole de Freitas continua produzindo e experimentando novos materiais. A partir do dia 15 de março, ela apresenta sua mais nova pesquisa com curadoria do poeta Eucanaã Ferraz.

A mostra terá cerca de 16 trabalhos inéditos, que exploram o volume e o ar. Obras em grandes dimensões chamadas “Mantos”, feitas com papel glassine, com tamanhos que chegam a quase 4 metros, esculturas da série inédita “Algas”, em aço inox, e a obra “Escada”, feita há dois anos, mas que ganhará uma montagem inédita na exposição. Em 2023, o Paço Imperial apresentou uma mostra com trabalhos históricos de Iole de Freitas, feitos na década de 1970; agora, esta exposição, totalmente inédita, apresenta a produção de uma das mais importantes artistas plásticas brasileiras.

Grandes volumes brancos da série “Mantos”, ocuparão as paredes e o chão das salas da exposição. Originalmente, o papel glassine é usado como embalagem para obras de arte, conservando e acondicionando-as. “É um papel que foi pensado para proteger uma obra, aqui ele não existe como um envoltório, mas como algo que, trabalhado, guarda em si a expressão de uma linguagem. Gosto de deslocar a funcionalidade das coisas, subvertendo-as: tomo a capa da coisa e faço dela substância da forma”, afirma a artista.

A pesquisa para estes trabalhos começou há cerca de quatro anos. Para realizá-los, o papel é preenchido com ar, inflando-o e criando grandes superfícies, que então recebem água, areia e cola, que vão moldando, esculpindo e estruturando o papel até formarem os Mantos. Alguns ainda ganham novos elementos, como cobre, palha e pedras gipsitas. “Iole testa em cada obra as verdades físicas de seu corpo e do material que utiliza. Basta ver para inferirmos o quanto as formas nasceram da peleja, da disputa entre o gesto e o papel. É flagrante a atuação de uma inteligência física. O papel era liso, neutro, sem corpo nem memória, sem ar, inerte, ausente. Iole soprou nele. Deu a ele o sopro da vida. O papel, agora, está vivo. Veja: ele respira”, afirma o curador Eucanaã Ferraz.

Durante o período da exposição, o grupo Laboratório 60 – formado por Bea Aragão, Bento Dias, Cecília Carvalhosa, Gil Duarte e Ísis Lua – fará uma apresentação de dança no espaço expositivo, interagindo com as obras da artista. A exposição terá um catálogo a ser lançado ao longo do período da mostra.

Sobre a artista.

Iole de Freitas (Belo Horizonte, 1945. Vive e trabalha no Rio de Janeiro) iniciou sua formação em dança contemporânea no Rio de Janeiro, para onde se mudou aos seis anos de idade. Estudou na Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e, em 1970, mudou-se para Milão (Itália), onde trabalhou como designer no Corporate Image Studio da Olivetti, sob a orientação do arquiteto Hans von Klie. Neste mesmo período, iniciou sua produção artística e sua participação em exposições. Ao longo de mais de cinco décadas de carreira, participou de importantes mostras internacionais, como Bienal dos Jovens de Paris (França, 1975), Bienal de São Paulo (1981, 1998), 5ª Bienal do Mercosul (2005) e a Documenta 12, de Kassel (Alemanha, 2007), além de individuais e coletivas em várias cidades do mundo, contando em 2023 as exposições no IMS (Instituto Moreira Salles) e no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Seus trabalhos integram importantes coleções, como a do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo; Museus de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro; Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro; Museu de Arte do Rio; Bronx Museum (EUA); Museu de Arte Contemporânea de Houston (EUA); Museu Winnipeg Art Gallery (Canadá) e Daros Foundation (Suíça).

Em cartaz até 11 de maio.

Encontros entre arte e design.

“Afinidades ancestrais” é uma ativação-exposição que interroga e celebra o vocabulário herdado de nossa situação afro-atlântica.

Na Semana de Design de São Paulo, a ProArte Galeria, Jardim América, São Paulo, SP, recebe o lançamento da coleção de vasos de cerâmica chinesa Serengeti, inspirada na riqueza cultural e paisagística da África Oriental. A idealização é de Marcelo Felmanas que, junto a J. Wair de Paula Jr., tenta produzir um diálogo entre os objetos de design e a arte brasileira – notoriamente donatária da cultura afro-brasileira.

Serengeti, que significa “lugar infinito” ou “planície sem fim”, remete à majestosa região que abriga o Parque Nacional de Serengeti, santuário natural de beleza inigualável. Assim como a paisagem da região africana, os vasos da coleção evocam uma estética orgânica e atemporal, refletindo a grandiosidade da fauna, o brilho das estrelas no céu do continente e as tradicionais cercas das aldeias Maasai. Referência na importação de móveis e objetos de design, a 6F Decorações coloca em destaque nesta mostra peças feitas à mão que dialogam com as expressões artísticas brasileiras ligadas às matrizes africanas. A pequena ativação-exposição, feita para a Semana de Design, acontece até 14 de março.

Esta pequena mostra procura traçar um paralelo entre as culturas dos povos africanos e a arte brasileira, explicitada através de nomes como Di Cavalcanti, Heitor dos Prazeres, Emanoel Araújo, Franz Krajcberg e outros. Busca-se demonstrar visualmente as possíveis ligações (assumidas ou não) entre estes grandes criadores e as culturas africanas.

Catálogo para a poética de Tunga.

10/mar

O Instituto Ling, Bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS, realizou o lançamento do catálogo da exposição “A poética de Tunga – uma introdução”, marcando também o encerramento e visitação da mostra.

O evento contou com uma conversa aberta ao público entre o curador Paulo Sergio Duarte e o convidado Munir Klamt, artista, curador, professor e grande entusiasta da obra de Tunga. O catálogo foi distribuído gratuitamente entre os participantes.

A mostra apresentou uma seleção de mais de 60 obras, entre bidimensionais e esculturas de diferentes fases, grande parte delas inéditas, expondo temas e conceitos que atravessam toda a poética do artista. Esta foi a primeira exposição individual de Tunga em Porto Alegre, considerado uma das figuras mais emblemáticas da cena artística nacional.

 

Artista russa no Parque Glória Maria.

Parte do projeto “Waiting Zone.Limbo” – que começou a ser desenvolvido em 2022 e passou por museus e galerias de Moscou, integrou a 60ª Bienal de Veneza e foi exibido na África (Senegal) -, a exposição da artista russa Katerina Kovaleva, “in Limbo”, ocupará o Parque Glória Maria (antigo Parque das Ruínas) em Santa Teresa, Rio de Janeiro, RJ, a partir do dia 13 de março e duração até 31 de maio.

Katerina Kovaleva idealizou instalações de grandes proporções dedicadas ao tema “espera”, com novos significados adaptados à antiga mansão da mecenas da Belle Époque carioca Laurinda Santos Lobo, que costumava reunir intelectuais e artistas. A artista dedicou alguns trabalhos recentes à individual: uma instalação confeccionada com tecido de paraquedas se inspirou na tradicional vestimenta das baianas, bem como a pintura em homenagem ao padroeiro da cidade, São Sebastião. Outras obras estabelecem a conexão entre a Europa e o Brasil, dialogando com a história do próprio casarão de Laurinda Santos Lobo, que tanto contribuiu para estabelecer esses vínculos.

Também foram trazidos para a mostra trabalhos já apresentados no exterior, como outra obra feita com tecido de paraquedas medindo nove metros, inspirada no afresco de Giovanni Battista Tiepolo (onde os quatro continentes se unem), bem como parte da instalação “The Abduction of Europe”, um vestido de noiva com seis metros de comprimento.

“A história desta casa é como uma parábola: do esplendor e luxo, passando pelo declínio, pilhagem e desolação, até uma nova vida de um espaço cultural pós-civilização que continua a atrair pessoas. Apenas as paredes da casa de Laurinda, a “princesa dos mil vestidos”, permanceram, mas guardam a memória dos eventos que aconteceram aqui. Essas testemunhas silenciosas dão a oportunidade de tocar o tempo e o espaço, com a energia especial do lugar”, afirma Katerina Kovaleva.

“Vivemos um momento em que muitas pessoas são forçadas a deixar suas casas, lugares nativos, pisando no desconhecido; a imagem de uma construção em ruínas aguardando seu destino parece especialmente relevante para mim. O Limbo, o primeiro círculo do Inferno de Dante, não é um lugar de felicidade eterna, mas também não é um lugar de tormento eterno. O paraquedas neste projeto simboliza a imagem da esperança, a imagem de um céu “portátil” que balança ao sabor do vento”, conclui.

Sobre a artista.

Nascida em Moscou, Katerina Kovaleva é uma reconhecida artista multidisciplinar. Graduada na Moscow Printing Academy em 1989, já participou de mais de 80 exposições coletivas e individuais desde 1986. Trabalhou na área de design gráfico e de interiores, concluiu uma série de trabalhos em mosaico em Moscou, Nova York e Groningen, tendo criado um grande número de objetos escultóricos. Em 2017, fez parte do “Antarctic Biennale Project”; seus trabalhos gráficos “The Antarctic Diary” foram exibidos na 57ª Bienal de Veneza. Em 2018, uma grande retrospectiva chamada “Routes of Memory” foi realizada no “Moscow Museum of Modern Art”. Autora de projetos de arte e pesquisa dedicados especificamente à conexão entre história e personalidades, que foram exibidos com sucesso em museus de São Petersburgo e Moscou entre 2021 e 2023. Também participou na 60ª Bienal de Veneza em um programa paralelo, Personal structures by EEC in Palazzo Bembo. Katerina Kovaleva participa regularmente de feiras de arte e suas obras integram coleções públicas e privadas na Rússia e no exterior.

Exposição Casa Própria.

Mostra celebra 10 anos de trajetória de Ana Hortides com obras inéditas que investigam arquitetura e identidade popular.

O Paço Imperial apresenta de 15 de março a 11 de maio a exposição Casa Própria que marca a primeira individual da artista Ana Hortides, no Rio de Janeiro,  sua cidade natal. Com curadoria de Lucas Albuquerque, a mostra faz um panorama de sua produção ao longo de dez anos, incluindo obras inéditas que investigam a casa, explorando sua materialidade. Cimento e azulejos se fundem na sua pesquisa, que parte da arquitetura do subúrbio carioca para expandir sua visão sobre o habitar no Brasil. A produção é da Atelier Produtora.

Nascida e criada em Vila Valqueire, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Ana Hortides constrói sua poética artística a partir de elementos visuais característicos dos subúrbios e periferias. Em sua pesquisa, materiais comuns à construção civil popular – como cimento queimado e ladrilhos – são transformados em estruturas que tensionam a familiaridade e o estranhamento. Escadas, lajes e fachadas, referências ao saber técnico de pedreiros e trabalhadores informais, surgem em dimensões variadas, descolando-se de suas funções originais e desafiando convenções espaciais e as fronteiras entre arte, política e identidade social.

“Apresentada de maneira ampla pela primeira vez na cidade do Rio, a produção da artista propõe ao visitante o indomado silêncio do doméstico. Protuberâncias feitas em cimento e ladrilhos multiplicam-se ao longo da exposição, como um tumor que cresce desordenadamente. A cera vermelha, comum ao chão das casas de subúrbio, ergue-se feito cortina, abandonando sua dureza para tornar-se maleável. Mesmo fachadas distantes, como os raio-que-o-parta paraenses, aparecem como primos não convidados, expandindo o espaço expositivo. A casa própria, que para alguns é um objetivo de vida inegociável, aqui revela uma faceta mais inquietante“, declara Lucas Albuquerque, curador da mostra.

Além da exposição, Casa Própria oferece um seminário com a artista, o curador e pesquisadores. O evento abordará temas como arquitetura popular, arte periférica e protagonismo feminino na produção artística, e ocorrerá durante o lançamento do catálogo impresso e digital (e-book), ambos distribuídos gratuitamente. A mostra também conta com audiodescrição das obras e intérpretes de Libras na visita guiada e seminário, garantindo acessibilidade às pessoas com deficiência.

Ars, Artis. Techne, Digitalis.

O marchand Sergio Gonçalves abre exposição coletiva que aborda mídias digitais nos trabalhos de artistas brasileiros e estrangeiros. Vem do latim o nome da mostra que será apresentada a partir do dia 11 de março na Sergio Gonçalves Galeria, em uma casa na Alameda Gabriel Monteiro, Jardim América, São Paulo, SP.

“Ars, Artis. Techne, Digitalis.” segue o tema da edição deste ano da DW – Design Week de São Paulo,  “Mãos x Máquina”, destacando a interação entre tecnologia e criatividade na produção artística e no design contemporâneo. Nessa exposição, o marchand Sergio Gonçalves reúne artistas cujas obras provocam a reflexão sobre o impacto das mídias digitais nos tempos atuais. Em sua primeira participação na DW, a galeria reforça sua posição como um espaço de experimento na Arte Contemporânea, abrindo as portas para novas narrativas visuais, sempre em busca de inovação. Nesta curadoria, ele selecionou artistas que experimentaram e que ainda experimentam novas maneiras de expressão, unindo arte e tecnologia e criando um diálogo entre o toque humano e a precisão das máquinas. Nomes como Abraham Palatnik, Cruz-Diez e Martha Boto, por exemplo, que foram pioneiros com o uso de inovações, fazem parte desta seleção apurada, que conta ainda com Bruce Maclean, Julian Opie, Michael Craig-Martin, Vik Muniz e Toyota.

A palavrado curador.

Nosso objetivo é mostrar que, longe de substituir o artista, a tecnologia poder ser uma extensão da criativadade humana, ampliando possibilidades e transformando a maneira como percebemos a Arte e o Design, por exemplo.

Artistas participantes.

Abraham Palatnik, Alexandre Mazza, Bernard Pras, Bernardo Mora, Bruce Mclean, Catherine Yass, Cruz-Diez, Duda Rosa, Iván Navarro, Jê Américo, Julian Opie, Julio Le Parc, Martha Boto, Marcelo Magnani, Michael Craig-Martin, Sarah Morris, Vik Muniz, Yutaka Toyota.

Até 22 de março.

Um convite ao silêncio.

27/fev

A exposição de pinturas de Felipe Suzuki “E se a Lua for embora, o céu entenderá” encontra-se em seus últimos dias de exibição da Simões de Assis, Jardim Paulista, São Paulo, SP.

E se a Lua for embora, o céu entenderá

Conduzindo o olhar por um grupo de trabalhos que flertam com o gênero da paisagem e da natureza-morta, Felipe Suzuki impõe um estado de suspensão temporal onde memória e atualidade se dissolvem. Paira sobre a pele aveludada dos pêssegos, das pétalas de suas flores e do campo aberto de terrenos a esmo uma fina camada leitosa que dilata a apreensão da cena enquanto convida o olho a passear pelas rachaduras e caminhos da tinta. Se outrora a semelhante técnica do sfumato fora utilizada por mestres renascentistas para criar o artifício de uma “perspectiva aérea”, replicando as qualidades físicas da paisagem que se perde no horizonte, o uso adensado proposto por Suzuki inverte o sentido do realismo ótico para propor, em seu lugar, cenas movediças, onde a instabilidade da representação do objeto no meio pictórico mais se assemelha a sonho ou miragem. Produzidas mediante os usos de uma paleta de cores reduzida, em que o preto de marfim, o branco de titânio, o amarelo ocre e o vermelho sienna queimado são misturados e revirados ao avesso para a investigação de seus semitons e combinações, o artista produz um sistema que deriva de uma estrutura inicial. No cosmos que rege a sua produção, cria uma ordem de mônada, conceito-chave sugerido pelo matemático e filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz.

A sinestesia do silêncio

Suzuki explora a pintura a partir do instante e das múltiplas relações que ela estabelece com o espectador, criando profundidade e intensidade a partir do gênero da natureza-morta. A delicadeza se revela na sofisticação cromática e na representação dos objetos, enquanto a brutalidade surge na resolução prática de molduras feitas de pregos, unindo elementos antagônicos. Essa fusão captura as sutilezas do cotidiano, cristalizando-as em uma linguagem pictórica que transforma cenas comuns em representações carregadas de sensibilidade e nuances. Mesmo que, por vezes, figurativas, suas pinturas flertam com o abstrato devido ao jogo de cores que emplaca. A diversidade cromática que enxergamos em cada tela é, na verdade, resultado de um domínio técnico, permitindo que o artista manipule nossa retina ao fazer misturas com somente quatro tons. É nessa busca em expressar profundidade e contemplação que o artista pratica um resgate técnico clássico, em que a cor é uma sugestão e a singularidade é caracterizada por uma abordagem introspectiva e minimalista. Sua pintura é um convite ao silêncio, ao tempo pausado, onde cada elemento parece ser colocado com uma precisão pensada, dando ao espectador a chance de se perder nas sutilezas de suas composições. Ao mesmo tempo, carregam uma intensidade que emerge da simplicidade, convidando o público a contemplar o impacto do momento e da percepção, características tão presentes em sua produção.

Lucas Albuquerque e Luana Rosiello

Croquis carnavalescos.

26/fev

 

A Fundação Iberê Camargo, Bairro Cristal, Porto Alegre, RS, terá entrada gratuita neste final de semana de carnaval. O público poderá visitar as exposições que ocupam os quatro andares: Iberê 110 Anos – Minha Restinga Sêca, Iberê Camargo – Território das Águas e 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível – Itinerância Porto Alegre.

No domingo (02 de março), o Programa Educativo ministrará a oficina Croquis Carnavalescos, em diálogo com os desenhos criados por Iberê Camargo para peças de teatro e balé, entre eles a série de estudos de figurinos para o balé “As Icamiabas”, criada em 1959.

Oficina Croquis Carnavalescos

Quando: 02 de março | Domingo | 15h às 17h.

Número de participantes: 15 pessoas.

Faixa etária: a partir de 07 anos.

Lugares na pintura de Emeric Marcier.

A Galeria Evandro Carneiro Arte apresenta a exposição Lugares na pintura de Emeric Marcier que estará aberta ao público de 11 a 29 de março no Shopping Gávea Trade Center, salas 108 e 109.

Esta exibição traz 22 obras distribuídas em pinturas a óleo e aquarelas de Emeric Marcier que é considerado um dos mais importantes pintores modernos no Brasil. Artista romeno naturalizado brasileiro, esteve radicado no Brasil por quase meio século; dedicou grande parte de sua vida e obra à produção de pinturas de arte sacra, retratos, paisagens mineiras e aquarelas de paisagens europeias. A curadoria da exposição é de Evandro Carneiro.

Sobre o artista.

Emeric Marcier (Cluj 1916 – Paris 1990), um dos mais importantes pintores modernos do Brasil, nasceu em 21 de novembro de 1916, na Romênia. Judeu de origem, converteu-se ao catolicismo já no Brasil, por influência de seus amigos, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Lucio Cardoso, que foi seu padrinho de batismo. De personalidade intensa, na primeira página de sua autobiografia, Deportado para a Vida (escrita entre 1988-1990 e publicada em 2004 pela Francisco Alves) se declara humanista e algo anarquista. Sua história confirma que a liberdade e a vocação artística sempre o guiaram. Aos 20 anos deixou Bucareste para estudar em Milão – na Academia de Belas Artes de Brera, onde após realizar a graduação, defendeu sua tese de final de curso sobre Picasso, em plena ascensão fascista. Com a deterioração das condições políticas na Itália, foi para a França, em 1939, onde montou um ateliê na Cité Falguière e cursou uma cadeira na Escola Nacional Superior de Belas Artes de Paris. Nesta cidade, conheceu e conviveu com muitos artistas, alguns dos quais continuaram amigos pela vida inteira, tais como os conterrâneos e surrealistas, Victor Brauner, Jacques Herold, Arpad Szenes, bem como a mulher deste, Maria Helena Vieira da Silva, portuguesa de origem. Quando a França entrou na guerra, foi para Lisboa, hospedando-se na casa de Arpad Szenes e Vieira da Silva, com a intenção de seguir para os EUA, destino de muitos judeus naquele momento. Em Lisboa trabalhou no ateliê do também surrealista António Da Costa. Relacionou-se com os escritores portugueses da época e ilustrou alguns números da Revista Presença, importante veículo de expressão dos intelectuais naquele momento. Com a negativa do visto para os Estados Unidos, resolveu partir para o Brasil. Em sua chegada ao Rio de Janeiro, em 1940, trouxe cartas de apresentação para José Lins do Rego, Mario de Andrade e Portinari. Logo nos primeiros momentos conheceu também Jorge de Lima e Lucio Cardoso que juntamente com José Lins do Rego, tornaram-se seus grandes amigos e o introduziram na vida intelectual carioca e teve a chance de realizar sua primeira exposição individual, no tradicional Salão do Palace Hotel, sede da Associação de Artistas Brasileiros. Guignard desistira de apresentar-se por ter tido uma de suas telas censuradas, retratando um fuzileiro naval negro. Assim, a sorte abriu-se para Marcier. A crítica foi muito favorável ao seu talento. Ainda um jovem artista surrealista europeu, mas já com prenúncios paisagísticos, como relata seu filho Matias (Depoimento oral à autora, em 2018): “em uma carta dirigida ao casal Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva (apelidada de “Bicho” por papai), na maneira como ele relata a viagem ao Brasil transparece o futuro paisagista…”.

Em 1942, o artista foi contratado pela Revista O Cruzeiro para fazer uma viagem às cidades históricas mineiras e compor uma reportagem ilustrada com suas telas. Uma edição histórica, com textos de Drummond, Aires da Matta Machado e outros.  Desde então, retratou o Brasil, a sua gente e seus costumes. As paisagens de Minas, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro foram diversas vezes pintadas por ele e a expressão de nosso barroco o marcou desde a primeira viagem a Minas. Ainda segundo Matias, “Marcier era o típico pintor viajante”, tendo representado muitos lugares da Europa, com foco especial para Itália, França e Portugal. Trazia sempre com ele sua caixa de aquarelas e seus blocos de papel especial para ir retratando os lugares e as pessoas que o marcavam pelo mundo afora. Retornou várias vezes aos mesmos lugares, para repintá-los em diversas épocas, como por exemplo a Toscana e a Normandia, que são muito recorrentes em sua obra, como demonstram as aquarelas ora expostas.

Em 1948, o artista fixou residência no sítio de Barbacena, onde criou, com Julita, os seus sete filhos. Tempos felizes com a família na casa que construiu para acalmar as dores do exílio e dedicar-se à sua arte. No ateliê rural de grandes proporções, investiu com todo o empenho em telas de grandes dimensões, com temas sacros, à luz do sofrimento da humanidade e realizou as suas espetaculares “Paixões de Cristo” e “Via Sacra”. Experimentou de forma ainda mais efetiva os seus estudos sobre a luz na obra de arte: “Tinha aplicado uma técnica onde procurava separar o branco do resto, tratando-o simplesmente como luz. Preparava tudo com um branco que eu mesmo triturava, conforme uma fórmula do tempo de Rembrandt. Perdi mais de 15 anos com essas pesquisas, onde o impulso criador sempre ficava entravado por uma ideia fixa. Pintar escuro, mas luminoso. (…)” (Marcier, 2004, p. 134). Uma luz que ele buscava incansavelmente e sempre o acompanhou, tal qual um típico renascentista. Segundo Affonso Romano de Sant’Anna: “Na verdade, nessas telas aí há um ponto de luz, que só os mestres sabem produzir.” (Sant’Anna, 1983, p.46). Ainda nas palavras de Affonso Romano, a Paixão tão pintada por Marcier é a sua e não somente a de Cristo. “Pois ele também está no tempo. Estar no tempo ou no templo é estar na axis da história, no coração do ser. No tempo estamos crucificados. No tempo estamos esquartejados pela paixão”. (Sant’Anna, 1983, p. 29-30). Como humanista declarado, os horrores da Segunda Guerra o afligiam e a confluência entre a história sagrada e a profana em sua pintura revelam “as mágoas de um exílio” (Marcier, 2004, p.97) e os “traços sumários exprimindo a dor” (Idem, p.105). Há algo demasiadamente humano que se expressa em meio às cenas bíblicas pintadas, como os aviões da Segunda Guerra Mundial na obra Torre de Babel (1947) da Capela de Mauá (SP) e os capacetes modernos – lembrando os de soldados fascistas – dos guardas que prendem Jesus Cristo. Ou, ainda, quando ele mesmo surge retratado em seu Ecce Homo (1982/1983). Ao longo dos anos, Marcier fez dezenas de exposições individuais no Brasil e no mundo, mas destacamos aqui a mostra inaugural da Galeria Relevo, em 1961, com a temática dos 25 anos de seus desenhos. Famoso por suas pinturas sacras (Marcier é considerado o mais importante pintor sacro do Brasil), o artista foi um grande paisagista. Além de pintar em suportes de grandes dimensões, ele também aquarelava as paisagens por onde passava, em formatos menores. A exposição que ora se realiza pela Galeria Evandro Carneiro Arte selecionou um conjunto dessas aquarelas, além de alguns óleos importantes de paisagens típicas do pintor.

Laura Olivieri Carneiro, fevereiro de 2025.

Materialidades diversas.

25/fev

O projeto Ofício, relacionado às Oficinas de Criatividade, recebe a exposição Eixo Terra, de Sallisa Rosa no SESC São Paulo, e nos convida a sentir a terra como memória tátil, como corpo. Acionando temas como ancestralidade e território, podemos nos perguntar: quais são as intervenções que os corpos humanos têm feito com o corpo-Terra? Ao apresentar artistas significativas no contexto contemporâneo, como é o caso de Sallisa Rosa, o Sesc valoriza o trabalho de criação, e propõe dar visibilidade a esses processos como convite para aproximações com materialidades diversas, intersecções incontornáveis e experiências de convivência em que tanto arte quanto pessoas se deixem afetar e expandir.

O barro é matéria do tempo. Sua textura ambígua guarda em si a síntese da terra: maleável, sugere a força latente do vir a ser; firme, revela por meio das marcas a memória do que se deixou moldar. Seguindo sua natureza dual, o solo molhado sustenta as dimensões subterrâneas e expostas, convivendo entre raízes e brotos, dando suporte a tudo que nele passa e sendo o teto do que vive abaixo da terra. Nesse sentido, a terra úmida é também uma espécie de semente de água, carregando a história de erosões, fertilidade e transformações.

Sobre a artista.

Sallisa Rosa é natural de Goiás e atualmente residente artística na Rijksakademie, em Amsterdan, Sallisa Rosa desenvolve seu trabalho com base em experiências intuitivas que exploram temas como ficção, território, natureza, memória, esquecimento e estratégias de criação de futuros. Sua prática artística é marcada pela criação de instalações de grande formato em espaços públicos, nas quais utiliza materiais coletados da natureza e das cidades, como terra, argila, galhos e madeira, além de reaproveitar diversos materiais, incluindo suas próprias obras. A colaboração e o compartilhamento de saberes são pilares centrais em sua trajetória, com um forte compromisso com práticas artísticas voltadas para a construção coletiva. Sallisa Rosa já realizou exposições individuais, como na Pinacoteca de São Paulo (2024) e no MAM Rio de Janeiro (2021), e participou de importantes mostras coletivas, incluindo Social Fabric: Art and Activism in Contemporary Brazil em Austin, Texas, e Histórias Brasileiras e Histórias Feministas no MASP. Em 2021, foi premiada com o Príncipe Claus Seeds Awards, e seu trabalho foi destacado na Trienal do Sesc em Sorocaba. A artista também integrou a coletiva Dja Guata Porã: Rio de Janeiro Indígena no Museu de Arte do Rio (MAR), em 2017.

Até 13 de julho.