Contaminações e convergências espontâneas

05/mai

NONADA ZN, abriga a mostra coletiva “fragmento I: vento pórtico”, com os artistas Iah Bahia, Loren Minzú, Siwaju Lima, sob curadoria de Clarissa Diniz, com aproximadamente 32 trabalhos entre esculturas, instalações, gravuras, vídeos e objetos, muitos inéditos, uma rara exposição de processo, a partir do dia 06 de maio e permanecrá em cartaz até 11 de junho. O projeto idealizado pela curadora, dividido em duas etapas, surge do desejo de reavivar um centro de produção na Penha, Rio de Janeiro, RJ, e reativar sua vocação criadora que, no passado, era preenchido por muitos saberes, memórias e trabalho.

Em seu primeiro movimento – “fragmento I: vento pórtico” – a curadora ocupou os espaços desde o mês de março, com os artistas em atividades criativas desenvolvendo seus experimentos e poéticas, “realizando investigações site specific e partilhando seus saberes e desejos num processo coletivo de criação, crítica e interlocução”, como relata Clarissa Diniz. As pesquisas in loco, focadas em torno dos imaginários, políticas e formas do vento, do movimento, do vazio, do oco e do avesso. Nesse primeiro instante, tem-se uma singular ocasião de acesso de obras geradas a partir dessa imersão mas também ser apresentado a resultados que Iah Bahia, Loren Minzú e Siwaju Lima produziram através as contaminações e convergências espontâneas advindas da convivência entre si e com o espaço e suas histórias e a forma como foram compartilhadas.

A costura de artistas ímpares em uma mesma pesquisa apresentou-se como uma promessa onde os resultados impossibilitaram qualquer antevisão. Iah Bahia desenvolve obras com variadas formas e materialidades em artes experimentais, processuais e abstracionais. Possui sua prática-pesquisa a partir de observações e experimentações interdisciplinares conjunta a matéria-tecido, matéria-lixo e de outros elementos substanciais coletados no território urbano. Destaca as tensões do espaço habitado, e convoca o rearranjo dos efeitos do ecocídio em uma nova visualidade no mundo, como o conhecemos. Loren Minzú, em sua prática, investiga a produção de imagens ligadas a noções temporais, espaciais e corporais, com base em ficções acerca dos sistemas perceptivos e comunicativos em relações interespecíficas. Interessado nos processos fenomenológicos que compõem o mundo visível e sensível, o artista observa e joga com a luminosidade e a escuridão que emanam de corpos terráqueos e cósmicos, para compor cenas audiovisuais, instalações e esculturas com vegetais, minerais, elementos matéricos e artefatos. Por outro lado, Siwaju Lima investiga a relação do tempo com diferentes ecologias por meio do reaproveitamento de peças de ferro doadas ou encontradas. Seus trabalhos estabelecem uma relação íntima e direta com a escultura fundida, e as possíveis relações entre a matéria e os símbolos que incorpora, entre o objeto e seu entorno, entre corpo escultórico e o espaço, e entre a obra e nossos corpos, sempre numa dimensão temporal em espiral e em expansão.

Em um segundo momento, “Fragmentos II”, tem como fio condutor as ideias de armadilha, defesa, feitiço, armadura. Aglutinadas em “Fragmentos I e II”, as pesquisas de Siwaju, Iah e Loren harmonizam um estimulante cenário da produção recente da arte brasileira que atua com materiais como o papel, o ferro, a madeira e a cerâmica.

 

A palavra da curadoria

“Não estamos diante de projetos estéticos extrativistas no seio dos quais as matérias são instrumentalizadas como recursos a serem apropriados por mãos e gestos autoritários. Ao contrário, Vento Pórtico desdobra-se em exercícios poéticos cuja ética implica em dobrar, acariciar, oxidar ou tocar materialidades como a corpos cúmplices com os quais compartilhamos segredos, saberes, desejos e pragas”.

 

Sobre os artistas

Iah Bahia (1993 São Gonçalo, RJ) – Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Iniciou sua formação em cursos livres na Escola de Artes Spectaculu e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ). É formada no curso técnico em Design de Moda e, recentemente, ingressou em Artes Visuais-Escultura na Escola de Belas Artes da UFRJ (RJ). Em 2020, participou do programa de residência do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e em 2022 participou da residência formativa Elã, no Galpão Bela Maré (RJ).

 

Loren Minzú (1999, São Gonçalo, RJ) – Vive e trabalha entre São Gonçalo e Rio de Janeiro. Graduando em Artes pela Universidade Federal Fluminense, passou por instituições como Casa do Povo, (SP) e Parque Lage, (RJ) – onde compôs a turma de Formação e Deformação (2021). Em 2022, foi residente no programa Elã, do Galpão Bela Maré, (RJ). Nas exposições, destacam-se Rebu, no Parque Lage, (RJ), em 2021, Raio a Raio, organizada pelo Solar dos Abacaxis no pilotis do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2022), De montanhas submarinas o fogo faz ilhas, na Pivô (SP) em colaboração com a Kadist (2022) e In the Skeleton of The Stars, no Institut für Auslandsbeziehungen, (Stuttgart, Alemanha), em 2023. Também participou de mostras audiovisuais no Cine Bijou, (SP), Centro Petrobras de Cinema, (Niteroi, RJ) e na Cinemateca Nacional Dominicana (Santo Domingo).

 

Siwaju Lima (1997 São Paulo, SP) – Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Graduanda em Artes Visuais na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), é artista do ateliê de escultura da EAV Parque Lage (RJ), do Programa Formação e Deformação, e da Escola Livre de Artes do Galpão Bela Maré (RJ). Entre as exposições coletivas que participou em 2022, destacam-se Arte como trabalho, no Museu da História e da Cultura Negra, Idolatrada salve! Salve! (RJ), na Fábrica Bhering, Olha geral, no Instituto de artes da UERJ (RJ), e Ecologias do bem-viver, no Galpão Bela Maré (RJ).

 

 

Retrospectiva de Vera Chaves Barcellos

26/abr

 

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura no dia 06 de maio a exposição “O estranho desaparecimento de Vera Chaves Barcellos”. A curadoria é de Raphael Fonseca.

No calendário de 2023, a artista é um dos grandes destaques da programação, e, também, a terceira mulher a ocupar mais de um andar da Fundação Iberê Camargo, depois de Regina Silveira (Mil e um dias e outros enigmas/2011) e Maria Lídia Magliani (Magliani/2022).

A exposição “O estranho desaparecimento de Vera Chaves Barcellos”, que até o dia 30 de julho ocupará três andares do centro cultural apresenta 59 obras, abrangendo trabalhos desde a década de 1960 – realizados a partir da experimentação com pintura e desenho, e, num segundo momento, com a xilogravura – até obras mais recentes, destacando seu longo diálogo com a Fotografia. A retrospectiva traz, ainda, livros de artista e vídeos.

A pesquisa de Vera Chaves Barcellos, 85 anos, tem como ponto de partida a relação entre o corpo e o tempo: interpretando personagens e narrativas do passado e do futuro, focando em histórias que ficaram de fora da historiografia, documentando e coletando materiais de arquivo de eventos locais ou da memória pessoal. A fotografia foi uma forma de trazer Vera Chaves Barcellos de volta ao real, um olho mais objetivo para olhar o mundo ao seu redor.

A artista já participou de diversas mostras individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Possui obras em museus como MAM, São Paulo, MAR, Rio de Janeiro, Museo Reina Sofia, Madrid, e MACBA, Barcelona, e em coleções privadas nacionais e internacionais. Destaca-se também sua atuação cultural no meio artístico brasileiro. Na década de 1970, foi uma das fundadoras e integrantes do grupo Nervo Óptico (1976-1978), coletivo de artistas voltados ao debate e à produção de arte contemporânea. Além de seguir trabalhando como artista visual, ela realiza curadoria de exposições e atua como gestora da fundação que leva seu nome, localizada em Viamão, RS.

Para o curador Raphael Fonseca, a exposição é uma celebração à Vera Chaves Barcellos, uma “criadora de imagens”. “É importante observar o conjunto de obras desta exposição e refletir sobre alguns temas recorrentes ao seu campo semântico. O corpo humano – e seu interesse, como aqui dito, em fragmentá-lo – aparece recorrentemente em suas imagens; ele é pele, é enquadramento de retrato fotográfico, são as costas de um grupo de pessoas, são os Manequins de Düsseldorf. Este é um aspecto importante e talvez pouco comentado sobre a artista: seu interesse pelas imagens de grupos de pessoas e pela noção de massa. Isso se faz presente tanto pela literalidade com que os corpos surgem em suas obras, quanto pelas séries mais interessadas nas imagens de grandes cidades visivelmente afetadas pela ação humana”.

Aos 35 anos, Raphael Fonseca é Doutor em Crítica e História da Arte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador nas áreas de História da Arte, crítica e educação, além de curador de arte latino-americana moderna e contemporânea no Denver Art Museum (EUA). Ele conheceu Vera Chaves Barcellos em 2017, durante a exposição da artista no Paço Imperial (RJ). Raphael escreveu sobre a mostra para a revista colombiana ArtNexus e, neste mesmo ano, incluiu dois trabalhos da artista, “Habitat” e “Pequena Estória de um Sorriso” (1975), na exposição “Mais do que araras”, no SESC Palladium (BH), em comemoração aos 50 anos da icônica obra “Tropicália”, de Hélio Oiticica, onde as obras de Vera Chaves Barcellos ali expostas abordavam aspectos da realidade brasileira, que, da época de sua produção até agora, pouco se alterou e até mesmo se agravou.

“O título desta mostra se apropria, com certa liberdade poética, do nome de um trabalho da artista datado de 1976: O estranho des-aparecimento de VCB. Naquele contexto histórico – o da ditadura militar no Brasil – essa frase poderia ser lida tanto como uma amarga memória às pessoas que desapareceram devido à violência estatal, quanto uma provocação em referência àqueles que tiveram de, momentaneamente, desaparecer do cenário brasileiro por perseguição política. (…) Por enquanto podemos rir do seu desaparecimento; ao mesmo tempo, melancolicamente, sabemos que um dia ele, assim como o de todos nós, chegará. (…) Enquanto tivermos sua obra e pesquisa perante os nossos olhos, VCB, felizmente, nunca desaparecerá”, afirma o curador.

 

Sobre a artista

Nascida em 1938, em Porto Alegre, Vera Chaves Barcelos formou-se em Música no Instituto de Belas Artes, em 1958. Nos anos 1960, estudou gravura e pintura na França, Holanda e Inglaterra, e viajou por vários países europeus, visitando museus e tendo contato com arte moderna e contemporânea. Nos anos seguintes, iniciou sua participação em salões nacionais e exposições internacionais de gravura. A partir de 1973, passou a utilizar a fotografia em sua obra. Dois anos depois, ganhou uma bolsa no Croydon College, em Londres, onde aperfeiçoou seus estudos em fotografia e técnicas gráficas. Em 1976, participou da 37ª Bienal de Veneza e, em 1977, da XIV Bienal de São Paulo com a série “Testarte”, ano em que integra o Nervo Óptico. Em 1979, com um grupo de outros artistas, criou o Espaço N.O., em Porto Alegre, dedicado a atividades artísticas e culturais multidisciplinares, ativo até o ano de 1982. Nos anos 1980, a artista realizou exposições individuais no Museo de Arte de Medellín, na Colômbia, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no Paço das Artes, em São Paulo. Participou da I Bienal de Havana em 1984, ano em que expõe no Projeto ABC-Funarte, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP). A partir de 1986 passou a viver em Barcelona, dividindo sua atuação profissional entre Brasil e Espanha. No ano seguinte, mostrou “Cadernos para colorir I” na Galeria Art Ginesta, Castelldefels, Barcelona. Nos anos 1990, expõs individualmente na Galeria Artual, Barcelona: “Ornaments i altres coses” (1990), “Dones de la Vida” (1992), e “Enigmas” (1996). Em 1999, com Carlos Pasquetti, Patricio Farías e Nick Rands, fundou a galeria de arte contemporânea Obra Aberta, em Porto Alegre. No mesmo ano realizou a exposição individual “El cuerpo, la cultura, lo feminino y la memoria: juego y significado en la obra de Vera Chaves Barcellos”, nas Sales Municipals d’Exposició, em Girona. No Museu de Arte da mesma cidade apresentou, no ano 2000, a instalação “Visitant Genet”, exposta também na mostra “Sem Fronteiras”, que inaugurou o Santander Cultural, em Porto Alegre, em 2001. Em 2007 e 2009 realizou duas exposições panorâmicas, respectivamente, no Santander Cultural, em Porto Alegre, e no MASP, e, em 2010, “Per Gli Ucelli”, um site specific para o Projeto Octógono da Pinacoteca de São Paulo. Possui obras no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, MAC de Curitiba, Museu de Arte Moderna e na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, e em coleções privadas no Brasil e no exterior. Seu currículo conta com participação em quatro Bienais de São Paulo e mostras na América Latina, Alemanha, Bélgica, Coréia, Espanha, França, Holanda, Inglaterra e Japão. Em 2017, participou da mostra “Radical Women: Latin American Art 1960-1985″, no Hammer Museum, EUA, e no Brooklyn Museum, Nova York. Em 2020, o Museu Reina Sofia, de Madri, adquiriu obras da série “Epidermic Scapes” (1977) e a obra “Combinável I” (1969).

 

Até 30 de julho.

A Fundação Iberê tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Grupo GPS, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo IESA, CMPC, Perto, Ventos do Sul, DLL Group e da Renner, Dell Technologies, Hilton Hotéis, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, com realização da Petrobras e Ministério da Cultura/ Governo Federal.

 

 

 

 

Conexões Transcendentes de Heitor Bergamini

Exposição com fotos, esculturas e interação entre materiais será inaugurada no dia 27 de abril. A arte sustentável de Heitor Bergamini ocupará o Espaço Cultural Correios, a partir de 27 de abril. “Conexões Transcendentes” tem curadoria de Fábio André Rheinheimer e permanecerá em cartaz até o dia 03 de junho, o Espaço Cultural Correios está localizado na Avenida 7 de Setembro, 1020, Centro Histórico, Porto Alegre, RS. O artista exibe mais de cem obras entre esculturas, imagens e integração de materiais, compondo as “Conexões Transcendentes”.

A exposição “Conexões Transcendentes” de Heitor Bergamini apresenta fragmentos desses projetos, obras recentes, cuja criatividade expressa, por meio de técnicas e suportes diversos, as aproximam do conceito upcycling (processo de utilização de resíduos para criação de outros objetos ou produtos). Nesta atual produção se destacam as séries: “Guerreiros Perdidos” e “Dança do Mangue”, que já estiveram em exposições individuais do artista e ganham uma nova montagem. Nas fotos, Heitor Bergamini apresenta, pela primeira vez, sua pesquisa de pigmentos em escala tonal a partir de um mesmo tema: o pôr do sol. São 50 imagens compondo um grande painel formando uma nova obra. Também a série “Relevos” integra a exposição, com registros fotográficos de superfícies diversas como metal, pedra, madeira, que se transformam em novas paisagens, ganhando um ressignificado a partir da própria fotografia.

 

A palavra da curadoria

“Em sua trajetória, Heitor Bergamini percorre cenários distintos, seja numa paisagem paradisíaca, usualmente à beira-mar, ou simplesmente observando resíduos de descarte encontrados no contexto urbano. Em diferentes cenários, muitas vezes diametralmente opostos, o artista interage com elementos de origens diversas que lhe inspiram novos projetos”, observa o curador Fábio André Rheinheimer.

“A exposição Conexões Transcendentes apresenta a produção recente de Heitor Bergamini, a qual se caracteriza por acurada pesquisa, seja na técnica fotográfica (mediante exercício continuado de observação e registro da ação do tempo); seja na seleção de materiais inertes (pedras, metais, ou madeiras retorcidas e inanimadas provenientes do manguezal), que, depois de habilmente “resgatados” pelo artista, são ressignificados em objetos tridimensionais e esculturas”.

A arte de Bergamini é resultado de um exercício continuado, que se desenvolve a partir de diferentes suportes e técnicas com uma linha em comum, que é o reaproveitamento de materiais e das próprias imagens. “Com isso, em sua obra, o artista instiga uma pontual reflexão sobre o meio ambiente, a qual se faz urgente e oportuna e transcende a própria arte”.

 

Até 03 de junho.

 

Artista selecionada

17/abr

 

Jeane Terra, artista representada por Anita Schwartz Galeria de Arte, do Rio de Janeiro, foi a artista selecionada na SP-Arte pelo EFG Latin America Art Award, em associação com ArtNexus e colaboração de Fernando Oliva, professor e curador do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), junto com Celia Sredni de Birbragher, diretora e editora da ArtNexus. Os dois trabalhos de Jeane Terra exibidos no estande de Anita Schwartz Galeria de Arte na SP-Arte – “Virtuoso” (2022) e “Margem” (2022) – são feitos em sua técnica singular, patenteada, de pintura seca feita em montagem de 1cm x 1cm em pele de tinta sobre tela, com tamanhos de 143cm x 100 cm e 141,5cm x 100 cm, respectivamente.

O EFG Latin America Art Award – com o desenvolvimento estratégico da Liaisons Corporation – é anual, e foi criado para apoiar a produção de artistas latino-americano e promover as feiras regionais entre colecionadores em todo o mundo. O prêmio tem um corpo de jurados para escolher artistas nas feiras SP Arte, em São Paulo; PArC, em Lima; arteBA, em Buenos Aires; Ch.ACO, em Santiago do Chile e ArtBo, Bogotá. Em sua décima-terceira edição, o prêmio anunciará na feira Pinta Miami (06 a 10 de dezembro), durante a semana da Art Basel, o artista vencedor, que terá uma obra adquirida pelo EFG Capital, que tem sua coleção sediada em Miami.

Jeane Terra conta que recebeu “com imensa alegria esta nomeação ao EFG Latin America ArtAward, na SP-Arte”. “Este tipo de prêmio fomenta o artista, o nosso meio, nossa pesquisa. É importante e necessário, e eu estou imensamente agradecida e feliz pelo olhar dessas pessoas sobre meu trabalho, para a história que quero contar através da minha arte. São muitos anos de dedicação a ouvir e colher histórias de outras pessoas, de lugares, em cima de uma pesquisa alquímica de materiais. Este prêmio vem pra mim como uma resposta muito importante, como artista, e pra minha pesquisa. Me dá força para seguir em frente, me encoraja ainda mais”, disse a artista.

Anita Schwartz comemorou o fato de Jeane Terra ter sido “escolhida entre tantos artistas na SP-Arte”.  “Foi um reconhecimento de grande importância para a pesquisa de Jeane, que desenvolveu uma técnica muito particular como suporte para suas obras, e que vem ao longo dos anos abordando as conseqüências das ações dos homens contra a natureza. Representar Jeane Terra e o seu trabalho é um orgulho para a galeria, e a sua estreia na SPArte não poderia ser melhor”, destacou a galerista.

 

Revisão histórica do Brasil

13/abr

 

O Centro Cultural Sesc Quitandinha, em Petrópolis, será inaugurado com uma exposição que repensa a história do Brasil a partir de obras de doze artistas negros, e uma programação de música, cinema, atividades para as crianças, oficinas e um seminário.

Os curadores Marcelo Campos e Filipe Graciano reuniram aproximadamente 40 obras, que ocuparão um espaço monumental de 3.350 metros quadrados, dos artistas Aline Motta, Arjan Martins, Ayrson Heráclito, Azizi Cipriano, Cipriano, Juliana dos Santos, Lidia Lisbôa, Moisés Patrício, Nádia Taquary, Rosana Paulino, Thiago Costa e Tiago Sant’ana, das quais seis comissionadas especialmente para a exposição. A mostra busca ainda refletir sobre a cidade de Petrópolis, conhecida como “imperial”, e que tem uma forte memória negra.

O Café Concerto do Centro Cultural Sesc Quitandinha, amplo teatro com capacidade para 270 pessoas, vai sediar a programação de música e de cinema. Os curadores são todos negros. A curadoria de música é do cantor, compositor, violonista e poeta baiano Tiganá Santana. A mostra de cinema terá como curador Clementino Junior, cineasta dedicado à difusão da obra audiovisual racializada. O grupo Pretinhas Leitoras, formado pelas gêmeas Helena e Eduarda Ferreira, nascidas em 2008 no Morro da Providência, no Rio de Janeiro, estará à frente das atividades infantis, que serão feitas na Biblioteca do Centro Cultural. Para ampliar a percepção do público das obras expostas, haverá oito oficinas e laboratórios, nos salões da exposição e nas Varandas. Flávio Gomes, pesquisador do pensamento social e da história do racismo, da escravidão e da história atlântica, será o curador das ações da linguagem escrita, literária e oral paralelas à exposição. Estão também sendo programadas performances com grupos artísticos da região.

No dia 15 de abril, às 19h, haverá um show de Juçara Marçal.

 

Revisões históricas no Brasil

O curador Marcelo Campos diz que passou a observar “o modo como os artistas negros lidam com o período das navegações”. “Este trauma, esta tragédia de nossa sociedade, exibidos nas documentações de maneira normalizada, com ilustrações de grilhões, correntes. Junto com os artistas, pensamos em como lidar com isso”, diz. “De que modo a arte lida com o imaginário do trauma da escravidão, da diáspora”. Ele menciona as pesquisas feitas pelo sociólogo inglês Paul Gilroy, estudioso da diáspora negra, e autor do livro “Atlântico negro” (1993), tema presente nos trabalhos, e lembra que a artista Rosana Paulino, em conjunto de trabalhos de 2016, chamou de “Atlântico vermelho”, em alusão a Gilroy, evocando a violência da escravidão e seus desdobramentos até os dias de hoje. Marcelo Campos conta que em aulas, bibliografias e várias ações, há “importantes revisões históricas no Brasil, com a inclusão de autoras e autores negros”. Enquanto nos anos 1990 os afro-americanos já “iam direto na ferida”, observa, no Brasil as iniciativas eram isoladas. As políticas públicas dos últimos 20 anos, entretanto, com as cotas para estudantes negros, “em que a UERJ foi pioneira”, e a penetração das universidades no interior do país, como Cariri e Recôncavo Baiano, propiciaram a que os negros passassem a ter acesso às diversas áreas de conhecimento. “Esta pressão obrigou a academia e os espaços de arte a se modificarem”. Dos doze artistas convidados, seis foram comissionados para criarem trabalhos especialmente para a exposição: Azizi Cypriano, Juliana dos Santos, Moisés Patrício, Pedro Cipriano, Thiago Costa e Tiago Sant’ana. O título “Um oceano para lavar as mãos” é retirado de um verso da música “Meia-noite”, composta por Chico Buarque e Edu Lobo para a peça “O Corsário do Rei” (1985), de Augusto Boal. “Este verso sempre me chamou a atenção na música. A ideia de limpar – que pode ter sentido de cura, de purificação, presente em obras como as de Ayrson Heráclito – ou de não se fazer nada a respeito”.

 

Petrópolis: Uma cartografia negra

Marcelo Campos destaca que a exposição busca também “repensar a cidade de Petrópolis”. Conhecida como cidade imperial, Petrópolis tem uma cartografia de presenças negras, tendo abrigado quilombos em várias regiões do município: Quilombo da Tapera, no Vale das Videiras – com uma comunidade quilombola reconhecida pela Fundação Palmares em 2011 – Quilombo Manoel Congo, Quilombo Maria Comprida, Quilombo da Vargem Grande, e, de acordo com pesquisadores, também no local onde em 1884 foi construído o Palácio de Cristal, no Centro.

Filipe Graciano, arquiteto e urbanista, idealizador do Museu de Memória Negra de Petrópolis, e coordenador de Promoção da Igualdade Racial do Município, conta que a expografia vai salientar a ideia de encontros contida nos múltiplos significados que a palavra oceano traz. “Independentemente de nossa história de apagamento, nosso país se revigora com a presença negra. Além do trauma e da tragédia impostos aos negros, o oceano traz uma perspectiva de encontro, de afeto, cura, cuidado e resiliência”, explica. “As obras dos artistas refletem este encontro de várias culturas, a diversidade cultural da África, na criação dessa memória que atravessa a vida como ela é”. Para ele, a exposição “revisita este apagamento, esses riscados que repensam e refazem essa memória, essa presença”. “A monumentalidade do espaço do Centro Cultural Sesc Quitandinha vai ao encontro da monumentalidade da existência negra no Brasil”, observa. Graciano assinala a importância do olhar curatorial negro, com artistas negros, para contar “outra história, que não a única no Brasil”. “A potencialidade das mãos, de lavar a história”. “A exposição é quase um ato de reparação histórica”, afirma, observando que o trabalho educativo dará uma contribuição para “repensar a memória da cidade”.

 

Mourão na Casa França-Brasil

11/abr

 

Com curadoria de Marcus de Lontra Costa e Rafael Peixoto, a exibição individual “Lugar Geométrico”, de Raul Mourão, abriu a programação 2023 da Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, reunindo trabalhos em diferentes escalas que exploram as relações com a arquitetura histórica do prédio a partir das dicotomias entre dentro e fora, cheio e vazio, público e íntimo, instável e estável.

Na mostra, Raul Mourão recria o ambiente de seu ateliê, com quatro esculturas cinéticas grandes, de até 5 metros de altura, além de desenhos e aproximadamente 40 maquetes de suas esculturas, entre 20 e 30 cm cada uma. O título da exposição, “Lugar Geométrico”, inspira-se em um conceito da geometria analítica para propor reflexões sobre as questões de pertencimento que atravessam a arte contemporânea, tomando as formas e linhas como ponto de partida. Para isso, a exposição traz trabalhos que exploram o movimento pendular em esculturas de ferro da série “Rebel”, com destaque para duas obras em grande escala criadas pelo artista em 2020 que ocupam o grande átrio central da Casa França-Brasil. Além disso, um dos salões laterais, apresenta maquetes e estudos de trabalhos já realizados e de séries ainda em desenvolvimento, transmitindo a sensação de uma visita ao ateliê e propondo ao público uma experimentação íntima do processo de criação do artista. “Na sala menor a curadoria optou por apresentar uma espécie de visita ao ateliê. Decidimos então reunir num mesmo espaço desenhos de diferentes técnicas e formatos, fotografias, pinturas, um vídeo e um conjunto de 36 maquetes que nunca havia sido  mostrado anteriormente. Essa montagem meio caótica, onde vários meios (por vezes antagônicos) convivem, remete ao ambiente e às experiências que vão acontecendo e se sobrepondo cotidianamente no ateliê”, diz o artista. “Em meio ao turbilhão de imagens e ideias da contemporaneidade Raul Mourão cria, constrói e ressignifica a essência construtiva na arte. Liberta de seus compromissos utópicos, a geometria se afirma como síntese de um discurso poético que acentua a atemporalidade da criação artística. Nesse encontro entre a objetividade do cálculo e a surpresa das poéticas dos movimentos pendulares, a produção de Raul Mourão dialoga de maneira impactante com a arquitetura da Casa França-Brasil e acentua a potência criativa do artista”, complementa Marcus de Lontra Costa, que divide a curadoria com Rafael Fortes Peixoto.

 

Marcando 20 anos

31/mar

No ano em que comemora seus 20 anos, A Gentil Carioca apresenta para a SP-Arte 2023 (Stand E4), uma seleção especial que traduz sua essência poética a partir nova produção dos artistas: Agrade Camíz, Aleta Valente, Ana Linnemann, Arjan Martins, Cabelo, Denilson Baniwa, Jarbas Lopes, João Modé, José Bento, Laura Lima, Marcela Cantuária, Maria Laet, Maria Nepomuceno, Maxwell Alexandre, Novíssimo Edgar, OPAVIVARÁ!, Renata Lucas, Rodrigo Torres, Vinicius Gerheim e Vivian Caccuri.

Como parte da programação VIP da SP-Arte, a exposição Maria Nepomuceno & Valentina Liernur – Condo São Paulo 2023, n’A Gentil Carioca SP, participa do evento Travessa Aberta, um circuito de visitas aos espaços de arte da Travessa Dona Paula, em Higienópolis, que acontecerá no dia 01 de abril, de 10 às 12h.

 

O Brasil na Biennale Architettura 2023

30/mar

 

 

Intitulada “Terra”, a representação do Pavilhão do Brasil na Biennale Architettura 2023 – de 20 de maio a 26 de novembro no Giardini Napoleonici di Castello, Padiglione Brasile, 30122, Veneza, Itália – propõe repensar o passado para desenhar possíveis futuros, trazendo para o centro do debate agentes esquecidos pelos cânones arquitetônicos, em diálogo com a proposta curatorial da edição, Laboratory of the future (Laboratório do futuro). A exposição tem curadoria conjunta dos arquitetos Gabriela de Matos e Paulo Tavares, e conta com a participação do povo indígena Mbya-Guarani, povos indígenas Tukano, Arawak e Maku, Tecelãs do Alaká (Ilê Axé Opô Afonjá), Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Casa Branca do Engenho Velho), Ana Flávia Magalhães Pinto, Ayrson Heráclito, Day Rodrigues com colaboração de Vilma Patrícia Santana Silva (Grupo Etnicidades FAU-UFBA), coletivo Fissura, Juliana Vicente, Thierry Oussou e Vídeo nas Aldeias. Partindo de uma reflexão entre o Brasil de ontem, o de hoje e do futuro, a mostra coloca a terra como elemento poético e concreto no espaço expositivo. Para isso, o piso do pavilhão será aterrado, colocando o público em contato direto com a tradição dos territórios indígenas e quilombolas, além dos terreiros de candomblé.
“Nossa proposta curatorial parte de pensar o Brasil enquanto terra. Terra como solo, adubo, chão e território. Mas também terra em seu sentido global e cósmico, como planeta e casa comum de toda a vida, humana e não humana. Terra como memória, e também como futuro, olhando o passado e o patrimônio para ampliar o campo da arquitetura frente às mais prementes questões urbanas, territoriais e ambientais contemporâneas”, contam os curadores.
A primeira galeria do pavilhão modernista é chamada pelos curadores de Decolonizando o cânone, questionando o imaginário em torno da versão de que Brasília, capital do Brasil, foi construída em meio ao nada, uma vez que indígenas e quilombolas que habitavam o lugar já eram retirados da região desde o período colonial, sendo finalmente empurrados para as periferias com a imposição da cidade modernista. Com múltiplos formatos, as obras que preenchem a galeria vão da projeção de uma obra audiovisual da cineasta Juliana Vicente e criada em conjunto com a curadoria, comissionada para a ocasião, passando por uma seleção de fotografias de arquivo, organizada pela historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto, ao mapa etno-histórico do Brasil de Curt Nimuendajú e o mapa Brasília Quilombola, comissionado especialmente para mostra.
A segunda galeria, batizada de Lugares de origem, arqueologias do futuro, nos recepciona com a projeção do vídeo instalação em dois canais de Ayrson Heráclito – O sacudimento da Casa da Torre e o da Maison des Esclaves em Gorée, de 2015 –  e se volta para as memórias e a arqueologia da ancestralidade. Ocupada por projetos e práticas socioespaciais de saberes indígenas e afro-brasileiros acerca da terra e do território, a curadoria parte de cinco referências essenciais: Casa da Tia Ciata, no contexto urbano da Pequena África no Rio de Janeiro; a Tava, como os Guarani chamam as ruínas das missões jesuítas no Rio Grande do Sul; o complexo etnogeográfico de terreiros em Salvador; os Sistemas Agroflorestais do Rio Negro na Amazônia; e a Cachoeira do Iauaretê dos Tukano, Arawak e Maku.
A exibição demonstra o que várias pesquisas científicas comprovam: que terras indígenas e quilombolas são os territórios mais preservados do Brasil, e assim apontar para um futuro pós-mudanças climáticas no qual “decolonização” e “descarbonização” caminham de mãos dadas. Suas práticas, tecnologias e costumes ligados ao manejo e produção da terra, como outras formas de fazer e de compreender a arquitetura, estão situados na terra, são igualmente universais e carregam em si o conhecimento ancestral para ressignificar o presente e desenhar outros futuros para o planeta, tanto para as comunidades humanas quanto para as não humanas. Para José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo: “A Mostra Internacional de Arquitetura da Biennale di Venezia é um espaço privilegiado para o debate das questões mais urgentes em arquitetura e urbanismo, campo que, em última instância, reflete sobre nossas dinâmicas de vida a partir do uso e compartilhamento de espaços comuns, enquanto sociedade. Em um momento de grandes desafios enfrentados pela humanidade, realizar a exposição proposta pelos arquitetos Gabriela de Matos e Paulo Tavares é uma maneira de dar visibilidade a pesquisas e práticas que podem contribuir para a elaboração coletiva de nosso futuro”.

 

Sobre os curadores

Gabriela de Matos é arquiteta e urbanista afro-brasileira, nascida no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, e cria projetos multidisciplinares com o objetivo de promover e destacar a cultura arquitetônica e urbanística brasileira, a partir das lentes de raça e gênero. É graduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas (2010) e especializou-se em sustentabilidade e gestão do ambiente construído pela UFMG. Mestranda do Diversitas – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Atualmente é professora  na graduação de arquitetura e urbanismo da Escola da Cidade. É CEO do Estúdio de Arquitetura – Gabriela de Matos, criado em 2014. Foi co-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil no departamento de São Paulo, gestão (2020-2022). É fundadora do projeto Arquitetas Negras (2018), que mapeia a produção de arquitetas negras brasileiras. Pesquisa arquitetura produzida em África e sua diáspora com foco no Brasil. Entre outras, propõe ações que promovam o debate de gênero e raça na arquitetura como forma de dar visibilidade à questão. Foi premiada como Arquiteta do Ano 2020 pelo IAB RJ.
Paulo Tavares explora as interfaces entre arquitetura, culturas visuais, curadoria, teoria e advocacia. Operando através de múltiplas mídias e meios, seu trabalho abre uma arena colaborativa voltada para a justiça ambiental e contranarrativas na arquitetura. Seus projetos e textos foram apresentados em várias exposições e publicações nacionais e internacionais, incluindo Harvard Design Magazine, The Architectural Review, Oslo Architecture Triennial, Istanbul Design Biennale, e a 32a Bienal de São Paulo – Incerteza viva. Tavares foi cocurador da Bienal de Arquitetura de Chicago 2019 (EUA) e, atualmente, é membro do conselho curatorial da segunda edição da Trienal de Arquitetura de Sharjah 2023 (EAU). Foi curador dos projetos Acts of Repair (Preston Thomas Memorial Symposium, Universidade de Cornell, EUA), e Climate Emergency – Emergence, no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT) de Lisboa (Portugal). Tavares é autor de vários textos e livros que questionam os legados coloniais da modernidade, incluindo Forest Law/Floresta Jurídica (2014), Des-Habitat (2019), Memória da terra (2019), Lucio Costa era racista? (2020), e Derechos no-humanos (2022). Seus projetos de design também são apresentados na Bienal de Veneza deste ano no pavilhão do Arsenal.

 

Sobre a participação brasileira na 18ª Mostra Internacional de Arquitetura da Biennale di Venezia

A prerrogativa da Fundação Bienal de São Paulo na realização da representação oficial do Brasil nas bienais de arte e arquitetura de Veneza é fruto de uma parceria de décadas com o Governo Federal, que outorga à Fundação Bienal a responsabilidade pela nomeação da curadoria e pela concepção e produção das mostras em reconhecimento à excelência de seu trabalho no campo artístico-cultural. Organizadas com o intuito de promover a produção artística brasileira no mais tradicional evento de arte do mundo, as exposições ocorrem no Pavilhão do Brasil, projetado por Henrique Mindlin e construído em 1964.

O retrato em exibição

24/mar

Inaugurada em novembro de 2022 em dois espaços  – Copacabana e um galpão industrial na Penha – a galeria dedicada a questões contemporâneas como política, racismo e gênero em obras de qualidade – discute agora, até 08 de abril, em sua sede em Copacabana, o conceito do retrato, presente ao longo da história da arte.

Os artistas Alan Oju (1985, Santo André, SP), André Barion (1996, São Paulo), Andy Villela (1994, Rio de Janeiro), Bruno Alves (1998, São Paulo), Emerson Freire (1995, São Paulo), Gustavo Magalhães (1998, Goioerê, Paraná), Irineia Rosa Nunes da Silva (1949, povoado quilombola do Muquém, Alagoas), Lucas Almeida (1995, São Paulo), Leoa (Renata Costa, 1997, Rio de Janeiro), Melissa Oliveira (2000, Rio de Janeiro), Marlon Amaro (1987, Niterói), Miguel Afa (1987, Rio de Janeiro), Siwaju (1997, São Paulo) trabalham o retrato em diferentes pesquisas e abordagens. O texto crítico é do fotógrafo Bob Wolfenson.

“Vivemos em uma sociedade fetichizada, onde tudo é elevado, maximizado. Num momento onde o retrato, representado pela compulsão pela autoimagem e selfies, toma lugar daquele outrora idealizado, o fetiche não é mais aquele enquanto prática. O erotismo está em se mostrar, mesmo que por filtros e camadas de mentira. O mundo está refém do espelho, o Narciso deixa o consultório do psicólogo e alcança a grande massa”, comenta Paulo Azeco, um dos sócios da Nonada.

Os trabalhos são em grande parte pinturas, com diversos materiais, e ainda esculturas e fotografias. “A exposição faz um breve recorte sobre como o retrato, que é um dos mais antigos sujeitos da história da arte, encontra ressonância nesses artistas que têm dialéticas tão distintas, mas que trabalham sobre a representação humana e seus desdobramentos contemporâneos”, diz Paulo Azeco.

 

 

Formatos inovadores de participação

23/mar

NONADA, galeria de arte contemporânea carioca, visita São Paulo em espaço próprio, mas temporário, para estar presente no circuito cultural paulistano durante o período da principal feira de arte do hemisfério sul – SP-Arte – e, apresentar de uma forma coerente com seu conceito raiz, artistas comprometidos com seu compromisso de atuar ativamente do mercado criativo brasileiro mas também buscando formatos inovadores de participar.

A NONADA estará no térreo do Edifício Madalena, na Praça da Bandeira, região central de São Paulo, em um prédio Art Déco recentemente restaurado, embaixo do Viaduto do Chá. Usar ícones urbanos como referência é uma das formas que a galeria carioca entrar com respeito e coerência em São Paulo, marcando presença no maior centro cultural da América Latina, mas entendendo a necessidade de levar essas iniciativas para lugares importantes e, às vezes, externos ao circuito convencional de galerias e museus.

NONADA não é aqui – Superfície Matéria | Densidade Identitária, é uma mostra coletiva com 25 obras de 18 artistas, nomes com alcance já internacional como Miguel Afa e Melissa de Oliveira, representados pela galeria, e outros que participarão pela primeira vez de um projeto da NONADA como Tadaskia e Loren Minzu. A curadoria é de Paulo Azeco.

Pelo período de nove dias – de 25 de março a 02 de abril -, a jovem galeria, com um DNA que inclui sua presença no não lugar para sua existência e pertinência, exibe um projeto expositivo que reúne dois elementos imperativos em sua linha curatorial atual: “a ressonância da matéria nas pesquisas de jovens artistas percebida como ponto comum em muitas delas; além do moto primeiro da galeria que é a pesquisa de talentos periféricos à medida que muitos ainda estão fora de um circuito de arte convencional, com o foco maior em artistas LGBTQUIA+, questões identitárias, raciais e sociológicas. Deslocando o lugar da arte periférica para um sentido amplificado e que de fato faz sentido no pensamento contemporâneo”, como define Paulo Azeco.

 

Sobre a galeria

NONADA, um neologismo que remete ao não lugar e a não existência, também abre “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa e a união desses conceitos representa o pensamento basilar desse projeto. Como o próprio significado de NONADA diz, ela surge com o intuito de suprir lacunas momentâneas ou permanentes acerca de um novo conceito. A galeria, inclusiva e não sectária, como agente promotor de encontros e descobertas com anseio pela experimentação, ilustra possibilidades de distanciar-se de rótulos enquanto amplia diálogos. “NONADA é um híbrido que pesquisa, acolhe, expõe e dialoga. Deixa de ser nada e passa a ser essência por acreditar que o mundo precisa de arte… e arte por si só já é lugar”, definem João Paulo, Ludwig, Luiz e Paulo.

A NONADA mostrou-se necessária após a constatação, por seus criadores, da imensa quantidade de trabalhos de boa qualidade de artistas estranhos aos circuitos formais e que trabalham com os temas do hoje, sem receio nem temor em abordar temas políticos, identitários, de gênero ou qualquer outro assunto que esteja na agenda do dia; que seja importante no hoje. “Queremos apresentar de forma plural novos talentos, visões e força criativa”. O processo de maturação do projeto da NONADA foi orgânico e plural pois “abrangeu desde nossa experiência como também indicações de artistas, curadores, e de buscas onde fosse possível achar o que aguardava para ser descoberto”, diz Paulo Azeco. Ludwig Danielian acrescenta: “…não queremos levantar bandeiras, rótulos, e sim valorizar a arte boa, que independe de estereótipos. Queremos ter esta proposta de galeria em Copacabana, bairro popular, e no subúrbio, na periferia do circuito de arte, para que se leve excelentes trabalhos a todos. Pretendemos promover discussões livres, contemporâneas, abertas, sem julgamentos prévios.”

Artistas: Miguel Afa, Melissa de Oliveira, Tadaskia, Loren Minzu, Alan Oju, André Barion, Emerson Freitas, Siwaju e outros.