O livro de Ana Maria Gonçalves.

17/jan

Imagine atravessar a história de resistência negra no Brasil, conduzido pela narrativa poderosa de “Um Defeito de Cor”, livro de Ana Maria Gonçalves. A exposição homônima está em cartaz no Sesc Pinheiros, São Paulo, até 26 de fevereiro, reunindo mais de 370 obras de artistas brasileiros e internacionais. É uma oportunidade de dialogar com temas como escravidão, diáspora africana, ancestralidade e protagonismo feminino, em uma imersão que vai muito além do que está nos livros de história. “Um Defeito de Cor” toma o espaço expositivo do Sesc Pinheiros com desdobramentos que recepcionam visitantes desde o muro da entrada.

Os curadores Amanda Bonan e Marcelo Campos, ambos do MAR (Museu de Arte do Rio), fizeram o convite a Ana Maria Gonçalves para uma construção curatorial conjunta a repensar a trajetória do livro de forma imagética: da produção moderna e contemporânea que tem em seu cerne a cosmogonia africana nasceu esse encontro a partir de produções de 131 artistas – entre 77 vivos e 37 já falecidos, além de 17 convidados a produzir novas obras para a mostra, com nomes como Kwaku Ananse Kintê, Kika Carvalho, Antonio Oloxedê e Goya Lopes. Além dos curadores, fazem parte do processo de criação os artistas Ayrson Heráclito, consultor que assina a expografia ao lado de Aline Arroyo, e Tiganá Santana, curador da paisagem sonora que envolve o ambiente. É importante destacar que, antes da vinda para o Sesc Pinheiros, esta itinerância passou pelo Museu da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), fazendo uma importante triangulação entre instituições e abrangência de públicos do Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Sobre os curadores

Amanda Bonan é gerente de curadoria do Museu de Arte do Rio – MAR, doutoranda em Artes pela USP, mestre em História e Crítica da Arte pela UERJ (2013) e bacharel em Produção Cultural pela UFF (2006). Foi consultora da UNESCO em projetos internacionais de cultura e coordenadora de programação e produção do festival Europalia Brasil, na Bélgica. Trabalhou no Centro de Artes Visuais da FUNARTE (2010) e na Galeria Laura Marsiaj Arte Contemporânea (2005-2006). Atuou como curadora em diversas exposições de arte e mostras de cinema.

Ana Maria Gonçalves escritora mineira nascida em 1970, formada em Publicidade. Após residir em São Paulo por 13 anos, mudou-se para Itaparica, na Bahia, onde dedicou os cinco anos de residência à literatura. A imersão pela pesquisa à cultura da diáspora africana culmina na escrita de seu primeiro romance “Ao lado e à margem do que sentes por mim”, de 2002, e o aclamado “Um Defeito de Cor”, de 2006.

Marcelo Campos é professor associado do Departamento de Teoria e História da Arte do Instituto de Artes (UERJ) e curador chefe do Museu de Arte do Rio. Foi diretor da Casa França-Brasil (2016-2017) e professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Membro dos conselhos dos Museus Paço Imperial (RJ) e do Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea (RJ). Doutor em Artes Visuais pelo PPGAV, da Escola de Belas Artes da UFRJ. Possui textos publicados sobre arte brasileira em periódicos, livros e catálogos nacionais e internacionais. Em 2016, lança “Escultura Contemporânea no Brasil: reflexões em dez percursos”, pela Editora Caramurê, um levantamento de mais de 90 artistas da produção moderna e contemporânea brasileira.

Exposição fotográfica de Andréa Brächer.

 

“Ygapó: Floresta encantada de águas”, de Andréa Brächer na CAIXA Cultural São Paulo, tem abertura no dia 25 de janeiro. Sob curadoria de Letícia Lau, a mostra apresenta 14 imagens que exploram a conexão entre a natureza amazônica e a fabulação, forjadas a partir da cianotipia, um processo fotográfico histórico criado em 1842 por Sir John Herschel.

O título da exposição, “Ygapó”, faz referência às áreas da floresta amazônica permanentemente alagadas, mesmo nos períodos de estiagem dos rios. As imagens foram captadas em Alter do Chão (PA), durante uma imersão fotográfica em janeiro de 2022. Inspirada pela “vitalidade e pelos ciclos da natureza”, a narrativa visual de Andréa Brächer evoca tanto o encantamento quanto as urgências ambientais contemporâneas. A utilização da cianotipia, com suas tonalidades azuladas características, alia técnicas analógicas e digitais, conectando práticas históricas às tendências da fotografia contemporânea. As fotografias, ampliadas em papel Canson mate, surgem da digitalização das imagens originais, feitas em papel para aquarela, revelando um diálogo entre o passado e o presente da arte fotográfica.

Para a curadora Letícia Lau, as imagens da série funcionam como um “alerta poderoso” sobre a importância da preservação dos ecossistemas e sobre o impacto humano na natureza. O conceito de fabulação, central na obra da artista, permeia a série, convidando o observador a imaginar narrativas inspiradas no cenário singular do Baixo Amazonas.

Ao longo de sua trajetória, Andréa Brächer tem explorado temas ligados à floresta, à memória e à transitoriedade, desvendando conexões entre o imaginário coletivo e as paisagens que habitamos. Segundo a artista, “a floresta é ora um território do onírico e de seres sobrenaturais, ora um espetáculo de fauna e flora exuberantes que fascina o mundo inteiro”. Esses temas também estão presentes em suas séries anteriores, como “A Vinda das Fadas” (2019) e “Desaparecidos” (2019). A exposição “Ygapó: Floresta encantada de águas” transcende a dimensão estética e aborda questões ambientais urgentes. Estudos apontam que os igapós ocupam cerca de 8% do bioma amazônico e desempenham um papel essencial na regulação dos ciclos hídricos e climáticos. Os trabalhos de Andréa Brächer não apenas denunciam os impactos ambientais, mas também exaltam a magnitude desses ecossistemas, reforçando a necessidade de uma consciência coletiva para sua preservação. Ao final da visita, o espectador é convidado a refletir sobre sua própria relação com a natureza e com o tempo. Cada imagem é um fragmento poético que transita entre o real e o imaginário, uma pausa no fluxo cotidiano para resgatar a conexão com o que há de mais essencial: a contemplação e o cuidado com a vida em todas as suas formas.

Até 02 de março.

 

Horizonte Cerrado.

14/jan

Exposição no Centro Cultural Justiça Federal, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta um panorama da poética do Cerrado, a partir da coleção de Sergio Carvalho, ao mesmo tempo em que estabelece conversas-embates entre obras que configurem este universo que o centro excêntrico (em relação ao mapa cultural brasileiro) produz como discurso visual e estético. Com curadoria de Marília Panitz, a mostra reúne cerca de 140 obras de mais de 40 artistas, será inaugurada no dia 25 de janeiro.

O Bioma Cerrado é o segundo maior da América do Sul. As modernas capitais dos estados abarcados pelo bioma vão tendo que se haver com a potência da ancestralidade em seus entornos. Cada vez mais, os habitantes desses centros, e em especial aqueles cujo matéria prima do trabalho é a poética, lançam mão da natureza e da cultura ao redor, um redescobrimento que deixa sua marca na produção artística e na ação política de declarar suas especificidades em relação a outras regiões. E suas semelhanças. A proposta desta mostra é estudar, dentro da Coleção Sérgio Carvalho, os indícios de tal hipótese. Sérgio Carvalho é um colecionador de arte contemporânea brasileira, com um acervo que contempla todas as regiões do Brasil. Mas, talvez por viver em Brasília, tenha um documento dos mais interessantes da produção artística – do final do século passado e das duas primeiras décadas deste em que vivemos -, no centro do país. Com obras que abrangem as últimas décadas do século XX e as duas primeiras deste século, Horizonte Cerrado reflete a potência artística de uma região que, embora geograficamente central, é culturalmente excêntrica. Ao reunir produções dos estados do Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal) e regiões limítrofes de Minas Gerais e Bahia, é possível traçar um mapeamento cultural que transcende fronteiras geopolíticas. O Cerrado, enquanto espaço físico e simbólico, influencia não apenas os que nasceram ali, mas também aqueles que, por escolha ou destino, passaram a habitá-lo, reinterpretando sua força e beleza em diversas linguagens artísticas.

Artistas participantes.

Dirceu Maués, Fernanda Azou, Gisele Camargo, Irmãos Guimarães, Ismael Monticelli, Marcos Siqueira, Pedro Gandra, Athos Bulcão, Elder Rocha, Evandro Prado, Helô Sanvoy, Luiz Mauro, Miguel Ferreira, Raquel Nava, Rava, Virgílio Neto, Adriana Vignoli, Alice Lara, David Almeida, Florival Oliveira, Isadora Almeida, João Angelini, Karina Dias, Luciana Paiva, Ludmilla Alves, Marcelo Solá, Matias Mesquita, Pedro David, Pedro Ivo Verçosa, Wagner Barja, Andrea Campos de Sá, Walter Menon, Antônio Obá, Coletivo Três Pe, Derik Sorato, Léo Tavares, Valéria Pena Costa, Bento Ben Leite, Camila Soato, Fabio Baroli, Pamella Anderson.

O colecionador.

Residente em Brasília, Sérgio Carvalho, advogado, 64 anos, começou sua coleção de artecontemporânea em 2003, quando conheceu Nazareno, José Rufino, Eduardo Frota e  Valéria Pena-Costa, que o apresentaram a outros artistas. Encantado com o universo poético de cada um deles, Carvalho resolveu vender as gravuras de Oswaldo Goeldi que possuía para comprar fotografias de Lucia Koch. Hoje – 22 anos após iniciar sua coleção – Sérgio Carvalho reúne obras de alguns dos mais importantes artistas contemporâneos brasileiros, entre os quais Regina Silveira, Nelson Leirner, Iran do Espírito Santo, Efrain Almeida, Sandra Cinto, Emmanuel Nassar, Hildebrando de Castro, Rubens Mano, Berna Reale, Ana Elisa Egreja, Jonathas de Andrade, Flavio Cerqueira, Sofia Borges, Camila Soato e Rodrigo Braga, Zé Crente, Cícero e Mestre Paquinha.

Lygia Clark na Alemanha.

10/jan

A Neue Nationalgalerie exibirá a primeira retrospectiva da artista brasileira Lygia Clark (1920-1988) na Alemanha. Com cerca de 150 obras, a ampla mostra no salão superior apresentará suas obras das décadas de 1950 a 1980, que vão desde pinturas geométricas abstratas até esculturas participativas e performances. A abordagem interativa no trabalho de Lygia Clark será o aspecto central da exposição. Os visitantes poderão interagir com um grande número de réplicas criadas especialmente para a mostra.

Lygia Clark é considerada uma inovadora radical, pois redefiniu fundamentalmente a relação entre artista e espectador, obra de arte e espaço. Como figura de destaque do Neoconcretismo (movimento Neoconcreto), iniciado no Rio de Janeiro em 1959, ela entendia a arte como um fenômeno orgânico. Ela exigia uma experiência artística subjetiva, corporal e sensorial, que incluía a participação ativa do espectador. Esta abordagem participativa dentro do trabalho de Lygia Clark estará disponível para os visitantes experimentarem através da interação com cópias de esculturas e objetos sensoriais da exposição. Além disso, apresentações e workshops regulares irão ativar o trabalho desta notável artista do século XX.

Após as primeiras pinturas construtivistas compostas por vários painéis de madeira, Lygia Clark abandonou totalmente a pintura na década de 1960 e desenvolveu sua ideia da obra de arte como um corpo. Ela produziu esculturas geométricas que são construções móveis. Quando os espectadores as dobram, elas assumem configurações diferentes. Após a dissolução do grupo Neo-Concreto em 1961, Lygia Clark continuou a desenvolver sua ideia da obra de arte como um organismo vivo até seu último trabalho na década de 1980. No início da década de 1970, ela criou a série Corpo Coletivo, que significa ações performáticas de construção de comunidade para participantes de um grupo. No final de sua carreira, desenvolveu sua própria terapia corporal.

A retrospectiva na Neue Nationalgalerie reúne cerca de 150 empréstimos de coleções privadas e museus internacionais, incluindo o Museu de Arte Moderna de São Paulo e a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o Museu de Arte Moderna de Nova York.

Catálogo da Exposição

A exposição será acompanhada por um catálogo de edição bilíngue em alemão e inglês na E. A. Seemann Verlag. É a primeira publicação em língua alemã sobre Lygia Clark e oferece uma visão abrangente de seu trabalho. A exposição tem curadoria de Irina Hiebert Grun e Maike Steinkamp, ​​Neue Nationalgalerie. Financiado pela Kulturstiftung des Bundes (Fundação Cultural Federal Alemã) e pela Beauftragte der Bundesregierung für Kultur und Medien (Comissário do Governo Federal para Cultura e Mídia). Organizado em cooperação com o Kunsthaus Zürich, onde a mostra estará em exibição do Outono de 2025 à Primavera de 2026.

Trata-se de uma exposição especial da Nationalgalerie – Staatliche Museen de Berlin.

Exibição das reflexões de Ismael Monticelli.

09/jan

A Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “O Teatro do Terror”, exibição individual de Ismael Monticelli (vencedor da quinta edição do Prêmio FOCO da ArtRio), que propõe uma reflexão sobre os ataques antidemocráticos ocorridos em 08 de janeiro de 2023. Em diálogo com o Futurismo – movimento artístico do início do século XX associado ao fascismo -, Ismael Monticelli realiza uma instalação que transforma o edifício projetado por Grandjean de Montigny em um palco de combate, violência e teatralidade, evidenciando o caráter midiático e espetacular da tentativa de golpe contra o Estado Democrático de Direito.

Após receber mais de 40 mil visitantes no Museu Nacional de Brasília, a instalação chega ao Rio de Janeiro em um momento simbólico de dois anos dos atos que vandalizaram as sedes dos Três Poderes, reexaminando suas complexidades, ressonâncias e desdobramentos. O público é convidado a refletir sobre como a violência se entrelaça com a celebração, ecoando na estética dos movimentos extremistas e suas representações culturais. Com texto assinado por Clarissa Diniz.

A instalação de Ismael Monticelli ocupa os 30 metros de extensão da nave central da Casa França-Brasil e apresenta uma cena de conflito com figuras humanas em escala real, pintadas em tinta acrílica sobre caixas de papelão abertas e recortadas. Para criar essas figuras, o artista se apropriou do imaginário das obras do italiano Fortunato Depero, produzidas na década de 1920. Nesse período, Depero estava alinhado ao programa estético e ideológico do futurismo, criando imagens que exploravam o tema da guerra e do combate. Em uma obra em particular, intitulada Guerra=Festa (1925), Depero retratou em tapeçaria uma cena da Primeira Guerra Mundial. No entanto, ao contrário das expectativas de truculência e sanguinolência, a imagem esconde a violência sob um véu alegre e lúdico, sugerido pela profusão de cores e formas na composição.

É na fronteira entre a violência e o jogo que se situa Guerra = Festa, onde Fortunato Depero retratou o conflito como um grande espetáculo, uma celebração, num motim de formas e cores, alinhando-se completamente ao programa futurista de “glorificar a guerra” como uma força capaz de “curar, purificar a sociedade”. As obras de Fortunato Depero desse período parecem ressoar com os eventos de 08 de janeiro, que transformaram a violência e a destruição em um jogo festivo, um “turismo da violência”. Nos grupos de WhatsApp organizados para planejar a ação, os organizadores utilizavam uma mensagem em código para sinalizar a ocupação da Esplanada dos Ministérios, referindo-se ao evento como um ”dia de festa”. A senha escolhida foi: “Festa da Selma” (em alusão ao grito militar “Selva”).

Ismael Monticelli Monticelli escolheu o papelão como material principal para sua instalação, não apenas por suas propriedades físicas, mas também por sua história simbólica. Durante as Guerras Mundiais, o papelão desempenhou um papel crucial em diversas aplicações militares, como na fabricação de capacetes, contêineres de armazenamento e até embarcações. Devido à necessidade de redirecionar metais para o esforço de guerra, muitos itens cotidianos, que antes eram feitos de lata, chumbo e ferro fundido, passaram a ser produzidos em papelão.

Outra questão crucial da escolha do material é sua precariedade: “A instalação, que tem frontalidade evidente, utiliza a nave da Casa França-Brasil como um palco teatral desprovido de sua caixa cênica, expondo a fragilidade que sustenta o conflito retratado na parte frontal. Ao observar a obra por trás, revela-se uma paisagem de silhuetas de papelão, com as bordas borradas pela tinta e sustentadas por blocos de concreto. É uma espécie de cenografia que se desnuda, revelando suas próprias entranhas e ressaltando a vulnerabilidade inerente à materialidade e à narrativa que compõe”, ressalta o artista.

Um dos principais procedimentos artísticos de Ismael Monticelli é repensar imagens, histórias e narrativas estabelecidas, reorganizando-as ao confrontá-las com questões atuais. Em “O Teatro do Terror”, o artista revisita os eventos de 08 de janeiro à luz de uma das vanguardas do início do século XX – o futurismo. “Uma das primeiras perguntas que me fiz foi: como abordar esse acontecimento com uma estética e um programa ideológico que se alinhem a ele? O Futurismo me pareceu uma forma de pensar as invasões em Brasília, especialmente porque tanto essa vanguarda quanto o 08 de janeiro parecem compartilhar uma ânsia pela destruição de tudo”, comenta o artista.

O Futurismo e o Fascismo

Inaugurado há mais de 100 anos, o Manifesto Futurista (1909), escrito por Filippo Tommaso Marinetti e publicado no jornal francês Le Figaro, estabeleceu as bases de um programa que seria desenvolvido e refinado pelos artistas italianos ao longo dos anos. O manifesto exaltava a velocidade, a violência e a destruição como fontes de energia e renovação. Os futuristas celebravam a guerra, a masculinidade, o militarismo, o patriotismo como forças purificadoras, capazes de abrir caminho para uma nova ordem. A relação complexa do Futurismo com a guerra é destacada por sua postura paradoxal durante o conflito. Enquanto muitos movimentos vanguardistas, como o Dadaísmo, condenaram a guerra e as instituições responsáveis, os Futuristas, apoiaram-na entusiasticamente. Eles defendiam a destruição de museus, bibliotecas, universidades e qualquer resquício de sentimentalismo, que consideravam sinais de fraqueza. Para os futuristas, recomeçar do zero era essencial, incluindo a rejeição do feminismo e da igualdade social, vistos como valores ultrapassados e covardes.

A exposição é uma realização da Portas Vilaseca Galeria e dá início às comemorações dos 15 anos da galeria carioca em 2025.

Sobre o artista

Nasceu em Porto Alegre, RS, Brasil, em 1987. Vive e trabalha em Cachoeirinha, RS e Rio de Janeiro, RJ. A pesquisa de Ismael Monticelli tem como ponto de partida a observação sensível de seu entorno, com desdobramentos em ações dirigidas em criar uma organização racional. Ele apresenta instalações, objetos, fotografias, mostrando elementos domésticos de um ponto de vista alternativo e revelando o não visto. 2017 – Doutorando em Arte e Cultura Contemporânea/Processos Artísticos Contemporâneos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2012/2014 – Mestrado em Artes Visuais, Linha de Pesquisa: Processos de criação e poéticas do cotidiano, Universidade Federal de Pelotas – UFPel, Pelotas, RS, Brasil. 2006/2010 – Bacharelado em Artes Visuais, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Porto Alegre, RS, 2005/2010 Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS.

Três artistas no Centro Cultural Correios.

08/jan

Trabalhos baseados na vida cigana.

Em “Optchá: a estrada é o destino” Katia Politzer apresenta trabalhos inéditos tendo a cultura cigana como referência na formação da gente brasileira, mas de pouco reconhecimento até aqui. Ancestralidade, identidade, migração, diáspora, sincretismo e respeito à diferença: eis o arco de humanidade envolvido.

“A minha ancestralidade é composta por migrações, diásporas e contribuições à identidade brasileira de dois povos que sofreram muitas perseguições: de um lado os judeus e de outro, os ciganos. Tanto judeus quanto ciganos sofreram na Inquisição e quase foram dizimados no Holocausto”, diz Katia Politzer.

A busca por liberdade, a conexão com a natureza, uma intuição aguçada e a celebração da vida são as características da alma cigana que mais interessaram à artista. A mostra individual será inaugurada dia 22 de janeiro.

Sobre a artista

Nascida no Rio de Janeiro, Katia Politzer desenvolve seu trabalho de arte em projetos. Dependendo da base conceitual, podem ser desenho, pintura, escultura ou instalação, em formatos que vão do pequeno ao grande, e com diferentes relações com a História da Arte. Os materiais variam da cerâmica, vidro, ao tecido, passando pelo cimento, silicone e matérias orgânicas como pão e o mofo. Vive e trabalha no Rio.

No Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

Até 08 de março.

Igbá Odù: Os braços fortes da Memória

A exibição individual da artista Reitchel Komch propõe questionamentos acerca da diáspora africana no Brasil e da matriz negra. Em “Igbá Odù: Os braços fortes da Memória”, Reitchel Komch instiga o espectador como utopias de superação de um processo social historicamente nocivo à matriz negra de nossa formação. Segundo a artista, “trata-se de uma visão da arte, em cujas pinturas, esculturas, tótens, portais, simbolizam uma progressão espiritual do mundo físico. Utilizando, cabaças, fios têxteis (a juta, o algodão, o linho), hastes de ferro, eu me questino: onde estão as nossas vozes?”.

Sobre a artista

Reitchel Komch, carioca, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Artista visual de tendência neoexpressionista, atua em suportes diversos – com foco em revisões/reinvenções de mitologias ancestrais (o Iroko, por exemplo) e em dispositivos para visibilidade de etnia historicamente marginalizada, com superação do trauma (os africanos escravizados e forçados à imigração para o Brasil).

No Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

Até 08 de março.

A Obra é o Jogo

A exposição individual de Dorys Daher é uma imersão singular que une o universo da sinuca, a arquitetura e as artes visuais. Esta é a proposta da artista em sua exposição “A Obra é o Jogo”, com curadoria de Aline Reis. Dorys Daher é arquiteta. Suas obras dialogam com memórias afetivas e experiências contemporâneas, rompendo fronteiras entre o familiar e o experimental.

“A disposição dos meus trabalhos no espaço combina referências do design arquitetônico com movimentos coreografados em torno de uma mesa de sinuca, criando um diálogo entre o jogo, o ateliê e o escritório de arquitetura”, explica a artista.

No Centro Cultural Correios RJ.

Até 08 de março.

 

Panorama da obra de Vik Muniz.

07/jan

A nova exposição de Vik Muniz, intitulada “A olho nu”, será inaugurada em 2025 no Instituto Ricardo Brennand, localizado em Recife, PE. A mostra trará um panorama da produção do artista nos últimos oito anos, destacando suas obras mais recentes. Vik Muniz é conhecido por suas técnicas inovadoras e pela forma como utiliza materiais inusitados para criar suas obras, o que promete atrair a atenção do público e críticos. A exposição é uma oportunidade para os visitantes conhecerem mais sobre o trabalho do artista e sua evolução ao longo do tempo.

As identidades do país.

13/dez

A nova exposição do Museu de Arte do Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, reúne obras de importantes artistas brasileiros, colocando-as em diálogo com as imagens fabulares da afro-diáspora e das expressões visuais dos povos originários.

Ao cruzar fronteiras culturais e narrativas ancestrais, a mostra “Atlânticofloresta” no MAR, anuncia a riqueza do país assim como a necessidade de resistência das identidades que moldam o Brasil. A histórica relação com o oceano Atlântico e a floresta Amazônica, as causas vinculadas às questões da terra como resistência e protesto e a celebração da cultura dos povos afro-brasileiros e indígenas são os temas das narrativas que chegam ao mais carioca dos museus.

Com curadoria de Marcelo Campos, Amanda Bonan, Amanda Rezende, Thayná Trindade e Jean Carlos Azuos, a mostra é uma ampliação e um desdobramento da exposição “Atlântico Vermelho” que foi inaugurada em 16 de abril de 2024, em Genebra, na Suíça. Foi a primeira vez que uma exposição ocorreu durante o Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU, considerado o evento mais importante das Nações Unidas sobre a questão étnico-racial.

Cerca de 160 obras entre pinturas, fotografias, desenhos, esculturas, manufaturas têxteis e vídeos estarão na mostra, mais de 90% dessas obras fazem parte da Coleção MAR. O acervo do Museu de Arte do Rio conta com mais de 30 itens museológicos e cresce a cada ano com as doações recebidas. Entre os artistas que participam de “Atlânticofloresta” estão Rosana Paulino, Jaime Lauriano, Jaider Esbell, Lidia Lisboa, Denilson Baniwa, Ayrson Heráclito, Nádia Taquary, Xadalu Jekupé Tupã, Dalton Paula, Menegildo Isaka Huin Kuin, André Vargas, Maré de Mattos, Grupo Karajá, Yhuri Cruz, Gustavo Caboco, Ventura Profana, entre outros.

Até 25 de fevereiro de 2025.

Imagens quilombolas de Amanda Tropicana.

12/dez

A Fundação Pierre Verger, Salvador, Bahia, lança o catálogo da exposição fotográfica “Raízes”, de Amanda Tropicana, que apresenta imagens das comunidades quilombolas de Caetité, no sudoeste da Bahia. O catálogo, com 54 páginas, foi editado pela Fundação Pierre Verger e faz parte do projeto 16 Ensaios Baianos. Com a exposição “Raízes”, a artista buscou dar visibilidade ao cotidiano e à luta das comunidades de Lagoa do Mato, Vereda dos Cais e Sapé, localizados a cerca de 600 km de Salvador.

A exposição “Raízes”, que é a terceira edição da série, foi realizada em parceria com a Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 e também destaca a presença de lideranças femininas quilombolas. Nas edições anteriores, o projeto 16 Ensaios Baianos já trouxe os ensaios “Vaqueirama”, de Ricardo Prado, e “Herança do Pai”, de João Machado.

As fotografias de “Raízes” foram capturadas como parte de uma iniciativa para dar visibilidade às necessidades e à resistência destas comunidades. A venda das fotografias durante a exposição será revertida para as próprias comunidades fotografadas, deduzidos os valores de custo de impressão e as comunidades receberão exemplares do catálogo da exposição.

Além da exposição Amanda Tropicana expande seu portfólio com projetos que investigam as relações culturais entre a Bahia e os países africanos. Recentemente, ela desenvolveu o projeto “Foto-Diáspora: Moçambique”, pesquisa fotográfica que, por meio de várias imersões, examina as conexões culturais entre a Bahia e os países africanos envolvidos na diáspora forçada do século XIX. O projeto teve sua primeira circulação em Maputo e Ponta D’Ouro, em Moçambique, e passagens rápidas por Johanesburgo, na África do Sul. Em 2025, o projeto se expandirá para outros dois países africanos.

Exposição fotográfica Raízes, de Amanda Tropicana na Galeria da Fundação Pierre Verger, no Centro Histórico de Salvador.

Exposição “bab_ado” ocupa a Queerioca.

A Queerioca, centro cultural dedicado à resistência e à celebração da arte e da cultura LGBTQIAPN+ no Rio de Janeiro, inaugura no dia 14 de dezembro, a exposição coletiva “bab_ado”, reunindo os trabalhos dos participantes da última residência artística da Bienal Anual de Bûzios (bab). Com curadoria do artista visual Armando Mattos, a mostra em cartaz até junho de 2025 apresenta obras inéditas e peças do acervo da bab, conectando os 15 anos de trajetória do projeto ao público carioca.

“Pela primeira vez em 15 anos, a bab bienal apresenta a experiência de seus participantes numa mostra fora de seu espaço de atividades. Esse convite da Queerioca é um desafio, pois abre espaço para uma nova experiência do Projeto, antes circunscrita à prática e discussão de situações artísticas experimentais, para apresentar o resultado dessa pesquisa a um público mais amplo, no Rio de Janeiro”,  explica Armando Mattos, também coordenador do Núcleo Educativo e Pesquisa do Instituto Gilberto Chateaubriand.

Arte, território e hospitalidade

Com 25 obras, a mostra reúne produções inéditas da 16ª edição da bab, bienal  anual búzios, realizada em 2024, além de destaques de edições anteriores. São trabalhos de artistas consagrados que exploram temas como deslocamento, meio ambiente e convivência. “O projeto bab sempre buscou ir além da criação de objetos. É sobre experimentação e convivência sensível entre artistas, público e a natureza, permitindo que esses encontros afetem suas produções”, comenta Armando Mattos.

“Esses elementos orientaram todas as edições do projeto desde sua estreia, em 2008, com a participação de Anna Bella Geiger, Artur Barrio e Ivald Granato (in memoriam)”, ressalta o curador.

Redimensionada por Armando Mattos para o público da Queerioca, esta versão da exposição valoriza registros documentais de experiências efêmeras, performances e ensaios artísticos. Entre os destaques estão: Kika Moraes (fotografia e objetos), Rodolfo Viana (fotografia), Fernando Codeço (instalação/print), Rafaela Rocha (foto/vídeo), Paula Scamparini (fotografia), Camila Rocha (desenho de observação), Karola Braga (instalação olfativa), Bernardo Backer (fotografia), Raphael Medeiros (objeto), Edu Barros (pintura), Armando Mattos (escultura), Felippe Moraes (objeto), Daniel Toledo (fotografia), Andy Villela (desenho). Além disso, o acervo do projeto traz para o espaço LGBTQIAPN+ carioca algumas das obras de nomes como Anna Bella Geiger, Panmela Castro, Laura Lima, Opavivará!, Marcos Bonisson, Luciano Bogado e Brigida Baltar (in memoriam), entre outros.