Olhar histórico

24/out

 

O Sesc Pinheiros, São Paulo, SP, apresenta até 15 de janeiro de 2023, a exposição “Desvairar 22”. Com curadoria de Marta Mestre, Veronica Stigger e Eduardo Sterzi, a mostra parte da Semana de Arte Moderna de 1922 para rememorar alguns dos acontecimentos que marcaram aquele ano, como o Centenário da Declaração da Independência do Brasil, a Exposição Internacional do Centenário, a primeira transmissão de rádio no país e a descoberta da tumba do faraó Tutancâmon.

“Rememorar, por meio de datas marcantes, acontecimentos de repercussão histórica pode possibilitar a identificação, por meio de novos olhares, de fricções e choques presentes em circuitos já desgastados, com reparações que só serão possíveis a partir do envolvimento da coletividade”, afirma Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo.

“Desvairar 22” se propõe a explorar caminhos ainda não percorridos: “Escolhemos duas imagens fundamentais em torno das quais organizamos nossa comemoração. Os “índios errantes” que, de “O Guesa” de Sousândrade ao “Macunaíma” de Mário de Andrade, povoam os sonhos de escritores e artistas como imagem por excelência dos povos por vir, e um Egito mítico, sobretudo, delirante, invocado com frequência nas artes, como uma espécie de alegoria do próprio inconsciente do tempo na sua busca por outra origem e outra história”, justificam os curadores. A mostra reúne mais de 270 itens de artes visuais, música, literatura e arquitetura, que serão apresentados em quatro diferentes núcleos.

 

Percorrendo a exposição

“Desvairar 22” ocupa o espaço expositivo do 2º andar, mas já está presente logo na chegada à unidade. Uma charge da cartunista Laerte – em que esfinge pede: “Decifra-me outra hora” – reproduzida no muro de 22m x 6m da entrada do Sesc Pinheiros.

“Está fundado o desvairismo”. Com a frase de “Paulicéia Desvairada”, de Mário de Andrade e ao som de “Alalaô” (“Allah-lá-ô”), marchinha do Carnaval de 1941, o público adentra a coletiva e chega em uma espécie de “prólogo da mostra”, como definem os curadores, que tem “Calmaria II”, de Tarsila do Amaral, como um dos destaques dessa área. A pintora modernista visitou o Egito em 1926, com o então marido Oswald de Andrade, e referências dessa viagem estão nessa e em outras de suas obras. Flávio de Carvalho, Vicente do Rego Monteiro, Murilo Mendes e Graça Aranha também estão nesta seção, que leva o visitante até um sarcófago egípcio original. Ele está no centro da exposição, que tem uma montagem circular e seis vias a serem percorridas.

O primeiro núcleo é “Saudades do Egito”. “A terra dos faraós e dos sacerdotes, das pirâmides e das esfinges, vem inquietando há tempos a narrativa linear da cultura dita ocidental. A modernidade, com a invenção do turismo e da fotografia, renovou esse interesse pelo país, que agora é não só origem, mas também destino”, diz a curadoria. Nesta seção estão fotos da expedição que D. Pedro II fez ao Egito na década de 1870. Apesar de ter visitado o país aos 45 anos, o imperador era um “egiptomaníaco” desde a infância. Da viagem, trouxe muitos artefatos históricos, que formaram um dia o maior acervo egípcio da América Latina, mas grande parte dele se perdeu com o incêndio em 2018 do Museu Nacional do Rio de Janeiro. A descoberta da tumba de Tutancâmon é lembrada em jornais da época. A arquitetura “faraônica” de Brasília está representada em fotos de Marcel Gautherot e na série “Estudo de caso Kama Sutra”, da artista Lais Myrrha. A inspiração do Egito se revela na ópera “Aída”, em músicas de Margareth Menezes e Jorge Benjor e em videoclipe do grupo É o Tchan. As raízes negras do país africano também são ressaltadas no núcleo em obras como as de Abdias do Nascimento.

“Os Ossos do Mundo” é o título de um livro de Flávio de Carvalho, que mostra seu fascínio pelas ruínas e coleções dos museus como uma forma de penetrar nas várias camadas da história que formaram indivíduos e sociedade, ajudando a entender o presente e também o futuro. Neste núcleo se destacam imagens do desmonte do Morro do Castelo, no Rio de Janeiro.  Símbolo do passado colonial português, ocupava uma área de 184 mil m2, e foi destruído em nome de uma modernização urbanística e a construção dos pavilhões para a Exposição Internacional do Centenário. Figuras que remetem às múmias aparecem em obras como a de Cristiano Leenhardt.  Originário do Egito, o mosquito Aedes aegypti também ganha espaço, surgindo em uma tela de Oswald de Andrade Filho e em “Farra do Latifúndio”, obra inédita de Vivian Caccuri.

O próximo núcleo é “Meios de Transporte”. “A revolução tecnológica da modernidade encurtou distâncias e abriu caminhos novos para o corpo humano e, ao mesmo tempo, colocou-o diante de perigos e impasses inéditos. Não por acaso, a imaginação modernista incorporou obsessivamente a suas criações esses novos veículos que alteraram para sempre a face do mundo”, explicam os curadores. Há registros da passagem do dirigível Graf Zeppelin pelo Brasil nos anos 1930 e de um bonde empacado fotografado por Mario de Andrade. Mas o núcleo não se restringe a veículos de locomoção. “Pelo telefone” é o primeiro samba registrado fonograficamente. Daniel de Paula transforma em escultura uma luminária sucateada da Avenida Paulista, em São Paulo. Gravações feitas por Roquette Pinto de canções dos indígenas Pareci e Nambikawara e obras de Denilson Baniwa que inserem aparelhos tecnológicos no cotidiano indígena preparam o visitante para o último núcleo.

“Índios Errantes” se dá na contramão da idealização do indianismo romântico. É menos a “Iracema” de características europeias de Antônio Parreiras e mais o “Macunaíma” revisitado por Fernando Lindote. O núcleo traz obras de Anna Maria Maiolino, Carybé, Flávio Império, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Paulo Nazareth e Regina Parra. Registros da expedição realizada por Mário de Andrade à região amazônica em 1927 e fotos de Claudia Andujar e Alice Brill também estão presentes nesta seção.

A literatura é parte muito relevante da exposição, tangenciando e desdobrando sua pesquisa. Em toda a mostra, há trechos de autores diversos, que vão de Clarice Lispector a Ana Cristina Cesar, de Menotti del Picchia a Glauber Rocha. Em “Índios Errantes” ganha destaque um texto de 2018 do artista indígena Jaider Esbell, morto no ano passado. “O ser que sou, eu mesmo, é homem, um guerreiro pleno de 1,68 metros, 82 kg, 39 anos. É livre como deve ser. É livre como é meu avô Makunaima ao se lançar na capa do livro do Mário de Andrade (…)”.

Encerrando a visita, na varanda ao ar livre, o público conhecerá a instalação dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, campeões pela Acadêmicos do Grande Rio neste ano. “Exunautas” é uma remontagem de parte do carro alegórico que encerrou o desfile da escola de samba na Sapucaí. Ela traz sete esculturas que representam o orixá Exu e suas dimensões transformadoras.

“Desvairar 22” integra a ação em rede “Diversos 22: Projetos, Memórias, Conexões”, desenvolvida pelo Sesc São Paulo.

 

Sobre os curadores

Marta Mestre é curadora e trabalha em Portugal e no Brasil. Atualmente é diretora artística do Centro Internacional das Artes José de Guimarães. Foi curadora no Instituto Inhotim, curadora-assistente no MAM-Rio, curadora-convidada e docente na EAV-Parque Lage. É membro do Conselho Geral da Universidade do Minho, Portugal. Entre outros projetos, foi curadora de “Farsa” (SESC-Pompéia, São Paulo, 2020) e “Alto Nível Baixo” (Galeria Zé dos Bois, Lisboa, 2020). Atualmente prepara a retrospectiva “Philippe Van Snick: Dynamic World” (S.M.A.K, Ghent, Bélgica), que será inaugurada em 2022.

Veronica Stigger é escritora, curadora independente e professora universitária. Foi curadora, entre outras, das exposições “Maria Martins: metamorfoses” e “O útero do mundo”, ambas no MAM (São Paulo, 2013 e 2016); co-curadora, ao lado de Eduardo Sterzi, de “Variações do corpo selvagem: Eduardo Viveiros de Castro, fotógrafo”, no Sesc Ipiranga (2015), Sesc Araraquara (2016), Weltkulturen Museum (Frankfurt, 2017) e CIAJG – Centro Internacional das Artes José de Guimarães (Guimarães, 2019); e co-curadora, ao lado de Eucanaã Ferraz, de “Constelação Clarice”, no Insituto Moreira Salles (São Paulo, 2021 e Rio de Janeiro, 2022) . Com a exposição sobre Maria Martins, angariou o Grande Prêmio da Crítica da APCA e o Prêmio Maria Eugênia Franco, concedido pela ABCA para melhor curadoria do ano.

Eduardo Sterzi é escritor, crítico literário e professor de Teoria Literária na Unicamp. Autor dos volumes de estudos literários “Por que ler Dante” e “A prova dos nove: alguma poesia moderna e a tarefa da alegria”, ambos de 2008, e “Saudades do mundo”, que será publicado ainda em 2022. Organizou também “Do céu do futuro: cinco ensaios sobre Augusto de Campos”. Foi co-curador das exposições “Variações do corpo selvagem: Eduardo Viveiros de Castro, fotógrafo” (SESC Ipiranga, 2015; SESC Araraquara, 2016; Weltkulturenmuseum, Frankfurt, Alemanha, 2017; e CIAJG – Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Guimarães, Portugal, 2019), e “Caixa-preta”(Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, 2018).

 

Sobre o Projeto Diversos 22

“Diversos 22 – Projetos, Memórias, Conexões” é uma ação em rede do Sesc São Paulo, em celebração ao Centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e ao Bicentenário da Independência do Brasil em 1822, com atividades artísticas e socioeducativas, programações virtuais e presenciais em unidades na capital, interior e litoral do estado de São Paulo, com o objetivo de marcar um arco temporal que evoca celebrações e reflexões de naturezas diferentes, mas integradas e em diálogo, acerca dos projetos, memórias e conexões relativos à efeméride, no sentido de discuti-los, aprofundá-los e ressignificá-los, em face dos desafios apresentados no tempo presente.

 

 

Celebração do artista e sua obra

21/out

 

“BARAVELLI 80″ é uma exposição organizada pela Fundação Stickel, Vila Olímpia, São Paulo, SP, em colaboração com a Galeria Marcelo Guarnieri que celebra os 80 anos do artista Luiz Paulo Baravelli. Serão apresentadas 57 obras do artista, cada uma correspondente a um dos seus 57 anos de carreira, desde 1965 até 2022. Pinturas, desenhos e relevos que manifestam o seu interesse pela arquitetura, pelo desenho da figura humana e pela pintura de paisagem, e que propõem um diálogo descontraído com a tradição. Para fazer companhia às suas obras, Baravelli convocou “Amigos e Vizinhos”, que segundo ele, foram – e ainda são – seus guias e orientadores ao longo de sua trajetória. Cerca de 200 imagens de obras de arquitetos, artistas, cartunistas e designers apresentados na exposição em formato de vídeo dão conta de aproximar o público visitante ao repertório do artista, que abarca desde uma pintura de Giotto de 1304, uma escultura de Barbara Hepworth de 1943, o still de uma cena do desenho animado “Os Jetsons” de 1962, até uma escultura de Martin Puryear de 2005.

Formado arquiteto e consagrado como pintor, Baravelli experimenta com o espaço tridimensional, tanto no campo físico, como no campo virtual de suas pinturas e desenhos. Em sua obra, as noções de perspectiva, planta, elevação e corte provenientes da linguagem da arquitetura são utilizadas para representar espaços interiores, casas e outras edificações, mas não se restringem ao traço, tornam-se ferramentas para questionar o formato quadrado da tela, dando às suas pinturas um certo dinamismo. É desse modo que elas transitam entre duas e três dimensões e adquirem o caráter híbrido de pintura-objeto. Podem ter contornos reconhecíveis como os de um corpo humano esguio ou contornos estranhos como os de pálpebras gordas e agigantadas que se beijam, contornos redondos que reivindicam seu lugar dentro da tradição do quadro e mesmo os quadrados que abrigam outras quadras e quadrículas dentro dos limites da moldura.

Baravelli compõe em camadas, recorta e sobrepõe referências, estilos, materiais e texturas. Tais operações estão carregadas de um senso de humor que tem permitido ao artista estabelecer uma relação espirituosa com sua obra nesses 57 anos de produção e que se faz evidente nos modos de abordar questões tão diversas como o amor, a história da arte, figuras de poder como políticos e colecionadores, problemas de planejamento urbano e a sensação de tédio de uma noite como outra qualquer. Não são temas, são questões que atravessam a qualquer um de nós, e que no trabalho de Baravelli surgem como comentários inusitados, mas sutis, daqueles que poderiam passar despercebidos em uma conversa com os mais desatentos. Não foi à toa que seus amigos e vizinhos foram convocados a participar dessa exposição, são vozes que ampliam o diálogo, adicionando camadas de significados e abrindo pontes para outras conversas.

Celebramos com alegria os oitenta anos de vida de um artista que dedicou cinquenta e sete anos a uma atividade de tão grande importância para a nossa cultura, formando outras tantas gerações de artistas, alunos, leitores e que é parte fundamental da história da arte de nosso país. E com a mesma alegria, celebramos a oportunidade de termos estado juntos durante os últimos trinta anos. Viva Baravelli!

 

Até 04 de fevereiro de 2003.

 

 

Bienal de São Paulo no MAR

20/out

 

O programa de mostras itinerantes da 34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto chega ao Rio de Janeiro no Museu de Arte do Rio (MAR). A exposição, correalizada junto ao MAR com o apoio do Instituto Cultural Vale, fica em cartaz até o dia 22 de janeiro de 2023.

A mostra é organizada em torno do enunciado Os retratos de Frederick Douglass. Douglass foi um homem público, jornalista, escritor, orador estadunidense, e um dos  principais expoentes da luta pela abolição da escravidão. Até hoje seus retratos circulam pelo mundo como símbolo de justiça e liberdade. Assim, sob o olhar penetrante e desafiador de Douglass, este enunciado traz artistas e obras voltados aos processos de colonização, deslocamento, violência e resistência que marcaram e continuam marcando a vida de milhões de pessoas ao redor do planeta.

Treze artistas de oito países diferentes compõem a mostra: Anna-Bella Papp (Romênia), Arjan Martins (Brasil), Daiara Tukano (Brasil), Daniel de Paula (Brasil/Estados Unidos), Deana Lawson (Estados Unidos), Frida Orupabo (Noruega), Gala Porras-Kim (Colômbia), Jaider Esbell (Brasil), Joan Jonas (Estados Unidos), Noa Eshkol (Israel), Paulo Kapela (Angola), Seba Calfuqueo (Chile) e Tony Cokes (Estados Unidos).

No dia da abertura, Daiara Tukano realiza uma performance, ativando sua obra Kahtiri Ēõrõ – Espelho da vida (2020), inspirada nos mantos tupinambás. A performance tem início às 11h30 e a artista percorrerá o caminho da exposição, no primeiro pavimento do Museu.

Além do fomento à produção artística, um dos focos principais da Fundação Bienal de São Paulo é a realização de ações de educação e difusão. No Rio de Janeiro, uma visita temática pela exposição está programada para o dia da abertura, 22 de outubro, às 12h30, com a equipe de mediação da Fundação Bienal. A atividade é gratuita, assim como a entrada na exposição na abertura, e não requer inscrição prévia.

 

 

 

A cerimônia da arte autoral

19/out

 

“RITUS” é a segunda exposição conceituada por Renato De Cara que abre no Porão da BELIZÁRIO, Pinheiros, São Paulo, SP, com 30 trabalhos de Leo Sombra e Otoniel Ferreira onde esculturas e fotografias contam histórias de diferentes momentos dos dois artistas que apresentam suas poéticas construídas através de sua fé e da documentação do fazer artístico. Renato De Cara traz artistas marginais ao eixo Rio/São Paulo como uma afirmação cabal de que o fazer artístico não se circunscreve à eixos pré-definidos. A capacidade de transmitir emoções, sensações, verdades, nasce onde o criativo está sempre que há foco e determinação em seguir suas crenças e poéticas e que vivencias e origens distintas não são determinantes de conflitos e sim de harmonia e congruência. “Histórias e lendas, crenças e mitos – assim construímos nossas narrativas. Os afetos vão corroborando repertórios apropriados para vivermos dentro daquilo que podemos nominar como conforto ou reforço na salvaguarda de nossas esperanças”, conceitua o curador.

As fotografias de Leo Sombra compõe a série “Cura Áspera”, um registro analógico em negativo de 35mm, onde o artista se apropria dos ruídos e do acaso, “construindo assim uma narrativa sutil com elementos simples e banais da natureza e do seu cotidiano familiar. A imagem fotográfica como diário de uma pausa forçada a partir de uma lesão no pé. O artista, então isolado e imobilizado, começa a inventariar a poesia sutil do entorno”, explica o curador. Os paradigmas panafricanos são o foco principal das pesquisas de Otoniel Ferreira que exibe trabalhos da série Adupé-Iowo-olorún (Graças a Deus por ter conservado minha vida e minha saúde até hoje) onde esculpe e desenha totens e oferendas para seus orixás e santos de devoção. Nas palavras de Renato De Cara, “as construções escultóricas se dão coletando madeiras e materiais variados para resinificar a fé e o respeito ao divino. Seja na tradição de ex-votos ou numa pintura nova e sincrética o artista nos alimenta de esperança potencializando a verdade viva que experimenta…Dentro dos limites pessoais ou na expansão da liberdade imaginada de cada um a linguagem se fortalece, seja em imagens representativas ou documentais para falarmos com sinceridade sobre aquilo que nos é caro.”

Renato De Cara

 

Sobre os artistas

Léo Sombra (São Miguel, RN, 1986) – Vive e trabalha em São Paulo, para onde se mudou em 1998. Em 2006 fez um curso profissionalizante na ONG ImageMágica, onde, por falta de recursos, começou a fotografar no formato pinhole, construindo imagens com câmeras sem lentes e papéis fotográficos vencidos. Documentou a cidade de São Paulo e sua periferia, assim como indivíduos à margem da sociedade como portadores de deficiência visual, usuários de crack e moradores de rua. Incorporando o acaso e os defeitos oriundos do processo artesanal que utiliza para fotografar, Sombra desenvolve uma imagética intrigante e expressiva que, em certos momentos, nos remete a um universo estético muito particular, cheio de ruídos e impurezas transformados em poesia. Em 2011 teve cinco de suas obras adquiridas pela Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Otoniel Ferreira (Oto) – (Serrinha, BA, 1995) – Vive e trabalha em São Paulo. Ogã, Escultor, Pintor, Luthier e Artista Interdisciplinar, cursou Bacharelado Interdisciplinar em Artes da UFBA. Foi violinista e luthier no Programa NEOJIBA, acompanhando a Orquestra Juvenil da Bahia em sua Turnê Europa 2018; cursou construção e restauro na Geigenbauschule Brienz, na Suiça, e atuou como estagiário em ateliers em Genebra e França. Em 2019, participou da Exposição Pintura no Museu de Arte da Bahia e do 8° Salão da Escola de Belas Artes. Participou da Feira Latino Americana Equinox no ano de 2022. Segundo o artista, sua pesquisa é por meio da experiência no existir, corpo trajeto e território, suas estéticas e poéticas, comungando em sua arte o sentido de pertença à nação afrolatina e o descondicionamento às epistemes da colonização e do mundo globalizado.

 

Sobre o curador

Renato de Cara (Lins, SP 1963) – Vive e trabalha em São Paulo. Bacharel em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica – PUC/SP (1985). Interessado em cultura, especializa-se em arte e moda contemporânea, produzindo, escrevendo, editando e fotografando para marcas e veículos de comunicação. No período entre 2006 e 2017, dirige a Galeria Mezanino, respondendo pela produção e curadoria de inúmeras exposições, tanto individuais como coletivas fazendo com que o espaço se consolide tanto como um celeiro para novos nomes como também de resgate para artistas em meio de carreira, cruzando linguagens e propondo novas abordagens no mercado de arte contemporânea. Em 2018, assume a Diretoria do Departamento de Museus municipais de São Paulo, coordenando quinze espaços museológicos e históricos, construídos entre os séculos XVII e XX. Atua como curador independente e consultor de arte, acompanhando artistas em parcerias com instituições diversas.

 

De 24 de outubro a 19 de novembro.

 

 

Revisão de obra arquitetônica

14/out

 

“Arquiteto Theo Wiederspahn” em Porto Alegre um olhar contemporâneo sobre projetos e obras de 1908 a 1952. Neste ano coincidem duas efemérides: os 250 anos de Porto Alegre e os 70 anos de falecimento do arquiteto alemão Theo Wiederspahn, que imigrou para o Brasil em 1908.

A exposição, permanecerá em cartaz até 20 de janeiro de 2023 na Pinacoteca Aldo Locatelli, no antigo Paço Municipal, Centro Histórico, Porto Alegre, RS. Realizada pela Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa de Porto Alegre em parceria com o Consulado Alemão, CDEA – Centro de Estudos Europeus e Alemães, espaço DELFOS-PUC, Instituto Goethe, faculdades de Arquitetura e Urbanismo da PUC e UNISINOS, também conta com o apoio do Memorial do Hospital Moinhos de Vento. Paralelamente, exposições-satélites acontecerão na Casa de Cultura Mario Quintana (que inaugurará o Memorial Theo Wiederspahn) e no Hospital Moinhos de Vento.

Atento à importância do fato, o Consulado Geral da Alemanha pretende contribuir com os eventos culturais da capital através da disseminação e conscientização do valor da obra desse arquiteto, que construiu mais de 500 prédios no Rio Grande do Sul, muitos dos quais na capital. Boa parte dos desenhos originais desses projetos se encontra sob a guarda da PUC, e até hoje nunca haviam sido apresentados em espaço público.

Diante do cenário do novo plano diretor para o desenvolvimento do Centro de Porto Alegre, que visa, mesmo com um aumento da massa edificada, a valorização do patrimônio histórico, é de suma importância demonstrar a beleza e o potencial de resiliência do patrimônio existente. Assim, a exposição – contendo desenhos originais, um mapa com localizações de projetos e obras, fotografias da época e atuais, projetos acadêmicos de revitalização e ainda cartas e documentos pessoais do arquiteto – visa fomentar o amor pelos testemunhos edificados do passado que tanto contribuíram às singulares características da cidade e pretende estimular o interesse em percebê-los e reconhecê-los nas ruas.

 

 

osgêmeos no CCBB Rio

13/out

 

Depois da exibição em espaços como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, e pelo Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, PR, a exposição retrospectiva da dupla osgêmeos chega ao Rio de Janeiro. A mostra, que aborda a trajetória dos irmãos grafiteiros, encontra-se em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com o nome “Nossos Segredos”.

São mais de 850 itens, entre pinturas, instalações imersivas e sonoras, esculturas, intervenções em site specific, desenhos e cadernos de anotações. A exposição é a primeira retrospectiva de grande porte que examina a produção dos artistas desde o começo da década de 1980 até a atualidade. “Esta é a maior exposição já produzida por eles”, comenta o curador da mostra, Jochen Volz.

O objetivo da mostra é revelar novas visões do fazer artístico d’osgêmeos. Objetos pessoais, como cadernos, fotos, desenhos e pinturas que datam desde a infância dos dois irmãos até hoje são apresentados ao público pela primeira vez, incluindo estudos e obras de arte que precedem em muito seus famosos personagens e lançam luz sobre as raízes de seu surgimento. Influências artísticas e colaborações são expostas ao lado de pinturas e esculturas recentes.

A exposição fica em cartaz no CCBB do Rio até o dia 23 janeiro de 2023.

 

 

Alexandre Murucci  apresenta Cadeau

 

O artista visual Alexandre Murucci exibe a mostra individual “Cadeau” – até 29 de janeiro de 2023 – no Centro MariAntonia, Vila Buarque, São Paulo, SP, com 17 obras – esculturas, objetos, fotografias, videoinstalação e instalações – onde traça um panorama crítico e por vezes atávico, do momento político atual e, quase hereditário, dos males que assolam a nação. Ao mesmo tempo, o artista reconhece seu momento e seu papel e, o que crê ser a demanda de seu país: fortalecer instituições, liberdades e discursos inclusivos. A curadoria e o texto crítico são de Shannon Botelho.

“Cadeau”, que titula a mostra e também nomeia uma das obras da exposição, na língua portuguesa significa ‘presente’, como ato de estar fisicamente num lugar ou numa causa, assim como celebrar outra pessoa, dar a ela uma lembrança num momento especial; “e este termo tem sido usado como palavra de ordem em atos de protestos e luta por direitos individuais e coletivos da sociedade brasileira. Será este o presente que deixaremos para futuras gerações ou estaremos presentes na hora de defender nosso patrimônio natural ??”, questiona o artista.

Na visão de Shannon Botelho, o artista dando sequência à sua visão de perdas pregressas que continuam ameaçando o seu presente, explica: “Sobre essas ideias está estruturada a crítica de Murucci, uma insurgência contra as opressões e as formas de violências que insistem em minorar a vida, como uma sirene em alerta, indicando a sucessão distópica de eventos que a compõem.”

Sobre as obras em exposição, mantendo um viés coerente em sua criação artística, Murucci brinda o público com trabalhos que derivam de uma dialética, um pensamento plástico à serviço ‘de uma abordagem crítica dos fatos’. Os temas podem variar, mas a abordagem mantém fiel à dinâmica necessária para cada peça: a opção pelos suportes mantém-se fidedignas ao fio condutor do trabalho que é seu conceito.

“Neste sentido, mantenho essa unidade matérica com uso de ferro, metal, espelho e madeira, que reverberam um cromatismo restrito, só quebrado pela eventual presença de vermelhos, pois foi a cor base de uma fase bastante ampla do meu trabalho. E, como suportes principais, apresento esculturas, objetos, fotografias, vídeos e instalações, mesmo que o desenho esteja fortemente presente na criação das obras”, pondera o artista. A utilização de materiais pós-industriais e naturais os quais imprimem uma fatura povera e ready-mades, instauram uma lógica criativa, mais do que uma investigação da forma. “Um pensamento plástico em busca de um testemunho de meu tempo histórico, sem preconceitos físicos formais, a não ser o rigor do acabamento, fruto de meu DNA da arquitetura e do design”, conclui.

“Atento ao agora, que nos presenteia com realidades disruptivas, o artista convoca a nossa atenção para o momento de virada que atravessamos, lembrando-nos da responsabilidade de solidificar nossas escolhas para uma saída do labirinto existencial que o país e o mundo se encontram. Urge reinventar o porvir para um outro amanhã. Neste sentido, não basta que a arte seja uma reinvenção do que virá. Importa que ela seja uma engrenagem na transformação do presente. Por esta razão, Alexandre Murucci estrutura em Cadeau um manifesto visual, no qual os termos são definidos pela fluidez de narrativas, cujas dialéticas articulam um possível futuro, a partir daquilo que possamos lhe deixar como presente”. Shannon Botelho

“Um olhar crítico, neste momento grave da história brasileira, com todas as ameaças aos direitos individuais e às instituições advindas de um grupo no poder que deveria preservar e harmonizar a nação frente aos inúmeros desafios que o mundo atravessa, vejo que isto se torna mais necessário ainda, principalmente num período de acirramento e polarização da sociedade em torno das escolhas para nosso destino como democracia e nação”. Alexandre Murucci

 

Sobre o artista

Alexandre Murucci nasceu no Rio de Janeiro, RJ, 1961. Artista plástico com formação pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), com orientação de Luis Ernesto. Grupo de estudos com Fernando Cocchiaralle e Felipe Scovino e ateliê de escultura com Israel Kislanski. Em 20 anos de trajetória, trabalha com suportes múltiplos e ênfase em escultura, fotografia, instalações, vídeo e digital art (NFT), conta com mais de 80 exposições em sua trajetória. Sua multidisciplinariedade o faz atuar também como diretor de arte, cenógrafo, curador, designer, cineasta e autor em mídias diversas, com mais de 30 anos de carreira em Cinema, Teatro e Design. Suas obras com foco conceitual, e em suportes variados, falam principalmente de identidades, inserções periféricas e polaridades dos fluxos de poder, sempre através do viés político-histórico, com referências metalinguísticas no âmbito da arte. Em 2007, foi selecionado para o prêmio Bolsa Iberê Camargo. Em 2009 foi convidado para Las Américas Latinas – Fatigas Del Querer, mostra coletiva em Milão com curadoria de Philippe Daverio e em 2011 foi o vencedor do 2º prêmio da Fundação Thyssen-Bornemisza, de Vienna, no projeto The Morning Line – TBA21. Como destaque nas exposições individuais, pode-se citar “Arquipélago” – na Galeria de Arte Maria de Lourdes Mendes de Almeida, O Fio de Ariadne, Centro Cultural Correios, RJ, Las Américas Latinas, em Milão, Italia e a Nicho Contemporâneo no Museu Nacional de Belas Artes, RJ, além de exibições nos EUA, Eslovênia, Cuba e Alemanha, entre muitas. Em 2011, foi o artista selecionado para representar o Brasil na Bienal da Áustria; em 2019 na 13ª Bienal do Cairo, e em 2017, um dos artistas da 57ª Bienal de Veneza, selecionado em um opencall mundial, para o Pavilhão de Grenada, sob curadoria de Omar Donia. Foi também um dos primeiros artistas a mostrar seus trabalhos em NFT numa feira presencial de arte – a ARTRIO, através de sua galeria Metaverse Agency, uma participação inédita, internacionalmente.

 

Sobre o curador 

Shannon Botelho – Crítico de arte, curador independente e professor no Departamento de Artes Visuais do Colégio Pedro II (RJ). Doutorando em História e Crítica da Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes/UFRJ em parceria com a École des Hautes Études en Sciences Sociales/CRBC (Paris); representante do Comitê de História, Teoria e Crítica de Arte da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP) e curador convidado do Memorial Municipal Getúlio Vargas (RJ). Realiza cursos de acompanhamento crítico e teórico para profissionais ligados ao campo cultural no Rio de Janeiro e São Paulo. Assinou curadoria de algumas exposições como Abstrato Possível, Concreto Real (MMGV-RJ-2017); Balangandãs (Zipper Galeria-SP 2018); Paisagem Grão de Areia (MMGV-RJ 2018); O que você guarda tão bem guardado (Casa Abaeté – Ribeirão Preto 2019); Da Linha, o Fio (BNDES-RJ2019), Impulsos Imitativos (MMGV-RJ-2019), Estruturas Improváveis (Casa das Artes-Tavira 2020), Illusions (Zipper Galeria-SP 2021), Malgré le Brouillard (Anne+ Art Contemporain – Paris 2021) e Forma é Afeto (Andrea Rehder-SP 2022).

 

Sobre o MariAntonia

O Centro Universitário MariAntonia, um dos órgãos da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP, está instalado nos edifícios históricos Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, que pertenceram à antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Desde sua inauguração, em 1993, com uma atuação multidisciplinar, o MariAntonia conquistou um lugar próprio entre as instituições culturais da cidade. Situado estrategicamente na região central de São Paulo, abriga exposições diversas, oferece cursos de curta duração, palestras, debates e seminários, e outros eventos. Também abriga a Biblioteca Gilda de Mello e Souza, com acervo dedicado principalmente à Estética, cujo núcleo gerador é a coleção de livros sobre arte, estética e história da arte que pertenceu à professora que empresta seu nome ao espaço, primeira docente de Estética da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Entre os artistas que tiveram mostras recentes no espaço estão Cildo Meireles, Eleonora Koch, Carlos Zilio, Claudio Tozzi, Evandro Teixeira, Gilvan Barreto, Jaime Lauriano, Laís Myrrha, Leila Danziger , Giselle Beiguelman, Carmela Gross, Dora Longo Bahia, Clara Ianni, Rosana Paulino. Marilá Dardot, Marcelo Moscheta, Walmor Corrêa. entre outros. e artistas internacionais como Lucio Fontana, Luciano Fabro, Mario Merz, Michelangelo Pistoletto, Mimmo Paladino, Gilberto Zorio, Enrico Baj, Alighiero Boetti, Giovanni Anselmo, Maurizio Catellan.

 

 

O processo criativo de Alice Quaresma

10/out

 

A primeira exposição individual de Alice Quaresma – “Origens” – acontece na Galeria Silvia Cintra + Box 4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ. A mostra é o resultado de um arquivo fotográfico de mais de 18 anos da cidade natal da artista, o Rio de Janeiro.

Origens é uma exposição que começa com vestígios fotográficos de um passado, rastros de tinta sobre a imagem de um corpo presente e uma janela para o futuro com a pintura que renasce no processo criativo da artista. Ao entrar na galeria, a narrativa se inicia pelas fotografias que, caminhando para o fundo, passam a pertencer a tela de algodão.

Ao final, na última parede, a pintura prevalece por si só. As marcas nas pinturas são referências das formas registradas nas imagens do Rio. Essa é uma exposição que oferece uma visão completa: de onde começou a pesquisa com fotografias do Rio de Janeiro sobre memória e identidade e os próximos atos de experimentos na pintura.

Aos 18 anos de idade, Alice saiu do Brasil e desde então fotografa a cidade, de forma afetiva, como uma maneira de se sentir perto de suas raízes. No entanto, em 2014, percebeu que não se tratava apenas de um registro afetivo. Ao fazer o movimento de trazer para seu trabalho essas imagens despretensiosas de qualquer valor técnico ou conceitual, mas cheio de memorias, surpresas e valor sentimental, a artista constatou que estava explorando a ideia de identidade e pertencimento como imigrante.

Ao longo desse processo, é possível observar a admiração de Alice pelo movimento de arte carioca Neoconcretista. Através de pesquisas sobre Hélio Oiticica e Lygia Clark, como no livro “Cartas”, manifestou-se cada vez mais o interesse pela arte experimental e o poder da arte como ativação da mente e do pensamento e, não como resposta concreta. E assim surgiram as marcas geométricas imperfeitas, linhas coloridas pintadas a mão sobre fotografias do Rio de Janeiro, para criar obras que existem na interseção entre a memória e o campo imaginário, onde os fatos e as certezas são anulados. Cada obra, através de sua composição, cria espaço para imaginação do espectador. Os trabalhos falam de passado e presente usando pintura sobre a fotografia, questionando o limite de cada formato como um só.

“Na minha exposição Origens, mostro como a evolução da minha procura através das minhas imagens do Rio me levaram de volta a pintura, por si só, chegando de volta não só a minha Origem que é o Rio, mas também a minha origem na pintura, onde comecei nas artes plásticas. Meu olhar de fascínio e questionamento nas artes, começou na pintura com a obra “Quattro Stagioni” de Cy Twombly quando eu tinha 13 anos”, comenta a artista.

 

Até 05 de novembro.

 

 

 

 

O florescer da fotografia brasileira

07/out

 

 

Em homenagem ao bicentenário da Independência do Brasil, o Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro realiza a exposição inédita “Fotógrafos  Italianos – no florescer da fotografia brasileira”, no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, que estará aberta até 18 de novembro. A mostra conta com cerca de 80 fotografias, em reprodução, distribuídas segundo um percurso temático que permite apreciar a diversidade dos interesses e a variedade da produção desses artistas, ao mesmo tempo abrangendo uma parcela importante da história do Brasil, entre o Segundo Reinado e a Primeira República. O objetivo é divulgar os perfis e as obras de grandes fotógrafos italianos, que, entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, tiveram intensa atuação no Brasil.

Entre os muitos italianos que atuaram como fotógrafos no recorte temporal escolhido, foram selecionados nove personagens que brilham pelas trajetórias singulares e pela qualidade poética e visual de suas obras:  Luiz Terragno, Camillo Vedani, João Firpo, Ermanno Stradelli, Nicola Parente, Guido Boggiani, Vincenzo Pastore, Virgilio Calegari, Luís Musso. Com curadoria de Joaquim Marçal de Andrade e Livia Raponi, a exposição conduz o público em um itinerário traçado a partir do olhar singular desses mestres, verdadeiros pioneiros da oitava arte que contribuíram, com suas imagens, para a constituição do campo da fotografia brasileira e, ao mesmo tempo, para a constituição de uma identidade visual e de uma estética da nação-Brasil. Após a etapa carioca, a exposição seguirá para Brasília, para ser exibida na sede da Embaixada da Itália. O evento conta com os apoios institucionais da Embaixada da Itália e do Consulado Geral da Itália no Rio de Janeiro

“Trata-se de um aspecto muito pouco conhecido da presença italiana no país; de fato, é surpreendente saber que, naquela época, da Amazônia ao Rio Grande do Sul, da Paraíba ao Rio de Janeiro, da Bahia ao Pantanal, esses brilhantes artistas-migrantes registravam com maestria técnica e olhar refinado os habitantes, as cidades e a natureza de um Brasil em rápida e intensa transformação”, avalia Livia Raponi, diretora do Instituto Italiano de Cultura do Rio e uma das curadoras da mostra.

“A fotografia é também uma invenção italiana, desde a constatação da sensibilidade de certas substâncias à luz, ainda na Antiguidade. Pressupõe a utilização de uma camera obscura dotada de lentes – Leonardo da Vinci, Giambattista della Porta, Girolamo Cardano, Daniele Barbaro – estes foram os pioneiros, todos da península itálica. E, curiosamente, à beira do Lago de Como, na Lombardia, o britânico William Henry Fox Talbot vivenciou importante revelação, enquanto desenhava a paisagem com o auxílio de um instrumento óptico denominado “camera lucida”. Surgiu-lhe, então, a ideia de viabilizar um sistema de registro do mundo visível onde “os objetos se delineassem por si só, sem a ajuda do lápis do artista”. Ali ocorreu a gênese do processo negativo-positivo, avalia Joaquim Marçal Andrade, co-curador da mostra.

Sobre os curadores

 

Joaquim Marçal Ferreira de Andrade é servidor aposentado da Biblioteca Nacional onde atuou por 42 anos, tendo chefiado a Seção de Promoções Culturais, a Divisão de Fotografia, a Divisão de Iconografia e a Biblioteca Nacional Digital. Coordenou o projeto de resgate das fotografias da coleção “D. Thereza Christina Maria”, doadas pelo imperador d. Pedro II à instituição e hoje inscritas no Registro Internacional do Programa Memória do Mundo, da Unesco. Mestre em design e doutor em história social, é professor agregado (licenciado) do Departamento de Artes & Design da PUC-Rio. Curador de exposições, perito judicial em fotografia e artes gráficas e autor de ensaios sobre a história da fotografia, das artes gráficas e do design.

Livia Raponi é diretora do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro e Adida de Promoção Cultural junto ao Ministério das Relações Exteriores da Itália.  Especializada em mediação linguístico-cultural e doutora em Letras pela Universidade de São Paulo, tem desenvolvido ampla pesquisa interdisciplinar sobre o etnógrafo italiano Ermanno Stradelli, objeto de sua tese de doutorado. A partir disso, foi idealizadora e curadora de quatro diferentes exposições – apresentadas, entre 2013 e 2019, em São Paulo, Manaus, Roma e Rio de Janeiro – e organizadora do livro A única vida possível – Itinerários de Ermanno Stradelli na Amazônia (Ed. Unesp, 2016).  Tem ampla experiência de curadoria de exposições de arte e fotografia desenvolvidas no quadro de seu trabalho em prol da difusão da língua e da cultura italiana no exterior.

Sobre os fotógrafos: alguns dados e anedotas

Produzem a partir dos meados do século XIX

 

Luiz Terragno: foi o primeiro fotógrafo em Porto Alegre, na década de 1850, documentando de forma pioneira eventos ao ar livre como uma procissão; fotografou D. Pedro II (e seus genros) por ocasião da viagem a Uruguaiana, no início da Guerra do Paraguai; foi nomeado pelo imperador Fotógrafo da Casa Imperial.

Camillo Vedani: engenheiro, sediado em Campos (RJ), atuou como desenhista na construção de estradas de ferro no Rio de Janeiro, Salvador e Manaus.  Em fotografia, foi um exímio paisagista; nos deixando lindas vistas de Salvador e do Rio de Janeiro,  que nada devem à maestria de Marc Ferrez – com quem colaborou, inclusive, em um momento de sua trajetória (o livro “Italianos detrás da câmera” reproduz, na capa, uma imagem dele – da Praça XV).

João Firpo: de Gênova, se definia “fotógrafo ambulante”: fixado em Paraíba (atual João Pessoa), ele ia de cidade em cidade para oferecer seus serviços, montando seu estúdio e retratando homens, mulheres, crianças. Foi também um negociante de fotografias de outros autores, inclusive retratos de famosos.

Produzem nas últimas décadas do século XIX

 

Nicola Maria Parente: natural da Basilicata, foi fotógrafo retratista mas também cinegrafista itinerante. Foi o primeiro a introduzir o cinematógrafo na Paraíba e pelo nordeste, graças a um equipamento adquirido em Paris. Percorreu, ainda, o interior de São Paulo fazendo projeções.

Ermanno Stradelli: natural da Emília Romanha, era conde e estudava direito na Faculdade de Pisa quando, aos 27 anos, resolveu viajar para a Amazônia e se tornar explorador. Percorreu, carregando o pesado equipamento fotográfico, os principais rios da região, retratando paisagens, moradias, grupos humanos indígenas, no auge do ciclo da borracha. Foi o primeiro a registrar, com sua câmera, um primeiro contato entre autoridades brasileiras e indígenas isolados, por ocasião da “Missão de Pacificação dos índios Chrichanás”, liderada pelo cientista Barbosa Rodrigues, que realizou uma interação pacífica com os Waimiri Atroari do Rio Jauaperi. Tornou-se também um especialista em nheengatu (língua geral amazônica) e em narrativas ameríndias.

Guido Boggiani: natural do Piemonte e jovem pintor de sucesso, decidiu viajar com 26 anos para a América Latina onde queria investigar os povos indígenas Chamacoco e Caduveus, estabelecidos respectivamente no Chaco (Paraguai) e no Mato Grosso do Sul. Os retratos fotográficos de mulheres e homens indígenas que realizou no campo durante a convivência com eles, na década de 1890, são extraordinários para a época.

Vincenzo Pastore (atuou em São Paulo): foi um dos primeiros fotógrafos de rua, precursor da chamada “street photography” no Brasil, retratando trabalhadoras/es manuais e ambulantes e momentos corriqueiros do dia a dia da cidade (por exemplo, a carroça de coleta de lixo em seu percurso cotidiano). Manteve estabelecimento fotográfico para produção de retratos e colaborou com a imprensa.

Virgilio Calegari (atuou em Porto Alegre): participou de numerosas exposições nacionais e internacionais ganhando vários prêmios; exímio retratista e paisagista, dono de qualidade técnicas e artísticas incomuns. Autor/editor do álbum “Porto Alegre” no qual também documenta a província (o interior), incluindo as colônias italianas.

Luigi Musso (atuou no Rio de Janeiro): excelente paisagista, realizou magníficas vistas do centro e arredores da cidade do Rio de Janeiro que documentam sua modernização. A imagem “concept” da exposição, da fachada do Museu Nacional, é de sua autoria. Foi autor e editor de um álbum sobre o Teatro Municipal, cujo texto foi escrito por João do Rio.

Evento adicional: Lançamento do livro “Italianos detrás da câmera. Trajetórias e olhares marcantes no florescer da fotografia no Brasil” com debate, dia 4 de novembro, às 18h.

Realização: Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro e Centro Cultural Banco do Brasil

Apoios institucionais: Embaixada da Itália e Consulado Geral da Itália no Rio de Janeiro.

O Dia das crianças no CCBB

 

Para comemorar o Dia das Crianças e o aniversário de 33 anos do CCBB, no dia 12 de outubro o público de todas as idades está convidado a participar de diversas atividades. Nesse dia de celebração, toda a programação é gratuita e as crianças ainda recebem um lanche especial. A data será marcada pela abertura da exposição OSGEMEOS: nossos segredos e é também o último dia para conferir a exposição Playmode. No quarto andar, as mostras de fotografia Fotógrafos italianos no florescer da fotografia brasileira e Oceanofotográfica e o BB e sua história ocupam as salas. Nos teatros, o Festival Intercâmbio de Linguagens (FIL 2022) traz uma série de eventos, como os espetáculos Pianíssimo, um musical de Tim Rescala, Vitrolinha, com a Palhaça Rubra, Ler é um espetáculo, com Ivan Zigg, e a reapresentação do sucesso Tatá, o travesseiro. Na biblioteca, o Clube de Leitura CCBB 2022 convida para um bate-papo com o escritor de literatura infanto juvenil Godofredo de Oliveira Neto sobre a obra de Alexandre Dumas. O Programa CCBB Educativo participa da programação com diversos horários de visita mediada às exposições e patrimoniais. Nas atividades especiais para a data, estão a Hora do Conto e oficina de dança urbana. No Espaço Conceito BB, o Futuro Presente traz oficinas de arte e tecnologia e uma palestra com o skatista Bob Burnquist. Mais voltados para o público adulto, a programação traz o concerto do Música no Museu e a peça Ficções, estrelada por Vera Holtz. Confira a agenda completa dessa data no site do CCBB – bb.com.br/cultura. Nossos restaurantes, cafeterias e loja oferecem ainda mais descontos para clientes Banco do Brasil (verifique as condições no local).

 

O lugar do corpo

 

A Belizario Galeria, Pinheiros, São Paulo, SP, exibe até 12 de novembro a coletiva “Escrever outros Corpos – Criar outras Margens”, com Estêvão Parreiras, Laura Gorski, Marcelo Solá, Raquel Nava, Stella Margarita e Sara Não Tem Nome + Juliana Franco, Rafael Abdala, Victor Galvão, composta por 32 trabalhos que “apresentam múltiplos desafios e fricções que visam interrogar o lugar do corpo”, como define a curadora da mostra Bianca Dias.

De acordo com o conceito curatorial pelo qual optou Bianca Dias, os diversos trabalhos, com técnicas distintas suportes múltiplos, “visam investigar o corpo num movimento que vai desde a pulsação visual e onírica, passando pela dimensão da animalidade e do feminino. O corpo será pensado além de si, ocupando o espaço circundante e interagindo com outros corpos e os seus prolongamentos”.

Os desenhos de Estevão Parreiras, com traços exatos e formas estruturantes, transmitem sua forma de comunicação com o mundo, uma vez que para o artista, desenhar é como escrever. “O desenho é a maneira pela qual Estevão habita seu próprio corpo e o mundo. No universo de seus desenhos, as paisagens surgem estrangeiras e como emissárias de outro mundo, paradoxalmente impregnadas de uma realidade ambígua”, diz a curadora. Já nos traços de Laura Gorski, o corpo ocupa o centro do trabalho. “A partir de técnicas diversas com pigmentos, texturas e espessuras distintas, a artista inclui no seu trabalho a transfiguração do visível através da relação com a terra e seus frutos e ecos”, diz Bianca. As obras de Marcelo Solá agrupam arquiteturas fantásticas e bichos que, através do desenho e da serigrafia, são aplicados numa sistemática sem fim. Animais e formas arquitetônicas muito singulares se embaralham e conduzem a espaços atemporais. Os trabalhos de Raquel Nava, compostos por objetos do cotidiano e partes de animais, dialogam com a pintura e se desdobra em experiências diversas, sinalizando o interesse por questões corpóreas e de natureza material. Já para Stella Margarita, sua pintura “se ancora numa tentativa de fuga às margens da representação, encontrando ritmo em plena queda. A dimensão do acontecimento surge nas entranhas do inconsciente e, por isso, fascina, encanta e causa certa perplexidade”, explica a curadora.

Fechando a seleção curatorial, um coletivo experimental entre quatro artistas – Juliana Franco, Rafael Abdala, Sara Não Tem Nome e Victor Galvão – criam a série de fotografias “Apneia”, onde na série de obras densas e monocromáticas possui um último registro imagético com uma sutil abertura para a “cor”, ainda que sutil, do mesmo corpo capturado em movimento suspenso. “O diálogo que acontece nesta exposição se dá por vibração e contágio. Em uma zona fronteiriça – um espaço tão visível quanto invisível – o conjunto de obras forja um corpo que produz devires em potencial.” Bianca Dias

Sobre a curadora

Bianca Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense – UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado – FAAP (2011). Graduada em Psicologia pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora – CES (2002). Fundou e coordenou o Núcleo de Investigação em Arte e Psicanálise do Instituto Figueiredo Ferraz – IFF(Ribeirão Preto/SP 2012-2015). Participou do grupo Redes de Pesquisas Escritas da Experiência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. Co coordena o Projeto de Cinema e Psicanálise Cine-Cult USP Ribeirão Preto, em parceria com o Centro Lacaniano de Investigação da Ansiedade – CLIN-A.

Sobre a galeria

A Belizário Galeria, com sede no bairro de Pinheiros em São Paulo, é o resultado de uma parceria entre Orlando Lemos, José Roberto Furtado e Luiz Gustavo Leite. Sua proposta visa se apresentar como uma opção adicional de participação e visibilidade da produção de artistas emergentes e consolidados no panorama da arte contemporânea brasileira no circuito paulistano de cultura. A galeria se junta ao movimento que busca promover horizontes que estabeleçam novos meios de redirecionar e ampliar o mercado de arte, pensando nas diferentes trajetórias e produções artísticas que o compõe. Assim, visando a fomentação da diversidade cultural intrínseca na contemporaneidade, serve de palco para artistas novos e estabelecidos, nacionais e estrangeiros, em parcerias com curadores que também estejam imbuídos do mesmo propósito. Na Belizário Galeria, procura-se atender a um público que busca a aquisição de trabalhos artísticos e, também, a criação e fomento de novas coleções. O seu acervo é composto por diferentes temas e estéticas, mediante o universo poético de cada artista. Seu repertório abrange trabalhos artísticos de diferentes linguagens, suportes, técnicas e mídias como desenho, escultura, fotografia, gravura, pintura, objetos, instalação e outras.