O Carnaval no IBEU

17/nov

Carlos Vergara, um dos expoentes da história da arte brasileira, é o convidado para celebrar a retomada das atividades da Galeria de Arte IBEU, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ. O artista inaugurou a exposição individual “Devassos no Paraíso”, com curadoria de Ulisses Carrilho. Na exposição, o público conhecerá uma série de fotografias produzidas durante a década de 1970, além de pinturas e monotipias recentes relacionadas ao tema do Carnaval do Rio de Janeiro.

A mostra permanecerá em cartaz até 09 de fevereiro de 2024.

A dinâmica vital de Janaina Tschäpe

16/nov

As estrelas de Janaina Tschäpe conversando em voz alta é a exposição que encerra a programação de 2023 na Fundação Iberê Camargo, Porto Allegre, RS. Com curadoria de Luisa Duarte, esta será a primeira exposição da artista teuto-brasileira na capital gaúcha e poderá ser visitada de 25 de novembro a 18 de fevereiro de 2024.

Em “Janaina Tschäpe – Estrelas conversando em voz alta”, a mostra apresenta 39 obras da artista, radicada em Nova York há 27 anos, entre pinturas, aquarelas e desenhos, além de fotografias e livros de artista.

“Estrelas conversando em voz alta” é o resultado deste processo, que habita um território maleável entre realidade e fabulação. Exuberantes e impactantes, as pinturas têm um aspecto líquido e translúcido que recorda contornos vegetais, animais ou minerais em paisagens silvestres e subaquáticas. O repertório de formas orgânicas da artista se compõe em grandes superfícies animadas pelo movimento dos seus gestos: os riscos velozes que traça com bastões a óleo sobrepõem-se à fluidez de pinceladas mais largas. A natureza não é retratada fielmente na obra de Janaina Tschäpe, mas tem sua dinâmica vital traduzida em termos pictóricos, em grandes superfícies que envolvem o público numa ambiência inquieta.

Como escreve a curadora Luisa Duarte para o catálogo, “a intensidade dos gestos da artista, que levam o olhar a percorrer velozmente toda a superfície da tela, parece remeter a um silêncio grávido de palavras, pois envolto em uma inquietude tangível, como se a densidade própria de toda floresta doasse um ethos grave à cena. Na mão contrária se encontra o trabalho que dá nome à exposição, Estrelas conversando em voz alta, realizado especialmente para a ocasião da atual mostra na Fundação Iberê, que, com seus verdes, vermelhos e laranjas, nos fazem imaginar uma noite na qual o sol se fez presente”.

“Ao nos determos nos trabalhos que fazem parte dessa produção aqui reunidos nota-se, de maneira evidente, como a técnica serve à sua poética, e não o inverso. Aqui, o olhar é lançado para diferentes direções transitando entre opacidade, brilho e transparência. Se ao fundo, por vezes, a caseína aquosa ainda se faz presente, doando translucidez, no primeiro plano o óleo sempre tem protagonismo. O uso de bastões possibilita uma simultaneidade entre pintura e desenho, conferindo um gestual de cunho caligráfico às obras. Certa vez escrevi que os traços da artista no interior de suas pinturas “remetem à escrita automática dadaísta, ou mesmo ao gesto da criança de rabiscar sem finalidade precisa.”  Mais recentemente, foi dito sobre estas telas que estamos “diante de uma escrita repleta de rabiscos-arranhões entre o signo e o traço mudo, entre a iminência de uma forma significante e a pura expressão gestual”, complementa a curadora.    

Sobre a artista

Janaina Tschäpe é uma artista do mundo. Nasceu em Munique, filha de pai alemão e mãe brasileira. Quando tinha um ano de idade, sua família mudou-se para o Brasil, onde morou no Rio e em São Paulo. Aos onze, todos retornaram à Europa, onde Janaina Tschäpe permaneceu até os 16 anos. Pouco tempo depois, ela fez as malas de volta para o Brasil, desta vez para Curitiba, onde cursou o então colegial. Retornou à Alemanha para graduar-se na Academia de Arte em Hamburgo. Recém-formada, mudou-se para Berlim a fim de fazer alguns cursos e, aos 21 anos, aterrissou no Brasil pela terceira vez para estudar a cultura afro na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Em 1996, Janaina Tschäpe rumou para Nova York para um mestrado na School of Visual Arts (SVA), mas agora seria definitivo. Seu primeiro bairro foi o East Village, o epicentro da arte vanguardista. Em 2000, mudou-se para o Brooklyn, mesmo prédio onde instalou seu ateliê. Ficar junto do estúdio deu mais liberdade à artista e o tempo ganho foi uma virada de chave. A pintura se desenvolveu em termos de materiais, tecnicamente falando, na qual ela passou a utilizar novos materiais (BC1), como bastões de óleo e caseína, uma tinta que lhe deu espaço para desenhar em cima com lápis aquarela.

“Quando estive em Paris para instalar uma exposição, comprei uma mala inteira de bastões a óleo e comecei a experimentar. Como o bastão é grosso, você pode tanto desenhar como pintar. Então o desenho vai entrando na pintura de uma maneira muito mais suave e transparente”, conta Tschäpe. Com o óleo, você cria uma relação com as camadas, a textura, o tempo de secagem. Por outro lado, é um material que tenta te controlar, você entra em cada pintura meio sem saber como vai sair”, diz. Representada pela Fortes D’Aloia & Gabriel, Janaina Tschäpe realizou recentemente as exposições individuais “Soy mi proprio paisaje”, CAC Málaga, Málaga, Espanha (2023); “Restless Moraine”, Sean Kelly, Nova York, Estados Unidos (2023); “FIRE just sparkles in the sky”, Carpintaria, Rio de Janeiro, Brasil (2022); “Counterpoint#5” – (exposição solo), L’Orangerie, Paris, Franca (2021); e “Janaina Tschäpe and Ursula Reuter Christiansen: Das Unheimliche”, Den Frie Center of Contemporary Art, Copenhagen, Dinamarca (2021). Participou também das coletivas “The Big Picture”, Night Gallery, Los Angeles, Estados Unidos (2023); “Earth Works, Hunt Gallery”, Webster University, Luxembourg City, Luxemburgo (2021) e “Abundant Futures”, TBA21, Córdoba, Espanha (2021). A artista tem trabalhos em importantes coleções públicas, incluindo 21st Century Museum of Contemporary of Art, Kanazawa, Japão; Banco Espírito Santo, Lisboa, Portugal; Centre Pompidou, Paris, França; Clifford Chance Collection, Nova York, Estados Unidos; Fondation Antoine de Galbert, Paris, França; Fondation Belgacom, Bruxelas, Bélgica; FRAC Champagne-Ardennes, Reims, França; Harvard Art Museum, Boston, Estados Unidos; Instituto Inhotim, Brumadinho, Brasil; Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Kandinsky Library Collection, Centre Pompidou, Paris, França; Moderna Museet, Estocolmo, Suécia; Mudam Musée d’Art Moderne Grand Duc Jean, Luxemburgo; MAM – Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, Brasil; Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, Espanha; National Gallery of Art: Washington DC, Estados Unidos; Polk Museum of Art, Lakeland, Estados Unidos; SMAK – Stedelijk Museum voor Actuele Kunst, Gent, Bélgica; The Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York, Estados Unidos; Tokyo Roki Co. Ltd, Tóquio, Japão e TBA21 – Thyssen-Bornemisza Art Contemporary, Viena, Áustria.

A Fundação Iberê tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Savarauto Perto, Ventos do Sul, DLL Group, Lojas Pompéia e DLL Financial Solutions Partner; apoio da Renner, Dell Technologies, Pontal Shopping, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, e realização do Ministério da Cultura/ Governo Federal.   

Homenageando Emanoel Araujo

14/nov

A Simões de Assis, Jardins, São Paulo, SP, inaugurou a mais recente exposição individual de Emanoel Araujo (Santo Amaro da Purificação, 1940).  Com texto do professor, pesquisador, artista e amigo de longa data de Emanoel Araujo, George Nelson Preston, essa será a primeira mostra após o falecimento do artista em 2022. Em “Afrominimalismo”, vemos sua produção de relevos brancos, alguns inéditos, em que se pode reconhecer uma conexão entre sua visão africanista e universalista. Esses trabalhos congregam a síntese formal do pensamento de Emanoel Araujo quanto à abstração geométrica, estabelecendo também um íntimo diálogo com a instalação do artista na 35ª Bienal de São Paulo. Em cartaz até 16 de deaembro.

OS RELEVOS BRANCOS DE EMANOEL ARAUJO

Relações entre os nexos de causalidade de um visionário africanista/universalista

Prólogo

Nesta exposição em que os relevos brancos de Emanoel Araujo são o foco, reconhecemos um nexo da sua visão africanista e universalista. Em “Emanoel Araujo: Afrominimalista Brasileiro”, propus um cânone do formalismo africano como a principal estética que norteou seu trabalho. Aqui, gostaria de revisitar brevemente essa proposição e atualizá-la. Consideremos também o neoconcretismo brasileiro, o minimalismo, o relevo como meio clássico antigo e o cânone têxtil africano. Se essa mistura parece anômala, consideremos o fato de que, desde o início de sua carreira, Araujo teve um temperamento enciclopédico e considerável interesse pelos relevos greco-romanos, pelo barroco e rococó brasileiros e pela história da arte em geral. Pertinente à nossa discussão aqui é o seu interesse pelos relevos clássicos e tecidos africanos, que têm muito em comum com os cânones gerais da escultura clássica africana.

Estamos habituados a ver antigos relevos gregos e romanos e os seus estilos reavivados em mármore branco, esquecendo-nos de que o tempo corroeu a policromia original. A este respeito, o clima seco foi mais favorável aos relevos egípcios. Os reavivamentos neoclássicos – nos quais o imaculado mármore branco era o suporte – afetam ainda mais nossas percepções. Nos relevos coloridos e nas esculturas de Emanoel, esse drama é representado em tons primários que se refratam em seus próprios tons e matizes.

A ausência de cor nos relevos brancos de Araujo resulta nas sutilezas e na dramaticidade da luz que performa uma escala de cinza – indo do branco, passando pelos cinzas intermediários, até voltar ao branco. Ao visualizar suas peças brancas, os relevos coloridos se tornam uma “película” onipresente em nossa experiência. A nossa experiência é “colorida” da mesma maneira quando nossa imaginação preenche a policromia perdida dos relevos greco-romanos.

A Corrente

No início da década de 1970, o cenário estava sendo montado para uma síntese das inspirações e influências de Araujo. Suas gravuras de formas mínimas feitas em grande escala, evocativas dos têxteis africanos, foram transformadas quando ele dobrou o papel das impressões em forma de máscara e as enrolou a partir da superfície, ocupando as três dimensões. Essas “Gravuras de armar” (1972) foram “o encaminhamento do artista em direção ao tridimentional”.

Devemos considerar também a afinidade dessas gravuras com o neoconcretismo brasileiro do final da década de 1950 e início da década de 1960, talvez, em particular, com a obra de Lygia Clark e de Hélio Oiticica. Nessa exposição, a conversa com o neoconcretismo brasileiro e as formas geométricas bidimensionais das primeiras gravuras podem ser apreciadas nas obras sem título de 2019.

Universalidade e o Cânone Africano

Em 1976 e 1987, e em ocasiões subsequentes, Araujo visitou o Benin e a Nigéria. Os oráculos de seus ancestrais nagô-iorubá haviam-no chamado. Em 1987, não poderia ter conhecido Emanoel Araujo de forma mais oportuna. Isso resultou na publicação de “Emanoel Araujo: Afrominimalista Brasileiro” – meu catálogo para a retrospectiva de dez anos do artista no MASP4.

Aqui estava um suposto minimalista “infectando” flagrantemente o estrito cânone minimalista com inflexões narrativas, culturais e históricas: daí o termo “afrominimalista”.

À época, eu havia identificado vários reflexos da estética africana na obra de Araujo no catálogo do MASP, como a tensão entre um eixo implícito e um eixo real, a repetição rítmica de formas primárias ou mínimas, e a repetição dessas formas interrompidas por surpresas formais, inversões como fugas e motivos pars pro toto – em que uma parte saliente de um objeto representa sua totalidade. O ambiente afro e ameríndio baiano, o barroco e o rococó brasileiros, o concretismo e o minimalismo formam uma corrente interligada. Em 1977, do Prado Valladares descreveu Araujo como um humanista “artista do mundo do conhecimento”. Isto é, não um “investigador de símbolos” paroquial ensinando sobre África. A partir disto, podemos concordar que Araujo projeta seus africanismos como uma linguagem universal em que a iconografia é secundária ao poder emocional e psicológico de um formalismo convincente que desperta em nós a “meta” da iluminação.

Envoi

Quatro níveis de relevo são empregados desde os tempos antigos. São relevos baixos, médios, altos e afundados. O relevo afundado, no qual não há projeção da forma para fora, mas é esculpido abaixo ou no espaço pictórico, é extremamente raro. Em vários relevos brancos, este plano afundado – que é a parede atrás – ganha uma curiosa presença de alteridade palatável. Essa manipulação dos vazios não é de forma alguma recente, sendo um tema recorrente desde a transição de Araujo, no início dos anos setenta, do figurativo para o abstrato.

Para este escritor, é de particular interesse o enorme relevo branco da mostra. É o contraste ou, melhor dizendo, o diálogo entre as suas grandes dimensões e o baixo relevo uniforme que vibra entre ser um enorme repousé e uma gigantesca peça de tecido africano. Penso que este relevo é uma homenagem à criatividade dos pigmeus Twa que vivem entre os povos Kuba , no centro da República Democrática do Congo.

Ainda mais enigmáticas são as obras “Totem angulares vazados” (2015) e sua companheira sem título. Essas obras não são relevos nem esculturas independentes. São estelas – outra forma antiga… São estelas devido à sua esmagadora frontalidade. E combinam aspectos de baixo, alto e médio relevos fluindo entre si. Num intrigante tour de force, como se fosse um léger de main xamânico, o espaço negativo das estelas funciona como o vácuo dos relevos afundados. Na minha imaginação, despejo os rios sinuosos do Brasil nesse vazio, “desdobrando” águas sinuosas na geometria dos têxteis africanos.

George Nelson Preston, PhD, Professor Emérito, CCNY/CUNY – Acadêmico da Cadeira Pierre Verger, Academia Brasileira de Belas Artes, Rio de Janeiro.

Conversa com artistas

13/nov

Na próxima quinta-feira, dia 16 de novembro, às 19h, será realizada, na Galeria Athena, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, uma conversa, gratuita e aberta ao público, entre o artista Jonas Arrabal, a curadora Fernanda Lopes e a artista Julia Arbex em torno da exposição “Ensaio sobre uma duna”, individual de Jonas Arrabal, que pode ser vista até o dia 02 de dezembro na galeria.

A mostra apresenta trabalhos inéditos, em diversas mídias, reunidos em conjunto, como uma grande instalação pensada especialmente para ocupar a Sala Casa da Galeria Athena. Bronze, sal, chumbo, betume e resíduos orgânicos são alguns exemplos de materiais utilizados pelo artista nos últimos anos, traduzidos aqui entre objetos e desenhos. Em sua pesquisa poética há um interesse particular sobre o tempo e a memória, numa aproximação com a ecologia, meio ambiente e a história, propondo uma reflexão sobre a transformação constante das coisas, dos lugares e como isso nos afeta e nos permite novas percepções.

“Em seus trabalhos há uma operação que transita entre a invisibilidade e a visibilidade, transições e apagamentos concretos (conscientes ou não) numa aproximação com elementos da natureza, opondo materiais industriais com orgânicos, propondo novas mutações”, diz a curadora Fernanda Lopes.

A mostra é apresentada paralelamente à exposição “O que há de música em você”, que traz edições únicas das icônicas obras “Relevo Espacial, 1959/1986” e “Parangolé P4 Capa 1, 1964/1986”, de Hélio Oiticica.

Sobre o artista

Jonas Arrabal, Cabo Frio (1984). Vive e trabalha em São Paulo. É artista visual, graduado em Teatro pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e mestre em Artes Visuais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Começou sua produção em 2012 em diferentes linguagens, como vídeo, instalação e a escultura, em diálogo com o teatro, o cinema e a literatura. Em seus trabalhos há uma operação que transita entre a invisibilidade e a visibilidade, transições e apagamentos concretos (conscientes ou não) numa aproximação com elementos da natureza, opondo materiais industriais com orgânicos, propondo novas mutações. Há um interesse particular sobre o tempo e a memória, numa aproximação com a ecologia, meio ambiente e a história, propondo uma reflexão sobre a transformação constante das coisas, como isso nos afeta e nos permite novas percepções. Participou de exposições como 10ª Bienal do Mercosul, 1ª Trienal de Artes, The Sun teaches us that history is not everthing (Hong Kong, 2018), Os Vivos e o Mortos (Paço Imperial, 2019) e diversas coletivas e individuais em galerias e instituições no Brasil e no exterior. Em 2016 publicou Derivadores (com Luiza Baldan) pela AUTOMATICA e em 2021 foi indicado para o Prêmio PIPA.

Sobre a curadora

Fernanda Lopes é curadora e pesquisadora, doutora em História e Crítica de Arte pela UFRJ. Trabalhou como curadora adjunta do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2016-2020), e curadora associada em Artes Visuais do Centro Cultural São Paulo (2010-1012). Publicou os livros “Éramos o time do Rei” – A Experiência Rex (Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, Funarte, 2006); Área Experimental: Lugar, Espaço e Dimensão do Experimental na Arte Brasileira dos Anos 1970 (Bolsa de Estímulo à Produção Crítica, Minc/Funarte, 2012)  e Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite (Tamanduá-Arte, 2016 – organizado com Aristóteles A. Predebon), além de diversos ensaios e artigos, especialmente sobre arte brasileira. Entre as curadorias que vem realizando desde 2008 está a Sala Especial do Grupo Rex na 29ª Bienal de São Paulo (2010) e a curadoria adjunta da exposição Maria Martins: Desejo Imaginante no MASP (2021) e na Casa Roberto Marinho (2022). Em 2017 recebeu, ao lado de Fernando Cocchiarale, o Prêmio Maria Eugênia Franco da Associação Brasileira dos Críticos de Arte 2016 pela curadoria da exposição Em Polvorosa – Um panorama das coleções MAM-Rio. Atualmente é Diretora Artística da galeria Athena (RJ) e colaboradora do Atelier Sanitário (RJ) e do Instituto Pintora Djanira (RJ).

Sobre a artista

Julia Arbex é artista, doutoranda em Artes Visuais na UFMG e mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense. Vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Indicada ao Prêmio Pipa em 2023. Participou das exposições Salón Acme (Mexico 2023); The Silence of Tired Tongues (Framer Framed, Amsterdam 2022); Sol a Sol (ArtFasam, SP 2022); Drawing box Pop Up Show, (India; Irlanda e Estados Unidos, 2022); Mirantes (Galeria Anita Schwartz, RJ 2021); Até onde a vista alcança (Galeria Athena, Rio de Janeiro 2020).

Tempo do Olhar

A Galeria Paulo Branquinho, Lapa, Rio de Janeiro, RJ, reúne 14 artistas com curadoria de Lia do Rio. No dia 18 de novembro, às 17h, abrirá a mostra coletiva “Tempo do Olhar”, encerrando a programação de 2023 e celebrando o que está por vir no ano que vem. A curadora Lia do Rio selecionou os trabalhos de Adriana Montenegro, Ana Biochini, Cláudio Bispo, Fernanda Lemos, Gilda Lima, Iraceia de Oliveira, Jarbas Paullous, Maria Ignes Peixoto, Marcia Cavalcanti, Regina Helene, Rosi Baetas, Sandra Fioretti, Sandra Macedo e Sonia Xavier. Serão mostradas esculturas, pinturas, instalação e fotografia, provando que a arte pode e deve abarcar todos os olhares.

Para Paulo Branquinho, a interação e abertura para novas linguagens curatoriais é fundamental: “Lia do Rio, além de ser uma artista de excelência, é conhecida por seus colegas artistas e alunos, como mestra, por sua grande generosidade”, diz ele, que se sente honrado por receber esta mostra para fechar o ano.

“Os artistas participantes dessa mostra atualizam relações entre forma, cor, espaço e tempo, atualizações essas realizadas dentro de um percurso individual. As obras, suportes para reflexões plásticas, solicitam um engajamento a quem se aproxima, a aqueles que se dão o tempo do olhar”, afirma Lia do Rio, curadora.

Sobre os artistas

Adriana Montenegro, poeta e artista, percorre caminhos em que a memória, o onírico e o real constroem-se e descontroem-se, gerando continuamente espaços que, por seu movimento, já deixam de aí estar, inaugurando outros, mas formando um itinerário de vestígios que reaparecem.

Ana Biolchini, com formação na área Biomédica, investiga as interseções e a integração de partes do corpo por meio de sua representação em diversas mídias a partir e um fio condutor que tudo conecta. Trabalha no espaço da arte com pesquisa de memória, ancestralidade, tradições religiosas, simbolismo das letras hebraicas e sistemas de arquétipos relacionados as dimensões do inconsciente coletivo.

Formado em Direito, com curso técnico em desenho de Máquinas e Tubulações, o trabalho tridimensional de Cláudio Bispo realiza-se através da desconstrução de caixas de papelão descartadas, não buscando a beleza, mas sim, a possibilidade de um visual significante e permanentemente instigante.

Fernanda Lemos designer e pós-graduada na COPPE/UFRJ. Trabalhou na Funarte e Fundacen. Cores, formas, risco e acaso, o qual muitas vezes se torna em aliado, fazem do processo um experimento, sendo o que mais a instiga e interessa.

Gilda Lima, com formação em psicologia, trabalha com foto e vídeo. Segue seus processos, que chama de “processos atravessados” sem direção definitiva, sempre perseguindo a ideia da impossibilidade de preencher vazios.

Iraceia de Oliveira, psicanalista, atualmente vive em Portugal. Utiliza-se de materiais reciclados os quais recorta e pinta, e também de madeiras ligadas por dobradiças para dar-lhes movimento e deslocamento. Trabalha com fotos e vídeos de animação e pesquisa a arte digital. É sempre levada a fazer algo por uma ideia que se define no material.

Jarbas Paullous, graduado em Comunicação Social e pós-graduação em Linguagens Visuais, trabalha com pintura, escultura, desenho, vídeo, instalação e performance. Voltado a pesquisa de situações cotidianas em suas pinturas e esculturas nas quais utiliza materiais reciclados e sucatas, já nas performances usa como referência obras de artistas da história da arte.

Maria Ignes Peixoto, mestra em Filosofia e formação em Psicanálise, desenvolve seu trabalho em arte com desenho contemporâneo, seu principal meio de expressão. Dele participam escritas intimistas, vestígios de memórias, movimentos espontâneos, traços ritmados em lápis grafiti, canetas, tintas, dentre outras matérias que livremente se insinuam no suporte.

Marcia Cavalcanti desenvolve seu trabalho a partir do desenho livre, incorporando técnicas como o nanquim, a aquarela, a gravura e a pintura. A partir do experimentar a linha e seu poder de recriação, de invenção através do desenho, surge como resultado um humor inusitado muito peculiar a sua percepção.

Regina Helene, formada em Direito, trabalha em grandes dimensões. Os materiais utilizados complementam-se aglutinados em diversas cores que se harmonizam e ganham ressignificação. A assemblage, linguagem mais utilizada por ela, dá-se pela junção dos mais inusitados materiais. A integralização das partes traduz mitos, arquétipos e a energia existencial criadora feminina.

Rosi Baetas, engenheira química, M.Sc, D.Sc, transmuta conhecimentos de base científica em linguagens visuais, à luz de conceitos inerentes à incompletude, à inconsistência, à imprevisibilidade e à transitoriedade. Elementos contrapostos – nano/macro, frente/atrás, dentro/fora, colagem/descolagem, além de espaços vazios, convidam à decifração. Explora desdobramentos e interações de expressões como pintura, desenho, fotografia, objeto e instalação.

Sandra Fioretti, artista visual com formação em design, traz para as artes visuais sua bagagem de estudos em artes gráficas. Através de pinturas, desenhos e fotografias digitais elabora contrapontos lúdicos criando composições em permanente evolução. Seu trabalho é fruto de observações e pesquisas que elabora há algum tempo referentes a natureza, colonização e brasilidade.

Sandra Macedo, com formação em antropologia, desenvolve trabalhos, por vezes, em escala reduzida e desenhos com fios de linha. Nestes trabalhos a atenção se volta para o frágil e para a ruptura de escala. O pequeno formato pode ser sentido como monumental e ter uma formidável potência de comunicação. Sua produção tem como eixo problemáticas sociais e tangencia questões ligadas à situação de opressão, fragilidade e luta das mulheres.

Sonia Xavier, formada em Pedagogia, utiliza no contexto de suas obras uma teatralização de emoções que remetem a diversificados instantâneos da condição humana usando seu próprio imaginário de modo intuitivo e que se transfigura em propostas ora irreverentes ora declamadoras de um inesperado porvir. Estabelece relações com a poesia, a literatura, a música, o tempo e a memória.

A arte tridimensional de André Barion

A NONADA ZS, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, abre “Firulas”, exposição de André Barion, e texto de Pedro Köberle com 14 trabalhos resultantes de análises criteriosas dos últimos 7 anos onde o artista se aprofundou nas possibilidades pictóricas e esculturais dos materiais têxteis, combinando habilidades de costura, pintura e desenho para criar trabalhos verdadeiramente inovadores. Em sua primeira eexibição individual na NONADA,-de 18 de novembro até 27 de janeiro de 2024-, o artista apresenta uma exploração tridimensional de sua pesquisa, revelando um mundo de superfícies estampadas meticulosamente construídas com retalhos de tecidos previamente pintados. Seu processo criativo é caracterizado pelo uso de padrões intrincados, derivados de recortes minuciosos e intervenções pictóricas laboriosas. Esta abordagem cuidadosa é evidente tanto nas obras bidimensionais quanto nas tridimensionais, onde elementos figurativos se entrelaçam com contornos abstratos, desafiando a função meramente decorativa do trabalho.

Entre os trabalhos que compõem “Firulas”, pode-se destacar “Arco com pássaros” (2023), onde imagens de pássaros ganham vida dentro de uma estrutura acolchoada fazendo com que a simplicidade e forma do suporte contraste com a complexidade da superfície, criando uma dinâmica visual intrigante. Já em “Mergulho dos pássaros” (2023), a sobreposição de elementos figurativos e texturas abstratas confere profundidade e perspectiva ao todo, transformando o espaço expositivo em um viveiro de corpos moles, emblemas botânicos e revoadas passeriformes. As cores vibrantes e formas intrigantes de “FIRULAS” convidam a uma experiência sensorial, tátil e ótica.

Sobre o artista

André Barion (São Paulo, SP 1996) – Vive e trabalha em São Paulo. Graduado em Artes Visuais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Sua pesquisa envolve objetos escultóricos, vídeos, instalações e pinturas construídas a partir da costura de tecidos diversos, abordando questões relativas à relação entre o objeto e o espectador, e uma consequente teatralidade nas instalações, bem como quais fatores e atributos de um objeto influenciariam esta relação. O interesse pela tapeçaria nos últimos anos ocasionou em um direcionamento das obras para a relação entre o fetichismo, o desejo, a sedução com a materialidade do objeto artístico. A manipulação de materiais ora nobres ora precários é recorrente nas tapeçarias, instalações, vídeos e nos projetos digitais. Entre as exposições recentes, destacam-se a 33ª Bienal de São Paulo – Afinidades afetivas (2018), em colaboração com o grupo de pesquisa Pineal; 47º e 44º, 43º Salão de Arte de Ribeirão Preto no Museu de Arte de Ribeirão Preto (MARP – 2022, 2019, 2018), 47º Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto (Santo André, SP 2019). Participou das exposições coletivas À Sombra do Comum, com curadoria de José Spaniol e Sérgio Romagnolo (Galeria Andrea Rehder, SP) (2017) e da Imensa preguiça, com curadoria de Guilherme Teixeira (Galeria Sancovsky, SP) (2018). Em 2023 participou das exposições Doispontozero (Galeria C.A.M.A. SP); PAURA na (Era Gallery, Milão, Itália); Delirium Delirium, com curadoria de Ricardo Bezerra (Espaço Delirium, SP).

Todas as Rosas

10/nov

O Farol Santander São Paulo, Centro, São Paulo, SP, inaugurou a exposição “Rosas Brasileiras”, exibição coletiva inédita que celebra a trajetória da rosa como inspiração artística e parte viva do cotidiano social.

Ao todo, estarão dispostas ao público, cerca de 130 obras de arte e mais de mil objetos diversos que trazem a rosa como personagem principal. Obedecendo a curadoria de Giancarlo Latorraca e Paulo von Poser, e produção da AYO Cultural, a mostra permanecerá em cartaz até 18 de fevereiro de 2024.

A Geometria em Rubem Valentim

09/nov

A Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta “Rubem Valentim – Sagrada Geometria”, exposição com curadoria de Max Perlingeiro, e consultoria de Bené Fonteles, artista plástico, poeta e amigo mais próximo de Rubem Valentim, e que o acompanhou por duas décadas, até sua morte.

A exposição celebra este extraordinário artista que fez do sagrado sua vida e obra. São 75 obras, em pinturas e desenhos, e ainda seus “objetos”, com pintura sobre madeira, e um ensaio fotográfico de Christian Cravo, dedicado ao celebrado conjunto com 20 esculturas e 10 relevos brancos chamado “Templo de Oxalá”. Este conjunto, feito por Rubem Valentim em 1974, e pertencente ao Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador, é um dos destaques da 35ª Bienal de São Paulo.

Será exibido, em looping, o vídeo “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria”, feito especialmente para a ocasião, com 28’15 de duração, Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador, é um dos destaques da 35ª Bienal de São Paulo.

Até 16 de dezembro.

Obras de Carlos Cruz-Diez

A Carbono, Jardim Paulistano, São Paulo, SP, apresenta até 22 de dezembro, a exposição “Explorando a cor: uma década de prints e múltiplos de Carlos Cruz-Diez”.

No centro da exposição estão as gravuras de Cruz-Diez, uma seleção de 33 obras que encapsulam de forma brilhante seu fascínio da vida toda pela cor como entidade dinâmica e em constante transformação. Usando técnicas meticulosas como serigrafia, litografia e impressão a laser, Carlos Cruz-Diez transformou o plano bidimensional em um parque de diversões para os sentidos. Cada impressão, como um instrumento afinado, envolve o espectador numa sinfonia visual que dança graciosamente diante de seus olhos, explorando as interações entre as cores de uma forma que desafia e encanta a mente.

Renata Cazzani exibe Pulsações Cromáticas

A artista visual Renata Cazzani, apresenta 20 pinturas inéditas com curadoria de Vanda Klabin até 21 de dezembro na Galeria Patricia Costa. A forma como Renata Cazzani decifra a equação entre medida, geometria e cor é uma característica marcante logo percebida em um primeiro contato visual estabelecido com suas telas abstratas, predominantemente de grandes escalas. No entanto, o olhar mais intimista sobre os planos de dimensões generosas, recortados por barras, permite captar detalhes que conduzem a pinceladas que se alternam entre a explosão e a minúcia presente em pequenos pontos de cor. O espectador será convidado a observar essas questões nas pinturas recentes da artista, produzidas entre 2022 e 2023, agora apresentadas na exposição “Renata Cazzani: Pulsações Cromáticas”, que ocupa a Galeria Patricia Costa, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, a partir do dia 21 de novembro. Com uma trajetória artística iniciada aos 16 anos de idade, Renata Cazzani, que já expôs em Nova Iorque e no Toyota Municipal Museum of Art, no Japão, teve como mestres Celeida Tostes e Angelo Venosa, ao ingressar no Parque Lage nos idos dos anos 1980.

“Costumo pensar as cores dos meus trabalhos dividindo os quadros em linhas, sempre com uma forte influência da natureza sobre minhas escolhas e experimentos; busco inspiração nas tonalidades do mar, das plantas e das flores. Nesta nova série, o colorido se faz bastante presente através de uma gama de azuis, verdes e do bordô com suas derivações – algo pouco usado por mim até então -, além de algumas tintas metalizadas. Entre as minhas 20 telas em acrílica desta individual, que vai apresentar também dípticos, as pinceladas estão ainda mais marcantes e perceptíveis, parte de um processo criativo que já vinha acontecendo e ficou mais pronunciado agora”, explica Renata Cazzani.

A palavra da curadora Vanda Klabin

“As obras recentes de Renata Cazzani ganharam autonomia e configuram uma reflexão contínua, um mundo próprio. A tela esticada sobre o seu suporte concentra a ação da utilização de recursos aparentemente tradicionais – telas, tintas e pincéis. Sua gestualidade está diluída nas pinceladas, mas deixa a marca de sua presença, atenuada nos procedimentos que adota para finalizar o seu processo de trabalho e, por vezes, apresenta traços reconhecíveis pela a aplicação da cor em grandes áreas, onde a artista não demonstra receio pelas cores fortes. Podemos observar como a substância cromática ganha espessura no trabalho no seu processo criativo: experimentar é manter viva a capacidade de ser atual e surpreendente, graças a uma espacialidade aberta e uma liberdade oriundas das suas intensidades cromáticas”.

Sobre a artista

Pode-se dizer que Renata Cazzani “debutou” em sua carreira, começando aos 16 anos na arte figurativa, usando tinta a óleo para reproduzir paisagens e regatas, influência da mãe, também pintora. Anos depois, em 1985, iniciou-se na pintura abstrata, usando colagens e materiais diversos, como jornal e areia aplicados sobre a tela. Foi o ponto onde seus pincéis “abstraíram totalmente”, segundo suas próprias palavras. Chegou a produzir esculturas em bronze em um curso com Hélio Rodrigues. Mas foi em 1988, ao ingressar no Parque Lage no Curso de 3D com Celeida Tostes, Avatar de Moraes, João Goldberg e Angelo Venosa, que travou um embate entre a pintura e as instalações que fervilhavam naquela época. Resolveu, então, trabalhar com objetos que buscava no cotidiano: canos de PVC, tecidos em malha, tapetes emborrachados e vassouras, procurando nas lojas de ferragens o que seria transformado em “readymade art” nas suas mãos. Participou, inclusive, de uma coletiva na EAV/Parque Lage com uma instalação em malha. Já nos anos 2000, voltou a pintar e não parou mais, redescobrindo o prazer em manipular tintas e “assumindo” de vez a paixão que nutre pela pintura até hoje. Os principais suportes usados por Renata Cazzani são telas de chassis em madeira com espessuras diferentes e tinta acrílica sobre tela e sobre papel. Sua primeira individual aconteceu na Galeria Contemporanea, em 1990, com quadros mais matéricos. Posteriormente, realizou outras exposições em galerias, museus e centros culturais igualmente conceituados: Museu Nacional de Belas Artes, Galeria Anita Schwartz, Galeria de Arte Ipanema, Centro Cultural Candido Mendes, no Rio de Janeiro; Mônica Filgueiras Galeria de Arte (São Paulo), para citar alguns. Fora do Brasil, participou de coletivas em Nagoya, Nova Iorque e Londres e também de duas individuais (Toyota e NY).