Formas diferentes de retratar a paisagem

16/nov

 

A galeria samba arte contemporânea, Shopping Fashion Mall, apresenta até 11 de dezembro, as exposições “Primavera em Júpiter”, do artista carioca Fernando Mello Brum, e “Mario Baptista Street”, do premiado fotógrafo paulistano Mario Baptista, em seus dois espaços em São Conrado. Em comum, as exposições trazem formas diferentes de retratar a paisagem, em obras com cores fortes e vibrantes. As duas exposições que tem a paisagem como tema, Fernando Mello Brum apresenta desenhos e pinturas inéditos que marcam uma nova fase em sua obra e o fotógrafo Mario Baptista fará sua primeira exposição individual no Rio de Janeiro.

“Apesar de um ser pintura e o outro fotografia, a paisagem é um tema comum na pesquisa dos dois artistas. São olhares diferentes, formas diferentes de se retratar a paisagem. Fernando tem o olhar para o micro, Mario para o macro”, afirma Cali Cohen, sócia da galeria samba arte contemporânea.

Fernando Mello Brum apresentará 40 trabalhos inéditos, sendo 20 pinturas em óleo sobre tela e 20 desenhos, alguns em pastel oleoso e outros em nanquim. As obras são fruto da observação do artista sobre o cotidiano e marcam uma nova fase de maturidade pictórica em seu trabalho, com cores fortes, marcantes e vibrantes, que trazem o embate entre a paisagem real e fragmentada.

“Pego ideias, coisas que interessam ao meu olhar, sempre voltado para a paisagem e para os pequenos detalhes, que muitas vezes passam despercebidos ao olhar dos outros”, conta Fernando Mello Brum, que em suas obras amplia detalhes do que vê a sua volta, dando a elas, através de um olhar particular um novo sentido.

As obras se aproximam mais do universo lúdico e infantil, o que se deve à convivência com o sobrinho de três anos, exaltando além das cores, as características físicas da tinta, como peso e maleabilidade, que o artista explora sobrepondo, raspando, misturando, criando volumes e deixando marcas de pinceladas aparentes, nos dando a sensação de movimento.

Já Mario Baptista apresentará 13 fotografias inéditas, produzidas entre 2018 e 2022, que retratam detalhes captados pelo olhar atento do fotógrafo em grandes metrópoles pelo mundo, em imagens que quase parecem pinturas, com cores fortes e vibrantes. Para conseguir o efeito desejado, o artista usa a técnica de longa exposição e trabalha com contrastes. A exposição integra a 15ª edição do FotoRio. As fotografias da exposição apresentam momentos efêmeros e detalhes que não escaparam ao clique do fotógrafo. “Para fotografar, procuro ir a lugares de grande concentração de cores, geometria, grafite, luzes, néon, coisas que chamam atenção. Eu costumo dizer que eu não tiro fotos, são elas que me tiram”, afirma Mário Baptista, que apesar de fotografar desde os 13 anos, somente há três resolveu se dedicar exclusivamente à fotografia. Autodidata, já coleciona diversos prêmios em seu currículo, como o PX3 – Prix de la Photographie Paris. Feitas em São Paulo, Oxford, Paris e Los Angeles, as imagens são um retrato das grandes metrópoles. “O lugar geográfico é mero acaso do destino. Todos esses lugares estão dentro de mim. O meu olhar naturalmente busca referências que conversam”, conta Mário Baptista.

 

Sobre Fernando Mello Brum

Fernando Mello Brum é formado em Design pela PUC-Rio. Trabalha através da observação do cotidiano no campo pictórico. Busca explorar o conceito de paisagem de modo nostálgico, onde é possível compreender a dinâmica dela: incluindo a manipulação de seus efeitos e os limites do espetáculo. Suas pinturas criam uma relação com a realidade da paisagem e aquela que pode vir a ser imaginada pelo espectador. Em 2015 e 2016, participou da feira Art Lima, Peru, com a Galeria TAC. Em 2017, realizou exposição individual na Galeria TAC em Lima, Peru. Em 2019, realizou uma residência artística em Berlim, Alemanha, finalizada com uma individual na Galeria coGalleries na mesma cidade. Neste mesmo ano fez mais uma exposição individual na Z42 Arte no Rio de Janeiro, com curadoria de Fernando Cocchiarale. Em 2020, participou de uma exposição coletiva na Galeria Simone Cadinelli no Rio de Janeiro, em 2021, do Salão de Artes Visuais na Galeria Ibeu Online, no Rio de Janeiro e da Coletiva Da Pintura, com curadoria de Isabel Portella e Patrícia D’Angelo na Z42 Arte em 2022.

 

Sobre Mario Baptista

Mario Baptista recebeu os seguintes prêmios: Grande Prêmio Fotografe 2022 – Finalista – série “O que vemos, o que nos olha”. Setembro, 2022 International Photography Awards IPA – Finalista – “His own paths”. Setembro,22. Monovisions Photography Awards – Menção Honrosa – “His own paths”. Passaram-se três décadas para que Mario Baptista realizasse uma exposição individual desde que ganhou sua primeira máquina fotográfica. Apesar do longo período de convivência com câmeras, ele passou a se dedicar exclusivamente à fotografia somente em 2019. O fruto dessa imersão plena na captura de imagens foi conhecido em 2021, quando abriu, em São Paulo, a mostra “Cidade Errante”. Fruto de seu olhar sensível e apurado diante da paisagem urbana e humana da metrópole, a exposição reuniu 17 imagens selecionadas sob a curadoria do jornalista, fotógrafo e crítico Eder Chiodetto. Desde então, Mario Baptista segue produzindo novos trabalhos e ressignificando seu acervo pessoal de fotos anteriores junto a curadores que trazem outros olhares sobre a produção do artista. Esse desenvolvimento pode ser apreciado em sua participação em março de 2022, na nova feira paulista ArtSampa 22 no museu OCA do Ibirapuera, como também pelos ensaios curatoriais: Diálogos… e o que vem depois; O que vemos, o que nos vê; Paisagens Mediadas; Alquimia fotossensível; Imaginários Urbanos; e outros. Baptista também tem uma intensa atividade com o projeto social Feito Formiguinhas.

 

Sobre a galeria

A samba arte contemporânea, fundada em 2015 por Arnaldo Bortolon e Cali Cohen, é um espaço que privilegia o diálogo contínuo entre artistas renomados e emergentes de diferentes gerações e regiões brasileiras. Com seu variado acervo em exposição permanente, apresenta de forma singular as obras desses artistas, que colocados lado a lado, nos oferecem inúmeras possibilidades de apresentação e percepção, independentemente de escala, suporte e técnica. A galeria possui dois espaços expositivos, sua ocupação se alterna entre as exposições de acervo, as individuais dos artistas representados e as de projetos curatoriais particulares. Com o intuito de divulgar, promover e difundir a produção contemporânea, a galeria se propõe também a ser um espaço de pesquisa, experimentação e educação através de ações relacionadas. Atua em cooperação com projetos de integração da arte com o entorno, extrapolando o espaço expositivo da galeria e aproximando as obras dos artistas do público circulante. A galeria trabalha com Antonio Bandeira, Antonio Dias, Adriana Lerner, Anna Maria Maiolino, Ascânio MMM, Bruna Amaro, Erinaldo Cirino, Diogo Santos, Elisa Arruda, Fernando Mello Brum, Franz Weissmann, Ione Saldanha, José Rezende, Jota Testi, Manfredo de Souzanetto, Roberval Borges, Thiago Haidar, Washington da Selva, entre outros.

 

 

Dois artistas na Z242

13/nov

 

No dia 19 de novembro, a Z42 Arte inaugura as exposições “Nascer de Terras”, da artista brasiliense radicada no Rio de Janeiro, Amanda Coimbra, e “Esqueça de mim”, do artista carioca Marcelo Albagli. Com curadoria de Fernanda Lopes, as mostras ocuparão todo o espaço expositivo do casarão no Cosme Velho com obras inéditas, que partem de fotografias de momentos históricos e de personalidades importantes da história para criar, através do desenho, poéticas distintas.

Amanda Coimbra parte da icônica fotografia “Earthrise” (1968), do astronauta William Anders, que mostra o planeta Terra visto da Lua, para criar as cerca de 20 obras da exposição “Nascer de Terras”. Considerada como uma das 100 fotografias que mudaram o mundo, a imagem serviu de base para a artista começar a fotografar o céu noturno de forma analógica, e arranhar os negativos com objetos pontiagudos, fazendo desenhos, criando novos planetas, desenhando estrelas, luas e repensando o nosso lugar no mundo.

Partindo de fotografias de personalidades históricas, Marcelo Albagli apresenta cerca de 25 desenhos em grafite sobre papel do século 19, que tratam de memória – afetiva, nacional e histórica.  As folhas antigas trazem marcas do tempo, como mofo, manchas e amarelados, que se integram às obras. A série de trabalhos que dá nome à exposição retrata o rosto de cinco presidentes da ditadura militar. Também farão parte da exposição 15 trabalhos da série “Brasília 19:00”, que retratam signatários do AI-5. O nome da série faz alusão a Voz do Brasil e ao rádio e esta sala será ambientada com spots originais da Rádio Relógio, com a voz do locutor Tavares Borba. Nesta mesma sala também estarão trabalhos que retratam outros políticos brasileiros, mas nos quais o artista faz intervenções, como manchas e borrões, chegando a derreter o grafite em algumas, quase apagando o desenho, criando uma espécie de fantasma da figura.

“Independentes entre si, as exposições de Amanda e Marcelo revelam a pesquisa recente e inédita de dois jovens artistas que vivem e trabalham no Rio de Janeiro, e, vistas em conjunto, permitem a reflexão sobre questões atuais como o estatuto da imagem, a prática do desenho na arte contemporânea e a construção/invenção da memória”, diz a curadora Fernanda Lopes.

 

Sobre os artistas

Amanda Coimbra nasceu em Brasília, 1989 – Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Graduada em Artes Visuais pelo School of the Art Institute of Chicago (2011).  Participou das residências artísticas Casa da Escada Colorida (2021-2022), DESPINA (2017), Espacio de Arte Contemporáneo (Montevidéu, 2017), Proyecto ‘ace (Buenos Aires, 2012) e Picture Berlin (Berlim, 2009). Desde 2010 mostra seu trabalho em exposições coletivas e individuais no Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Uruguai, Argentina e Perú. Em 2016 publicou o foto livro “A Memória de um Álbum de Viagem”, com texto crítico da curadora argentina Ana María Battistozzi. Em 2021 seu projeto “Nascer de Terras” foi contemplado pelo edital Retomada Cultural RJ (Lei Aldir Blanc – SECECRJ).

Marcelo Albagli vive e trabalha no Rio de Janeiro. É mestre em design pela University of Arts London, no Reino Unido. Frequentou oficinas de pintura, desenho e litografia na EAV Parque Lage, onde atualmente é professor, e estudou gravura e teoria da arte na Kunsthøjskolen i Holbæk, na Dinamarca, país onde se formou em vídeo e cinema pela Københavns Mediecenter. Possui cursos livres em diversas instituições, como Escola Sem Sítio, PUC-Rio, Instituto Adelina e Berlin Art Institute, este último na Alemanha. Em 2021, participou das coletivas Dobras (Paço Imperial / RJ), Coleção de Pedras Vivas (Casa da Escada Colorida / RJ) e Movimentos laterais, de afastamento e de colisão (Galeria Quarta Parede / SP). Ainda no mesmo ano, foi selecionado para o 46° Salão de Arte de Ribeirão Preto Nacional-Contemporâneo, para o 17° Salão Nacional de Arte Contemporânea de Guarulhos e para o Trinity Buoy Wharf Drawing Prize, em Londres. Em 2022, foi artista residente na DRAWinternational, em Caylus, França.

 

Sobre a curadora

Fernanda Lopes é curadora, crítica de arte e pesquisadora. Doutora pela Escola de Belas Artes da UFRJ, é Diretora Artística do Instituto Pintora Djanira e professora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde foi aluna. Organizou, ao lado de Aristóteles A. Predebon, o livro “Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite” (Tamanduá-Arte,2016). Escreveu os livros “Área Experimental: Lugar, Espaço e Dimensão do Experimental na Arte Brasileira dos Anos 1970” (Bolsa de Estímulo à Produção Crítica, Minc/Funarte, 2012) e “Éramos o time do Rei – A Experiência Rex” (Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, Funarte, 2006). Entre as curadorias que vem realizando desde 2009 está a atuação como curadora adjunta do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2016-2020), curadora associada do Centro Cultural São Paulo (2010-2012), e curadora convidada da Sala Especial do Grupo Rex na 29ª Bienal de São Paulo (2010). Em 2017 recebeu, ao lado de Fernando Cocchiarale, da Associação Brasileira dos Críticos de Arte (ABCA) o prêmio Prêmio Maria Eugênia Franco (curadoria de exposição em 2016) pela curadoria da exposição “Em Polvorosa – Um panorama das coleções MAM-Rio”. É membro do Conselho Editorial da revista Concinnitas (UERJ).

 

 

Panorama da obra de Gustavo Speridião

 

Um dos mais destacados e engajados artistas brasileiros da atualidade, o carioca Gustavo Speridião apresentará um panorama de sua obra recente a partir do dia 19 de novembro na mostra “Gustavo Speridião – Manifestação contra a viagem no tempo”, no Centro Cultural Justiça Federal. Com curadoria de Evandro Salles, serão apresentadas cerca de 150 obras, entre pinturas, desenhos, colagens, fotografias, filmes, objetos e faixa-poema, produzidos entre 2006 e 2022, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Paris. Desde 2016 o artista não realiza uma exposição institucional no Rio de Janeiro.

“É uma mostra antológica, que revela um artista denso e profícuo, que se inscreve fortemente nas raízes construtivas da arte”, afirma o curador Evandro Salles. No dia da abertura, será realizada uma visita-guiada com o artista e o curador. A mostra tem patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através do Edital Retomada Cultural RJ2.

Tendo todo o seu trabalho perpassado pela palavra e pelo poema, Gustavo Speridião apresentará obras impactantes, sejam pelo seu tamanho, por suas formas ou por suas frases-poemas, em trabalhos que mostram o amplo campo de linguagens exploradas pelo artista. Cerca de 50 pinturas em grandes dimensões, com tamanhos que chegam a 6 metros de comprimento, estarão na exposição ao lado de mais de 80 desenhos de menor formato e pequenos objetos em gesso. Faixas-poemas, que participaram de manifestações nas ruas do Rio de Janeiro, fotografias e dois filmes produzidos pelo artista – um curta e um média-metragem – completam a exposição.

Os trabalhos trazem em sua temática questões políticas, existenciais, filosóficas e em defesa da liberdade de expressão, mas sempre dentro de uma narrativa poética.

Trazendo o universo das ruas, muitas obras incorporam durante o processo de trabalho manchas, respingos, eventuais rasgos e sujeiras e que acabam se integrando à obra. “O pincel ou o lápis agem como uma faca. Cortando a superfície do plano em gravações definitivas, irretocadas. Suas referências históricas são explicitadas. Suas apropriações reveladas. Suas palavras são ditas (e escritas). Seus erros são incorporados ao lado de seus acertos. Nada há a esconder. Revela-se o aparecimento das verdades cruas, das ilusões vãs ou das realidades cruéis”, diz o curador.

Em trabalho inédito, seis grandes telas são dispostas em hastes fincadas em blocos de concreto urbano, semelhantes aos que encontramos nas ruas, feitos com britas.

Formam um círculo por onde o público poderá caminhar e imergir, vendo a tela e seu avesso. “Sempre trabalhei com arte urbana. Os blocos de concreto me interessam como objeto e fazem a tela se tornar mais espacial, caminhando mais para a escultura. É uma fórmula que me interessa”, afirma o artista. Mesmo sendo uma quase escultura ou instalação, Gustavo Speridião diz que “tudo é parte da pintura, de um plano pictórico que está em várias dimensões”. Esses mesmos blocos de concreto aparecem em outras obras, com madeiras e pequenas faixas com textos como “A arte da revolução” ou “Tudo insuportável”.

Se elementos das ruas, como os blocos de concreto, são utilizados nas obras, o contrário também acontece e obras criadas no ateliê do artista na Gamboa, na zona portuária do Rio de Janeiro, vão para as ruas, como a faixa-poema, em grandes dimensões, medindo 2,5m X 4,5m, realizada em colaboração com Leandro Barboza, que participou de manifestações no Rio de Janeiro, e na exposição estará presa por cabos de madeira, apoiadas em blocos de concreto.

Para mostrar a ampla produção do artista, que transita por diversas linguagens, também serão apresentadas fotografias, que mostram construções de imagens, e dois filmes: o média-metragem Estudos Superficiais; (2013), ganhador do prêmio Funarte de Arte Contemporânea, em 2014, que registra lugares, imagens urbanas, momentos e pessoas, que cruzaram o caminho do artista, e curta-metragem “Time Color” (2020), que fala sobre a existência da humanidade, superação da natureza, geometria e formação da gravidade. O título da exposição foi retirado de uma colagem de 2009 na qual, sobre uma imagem de manifestação publicada em um jornal, o artista escreve com tinta a frase que dá nome à mostra: “Manifestação contra a viagem no tempo”, em uma referência a situações recentes da nossa história. “Para enfrentar a desmemória de um falso passado, propõe e nos remete em poema ao real do aqui e agora. Imagem e palava se articulam na construção de um terceiro sistema: POEMA, afirma o curador. Ao longo do período da exposição está prevista uma palestra com o artista e o lançamento do e-book bilíngue da mostra.

 

Sobre o artista

Gustavo Speridião trabalha em uma grande variedade de mídias, incluindo fotografia, filmes, colagens e desenhos. De simples piadas visuais a esboços que convidam a interpretações complexas. Em sua obra, Gustavo Speridião não tem medo de parafrasear e citar coisas que o cercam, desde os discursos de trabalhadores até assuntos políticos globais ou filmes de vanguarda modernistas à história da arte. Há uma espécie de energia crítica que consegue mostrar uma atitude em relação ao que ele considera que deve ser discutido, reavaliado e recriado. O mundo inteiro pode ser o tema de seu trabalho. Tudo o que existe no mundo contemporâneo constitui sua gramática visual. O artista assimila a velocidade do mundo contemporâneo, mas recusa todos os discursos oficiais que tentam nos convencer de que a luta de classes já está completamente perdida. Speridião examina os problemas universais enfrentados pelo homem e os transforma em arte visual. Com sua criação e interpretação de imagens e a forma de editá-las, sua poesia reivindica o direito de ter voz contra o capitalismo.

 

Sobre o curador

Artista e curador. Notório Saber em Arte reconhecido pela Universidade de Brasília – UnB; Mestre em Arte e Tecnologia pelo Instituto de Artes da Universidade de Brasília – UnB. Profissionalmente, atuou dirigindo diversas instituições culturais: criador e diretor executivo da Fundação Athos Bulcão – Brasília; Secretário Adjunto de Cultura do Distrito Federal (1997-1998); Diretor Cultural do Museu de Arte do Rio – MAR (2016-2019). Um dos fundadores no Rio de Janeiro do Instituto CASA – Convergências da Arte, Sociedade e Arquitetura. Diretor da empresa cultural Lumen Argo Arte e Projeto. Idealizou e realizou nos últimos anos inúmeras exposições de artes visuais em museus e centros culturais, das quais destacam-se: O Rio do Samba – Resistência e Reinvenção – Museu de Arte do Rio-MAR, 2018; Tunga, o rigor da distração, 2017, Museu de Arte do Rio-MAR; Claudio Paiva – O colecionador de Linhas, MAR, 2018; O Poema Infinito de Wlademir Dias-Pino – Museu de Arte do Rio-MAR, 2016; Casa • Cidade • Mundo – sobre arte e arquitetura – Centro Cultural Hélio Oiticica. Rio de Janeiro. 2015; A Experiência da Arte – com obras de Cildo Meireles, Eduardo Coimbra, Ernesto Neto, Paula Trope, Vik Muniz, Waltercio Caldas e Wlademir Dias Pino – CCBB-Brasília – 2014. SESC Santo André – São Paulo 2015; Amilcar de Castro – Repetição e Síntese – panorama da obra do artista mineiro – CCBB-Belo Horizonte 2014; Arte para Crianças –  Museu da Vale, Vila Velha – ES; Museu de Arte Moderna do RJ; Casa das Onze Janelas, Belém; CCBB Brasília; SESC Pompéia, São Paulo; Itinerância de 2006 a 2010; Curador Geral do Espaço Brasil no Carreau du Temple, Paris – Ano do Brasil na França; 2005.

 

Sobre o Centro Cultural Justiça Federal

Espaço reconhecido por incentivar e garantir o acesso da população às diversas formas de expressão cultural, abriga exposições, peças teatrais, espetáculos de dança e de música, mostras de cinema, cursos, seminários, palestras, dentre outras. Vinculado à Presidência do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, ocupa a antiga sede do Supremo Tribunal Federal na cidade do Rio de Janeiro. A construção do prédio teve início em 1905, como parte integrante do projeto de reformulação urbanística da cidade, então Capital Federal. Projetado pelo arquiteto Adolpho Morales de Los Rios, o edifício é um dos mais importantes testemunhos daarquitetura eclética do país. O STF ocupou o prédio até 1960, quando da transferência da Capital Federal para Brasília. Desde então, a  edificação abrigou o Superior Tribunal Eleitoral, o Tribunal de Alçada e varas da Justiça Federal de 1ª Instancia. Após sete anos de obras de restauração, o prédio foi aberto ao público em 4 de abril de 2001, já como Centro Cultural.

 

 

Mostra rompe limites e convenções

10/nov

 

ABERTO 01,  é o nome do evento seminal que ocupará a única casa projetada por Oscar Niemeyer, Rua Silvia Celeste de Campos, 607, Alto de Pinheiros,  em São Paulo, SP, rompe de forma ousada limites e convenções do campo da arte, promovendo encontros potentes entre diferentes obras, atores e campos de expressão plástica e poética. Durante um mês e até 04 de dezembro, o público terá a oportunidade de ver dezenas de criações modernas e contemporâneas, nacionais e internacionais, numa trama complexa que envolve diálogo entre as obras e o espaço arquitetônico, conexão entre produções de tempos históricos e geográficos bastante distintos e uma costura articulada entre diferentes atores e agentes, numa ação conjunta coordenada pelos curadores Kiki Mazzucchelli, Claudia Moreira Salles e o paulista radicado em Londres Filipe Assis, idealizador do projeto. O evento terá caráter transnacional, devendo acontecer em um país diferente a cada ano.

O grande destaque da seleção é a tela “Mulher Nua Sentada”, pintada por Pablo Picasso em 1901. Além de testemunhar a potência criativa do artista espanhol em seus primeiros anos em Paris e pertencer ao amplo conjunto de retratos femininos realizados por ele ao longo de sua vasta carreira, a tela – que virá ao Brasil pela primeira vez, especificamente para essa exibição – tem procedência fascinante. Provavelmente participou da primeira exposição realizada pelo pintor na França, pertenceu a colecionadores importantes até ser confiscada pelos nazistas nos anos 1930, sendo alvo de intensa disputa judicial. Em torno dela se articulará um dos núcleos mais potentes de “ABERTO 01″, um conjunto expressivo de desenhos de nus, assinados por grandes artistas como Pierre-Auguste Renoir, Gustav Klimt, Alberto Giacometti, Marc Chagall, Fernando Botero, Henri Moore e Louise Bourgeois. Esse grupo de trabalhos, que contempla também uma série de obras de cunho erótico, ficará instalada na suíte master da casa projetada por Niemeyer em 1962 e que terminou de ser construída em 1974.

Os outros núcleos da exposição foram pensados em profunda interação com o ambiente, potencializando a fruição de espaços como o jardim de esculturas, ou a criação de uma linha clara que conecta peças relacionadas com os movimentos construtivos de meados do século XX, como um grandioso relevo espacial de Hélio Oiticica, e que deságua em produções atuais como o trabalho especialmente criado por Marcius Galan, numa fértil aproximação entre produções históricas e contemporâneas. A instalação de Galan se soma a uma série de obras comissionadas que se espalham pela residência, em direta relação com o ambiente, assinadas por Daniel Buren, Maria Klabin, Mauro Restiffe e Panmela Castro, entre outros. Para reunir um conjunto tão amplo de trabalhos, a mostra conta com um número amplo de parceiros. “O projeto superou nossas expectativas”, celebra Filipe. “Tem uma potência muito grande essa união de várias galerias importantes, com acervos excepcionais”, complementa Kiki Mazzucchelli.

A elaboração de uma cenografia particular, assinada por Claudia Moreira Salles, ajuda a aprofundar essa integração e amplifica as possibilidades expositivas de um espaço em que predominam paredes curvas, espaços fluídos e grandes superfícies de vidro. “Esta é uma casa simples, diferente e acolhedora”, escreve Niemeyer em uma das páginas do projeto, que integra o segmento especialmente dedicado ao arquiteto dentro da exposição e que contou com o apoio da Fundação Oscar Niemeyer, outro parceiro de peso. O arquiteto está presente não apenas como arquiteto e homenageado no 10º aniversário de seu falecimento, mas também com uma pintura, lado menos conhecido de sua produção. Realizada em 1964 sob o impacto das notícias sobre o golpe de Estado no País, a tela se intitula alegoricamente Ruínas de Brasília.

A valorização de lugares inusitados, com forte carga simbólica, histórica e estética, é a pedra fundamental dessa plataforma de exposições temporárias, idealizada há algum e que só agora ganha corpo, com a possibilidade de uso temporário da casa localizada no Alto de Pinheiros. “Não quero seguir um calendário do mercado, a oportunidade é que vai ditar as possiblidades”, explica Filipe, sublinhando que cada edição do evento terá uma nova conformação e cidade no mundo e reafirmando a importância de abrir outras possibilidades que rompam com a impessoalidade das feiras e dos espaços expositivos neutros de galerias e museus. “Está em aberto”, brinca, em referência ao nome do projeto, que incorpora à cena brasileira uma tendência crescente de entrecruzamento entre arte e arquitetura verificada na Europa.

 

 

Colección Oxenford em exposição no MAC Niterói

08/nov

 

Com organização da produtora cultural Act. e curadoria do poeta e curador argentino Mariano Mayer, “Un lento venir viniendo – Capítulo I” apresenta uma inédita seleção de obras da Colección Oxenford, uma das principais coleções de arte contemporânea da Argentina.

Entre os dias 19 de novembro e 26 de fevereiro de 2023, o público terá a oportunidade inédita de conhecer um recorte da Colección Oxenford na exposição Un lento venir viniendo – Capítulo I, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC Niterói). A coleção é fruto de uma paixão do empresário e colecionador argentino Alec Oxenford pela arte contemporânea argentina, e de sua convicção na necessidade de apoio à cena local. “Comecei minha coleção em 2008 decidindo incorporar, em sua maior parte, obras de artistas vivos e adquiridas exclusivamente através de galerias de arte. Eu gosto de viver minha época através da arte. O que mais me interessa é que a arte gera uma série de perguntas para as quais eu não tenho respostas”, conta o colecionador.

Os dez primeiros anos da formação do acervo foram assessorados pela curadora Inés Katzenstein, hoje responsável pelo departamento de arte latino-americana do MoMA, em Nova York. Com cerca 550 peças de 150 artistas, a Colección Oxenford reúne um panorama muito seleto de obras da arte argentina das primeiras décadas do século XXI e alguns trabalhos prévios a este período, devido à sua relevância para o contexto da arte contemporânea no país.

Com organização da produtora cultural Act., dirigida por Fernando Ticoulat e João Paulo Siqueira Lopes, curadoria do poeta e curador argentino Mariano Mayer, e patrocínio de Itaú e Globant, a mostra é composta de 57 obras e apresenta uma diversidade de linguagens, entre pinturas, fotografias, vídeos, instalações visuais e sonoras, performances, esculturas, colagens e publicações. Destaque também para trabalhos de artistas fundamentais para a arte contemporânea argentina como Guillermo Kuitca, Julio Le Parc, Alejandra Seeber, Marcelo Pombo, Fernanda Laguna, Diego Bianchi, Claudia del Río, David Lamelas, Valentina Liernur, Juan Tessi, Karina Peisajovich, Eduardo Navarro, Silvia Gurfein e Alberto Goldenstein, entre outros.

Este é o primeiro ato de um projeto itinerante que também será apresentado no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, ao longo de 2023. Cada capítulo vai exibir uma seleção diferente de obras da Colección Oxenford, que, em cada caso, responde a uma proposta curatorial inspirada por um episódio emblemático do contexto cultural local, fortalecendo o diálogo entre os cenários artísticos brasileiro e argentino.

“Ao conhecer a Colección Oxenford, percebi junto a Alec o potencial institucional deste acervo que retrata de forma exclusiva a produção contemporânea argentina. Assim nasceu a ideia de uma exposição sem precedentes nas instituições brasileiras, com o objetivo de reunir as práticas artísticas da Argentina e do Brasil – países que, apesar de vizinhos, carecem de um intercâmbio cultural mais próximo”, afirma João Paulo Siqueira Lopes, um dos idealizadores da exposição e diretor da Act.

“Aproximar o cenário artístico latino-americano, estabelecendo relações entre os países deste território é uma de nossas missões. Temos feito isso por meio de projetos editoriais, mas é a primeira vez que desenvolvemos uma exposição com esse foco”, completa.

O curso livre de pintura de Ivan Serpa, no MAM Rio, e sua atuação no Grupo Frente são alguns dos pontos de partida do curador Mariano Mayer para a seleção de obras argentinas do primeiro ato apresentado no MAC Niterói. “Percorrendo a noção de influência, este primeiro capítulo descobre uma série de proximidades e rupturas que tal ação significou para a arte contemporânea argentina. Advertimos que a transmissão de experiências e posições entre artistas não formou um sistema linear organizado a partir de atos precursores, mas sim uma estrutura complexa, diferenciada e atemporal”, afirma Mariano Mayer. A pintura como matriz e como problema, a cidade e as formas do urbano, os espaços de sociabilidade artística, a literatura e as outras artes, os vínculos afetivos e as formas de desaprendizagem são destacados nesta exposição como chaves para pensar as formas adotadas pelos vínculos de influência na arte contemporânea argentina.

Cada capítulo da exposição contará ainda com uma publicação inédita que apresentará um ensaio de Mariano Mayer, ao lado de um texto de um curador da cena local, ambos produzidos exclusivamente para a ocasião: Pablo Lafuente, diretor artístico do MAM Rio, assina o texto sobre as relações entre arte e pedagogia, publicado no contexto do MAC Niterói. Realizado via Lei de Incentivo à Cultura, o primeiro capítulo da mostra ocupará todos os espaços do MAC Niterói. A expografia conta com painéis planejados por Miguel Mitlag, Sebastián Gordín e Mariana Ferrari, artistas da Colección Oxenford.

 

Participantes: Un lento venir viniendo – Capítulo I

Alberto Goldenstein, Alejandra Seeber, Alejandro Ros, Alfredo Londaibere, Ana Vogelfang, Bruno Dubner, Cecilia Szalkowicz, Claudia del Río, Daniel Joglar, David Lamelas, Deborah Pruden, Diego Bianchi, Eduardo Costa, Eduardo Navarro, Fabio Kacero, Federico Manuel Peralta Ramos, Fernanda Laguna, Florencia Bohtlingk, Guillermo Kuitca, Jane Brodie, Joaquín Aras, Jorge Gumier Maier, Juan Tessi, Julio Le Parc, Karina Peisajovich, Liliana Porter, Luis Garay, Marcelo Alzetta, Marcelo Pombo, Mariana Ferrari, Marina de Caro, Pablo Accinelli, Pablo Schanton, Rosana Schoijett, Sebastián Gordín, Silvia Gurfein, Valentina Liernur.

 

Sobre a Colección Oxenford

A Colección Oxenford apoia, por meio de diferentes iniciativas, o desenvolvimento da cena artística contemporânea argentina. Seu ambicioso programa de aquisições, que durante os dez primeiros anos contou com a seleção da curadora Inés Katzenstein, permitiu reunir uma mostra representativa das diferentes tendências estéticas que dominaram a produção artística contemporânea durante o século XXI, um período excepcionalmente complexo, no qual a arte argentina experimentou transformações fundamentais em suas linguagens e materiais, bem como em suas práticas, imaginários e instituições. As atividades da Colección Oxenford incluem o desenvolvimento de um programa de bolsas de viagem internacionais, que já beneficiou quase 90 artistas, e que, durante a emergência causada pela pandemia de Covid-19, foi transformado em assistência financeira para mais de 60 nomes. Recentemente, a coleção também esteve envolvida na promoção de reflexões sobre a arte contemporânea argentina, convidando 40 importantes pesquisadores locais para escrever ensaios sobre obras do acervo. A Colección Oxenford também tem sido generosa em sua colaboração com museus e galerias, a quem emprestou trabalhos em inúmeras ocasiões, com o objetivo de contribuir para a divulgação da produção artística argentina contemporânea.

 

Sobre o colecionador Alec Oxenford

Cofundador da OLX e da letgo, Alec Oxenford é um empresário argentino residente no Brasil. É grande colecionador e membro ativo de comunidades internacionais em prol das artes latino-americanas. Entre 2013 e 2019, dirigiu a Fundación ArteBA. Atualmente, ocupa postos como: membro do Acquisition Committee do MALBA e Membro da Latin American and Caribbean Fund (LACF) do MoMA.

 

Sobre a Act.

Fundada em 2017 por Fernando Ticoulat e João Paulo Siqueira Lopes, a Act. preenche diversas lacunas do mundo da arte, em escala global, e está envolvida com agentes de todo o circuito: artistas, colecionadores, galerias, museus e instituições culturais. Tem como missão conectar arte e pessoas a partir do desenvolvimento de consultorias, projetos e publicações. Atua em todas as frentes de criação, curadoria, gestão e produção de projetos de arte para empresas, criando elos entre marcas e seus públicos. Além dos projetos, a Act. aconselha interessados em arte – com coleções recém-iniciadas ou já estabelecidas – em como comprar, gerenciar e catalogar suas obras. Un lento venir veniendo é o primeiro projeto de exposição da Act.

 

Sobre o curador

Mariano Mayer nasceu em Buenos Aires, Argentina, 1971, é poeta e curador independente. Entre seus últimos projetos como curador figuram Táctica Sintáctica, Diego Bianchi (CA2M, Móstoles, 2022), Tiempo produce pintura – pintura produce tiempo. Álex Marco (Espaid39; Art Contemporani39, El Castell39, Riba-roja, 2022), Nunca Lo Mismo, junto a Manuela Moscoso (ARCOMadrid2022); Remitente (ARCOMadrid2021); PRELIBROS (ARCOMadrid – Casa de América, Madrid, 2021); Azucena Vieites. Playing Across Papers (Sala Alcalá 31, Madrid, 2020); La música es mi casa. Gastón Pérsico (MALBA, Buenos Aires, 2017); En el ejercicio de las cosas, junto a Sonia Becce (Plataforma Argentina-ARCOmadrid 2017. Publicou Fluxus Escrito (Caja Negra, Buenos Aires, 2019); Justus (Ayuntamiento de Léon, 2007) e Fanta (Corregidor, Buenos Aires, 2002). Dirigiu o programa em torno da arte argentina: Una novela que comienza (CA2M, Móstoles, 2017).

 

Sobre o MAC Niterói

Inaugurado em setembro de 1996, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) é o principal cartão-postal da cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Sua forma futurista criada por Oscar Niemeyer tornou-se um marco da arquitetura moderna mundial. O MAC abriga a Coleção João Sattamini, uma das mais importantes coleções de arte contemporânea do país, e recebe mostras focadas na produção contemporânea brasileira e latino-americana, realizada da década de 1950 até os dias de hoje.

 

 

 Verger por Maureen Bisilliat       

04/nov

 

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, apresenta, entre 19 de novembro e 28 de janeiro de 2023, “Ver a vida com Verger por Maureen Bisilliat”, exposição que promove um encontro entre a obra de Maureen Bisilliat (1931, Englefield Green, Reino Unido) e Pierre Verger (1902, Paris, França – 1996, Salvador, Bahia), dois fotógrafos que, através do olhar estrangeiro, contribuíram para a formação de um imaginário afirmativo da cultura popular brasileira. A mostra reúne uma seleção feita por Bisilliat de fotografias realizadas por Verger entre as décadas de 1930 e 1950 e fotografias de sua série “Perspectivas” (2021), elaborada a partir de um trabalho de imersão no seu arquivo. “Ver a vida com Verger por Maureen Bisilliat” também inaugura o novo espaço da Galeria Marcelo Guarnieri, que a partir de 19 de novembro funcionará no número 1054 da Alameda Franca. O catálogo da exposição, publicado pela Editora Vento Leste, será lançado durante a abertura.

Em “Perspectivas” (2021), Maureen Bisilliat resgata fotografias dos ensaios “Pele preta”, “Sertões”, “Caranguejeiras” e “A João Guimarães Rosa” para imprimi-las em novas configurações. O formato de 32 x 112 cm escolhido permitiu à artista experimentar com a composição a partir de duas operações: montando sequências de imagens de uma mesma série ou ocupando um terço do canvas com apenas uma fotografia, sendo o restante do espaço dominado pela total ausência de luz. Esse formato, 32 x 112 cm, remete ao da fotografia panorâmica, que permite registrar até 360º de uma paisagem através de capturas de diversos pontos de vista. Embora incorpore em “Perspectivas” (2021) a ideia de uma visão panorâmica, a montagem de Bisilliat não pretende formar uma sequência linear, mas uma sobreposição de temporalidades que lhe permite trabalhar em narrativas de repetições e cortes abruptos. O formato do canvas também remete ao do filme fotográfico e a total ausência de luz que ocupa mais da metade do espaço em algumas dessas obras poderia aludir a uma imagem não revelada da sombria realidade atual. Por meio dessas operações, a fotógrafa coloca em perspectiva o tempo passado, da captura da imagem, e o tempo presente, de suas intervenções, utilizando-se dos contrastes entre luz e sombra, mecanismo estrutural da fotografia, para refletir sobre a opacidade do tempo presente.

“Pele preta”, datado do começo da década de 1960 e realizado nas cidades de São José do Rio Pardo e São Paulo, foi o primeiro ensaio fotográfico de Maureen Bisilliat e marca a transição de seu trabalho da pintura para a fotografia. “A série deriva de meus tempos de estudante, quando frequentava ateliês de modelo vivo, atenta à anatomia, à movimentação do corpo e à iluminação. O corpo humano, minha porta de entrada na pintura, acabou por me levar à fotografia”, conta Maureen. Em 1966, o trabalho foi exposto no MASP, naquela que seria sua primeira grande exposição individual.

A série “Sertões” é composta por fotografias feitas entre 1967 e 1972 em aldeias e lugares santos dos municípios de Canindé, Juazeiro do Norte e Bom Jesus da Lapa, nos estados do Ceará e da Bahia, e contou com o incentivo de uma Bolsa da Fundação Guggenheim. Algumas das imagens dessa série deram origem à publicação “Sertões: Luz & Trevas”, de 1982, que combina trechos do clássico “Os Sertões” (1902) de Euclides da Cunha com os seus registros fotográficos, produzindo diálogos, justaposições e dissonâncias.

Durante os anos em que trabalhou como fotojornalista para a Editora Abril (1964-1972), Maureen Bisilliat pôde fotografar em contextos diversos do Brasil, produzindo ensaios que ficaram célebres, entre eles “Caranguejeiras”, no qual retrata mulheres catadoras de caranguejos na aldeia paraibana de Livramento. O ensaio, que foi capa da edição de março de 1970 da revista Realidade, integrava uma reportagem que contava com texto de Audálio Dantas. Em 1984, as fotografias foram publicadas em livro, acompanhadas pelo poema “O cão sem plumas” (1950), de João Cabral de Melo Neto.

“A João Guimarães Rosa”, realizado durante a década de 1960 em algumas viagens pelo sertão mineiro, surgiu do desejo de Bisilliat de conhecer e retratar os gerais de Guimarães Rosa depois da leitura de “Grande sertão: veredas” (1956). As viagens da fotógrafa eram intercaladas por encontros e trocas com o escritor, que, diante das imagens feitas por ela, indicava nomes de pessoas, lugares, roteiros a seguir e outros detalhes. Em 1969, o ensaio foi publicado em livro, acompanhado por trechos do romance, o que marca o início do seu trabalho de “equivalências fotográficas” com a literatura brasileira que geraria, posteriormente, outros ensaios e publicações produzidas em diálogo com autores brasileiros.

Assim como Maureen, Verger também consolidou sua linguagem fotográfica por meio de viagens, embora não fosse fotojornalista. Durante a década de 1930, passou por países como China, Filipinas, Egito, Máli, Níger, Vietnã e Djibuti. Entre os anos de 1934 e 1939, publicou mais de 1.200 fotografias em jornais, revistas e livros, como o jornal francês Paris Soir e prestigiosas revistas como Life, Daily Mirror, Arts et Métiers Graphiques. Em 1945, depois de ter vivido por dois anos em Buenos Aires e já no Peru, trabalhando para o Museu de Lima, Verger publicou aquele que seria um dos primeiros fotolivros feitos na América Latina e também um dos primeiros registros de antropologia visual: “Fiestas y danzas en el Cuzco y en los Andes”. Ao chegar ao Brasil, em 1946, começou a trabalhar para a revista O Cruzeiro e realizou, durante os dois anos subsequentes, um de seus mais importantes trabalhos sobre a cultura popular nordestina.

A partir de então, Verger também deu início a uma investigação sobre as relações entre Bahia e África, mais especificamente sobre os rituais e costumes das culturas e religiões afro-brasileiras e africanas em Salvador e na Costa do Benin – e se tornou um estudioso do culto aos orixás. Com uma bolsa de estudos, partiu para a África, onde renasceu em 1953 como Fatumbi – “nascido de novo graças ao Ifá” – e foi iniciado como babalaô, um adivinho que se utiliza do jogo do Ifá. Sua pesquisa, que resultou em inúmeros livros, escritos avulsos, fotografias e exposições, é tida como obra de referência para os estudos sobre as culturas diaspóricas. Em 1988 Verger criou a Fundação Pierre Verger, instituição que preserva seu acervo e divulga sua obra até hoje, notadamente através de publicações e exposições realizadas na Bahia, no Brasil e no mundo, assim como incentiva o desenvolvimento da fotografia baiana. A Fundação atende também pesquisadores que dialogam com as temáticas estudadas por Verger ao longo de sua vida e desenvolve através de seu Espaço Cultural atividades educacionais e culturais com as pessoas oriundas dos bairros populares ao seu redor.

Nas fotografias de Pierre Verger selecionadas por Maureen Bisilliat é possível observar uma predominância de retratos, cenas de trabalho e de celebrações. São situações de igual interesse para Bisilliat, nas quais é possível conhecer a cultura de uma população por meio de seus movimentos de corpo e expressões faciais, vestimenta, costumes, instrumentos musicais e arquitetura. Os trabalhos retratados em suas obras, por exemplo, são aqueles comumente executados por pessoas racializadas; trabalhos informais que podem remontar às tradições sertanejas e da pesca ou mesmo do âmbito da construção civil, realizados de maneira coletiva por exigirem grande esforço físico. Verger registra a puxada de rede em 1946 na praia de Itapuã, na Bahia, enquanto Bisilliat vai registrar, vinte anos depois, a cata de caranguejos na aldeia de Livramento, na Paraíba. Imagens que surgem de situações de estranhamentos e afinidades entre fotógrafo e fotografado e que se constroem nessa relação. Tanto para Pierre Verger como para Maureen Bisilliat, essas fotografias tinham o objetivo não só de apresentar Brasis muitas vezes desconhecidos para o próprio Brasil dos grandes centros – no caso de Verger, Áfricas e Ásias para o resto do mundo – como também de reconhecer a importância de tais atividades na preservação de tradições culturais.

 

 

Artistas reunidos

03/nov

 

Coletiva de artistas instiga questionamentos através de trabalhos apresentados em técnicas, escalas e suportes diversos.

O Consulado Geral da República Argentina, Botafogo, Rio de Janeiro, apresenta a exposição “Territórios Insustentáveis”. Artistas oriundos de países distintos, como a Argentina e a França, em conjunto com artistas brasileiros, convergem ao lidar com um vasto horizonte de relações – sejam elas referentes à história da arte, aos diversos saberes que incidem sobre os seus trabalhos ou às questões concernentes ao tempo histórico. A coletiva foi inaugurada no dia 04 de novembro, na Sala Antonio Berni, sob curadoria de Aline Reis, e reúne 26 artistas: Adriana Nataloni, Albarte, Bernar Gomma, Beth Ferrante, Beatriz Calmon, Camila Morgado, Daniela Barreto, Graça Pizá, Isadora F., Jack Motta, JaquesZê, Jannini Castro, Jeni Vaitsman, Julia Garcia, Katia Politzer, Marcelo Palmar Rezende, Mario Camargo, Nando Paulino, Nora Sari, Regina Dantas, Reitchel Komch, Ricardo Laranjeira, Sandra Sartori, Solange Jansen, Tathyana Santiago e Verônica Camisão. Os trabalhos possuem diferentes formatos e vão da pintura à fotografia, passando pela escultura, instalação, objeto, vídeo e intervenção.

“Os trabalhos de arte não repetem mundos, mas criam mundos. Os artistas vivem num momento histórico sempre muito próprio e isso aparece na visualidade de suas obras. Não como ilustração de um tempo, mas como uma força propositiva frente aos desafios que sentem na própria carne, produzindo diferenças que são fruídas pelo espectador”, diz a curadora.

A guerra das narrativas incide sobre todos os conceitos que são utilizados na curadoria: a globalização – desde as grandes navegações e as ideias iluministas modernas até a discussão se há ou não integração econômica, social e cultural no espaço geográfico em escala mundial, no que tange aos fluxos de capitais, mercadorias, pessoas e informações, proporcionada pelo avanço técnico na comunicação e nos transportes numa mesma condição ética -, o pensamento descolonial (opção pela grafia portuguesa da palavra não desconsiderando a diferença entre o termo Decolonial e Descolonial, mas assumindo tanto a importância de falar sobre o colonialismo referente à dominação social, política, econômica e cultural dos europeus sobre os outros povos do mundo quanto à colonialidade que diz respeito à permanência da estrutura de poder até os dias de hoje) e o antropoceno, referente à época em que as ações humanas começaram a provocar alterações biofísicas em escala planetária e uma crise definitiva da natureza.

 

Sobre a curadora

Aline Reis é carioca, formada em Comunicação Social, pós-graduada em Crítica e Curadoria de Arte Contemporânea pela Universidade Cândido Mendes-EAV, em Psicologia Clínica Fenomenológica-Hermenêutica e em História da Filosofia. Tem mestrado em Filosofia, lecionou por mais de vinte anos. É colunista semanal do BLOGDEARTE.art, participa do Grupo de Pesquisa Entre – Educação e arte contemporânea (CE/UFES), tem trabalhos de arte contemporânea expostos nas plataformas ArtMaZone e Acessoartecontemporanea e integra a oficina Antiformas de Intervenção sob a orientação do artista David Cury, no Parque Lage. Em sua formação filosófica e artística integrou vários grupos de estudo, fez cursos com curadores e artistas do circuito, tais como Paulo Sergio Duarte, Marcelo Campos, Daniela Labra, Clarissa Diniz, Ligia Canongia, Lia do Rio, Fernando Cocchiarale. Participou de exposições coletivas: “Ainda fazemos as coisas em grupo”, em 2020, no Centro Municipal de Arte Helio Oiticica, “Fixo só o prego”, em 2019, no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, ambas exposições com curadoria de Ana Miguel, Brigida Balthar e Clarissa Diniz; “Uma afirmação da presença”, no Centro Cultural dos Correios, em 2018, no Acesso arte contemporânea – Qual é seu link?, em 2016, no Centro de Artes Calouste Gulbenkian, ambas com as curadorias de Lúcia Avancini e Marilou Winograd, entre outras. Aline Reis vive e trabalha no Rio de Janeiro.

 

Até  05 de dezembro.

 

 

Fotografias de Walter Firmo no CCBBRJ

01/nov

 

No dia 09 de novembro, chega ao Rio de Janeiro a grande exposição retrospectiva “Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito”, um panorama dos mais de 70 anos de trajetória do consagrado fotógrafo carioca. A mostra será apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, CCBB, RJ, depois de ter sido exibida com enorme sucesso no Instituto Moreira Salles de São Paulo (IMS Paulista), e marca o início da parceria – inédita – entre as duas instituições. O IMS fechará sua sede carioca para reforma em abril de 2023.

“Essa bela parceria não poderia começar de forma melhor. Inaugurá-la com uma mostra que tem tanta relação com a identidade carioca e que o público do Rio de Janeiro não poderia perder de forma alguma é muito significativo”  afirma Sueli Voltarelli, gerente geral do CCBBRJ. E complementa: “As imagens de Firmo despertam memórias de uma afetividade profunda, que certamente aumentam a conexão das pessoas com a produção cultural brasileira”. Marcelo Araujo, diretor-geral do Instituto Moreira Salles, ressalta a especial importância da parceria com o CCBB: “É um privilégio poder apresentar a exposição de Walter Firmo no Rio de Janeiro numa instituição de tamanho prestígio, e com uma relação tão forte com a cidade e sua população.”

Com curadoria de Sergio Burgi e Janaina Damaceno, “Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito” ocupará todas as salas do segundo andar do CCBB RJ com 266 fotografias, produzidas desde 1950, no início da carreira de Walter Firmo, até 2021. São imagens que retratam e exaltam a população e a cultura negra de diversas regiões do país, registrando ritos, festas populares e religiosas, além de cenas cotidianas. O conjunto destaca a poética do artista, associada à experimentação e à criação de imagens muitas vezes encenadas e dirigidas. “Acabei colocando os negros numa atitude de referência no meu trabalho, fotografando os músicos, os operários, as festas folclóricas, enfim, toda a gente. A vertigem é em cima deles. De colocá-los como honrados, totens, como homens que trabalham, que existem. Eles ajudaram a construir esse país para chegar aonde ele chegou.”, diz Walter Firmo.

O fotógrafo percorreu intensamente todo o país, mas sempre manteve um vínculo especial com o Rio de Janeiro, sua cidade natal, onde iniciou e construiu sua carreira e desenhou sua trajetória na fotografia, a partir da vivência de homem negro nascido e criado nos subúrbios e arrabaldes de Mesquita, Nilópolis, Marechal Hermes, Osvaldo Cruz, Vaz Lobo, Cordovil, Parada de Lucas, Vista Alegre e Irajá, territórios do samba de raiz e do permanente ronco da cuíca.

Dividida em núcleos temáticos, a mostra traz retratos memoráveis de grandes nomes da música brasileira, como Cartola, Clementina de Jesus e a icônica fotografia de Pixinguinha na cadeira de balanço, além de destacar a importante trajetória de Walter Firmo como fotojornalista e de dedicar uma seção à fotografia em preto e branco do artista, pouco conhecida e, em grande parte, inédita.

“Walter Firmo incorporou desde cedo em sua prática fotográfica a noção da síntese narrativa de imagem única, elaborada através de imagens construídas, dirigidas e, muitas vezes, até encenadas. Linguagem própria que, tendo como substrato sua consciência de origem – social, cultural e racial -, desenvolve-se amalgamada à percepção da necessidade de se confrontar e se questionar os cânones e limites da fotografia documental e do fotojornalismo. Num sentido mais amplo, questionar a própria fotografia como verossimilhança ou mera mimese do real”, afirma o curador Sergio Burgi, coordenador de fotografia do Instituto Moreira Salles, que assina a curadoria ao lado de Janaina Damaceno Gomes, professora da UERJ e coordenadora do grupo de pesquisa Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra.

A exposição é uma oportunidade para o público conhecer em profundidade a obra de um dos grandes fotógrafos do nosso país, que até hoje mantém seu compromisso pelo fazer artístico: “Aí está o meu relato, a história de uma vida dedicada ao fazer fotográfico, dias encantados, anos dourados. Qual a minha melhor imagem? Certamente aquela que em vida ainda poderei fazer. Emoções, demais”, afirma o fotógrafo. Com patrocínio do Banco do Brasil, a exposição segue para os Centros Culturais Banco do Brasil Brasília e Belo Horizonte.

 

Núcleos temáticos

A exposição está dividida em sete núcleos temáticos. No primeiro, o público encontra cerca de 20 imagens em cores, de grande formato, produzidas ao longo de toda a sua carreira. Há fotos feitas em Salvador (BA), como o registro de uma jovem noiva na favela de Alagados (2002); em Cachoeira (BA), como o retrato da “Mãe Filhinha” (1904-2014), que fez parte da Irmandade da Boa Morte durante 70 anos; e em Conceição da Barra (ES), onde o fotógrafo retratou o quilombola Gaudêncio da Conceição (1928-2020), integrante da Comunidade do Angelim e do grupo Ticumbi, dança de raízes africanas; entre outras.

O segundo núcleo apresenta a biografia do artista, abordando os seus primeiros anos de atuação na imprensa, quando registrou temas do noticiário, em imagens em preto e branco. O conjunto inclui uma fotografia do jogador Garrincha, feita em 1957; imagens de figuras proeminentes da política nacional, como Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek; além de registros de ensaios de escolas de samba do Rio de Janeiro. Também há fotografias feitas para a reportagem “100 dias na Amazônia de ninguém”, publicada em 1964 no Jornal do Brasil, pela qual Walter Firmo recebeu o Prêmio Esso de Reportagem.

Nas próximas seções, a retrospectiva evidencia como, no decorrer de sua carreira, Walter Firmo passou a se distanciar do fotojornalismo documental e direto, tendo como base a ideia da fotografia como encantamento, encenação e teatralidade, em diálogo com a pintura e o cinema. Isso fica evidente no ensaio realizado em 1985 com seus pais (José Baptista e Maria de Lourdes) e seus filhos (Eduardo e Aloísio Firmo), no qual José aparece vestindo seu traje de fuzileiro naval, função que desempenhou ao longo da vida, ao lado de Maria de Lourdes, que usa um vestido longo, florido e elegante. O ensaio faz alusão às pinturas “Os noivos” (1937) e “Família do fuzileiro naval” (1935), do artista Alberto da Veiga Guignard (1896-1962).

Como destaque, a exposição apresenta, ainda, retratos de músicos produzidos por Walter Firmo, principalmente a partir da década de 1970. Nas imagens, que ilustram inúmeras capas de discos, estão nomes como Dona Ivone Lara, Cartola, Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Djavan e Chico Buarque. Nesse conjunto, está, ainda, a famosa série de fotografias de Pixinguinha feita em 1967, quando Firmo acompanhou o jornalista Muniz Sodré em uma pauta na casa do compositor. Após o término da conversa, o fotógrafo pegou uma cadeira de balanço que ficava na sala da residência, colocou no quintal, ao lado de uma mangueira, e propôs que Pixinguinha se sentasse nela com o saxofone no colo. Assim registrou o músico, em uma série de imagens que se tornaram icônicas.

A exposição traz também um ensaio com fotografias do artista Arthur Bispo do Rosário para a revista IstoÉ, em 1985, feitas na antiga Colônia Juliano Moreira, onde Bispo ficou confinado e criou seu acervo ao longo de cerca de 25 anos.

A retrospectiva apresenta diversos registros produzidos durante celebrações tradicionais brasileiras, como a Festa de Bom Jesus da Lapa, a Festa de Iemanjá e o próprio Carnaval do Rio de Janeiro. Há também um núcleo com fotos feitas em outros países, como Cuba, Jamaica e Cabo Verde.

Na mostra, o público poderá assistir, ainda, ao curta-metragem Pequena África (2002), do cineasta Zózimo Bulbul, no qual Firmo trabalhou como diretor de fotografia, e que trata da história da região que recebeu milhões de africanos escravizados. Também há um núcleo dedicado à fotografia em preto e branco, ainda pouco conhecida e em grande parte inédita, cujo destaque é a série de imagens feitas na praia de Piatã, em Salvador, entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000. Grande parte das obras exibidas provém do acervo do fotógrafo, que se encontra sob a guarda do IMS desde 2018, em regime de comodato.

 

Catálogo

A mostra é acompanhada de um catálogo, com imagens das obras da exposição, além de textos de autoria do próprio Walter Firmo, de João Fernandes, diretor artístico do IMS, e dos curadores Sergio Burgi e Janaina Damaceno. Há também uma entrevista do fotógrafo com os curadores e o jornalista Nabor Jr., editor da revista O Melenick. Segundo Ato, além de uma cronologia do fotógrafo assinada por Andrea Wanderley.

 

Sobre o artista

Nascido em 1937 no bairro do Irajá, no Rio de Janeiro, e criado no subúrbio carioca, filho único de paraenses – seu pai, de família negra e ribeirinha do baixo Amazonas; sua mãe, de família branca portuguesa, nascida em Belém -, Firmo começou a fotografar cedo, após ganhar uma câmera de seu pai. Em 1955, então com 18 anos, passou a integrar a equipe do jornal Última Hora, após estudar na Associação Brasileira de Arte Fotográfica (Abaf), no Rio. Mais tarde, trabalharia no Jornal do Brasil e, em seguida, na revista Realidade, como um dos primeiros fotógrafos da revista. Em 1967, já trabalhando na revista Manchete, foi correspondente, durante cerca de seis meses, da Editora Bloch em Nova York. Neste período no exterior, o artista teve contato com o movimento Black is Beautiful e as discussões em torno dos direitos civis, que marcariam todo seu trabalho posterior. De volta ao Brasil, trabalhou em outros veículos da imprensa e começou a fotografar para a indústria fonográfica. Iniciou ainda sua pesquisa sobre as festas populares, sagradas e profanas, em todo o território brasileiro, em direção a uma produção cada vez mais autoral.

 

Até 27 de março de 2023.

 

 

 

Galatea anuncia mostra inaugural

26/out

 

José Adário é a exposição que inaugura dia 09 de novembro o espaço físico da Galatea e a primeira individual do artista na cidade de São Paulo. A mostra conta com textos críticos de Alana Silveira, produtora e pesquisadora baiana que acompanha Adário há mais de três anos, e Rebeca Carapiá, artista baiana que trabalha com linguagens construídas a partir da lida com o ferro, além de projeto expográfico de Tiago Guimarães. A exposição reúne mais de cinquenta esculturas, em sua maioria criadas para a ocasião, que serão acompanhadas de fotografias de Adenor Gondim, fotógrafo baiano que retrata José Adário no contexto de seu ateliê há mais de três décadas

José Adário (1947) nasceu no bairro de Caixa d’Água, em Salvador, na Bahia. Foi iniciado aos 11 anos de idade no trabalho de ferreiro de candomblé pelo seu mestre e mentor Maximiano Prates, cuja oficina, situada na histórica Ladeira da Conceição da Praia, foi passada para Adário, que ali trabalha até hoje. As ferramentas de santo, esculturas de ferro que operam, no candomblé, uma espécie de mediação entre os homens e os orixás, entre o mundo físico – Aiyê – e o mundo espiritual – Orum -, são utilizadas nos terreiros em rituais e para devoção. Por produzi-las com grande sofisticação formal e originalidade, José Adário, também chamado de Zé Diabo, passou a ser reconhecido não só como o escultor-ferreiro mais celebrado dos terreiros de candomblé da Bahia, mas como um artista cuja prática é intimamente vinculada às raízes afro-diaspóricas da cultura de sua região – lembremos que Salvador é considerada a cidade mais negra fora da África.

As ferramentas produzidas por José Adário vinculam-se a diferentes orixás que “trabalham com o ferro”, que o possuem como matéria-prima – a começar por Ogum, o guerreiro e senhor das tecnologias. Cada ferramenta traz, de forma geometrizada, signos e aspectos gráficos vinculados à mitologia de cada entidade. Exu, o primeiro orixá no panteão das divindades iorubás, é o mensageiro entre os humanos e os deuses, a corporificação da encruzilhada, e é evocado através de formas que reproduzem os pontos riscados de cada qualidade distinta da entidade (Gira Mundo, Tranca Rua, Caveirinha), compostos por tridentes, lanças, círculos etc. A ferramenta de Ogum, entre as suas variações, trará sempre um arco de onde penderão utensílios agrícolas (machados, pás, facas, foices, lanças, martelos, enxadas, tesouras), sempre em número 7 ou seus múltiplos. Oxóssi, o caçador, tem como símbolo maior o arco e a flecha, seus instrumentos. Ossain, o senhor das ervas, frequentemente contará com folhas e um pássaro no topo de sua ferramenta. Oxumarê, termo de origem iorubá que significa “arco-íris”, é o orixá dos ciclos e da transformação, sendo frequentemente simbolizado por uma ou mais serpentes que envolvem a haste principal da escultura.

O reconhecimento do trabalho de José Adário não vem de hoje. Já em 1968, o estadunidense historiador da arte Robert Farris Thompson (1932-2021), especialista em arte e cultura afro-americana, conheceu o trabalho de Adário em visita à cidade de Salvador, incorporando-o à sua pesquisa. Assim, podemos encontrar menções e análises das esculturas em diversos livros e artigos, como Icons of the Mind: Yoruba Herbalism Arts in Atlantic Perspective (Ícones da mente: artes do herbalismo iorubá na perspectiva atlântica) (1975), Flash of the Spirit: African & Afro-American Art & Philosophy (A carne do espírito: arte & filosofia africana e afro-americana) (1983) e Face of the Gods: Art and Altars of Africa and the African Americas (A face dos deuses: arte e altares da África e das Américas Africanas) (1993). Em todos eles, Farris descreve e relaciona os signos abordados por Adário com a iconografia e liturgia dos povos iorubás, cujas tradições foram trazidas ao Brasil por populações negras escravizadas vindas dos territórios que hoje são países como Nigéria, Benin e Togo.

No que tange à inserção de José Adário no circuito brasileiro das artes, ela se deve, em grande parte, às iniciativas curatoriais do artista e curador Emanoel Araújo (1940-2022) a partir da década de 1990. Adário esteve presente em algumas das principais exposições em que Araújo pôde reunir e difundir a arte e a cultura afro-brasileira, até então fortemente negligenciadas pelas nossas instituições. Entre as mostras, estão: Os herdeiros da noite – fragmentos do imaginário negro, Pinacoteca do Estado de São Paulo, 1994; Arte e religiosidade no Brasil: heranças africanas, Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega – Parque do Ibirapuera, São Paulo, 1997; e A África por ela mesma, Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega – Parque do Ibirapuera, São Paulo, 1998.

Para Adário, trabalhar com o ferro é se inscrever na linhagem de descentes de Ogum a que pertence: seus pais, avós e bisavós todos tinham alguma relação com esse orixá. E, como explica Farris Thompson, Ogum “vive nas chamas da forja do ferreiro, no campo de batalha e, mais especificamente, no fio da faca.” Assim, a prática de José Adário é uma forma de conexão e reverência à entidade. Para além da destreza técnica, fazer as ferramentas de santo requer sensibilidade para que se possa captar os desejos do orixá que dará vida e energia ao artefato. É como se a construção de cada ferramenta partisse do anseio da própria entidade em materializar-se no mundo, sendo o artista, neste caso, o mediador, unindo o campo espiritual e material. Não por acaso, José Adário também é considerado um grande babalorixá.

 

 

Cartografias de Manoel Veiga no MACUSP

 

Na exposição “Cartografias de Mundos Inexistentes”, MAC USP, Ibirapuera, São Paulo, SP, encontra-se 41 trabalhos, entre pinturas e fotografias, realizados nos últimos 15 anos pelo artista Manoel Veiga. Com formação em Engenharia Eletrônica e experiência como pesquisador em laboratórios de física, Manoel Veiga dedicou-se aos estudos das técnicas de grandes nomes da história da pintura, como Holbein, Caravaggio e Ingres, para transformar sua própria pintura em um campo de experimentação sobre a dinâmica dos fluídos. Manoel Veiga trabalha com a tela deitada sobre o chão. Não há marcas de gestos porque ele pouco usa um pincel. Seu principal instrumento é um borrifador de água que direciona a tinta de forma indireta.

Com os pigmentos de tinta acrílica aplicados sobre a tela, Manoel Veiga borrifa mais ou menos água na superfície das obras, levando em conta que as cores de pigmentos maiores e mais pesados vão afundar mais rápido do que os leves, que tendem a acompanhar o movimento da água. “Suas pinturas registram um processo de negociação com fenômenos que estão por toda parte: gravidade, difusão e capilaridade. Ao invés de representar a natureza, o artista trabalha com ela para imaginar novas configurações de espaço e tempo”, diz a curadora Heloisa Espada.

Entre 1994 e 1999, em sua transição da Engenharia para a arte, Manoel Veiga se dedicou às técnicas tradicionais como uma forma de conhecer e dominar materiais da pintura. Mas o interesse pela ciência, pela fotografia e pela arte de seu próprio tempo fez com que seu trabalho logo se tornasse um campo de experimentação tanto estética como conceitual. Trabalhando com as probabilidades estéticas a partir de conceitos da física e da química, o artista costuma dizer que “… o caos total e o controle total são duas utopias. Estamos sempre no meio dessas duas coisas”.

Além de suas pesquisas sobre dinâmica dos fluídos, a fotografia está presente na série “Construções”, realizada a partir daquilo que apenas a câmera digital é capaz de ver; na série Hubble, feita com a manipulação de imagens do famoso telescópio da Nasa; “Matéria escura”, em que a obra de Caravaggio é estopim para uma nova investigação sobre o espaço; e a recente série “Espectros”, na qual o artista funde fotografia e pintura.

 

Sobre o artista

Gradua-se em Engenharia Eletrônica pela UFPE (1989), tendo sido bolsista do Depto. de Física por 3 anos. Trabalha em fábrica até dedicar-se às Artes Plásticas (1994). Freqüenta a Escolinha de Arte do Recife (1994-95) e trabalha sob a orientação de Gil Vicente (1995-97). Estuda na Escola Nacional Superior de Belas-Artes e na Escola do Louvre em Paris, França (1997). Participa de workshop em Nova York (1998). Em São Paulo, estuda História da Arte com Rodrigo Naves (1999), Leon Kossovitch (2000/01) e desenvolve estudos teóricos com Carlos Fajardo (1999-2002) e com Nuno Ramos (2000).

 

Prêmios

Em 2006, Menção Especial (Bienal do Recôncavo), Prêmio Flamboyant (Salão Nacional de Arte de Goiás), em 2010, Prêmio “Mostras de Artistas no Exterior” (Fundação Bienal de São Paulo / Ministério da Cultura do Brasil), Prêmio Jabuti (Ilustração para Livro Infantil). Recebeu bolsa de estudos em 2005 para a Fondation Thénot França. Em 2002 umpriu residências artísticas na  Freie Kunstschule Berlin Alemanha e Faxinal das Artes, em Faxinal do Céu Paraná e em 2005 no Centro de Arte Marnay, Marnay-Sur-Seine, França. Possui trabalhos em coleções públicas como a Fundação Joaquim Nabuco, Recife, PE;  Museu de Arte Contemporânea, Goiânia, GO; Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba, PR; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP; Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba, Sorocaba, SP; Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife, PE; Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, PR; Sesc Pernambuco, Recife, PE.

 

Até 29 de janeiro de 2023.