As identidades do país.

13/dez

A nova exposição do Museu de Arte do Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, reúne obras de importantes artistas brasileiros, colocando-as em diálogo com as imagens fabulares da afro-diáspora e das expressões visuais dos povos originários.

Ao cruzar fronteiras culturais e narrativas ancestrais, a mostra “Atlânticofloresta” no MAR, anuncia a riqueza do país assim como a necessidade de resistência das identidades que moldam o Brasil. A histórica relação com o oceano Atlântico e a floresta Amazônica, as causas vinculadas às questões da terra como resistência e protesto e a celebração da cultura dos povos afro-brasileiros e indígenas são os temas das narrativas que chegam ao mais carioca dos museus.

Com curadoria de Marcelo Campos, Amanda Bonan, Amanda Rezende, Thayná Trindade e Jean Carlos Azuos, a mostra é uma ampliação e um desdobramento da exposição “Atlântico Vermelho” que foi inaugurada em 16 de abril de 2024, em Genebra, na Suíça. Foi a primeira vez que uma exposição ocorreu durante o Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU, considerado o evento mais importante das Nações Unidas sobre a questão étnico-racial.

Cerca de 160 obras entre pinturas, fotografias, desenhos, esculturas, manufaturas têxteis e vídeos estarão na mostra, mais de 90% dessas obras fazem parte da Coleção MAR. O acervo do Museu de Arte do Rio conta com mais de 30 itens museológicos e cresce a cada ano com as doações recebidas. Entre os artistas que participam de “Atlânticofloresta” estão Rosana Paulino, Jaime Lauriano, Jaider Esbell, Lidia Lisboa, Denilson Baniwa, Ayrson Heráclito, Nádia Taquary, Xadalu Jekupé Tupã, Dalton Paula, Menegildo Isaka Huin Kuin, André Vargas, Maré de Mattos, Grupo Karajá, Yhuri Cruz, Gustavo Caboco, Ventura Profana, entre outros.

Até 25 de fevereiro de 2025.

Imagens quilombolas de Amanda Tropicana.

12/dez

A Fundação Pierre Verger, Salvador, Bahia, lança o catálogo da exposição fotográfica “Raízes”, de Amanda Tropicana, que apresenta imagens das comunidades quilombolas de Caetité, no sudoeste da Bahia. O catálogo, com 54 páginas, foi editado pela Fundação Pierre Verger e faz parte do projeto 16 Ensaios Baianos. Com a exposição “Raízes”, a artista buscou dar visibilidade ao cotidiano e à luta das comunidades de Lagoa do Mato, Vereda dos Cais e Sapé, localizados a cerca de 600 km de Salvador.

A exposição “Raízes”, que é a terceira edição da série, foi realizada em parceria com a Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 e também destaca a presença de lideranças femininas quilombolas. Nas edições anteriores, o projeto 16 Ensaios Baianos já trouxe os ensaios “Vaqueirama”, de Ricardo Prado, e “Herança do Pai”, de João Machado.

As fotografias de “Raízes” foram capturadas como parte de uma iniciativa para dar visibilidade às necessidades e à resistência destas comunidades. A venda das fotografias durante a exposição será revertida para as próprias comunidades fotografadas, deduzidos os valores de custo de impressão e as comunidades receberão exemplares do catálogo da exposição.

Além da exposição Amanda Tropicana expande seu portfólio com projetos que investigam as relações culturais entre a Bahia e os países africanos. Recentemente, ela desenvolveu o projeto “Foto-Diáspora: Moçambique”, pesquisa fotográfica que, por meio de várias imersões, examina as conexões culturais entre a Bahia e os países africanos envolvidos na diáspora forçada do século XIX. O projeto teve sua primeira circulação em Maputo e Ponta D’Ouro, em Moçambique, e passagens rápidas por Johanesburgo, na África do Sul. Em 2025, o projeto se expandirá para outros dois países africanos.

Exposição fotográfica Raízes, de Amanda Tropicana na Galeria da Fundação Pierre Verger, no Centro Histórico de Salvador.

Exposição “bab_ado” ocupa a Queerioca.

A Queerioca, centro cultural dedicado à resistência e à celebração da arte e da cultura LGBTQIAPN+ no Rio de Janeiro, inaugura no dia 14 de dezembro, a exposição coletiva “bab_ado”, reunindo os trabalhos dos participantes da última residência artística da Bienal Anual de Bûzios (bab). Com curadoria do artista visual Armando Mattos, a mostra em cartaz até junho de 2025 apresenta obras inéditas e peças do acervo da bab, conectando os 15 anos de trajetória do projeto ao público carioca.

“Pela primeira vez em 15 anos, a bab bienal apresenta a experiência de seus participantes numa mostra fora de seu espaço de atividades. Esse convite da Queerioca é um desafio, pois abre espaço para uma nova experiência do Projeto, antes circunscrita à prática e discussão de situações artísticas experimentais, para apresentar o resultado dessa pesquisa a um público mais amplo, no Rio de Janeiro”,  explica Armando Mattos, também coordenador do Núcleo Educativo e Pesquisa do Instituto Gilberto Chateaubriand.

Arte, território e hospitalidade

Com 25 obras, a mostra reúne produções inéditas da 16ª edição da bab, bienal  anual búzios, realizada em 2024, além de destaques de edições anteriores. São trabalhos de artistas consagrados que exploram temas como deslocamento, meio ambiente e convivência. “O projeto bab sempre buscou ir além da criação de objetos. É sobre experimentação e convivência sensível entre artistas, público e a natureza, permitindo que esses encontros afetem suas produções”, comenta Armando Mattos.

“Esses elementos orientaram todas as edições do projeto desde sua estreia, em 2008, com a participação de Anna Bella Geiger, Artur Barrio e Ivald Granato (in memoriam)”, ressalta o curador.

Redimensionada por Armando Mattos para o público da Queerioca, esta versão da exposição valoriza registros documentais de experiências efêmeras, performances e ensaios artísticos. Entre os destaques estão: Kika Moraes (fotografia e objetos), Rodolfo Viana (fotografia), Fernando Codeço (instalação/print), Rafaela Rocha (foto/vídeo), Paula Scamparini (fotografia), Camila Rocha (desenho de observação), Karola Braga (instalação olfativa), Bernardo Backer (fotografia), Raphael Medeiros (objeto), Edu Barros (pintura), Armando Mattos (escultura), Felippe Moraes (objeto), Daniel Toledo (fotografia), Andy Villela (desenho). Além disso, o acervo do projeto traz para o espaço LGBTQIAPN+ carioca algumas das obras de nomes como Anna Bella Geiger, Panmela Castro, Laura Lima, Opavivará!, Marcos Bonisson, Luciano Bogado e Brigida Baltar (in memoriam), entre outros.

A complexidade da Arte Brasileira.

02/dez

O MAM Rio reabriu ao público dia primeiro de dezembro com a mostra “Uma história da arte brasileira”, que foi vista pelos Chefes de Estado e líderes presentes no G20. Como legado do evento ao museu e à cidade, o Bloco Escola será entregue reformado, e é lá que a exposição está sendo remontada.

O icônico prédio do Bloco Escola, com seus característicos cobogós, foi o primeiro espaço do museu quando inaugurado, em 27 de janeiro de 1958. O bloco que passaria a alojar as futuras exibições só foi inaugurado em outubro de 1967, ou seja, nove anos depois de inaugurado o primeiro edifício.

Em 1959, lá aconteceram os primeiros cursos do Atelier de Gravura. Dentre as exposições ali realizadas, destacam-se algumas que marcaram não apenas a história do museu, mas também da própria História da Arte Moderna no Brasil, como a “Exposição Neoconcreta” (1959); as mostras “Opinião 65” e “Opinião 66” (realizadas respectivamente em 1965 e 1966); e a “Nova Objetividade Brasileira” (1967).

As obras realizadas pela prefeitura incluem, além da limpeza dos cobogós, a regularização das muretas da laje, que ganhou novas pedras em granito, a impermeabilização de pisos e jardineiras, a execução de infraestrutura elétrica; reformas em pisos, paredes e teto de salas internas e o restauro da sala onde era o antigo depósito de filmes no Bloco Escola, além do restauro do chafariz, ali em frente.

Com curadoria de Pablo Lafuente e Raquel Barreto, a exposição reúne aproximadamente 65 obras, incluindo pinturas, esculturas e fotografias, de nomes consagrados como Tarsila do Amaral, Cildo Meireles, Lygia Clark, Adriana Varejão, Di Cavalcanti e Tomie Ohtake. O objetivo é explorar a diversidade e a complexidade da Arte Brasileira ao longo de mais de um século.

Vale conferir a nova mostra (desenvolvida a partir do acervo do MAM Rio) e as novas instalações do prédio.

Visita da arte argentina contemporânea.

29/nov

A Coleção Oxenford, considerada a mais expressiva de arte contemporânea da Argentina, será apresentada na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS. “Un lento venir viniendo – Capítulo III” fica em cartaz de 07 de dezembro a 23 de fevereiro de 2025. A abertura contará com a performance de bailarinos.

Essa exibição trata-se de um recorte da coleção do empresário Alec Oxenford, que, atualmente, reúne 600 peças de 200 artistas e promove um panorama da arte contemporânea argentina entre o final do século 20 e início do 21. No dia da abertura, ás 15h, será realizada a performance “Soy un disfraz de tigre”, da artista plástica Cecilia Szalkowicz, e às 16h, uma visita guiada pelo poeta e curador independente Mariano Mayer.

A seleção de trabalhos e de artistas para “Un lento venir viniendo” foi dividida em “capítulos” para as três mostras no Brasil, que já passou pelo Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói (Capítulo I) e Instituto Tomie Ohtake (Capítulo II), em São Paulo. Na Fundação Iberê Camargo (Capítulo III), o episódio estético de destaque é a literatura do porto-alegrense João Gilberto Noll (1946-2017), e, em particular, “A céu aberto”, obra que transborda de imagens e procedimentos para dar forma a uma sensibilidade que desafia a nossa própria experiência de mundo.

“Pensamos nas relações com cada cidade e com a arquitetura de cada museu. É realmente como uma história contada em diferentes capítulos. O título (“Um lento vir vindo”, em tradução livre) aponta este movimento, de criar um vínculo aos poucos, e que ele se estabeleça nas duas direções. O “Capítulo III” descobre no conjunto de afetos precários uma zona para o encontro e a retroalimentação entre duas forças experimentais: a literatura de João Gilberto Noll e a arte. A potência precária age como uma plataforma interpretativa com a que as peças selecionadas nos per mitem voltar a experimentar a arte e o mundo, as suas possibilidades e as suas impossibilidades”, destaca Mariano Mayer.

“Capítulo III”, que ocupará o segundo andar da Fundação Iberê Camargo, é composta por 50 obras de 45 artistas e apresenta uma diversidade de linguagens, entre pinturas, fotografias, vídeos, instalações visuais e sonoras, performances, esculturas, colagens e publicações, propondo uma reflexão sobre a “potência do precário” como uma condição de constante transformação e instabilidade, tanto nos objetos quanto nas pessoas.

Participam da mostra na Capital gaúcha trabalhos de Alejandra Mizrahi, Amalia Pica, Cecilia Szalkowicz, Clara Esborraz, Jane Brodie, Inés Raiteri, Julieta García Vázquez e Sofía Bohtlingk, Karina Peisajovich, Luciana Lamothe, Lucrecia Plat, Malena Pizani, María Guerrieri, Mariana López, Paula Castro, Sol Pipkin, Valentina Liernur, Valeria Maggi, Agustín Inchausti, Alberto Goldenstein, Alfredo Londaibere, Diego Bianchi, Dudu Quintanilha, Ernesto Ballesteros, Faivovich & Goldberg, Feliciano Centurión, Gastón Persico, Jorge Macchi, Leopoldo Estol, Luis Garay, Miguel Mitlag, Nicolás Martella, Oscar Bony, Ruy Krygier, Santiago De Paoli, Tirco Matute e Ulises Mazzucca.

Sobre Alec Oxenford

Cofundador da OLX e da letgo, Alec Oxenford é um empresário argentino residente no Brasil. É grande colecionador e membro ativo de comunidades internacionais em prol das artes latino-americanas. Entre 2013 e 2019, dirigiu a Fundación ArteBA. Atualmente, é membro do Acquisition Committee do MALBA e da Latin American and Caribbean Fund (LACF) do MoMA.

Sobre Mariano Mayer

Nascido em Buenos Aires, Mariano Mayer é poeta e curador independente. Entre seus últimos projetos como curador, figuram Prudencio Irazabal (MUSAC, León, 2024) e Táctica Sintáctica (Marres, Mastricht, 2023 e CA2M, Móstoles, 2022). Publicou também Ir al motivo (Galeria Elba Benítez, Madrid, 2023), Fluxus Escrito (Caja Negra, Buenos Aires, 2019) e Justus (Câmara Municipal de Léon, 2007) e dirigiu o programa em torno da arte argentina: Una novela que comienza (CA2M, Móstoles, 2017).

Estreia de dois artistas baianos.

27/nov

A Galatea anuncia a primeira itinerância de uma exposição do seu programa: Bahia afrofuturista: Bauer Sá e Gilberto Filho apresentada primeiramente em Salvador e agora chega a São Paulo, no espaço da rua Padre João Manuel, 808.

A mostra, com curadoria de Alana Silveira e Tomás Toledo, marca a estreia dos artistas baianos em uma individual na capital paulista e conta com dois núcleos expositivos: no primeiro, fotografias de Bauer Sá (1950, Salvador, BA), produzidas entre os anos 1990 e 2000, exploram a potência da ancestralidade afro-brasileira através de figurações do corpo negro representado como protagonista da cena; no segundo, esculturas em madeira produzidas desde 1992 até o momento atual retratam as cidades utópicas e modernas imaginadas por Gilberto Filho (1953, Cachoeira, BA).

O diálogo estabelecido entre os trabalhos dos artistas cria uma rica narrativa visual, conectando ancestralidade e fabulação em torno de futuros possíveis. A exposição ainda conta com texto crítico assinado por Ayrson Heráclito, artista e curador, e Beto Heráclito, escritor e historiador.

Bahia afrofuturista: Bauer Sá e Gilberto Filho

Até 25 de janeiro de 2025.

A presença da natureza.

Para a Art Basel Miami Beach 2024, Miami Beach Convention Center, FL, USA, A Gentil Carioca (Stand G17) apresentará uma seleção de obras que investigam a presença da natureza por meio das complexas interações entre o humano e o meio ambiente. Os trabalhos dos artistas revelam como essa conexão se manifesta tanto em dimensões simbólicas quanto materiais, abordando a criação como um ato simultaneamente natural e cultural. Assim, exploram as tensões e harmonias que permeiam esse diálogo essencial.

Participam desta edição: Agrade Camíz, Ana Silva, Ana Linnemann, Arjan Martins, Cabelo, Denilson Baniwa, Jarbas Lopes, Laura Lima, Novíssimo Edgar, Maria Nepomuceno, Miguel Afa, Misheck Masamvu, Vivian Caccuri, Renata Lucas, Rodrigo Torres, Sallisa Rosa, Vinicius Gerheim, O Bastardo, Kelton Campos Fausto e João Modé.

Exibições em  04, 05 (preview) de dezembro e 06, 07 e 08.

Espaço de diálogo entre trajetórias artísticas.

22/nov

A Art Lab Gallery, sob direção e curadoria de Juliana Mônaco, inaugurou mais uma edição do Circuito Contemporâneo. A exposição coletiva reúne 44 artistas, entre representados pela galeria e selecionados por edital público, consolidando-se como um espaço de diálogo entre diferentes trajetórias artísticas. A mostra estará aberta ao público até 07 de dezembro, na sede da galeria, localizada na Vila Madalena, São Paulo.

Com cerca de 200 obras, o Circuito Contemporâneo apresenta um panorama diverso da produção artística contemporânea brasileira, incluindo pinturas, esculturas, fotografias e joias autorais. A proposta curatorial, enfatiza a liberdade de expressão dos participantes, que apresentam obras em portfólio livre, destacando suas técnicas e identidades individuais.

A exposição é composta por 22 artistas representados pela Art Lab Gallery, como Canudim, Maria Eduarda Comas, Flavio Ardito e Sadhana, e 22 artistas selecionados por edital, entre eles Tomaz Favilla, Isaac Sztutman e Maria Estrela Joias. A diversidade dos participantes reflete a abrangência da iniciativa, que busca incluir produções de diferentes contextos regionais e sensibilidades culturais.

Artistas representados: Canudim, Carlos Sulian, Carolina Lavoisier, Crys Rios, Emanuel Nunes, Evandro Oliveira, Flavio Ardito, Germano, Graça Tirelli, Gray Portela, Heitor Ponchio, Joana Pacheco, Junior Aydar, Lidiane Macedo, Lolla, Maria Bertolini, Maria Eduarda Comas, Mari Kirk, Maurizio Catalucci, Patricia Ross, Ricardo Massolini, Sadhana.

Artistas selecionados: Adriana Piraíno Sansiviero, Anne Walbring, Barrieu Wood Design, GUS, Isaac Sztutman, Leticiaà Legat, Jorge Herrera, Juliana Rimenkis, Maria Estrela Joias, Maria Figueiredo, Nancy Safatle, Narcizo Costa, Priscilä Boldrïni, Pamela Lahaud, Rapha Masi, Robson Victor, Rogerio Oliveira, Roger Mujica, Silvio Alvarez, Simone Fiorani, Tomaz Favilla, Yan.

Três fotógrafas em foco.

Exposição de fotos emoldura o Brasil profundo com lentes europeias. Imagens das fotógrafas Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat estão em cartaz no Centro MariAntonia da USP.

Suíça, Alemanha e Inglaterra. Em meados dos anos 1940, três jovens saíam de seus países de origem devido à Segunda Guerra Mundial, iniciando trajetórias que as levariam, décadas depois, às aldeias indígenas do Brasil. As fotógrafas Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat penetraram nas terras Parakanã, Xikrin, Xingu e Yanomami, capturando imagens singulares dos povos locais. Cerca de 300 dessas imagens encontram-se exibidas na exposição “Trajetórias Cruzadas”, em cartaz até 23 de fevereiro de 2025 no Centro MariAntonia da USP. “Para essas três mulheres, a fotografia foi uma forma de estabelecer contato com a população brasileira. Apesar de falarem várias línguas, elas não falavam português quando chegaram aqui. Então, foi também uma forma de comunicação muito eficiente”, afirma a antropóloga Sylvia Caiuby Novaes, professora do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, curadora da mostra, que além das fotos traz também revistas, desenhos e um vídeo.

A exposição ocupa três salas do Centro MariAntonia. A primeira delas, intitulada Início, apresenta fotos da trajetória pessoal de Andujar, Vidal e Bisilliat. São imagens que remontam à infância e juventude das três fotógrafas, vividas em terras estrangeiras, e fotografias do começo das suas carreiras profissionais.

A segunda sala, chamada Outros Viveres, destaca as produções mais aclamadas das três fotógrafas, reunindo fotografias das aldeias indígenas visitadas por elas. Imagens de um incêndio no Xingu, feitas por Andujar em 1976, estão ao lado de fotos da estrutura de uma oca em construção, de autoria de Bisilliat, e de retratos de indígenas obtidos por Vidal, nunca antes expostos ao público.

Na terceira sala da exposição, Encontros, é exibido o vídeo Aqui é o Mundo, produção de 2023 dirigida por Maíra Bühler. O filme mostra as três fotógrafas conversando, enquanto manuseiam fotografias feitas em viagens pelas aldeias indígenas. As imagens expostas fazem parte dos acervos Instituto Moreira Salles (IMS), do Lisa, de Lux Vidal e da Galeria Vermelho.

Sobre as três fotógrafas

Claudia Andujar nasceu em Neuchâtel, na Suíça, em 1931. Passou a infância em Orádea, entre a Hungria e a Romênia. Entre 1944 e 1945, seu pai e sua família paterna, de origem judaica, são enviados aos campos de concentração de Auschwitz e Dachau. Em 1946, muda-se para Nova York com seu tio Marcel Haas. Casou-se com o espanhol Julio Andujar e adotou seu sobrenome. Entre 1949 e 1952, estudou no Hunter College e começou a pintar, inspirada pelo expressionismo abstrato. Decide vir para o Brasil em 1955, onde começa a se interessar por fotografia. Nos anos 1960, trabalha como fotógrafa freelancer para revistas brasileiras e norte-americanas, como Claudia, Realidade, Life e Look. Enquanto trabalhava em um número especial da revista Realidade dedicado à Amazônia, em 1971, entra em contato com os Yanomami. Sete anos mais tarde, funda, junto com outras pessoas, a Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY), que luta pelo reconhecimento do território daquele povo. Faz diversas exposições sobre os Yanomami, no Masp (1989), no Memorial da América Latina (1991), na Bienal de Arte de SP (1998), no MIS (2000), na Pinacoteca (2005), no Instituto Moreira Salles (2019) e na Fundação Cartier de Paris (2002 e 2020).

Lux Vidal nasceu em 1930, em Berlim. Passou a maior parte de sua infância e juventude na Espanha e na França, onde estudou Letras Clássicas. Em 1951 obteve o título de Bacharel em Artes pelo Sarah Lawrence College, em Nova York (EUA), onde cursou Antropologia, Literatura e Teatro. Chegou em São Paulo em 1955, lecionou na Aliança Francesa e no Liceu Pasteur, e, em 1967, voltou a estudar Antropologia na USP, onde realizou seu mestrado e doutorado. Em 1969, ingressou como professora no Departamento de Antropologia da USP e a partir de então desenvolveu diversas pesquisas e ações indigenistas, especialmente com os Mebengokré-Xikrin, do Pará, e os povos indígenas do Oiapoque, Amapá. Lux formou um grande número de antropólogos e antropólogas e contribuiu para a fundação de várias organizações indigenistas, como a Comissão Pró-Índio de São Paulo, e segue realizando publicações e trabalhos relacionados aos povos indígenas.

Maureen Bisilliat nasceu em 1931 em Englefield Green, na Inglaterra. Filha de uma pintora escocesa e de um diplomata argentino, morou em diversos países quando criança por conta da profissão de seu pai. Em 1955, estudou pintura com André Lhote e, dois anos depois, estudou artes em Nova York, na Arts Students League. Maureen vem para São Paulo em 1953 com seu primeiro marido, o fotógrafo espanhol José Antonio Carbonell e, em 1959, se muda definitivamente para o Brasil. Ela então abandona a pintura e começa a se dedicar mais à fotografia. Entre os anos 1960 e 1970, trabalha para a revista Realidade, da Editora Abril. Na mesma época, começa a editar fotolivros, onde traça equivalências entre suas fotografias e trechos de livros de autores brasileiros. Em 1973 faz sua primeira viagem ao Xingu com os irmãos Villas-Boas, mesmo ano em que inaugura a Galeria O Bode, em São Paulo. Em 1988, é convidada por Darcy Ribeiro a constituir o Pavilhão da Criatividade no Memorial da América Latina. Maureen publica diversos fotolivros, filmes e realiza exposições na Bienal de São Paulo (1985), Fiesp (2009), IMS (2020) e MIS (2022).

Fonte: Jornal da USP.

Uma exposição para Lita Cerqueira.

Para celebrar os 50 anos do trabalho da Lita Cerqueira, a primeira fotógrafa negra profissional do Brasil, a CAIXA Cultural Salvador, BA, inaugurou, uma exposição que reúne as principais obras da artista que retrata a cultura e a vida do povo negro no país. A visitação é gratuita e ocorre até o dia 20 de dezembro.

A mostra “O Povo Negro é o Meu Povo – Lita Cerqueira, 50 Anos de Fotografia”, organizada em sete núcleos curatoriais, destaca temas como ancestralidade e pertencimento, refletindo a perspectiva única de Lita Cerqueira como uma mulher negra e sua profunda conexão com o cotidiano e as histórias que eterniza através de suas lentes. Com um acervo de mais de 50 mil imagens, com obras em preto e branco de uma das mais ecléticas produções fotográficas do fim do século XX e início do XXI.

“Lita não apenas observa o mundo; ela o vive intensamente. Seu trabalho é um reflexo de sua própria história e das histórias daqueles que ela imortaliza através de suas lentes”, destaca Janaína Damaceno, curadora da mostra. Para Lu Araújo, que assina a coordenação geral, as fotos são manifestações de alma. “Ela consegue capturar a essência de cada pessoa, cada momento, com uma sensibilidade única. Lita é uma guardiã da memória do nosso povo”, afirma.

Em “O Povo Negro é o Meu Povo – Lita Cerqueira, 50 anos de fotografia”, a artista compartilha com o público não apenas imagens, mas uma narrativa visual que resgata a ancestralidade e celebra a cultura negra. A exposição é um convite para reconhecer e valorizar a beleza e a força de um povo que, através das lentes de Lita Cerqueira, ganha visibilidade e respeito, além de pertencimento e resistência.

Eixos da Exposição:

O primeiro eixo da exposição é “Andar com fé”, que retrata o sagrado afro-brasileiro. No segundo, “Para o mundo ficar Odara”, o destaque é a beleza negra. Em “Zum zum zum”, as fotos são das rodas de copeira, enquanto em “Vou fazer minha folia”, o tema é o Carnaval. No quinto eixo, “Filhas de Oxum”, a artista captura a espiritualidade e ancestralidade das festas populares. Já em “Doces Bárbaros” e “Atraca que o Naná vem chegando”, estão os momentos intimistas nos quais a fotógrafa acompanhou grandes nomes da música popular brasileira, como Gilberto Gil, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa. Atualmente, a artista participa da exposição “Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro”, em Inhotim, parte integrante da mostra dedicada a Abdias Nascimento. Também está nas mostras “Lélia em Nós”, no Sesc Vila Mariana em São Paulo, “Encruzilhadas da Arte Afro-brasileira” no CCBB de Belo Horizonte e na exposição itinerante “O que vem de dentro”, de Diógenes Moura.

Fonte: Mundo Negro