A primeira exposição individual de Cipriano.

01/nov

A NONADA SP inaugurou a primeira exposição individual do artista Cipriano, intitulada “Saravá o Invisível”. Com curadoria de Paulo Azeco e texto crítico da curadora angolana Paula Nascimento, a mostra reúne trabalhos inéditos que exploram a relação entre memória, espiritualidade e materialidade, utilizando elementos como algodão, carvão e pemba. As obras de Cipriano evocam gestos ritualísticos que dialogam com sua trajetória pessoal e sua vivência no terreiro, abrindo uma reflexão sobre o passado e o presente, tanto em suas dimensões pessoais quanto coletivas. A mostra aborda memória, espiritualidade e ressignificação cultural.

Paula Nascimento, angolana, pesquisadora, curadora e arquiteta, ganhadora do Leão de Ouro da Bienal de Veneza em 2013, destaca no texto crítico o caráter performático das pinturas de Cipriano, onde os processos de repetição e sobreposição criam uma narrativa visual rica em significados. Através de suas composições, o artista explora o legado do tráfico transatlântico, a interligação entre culturas materiais e as tecnologias de resistência e cura. “Saravá o Invisível” é uma ode à continuidade da vida, aproximando o visível e o invisível, o pessoal e o coletivo, em uma reflexão sobre as experiências partilhadas e universais.

Sobre o artista

Cipriano, nascido em Petrópolis, RJ, é artista, escritor e pesquisador, com foco na africanidade. Sua obra, presente em diversas exposições individuais e coletivas, é marcada por um profundo diálogo com o espectador, ressignificando símbolos e tradições culturais. Esta é sua primeira exposição individual consolidando seu papel como uma voz emergente no cenário artístico contemporâneo.

Até 25 de janeiro de 2025.

Exposição coletiva na Sala Antonio Berni.

O Consulado da República Argentina, Botafogo, no Rio de Janeiro encerra a programação de 2024 com a mostra coletiva “Giro Abissal” composta por 27 artistas mostrando em suas visualidades dois termos decoloniais importantes: giro decolonial e linha abissal. A junção das primeiras palavras deu origem ao título da exposição que será inaugurada no dia 06 de novembro, na Sala Antonio Berni, sob curadoria de Aline Reis. Os conceitos remontam aos filósofos Maldonado-Torres e Frantz Fanon. A decolonialidade impactou tanto nossas apreensões históricas ao longo da década, que tivemos que operar um giro sobre a realidade que ainda persiste na linha abissal que separa o Norte e o Sul Global. O termo América Latina também sofreu esse giro quando pensamos que todo um continente teria sido descoberto e o seu nome vinculado ao descobridor, quando aqui e em toda a extensão das Américas já existiam os povos originários.

A palavra de Aline Reis

“Na arte poderíamos assinalar que o imaginário europeu ainda persiste, embora os artistas tenham rompido com a exclusividade de uma única história”.

“Mesmo encharcados pela ontologia e epistemologia europeias e compreendendo que a Arte Contemporânea se mantém próxima aos desdobramentos teórico-visuais da Europa e dos Estados Unidos da América, vimos irromper com toda a força no circuito de arte brasileiro, nessas primeiras décadas do século XXI, o paradigma decolonial”.

Artistas participantes

Adriana Nataloni, Ana Luiza Mello, Bernardo de Sá Earp, Beth Ferrante, Carlomagno, Daniela Castillo, Dulce Lysyj, Emília de Gaia, Gaby Aragão, Gerson Pinheiro, Gerson Seddon, Jaquesze, Lina Zaldo, Lu Lessa Ventarola, Marcelo Palmar Rezende, Mariana Maia, Marqo Rocha, Nando Paulino, Osvaldo Gaia, Pablo Curutchet, Regina Pouchain, Robson Macedo, Selma Jacob, Silvia Lima, Sonia Wysard, Vanessa Rocha,  Verônica Camisão.

Até 06 de dezembro.

Issa Watanabe no Instituto Cervantes.

 

Ocupando lugar de destaque entre os artistas gráficos latino-americanos contemporâneos, a ilustradora Issa Watanabe apresentará, a partir do dia 07 de novembro, na sede do Instituto Cervantes, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, cerca de 30 trabalhos em sua exposição individual “Migrantes” encerrando a agenda de exposições deste ano. A inauguração contará com a presença do cônsul do Peru e do diretor do Instituto Cervantes, José Vicente Ballester Monferrer. Exibida em Cádiz por ocasião do IX Congresso Internacional da Língua Espanhola, e nos Institutos Cervantes de Roma, Salvador e Brasília, a mostra reúne um recorte das séries “Migrantes” e “Kintsugi”, composições produzidas entre 2019/2023 utilizando a técnica de lápis de cor sobre fundo digital, e tem curadoria de Alonso Ruiz Rosas. O conjunto permite apreciar a consistência de uma aposta que, à sua maneira, também consegue transmitir a façanha do sopro épico ao lirismo da intimidade reconstruída. “Migrantes” tem classificação livre e poderá ser visitada gratuitamente até o início de janeiro de 2025.

A palavra da artista

“Concluí meu primeiro desenho depois de assistir a uma série do fotógrafo Magnus Wenman, na qual retratava crianças sírias dormindo em acampamentos improvisados no meio da floresta. O olhar das crianças não era apenas profundamente triste, mas refletia, sobretudo, o terror que sentiam. Perderam suas casas, experimentaram as atrocidades da guerra, da pobreza extrema; vivenciaram o sofrimento pela perda dos pais ou irmãos de forma tão violenta e não há conforto. O que posso fazer senão desenhar? Pelo menos tentar, através de um desenho, chegar àquela floresta?”.

“Uma ilustração me levou à seguinte e assim, aos poucos, sem ter planejado, fui seguindo um caminho. Um caminho que me levou quase dois anos, porque por mais que avançasse, a jornada não terminava”.

Sobre a artista

Nascida em Lima, em 1980, Issa Watanabe é uma das ilustradoras ibero-americanas mais reconhecidas dos últimos anos. Seu livro “Migrantes” (2019), publicado na Espanha e em dezoito países incluindo o Brasil pela Solisluna Editora. A artista recebeu importantes distinções, como o Prêmio Libreter (Barcelona, 2020) e o Grande Prêmio BIBF Ananas (Pequim, 2021). Seu mais recente livro, “Kintsugi” (2023), ganhou o Prêmio BolognaRagazzi 2024. O percurso da artista é em grande parte autodidata: começou a estudar Literatura na Pontifícia Universidade Católica do Peru, depois viveu em Maiorca, onde frequentou alguns cursos de artes e, em 2013 retornou à capital peruana para se dedicar integralmente ao seu trabalho criativo.

Até 07 de janeiro de 2025.

A poética de Tunga – uma introdução.

31/out

Em celebração aos 10 anos do Centro Cultural Instituto Ling, Três Figueiras, Porto Alegre, RS, será exibida a exposição “A poética de Tunga – uma introdução”, com curadoria de Paulo Sergio Duarte. A mostra apresenta uma seleção de 64 obras de diferentes fases, sendo 43 inéditas, expondo temas e conceitos que atravessam toda a poética do artista. Esta é a primeira exposição individual de Tunga na cidade de Porto Alegre, considerado uma das figuras mais emblemáticas da cena artística nacional.

A abertura, no dia 05 de novembro, terça-feira, às 19h, terá um bate-papo com Antônio Mourão, filho de Tunga e cofundador do Instituto Tunga ao lado de Clara Gerchmann, gestora do acervo. O encontro será no auditório do Instituto Ling, com entrada franca. Para participar, basta fazer a inscrição prévia pelo site.

A mostra fica em cartaz até 08 de março de 2025, com visitas livres e a possibilidade de visitas com mediação para grupos, mediante agendamento prévio e sem custo pelo site do Instituto Ling.

Giros e afetos por vinte artistas.

A galeria Nara Roesler São Paulo apresenta, a partir de 31 de outubro, a exposição “Giros e Afetos, Arte Brasileira 1983-1995”, com aproximadamente 40 obras criadas neste período por 20 artistas: Amelia Toledo, Angelo Venosa, Antonio Dias, Brígida Baltar, Cao Guimarães, Carlito Carvalhosa, Carlos Zílio, Cristina Canale, Daniel Senise, Fabio Miguez, José Cláudio, Karin Lambrecht, Leda Catunda, Leonilson, Marcos Chaves, Paulo Bruscky, Rodrigo Andrade, Sérgio Sister, Tomie Ohtake e Vik Muniz.

As obras foram selecionadas por Luis Pérez-Oramas e o núcleo curatorial da Nara Roesler, e têm diferentes tamanhos, técnicas e pesquisas, em pinturas, aquarelas, desenhos, esculturas e bordados, que mostram que “…entre voltas e afetos, ainda que compartilhando o mesmo momento histórico, e, embora aparentemente semelhantes, os artistas e suas obras são únicos e irrepetíveis, e cada um deles inaugura uma temporalidade específica”.

Para os curadores, “…em sua tentativa ilusória de se tornar científica, a história da arte esquece que, durante séculos, suas realizações foram reguladas, explicadas e sustentadas por uma teoria dos afetos, também chamada de teoria das paixões”. No percurso proposto, o público poderá ver o que aproxima e o que distancia esses trabalhos.

Até 18 de janeiro de 2025.

Grafismos e símbolos de Thiago Barbalho.

Nara Roesler São Paulo apresentar a exposição “Thiago Barbalho – Segredos e feitiços”, primeira individual do artista na cidade. Thiago Barbalho migrou da literatura e dos zines para elaborados e intrincados desenhos coloridos, repletos de grafismos e símbolos. O artista nasceu em Natal, em 1984, e hoje se divide entre São Roque e a capital paulista.

A mostra terá aproximadamente 40 obras produzidas este ano, como o grande desenho “A torta perfeita”, com mais de dois metros de altura, além de desenhos em médio e pequeno formato – nos quais usa lápis de cor, pastel, canetas e marcadores, tinta acrílica e a óleo -, e esculturas, feitas em materiais diversos como impressão 3D, resina e fibra de vidro, acrílico, tecido e pintura automotiva.

A exposição traz ainda trabalhos realizados pelo artista com elementos característicos da cultura de Jardim do Seridó, no interior do Rio Grande do Norte, terra natal de sua mãe, como pinturas rupestres presentes, a paisagem semiárida e técnicas de produção têxtil artesanal. Um dos exemplos é a tapeçaria “Futuro”, desenvolvida em conjunto com o coletivo Flor de Kantuta, composto por mulheres tecelãs bolivianas radicadas em São Paulo. “Quis reunir variadas referências, desde os açudes e rios da nossa terra, até o artesanato potiguar, com suas tapeçarias e colchas. Mas quis fugir dos clichês associados à arte nordestina em geral”, diz Thiago Barbalho.

Entre 16 de julho e 29 de setembro de 2024, a curadora Catarina Duncan e o artista Thiago Barbalho estabeleceram uma troca de e-mails como método de acompanhamento investigativo e interlocução em torno da obra do artista. A conversa atravessa a prática artística de Thiago Barbalho, o desenvolvimento da exposição e ao mesmo tempo abre espaço para divagações e relatos pessoais entre notícias da atualidade, sonhos e referências de pesquisa. A correspondência foi impressa e estará disponível na exposição.

As reflexões de Geórgia Kyriakakis.

A Galeria Raquel Arnaud exibe o projeto “Os ventos do norte não movem moinhos” da artista Geórgia Kyriakakis. Com texto crítico de Paula Borghi, a mostra traz obras que suscitam reflexões sobre a cultura, a história e a herança social do processo colonizador na América Latina. Inspirada pela canção “Sangue Latino”, composta em 1973 por Paulinho Mendonça e João Ricardo, e eternizada pela banda Secos e Molhados, a artista propõe uma visão ampliada da América Latina, que ultrapassa conceitos geográficos e contrapõe a influência cultural norte-americana.

A fala da artista

“O que chamamos de América Latina é um tipo de regionalização que considera os idiomas falados, os processos históricos de colonização e exploração, as desigualdades sociais e as origens indígenas ancestrais, entre outros fatores. Os “ventos do norte”, mencionados na canção, são uma alusão direta às forças imperialistas do norte global, que resultam em opressão e espoliação de recursos naturais e sociais, presentes na história da região. Essas forças “não movem moinhos”, promovem o subdesenvolvimento inexorável da América Latina”.

Composta por esculturas, desenhos, instalações e ações colaborativas, a exposição ocupa todo o espaço da galeria. No piso térreo estão duas séries de desenhos inspirados na história da cidade de Chuquicamata, no Chile, abandonada devido à poluição do ar e à contaminação causada pela exploração de cobre na região. Na parede principal, a artista apresenta Veias abertas, uma extensa faixa de tecidos vermelhos de diferentes formatos e texturas, cobrindo toda a metade inferior da parede.

Texto de Paula Borghi

Publicado pela primeira vez em 1971, As veias abertas da América Latina, do uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015), é um clássico atemporal que discorre sobre as relações de poder que marcam as particularidades dessa região. Dois anos depois, a banda Secos & Molhados grava a música Sangue Latino, tendo em sua letra a frase “os ventos do norte não movem moinhos”, a qual nomeia a exposição de Geórgia Kyriakakis. Desse modo, o termo “ventos do norte” corresponde à força colonial da Europa, apontada como responsável pela espoliação, escravização e genocídio dos povos indígenas na região, e à opressão política da presença dos Estados Unidos, agenciadora de golpes e ditaduras militares.

Diferentemente do que foi instaurado no imaginário coletivo, a América Latina não é somente um território físico, ela diz respeito, principalmente, aos processos sistêmicos de colonização e exploração; uma vez que abastecer o norte com commodities tem sido uma imposição às sociedades latino-americanas (bem como a outros países do sul global) há mais de cinco séculos. Falar sobre este tema é o que o livro de Galeano, a canção dos Secos & Molhados e a exposição de Geórgia Kyriakakis se propõem, cada qual com sua linguagem.

Pautada por uma economia extrativista que se dedica a arrancar os metais do ventre da terra, queimar florestas, plantar latifúndios de monoculturas e gerar mais gado do que humanos, a América Latina vem metodicamente sendo assassinada em proveito dos donos do capital. Com uma visualidade próxima a um derramamento de sangue, a instalação VEIAS ABERTAS ocupa a parede principal da galeria, justapondo tecidos de materialidades e tons de vermelho variados com frases da canção – “minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos, meu sangue latino, minh’alma cativa”.

O sangue como sinônimo de exploração também é simbolizado pela presença do cobre, seja em barras conectadas a garrotes de látex ou na forma de desenhos/ pinturas sobre papel. Fazendo menção direta a uma das maiores minas a céu aberto do mundo, localizada na cidade de Chuquicamata, no Chile, a artista evoca metaforicamente o sangue, a lágrima e o suor que são derramados na busca pelo minério. Uma vez mais, tem-se a exploração da Terra, vista como bem natural a ser devorado.

Galeano usou a expressão “dentes de cobre sobre o Chile” para falar sobre a exploração do minério por empresas estadunidenses – em 2003, todos os moradores de Chuquicamata foram realocados para Calama, cidade vizinha, em decorrência do alto índice de contaminação respiratória. A lança de cobre utilizada nestes trabalhos, que é replicada também em madeira, faz referência a outra parte da canção: “quebrei a lança, lancei no espaço, um grito, um desabafo”.

Na série homônima à mina chilena, desenhos simulam o gesto de “lavar as mãos” como uma questão de saúde pública e também como expressão popular para aqueles que fogem das responsabilidades. O gesto pode corresponder à mão de um/uma trabalhador/a que teve contato direto com a mineração, seja pela contaminação do ar ou pelo trabalho braçal na mina, bem como do poder público em benefício do capital. A presença deste fazer a muitas mãos já aponta para o que se encontra no andar superior da exposição.

Nesse andar, Kyriakakis convidou mais quatro outras artistas para colaborarem com a mostra, sendo que três delas foram suas alunas no curso de Artes Visuais da FAAP, bem como a que vos escreve. Abre-se, aqui, uma outra camada, a de Geórgia Kyriakakis enquanto professora. A partir de então, seu trabalho de arte pode ser lido em diálogo com o da educação, que, por sua vez, se atrela ao doméstico e ao materno – estes dois últimos invisíveis na concepção histórica do trabalho. O comissionamento de propostas inéditas para Aline Langendonck, Carla Chaim, Isis Gasparini e Vânia Medeiros soma-se ao desejo de produzir em coletivo e acionar dispositivos que tragam à tona a força de trabalho da própria equipe da galeria.

O que se tem é uma exposição que tensiona estruturas de poder, sistemas de trabalho e produtividade, enquanto articula um passado ainda muito presente sobretudo naquilo que diz respeito ao futuro do Brasil. Como quem alerta que as veias abertas da América Latina ainda não se fecharam.

Paula Borghi/São Paulo, outubro de 2024.

Até 15 de janeiro de 2025.

O caráter lírico e lúdico de Francisco Galeno.

A Galatea anuncia a exposição “Francisco Galeno: o Piauí é aqui – o Piauí não é aqui”, que ocupará o espaço da rua Oscar Freire, em São Paulo. Com abertura no dia 12 de novembro, a exibição individual do artista piauiense Francisco Galeno (Parnaíba, PI, 1957) reúne quarenta e quatro obras que nos colocam em contato com a multiplicidade de técnicas e materiais exploradas ao longo de sua carreira, como a pintura sobre madeira, as esculturas em madeira e os objetos do cotidiano ressignificados.

Produzindo há mais de quatro décadas, Francisco Galeno construiu o seu vocabulário visual a partir do cruzamento entre as vivências da sua infância no Delta do Parnaíba, no Piauí, e o imaginário modernista de Brasília, para onde sua família se mudou quando ele tinha oito anos. Em 1969, instalaram-se em Brazlândia, cidade nos arredores da capital federal, lugar onde Galeno se iniciou como artista e mantém ateliê até hoje. Atualmente, vive e trabalha entre Brazlândia e Parnaíba, seu segundo ateliê.

As obras de Francisco Galeno conjugam tanto o interesse geométrico que aprendeu em Brasília, com as linhas da arquitetura e as obras de mestres como Alfredo Volpi, Athos Bulcão e Rubem Valentim; quanto um caráter lírico e lúdico ao trazer símbolos da sua infância, dos brinquedos e dos objetos que o cercavam, como as bolas de gude e de futebol, os carretéis da sua mãe rendeira e os anzóis e a madeira do seu pai pescador e marceneiro.

No texto crítico escrito para a exposição, o curador Leno Veras comenta:

“Para além de suas temáticas figurativas, nas quais amalgamam-se objetos emergentes do desenho industrial – com forte presença no cotidiano das populações interioranas, como a lamparina (que, em uma de suas obras, desconstrói como que em um projeto técnico ao revés) – e artefatos concebidos por manufatura familiar, como os brinquedos de madeira, suas representações arquitetônico-urbanísticas também dão a ver que o pensamento construtivo é uma linha constante de sua expressão plástica, encontrado, inclusive, na forma concreta que assumem seus assemblages ao emular mobiliários familiares; tal qual gaveteiros de memórias, e histórias, que transbordam de seu território originário para um novo quadro, quadrado fincado em meio ao mapa: a capital federal – a moderna Brasília.”.

Até 25 de janeiro de 2025.

Duas culturas na arte de Eva Lieblich.

O J. B. Goldenberg Escritório de Arte, Higienópolis, São Paulo, SP, inaugura a exposição “A Poesia Visual de Eva Lieblich”, uma homenagem à artista que desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da arte moderna no Brasil. Composta por 25 obras selecionadas por seus filhos, Beatriz e João Gabriel, a exposição destaca a produção da artista com a técnica do batik, que ela introduziu no país, e como sua obra conecta influências europeias com a realidade brasileira, principalmente na representação da natureza, flora e fauna. A mostra estará em exibição até 30 de novembro.

A curadoria da exposição é assinada por Jairo Goldenberg, e o texto crítico foi elaborado por Roberto Bertani, que observa: “A produção de Eva Lieblich reflete uma fusão entre as duas culturas que marcaram sua vida, a europeia e a brasileira. Essa simbiose se revela em sua escolha de temas e no uso da técnica do batik, que trouxe para o Brasil e transformou em uma ferramenta única para retratar a exuberância tropical.” A exposição se concentra em um recorte específico de sua carreira, com foco nos panneaux que utilizam essa técnica, a qual Eva dominou após estudar em Viena e Paris na década de 1950.

A obra de Eva Lieblich pode ser entendida como um espelho de sua experiência européia, adaptada ao ambiente cultural brasileiro. Sua arte traduz a confluência de duas culturas, utilizando elementos visuais e técnicas tradicionais europeias, ao mesmo tempo que incorpora cores, formas e temas profundamente conectados ao Brasil. O batik, técnica central em sua produção, permitiu-lhe explorar e retratar a natureza e temas brasileiros de maneira única, como evidencia Roberto Bertani em seu texto: “A escolha do batik, que exige precisão e paciência, permitiu a Eva traduzir a intensidade das paisagens e elementos naturais do Brasil em obras de rara beleza poética.”

A iniciativa de resgatar a obra de Eva Lieblich é fruto do empenho de seus filhos em reunir e organizar um recorte de acervo com cerca de 45 obras, das quais 25 foram selecionadas para esta exposição. “A Poesia Visual de Eva Lieblich” oferece uma oportunidade única de redescobrir o trabalho de uma artista que, ao longo de sua carreira, contribuiu de forma significativa para o cenário artístico brasileiro, conectando diferentes culturas e estilos.

Sobre a artista

Nascida em Stuttgart, Alemanha, em 1925 Eva Lieblich imigrou para a América do Sul em 1938, fugindo da perseguição nazista. No Brasil, começou sua formação artística aos 15 anos, estudando desenho com Antônio Gonçalves Gomide e pintura com Aldo Bonadei, ambos integrantes do influente Grupo Santa Helena, que ajudou a moldar sua abordagem à arte moderna. Eva Lieblich foi também membro do Grupo dos 19 Pintores, que realizou uma histórica exposição na Galeria Prestes Maia, em 1947, em São Paulo. Além de suas importantes participações em exposições no Brasil, como a Bienal de Artes Plásticas de Salvador em 1966, Eva também levou sua arte ao exterior, destacando-se em uma exposição individual na Galeria Schaller, em Stuttgart, em 1963. Como afirma Roberto Bertani, “A capacidade de Eva de transitar entre o contexto europeu e o brasileiro, utilizando técnicas europeias com um olhar voltado à riqueza natural e cultural do Brasil, foi o que lhe garantiu uma posição de destaque na arte contemporânea”.

Endereço: Rua Tinhorão, 69 – Higienópolis, São Paulo

Encontro entre crítico, artista e impressor.

29/out

A exposição de Luiz Zerbini foi prorrogada até 14 de novembro (quinta) na Maneco Müller : Múltiplo Galeria, Leblon e no dia 05 de novembro (terça), às 18h30, o artista recebe o impressor João Sánchez e o crítico Fred Coelho para um bate-papo aberto ao público. “Pedra, metal e madeira” apresenta a produção mais recente de Luiz Zerbini, com gravuras em metal e monotipias inéditas, que surpreendem pela alta carga criativa, força e frescor.

Na individual, Luiz Zerbini apresenta sua mais recente produção: gravuras em metal, litogravuras e monotipias, sendo a maioria inédita. Além de 20 obras, o artista lança também um livro de grandes dimensões, todo impresso manualmente. A mostra marca a mudança de nome da galeria para Maneco Müller : Múltiplo, consolidando a sociedade entre Maneco Müller e Stella Ramos, desde 2018.

Atravessando seus quase 50 anos de produção, a poética de Luiz Zerbini destaca-se por uma voluptuosa e desconcertante paisagística, combinando vegetação, ambientes urbanos, fabulação, memória e alegorias. A novíssima produção em monotipias e gravuras em metal do artista é fruto do encontro dele com o Estúdio Baren, criado pelo editor e impressor carioca João Sánchez. Há quase uma década, Luiz Zerbini e João Sánchez pesquisam diversas formas de imprimir monotipias, misturando técnicas e materiais, papéis, matrizes e pigmentos. Mais recentemente, o artista carioca Gpeto passou a colaborar também com o Estúdio Baren, se juntando à produção de monotipias da dupla.

O destaque da mostra na galeria são as gravuras em metal inéditas nas quais Luiz Zerbini se debruça sobre uma das mais tradicionais técnicas de impressão artesanal do mundo. Há cerca de cinco anos, Luiz Zerbini vem se dedicando a experimentações nesse campo graças à proximidade com o Estúdio Baren. A Maneco Müller : Múltiplo surgiu como espaço natural da mostra dessa produção por conta da parceria da galeria com o Estúdio Baren e a amizade de longa data tanto com Luiz Zerbini quanto com João Sánchez.