Paulo Bruscky: Atitude Política

01/jun

A exposição “Paulo Bruscky: Atitude Política”, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti, celebra a chegada de parte do acervo do artista à coleção do Instituto de Arte Contemporânea, IAC, Pacaembú, São Paulo, SP, e foi concebida a partir de pesquisas no infindável arquivo pessoal do artista, essa espécie de “Biblioteca de Babel” borgeana no Recife onde convivem e conversam cartas, obras, poemas, ideias do próprio Bruscky e de um número incalculável de outros artistas, de maneira análoga ao que acontece, de certa forma, no próprio IAC.

O eixo escolhido, em diálogo com o próprio artista, foi o da colaboração, apoio e afinidade do artista com colegas ao redor do mundo que enfrentavam, como ele, as ameaças e os perigos de regimes opressores.

A a abertura da exposição acontecerá no dia 03 de junho, sábado, das 11h às 15h. “Paulo Bruscky: Atitude Política” ficará em cartaz até o dia 05 de agosto.

A exposição tem o apoio da Galeria Nara Roesler, apoio institucional do Arquivo Paulo Brusky e o educativo é apoiado pelo Instituto Galo da Manhã. As atividades do IAC são amparadas pela Lei Federal de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, Governo Federal.

As Cosmococas de Oiticica&Neville

O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro, Rio de Janeiro, RJ, em colaboração com o Projeto Hélio Oiticica, abrirá no dia 03 de junho, às 15h, a instalação inédita “Cosmococa 5 Hendrix War (versão privê)”, da icônica obra “Cosmococa – Programa in Progress”, criada em 1973 por Hélio Oiticica (1937-1980) e o cineasta Neville D’Almeida (1941), que estará presente na abertura da mostra.

A instalação inédita “Cosmococa 5 Hendrix War (versão privê)” será mostrada no Rio de Janeiro, dentro do tour mundial que celebra os 50 anos da emblemática série interativa. Em 13 de março de 1973, o artista Hélio Oiticica (1937-1980) e o cineasta Neville D’Almeida (1941) iniciaram uma colaboração inusitada, e criaram uma série de instalações pioneiras (Quasi-Cinemas), que chamaram de Cosmococas – Programa in Progress, com projeções, trilhas sonoras e proposições para o espectador, elemento ativo, integrante, do trabalho. A “Cosmococa 5 Hendrix War (versão privê)” permancerá em cartaz no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica até 10 de dezembro.

O “Programa in Progress” abrange vários desdobramentos – livro, fotografias, cartazes, instalações públicas e domésticas, como a “Cosmococa 5 Hendrix War (versão privê)”. A obra é a única, das seis criadas especialmente para residências, que nunca havia sido mostrada em público. Foi criada em homenagem a Jimi Hendrix (1942-1970), e elaborada para ser instalada em um espaço residencial, privado, com projetores nos diversos cômodos da casa.

Para a exposição no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (CMAHO), foi montado um apartamento, com mobília, e obras de outros artistas, como Alexandre Murucci, Anna Costa e Silva, Elmo Martins, Julianne Chaves, Lígia Teixeira, Paulo Jorge Gonçalves e Rita Chaves.

A exposição da “CC5” faz parte do tour mundial que durará um ano, em celebração aos 50 anos da criação da emblemática série “Cosmococas”. O tour foi iniciado no dia em 13 de março de 2023, na EAV Parque Lage, no Rio de Janeiro, quando foi mostrada a “Cosmococa 4 Nocagions”. Em seguida, em 18 de março, durante a SP-Arte, a CC4, em versão privê, integrou a mostra “Hélio Oiticica: Mundo-Labirinto”, na Vila Modernista, nos Jardins, em São Paulo, com projeto arquitetônico de Flávio de Carvalho.

Depois, haverá a exibição da “Cosmococa 5 Hendrix War” e da “CC2 Onobject”, na Lisson Galery, em Nova York; “CC2 Onobject” e “CC3 Maileryn” (versões domésticas), na Hunter College, em Nova York; e ainda no The Mistake Room, em Los Angeles, EUA; e Carcará Photo Arte, em São Paulo.

Programa sobre a produção de Hélio Oiticica

A exposição “Cosmococa 5 Hendrix War (versão privê)” integra o programa Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, que seleciona diferentes ações, que vão de performances a aulas de diferentes artistas, pensadores, professores, entre outros profissionais, relacionadas à obra de Hélio Oiticica. Em “Cosmococa/CC5 Hendrix-War(versão privê)”, de 1973, ao som do álbum “WarHeroes” (1972), de Jimmy Hendrix, a sala oferece ao público uma rede, para relaxar. Em sua última entrevista, Hendrix disse: “Quando as coisas ficarem muito pesadas, e chame de hélio, o gás mais leve que existe”.

Breve histórico das Cosmococas – Versões públicas

No dia 13 de março de 1973, o artista Hélio Oiticica (1937-1980) e o cineasta Neville D’Almeida (1941) iniciaram em Nova York uma colaboração inusitada, e criaram uma série de instalações pioneiras (Quasi-Cinemas), que chamaram de Cosmococas-Programa in Progress, com projeções, trilhas sonoras e proposições para o espectador, elemento ativo, integrante do trabalho. Hélio e Neville haviam planejado fazer um filme, e em 1973, em um encontro em Nova York, desenvolveram uma série de slides, onde a câmera fotográfica foi usada como filmadora, o Quasi-Cinema. Na montagem, eles usaram as imagens com duração de alguns segundos, ao contrário das habituais 24 imagens por segundo do cinema. O tempo da obra fica então dilatado, exigindo uma atenção maior do público, que assim se torna ferramenta fundamental no trabalho. “Dessa forma, a Cosmococa é precursora dessa participação em meio cinematográfico das mídias no século 20”, destaca César Oiticica Filho, que coordena o Projeto Hélio Oiticica.

Cosmococas – Formas diversas de participação do público

As 11 instalações multimídias sensoriais-cinco grandes, públicas, e seis versões mais simples, domésticas (ou privês como os artistas chamavam) – que compõem o Cosmococas – Programa in Progress criam diversas formas de participação do público, com o objetivo de deixar as pessoas“em um estado de invenção, que pode ser identificado como um exercício experimental de liberdade, conceito criado por Mário Pedrosa, um dos maiores críticos de arte do século 20″, afirma César Oiticica Filho.

Em Cosmococa/CC1 Trashiscapes(1973), o público recebe uma lixa de unhas e é convidado a despreocupadamente se deitar em colchões, e relaxar. A trilha sonora inclui sons urbanos (Second Avenue, em Nova York), músicas de Jimi Hendrix, e tradicionais pernambucanas – Luiz Gonzaga, Dominguinhos e  Pífanos de Caruaru.

Em Cosmococa/CC2 Onobject(1973), sons de telefone e músicas retiradas do álbum “Fly” (1971), de Yoko Ono, provocam o público a pular e dançar sobre um piso revestido de espuma espessa.

Em Cosmococa/CC3 Maileryn(1973), junção dos nomes de Marilyn Monroe (1926-1962), e seu biógrafo Norman Mailer (1923-2007), o público interage com as bolas laranjas e amarelas espalhadas pelo espaço de piso irregular, ao som da cantora peruana Yma Sumac.

Cosmococa/CC4 Nocagions (1973/2023) é constituída por dois projetores digitais, trilha sonora de John Cage (1912-1992) e slides. Duas telas, colocadas em bordas opostas de uma piscina, exibem imagens do livro “Notations” (Notações, em inglês), de John Cage, com uma coleção de seus manuscritos musicais. Sobre a capa do livro, Hélio Oiticica e Neville de Almeida fizeram intervenções, as “mancoquilagens”. O trabalho convida o público a entrar na piscina, que recebe uma luz verde formando um padrão geométrico. A obra foi dedicada aos poetas concretos Augusto e Haroldo de Campos. Em 2013, a CC4 Nocagions foi a sensação da Berlinale, o Festival Internacional de Cinema, em Berlim.

Em Cosmococa/CC5 Hendrix-War (1973), ao som do álbum “WarHeroes” (1972), de Jimmy Hendrix (1942-1970), a sala oferece ao público um conjunto de redes, e relaxar. Em sua última entrevista, Hendrix disse: “Quando as coisas ficarem muito pesadas, me chame de hélio, o gás mais leve que existe”.

León Ferrari em Buenos Aires

17/maio

Durante 2020, o Museu Nacional de Belas Artes, Buenos Aires, Argentina, apresentou uma série de ações, atividades, propostas virtuais e exposições para comemorar o centenário do nascimento de León Ferrari, o grande artista argentino.

Desde setembro de 2020, o site do museu veicula material audiovisual com depoimentos, documentário e publicações digitais, entre outras iniciativas dedicadas a evocar a vida e a obra do artista.

Em 17 de maio de 2023, a tão esperada exposição antológica “León Ferrari. Recorrências”, com curadoria de Cecilia Rabossi e Andrés Duprat. Inicialmente agendada para abril de 2020, a exposição teve de ser adiada devido à emergência mundial provocada pela pandemia de Covid-19.

Palavras de Andrés Duprat sobre León Ferrari

“Tive a alegria de ser seu amigo e conhecê-lo intimamente. Além de grande artista, era um homem de qualidades excepcionais, de imensa generosidade e de uma inteligência aguçada marcada por uma nobreza extraordinária. Era alguém absolutamente comprometido não só com o seu trabalho, mas com todos os que necessitavam da sua ajuda, promovendo jovens artistas, até ajudando financeiramente quem precisava. Estudioso, prolífico, solidário, dono de uma notável lucidez e senso de humor, às vezes feroz, sem amarras, típico do livre-pensador que era. A sua formação em engenharia deu-lhe método e rigor; nada é casual ou superficial nas suas obras, fruto de meditações amadurecidas, por vezes durante décadas, e trabalhos técnicos, artesanais cultivados obsessivamente até à perfeição.

Em sua carreira, ele colocou em jogo sua aptidão em vários ofícios. Artista multidisciplinar, foi pintor, gravador, desenhista, escultor, também um grande teórico e polemista. Ele se aventurou em outras disciplinas, como música, dramaturgia, produção cinematográfica e redação. Suas experimentações formais incluíam esculturas e cerâmicas; estruturas de arame concebidas como construções geométricas e desenhos abstratos; scripts transbordantes, transcrições e caligrafia; colagens, Brailles e assemblages que, ao colocarem em diálogo elementos díspares, geram novos significados, não sem humor e denúncia; plantas de arquiteturas paranoicas, desenhos de cidades impossíveis e planetas de poliuretano expandido, entre outras pesquisas. Foi definitivamente um humanista, uma personalidade contemporânea de estilo renascentista, interessado em tudo o que diz respeito ao homem e às suas circunstâncias”.

Fotografia: Adrian Rocha Novoa.

Presença brasileira na Biennale di Venezia

11/maio

A Galeria Simões de Assis anuncia a participação de Ayrson Heráclito na seleção de artistas para o Pavilhão brasileiro na 18ª Mostra Internacional de Arquitetura, La Biennale di Venezia.

Ayrson Heráclito é artista, professor e curador, suas obras transitam entre instalações, performances, fotografias, desenhos, aquarelas, esculturas e produções audiovisuais. Aborda em sua pesquisa as conexões entre o continente africano e as diásporas negras nas Américas.

O projeto Terra, curado por Gabriela de Matos e Paulo Tavares, irá ocupar o Pavilhão do Brasil em Veneza com uma mostra que busca realizar uma reflexão sobre o passado, presente e o futuro do Brasil, sob o enfoque da terra – solo, adubo, chão e território, mas também como elemento poético. O grupo de artistas conta também com a participação dos povos indígenas Tukano, Arawak e Maku, entre outros. A mostra abre no dia 20 de maio e permanecerá em cartaz até 26 de novembro.

 

Intervenções realizadas em conjunto

09/maio

Inspirados pelo pensamento de volatilidade presente na expressão “amores líquidos”, criada pelo polonês Zigmunt Bauman, Rose Maiorana e Tarso Sarraf fazem um convite à reflexão sobre os sentimentos nutridos pelo ecossistema amazônico e marajoara, além do olhar que lançamos sobre eles. Eles inauguram a exposição “Amazônia Líquida”, no dia 16 de maio, na New Gallery, Pinheiros, São Paulo, SP, reunindo cerca de 40 obras que têm como base fotografias de Tarso Sarraf  produzidas em um trabalho de campo, na Ilha de Marajó, entre 2020 e 2021, com intervenções coloridas pintadas por Rose Maiorana. A primeira parceria entre os dois aconteceu em 2022, quando Rose Maiorana incluiu, em uma individual sua, uma obra inédita que consistia numa intervenção em pintura sobre uma foto de Tarso Sarraf. Nascia ali o embrião deste projeto, que deve ir longe: a ideia da dupla é viajar com a mostra para outros lugares, dentro e fora do Brasil, com produção da Arte2.

A liquidez exponencial contida no bioma amazônico também tem no arquipélago uma vasta presença. Abundante em águas, também possuem vivacidade e multiplicidade de povos, de olhares, de culturas, de sabores, de religiões, de misticismos e de essências. Donos de uma riqueza natural sem igual, o que confere toda notoriedade que ganharam em tabloides, falas de personalidades, destinos de celebridades, entre outros espaços de protagonismo, declinam a meros coadjuvantes quando o assunto são recursos para iniciativas de preservação e desenvolvimento socioambiental. Esses espaços geográficos transcendem aquilo que vagamente se imagina sobre eles, mas Rose Maiorana e Tarso Sarraf, através da exposição “Amazônia Líquida” apresentam, com propriedade na fala e no olhar, os seus vieses artísticos através de telas e retratos.

 

Sobre Rose Maiorana

Rose Maiorana é uma artista plástica contemporânea que nasceu no Estado do Pará, região amazônica do Brasil. Suas obras são um convite à imersão em um universo de cores e formas que transbordam vida e movimento. Seu trabalho é um reflexo da sua personalidade, livre e observadora, capaz de capturar a essência da natureza e transformá-la em arte. Inspirada pelo revolucionário movimento do pop art, Rose realizou sua primeira vernissage, “Explosão de Cores”, em sua cidade natal, Belém. Desde então, sua arte não parou de evoluir, sempre explorando novas possibilidades e inspirações. Sua segunda exposição, intitulada “Aflorar”, teve como destaque a natureza, um tema que encantou a artista através de sua observação e contemplação. Essa conexão com a natureza, aliás, é uma característica forte de seu trabalho, que transcende a técnica e toca a alma. Com o tempo, participou de diversas exposições coletivas, tanto em Belém, como em outras cidades, como Rio de Janeiro e Bruxelas, Bélgica. Em todas elas, sua arte causou um grande impacto e conquistou admiradores. Atualmente, Rose Maiorana está totalmente envolvida com sua herança amazônica e marajoara, que se manifesta em seu trabalho. Em sua fase atual, ela apresenta a exposição “Amazônia Líquida”, que traz um viés artístico e crítico sobre a região, sempre abstraindo retratos e revelando suas visões e sentimentos através das cores e traços. Com sua arte, Rose Maiorana é uma genuína embaixadora da cultura e da beleza amazônicas, que sempre encantam e surpreendem aqueles que a conhecem. Suas exposições são um convite para embarcar em uma jornada de descoberta e contemplação da natureza e da vida ao Norte do Brasil. Realizou sua primeira mostra de arte na inauguração da Sala João Carlos Pereira (TV Liberal), 2021. Em 2022, cria e apresenta o videocast Lib Art. Neste mesmo ano, participa da exposição de santinhas ONG Arte pela Vida, da qual é madrinha e recebe homenagem na 1ª Vernissage da Escola Cipp. Em sua trajetória, vale destacar as participações na Amazônia Fashion Week (2022) e na exposição “Bandeiras e Cores Entre Nós”, em Búzios (a convite da artista e curadora Ângela Oliveira, em 2023), além da inauguração da Galeria Rose Art, no Shopping Grão Pará (2022).

 

Sobre Tarso Sarraf

Tarso Sarraf começou a fotografar em 1991 quando participou de oficina na Associação FotoAtiva e Núcleo de Oficinas Curro Velho com mais de 30 anos de profissão dedicados ao Fotojornalismo. Já passou como repórter fotográfico por importantes jornais da capital paraense, como o Jornal Diário do Pará (de 2007 a 2011), Jornal Amazônia, Jornal O Liberal (de 2011 a 2018). De 2021 à presente data, é Coordenador Audiovisual do Grupo Liberal e colabora periodicamente com a mídia nacional e internacional em veículos como Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Valor Econômico, Revista Veja e Agência France Presse (AFP). Possui importantes prêmios, dentre eles o Prêmio Abril de Jornalismo (2011), Prêmio Hamilton Pinheiro de Jornalismo (2020, em 1º lugar) e 43º Prêmio Jornalismo Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos (2021, em 1º lugar). Entre coberturas já realizadas, merecem destaque: Olimpíadas Rio 2016, Copa Rússia 2018, Copa Catar 2022, Covid-19 no Pará, 2020 e 2021, além das posses presidenciais de Dilma (2011 e 2015), e Lula, em 2023. Possui trabalhos publicados nos livros “O Melhor do Fotojornalismo Brasileiro” (2014 a 2021) e Focus Le Regard des Photographes de I’AFP 2020 Focus Le Regard des Photographes de I’AFP (2021).

Até 09 de junho.

 

Contaminações e convergências espontâneas

05/maio

NONADA ZN, abriga a mostra coletiva “fragmento I: vento pórtico”, com os artistas Iah Bahia, Loren Minzú, Siwaju Lima, sob curadoria de Clarissa Diniz, com aproximadamente 32 trabalhos entre esculturas, instalações, gravuras, vídeos e objetos, muitos inéditos, uma rara exposição de processo, a partir do dia 06 de maio e permanecrá em cartaz até 11 de junho. O projeto idealizado pela curadora, dividido em duas etapas, surge do desejo de reavivar um centro de produção na Penha, Rio de Janeiro, RJ, e reativar sua vocação criadora que, no passado, era preenchido por muitos saberes, memórias e trabalho.

Em seu primeiro movimento – “fragmento I: vento pórtico” – a curadora ocupou os espaços desde o mês de março, com os artistas em atividades criativas desenvolvendo seus experimentos e poéticas, “realizando investigações site specific e partilhando seus saberes e desejos num processo coletivo de criação, crítica e interlocução”, como relata Clarissa Diniz. As pesquisas in loco, focadas em torno dos imaginários, políticas e formas do vento, do movimento, do vazio, do oco e do avesso. Nesse primeiro instante, tem-se uma singular ocasião de acesso de obras geradas a partir dessa imersão mas também ser apresentado a resultados que Iah Bahia, Loren Minzú e Siwaju Lima produziram através as contaminações e convergências espontâneas advindas da convivência entre si e com o espaço e suas histórias e a forma como foram compartilhadas.

A costura de artistas ímpares em uma mesma pesquisa apresentou-se como uma promessa onde os resultados impossibilitaram qualquer antevisão. Iah Bahia desenvolve obras com variadas formas e materialidades em artes experimentais, processuais e abstracionais. Possui sua prática-pesquisa a partir de observações e experimentações interdisciplinares conjunta a matéria-tecido, matéria-lixo e de outros elementos substanciais coletados no território urbano. Destaca as tensões do espaço habitado, e convoca o rearranjo dos efeitos do ecocídio em uma nova visualidade no mundo, como o conhecemos. Loren Minzú, em sua prática, investiga a produção de imagens ligadas a noções temporais, espaciais e corporais, com base em ficções acerca dos sistemas perceptivos e comunicativos em relações interespecíficas. Interessado nos processos fenomenológicos que compõem o mundo visível e sensível, o artista observa e joga com a luminosidade e a escuridão que emanam de corpos terráqueos e cósmicos, para compor cenas audiovisuais, instalações e esculturas com vegetais, minerais, elementos matéricos e artefatos. Por outro lado, Siwaju Lima investiga a relação do tempo com diferentes ecologias por meio do reaproveitamento de peças de ferro doadas ou encontradas. Seus trabalhos estabelecem uma relação íntima e direta com a escultura fundida, e as possíveis relações entre a matéria e os símbolos que incorpora, entre o objeto e seu entorno, entre corpo escultórico e o espaço, e entre a obra e nossos corpos, sempre numa dimensão temporal em espiral e em expansão.

Em um segundo momento, “Fragmentos II”, tem como fio condutor as ideias de armadilha, defesa, feitiço, armadura. Aglutinadas em “Fragmentos I e II”, as pesquisas de Siwaju, Iah e Loren harmonizam um estimulante cenário da produção recente da arte brasileira que atua com materiais como o papel, o ferro, a madeira e a cerâmica.

 

A palavra da curadoria

“Não estamos diante de projetos estéticos extrativistas no seio dos quais as matérias são instrumentalizadas como recursos a serem apropriados por mãos e gestos autoritários. Ao contrário, Vento Pórtico desdobra-se em exercícios poéticos cuja ética implica em dobrar, acariciar, oxidar ou tocar materialidades como a corpos cúmplices com os quais compartilhamos segredos, saberes, desejos e pragas”.

 

Sobre os artistas

Iah Bahia (1993 São Gonçalo, RJ) – Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Iniciou sua formação em cursos livres na Escola de Artes Spectaculu e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ). É formada no curso técnico em Design de Moda e, recentemente, ingressou em Artes Visuais-Escultura na Escola de Belas Artes da UFRJ (RJ). Em 2020, participou do programa de residência do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e em 2022 participou da residência formativa Elã, no Galpão Bela Maré (RJ).

 

Loren Minzú (1999, São Gonçalo, RJ) – Vive e trabalha entre São Gonçalo e Rio de Janeiro. Graduando em Artes pela Universidade Federal Fluminense, passou por instituições como Casa do Povo, (SP) e Parque Lage, (RJ) – onde compôs a turma de Formação e Deformação (2021). Em 2022, foi residente no programa Elã, do Galpão Bela Maré, (RJ). Nas exposições, destacam-se Rebu, no Parque Lage, (RJ), em 2021, Raio a Raio, organizada pelo Solar dos Abacaxis no pilotis do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2022), De montanhas submarinas o fogo faz ilhas, na Pivô (SP) em colaboração com a Kadist (2022) e In the Skeleton of The Stars, no Institut für Auslandsbeziehungen, (Stuttgart, Alemanha), em 2023. Também participou de mostras audiovisuais no Cine Bijou, (SP), Centro Petrobras de Cinema, (Niteroi, RJ) e na Cinemateca Nacional Dominicana (Santo Domingo).

 

Siwaju Lima (1997 São Paulo, SP) – Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Graduanda em Artes Visuais na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), é artista do ateliê de escultura da EAV Parque Lage (RJ), do Programa Formação e Deformação, e da Escola Livre de Artes do Galpão Bela Maré (RJ). Entre as exposições coletivas que participou em 2022, destacam-se Arte como trabalho, no Museu da História e da Cultura Negra, Idolatrada salve! Salve! (RJ), na Fábrica Bhering, Olha geral, no Instituto de artes da UERJ (RJ), e Ecologias do bem-viver, no Galpão Bela Maré (RJ).

 

 

Retrospectiva de Vera Chaves Barcellos

26/abr

 

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura no dia 06 de maio a exposição “O estranho desaparecimento de Vera Chaves Barcellos”. A curadoria é de Raphael Fonseca.

No calendário de 2023, a artista é um dos grandes destaques da programação, e, também, a terceira mulher a ocupar mais de um andar da Fundação Iberê Camargo, depois de Regina Silveira (Mil e um dias e outros enigmas/2011) e Maria Lídia Magliani (Magliani/2022).

A exposição “O estranho desaparecimento de Vera Chaves Barcellos”, que até o dia 30 de julho ocupará três andares do centro cultural apresenta 59 obras, abrangendo trabalhos desde a década de 1960 – realizados a partir da experimentação com pintura e desenho, e, num segundo momento, com a xilogravura – até obras mais recentes, destacando seu longo diálogo com a Fotografia. A retrospectiva traz, ainda, livros de artista e vídeos.

A pesquisa de Vera Chaves Barcellos, 85 anos, tem como ponto de partida a relação entre o corpo e o tempo: interpretando personagens e narrativas do passado e do futuro, focando em histórias que ficaram de fora da historiografia, documentando e coletando materiais de arquivo de eventos locais ou da memória pessoal. A fotografia foi uma forma de trazer Vera Chaves Barcellos de volta ao real, um olho mais objetivo para olhar o mundo ao seu redor.

A artista já participou de diversas mostras individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Possui obras em museus como MAM, São Paulo, MAR, Rio de Janeiro, Museo Reina Sofia, Madrid, e MACBA, Barcelona, e em coleções privadas nacionais e internacionais. Destaca-se também sua atuação cultural no meio artístico brasileiro. Na década de 1970, foi uma das fundadoras e integrantes do grupo Nervo Óptico (1976-1978), coletivo de artistas voltados ao debate e à produção de arte contemporânea. Além de seguir trabalhando como artista visual, ela realiza curadoria de exposições e atua como gestora da fundação que leva seu nome, localizada em Viamão, RS.

Para o curador Raphael Fonseca, a exposição é uma celebração à Vera Chaves Barcellos, uma “criadora de imagens”. “É importante observar o conjunto de obras desta exposição e refletir sobre alguns temas recorrentes ao seu campo semântico. O corpo humano – e seu interesse, como aqui dito, em fragmentá-lo – aparece recorrentemente em suas imagens; ele é pele, é enquadramento de retrato fotográfico, são as costas de um grupo de pessoas, são os Manequins de Düsseldorf. Este é um aspecto importante e talvez pouco comentado sobre a artista: seu interesse pelas imagens de grupos de pessoas e pela noção de massa. Isso se faz presente tanto pela literalidade com que os corpos surgem em suas obras, quanto pelas séries mais interessadas nas imagens de grandes cidades visivelmente afetadas pela ação humana”.

Aos 35 anos, Raphael Fonseca é Doutor em Crítica e História da Arte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador nas áreas de História da Arte, crítica e educação, além de curador de arte latino-americana moderna e contemporânea no Denver Art Museum (EUA). Ele conheceu Vera Chaves Barcellos em 2017, durante a exposição da artista no Paço Imperial (RJ). Raphael escreveu sobre a mostra para a revista colombiana ArtNexus e, neste mesmo ano, incluiu dois trabalhos da artista, “Habitat” e “Pequena Estória de um Sorriso” (1975), na exposição “Mais do que araras”, no SESC Palladium (BH), em comemoração aos 50 anos da icônica obra “Tropicália”, de Hélio Oiticica, onde as obras de Vera Chaves Barcellos ali expostas abordavam aspectos da realidade brasileira, que, da época de sua produção até agora, pouco se alterou e até mesmo se agravou.

“O título desta mostra se apropria, com certa liberdade poética, do nome de um trabalho da artista datado de 1976: O estranho des-aparecimento de VCB. Naquele contexto histórico – o da ditadura militar no Brasil – essa frase poderia ser lida tanto como uma amarga memória às pessoas que desapareceram devido à violência estatal, quanto uma provocação em referência àqueles que tiveram de, momentaneamente, desaparecer do cenário brasileiro por perseguição política. (…) Por enquanto podemos rir do seu desaparecimento; ao mesmo tempo, melancolicamente, sabemos que um dia ele, assim como o de todos nós, chegará. (…) Enquanto tivermos sua obra e pesquisa perante os nossos olhos, VCB, felizmente, nunca desaparecerá”, afirma o curador.

 

Sobre a artista

Nascida em 1938, em Porto Alegre, Vera Chaves Barcelos formou-se em Música no Instituto de Belas Artes, em 1958. Nos anos 1960, estudou gravura e pintura na França, Holanda e Inglaterra, e viajou por vários países europeus, visitando museus e tendo contato com arte moderna e contemporânea. Nos anos seguintes, iniciou sua participação em salões nacionais e exposições internacionais de gravura. A partir de 1973, passou a utilizar a fotografia em sua obra. Dois anos depois, ganhou uma bolsa no Croydon College, em Londres, onde aperfeiçoou seus estudos em fotografia e técnicas gráficas. Em 1976, participou da 37ª Bienal de Veneza e, em 1977, da XIV Bienal de São Paulo com a série “Testarte”, ano em que integra o Nervo Óptico. Em 1979, com um grupo de outros artistas, criou o Espaço N.O., em Porto Alegre, dedicado a atividades artísticas e culturais multidisciplinares, ativo até o ano de 1982. Nos anos 1980, a artista realizou exposições individuais no Museo de Arte de Medellín, na Colômbia, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no Paço das Artes, em São Paulo. Participou da I Bienal de Havana em 1984, ano em que expõe no Projeto ABC-Funarte, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP). A partir de 1986 passou a viver em Barcelona, dividindo sua atuação profissional entre Brasil e Espanha. No ano seguinte, mostrou “Cadernos para colorir I” na Galeria Art Ginesta, Castelldefels, Barcelona. Nos anos 1990, expõs individualmente na Galeria Artual, Barcelona: “Ornaments i altres coses” (1990), “Dones de la Vida” (1992), e “Enigmas” (1996). Em 1999, com Carlos Pasquetti, Patricio Farías e Nick Rands, fundou a galeria de arte contemporânea Obra Aberta, em Porto Alegre. No mesmo ano realizou a exposição individual “El cuerpo, la cultura, lo feminino y la memoria: juego y significado en la obra de Vera Chaves Barcellos”, nas Sales Municipals d’Exposició, em Girona. No Museu de Arte da mesma cidade apresentou, no ano 2000, a instalação “Visitant Genet”, exposta também na mostra “Sem Fronteiras”, que inaugurou o Santander Cultural, em Porto Alegre, em 2001. Em 2007 e 2009 realizou duas exposições panorâmicas, respectivamente, no Santander Cultural, em Porto Alegre, e no MASP, e, em 2010, “Per Gli Ucelli”, um site specific para o Projeto Octógono da Pinacoteca de São Paulo. Possui obras no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, MAC de Curitiba, Museu de Arte Moderna e na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, e em coleções privadas no Brasil e no exterior. Seu currículo conta com participação em quatro Bienais de São Paulo e mostras na América Latina, Alemanha, Bélgica, Coréia, Espanha, França, Holanda, Inglaterra e Japão. Em 2017, participou da mostra “Radical Women: Latin American Art 1960-1985”, no Hammer Museum, EUA, e no Brooklyn Museum, Nova York. Em 2020, o Museu Reina Sofia, de Madri, adquiriu obras da série “Epidermic Scapes” (1977) e a obra “Combinável I” (1969).

 

Até 30 de julho.

A Fundação Iberê tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Grupo GPS, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo IESA, CMPC, Perto, Ventos do Sul, DLL Group e da Renner, Dell Technologies, Hilton Hotéis, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, com realização da Petrobras e Ministério da Cultura/ Governo Federal.

 

 

 

 

Conexões Transcendentes de Heitor Bergamini

Exposição com fotos, esculturas e interação entre materiais será inaugurada no dia 27 de abril. A arte sustentável de Heitor Bergamini ocupará o Espaço Cultural Correios, a partir de 27 de abril. “Conexões Transcendentes” tem curadoria de Fábio André Rheinheimer e permanecerá em cartaz até o dia 03 de junho, o Espaço Cultural Correios está localizado na Avenida 7 de Setembro, 1020, Centro Histórico, Porto Alegre, RS. O artista exibe mais de cem obras entre esculturas, imagens e integração de materiais, compondo as “Conexões Transcendentes”.

A exposição “Conexões Transcendentes” de Heitor Bergamini apresenta fragmentos desses projetos, obras recentes, cuja criatividade expressa, por meio de técnicas e suportes diversos, as aproximam do conceito upcycling (processo de utilização de resíduos para criação de outros objetos ou produtos). Nesta atual produção se destacam as séries: “Guerreiros Perdidos” e “Dança do Mangue”, que já estiveram em exposições individuais do artista e ganham uma nova montagem. Nas fotos, Heitor Bergamini apresenta, pela primeira vez, sua pesquisa de pigmentos em escala tonal a partir de um mesmo tema: o pôr do sol. São 50 imagens compondo um grande painel formando uma nova obra. Também a série “Relevos” integra a exposição, com registros fotográficos de superfícies diversas como metal, pedra, madeira, que se transformam em novas paisagens, ganhando um ressignificado a partir da própria fotografia.

 

A palavra da curadoria

“Em sua trajetória, Heitor Bergamini percorre cenários distintos, seja numa paisagem paradisíaca, usualmente à beira-mar, ou simplesmente observando resíduos de descarte encontrados no contexto urbano. Em diferentes cenários, muitas vezes diametralmente opostos, o artista interage com elementos de origens diversas que lhe inspiram novos projetos”, observa o curador Fábio André Rheinheimer.

“A exposição Conexões Transcendentes apresenta a produção recente de Heitor Bergamini, a qual se caracteriza por acurada pesquisa, seja na técnica fotográfica (mediante exercício continuado de observação e registro da ação do tempo); seja na seleção de materiais inertes (pedras, metais, ou madeiras retorcidas e inanimadas provenientes do manguezal), que, depois de habilmente “resgatados” pelo artista, são ressignificados em objetos tridimensionais e esculturas”.

A arte de Bergamini é resultado de um exercício continuado, que se desenvolve a partir de diferentes suportes e técnicas com uma linha em comum, que é o reaproveitamento de materiais e das próprias imagens. “Com isso, em sua obra, o artista instiga uma pontual reflexão sobre o meio ambiente, a qual se faz urgente e oportuna e transcende a própria arte”.

 

Até 03 de junho.

 

Artista selecionada

17/abr

 

Jeane Terra, artista representada por Anita Schwartz Galeria de Arte, do Rio de Janeiro, foi a artista selecionada na SP-Arte pelo EFG Latin America Art Award, em associação com ArtNexus e colaboração de Fernando Oliva, professor e curador do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), junto com Celia Sredni de Birbragher, diretora e editora da ArtNexus. Os dois trabalhos de Jeane Terra exibidos no estande de Anita Schwartz Galeria de Arte na SP-Arte – “Virtuoso” (2022) e “Margem” (2022) – são feitos em sua técnica singular, patenteada, de pintura seca feita em montagem de 1cm x 1cm em pele de tinta sobre tela, com tamanhos de 143cm x 100 cm e 141,5cm x 100 cm, respectivamente.

O EFG Latin America Art Award – com o desenvolvimento estratégico da Liaisons Corporation – é anual, e foi criado para apoiar a produção de artistas latino-americano e promover as feiras regionais entre colecionadores em todo o mundo. O prêmio tem um corpo de jurados para escolher artistas nas feiras SP Arte, em São Paulo; PArC, em Lima; arteBA, em Buenos Aires; Ch.ACO, em Santiago do Chile e ArtBo, Bogotá. Em sua décima-terceira edição, o prêmio anunciará na feira Pinta Miami (06 a 10 de dezembro), durante a semana da Art Basel, o artista vencedor, que terá uma obra adquirida pelo EFG Capital, que tem sua coleção sediada em Miami.

Jeane Terra conta que recebeu “com imensa alegria esta nomeação ao EFG Latin America ArtAward, na SP-Arte”. “Este tipo de prêmio fomenta o artista, o nosso meio, nossa pesquisa. É importante e necessário, e eu estou imensamente agradecida e feliz pelo olhar dessas pessoas sobre meu trabalho, para a história que quero contar através da minha arte. São muitos anos de dedicação a ouvir e colher histórias de outras pessoas, de lugares, em cima de uma pesquisa alquímica de materiais. Este prêmio vem pra mim como uma resposta muito importante, como artista, e pra minha pesquisa. Me dá força para seguir em frente, me encoraja ainda mais”, disse a artista.

Anita Schwartz comemorou o fato de Jeane Terra ter sido “escolhida entre tantos artistas na SP-Arte”.  “Foi um reconhecimento de grande importância para a pesquisa de Jeane, que desenvolveu uma técnica muito particular como suporte para suas obras, e que vem ao longo dos anos abordando as conseqüências das ações dos homens contra a natureza. Representar Jeane Terra e o seu trabalho é um orgulho para a galeria, e a sua estreia na SPArte não poderia ser melhor”, destacou a galerista.

 

Revisão histórica do Brasil

13/abr

 

O Centro Cultural Sesc Quitandinha, em Petrópolis, será inaugurado com uma exposição que repensa a história do Brasil a partir de obras de doze artistas negros, e uma programação de música, cinema, atividades para as crianças, oficinas e um seminário.

Os curadores Marcelo Campos e Filipe Graciano reuniram aproximadamente 40 obras, que ocuparão um espaço monumental de 3.350 metros quadrados, dos artistas Aline Motta, Arjan Martins, Ayrson Heráclito, Azizi Cipriano, Cipriano, Juliana dos Santos, Lidia Lisbôa, Moisés Patrício, Nádia Taquary, Rosana Paulino, Thiago Costa e Tiago Sant’ana, das quais seis comissionadas especialmente para a exposição. A mostra busca ainda refletir sobre a cidade de Petrópolis, conhecida como “imperial”, e que tem uma forte memória negra.

O Café Concerto do Centro Cultural Sesc Quitandinha, amplo teatro com capacidade para 270 pessoas, vai sediar a programação de música e de cinema. Os curadores são todos negros. A curadoria de música é do cantor, compositor, violonista e poeta baiano Tiganá Santana. A mostra de cinema terá como curador Clementino Junior, cineasta dedicado à difusão da obra audiovisual racializada. O grupo Pretinhas Leitoras, formado pelas gêmeas Helena e Eduarda Ferreira, nascidas em 2008 no Morro da Providência, no Rio de Janeiro, estará à frente das atividades infantis, que serão feitas na Biblioteca do Centro Cultural. Para ampliar a percepção do público das obras expostas, haverá oito oficinas e laboratórios, nos salões da exposição e nas Varandas. Flávio Gomes, pesquisador do pensamento social e da história do racismo, da escravidão e da história atlântica, será o curador das ações da linguagem escrita, literária e oral paralelas à exposição. Estão também sendo programadas performances com grupos artísticos da região.

No dia 15 de abril, às 19h, haverá um show de Juçara Marçal.

 

Revisões históricas no Brasil

O curador Marcelo Campos diz que passou a observar “o modo como os artistas negros lidam com o período das navegações”. “Este trauma, esta tragédia de nossa sociedade, exibidos nas documentações de maneira normalizada, com ilustrações de grilhões, correntes. Junto com os artistas, pensamos em como lidar com isso”, diz. “De que modo a arte lida com o imaginário do trauma da escravidão, da diáspora”. Ele menciona as pesquisas feitas pelo sociólogo inglês Paul Gilroy, estudioso da diáspora negra, e autor do livro “Atlântico negro” (1993), tema presente nos trabalhos, e lembra que a artista Rosana Paulino, em conjunto de trabalhos de 2016, chamou de “Atlântico vermelho”, em alusão a Gilroy, evocando a violência da escravidão e seus desdobramentos até os dias de hoje. Marcelo Campos conta que em aulas, bibliografias e várias ações, há “importantes revisões históricas no Brasil, com a inclusão de autoras e autores negros”. Enquanto nos anos 1990 os afro-americanos já “iam direto na ferida”, observa, no Brasil as iniciativas eram isoladas. As políticas públicas dos últimos 20 anos, entretanto, com as cotas para estudantes negros, “em que a UERJ foi pioneira”, e a penetração das universidades no interior do país, como Cariri e Recôncavo Baiano, propiciaram a que os negros passassem a ter acesso às diversas áreas de conhecimento. “Esta pressão obrigou a academia e os espaços de arte a se modificarem”. Dos doze artistas convidados, seis foram comissionados para criarem trabalhos especialmente para a exposição: Azizi Cypriano, Juliana dos Santos, Moisés Patrício, Pedro Cipriano, Thiago Costa e Tiago Sant’ana. O título “Um oceano para lavar as mãos” é retirado de um verso da música “Meia-noite”, composta por Chico Buarque e Edu Lobo para a peça “O Corsário do Rei” (1985), de Augusto Boal. “Este verso sempre me chamou a atenção na música. A ideia de limpar – que pode ter sentido de cura, de purificação, presente em obras como as de Ayrson Heráclito – ou de não se fazer nada a respeito”.

 

Petrópolis: Uma cartografia negra

Marcelo Campos destaca que a exposição busca também “repensar a cidade de Petrópolis”. Conhecida como cidade imperial, Petrópolis tem uma cartografia de presenças negras, tendo abrigado quilombos em várias regiões do município: Quilombo da Tapera, no Vale das Videiras – com uma comunidade quilombola reconhecida pela Fundação Palmares em 2011 – Quilombo Manoel Congo, Quilombo Maria Comprida, Quilombo da Vargem Grande, e, de acordo com pesquisadores, também no local onde em 1884 foi construído o Palácio de Cristal, no Centro.

Filipe Graciano, arquiteto e urbanista, idealizador do Museu de Memória Negra de Petrópolis, e coordenador de Promoção da Igualdade Racial do Município, conta que a expografia vai salientar a ideia de encontros contida nos múltiplos significados que a palavra oceano traz. “Independentemente de nossa história de apagamento, nosso país se revigora com a presença negra. Além do trauma e da tragédia impostos aos negros, o oceano traz uma perspectiva de encontro, de afeto, cura, cuidado e resiliência”, explica. “As obras dos artistas refletem este encontro de várias culturas, a diversidade cultural da África, na criação dessa memória que atravessa a vida como ela é”. Para ele, a exposição “revisita este apagamento, esses riscados que repensam e refazem essa memória, essa presença”. “A monumentalidade do espaço do Centro Cultural Sesc Quitandinha vai ao encontro da monumentalidade da existência negra no Brasil”, observa. Graciano assinala a importância do olhar curatorial negro, com artistas negros, para contar “outra história, que não a única no Brasil”. “A potencialidade das mãos, de lavar a história”. “A exposição é quase um ato de reparação histórica”, afirma, observando que o trabalho educativo dará uma contribuição para “repensar a memória da cidade”.