Os gêmeos na Espanha

06/set

 

O Centro de Arte Contemporânea de Málaga apresenta a primeira exposição individual em museu na Espanha de OSGEMEOS, a dupla de artistas formada pelos gêmeos Otávio e Gustavo Pandolfo. A exibição de “OSGEMEOS: Quando as folhas ficam amarelas”, com curadoria de Fernando Francés, está composta por uma seleção de mais de vinte obras realizadas entre 2006-2022, que será inaugurada no dia 07 de setembro. A exposição com pinturas e uma instalação inédita com a música como protagonista, convidam o espectador a entrar em um mundo imaginário criado por essa dupla de artistas, onde se dá o desenvolvimento de suas histórias e a criação de seus personagens.

 

Sobre os artistas

 

OSGEMEOS, os gêmeos Otávio e Gustavo Pandolfo (São Paulo, Brasil, 1974) quando crianças, desenvolveram uma forma diferente de brincar e se comunicar através da linguagem artística até que, por influência do hip-hop e da cultura brasileira durante a década de 1980, começaram a usar a arte como forma de compartilhar seu universo dinâmico e mágico com o público.

 

Suas exposições individuais incluem In the Corner of the Mind, Lehmann Maupin, Londres, Reino Unido (2022); OSGEMEOS: Segredos, Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil (2021); OSGEMEOS: Segredos, Pinacoteca de São Paulo, São Paulo, Brasil, (2020); In Between, Frist Center for Visual Arts, Nashville, Tennessee (2019); Déjà Vu, Lehmann Maupin, Hong Kong, China (2018); Silêncio da Música, Lehmann Maupin, Nova York, EUA (2016); A ópera da lua, Galeria Fortes Villaça, São Paulo, Brasil (2014); osgemeos, Instituto de Arte Contemporânea, Boston, Massachusetts (2012); Fermata, Museu Vale, Espírito Santo, Brasil (2011); Pra quem mora lá, o céu é lá, Museu Colecção Berardo – Arte Moderna e Contemporânea, Lisboa, Portugal (2010); Vertigem, Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil (2008); As Flores deste Jardim meus Avós Plantaram, Museu Het Domein Sittard, Sittard, Holanda (2007); O peixe que ate cadente stars, Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil (2006) ou Pavil, Luggage Store Gallery, San Francisco, Califórnia (2003), entre outros. Seus projetos incluem HangarBicocca, Milão (2016); Conexões Paralelas, Times Square Arts: Midnight Moment, Nova York (2015); Wynwood Walls, Miami (2009); Tate Modern, Londres (2008) e Creative Time, Nova York (2005). Suas obras podem ser encontradas em várias coleções públicas, como The Franks-Suss Collection, Londres, Reino Unido; Museu de Arte Moderna, São Paulo, Brasil; Museu de Arte Brasileira, São Paulo, Brasil; Museu Casa do Pontal, Rio de Janeiro, Brasil; Museu de Arte Contemporânea, Museu de Arte de Tóquio, Tóquio, Japão; Museu de Arte de Porto Rico, Santurce, Porto Rico, entre outros.

 

 

 

Festança Gentil

 

 

Assinale-se que A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, completou 19 anos de vida neste dia 06 de setembro.

 

No sábado, dia 10 de setembro, A Gentil Carioca do Rio de Janeiro comemora a data em uma grande festa com DJ, bolo e cerveja; e abrirá a mostra “BREJO”, de Vinícius Gerheim. Agradecem e avisam que: “Seguimos pulsantes, acreditando cada dia mais na arte e em toda sua potência transformadora, sonhando com uma sociedade mais igualitária e que respeite as diferenças. Desejamos que este novo ciclo nos abra os caminhos; que através da democracia possamos reunir forças em prol da cultura, da ciência, da educação, da arte, do conhecimento, do amor, da inteligência e sensibilidade humana. Nessas quase duas décadas de existência, resistimos e dividimos momentos que jamais poderíamos esquecer. Agradecemos aos que estiveram conosco e convidamos a todes para celebrar, na nossa encruzilhada, mais um aniversário”.

 

Na exposição, biomas mineiros da Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica materializam corpos ex-castrados em novas possibilidades de liberdade. O artista parte da memória, tangenciando padrões e repetições de uma atmosfera autobiográfica. Perpassa lembranças, visita a História da Arte e trava negociações entre figuras e fundos.

 

Paralelamente à exposição, será lançada a “Camisa Educação Nº 88: Em curvas de subjetividades”, por Vinicius Pinto Rosa. Esperamos vocês! DJ – Alucas do Trópico Sul, Bolo – Rita Lara, da @naturalfit.box, Apoio – Beck’s

 

Visitação até 15 de outubro.

 

MADE IN USA

 

 

Com fotografias de Luiz Carlos Felizardo feitas no Arizona, Estados Unidos, entre 1984 e 1985, “MADE IN USA” é o título da exposição de Luiz Carlos Felizardo na Galeria Utópica, Vila Madalena, São Paulo, SP. Trata-se de uma seleção de 23 fotografias feitas durante o período no qual trabalhou intensamente sob a supervisão de Frederick Sommer. A exposição abre no dia 17 de setembro às 11h e ficará em cartaz até 22 de outubro.

 

Todas as cópias são vintages ampliadas impecavelmente pelo autor, com os preceitos, cuidados e toda a maestria que caracterizam a ampla e tradicional corrente de fotógrafos laboratoristas norte-americanos entre os quais Frederick Sommer ocupa um lugar de destaque.

 

Entre as imagens, algumas cenas e detalhes que fazem parte do imaginário fotográfico do oeste americano e uma paisagem antológica no Vale da Morte na Califórnia, Zabriskie Point, locação e título de um dos filmes mais marcantes do período da contracultura rodado em 1970 e dirigido pelo cineasta italiano, Michelangelo Antonioni.

 

O texto de apresentação é de Rubens Fernandes Junior.

 

 

 

Novos sentidos e sonoridades

05/set

 

 

Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a partir de 06 de setembro a exposição “Klangfarbenmelodie – Melodia de timbres”, com obras de Lenora de Barros, Rosana Palazyan, Waltercio Caldas, Augusto de Campos, Paulo Vivacqua, Yolanda Freyre, Cristiano Lenhardt e Antonio Manuel.

 

Os trabalhos gravitam em torno da ideia de melodia de timbres criada em 1911 pelo gênio Arnold Schoenberg (1874-1951), autor da revolução que introduziu um novo campo na música, a música atonal, que rompe com o sistema verticalizado da harmonia, e cria a música horizontal, serial. A melodia passeia entre os vários timbres dos instrumentos, e cada nota passa a ter igual valor no espaço e no tempo, como pontos que flutuam. A mostra antecipa a celebração de 70 anos de “Poetamenos” (1953), de Augusto de Campos, com poemas desenvolvidos a partir da ideia de Schoenberg, e que é apontada como obra precursora do concretismo brasileiro.

 

A exposição reúne trabalhos de artistas que pesquisam, em variadas formas, as poéticas da ressonância como lugar de encontro, seja na intimidade do próprio ser ou no desejo de encontro com o outro. As obras manifestam um espaço para que as vibrações, em suas múltiplas potências, possam se somar entre si, ecoando novas palavras, sentidos e sonoridades.

 

Coleção Museu Albertina no Instituto Tomie Ohtake

 

 

Os trabalhos reunidos em “O Rinoceronte: 5 Séculos de Gravuras do Museu Albertina” agora em exibição no Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, são provenientes do maior acervo de desenhos e gravuras do mundo, o The Albertina Museum Vienna, fundado em 1776, em Viena, que conta com mais de um milhão de obras gráficas. A seleção das 154 peças para esta mostra, organizada pelo curador chefe do museu austríaco, Christof Metzger, em diálogo com a equipe de curadoria do Instituto Tomie Ohtake, é mais um esforço da instituição paulistana de dar acesso ao público brasileiro a uma coleção de história da arte, não disponível em acervos do país.

 

Com trabalhos de 41 mestres, do Renascimento à Contemporaneidade, a exposição, que tem patrocínio da CNP Seguros Holding Brasil, chega a reunir mais de dez trabalhos de artistas célebres, para que o espectador tenha uma visão abrangente de suas respectivas produções em série sobre papel. “A exposição constrói uma ponte desde as primeiras experiências de gravura no início do século XV, pelos períodos renascentista, barroco e romântico, até o modernismo e à arte contemporânea, com gravuras mundialmente famosas”, afirma o curador.

 

O recorte apresentado traça um arco, com obras de 1466 a 1991, desenhado por artistas marcantes em suas respectivas épocas, por meio de um suporte que, por sua capacidade de reprodução, desenvolvido a partir do final da Idade Média, democratizou ao longo de cinco séculos o acesso à arte. O conjunto, além de apontar o aprimoramento das técnicas, consegue refletir parte do pensamento, das conquistas e conflitos que atravessaram a humanidade no período.

 

Do Renascimento, cenas camponesas, paisagens, a expansão do novo mundo pautado pela razão e precisão técnica desatacam-se nas calcogravuras (sobre placa de cobre) de Andrea Mantegna (1431-1506), as mais antigas da mostra, e de Pieter Bruegel (1525-1569), e nas xilogravuras de Albrecht Dürer (1471-1528), pioneiro na criação artística nesta técnica, cuja obra “Rinoceronte” (1515) dá nome à exposição. O artista, sem conhecer o animal, concebeu sua figura somente por meio de descrições. O processo, que ecoou em Veneza, fez com que Ticiano (1488-1576) fosse o primeiro a permitir reprodução de suas obras em xilogravura por gravadores profissionais. Já a gravura em ponta seca, trabalho direto com o pincel mergulhado nas substâncias corrosivas, possibilitava distinções no desenho e atingiu o ápice nas obras de Rembrandt (1606-1669), que acrescentou aos valores da razão renascentista a sua particular fascinação pelas sombras.

 

Nos séculos XVII e XVIII, possibilitou-se com a meia tinta, o efeito sfumato, e com a água tinta, a impressão de diversos tons de cinza sobre superfícies maiores. Francisco José de Goya y Lucientes (1746-1828) foi um dos mestres desta técnica, aprofundando a questão da sombra em temas voltados à peste e à loucura. Enquanto Giovanni Battista Piranesi (1720-1778) tem a arquitetura como tônica de suas gravuras em água forte, na mesma técnica Canaletto (1697-1768) constrói panoramas de Veneza.

 

No século XIX com a descoberta da litografia, com o clichê e a autotipia foi possível realizar a impressão em grandes tiragens sem desgaste da chapa de impressão e a consequente perda de qualidade associada ao processo. Diante disso, artistas tiveram disponível um amplo espectro de técnicas, a exemplo de Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901), o primeiro pintor importante a se dedicar também ao movimento artístico dos cartazes. A metrópole, sua face boêmia e libertina foram amplamente reproduzidas pelo francês, um dos pós-impressionistas, como Édouard Vuillard (1868-1940), que revolucionaram a cromolitografia e influenciaram artistas do final do século XIX e começo do XX, como Edvard Munch (1863-1944), precursor do Expressionismo, movimento no qual notabilizaram-se Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938), Max Beckmann (1884-1950) e Käthe Kollwitz (1867-1945). Das joias da coroa austríaca estão dois de seus principais representantes: Gustav Klimt (1862-1918) e Egon Schiele (1890-1918). Como reação ao expressionismo, encontra-se George Grosz (1893-1959), um dos fundadores da Nova Objetividade, corrente de acento realista e figurativo que respondeu ao febril período entreguerras.

 

A exposição, realizada com a colaboração da Embaixada da Áustria no Brasil, reúne outros nomes seminais da história da arte moderna como Paul Klee (1879-1940), um conjunto de várias fases de Pablo Picasso (1881-1973), Henri Matisse (1869-1954), Marc Chagall (1887-1985); alcança ainda artistas pop, que se utilizaram particularmente da serigrafia a partir de 1960, como Andy Warhol (1928-1987), até chegar nos mais contemporâneos como Kiki Smith (1954), além de outros mestres do século XX.

 

Até 20 de novembro.

 

Mostra a dois na Carpintaria

02/set

 

 

A exposição “FALA COISA” na Carpintaria, Rio de Janeiro, RJ, a partir do dia 03 de setembro, é um diálogo entre trabalhos inéditos de Barrão, representado pela Fortes D’Aloia & Gabriel e Josh Callaghan, representado pela Night Gallery, de Los Angeles.

 

Com curadoria de Raul Mourão, a mostra suscita pontos de contato entre cada um dos artistas, cujas assemblages têm em comum um modo de crescimento vegetal, como se objetos banais ou de uso industrial pudessem brotar e crescer a partir da aglutinação de fragmentos heterogêneos. O título da exposição, “FALA COISA”, sugere um passo além da fisicalidade muda do objeto de arte e situa as obras no plano de uma cena dialógica envolvendo o espectador, o artista e os objetos eles próprios. Nessa interação, as identidades ou usos pré-atribuídos de cada coisa dão lugar a um regime relacional de comunicação semelhante a uma dramaturgia objetual, ressaltando os componentes teatrais e cenográficos da obra dos dois artistas.

 

 

Galeria Evandro Carneiro apresenta Botânicas

 

 

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 10 de setembro a 07 de outubro a “Exposição Botânicas”, que reúne obras em aço de Marcos Scorzelli. Depois do sucesso de público levando 30 mil visitantes na Ópera de Arame, em Curitiba, em maio deste ano, a mostra exibirá pela primeira vez no Rio de Janeiro sua coletânea composta por cerca de 30 esculturas em aço que remetem à flora brasileira. Nela estão representados elementos como o Cacto, a  Bracatinga, o Dente-de-leão, pólens, borboletas, sementes aladas e flores diversas.

 

Além da mostra “Botânicas” a galeria exibirá, também, a “Exposição Roberto Scorzelli, obras em Pochoir”, com trabalhos em estêncil do artista Roberto Scorzelli (1938-2012), pai de Marcos. A “Exposição Botânicas”, de Marcos Scorzelli, evidencia o rigor geométrico e a expansão da natureza inspirando-se em órbitas, círculos sobrepostos e galáxias também presentes na arte de seu pai, Roberto Scorzelli.

 

A partir da inspiração do movimento constante das sementes aladas,  que possuem uma anatomia aerodinâmica que permite que elas voem, caiam ou planem e se afastem mais da planta mãe pelo vento, foi criada a “Exposição Botânicas”, composta por esculturas geométricas minimalistas com cores saturadas. O artista utiliza chapas de aço e com alguns cortes, dobras e vincos – sem solda ou perda de material –  recria a natureza por meio de círculos, triângulos e retângulos, respeitando a proporção áurea.  Suas propostas buscam refletir sobre o ciclo perfeito da natureza, o vento, os pássaros, as borboletas que levam o pólen e as sementes para novos jardins e tudo recomeça, como se toda a natureza fosse matemática, cíclica e infinita. Assim como o universo que se expande, as sementes também repetem a dinâmica permitindo que, a partir dela, sejam originadas novas formas de criação, compondo, então, a flora brasileira.

 

“A simetria das formas das esculturas em movimento e o vento fizeram parte de todo o meu processo de criação, onde pude sentir o poder do vento na natureza. Queria fazer o aço ficar leve, e ao pensar no dente de leão, pensei no vento e no movimento das sementes aladas. A semente é o começo do ciclo e elas foram se movimentando com o vento. Na minha cabeça ventava muito; eu me lembrei das sementes que rolam com os ventos, como nos filmes de faroeste através da tumbleweed e nos desenhos infantis. Na verdade, é um pedaço inteiro de uma planta do gênero Kali (família das Amaranthaceae) que se desprende da raiz para dispersar suas sementes! O amaranto-do-deserto (Salsola kali) é famoso nos filmes ocidentais.”

 

Marcos Scorzelli.

 

Botânicas

 

“Marcos Scorzelli é designer, filho de Rosa e Roberto, pais amorosos e talentosos; ela física e ele artista plástico. Marcos desenvolveu, em 2018, a Coleção Bichos, lançada em janeiro de 2019 na Galeria Evandro Carneiro Arte. Eram esculturas em chapas de aço, coloridas e em uma geometria de inspiração zoológica: leões, pássaros, girafas, polvos e vários outros animais dobrados com vincos precisos, sem recortes ou soldas. Verdadeiros origamis de criatividade e afeto, a partir de alguns desenhos originais do pai, falecido em 2012. Foi um sucesso de mídia, público e vendas e o designer se tornou conhecido no mercado das artes.

 

Seguiu criando novas peças e expondo seu trabalho até que a pandemia do Coronavírus nos submeteu a todos ao trancafiamento doméstico. Foram meses de reclusão e meditação coletivas, e, felizmente, o espaço de Marcos possui uma geografia privilegiada. A casa do Joá, residência e ateliê da família, é cravada na Mata Atlântica e ele começou a pensar artisticamente a botânica presente naquela natureza e a experimentar novas formas de trabalhar. Paralelamente, a observação constante e meditativa em torno da herança paterna, que transborda naquele lugar de memórias, afetos e beleza.

 

Ao melhorar o cenário pandêmico, um desafio se impôs cheio de graça ao artista: ele foi convidado a participar da exposição Jardim Sensorial, na Ópera de Arame de Curitiba, PR e o tema era justamente a flora local. Somando o útil ao agradável, Marcos desenvolveu as primeiras peças da Coleção Botânicas, que ora apresentamos.

 

Sempre com suas geométricas e coloridas chapas de aço, apenas com cortes, dobras e vincos, sem perda de material, solda e nem inclusão de nada além das chapas e de cores saturadas e complementares, Marcos Scorzelli recriou a natureza por meio de círculos, quadrados, triângulos e retângulos áureos. Cactos, Bracatingas, Dentes de leão e Mandacarus nasceram assim, em “sequências de Fibonacci”, me revelou o artista. O vento, os pássaros e as borboletas levam o pólen das flores para sempre novos jardins e tudo recomeça, num movimento preciso, como se toda a natureza fosse matemática e vice-versa. Na coleção, nomes como Esporos, Florboleta, Flor de Vento, Jardim de Girafas e Revoada de Borboletas denotam não somente a criatividade de Marcos, mas também uma inspiração: o movimento giratório do universo, captado pela lente artística em cores fortes e vibrantes.

 

Nessa geometria da natureza, conformada em chapas coloridas de aço, percebemos a influência de alguns artistas concretos e neoconcretos como Amílcar de Castro, Lygia Pape e Amélia Toledo. Sem dúvida! Mas, sobretudo, observamos a evidente inspiração da fusão da física com a estética, em elementares, órbitas e galáxias presentes na natureza da arte de Roberto Scorzelli, cujo trabalho em Pochoir expomos conjuntamente com as esculturas Botânicas aqui na galeria, durante os meses de setembro/outubro de 2022.”

 

Laura Olivieri Carneiro.

 

Pochoir

 

“Noturno” é o título da obra que Roberto (Scorzelli) apresentou, em 2007, quando, no lugar de diretora dos Museus Castro Maya, convidei-o a participar do projeto Os Amigos da Gravura. A concepção da gravura a ser criada para aquele projeto ensejou a produção da série de pochoirs * aqui exposta, cuja abstração e pluralidade de cores evocam, além do anoitecer, a amplidão celeste e os movimentos do voo dos pássaros e bandeirinhas.

 

A sensibilidade e a delicadeza com que se expressava em seu trabalho, também era sua característica humana. Assim, só me resta agradecer o privilégio de ter convivido com este amigo, abençoado pelo dom da gentileza e da beleza, lamentando apenas ter sido por um tempo muito menor do que eu gostaria.”

 

Vera de Alencar.

 

“A geometria é a grande regente da arte de Roberto Scorzelli em todas as suas vertentes, seja a arquitetura, a pintura, o desenho ou a gravura. O rigor geométrico e abstrato dominou sua obra a partir da década de 1970 e permanece como um legado do construtivismo ainda a ser apreciado no século XXI.

 

No entanto, a dualidade é outra das marcas que se revelam no trabalho do artista. Se por vezes encontramos o humor como contraponto aos exercícios geometrizantes da circunferência atravessada pela linha – como no caso de suas célebres séries do Bestiário e das Walkyrias -, aqui pressupõe-se uma certa dualidade da própria geometria. Há, portanto, a geometria sonhadora dos círculos com os astros, suas órbitas, seus eixos de rotação e eclipses, mas também a geometria mais austera dos polígonos. Em ambas se encontra a volúpia do movimento em noites pontuadas pela iluminação dos dourados.

 

Também a técnica funciona para criar uma dualidade extra: as cores não são francas; os tons definitivos derivam da sobreposição de colorações e este processo acaba por criar texturas que imprimem maciez aos fundos, em contraste com a solidez das figuras traçadas.

 

Os exercícios em pochoir de Roberto Scorzelli, realizados entre 2007-2009, representam uma das facetas do artista em que ele nos oferece como temática distinta o universo galáctico, ao mesmo tempo em que nela imprime as marcas recorrentes de sua poética criativa. Estas obras estavam justamente a merecer esta exposição!”

 

Anna Paola Baptista.

 

Animália 22

 

 

Vale lembrar que a exposição “Animália 22″ na São Paulo Flutuante, Barra Funda, São Paulo, SP, continua aberta. “Segue texto profundo, escrito pelo artista e curador da mostra Manu Maltez, sobre a presença dos animais no imaginário artístico”, o recado é da marchand Regina Boni, diretora e fundadora da galeria.

 

Pela beleza do pavão/

da cascavél imperial/da labareda do dragão

/saúdo o reino animal

Trecho de “Forró de Dona Zefa” – Dominguinhos

 

Reunir em um mesmo galpão animais de vinte e dois artistas é uma missão de risco e deleite. É preciso lidar antes de tudo com um bicho diferente. Mais perigoso do que garras, espinhos, ferrões e presas, é o desejo dessa gente. Fabulistas, irônicos, míticos, dramáticos, lúdicos, expressionistas, políticos, naturalistas, hiper realistas, fantásticos, cubistas, abstratos, convergentes, paralelos, opostos, contraditórios. São rastros para todos os lados.

 

Quando enfim juntamos as diferentes partes no todo desta mostra, fica a impressão de que pariu-se pitoresco dragão. Em outros momentos, diante da fauna reunida, nos lembramos de Noé, como não? ainda mais agora, quando se anuncia a sexta, senão última extinção. Por fim, nosso passeio nos leva ao imponderável: tropeçamos no abismo de nossa memória atávica, resgatamos o pra sempre perdido. As paredes das cavernas são iluminadoras: Os bichos foram o assunto primordial da arte. Se criamos a arte pra nos diferenciar da animália, eles eram o tema predileto. Mesmo os primeiros registros de representações humanas nas pinturas são de figuras híbridas. Uma Vênus com chifres e focinho de bisão. Um homem com cabeça de ave. Éramos minoria, longe do topo da cadeia alimentar, os víamos como iguais, quiçá superiores e só Deus sabe nos detalhes como isso foi terrível e belo. A humanidade depois seguiu seu curso, progredindo rumo ao topo(e à solidão da espécie), inventou o espelho, a perspectiva, a luz elétrica, o avião, os vibradores, a bomba atômica, a kitnet, a arte conceitual, as redes sociais; mas não se pode dizer que em termos de desenho tenha superado os artistas paleolíticos, mestres pintores da bicharada.

 

Depois de séculos enfadonhos de um antropocentrismo sem-vergonha, aos poucos, o coro dos descontentes com o rame-rame monotemático vai engrossando, ouvem- se novas vozes anunciando a aurora. Sabiás cantam não só para se comunicar, mas também por satisfação pessoal, para encobrir a dor. Seu canto, quanto mais bem cantado, gera dopamina. Polvos, até ontem tidos como criaturas rudimentares, estrelam em documentários, exibindo uma inteligência desconcertante. Cientistas propõem que nossa fala é “um tipo de soma de componentes melódicos dos pássaros com os tipos de comunicação mais utilitários e ricos em conteúdo usado por outros primatas”: em um dado e misterioso momento da evolução, nossa espécie fundiu os dois universos. Um sem-número de ensaios, teses, filmes; científicos, literários, filosóficos sobre os animais, insinua. Algo parece estar em transformação.

 

Voltemos à exposição: O bicho aqui não é só por fora: infinitude de corpos, olhos, pintas, manchas, cores, pêlos, escamas, carapaças, cascos, texturas: (matéria prima interessantíssima para  as artes plásticas). Afora o estético, o alegórico, o simbólico, há também o bicho por dentro. É algo mais, que o artista, com suas antenas, capta. O artista olha o bicho sabendo que o bicho o olha de volta. E comunica aos outros de sua espécie a substância misteriosa dessa troca diversa, sem verbo. É o bicho-monolito. A esfinge. Diferentes lendas de povos antigos trazem narrativas de que no início, os homens sabiam falar a língua dos animais. Talvez a sociedade moderna esteja tentando reatar com eles não só por uma questão ecológica, urgente. Como tratamos de higienizar a morte, de negá-la, reiteradamente, precisamos mais que nunca desse outro tipo de vivente ao nosso lado, como contrapeso à nossa crescente  superficialidade, nossa anemia subjetiva. Em oposição à fragmentação, disrupção e desnorteio do homo sapiens imerso na existência urbana, materialista; do nosso cada um no seu quadrado, ou ainda, em sua própria  bolha-virtual, o animal permanece íntegro, com todos os seus sentidos aguçados, enraizados no cosmos.

 

Como já apontavam os artistas paleolíticos, e aponta o que resiste da arte indígena, aborígine, tribal, não ocidental, os animais são mensageiros; são uma ponte entre o mundo dos vivos e o mundo dos espíritos. Semi-deuses. Têm um pé ali, no além. Olharmos o mundo e a nós mesmos com olhos de bicho. Eis aqui o desafio, o delírio, o barato.

 

Alguns anos atrás, em certo tsunami na Indonésia,  toda a animália correu pras montanhas antes mesmo que os sismógrafos registrassem qualquer alteração no fundo do mar. Em Macunaíma, de Mário de Andrade, ao final da fatídica epopéia de nosso herói da raça sem nenhum caráter, a última criatura restante para passar adiante a história é um papagaio. São pequenas fábulas contemporâneas. E a constatação de que tudo o que eles, bichos, tocam diante de nossos olhos, vira fábula, mito, lenda, conto da Carochinha. De que nós sem eles, não somos gente no sentido mais reluzente da palavra.

 

Artistas são artistas porque deixaram a intuição se desenvolver como um membro. Como asas, um focinho, um rabo, um chifre. A procissão de bichos na arte através dos tempos e sua persistência na atualidade é um sinal de que a intuição, por hora, sobrevive.

 

Manu Maltez

 

Nova exposição do MAM Rio

01/set

 

 

O MAM Rio, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, abre exposição sob curadoria de Beatriz Lemos, Keyna Eleison, Pablo Lafuente e Thiago de Paula Souza. Vem aí a partir de 17  de setembro “Atos de revolta: outros imaginários sobre independência”, a nova exposição do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A mostra permanecerá em cartaz até 26 de fevereiro de 2023.

 

O bicentenário da Independência do Brasil oportuniza repensar esse processo histórico. Atos de revolta foca em uma série de levantes, motins e insurreições que antecederam aquele momento ou que ocorreram nas décadas subsequentes, durante o Primeiro e o Segundo Reinado e o período regencial.

 

Com o objetivo de abordar os diversos imaginários de país então esboçados, a mostra faz referência à Guerra Guaranítica (1753-56), à Inconfidência Mineira (1789), à Revolução Pernambucana (1817), à Independência da Bahia (1822), à Cabanagem (1835-40), à Revolução Farroupilha (1835-45), à Revolta de Vassouras (1839) e à Balaiada (1838-41), entre outras.

 

Artistas brasileiros, de gerações e geografias diversas, foram convidados a pensar sobre essas narrativas. Ao abordar os conflitos do sistema colonial, a exposição revela as contradições da historiografia brasileira, que produziu apagamentos de personagens determinantes, sobretudo de populações negras, indígenas e mulheres.

 

Os trabalhos apresentados respondem a cinco eixos conceituais que oferecem chaves de leitura para determinados acontecimentos: a figura do herói e a posição de liderança política; as construções simbólicas (bandeiras, hinos, brasões); os modos de organização e sua relação com sistemas de direitos, a definição de territórios e os processos de produção e circulação de valor.

 

As obras contemporâneas são apresentadas em diálogo com uma seleção de objetos e fragmentos dos séculos 18 e 19 (pórticos, colunas, maçanetas, frisos e outras estruturas) do acervo do Museu da Inconfidência, do Museu Histórico Nacional e do Convento Santo Antônio, no Rio de Janeiro, sinalizando conceitualmente os resquícios e descontinuidades de uma época que se mantém presente no cotidiano do país.

 

Completam a mostra oito pinturas de Glauco Rodrigues, pertencentes ao acervo do MAM Rio.

 

“Atos de revolta” tem o patrocínio da Livelo e acontece em colaboração com o Museu da Inconfidência de Ouro Preto (MG).

 

Artistas participantes

 

Ana Lira (Recife, Pernambuco), Arissana Pataxó (Porto Seguro, Bahia), Arjan Martins (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro), Elian Almeida (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro), Gê Viana (São Luís, Maranhão), Giseli Vasconcelos (Belém, Pará), Pedro Victor Brandão (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro), Glauco Rodrigues (Bagé, Rio Grande do Sul), Glicéria Tupinambá (Ilhéus, Bahia), Gustavo Caboco Wapichana (Curitiba, Paraná), Roseane Cadete Wapichana (Boa Vista, Roraima), Luana Vitra (Belo Horizonte, Minas Gerais), Marcela Cantuária (Rio de Janeiro, RJ) em colaboração com a Frente de Mulheres Brigadistas, Paulo Nazareth (Belo Horizonte, Minas Gerais), Thiago Martins de Melo (São Luís, Maranhão) e Tiago Sant’Ana (Salvador, Bahia).

 

Instituições e Coleções

Acervo do Convento Santo Antônio do RJ, Acervo Museu Histórico Nacional / Ibram / MTur, Acervo do Museu da Inconfidência / Ibram / MTur.

Patrocínio Estratégico: Instituto Cultural Vale, Ternium, Petrobras

Patrocínio Master: Eletrobras Furnas, Livelo

Realização: Secretaria Especial da Cultura e Ministério do Turismo.

 

Rodolpho Parigi e a latexguernica

 

 

 

O artista concebeu especialmente para esta exposição um mural com mais de 8 metros de extensão em que cria seu universo fantástico. Em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, até 30 de outubro. “latexguernica”, é a primeira mostra panorâmica dedicada à produção do paulistano Rodolpho Parigi em uma instituição brasileira, visando narrar seu processo de pesquisa por intermédio de um conjunto significativo de obras, compreendidas entre os anos 2000 e 2022. A individual, com curadoria de Paulo Miyada, Diego Mauro e Priscyla Gomes, composta por cerca de 70 pinturas, percorre momentos-chave da trajetória do artista, destacando a imponência de seus retratos, um dos gêneros pictóricos que atualmente toma grande parte dos seus estudos.

 

Nas obras reunidas, sob a superfície muitas vezes hiperbólica de suas paletas e composições, o artista revisita referências do universo artístico. Conforme apontam os curadores, seu trabalho se estabelece no limiar entre abstração e figuração valendo-se de uma série de referências que vão desde a tradição da pintura acadêmica ocidental ao design gráfico, publicidade, cultura pop e a música. “Há em seu processo pictórico um investimento libidinal que deglute referências, as historiciza e as revisita. Grace Jones, Gian Lorenzo Bernini, Bach, Rubens, Velasquez, Albert Eckhout e RuPaul convivem repletos de atração e contágio, dada a desenvoltura de Parigi em dessacralizar certos dogmas estabelecidos”, esclarecem.

 

Além desse panorama de sua produção, um mural, “Látex Guernica”, com mais de 8 metros de extensão, foi produzido exclusivamente para a mostra, que contou com a colaboração da Galeria Nara Roesler.  Na grande pintura, uma mesa de mármore define os contornos da cena habitada por uma miríade de personagens, volumes, esculturas, corpos e anatomias mascaradas. Ao centro, o Congresso Nacional desenhado por Oscar Niemeyer é atravessado por obras de Tarsila do Amaral e Maria Martins. Ao redor deste arranjo, a pintura está tomada por uma diversidade de formas: mobiliário de Sérgio Rodrigues, esculturas de Érika Verzutti e Hans Arp, urna funerária do povo marajoara, frutos tropicais, e, em especial, os corpos vestidos em body suits de látex que remetem às Sessions do artista performático australiano Leigh Bowery. Há, em especial, fragmentos da monumental pintura feita por Pablo Picasso em protesto contra a destruição perpetrada pelo fascismo, a “Guernica” (1937). “Aliando tradição à perversão, prosaísmo à alta cultura, Parigi condensa, na pintura de grandes dimensões “Latex Guernica”, anos de pesquisa e produção em uma cena que congrega simulacro, realidade e farsa”, completa os curadores.

 

Rodolpho Parigi nasceu em São Paulo, SP, 1977. É um dos integrantes da geração de pintores que despontaram nos anos 2000, com um processo artístico pujante que abarca constantes revisões e novos direcionamentos. Com grande domínio da prática pictórica, o artista aborda de maneira eloquente uma vasta iconografia da história da arte ocidental, revisitando temas à luz de referências contemporâneas.