A cor como ferramenta de exame.

11/abr

Julia Kater & Deni Lantz Alvorada Reveille.

A Galeria Simões de Assis, Balneário Camboriú, SC, apresenta até 12 de abril, Julia Kater & Deni Lantz: Alvorada / Reveille.

Texto de Lucas Albuquerque.

Alvorada. A primeira claridade. O instante crepuscular. A clara nata que prepara a chegada do sol. Um convite à redescoberta do mundo dia após dia. Esse momento, que tanto encantou os impressionistas no desejo fugaz de captar o preâmbulo cromático da precoce manhã, é o fio poético que une os trabalhos de Deni Lantz e Julia Kater. Seja nas colagens e recortes fotográficos de Kater ou nas pinceladas enceradas de Lantz, o que instiga esta seleção é menos o conteúdo de suas produções que a proposição imersiva em uma fenomenologia da cor, partilhada entre olho e pele na experiência sensível de suas poéticas. Uma aproximação que acentua a curiosa intenção de ambos sobre a figura, cuja aparição em suas composições se dá pelas bordas. Afeitos ao desejo de ultrapassar o invólucro aparente das coisas para vislumbrar as relações sensíveis que permeiam o tema representado e quem o representa, os artistas encontram como ferramenta de exame a cor. Valem-se da sensualidade das gradações cromáticas para propor novas maneiras de contemplar que muito se assemelham à primeira vista do dia, quando abrimos os olhos e vemos de modo borrado as formas fugidias do entorno. Lembra-nos, afinal, que alvorada é também toque do despertar, de recobrar os sentidos.

As fagulhas luminosas inaugurais são aqui sugeridas por Lantz ainda em tons soturnos. A textura riscada, quase ríspida, de alguns trabalhos, se dá pelo uso experimental da própria tinta: em seu estado endurecido, ela é pressionada diretamente contra o suporte, criando sulcos e rastros do caminho percorrido pelo pincel. Outros, todavia, carregam consigo uma camada sedosa, resultado do uso da cera de abelha junto à paleta cromática. Nesses diferentes acabamentos, em que o olho consegue tocar a superfície, repousam as mais tenras sensações das qualidades de incidência da luz sobre objetos e paisagens. É de maneira dúbia, contudo, que a realidade é, para Lantz, o tudo e o nada. Tudo, visto que em cada uma das telas é um pequeno índice da relação de equidade e escuta que o artista presta à terra, aos seus seres vegetais, aos fungos que a revolvem, e, enfim, a todo o ecossistema natural que resvala em sua prática pictórica, sempre embebida de seu aprendizado com a natureza. Nada, pois há um tanto de imaginação nossa, como do artista, em traçar um paralelo de composições tão abstratas com um tema em específico. Neste jogo de relações bipolares, sua pintura se torna, fundamentalmente, um campo de ensaio em que cada peça é o resultado de uma tênue equação entre o desejo do mundo material e o modo como Lantz maneja o espaço dessa dança.

Julia Kater, por sua vez, tem um compromisso com a imagem completamente divergente da premissa da fotografia clássica de capturar o instante ideal. Seu interesse é o de liberar a fotografia de sua função primeva. Por meio de recortes, faz um desenho-colagem de resquícios fotográficos de paisagens, sobrepondo-as na intenção de construir um outro horizonte. Assim, a superfície planar fotográfica, tão voltada à ilusão, conquista a tridimensionalidade em blocos configurados para agrupar as minuciosas camadas. O gesto do corte, por sua vez, cria outros desenhos – que podem ser percebidos como silhuetas de montanhas ou de dunas de areias, ou como a transmutação de uma sensação rítmica de um corpo perante uma música ou som. Aqui, seus trabalhos estabelecem uma ideia de variação pela cor, traçada na recombinação de fotografias de diferentes momentos do dia. O gesto do corte estabelece o ritmo da leitura das camadas sobrepostas, enquanto experimentos analógicos partilham do mesmo desejo de captura de algo que foge à representação fotográfica, atendo-se às falhas e borrões que conduzem o espectador a tatear a incerteza. Talhadas em tiras de céus, mares e incidências de luz natural, as composições de Kater rearticulam o sentido deste mundo para ansiar a chegada de um outro, inédito, ainda que mediante a evocação de um imaginário de tantas outras cenas de paisagens quaisquer.

Alvorada sugere um jogo entre o amanhecer e o anoitecer. Na relação quase tátil que Lantz e Kater estabelecem com a cor, os ciclos do dia e suas oscilações entre claridade e escuridão tornam-se alegorias mediadas pelas pinceladas e composições reunidas aqui. Lamber o céu, tatear o horizonte: o convite à candura de quem abre os olhos e é irradiado pelas faixas de luz da manhã como se fosse a primeira vez.

Lucas Albuquerque.

Até 12 de abril.

A produção de Carlos Zilio em retrospecto.

03/abr

 

Itaú Cultural, Avenida Paulista, São Paulo, SP,  apresenta exposição retrospectiva da obra de Carlos Zilio. Com mais de 100 peças, a mostra Carlos Zilio – a querela do Brasil se estende pelos três andares do espaço expositivo da instituição e percorre os vários tempos de sua vida, que marcaram o trabalho realizado pelo artista nos últimos 60 anos.

É a primeira retrospectiva do artista, nascido em 1944, no Rio de Janeiro. Com caráter cronológico, a mostra acompanha a sua produção de 1966 a 2022 definida por cada fase de sua vida. A exposição passa pelas diferentes etapas da obra do artista – entre técnicas, linguagens e suportes variados – e acompanha o desenvolvimento do trabalho iniciado com uma produção politizada, durante a Ditadura Militar, passando por trabalhos abstratos e de experimentação em uma reflexão sobre a identidade nacional e o Modernismo Brasileiro, até chegar ao vazio e à ausência. Exibe, ainda, cadernos de trabalho de Zilio, nunca antes expostos. Com concepção e realização do Itaú Cultural, curadoria de Paulo Miyada e projeto assinado por Fernanda Bárbara, do Escritório UNA barbara e valentim, a mostra fica em cartaz até 06 de julho.

“Carlos Zilio é um artista fundamental na arte contemporânea brasileira. Para entender seu trabalho artístico e intelectual, é preciso olhar para o contexto social, político e artístico no qual ele estava inserido”, observa Sofia Fan, gerente de Artes Visuais e Acervos do Itaú Cultural. “Esta exposição é uma oportunidade para que as pessoas possam se aprofundar em sua produção, tornando-a mais acessível para um público amplo e diverso. Os visitantes poderão compreender como ela se relaciona com a história recente do país e conhecer mais os diferentes movimentos artísticos com os quais o seu trabalho dialoga, da década de 1960 até hoje.”

“Esta não é uma exposição óbvia e a vejo coerente com o projeto do Itaú Cultural de valorizar a história da arte e de seus agentes que ajudaram a construir o Brasil de maneira mais autônoma”, comenta o curador Paulo Miyada, para quem Zilio é um artista-cidadão “obstinadamente inquieto ou inquietamente obstinado.”

Por suas grandes dimensões, a instalação Atensão (com “s”, mesmo), realizada em 1976, ocupa boa parte do piso 1. Composta de materiais de construção, como pedras, tijolos, cabos de aço, ripas de madeira, além de um metrônomo e uma bomba de compressão em metal, ela explora a tensão e a suspensão. A obra permite que o público transite por situações de equilíbrio precário, o que desafia a sua percepção.

No piso -1, que abrange as pinturas de Zilio dos anos 1990 a 2022, o público conhecerá os seus cadernos de trabalho inéditos. Eles facilitam a observação de algumas etapas do seu processo criativo e se conectam com os pensamentos e formas de fazer arte.

Descendo para o piso -2, onde está reunida a produção de 1960 a 1980, encontram-se obras significativas de sua carreira, como A Querela do Brasil (ou o diabo e o bom Deus). Acrílica sobre tela da coleção do artista, realizada entre 1979 e 1980, esta obra critica o Modernismo e os estereótipos da brasilidade. Nela – fruto da tese de doutorado A Querela do Brasil defendida na França, em 1970 -, Zilio aponta as influências culturais europeias, negras e indígenas na constituição da arte brasileira, a partir da análise das obras de Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Portinari.

Lute, de 1967, é mais uma das obras emblemáticas de Carlos Zilio que está nesse andar. Trata-se de uma serigrafia sobre filme plástico e resina condicionados em uma marmita de alumínio aberta. Ela contém um rosto amarelo de formato indefinido, onde a palavra que batiza a obra está escrita em vermelho sobre a boca. O projeto era distribuir as marmitas nas fábricas, em uma tentativa de mobilizar os trabalhadores a protestar contra o autoritarismo. Logo percebeu que se tratava de um plano de difícil execução, tanto pela grande quantidade que deveria produzir quanto pelo período vivido. Nestes tempos de repressão mais forte, Carlos Zilio ficou mais engajado na luta e na resistência do que na produção artística. O momento marcou uma ruptura voluntária em sua produção – forçada, em seguida, por mais dois anos devido à prisão. Não por acaso, nesse mesmo piso encontra-se Auto-retrato, uma de suas primeiras produções após sair do cárcere e retomar a sua obra. Trata-se de uma tela em vinílica e hidrocor, de 135 x 85 cm, onde se vê uma mancha vermelha disforme – bem no centro de um fundo branco – atravessada pela palavra que lhe dá nome. A exposição também reúne, no piso -2, 30 desenhos, feitos em folhas de papel e com caneta hidrográfica no período em que foi preso político da Ditadura Militar, de 1970 a 1972, no Rio de Janeiro. Eles formam uma espécie de diário do cárcere, usando elementos figurativos para abordar a repressão a que esteve submetido.

‍Os tempos de Zilio

A obra de Zilio é marcada por fases distintas, que vão do enfrentamento político à introspecção e experimentação, sempre pautado por compromisso éticos, conectados com o seu tempo e orientados por pensamentos em relação ao mundo. A sua entrada nas artes começou nos anos de 1960 e foi impactada pela fase da Ditadura. Nesse momento passou a expressar sua visão crítica de modo claro e rápido, com recursos retóricos gráficos, visuais e poéticos, integrado ao movimento da contracultura. Foi após a instauração do AI-5, que restringia as liberdades no mesmo período autoritário, que ele começou a duvidar da contundência da arte e a se aprofundar no enfrentamento ao regime. Acabou sendo baleado pelos órgãos de repressão e preso por dois anos, quando passou a desenhar no cárcere com caneta em folhas de papel e até nos pratos que recebia na cela. Libertado na década de 1970, Zilio experimentou recursos para produzir a sua obra de modo que pudesse circular, driblando a censura, com mensagens críticas subliminares. Assim, buscando uma linguagem que produzisse alegorias críticas ao país, fez uso de práticas conceituais de fotografia, audiovisuais, instalações, objetos. Aqui, ele renunciou às cores e aos recursos figurativos, elaborando uma narrativa diferente da dos anos 1960. Sempre, no entanto, com um discurso permeado pela tensão, ruptura, fragilidade e incompletude que permeavam os sentimentos dos brasileiros. Nessa mesma década, foi para Paris para estudar teoria e história da arte, ampliando sua visão artística para a qual passou a ter acesso livre. Voltou ao Brasil com doutorado A querela do Brasil, publicado em livro com o título A querela do Brasil – A questão da identidade da arte brasileira. Neste estudo, se debruçou no modernismo europeu e brasileiro, apontando suas promessas e falências. A volta do exílio, do fim dos anos de 1970 para 1980, foi o momento de o artista produzir o primeiro grande corpo de pinturas, presente na exposição, quando passou a refletir, absorver, digerir e comentar aspectos da arte brasileira e internacional, com algumas pitadas de irreverência e muita crítica. Ao mesmo tempo, começou a direcionar o seu ativismo pela arte para o campo acadêmico para o qual dedicou décadas de sua vida. Começou a dar aula na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e na Faculdade de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi professor pioneiro na orientação de arte para os pesquisadores, criou disciplinas, programas acadêmicos, publicações, seminários e simpósios. Virou mestre de gerações de futuros professores, artistas e pesquisadores – não somente do Rio. Por fim, a partir dos anos 1990, reviu o modo de fazer pintura, reduziu sua paleta cromática e privilegiou o gesto, o movimento, a escala e o ritmo. Até 2022, ano que encerra o arco da retrospectiva no IC, Zilio caminhou para o desafio de produzir o vazio, o luto, a morte e a ausência.

Coletiva A Coisa dRag.

01/abr

Reunindo artistas emergentes e consolidados no circuito de arte brasileira, a mostra apresenta obras relacionadas ao fenômeno drag e seus elementos de transgressão. No dia 04 de abril, no Centro Cultural da UFMG, inaugura-se a exposição coletiva a Coisa dRag, Belo Horizonte, MG, reunindo produções de 34 artistas brasileires, sob curadoria de Sandro Ka e assistência curatorial de Elis Rockenbach.

A mostra é resultado de um amplo mapeamento realizado em 2024, integrado à pesquisa A dragficação como fenômeno cultural e problemática na produção artística contemporânea (PRPq/UFMG), desenvolvida na Escola de Belas Artes da UFMG. A partir desse levantamento, o conjunto exposto revela um recorte da produção de artistas atuantes em diversas partes do país.

Participam da exposição: Adriano Basilio, Amorim, André Venzon, Augusto Fonseca, Avilmar Maia, Caio Mateus, Camila Moreira, Carambola, Carolina Sanz, Cassandra Calabouço, Cavi Brandão, Cynthia Loeb, Dods Martinelli, Efe Godoy, Lili Bertas, Elis Rockenbach, Sarita Themônia, Glau Glau, Hugo Houayek, Ítalo Carajá, Karine Mageste, Lai Borges, Lia Menna Barreto, Lorenzo Muratorio, Maria Carolina, Rafa Bqueer, Renato Morcatti, Rodrigo Mogiz, Sandro Ka, Tatiana Blass, Téti Waldraff, Thix, Tolentino Ferraz e Victor Borém.

Até 16 de maio.

De Isaac Julien para Lina Bo Bardi.

26/mar

A Nara Roesler São Paulo apresenta até 24 de maio, a exposição “Isaac Julien – Lina Bo Bardi – A Marvellous Entanglement – Photographs & Collages” exibindo 20 obras, 16 delas totalmente inéditas – derivadas do filme “Lina Bo Bardi – A Marvellous Entanglement” (2019), ni qual Lina Bo Bardi (1914-1992) é representada por Fernanda Montenegro e Fernanda Torres. O texto crítico é de Solange Farkas, fundadora da Associação Cultural Videobrasil, em 1991, e curadora de diversas bienais e exposições.

As novas colagens do cineasta e artista britânico Sir Isaac Julien (1960), apresentadas pela primeira vez, se destacam pelo uso singular das cores, evocando diversos motivos poéticos e ecológicos na obra de Lina Bo Bardi.

A mostra na Nara Roesler ocorre simultaneamente à exibição inédita no Brasil, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), da videoinstalação, com nove telas, do filme “Lina Bo Bardi – A Marvellous Entanglement”, de Isaac Julien, no novo anexo do museu, no edifício Pietro Maria Bardi.

Desse modo, o público poderá ter contato com cenas complementares do mesmo trabalho de Isaac Julien. Tanto no filme como nas fotografias e colagens, Lina Bo Bardi é representada em diferentes estágios de sua vida por Fernanda Montenegro e Fernanda Torres. No filme, as atrizes lêem textos adaptados dos escritos da arquiteta ítalo-brasileilra, envolvendo os espectadores em uma narrativa que se baseia em uma citação de Lina Bo Bardi – “O tempo não é linear, é um maravilhoso emaranhado no qual, a qualquer momento, fins podem ser escolhidos e soluções inventadas, sem começo nem fim”.

 

A nova série de Vik Muniz.

20/mar

A Multiarte, Fortaleza, CE, convida para a abertura da exposição “Dinheiro Vivo” no dia 27 de março. Um dos grandes nomes da arte, com reconhecimento internacional, Vik Muniz mostra em Fortaleza quinze trabalhos da série “Dinheiro Vivo”, iniciada em 2022, feita exclusivamente com cédulas descartadas pela Casa da Moeda. A série compreende dois grupos de trabalhos: os que reproduzem os animais que estampam as notas, e as criadas a partir das pinturas de paisagens brasileiras dos chamados artistas viajantes do século 19. Para a exposição na Multiarte, Vik Muniz criou especialmente a obra “Paisagem no interior da mata tropical no Brasil com figuras, a partir de Johann Moritz Rugendas” (série “Dinheiro vivo”, 2025).  A pintura original de Rugendas, em óleo sobre tela, com 46 x 36 cm, feita em 1842, e pertencente a uma coleção particular de São Paulo, estará em exibição, ao lado da recriação de Vik Muniz. A exposição é uma parceria entre a Multiarte e a galeria Nara Roesler, que representa o artista. O artista, nascido em 1961, em São Paulo, e que divide seu tempo entre Nova York e o Rio de Janeiro, é filho de pai cearense, de Santa Quitéria. No dia da abertura, Vik Muniz falará sobre seu trabalho.

Victor Perlingeiro, diretor da Multiarte, ressalta: “O trabalho de Vik Muniz dialoga de maneira poderosa com as questões do mundo contemporâneo. “Dinheiro Vivo” é uma exposição multifacetada, que aborda temas como paisagem, ecologia, imagem e o próprio dinheiro, tanto como conceito quanto como material. Ter essa individual em Fortaleza consolida a Multiarte como uma galeria que busca conectar o público a artistas de relevância internacional, como Vik, que tem feito exposições nos museus mais prestigiosos do mundo, e está presente em coleções institucionais de grande importância, como o Pompidou, em Paris, Reina Sofía, em Madri; Museum of Contemporary Art, em Tóquio; Guggenheim e Whitney Museum, em Nova York, e a Tate Gallery, em Londres. Dessa forma, buscamos fortalecer o circuito artístico regional e nacional”.

Eduardo Bueno, no texto do catálogo que acompanha a exposição, escreve: “Dinheiro morto: eram mil folhas de notas descartadas que seriam recicladas. Tais cédulas Vik tratou de transmutá-las em células de novos organismos, já que em seu DNA de artista está o dom de transubstanciar”.

Sérgio Ferro no MAC USP.

14/mar

A produção de Sérgio Ferro documenta e desafia as estruturas de poder, evidenciando as tensões entre criação e opressão. A mostra propõe um olhar aprofundado sobre sua trajetória e as formas como sua obra dialoga com as lutas políticas e sociais; o público terá a oportunidade de explorar a produção do arquiteto por meio de documentos, maquetes, filmes e registros históricos que compõem um retrato profundo de sua trajetória. A mostra realizada no MAC USP até 15 de junho intitulada Sérgio Ferro – Trabalho Livre, mergulha na trajetória e no pensamento crítico do arquiteto, pintor e teórico cuja obra desafia as relações entre arte, arquitetura e sociedade.

Com curadoria de Fabio Magalhães, Maristela Almeida e Pedro Fiori Arantes, a exposição investiga como Sérgio Ferro desenvolveu um pensamento único sobre o trabalho, a produção artística e a arquitetura, pautado na resistência à opressão e na busca por uma prática verdadeiramente emancipada. A intersecção entre arte e política permeia sua obra, revelando a construção de uma visão crítica que atravessa diferentes campos de atuação. Desde sua participação no movimento Arquitetura Nova, ao lado de Flávio Império e Rodrigo Lefèvre, Sérgio Ferro reformulou as bases da crítica arquitetônica. Sua abordagem denuncia a exploração dos trabalhadores da construção civil e propõe uma revisão estrutural da disciplina, indo além da estética e das formas para analisar a materialidade e a organização do trabalho. Fotografias cedidas pelo Instituto Moreira Salles ilustram e ajudam a contextualizar a crítica do arquiteto ao modelo de produção vigente.

Exposição homenageia Aderbal Freire-Filho.

 

Mostra no Teatro Gláucio Gill apresenta a mostra Aderbal Teatro Cidade, uma homenagem ao diretor de teatro, ator e apresentador Aderbal Freire-Filho, falecido em 2023. Com curadoria de César Oiticica Filho, a mostra apresentará a extensa obra de um dos mais importantes e criativos dramaturgos brasileiros, que tem uma forte ligação com o Teatro Gláucio Gill, tendo criado, naquele espaço, em 1989, o Centro de Demolição e Construção do Espetáculo (CDCE), um marco na história da dramaturgia brasileira. Com fotos de Nil Caniné e conceito visual de Lea van Steen, pesquisa de Antonio Venancio e produção executiva de Cleisson Vidal, a mostra extrapolará as fronteiras do espaço, sendo apresentada também na Praça Cardeal Arcoverde.

“Nosso objetivo foi fazer uma exposição que fosse também uma obra de arte ao mesmo tempo, trazendo a questão experimental que é tão presente no teatro do Aderbal, tendo também esse diálogo forte com a cidade, que era uma característica dele”, afirma o curador César Oiticica Filho. A exposição também se expandirá para a rua, sendo realizada também na Praça Cardeal Arcoverde, que fica em frente ao Teatro Gláucio Gill, onde haverá imagens e cartazes de espetáculos históricos do diretor

Até 19 de abril.

Fotografias de Claudia Andujar.

14/fev

A Casa Seva, em parceria com a Galeria Vermelho e com curadoria de Ana Carolina Ralston apresenta exposição individual de fotografias de Claudia Andujar. A mostra reúne uma série de imagens que exaltam a beleza e a complexidade ambiental da Natureza, permitindo um mergulho sensorial na visão da renomada fotógrafa suíça radicada no Brasil.

A exposição apresenta registros inéditos da floresta amazônica, capturados por Claudia Andujar nos anos 1970. As ampliações dessas fotografias possibilitam ao espectador uma experiência imersiva, dividida em dois núcleos expositivos dentro da Casa Seva, espaço independente voltado à Arte, Natureza e Sustentabilidade.

No primeiro, as imagens impressas em papel algodão ressaltam a maestria da artista no uso da luz e sua composição poética. Já no segundo núcleo, a projeção de três fotografias sobre tecidos cria uma atmosfera envolvente, permitindo que os visitantes interajam diretamente com a obra.

Além do impacto estético, “Claudia Andujar: Flora” resgata a mensagem essencial da artista: a importância da preservação da Amazônia. Publicadas originalmente na revista Realidade em uma edição especial sobre a região, essas imagens servem como um alerta para a devastação ambiental e a necessidade de proteger esse ecossistema vital. Como a própria Claudia Andujar afirma, “sem a natureza não dá para continuar a viver”.

Em cartaz até 12 de abril.

Mostra na Anita Schwartz Galeria.

07/fev

A Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ,  inaugurou a programação de exposições de 2025 com “Inatividade contemplativa”, quinta edição do Projeto GAS, sob a curadoria de Cecília Fortes. Inspirada no livro “Vita contemplativa: ou sobre a inatividade”, do filósofo sul-coreano radicado na Alemanha, Byung-Chul Han, a nova exposição reverência a pausa, o respiro e a fruição do tempo livre como um momento de repouso sagrado que reúne em si intensidade vital. É um convite à suspensão do tempo, uma afirmação do elemento contemplativo.

“Inatividade contemplativa” bebe dessa fonte e reúne obras de artistas representados pela Anita Schwartz Galeria de Arte e alguns convidados, que se conectam com o princípio da contemplação como um momento rico de fruição. Completam o projeto duas ativações que se conectam à proposta conceitual, a serem realizadas em fevereiro e março, respectivamente: um sarau de poesia conduzido pela poeta carioca Luiza Mussnich, e uma prática de respiração consciente e de meditação sonora (sound healing), com Guga Dale e Victor Chateaubriand.

Os artistas e as obras

Adriana Vignoli apresenta esculturas, objeto e desenho-colagem que abordam a relação entre plantas e cosmologia, e a transmutação de materiais. Da apreciação de diferentes rios do Brasil nasce “Confluência”, composição digital de Claudia Jaguaribe. Em série recente, Fernando Lindote parte da contemplação das cores, formas e texturas das flores.   Gabriela Machado incorpora as formas da natureza e a observação do ambiente que a rodeia em paineis de grande escala e cores vibrantes. Luiz Eduardo Rayol manifesta o sublime através de “Toda a história do mundo”, uma pintura de contorno irregular. Rosana Palazyan registra em bordado a memória das folhas que viu nascer, das plantas adormecidas que germinaram no jardim e foram replantadas na terra do Parque da Catacumba. Thiago Rocha Pitta incorpora em afresco e aquarela elementos captados pela retina em momentos de observação minuciosa do céu, durante a noite: um eclipse, um cometa, a imagem do mapa celeste. E as composições abstratas de Tiago Mestre partem de uma constante observação do mundo e incorporam elementos como fogo, fumaça, corpos celestes e terrestres.

No segundo andar da galeria, Bruna Snaiderman nos instiga a desvendar o efeito óptico de sua obra laminada. Lenora de Barros saltita nas sílabas do silêncio com a sua poesia performática. Maria Baigur capta nosso olhar pelo movimento de marés improváveis, enquanto Maritza Caneca hipnotiza nossos sentidos num registro particular de luz e cor. Nathalie Ventura suscita reflexões acerca do sentido da existência e nossa relação com o meio-ambiente. E Thiago Rocha Pitta apresenta aquarelas em pequenos formatos, sugerindo reflexões acerca do ambiente natural e do universo onírico.

Até 22 de março.

Gabriel Wickbold em série inédita.

05/fev

 

O Museu da Imagem e do Som (MIS), Jardim Europa, São Paulo, SP, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, inaugura a exposição MAZE, do artista visual Gabriel Wickbold. A mostra apresenta uma nova série autoral composta por 13 obras que exploram, por meio de fotografias fragmentadas e entrelaçadas, a complexa relação entre identidade, imaginação, hereditariedade e criação.

Na série MAZE, Gabriel Wickbold propõe uma interpretação visual que associa genealogia e memória coletiva. O artista utiliza fotografias em preto e branco de figuras “quase fictícias” de uma árvore genealógica, pessoal e também universal, reconfiguradas em composições labirínticas que transcendem categorias de gênero, etnia ou contexto individual. As obras, produzidas com técnicas de manipulação digital e impressão em tecido sintético vulcanizado, provocam reflexões sobre a construção da identidade a partir de narrativas familiares, culturais e genéticas.

Conforme análise do Dr. Ioannis Papavasileiou – PhD do Royal Melbourne Institute Of Technology, Melbourne, AU – sobre MAZE, “Essas imagens fragmentadas servem como pedaços de identidade, representando figuras significativas como pais, irmãos e a própria infância. Ao se depararem com essas imagens no espaço da galeria, os espectadores são levados a acreditar em sua existência e conexão com o artista e seu passado, ecoando a noção de Roland Barthes sobre a fotografia como um certificado de presença no passado.”

A exposição marca mais um capítulo na programação do MIS, reconhecido por seu papel na promoção de diálogos entre diferentes linguagens artísticas e sua contribuição à formação cultural no Estado de São Paulo.

Em cartaz até 13 de abril.