Gonçalo Ivo em Balneário Camboriú

18/out

A exposição individual de pinturas de Gonçalo Ivo, “Imagem do Tempo”, inicia – até 21 de outubro – suas últimas exibições na Simões de Assis, Balneário Camboriú, SC. Vale o registro.

A exposição “Imagem do Tempo” apresenta diferentes conjuntos de trabalhos do artista, reunindo as principais dimensões da sua produção recente. Entre as pinturas mais atuais estão as Cosmogonias – série que teve início logo antes da pandemia e que continua se manifestando em composições estelares e siderais, como órbitas e planetas imaginados que engendram seu próprio universo particular. Mas há também séries como “O Jogo das Contas de Vidro”, que empresta seu título do romance homônimo de Herman Hesse – uma história que se passa em um período indefinido, muitos séculos no futuro. De um lado, há exemplos de obras como “Rio São Francisco”, que alude a um dos mais importantes cursos de água doce do território brasileiro, parte de um conjunto de trabalhos que reverenciam fluxos geográficos e marcadores culturais de diferentes lugares (nesse mesmo corpo está a série “Tissue d’Afrique”, por exemplo). Junto delas há as pinturas intituladas “Navegantes”, que não só remetem à água, mas aos corpos que nela velejam, contando histórias de travessias e percursos míticos e místicos…Assim, para Gonçalo Ivo, a pintura em tela, papel, tecido ou sobre objetos de madeira é a linguagem mais pura e poderosa para se comunicar. A tinta óleo, a têmpera e a aquarela são seus meios escolhidos; o cosmos, a música, a natureza, a história e a cultura são seus temas. Mas, em verdade, sua obra é capaz de transcender até mesmo essas categorias tão vastas e elusivas: seus trabalhos são o próprio tempo das coisas de um mundo que um dia existiu, que existe hoje e que um dia virá a existir.

Julia Lima

Palestra de Daniela Name

A crítica de arte e pesquisadora Daniela Name falará no dia 24 de outubro, às 18h, sobre as obras da artista Amelia Toledo (1926-2017) expostas em “O rio (e o voo) de Amelia no Rio”, na Nara Roesler Rio de Janeiro, que foi prorrogada até 04 de novembro.

Daniela Name foi curadora, juntamente com Marcus de Lontra Costa, da exposição “Forma fluida”, primeira grande mostra panorâmica dedicada à obra de Amelia Toledo no Rio de Janeiro, realizada no Paço Imperial, de 17 de dezembro de 2014 a 1º de março de 2015.

Com mais de 50 obras – entre pinturas, esculturas, objetos, aquarelas, serigrafias e desenhos – “O rio (e o voo) de Amelia no Rio”, na Nara Roesler, ilumina o período frutífero e experimental da produção da artista quando viveu no Rio, nos anos 1970 e 1980, que marcou sua trajetória, reverberando em trabalhos posteriores.

Além de obras icônicas, como o livro-objeto “Divino Maravilhoso – Para Caetano Veloso” (1971), dedicado ao cantor e compositor, ou trabalhos que estiveram em sua impactante individual “Emergências”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1976, a exposição na Nara Roesler Rio de Janeiro traz pinturas e aquarelas inéditas, em que o público pode apreciar sua experiência com a luz, e a incorporação em seu trabalho de materiais como pedras, conchas marinhas e cristais.

35 anos da Mão Afro-Brasileira no MAM SP

17/out

Poderá ser vista até 03 de março de 2024 no MAM SP, Parque do Ibirapuera, sob curadoria de Claudinei Roberto da Silv, a exposição comemorativa “Mãos: 35 anos da Mão Afro-Brasileira” que reúne cerca de quarenta e cinco artistas e em homenagem a Emanoel Araúko, artista criador do Museu Afro-Brasil.

A palavra do curador.

Em 1988, celebrou-se entre nós o centenário da Abolição da Escravidão, e várias iniciativas, de caráter público ou privado, foram promovidas para festejar a efeméride. O mesmo ano via surgir a nova carta magna da República, a Constituição que ampliava ou instituía direitos até então recusados a mulheres, negros, negras e originários. A celebração também deu ensejo a protestos daqueles que, justamente, entendiam ser pífios os avanços do combate às desigualdades de raça, gênero e classe, profunda e historicamente arraigadas na sociedade brasileira.

Nessa ocasião, tanto a exposição A Mão Afro-Brasileira – Significado da contribuição artística e histórica, organizada por Emanoel Araujo e realizada no MAM, quanto a nova Constituição foram resultados da luta obstinada daqueles que entendiam a necessidade de construir uma sociedade que, por ser justa e igualitária, seria também mais comprometida com a democracia.

O lapso de tempo que separa a exposição de 1988 desta, Mãos: 35 anos da Mão Afro-Brasileira, foi repleto de acontecimentos historicamente significativos, que acabaram por confirmar a relevância das instituições culturais do país, pois afirmam, igualmente, a importância central que a educação (formal e não formal) ocupa no combate às mazelas que secularmente nos assombram. Entre elas, o racismo estrutural que, apesar dos avanços que paulatina e lentamente vão sendo feitos, permanece, infelizmente, como característica comum ao cotidiano de milhões de afrodescendentes que são por ele infelicitados.

Entre as importantes conquistas observadas está, justamente, o debate sobre a constituição dos acervos dos nossos museus e sobre como eles espelham, ou não, a diversidade étnica, de gênero e classe da população do país. No momento em que se estabelece o necessário e profícuo debate sobre a relevância e circulação da produção intelectual e artística de minorias secularmente excluídas, convém lembrar a importância pioneira da mostra de 1988.

A exposição Mãos acaba por celebrar a memória de Emanoel Araujo – criador do Museu Afro Brasil, que hoje recebe seu nome -, um polímata que, falecido há um ano, no dia 7 de setembro de 2022, catalisou, a partir da sua pioneira e corajosa atuação, a vontade de todos os que desejam a promoção da cultura afro-diaspórica, por entendê-la parte valiosa e inextrincável de um patrimônio que pertence a toda a humanidade.

Claudinei Roberto da Silva

curador

Artistas participantes: MAM São Paulo (Sala Paulo Figueiredo)

Agnaldo Manuel dos Santos, Aline Bispo, Almandrade, André Ricardo, Arthur Timótheo da Costa, Betto Souza, Claudio Cupertino, Cosme Martins, Denis Moreira, Diogo Nógue, Edival Ramosa, Edu Silva, Emanoel Araujo, Emaye – Natalia Marques, Eneida Sanches, Estevão Roberto da Silva, Flávia Santos, Genilson Soares, Heitor dos Prazeres, João Timótheo da Costa, Jorge dos Anjos, José Adário dos Santos, Leandro Mendes, Luiz 83, Maria Lídia Magliani, Maurino de Araújo, May Agontinmé, Mestre Didi, Néia Martins, Nivaldo Carmo, Otávio Araújo, Paulo Nazareth, Peter de Brito, Rebeca Carapiá, Rommulo Vieira Conceição, Rosana Paulino, Rubem Valentim, Sérgio Adriano H, Sidney Amaral, Sonia Gomes, Taygoara Schiavinoto, Wilson Tibério e Yêdamaria.

A Cor e o Tempo em Sergio Lucena

11/out

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, com apoio da Simões de Assis, inaugurou uma grande mostra individual do artista Sergio Lucena. Com curadoria de Claudinei Roberto, “Na Raiz do Tempo, a Matriz da Cor” traz mais de 70 obras do artista paraibano, realizadas ao longo de seus mais de 40 anos de carreira.

Com séries antigas como os “Deuses”, e conjuntos inéditos como a série “Platibandas”, a exposição revela a vitalidade da linguagem da pintura que se verifica nos processos articulados pelo artista, que resultam em uma obra de alta voltagem poética e simbólica.

O projeto reúne de maneira ímpar referências à religiosidade de matriz africana, ao sincretismo caboclo, à arquitetura vernacular nordestina, às encruzilhadas e aos encontros. Essa síntese, apresentada nas pinturas, sugere uma narrativa em que convivem harmoniosa e poderosamente aquilo que convencionalmente chamamos de “arte erudita” e “arte popular”.

A mostra ficará em cartaz até fevereiro de 2024.

Arte Brasileira na Casa Fiat

Esta é a primeira vez que uma mostra de tamanha robustez é montada em Belo Horizonte, MG, fora do Museu de Arte da Pampulha (MAP) – algumas obras, inclusive, jamais foram vistas que não na icônica construção encravada às margens da Lagoa da Pampulha, pensada originalmente para abrigar um cassino aberto ao público. A exposição “Arte Brasileira” está organizada em seis núcleos inter-relacionados: Conjunto Moderno da Pampulha, Os Modernos, Pampulha Espiralar: Um Lar, Um Altar, Nossos Parentes: Água, Terra, Fogo e Ar, O Menino Que Vê o Presépio e Novos Bustos. Obras de Cândido Portinari, Guignard, Di Cavalcanti, Burle Marx, Mary Vieira, Oswaldo Goeldi, Antônio Poteiro, Yara Tupynambá, Cildo Meireles, Jorge dos Anjos, Vik Muniz, Nydia Negromonte, Froiid, Wilma Martins, José Bento, Eustáquio Neves e Luana Vitra, entre outros, são artistas de diferentes gerações e movimentos que agora se reúnem na exposição “Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura”, inaugurada em Belo Horizonte.

No terceiro e extenso andar da Casa Fiat de Cultura, cerca de 200 obras, entre gravuras, pinturas, fotografias, esculturas e cerâmicas, nunca antes expostas em conjunto, fazem um importante passeio pela produção artística brasileira dos séculos XX e XXI, ressaltando os principais deslocamentos da arte contemporânea do país. Ali, estão nomes que contribuíram para elevar não só o pensamento estético, mas também uma criação que lançou olhares inovadores e utópicos sobre o Brasil, a partir de uma elaboração da releitura de uma identidade nacional proposta pelo modernismo.

As obras expostas na Casa Fiat evidenciam, também, a característica vanguardista do MAP, como sublinha o curador do Museu de Arte do Rio (MAR), Marcelo Campos, que assina a curadoria ao lado de Priscila Freire, ex-diretora do museu, inaugurado em 1957: “Na arte brasileira, a palavra vanguarda foi inaugurada no modernismo e acompanha essa coleção do MAP, que sempre se mostrou com muita coragem ao constituir seu múltiplo acervo”.

Priscila Freire, que esteve à frente do MAP durante 14 anos, diz que pode contar um pouco dessa história por meio da exposição. “Indiquei obras que considero interessantes da coleção de um museu que passou pelo moderno, pós-moderno e contemporâneo sendo sempre contemporâneo”, comenta.

Fruto da parceria entre a Casa Fiat de Cultura e prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Fundação Municipal de Cultura, “Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura” fica aberta ao público até fevereiro do ano que vem e é parte das celebrações dos 80 anos do Conjunto Moderno da Pampulha, eleito Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

Para a secretária de Cultura de Belo Horizonte, Eliane Parreiras, “a exposição é um marco para a história do MAP, abre portas para pesquisas futuras e olhares que até então não tinham sido feitos sobre o acervo e a instituiçao”. Por sua vez, o presidente da Casa Fiat, Massimo Cavallo enfatiza o aspecto ousado, grandioso e inovador da mostra, “que desvela novos ângulos que habitam esse Patrimônio Cultural da Humanidade, nutrindo vínculos de pertencimento e identidades”.

Vocação contemporânea

“Arte Brasileira” dialoga com as indagações que permeiam o que há de mais atual nos debates sociais e com a literatura de Conceição Evaristo, Ailton Krenak e Leda Maria Martins, homenageados e retratados no núcleo Novos Bustos. Muito antes de termos como decolonial ou pós-colonial se popularizarem no nosso vocabulário, as obras que serão vistas na mostra já traziam questionamentos que hoje encontram o pensamento contemporâneo. Quando Marcelo Campos e Priscila Freire propuseram que a exposição revelasse tal traço, perceberam que a coleção do MAP respondia a esse anseio e unia o que é considerado erudito, popular e contemporâneo.

“Só um acervo de vanguarda poderia nos dar insumos e elementos para constituir uma exposição com quantidade de arte popular que temos, com artistas negros e negras e também com muitas mulheres fundamentais para a arte brasileira. A exposição explicita isso, mas também busca renovar a leitura. Muitas obras aqui pertencem ao acervo, mas nunca tinham sido expostas. Isso é fundamental”, explica Campos.

Os quadros “Os acrobatas” (1958), de Candido Portinari, e “Espaço (da série Luz Negra)”, de Jorge dos Anjos, são dois destaques da exposição. “No Portinari é bonito porque a gente vê um artista modernista observando a cultura popular. Uma das utopias modernistas foi pensar uma sociedade mais justa, igualitária, com os ideais humanistas presentes. A grandeza de Portinari foi alertar para um Brasil que tinha na população suas riquezas culturais”, ressalta o curador.

Sobre Jorge dos Anjos, que tem outras duas obras expostas na Casa Fiat, Marcelo Campos salienta que o ouro-pretano ampliou tradições e “é um artista negro que olha para o seu tempo e, por outro lado, não esquece as discussões ancestrais”.

Entre as obras inéditas, vêm à tona o conjunto de pinturas populares e o presépio pertencente ao núcleo O Menino Que Vê o Presépio, montado em uma das pontas do terceiro andar da Casa Fiat. Exibido pela primeira vez ao público, a obra, inspirada em um conto de Conceição Evaristo, tem cerca de 300 peças e é composta por esculturas em cerâmicas originárias do Vale do Jequitinhonha, com autoria de Cléria Eneida Ferraz Santos e Mira Botelho do Vale.

“Esse é outro grande destaque, vamos colocar isso dentro de uma exposição que, em tese, seria de arte moderna e contemporânea. Esse gesto reforça a ideia de vanguarda do acervo do MAP”, afirma Marcelo Campos. Outra novidade fica por conta do restauro de duas obras: “Estandartes de Minas” (1974), de Yara Tupynambá, e “Tempos Modernos” (1961), de Di Cavalcanti, que se juntarão à mostra.

“Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura” joga luz na potência cromática da arte brasileira e faz as pazes com a diversidade e a força das cores, tão rechaçadas e inferiorizadas por uma leitura antiquada e elitista. Com a mostra, atual e tropicalista, o curador diz que esse trauma pode ser superado: “A cor é uma conquista, horizontaliza a arte”.

Programação paralela

No dia 29 de outubro, às 11h, o Encontros com o Patrimônio convida a diretora de museus da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, Janaina Melo, para o bate-papo “Museu de Arte da Pampulha (MAP): Um Museu e Suas Histórias”. O evento é virtual e gratuito, com inscrição pela Sympla. Já no dia 07 de novembro, às 19h30, a Casa Fiat de Cultura realiza um bate-papo presencial com os curadores Marcelo Campos e Priscila Freire.

A exposição “Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura” fica aberta ao público, na Casa Fiat de Cultura (Praça da Liberdade, 10 – Funcionários), até 04 de fevereiro de 2024.

Os encantados da Amazônia

Obra de Anderson Pereira integra por meio dos objetos em forma de altar em conexão com a dimensão espiritual o projeto premiado por meio do “Edital Prêmio FCP de Incentivo à Arte e à Cultura – 2023, da Fundação Cultural do Estado do Pará (FCP). Conta com o apoio do Centro Cultural João Fona, da Prefeitura de Santarém. Na cena, terá um dos quadros pintados pelo artista, que desponta como revelação paraense no seguimento de artes visuais, e ainda vários elementos representativos do cotidiano das pessoas.

“A utilização de cores vibrantes e simbologia específica vai enriquecer ainda mais a narrativa da obra, proporcionando uma imersão na diversidade e profundidade dessas tradições. Quem for ver a instalação vai poder observar as representações artísticas dos encantados em harmonia com a fauna e flora amazônicas, destacando a fragilidade desses ecossistemas diante das mudanças climáticas”, disse.

Encantados

Os encantados da Amazônia são seres míticos e espirituais, frequentemente presentes nas tradições folclóricas e culturais das comunidades amazônicas. Essas entidades são consideradas guardiãs da floresta e seus habitantes, representando uma conexão profunda entre a natureza e as crenças locais. Os encantados podem assumir diversas formas, muitas vezes associadas a animais da região, como botos, cobras, curupiras ou outros seres da floresta. A ligação entre as crenças dos encantados da Amazônia e as concepções afro religiosas, como o Candomblé ou a Umbanda, é muitas vezes uma expressão da riqueza da diversidade cultural e espiritual no Brasil, especialmente nas regiões amazônicas. De acordo com o produtor executivo, Mayco Chaves, que ajudou na pesquisa para o projeto.

“Eles são vistos como seres benevolentes, mas também demandam respeito e reverência. As lendas dos encantados são passadas de geração em geração, contribuindo para a rica tapeçaria cultural da Amazônia”, afirma.

Anderson Pereira destaca que o tema escolhido fala das espiritualidades na região, nos quais elementos das tradições indígenas da Amazônia e das práticas afro-brasileiras se entrelaçam. “Por exemplo, algumas entidades cultuadas nas religiões afro-brasileiras podem ser associadas ou adaptadas para incorporar características dos encantados da Amazônia. Essas relações são formas que enriquecem as identidades culturais amazônicas”, disse.

Coleção Andrea e José Olympio Pereira

10/out

Um recorte surpreendente da coleção Andrea e José Olympio Pereira, uma das mais importantes do mundo, tomará o espaço expositivo do Palácio Anchieta a partir de 17 de outubro. A mostra, com o patrocínio do Instituto Cultural Vale, traz obras que têm a natureza como potência criativa, em diálogo com o registro dos povos originários, afrodescendentes e da dita tradição popular. Sob o arguto olhar da curadora Vanda Klabin, a exposição “De onde surgem os sonhos | Coleção Andrea e José Olympio Pereira” oferece um excelente momento de reflexão sobre os rumos da arte que trabalha as raízes mais fundas da ancestralidade brasileira. Mostra inédita de arte contemporânea, da coleção Andrea e José Olympio Pereira, no Palácio Anchieta, em Vitória (ES). Com patrocínio do Instituto Cultural Vale, a exposição é a terceira lançada este ano pelo Museu Vale, como parte de suas ações extramuros, e marca os 25 anos de trajetória da instituição.

“De onde surgem os sonhos” tem título inspirado na obra de mesmo nome do artista macuxi Jaider Esbell, ativista dos direitos indígenas, falecido em dezembro de 2021. A mostra conta com 72 obras, de 50 artistas, da que é considerada uma das maiores coleções de arte contemporânea do Brasil e está entre as 200 maiores do mundo. Nesta seleção dividida em sete salas, obras de artistas como Adriana Varejão, Cildo Meirelles, Ana Maria Maiolino, Cláudia Andujar, Franz Krajcberg, Waltercio Caldas e José Damasceno, por exemplo, dialogam com os trabalhos dos artistas mais recentes.

Sobre a Coleção Andrea e José Olympio Pereira

Famosa no mundo inteiro, a coleção de Andrea e José Olympio Pereira tem foco na produção brasileira a partir dos anos 1940 até o momento atual e reúne algo em torno de 2,5 mil obras. Em 2018, o casal inaugurou o Galpão da Lapa, antigo armazém de café do século XIX, e o converteu em um espaço expositivo que recebe, a cada dois anos, um curador diferente para criar novas exposições a partir das obras de sua coleção. “Quando nos interessamos por um artista, gostamos de ter profundidade”, explica Andrea. “Conseguimos entender melhor o artista desta forma, pois um único trabalho não mostra tudo. É como se fosse um livro cuja história seria impossível de ser compreendida só com uma página”, compara.

De 17 de outubro de 2023 a 28 de janeiro de 2024.

Esculturas de Ascânio MMM em retrospectiva

A exposição “Ascânio MMM: Torções” no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MuBE), Jardim Europa, São Paulo, SP, apresenta uma retrospectiva da carreira de 60 anos do escultor Ascânio MMM. A mostra, organizada por Francesco Perrota-Bosch, reúne 55 esculturas e instalações, 22 maquetes, 12 desenhos, além de fotos antigas e documentos do artista, que é reconhecido como um expoente da abstração geométrica na América Latina.

O conceito central da exposição gira em torno da ideia de “torção”, que se relaciona com a maneira como Ascânio combina módulos, como ripas de madeira ou pequenos blocos retangulares, para criar esculturas que parecem se retorcer sobre si mesmas, criando uma sensação de movimento e dança. Essas obras demonstram a fusão entre precisão matemática e estética, refletindo sua formação dupla em Artes plásticas e Arquitetura.

A exposição está dividida em duas partes: a primeira apresenta esculturas monocromáticas em madeira pintada de branco, que datam do final dos anos 1960 até o início do século 21. A segunda parte exibe obras das últimas duas décadas, nas quais o artista começou a utilizar o alumínio como base para suas criações.

Além das esculturas, a exposição destaca uma cortina de metal formada por pequenos quadrados vazados, que remete à influência de Hélio Oiticica, com quem Ascânio conviveu nos anos 1960. Também são mencionados outros artistas que influenciaram sua obra, como Franz Weissmann e Alexander Calder, conhecidos por suas esculturas geométricas e móbiles. Uma obra de destaque é Escultura 2, que recebeu o prêmio do Panorama da Arte Brasileira de 1972. A exposição também inclui esculturas instaladas na área externa do museu, criadas a partir das esculturas públicas de Ascânio no Rio de Janeiro, que contrastam com a arquitetura do MuBE e convidam os espectadores a interagir com elas de diferentes ângulos.

Até 26 de novembro.

Novo artista representado

A Simões de Assis, São Paulo, SP, tem a alegria e o prazer de anunciar a representação de Flávio Cerqueira (São Paulo, 1983). O artista explora a construção de narrativas a partir de figuras humanas em bronze, evocando questões importantes de classe, identidade e raça. A partir de suas esculturas, Flávio Cerqueira é capaz de cristalizar o instante e o fragmento de uma ação, tornando desse modo o espectador um coautor na produção de significados da obra.

Seu trabalho faz parte de relevantes coleções particulares e figura no acervo de importantes instituições, como: Instituto Inhotim, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Pinacoteca do Estado de São Paulo, Universidade de Missouri Kansas City (UMKC); Museu Afro Brasil, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) e Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), entre outros.

Impressão em madeira

09/out

A xilogravura de Fernando Mendonça, exposta na Galeria Paulo Fernandes de São José do Barreiro até 29 de novembro, é resultado de um olhar atento ao mundo da arte e ao mundo das coisas. A mostra, que privilegia a exibição das matrizes, reúne dezenas de entalhes em madeira produzidos pelo artista em mais de vinte anos e que pertencem a diferentes colecionadores. Mais do que uma antologia, a montagem pretende compor um grande corpo expressivo, marcado por um profundo interesse em trazer à tona cenas invisibilizadas, que passam despercebidas no cotidiano massacrante das grandes cidades, e por uma busca incessante pela revalorização de técnicas e materiais considerados de menor importância na cultura contemporânea. O reaproveitamento de elementos de refugo e a atenção em construir imagens apenas aparentemente banais criam um terreno fértil para o desenvolvimento de projetos que envolvem também a comunidade do entorno, com a realização de oficinas e aulas práticas nas escolas da região.

Maranhense radicado no Rio há 40 anos, Fernando Mendonça é um artista multifacetado. Trabalha a pintura, o desenho, a impressão em madeira e também desenvolve uma série de atividades relacionadas à arte-educação e movimentos de cultura popular. “Sou um fazedor de coisas”, explica. A xilogravura entra relativamente tarde em sua produção, em 2000, e já recebe no mesmo ano uma premiação no Arte Pará. E foi se impondo como linguagem, permitindo uma conexão entre diferentes aspectos de sua obra, que privilegia a observação e a busca de fazer arte a partir daquilo que é precário e popular, numa evidente conexão com a literatura de cordel, com o expressionismo e, mais especificamente, com a gravura de mestres brasileiros como Goeldi.

A simplicidade, o gesto rápido e a potência do desenho que o artista extrai das tábuas que coleta nas ruas ou nas feiras traduzem um treino permanente em captar num instante a passagem do tempo. “Tem tanta coisa onde você acha que não tem coisa nenhuma”, diz ele, que atribui o exercício de observação a partir do desenho às lições de Rubens Gerchman, cujas oficinas frequentou ainda jovem, em São Luís. Gerchman pedia aos alunos que desenhassem um bloco por dia, como um diário de bordo. Mendonça conta que, para conseguir papel suficiente, precisou recorrer a um vendedor de papel a quilo, para reciclagem, usando o verso das bobinas para esse treino.

Em seus trabalhos descobrimos cenas que poderiam passar despercebidas: deslocamentos urbanos, enchentes, festas populares, encontros amorosos, fachadas de casarios e partidas de futebol, nas quais um defeito na madeira é transformado em bola. Como descreveu Ronaldo Brito no catálogo da exposição realizada em 2004 que apresentou a obra de Mendonça ao público carioca, “tudo aqui exprime movimento, a começar por essas tábuas finas e compridas, que repetem instintivamente a forma nas ruas”.

A exposição de São José do Barreiro, bem como a anterior, realizada na Galeria de Paulo Fernandes no Centro do Rio, privilegiaram os entalhes, em detrimento das impressões derivadas dessas matrizes. Em parte, porque essa opção evidencia a íntima relação entre aquilo que é sugerido pelos veios da madeira e o desenho que Mendonça extrai da peça durante o entalhe, num movimento orgânico. E em parte porque a exibição desses baixos-relevos ilumina a intenção clara, quase política, adotada pelo artista de valorizar materiais básicos, elementares, e prenhes de significado.

Uma arte que reflete intensamente o movimento de resistência simbolizado pelos terrenos quilombolas em que sempre viveu, seja no Bairro da Liberdade, em São Luís, onde passou a infância e juventude, seja na Gamboa, região conhecida como a Pequena África no Centro do Rio de Janeiro, onde vive no momento.

Há algo mágico nesse resgate. “Ali viveu uma árvore, talvez seja uma forma de dar-lhe uma sobrevida”, confessa. “Você passa por louco”, brinca, complementando que se sente fascinado com esse aspecto primordial do trabalho em madeira, que remete às primeiras expressões do homem. E relembra como essa recuperação daquilo que é enjeitado pela sociedade de consumo marca profundamente a arte brasileira, estando na base da produção de mestres como Castagneto, Farnese e Krajcberg. Um resgate que pode ser profundamente inspirador para os jovens a quem oferece suas oficinas, não apenas ensinando técnicas de impressão e artesania, mas garantindo um espaço de livre expressão e de ampliação da percepção e sensibilidade. Algo como “dar uma bola e tomar o celular”, brinca.

Maria Hirszman