Gerardo Rosales apresenta Caçador de Fábulas.

08/nov

A Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, inagurou a exposição “Gerardo Rosales – Caçador de Fábulas”, com curadoria de Luis Pérez-Oramas. Em sua primeira exposição no Brasil, o artista venezuelano radicado há 24 anos em Houston, Texas, mostra 44 pinturas sobre tela e papel, em nas quais se misturam animais, ornamentos, narrativas fabulosas de um aparente imaginário infantil, para discutir, com humor ácido, questões de gênero, raça, imigração e poder. Parte das obras foi produzida em São Paulo, e na Nara Roesler Rio de Janeiro o artista fez uma intervenção na parede de pé direito duplo, sob a claraboia. Ele esteve presente na abertura.

“A obra de Gerardo Rosales se destaca pelo seu imaginário florestal, espinhoso, homoerótico, fantástico, em que figuras animais e humanas se entrelaçam, ao mesmo tempo, em atos de amor e de caça. Latino e queer, radicado há duas décadas nos Estados Unidos, Rosales faz parte de uma geração global de artistas que se identificam através de uma abordagem figurativa da natureza e da sexualidade em que espécies e  gêneros se multiplicam numa incessante confusão mútua. Rosales dá conta deste fenômeno através da manipulação magistral de redes ornamentais, nas quais emergem suas personagens recorrentes – o urso, a borboleta, a cobra, o pássaro, o coiote, o burro, as árvores, a flor fálica”, escreve Luis Pérez-Oramas, no texto que acompanha a exposição.

Até 25 de janeiro de 2025.

Guanabara, o abraço do mar.

07/nov

A FGV Arte, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, com apoio da Água dos Rios, exibe sua quarta exposição, intitulada “Guanabara, o abraço do mar”, com curadoria de Paulo Herkenhoff, Luiz Alberto Oliveira e Marcus Monteiro. A exposição conta com a presença de importantes nomes do segmento. A nova coletiva expõe os diversos aspectos ecológicos, culturais e sociais de um dos importantes cartões-postais da cidade carioca e do Brasil.

Mostra apoiada pela concessionária reúne peças históricas, como um óleo sobre tela de Tarsila do Amaral e 40 obras da coleção de Sérgio Fadel. Das belas paisagens do entorno da Baía de Guanabara pintadas no início do século XIX a colagens com fotos atuais da vida cotidiana em comunidades que a rodeiam, reúne mais de 200 obras de cerca de 100 artistas.

“Guanabara, o abraço do mar” é sobre um lugar que reconhecemos que tem muitas dimensões, é onde as primeiras sociedades, os povos originários, moraram. A mostra vai expor não somente o aspecto cultural e as paisagens, mas, também, os fatos interessantes que ocorreram nesse processo”, explica o curador Paulo Herkenhoff.

A exibição “Guanabara, o abraço do mar” permanecerá em cartaz até 27 de fevereiro de 2025.

Quimeras 100 anos do Surrealismo.

No centenário do surrealismo, o Espaço Arte M. Mizrahi, Jardim Paulista, São Paulo, SP, apresenta a exposição coletiva “Quimeras – 100 anos do Surrealismo”, uma jornada que explora as profundezas do imaginário e do inconsciente em um contexto contemporâneo. Sob curadoria de Jurandy Valença, a mostra reúne um conjunto de 54 obras, entre pinturas, gravuras, desenhos, esculturas e fotografias, de 18 reconhecidos artistas nacionais e internacionais que oferecem diferentes interpretações do Surrealismo e suas influências persistentes nas artes.

O Surrealismo, foi fundado por André Breton em 1924, revolucionou a forma como o inconsciente e a imaginação eram abordados nas artes. Inspirado por elementos do romantismo e caracterizado pela ênfase no poético e no onírico, o movimento foi, acima de tudo, uma rebelião contra os padrões conservadores de sua época. O Surrealismo não só redefiniu os contornos da arte, mas também impactou profundamente o pensamento filosófico e cultural, ao destacar o papel da imaginação e da fantasia na construção da realidade.

Jurandy Valença observa que o Surrealismo ainda mantém uma força emancipada e provocadora, mesmo um século após sua origem. Segundo o curador, “o Surrealismo, mais do que um movimento histórico, é uma forma de ver o mundo que resiste ao tempo e desafia o espectador a questionar as próprias noções de realidade. Ao selecionar as obras, buscamos não só a representação tradicional do movimento, mas também como ele reverbera nas expressões e interpretações artísticas de hoje”.

Na exposição, figuras como o alemão Walter Lewy, que se manteve fiel ao Surrealismo até o fim da vida, e brasileiros como Flávio de Carvalho e Mário Gruber, que criaram universos que transcendem o comum, estão ao lado de nomes como Regina Silveira e Cildo Meireles, cujas obras estabelecem diálogos menos evidentes, mas significativos com o movimento. Também presentes estão os brasileiros Octávio Araújo, com cenas que evocam mistério e magia, e Marcello Grassmann, que explora figuras mitológicas e combina o humano e o animal. A mostra aborda a questão da representatividade feminina no surrealismo, reconhecendo que o movimento foi historicamente misógino. No entanto, propõe um olhar crítico sobre essa questão, explorando como o Surrealismo, apesar de suas limitações, contribuiu para discussões sobre identidade e subjetividade.

A exposição “Quimeras – 100 anos do surrealismo” convida o público a refletir sobre a atemporalidade do Surrealismo e sua capacidade de transcender fronteiras culturais e temporais, expandindo os limites da percepção e da interpretação artística. Ao explorar como o imaginário e o inconsciente seguem vivos e desafiadores na produção artística contemporânea, a mostra reafirma o Surrealismo não apenas como um marco histórico, mas como um movimento em constante transformação, que continua a inspirar novas gerações de artistas e a ressoar profundamente nas sensibilidades atuais.

Artistas partcipantes

Alejandro Lloret, Cildo Meireles, Flávio de Carvalho, Marcello Grassmann, Mario Gruber, Octávio Araújo, Regina Silveira, Roberto Magalhães, Sonia Menna Barreto, Vik Muniz, Walter Lewy, Wifredo Lam, Juarez Machado, Vito Campanella, Leon Ferrari, Fernando Cardoso, Inos Corradin e Victor Brecheret.

Até 14 de desembro.

Projetando para outro horizonte.

A Gentil Carioca tem o prazer de anunciar My Black Utopia, primeira exposição do artista O Bastardo n’A Gentil Carioca São Paulo, com abertura no dia 09 de novembro, sábado, das 14h às 19h. O texto crítico é assinado por Lilia Schwarcz, que aponta:

“My Black Utopia diz respeito, portanto, ao protagonismo preto. Não se trata de apenas “pegar e copiar”, como diz O Bastardo. Mas de “pegar e projetar para outro horizonte”, como na “Alegoria da Caverna”, escrita por Platão. Neste texto, o filósofo mostra como pessoas presas desde a infância neste local acreditavam que as sombras que projetavam nas paredes eram as únicas realidades existentes. Pois bem, nosso artista mostra como toda tela carrega outras possibilidades – expressas ou ocultas – e assim nos convida a olhar de novo, e enxergar diferente.”

A partir de um processo de apropriação de símbolos e ícones presentes em obras canônicas da história da arte ocidental, O Bastardo propõe a criação de um mundo utópico onde as figuras dessas obras habitam uma realidade paralela, marcada pela presença e protagonismo da figura preta. O artista descreve esse processo como um “atropelamento” dos clássicos, uma sobreposição que expõe a existência desse universo alternativo.

A individual ficará aberta à visitação até o dia 18 de janeiro de 2025.

César Oiticica no Paço Imperial.

Único artista vivo do Grupo Frente – importante movimento artístico criado há exatos 70 anos no Rio de Janeiro, considerado o marco do movimento construtivo no Brasil -, César Oiticica inaugura, no dia 13 de novembro, a exposição “Frente a Frente”, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

Com curadoria de Paulo Venancio Filho, serão apresentadas 20 obras inéditas ou que estão há muito tempo sem serem vistas pelo público, grande parte delas criadas no período em que o artista integrou o Grupo Frente, fundado por Ivan Serpa em 1954 e que teve a participação de importantes nomes, como Abraham Palatnik, Aluísio Carvão, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, Franz Weissmann, Rubem Ludolf, entre outros. Também farão parte da exposição obras recentes, apresentando ao público um panorama da trajetória do artista. Os trabalhos históricos – desenhos e cartões – foram produzidos entre 1954 e 1956, no período em que o artista fez parte do Grupo Frente, no qual ingressou com apenas 16 anos, sendo o mais jovem integrante do coletivo.

Sobre o artista

César Oiticica nasceu no Rio de Janeiro em 1939, onde vive e trabalha, É artista, arquiteto e diretor do Projeto HO no Rio de Janeiro. Começou seus estudos de pintura em 1954 no Curso Livre de Pintura de Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Integrante do Grupo Frente, César Oiticica participa da segunda exposição do Grupo realizada, em 1956, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, da terceira e quarta do Grupo, realizadas em Itatiaia e Volta Redonda e da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta que ocorreu em dezembro de 1956 no MAM SP e, em 1957, no MAM/ Rio. Como curador, foi responsável pelas exposições “José Oiticica Filho: Fotografia e Invenção” no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, 2007, e “Hélio Oiticica: Penetráveis”, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, 2008, além de ter sua obra exposta, desde 1984 até 2017, em inúmeras exposições em importantes instituições no Brasil e no exterior. César Oiticica participou da 2ª e da 4ª exposição do Grupo Frente e da 1ª exposição de Arte Concreta no MAM/Rio, em 1955. “Nos seus desenhos e cartões, sentimos o clima de uma época e a decidida intenção construtiva de um jovem no primeiro momento de sua trajetória; a livre estruturação das articulações, combinações e relações formais que caracterizava a abstração geométrica do Grupo, antecipando o neoconcretismo”, diz o curador. O artista participou, ainda, das últimas exposições do Grupo, que ocorreram em 1956, em Resende e em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, e da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, organizada pelos concretos de São Paulo com a colaboração do grupo carioca, em dezembro de 1956 no MAM São Paulo e em fevereiro de 1957 no Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Rio de Janeiro. Após a mostra, o Grupo Frente começa a se desintegrar. Dois anos depois, alguns de seus integrantes iriam se reunir no Movimento Neoconcreto, um dos mais importantes da arte moderna brasileira.

Até 02 de fevereiro de 2025.

Doze trabalhos inéditos de Daniel Lannes.

05/nov

A Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, a partir de 07 de novembro, a exposição “Daniel Lannes – Entre Poses”, com doze pinturas inéditas, nas quais o artista discute “…o constante paradoxo” do brasileiro em relação com o corpo: “Conviver com sua culpa cristã em relação à nudez, e ainda assim assumir o posto de símbolo sexual”. “O corpo no Brasil é algo proibido”, diz, acrescentando que “o fio dental é a deixa para tal conclusão”. Com o título da mostra retirado de sua prática de trabalho no ateliê, trabalhar com modelos vivos, Daniel Lannes se inspirou no universo criado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980) para fazer as pinturas apresentadas.

Os curadores Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto escrevem no texto da exposição: “A partir de paixões, traições e moralismos, os personagens de Nelson Rodrigues viviam entre conflitos que revelavam os aspectos mais íntimos e profundos da natureza humana”.

Daniel Lannes diz que “…não há nudez absoluta que possa ser encarada sem desconforto e remorso”. “Pintar o nu se enquadra dentro das maiores tradições da pintura a óleo ocidental. Claro que entre uma Vênus de Urbino e uma Olympia certos paradigmas foram caindo pelo caminho”, diz. “No entanto, pintar um nu no Brasil é algo que extrapola os limites da história da arte dentro de nossa própria noção identitária. O que exportamos até hoje não reflete a essência do que somos, diriam os conservadores. Enquanto continuarmos negando nossa sensualidade, recusando o que temos de potência vernacular, e nos permitirmos assumir tais traços apenas durante uma semana de carnaval, o Brasil será sempre o país do futuro. Mas o corpo é agora”.

Sobre o artista

Daniel Lannes tem obras em diversas coleções, como Instituto Inhotim, em Brumadinho, MG; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro/Coleção Gilberto Chateaubriand; Pinacoteca do Estado de São Paulo; e Museu de Arte do Rio (MAR). Ganhou o 6º Prêmio Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas (2016); integrou a exposição “100 Painters of Tomorrow” (Thames & Hudson, Londres, 2014); fez residências artísticas na LIA (Leipzig International Art Programm), na Alemanha, em 2015; Lille 3000 Art Festival, França; e Sommer Frische Kunst (2013), Bad Gastein, Áustria.

.

Renoir e Visconti na Danielian Galeria.

Em celebração aos 150 anos do movimento impressionista, responsável por inaugurar a era moderna na arte, a Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ,  exibirá a mostra “Visconti e Renoir: Impressionismo – 150 anos”. Com abertura marcada para o dia 07 de novembro, a exposição gratuita reúne três pinturas e uma litografia do francês Pierre Auguste Renoir (1841-1919) e, aproximadamente, 40 obras do artista ítalo-brasileiro Eliseu D’Angelo Visconti (1866-1944). A curadoria é de Denise Mattar.

Até 14 de dezembro.

A obra de Antonio Dias nos Emirados Árabes.

04/nov

A exposição “Search for an Open Enigma” apresenta a obra de Antonio Dias (1944-2018), artista brasileiro que transgrediu incansavelmente os limites materiais e conceituais, abordando questões sociopolíticas complexas através de diversos meios. O título da exposição deriva da análise feita em 1969 pelo artista-crítico Hélio Oiticica sobre a natureza aberta da iconografia de Antonio Dias.

Em exibição até 08 de dezembro nos Estúdios Al Hamriyah, a exposição está repleta de imagens potentes, cores ousadas e figurações enigmáticas. As obras de mídia mista de Antonio Dias, do início dos anos 1960, criticam a violenta ditadura militar em seu país natal, o Brasil. Esses anos marcaram o momento em que o artista subverteu a linguagem visual da cultura popular brasileira, carregando-a de comentários sobre violência e censura. A partir da década de 1980, Antonio Dias produziu pinturas abstratas com pigmentos metálicos, cores vibrantes e formações dinâmicas, enquanto continuava a desenvolver suas instalações de mídia mista, que ele infundiu com um senso de humor pungente até seu falecimento. A primeira exposição individual da arte de Antonio Dias na região presta homenagem à natureza versátil e subversiva de sua obra por meio de uma seleção de trabalhos que seguem sua trajetória artística desde os anos 1960 até o final dos anos 1990.

Antonio Dias: The Search for an Open Enigma é curada por Hoor Al Qasimi, diretora da Sharjah Art Foundation, com Reem Sawan, Assistente de Curadoria da Fundação.

Afonso Tostes exibe a exposição “Reverter”.

A Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, anuncia a abertura da exposição “Reverter”, com uma grande instalação inédita do artista Afonso Tostes, por onde o público irá caminhar. A obra mede 2,5 metros de altura, e cobre uma área no chão de 64 metros quadrados, que ocupará o andar térreo do espaço. A obra propõe um percurso em espiral, “em que a pessoa chega a um vértice, e caminha no sentido oposto, saindo do outro lado”, explica o artista. “É uma espiral dentro de outra espiral, em sentido inverso. Mesmo que pareça que a pessoa está andando para trás, ela está indo adiante, sempre em frente”, diz. Ele comenta que “…a espiral é uma imagem que aparece há muito tempo na história da arte, e está presente nas culturas tradicionais, como na afro-brasileira, como representação de retorno, de ancestralidade, em sentido anti-horário”, diz. Depois de experimentar várias possibilidades, ele escolheu o bambu como material, que tem a ver com o seu trabalho em madeira descartada. Além deste trabalho, serão exibidas também pinturas inéditas, relacionadas com a instalação – duas no piso térreo e as demais no segundo andar expositivo – feitas com pigmentos coloridos recolhidos pelo artista em seu ateliê, ao serrar e lixar madeiras para suas esculturas, como rouxinho, mogno, peroba do campo, ipê e jatobá. A mostra terá ainda pinturas em carvão, madeira e sisal. A curadoria é de Cecília Fortes. Afonso Tostes conta que já há três anos vinha se aproximando da ideia da instalação, primeiro com desenhos e depois maquetes, até que em 2023, durante uma residência na Casa Wabi, em Puerto Escondido, no México, ele fez a primeira experiência em escala humana, ao ar livre, com barro, madeira e areia.

Trabalhos do artista integram coleções institucionais como Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador; Museu de Arte Contemporânea, Niterói; Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba; SESC – Acervo de Arte Brasileira, Rio de Janeiro e Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris; Fundação Iberê Camargo; SESC Pompeia; Casa França Brasil; MAM Rio; MAC Niterói.

Até 18 de janeiro de 2025.

Onde o fim se insinua em Juan Casemiro.

Marli Matsumoto Arte Contemporânea, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Depois que acaba”, a primeira individual do artista Juan Casemiro na galeria, com texto crítico de Ana Roman.

Na exposição “Depois que acaba”, Juan Casemiro nos conduz por um território onde o tempo não se extingue, mas se dilata, criando espaços de pausa, onde o fim se insinua como uma nova possibilidade. O que termina, na verdade, nunca acaba por completo. O apagamento é parcial, deixando rastros, vestígios que se recusam a desaparecer por completo. O trabalho de Casemiro habita justamente esse intervalo, onde os objetos, em seu silêncio, ainda carregam as marcas das histórias que viveram.

Metros de madeira desgastados pelo uso, fitas cassete guardando músicas que talvez nunca mais sejam ouvidas, fósforos queimados que já cumpriram sua função – esses são os materiais que ele resgata. São fragmentos de um cotidiano abandonado, objetos que, mesmo fora de contexto, continuam a falar. E o que dizem não é apenas sobre sua função original, mas sobre as mãos que os tocaram, os momentos que eles presenciaram, os pequenos gestos que ficaram impregnados em suas superfícies.

Nas obras de Casemiro, o ordinário se transforma em matéria poética. Um metro de madeira ou uma fita cassete ganham uma segunda vida, não para serem úteis novamente, mas para existirem como portadores de memórias. Ao não revelar tudo, ao manter certos segredos intactos – como as músicas gravadas em uma fita que nunca será tocada – o artista preserva o mistério. O silêncio que envolve essas fitas se torna um espaço de imaginação, onde o espectador é convidado a projetar suas próprias histórias, a preencher as lacunas com aquilo que nunca será dito.

É essa suspensão que marca Depois que Acaba. Ao escolher guardar e não expor completamente, Casemiro estende a vida desses objetos para além de sua obsolescência. O fim se converte em uma pausa, onde as histórias permanecem, abertas, prontas para serem reimaginadas, mas nunca concluídas. As obras sugerem que o fim de algo não é uma anulação, mas uma transformação que, mesmo em seu silêncio, continua a reverberar.

A exposição propõe uma reflexão sobre o que permanece depois do fim – o que ainda resiste nas camadas invisíveis do tempo. Os objetos, assim como as histórias que eles contêm, permanecem vivos, suspensos entre o que já foi e o que ainda pode ser. O gesto de Casemiro é uma forma de cuidado, uma maneira de prolongar o instante em que o passado ainda ecoa no presente. Em cada peça, há um convite para escutar o silêncio, para perceber o intervalo entre o fim e o que vem depois.

São  Paulo, outubro de 2024

Ana Roman