A Galeria de Arte Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura duas exposições com curadoria de Paulo Venancio Filho durante a semana da ArtRio. A exibição de “3 Mestres Modernos: Camargo, Tomasello, Cruz-Diez” será na galeria e, “Cinéticos-Construtivos”, no Stand do evento na Marina da Glória
A partir do dia 24 de setembro, na semana em que a cidade recebe a Feira ArtRio, um dos mais relevantes eventos de arte, Luiz Sève e sua filha, Luciana Sève, à frente da Galeria de Arte Ipanema, inauguram duas importantes exposições.
“A ArtRio já faz parte do calendário carioca e é um excelente veículo de vendas e de divulgação. Participamos com artistas do nosso acervo desde a sua primeira edição, em 2011”, afirma Luiz Sève.
“Sempre procuramos prestigiar a Feira com a inauguração de novas mostras com peças do nosso acervo. É um período fervilhante, quando a cidade recebe muitas pessoas de fora, o que nos impulsiona a abrir uma exposição inédita. Mais do que nunca, nessa época o Rio se torna uma enorme vitrine que reverbera talentos, dos consagrados aos novos e promissores nomes do mercado. Há também os eventos paralelos que integram a programação do evento, atraindo desde os que produzem arte quanto colecionadores ou mesmo aqueles que apenas buscam aprofundar conhecimento na área”, complementa Luciana Sève.
“3 Mestres Modernos: Camargo, Tomasello, Cruz-Diez” apresenta uma seleção de trabalhos dos artistas Sergio Camargo, Cruz-Diez e, Luis Tomasello. Até outubro, a Galeria Ipanema, uma das precursoras do Modernismo, será ocupada pelos cinéticos de Cruz-Diez, pelos relevos em madeira de Tomasello, por uma escultura em mármore e dois relevos de Camargo, entre outras obras bastante representativas selecionadas pelo curador.
A partir do dia 26, no Stand da ArtRio (dia 25 para convidados, no Preview), o público visitante verá uma seleção dos artistas Antonio Maluf, Aluísio Carvão, Cruz-Diez, Dionísio Del Santo, Jesus Rafael Soto, Julio Le Parc, Lygia Clark, Paulo Roberto Leal, Franz Weissmann, Raymundo Collares, em “Cinéticos-Construtivos”, também curada por Paulo Venancio Filho.
Texto curatorial
“Um brasileiro, um argentino, um venezuelano. Este triângulo da geografia artística moderna sul-americana teria ainda um quarto vértice comum na cidade que tão fundamental foi para o desenvolvimento de suas trajetórias artísticas: Paris. Na mítica Galerie Denise René, espaço que congregou várias gerações artísticas construtivas e cinéticas em décadas de exposições, encontraram um ambiente de convivência com as tendências ainda vivas e atuantes do modernismo europeu. Lá, em Paris, mais precisamente na década de 1960, viveram todos os três em períodos variados e coincidentes. É bem possível imaginar um encontro dos três artistas em uma exposição, ateliê ou em um café. Naquela época a Europa atravessava o difícil período do pós-guerra e procurava se regenerar artisticamente; em especial através dos movimentos abstratos geométricos e sua derivação subsequente; a arte cinética. Sergio Camargo (1930-1990), Luis Tomasello (1915-2014) e Carlos Cruz-Diez (1923-2019) vão consolidar sua formação nesse ambiente de contatos, influências, diálogos que caracterizam esses momentos históricos raros de élan intelectual e artístico. Onde mais era possível um jovem artista não só encontrar e conhecer – Brancusi, como foi o caso de Camargo – e também expor junto com Arp, Vantongerloo, Albers, Van Doesburg, entre outros? E participar de exposições, hoje históricas, como Art Abstrait Constructive International Structures), na Galerie Denise René, em 1961/62, que apresentou tanto os construtivos como os cinéticos, relacionando-os? Na tênue fronteira ou superposição entre o construtivo e o cinético é possível localizar e compreender os trabalhos desses três artistas. A vibração da luz que é provocada em seus trabalhos; o modo como a superfície, principalmente de seus relevos, reage e se modifica, calculada ou aleatoriamente, atua e desestabiliza as nossas certezas visuais. Será que tal aspecto mutável e transformativo era o que atraia esses artistas de culturas em difícil processo de modernização? Acima de tudo é a superfície incerta do relevo, entre a planaridade e a tridimensionalidade, receptiva a elementos circunstanciais que mais se prestam a excitabilidade tanto visual quanto mental empreendida por esses três artistas. A luz é o fenômeno fundamental, e aquele momento único que os impressionistas procuravam captar é por eles “produzido”, alongado e renovado no tempo. Tal empreendimento não foi um evento ocasional, simplesmente explicado pelo contágio parisiense, mas uma determinação artística que se estendeu ao longo de toda a obra dos três. Vistos hoje, há mais de seis décadas após aquele período de efetiva participação na consolidação de uma das tendências artísticas centrais do século XX, não há como não se referir a Camargo, Tomasello e Cruz-Diez senão como mestres modernos.”.