Arquitetura do Secreto

21/fev

O secreto está aqui. Supostamente revelado. Por que não admitir que a arquitetura mencionada no título desta exposição pode ser também a arquitetura desta galeria?
A Galeria do Ateliê inicia o ano 2017 com a exposição “Arquitetura do Secreto” da artista Monica Barki apresentando de 24 fotografias que registram performances realizadas em motéis do Rio de Janeiro entre 2013 e janeiro de 2017. A artista atua como protagonista revelando temas de histórias pessoais, assim como da esfera existencial coletiva. Monica espreita os bastidores onde são reproduzidos os estereótipos do feminino, tornando visível um erotismo pleno de alegorias, perversões e prazeres. A Galeria do Ateliê fica na Avenida Pasteur, 453 Urca, Rio de Janeiro, RJ.

 

Para o curador Frederico Dalton, “Arquitetura do Secreto” de Monica Barki é uma exposição sobre relações, sobre o olhar do poder e o poder do olhar. São muitos os atores aqui. E no drama destas relações se destacam o dizível e o indizível, o que pensamos saber sobre nós mesmos e os enormes esforços que empreendemos para de alguma forma existir. É um evento sobre o olhar do poder, sobre como o poder se veste, se configura e se organiza para melhor nos enquadrar; e sobre o poder do olhar, sobre como o poderoso olhar do espectador é capaz de nos desnudar”.

 
Sobre a artista

 
Entre as principais mostra individuais realizadas pela carioca Monica Barki destacam-se: Desejo, Galeria, Rio de Janeiro, 2014; Arquivo sensível, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, 2011; Lady Pink etsesgarçons, Galeria Anna Maria Niemeyer, Rio de Janeiro, 2010; Collarobjeto, Centro Cultural Recoleta, Buenos Aires, 2001; Colarobjeto, Galeria Nara Roesler, São Paulo, 2000;Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2000; Pinturas, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 1992. Além de mostras coletivas no Brasil e no exterior, a artista destaca: Contemporary Brazilian Printmaking, International Print Center New York, Nova Iorque, 2014; Gravura em campo expandido, Estação Pinacoteca, São Paulo, 2012; Arte em Metrópolis, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, 2006; Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, 2006; Arte Brasileira Hoje, Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM-RJ, 2005; 11ª Bienal Ibero-Americana de Arte, México,1998; 21ª Bienal Internacional de São Paulo, 1991. A artista possui obras nos acervos do MAM-RJ; MAM-SP; Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, MG; Coleção IBM, Rio de Janeiro e São Paulo; Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba, PR; Itaú Cultural, São Paulo, SP; Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Coleção João Sattamini, RJ, e Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Fortaleza, CE, entre outras.

 

Sobre o curador

 

O carioca Frederico Dalton formou-se em cinema pela UFF e é mestre em comunicação pela UFRJ. Estudou fotografia e vídeo na Academia de Arte (Kunstakademie) de Düsseldorf (Alemanha) com Nam JunePaik e NanHoover. Professor de Artes na FUNARTE, SESC e no Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro. Frederico Dalton também é escritor, tendo publicado o e-book “Minificções” pela Amazon.com.Seu trabalho artístico está documentado no livro intitulado “Fotomecanismos”, editado pelo Oi Futuro, Rio de Janeiro, em 2007 e em outras publicações. Vem produzindo textos para exposições e é o idealizador e curador da Galeria Transparente, uma galeria virtual que também se configura como exposição física e que teve exposições e eventos na Fundição Progresso, Sesc Friburgo e Centro Cultural Justiça Federal, Rio de Janeiro, RJ.

 

 

Até 31 de março.

Acervo do MASP no Rio

09/fev

Exposição leva acervo do MASP, o maior da América Latina, ao CCBB do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte e Brasília; parceria entre as instituições tem patrocínio do Grupo Segurador Banco do Brasil e Mapfre.

 

Ao longo da História da Arte, a representação da figura humana foi um meio de demonstração de poder do Clero e da aristocracia, da adoração de deuses e santos, da mimetização do real, da transformação da sociedade e da própria arte nos séculos 19 e 20. É esta diversidade de formas de representação que a mostra “ENTRE NÓS – A figura humana no acervo do MASP” apresenta ao público carioca, reunindo mais de 100 obras do maior acervo de arte da América Latina. A exposição tem curadoria de Rodrigo Moura e Luciano Migliaccio, da equipe de curadores do MASP, e traz obras dos maiores nomes da arte mundial como Rafael, Goya, Modigliani, Van Gogh, Picasso, Degas- e da arte brasileira: Almeida Júnior, Anita Malfatti, Portinari, Segall e Brecheret, entre outros tantos. Abrangendo um arco histórico que se inicia entre os anos 900-1200 D.C., com as peças pré-colombianas, e vai até os dias de hoje, estabelecendo um recorte cronológico e um diálogo entre as distintas formas de representação e culturas, a exposição abre com peças do acervo que reúnem as mimetizações do sagrado na arte da Europa Medieval, da África e da América pré-colombiana, compondo um diálogo entre os diferentes eixos da coleção do MASP.

 

Da Europa pré-renascentista, a mostra traz a “Nossa Senhora com o Menino” (1310-20), um dos motivos mais presentes na arte do período, esta atribuída ao Maestro de San Martino alla Palma, e Cristo Morto (1480-1500), de Niccoló di Liberatore dito l’Alunno. O jovem Rafael apresenta seu domínio da perspectiva e dos recursos compositivos e narrativos que o fez se destacar entre os artistas de seu tempo com “Ressurreição de Cristo” (1499-1502). As obras estão em diálogo com a escultura “Sant’Ana e a Virgem criança”, criada no século XVIII por um escultor baiano desconhecido, e esculturas da divindade Yorubá, presente em tribos da região do Congo e da Nigéria.

 

O Renascimento é o momento em que a pintura se volta para a busca da do humano na construção de um caráter exemplar, inserido no contexto histórico. Na mostra, esse novo tempo está representado nas obras de artistas holandeses como “Oficial Sentado”, 1631, de Frans Hals, e “Retrato de um desconhecido”, (1638-40), de Anton Van Dyck, obra inspirada na estética de Tizziano, que traz a representação de um ideal individual de nobreza por meio da figura de um melancólico aristocrata inglês.

 

O pintor e gravador espanhol Francisco Goya y Lucientes está presente com” Retrato da condessa de Casa Flores” (1790-1797) em diálogo com “A educação faz tudo” (1775-1780), do francês Jean-Honoré Fragonard. As obras, em composição com dois dos principais nomes da pintura acadêmica brasileira do século 19,“Interior com menina que lê” (1876-1886), de Henrique Bernardelli, e “O pintor Belmiro de Almeida” (século 19), de José Ferraz de Almeida Junior – evocam o surgimento do Iluminismo europeu e a busca por um ideal civilizatório brasileiro durante o Segundo Reinado.

 

A partir dos séculos 19 e 20, a mimetização do humano é o meio pelo qual se trabalham a sensibilidade da cor e da forma, explorando a experiência plástica, como na “Rosa e azul – As meninas Cahen d´Anvers” (1881), de Pierre-Auguste-Renoir, e “O negro Cipião” (1866-1868), de Paul Cézanne, obra que sintetiza os aspectos da pintura moderna.

 

“Nus” (1919), da pintora francesa Suzanne Valadon, tem como referência a concepção da cor puramente decorativa do pós-impressionismo e de Matisse para expressar o desejo de liberdade e comunhão com a natureza como ideal feminino.

 

Pablo Picasso, com “Busto de homem” -(O atleta), 1909, questiona de maneira provocadora os gêneros e limites da tradição pictórica com a figura de um lutador- provavelmente publicada em jornal. Com o formato de um busto, típico da tradição heroica comemorativa, o caráter do personagem em questão é definido a partir de volumes e texturas, como nas culturas grega e africana, que serviram de influência para todos os movimentos artísticos do início do século 20.

 

Desta época, a mostra traz, ainda, obras emblemáticas de Vincent Van Gogh, “A arlesiana” (1890); Paul Gauguin, “Pobre pescador” (1896); Pierre Bonnard, “Nu feminino” (1930-1933); Amadeo Modigliani, com “Retrato de Leopold Zborowski” (1916-1919), e uma série de esculturas de Edgar Degas que mostram a evolução dos movimentos de uma bailarina –“Bailarina que calça sapatilha direita” (1919-1932), “Bailarina descansando com as mãos nos quadris e a perna direita para a frente” (1919-1932) e o feminino, como em “Mulher grávida” (1919-1932) e “Mulher saindo da banheira” (fragmento), 1919-1932.

 

O Modernismo é o momento da instituição de uma nova identidade nacional, por meio do abandono do academicismo que marcou a arte brasileira no período do Império e da Primeira República até 1922, da exploração de novas temáticas, que buscam a composição do caráter nacional, e de técnicas artísticas.

 

Nas obras de Carlos Prado, “Varredores de rua” (Os garis), 1935, Roberto Burle Marx, “Fuzileiro naval” (1938) e “Vendedora de flores” (1947), obra doada ao museu durante a SP-Arte/2015, estão narradas à realidade do povo diante das injustiças do país, assim como Candido Portinari, com “São Francisco” (1941) e Maria Auxiliadora da Silva, com “Capoeira” (1970), que narram traços da cultura popular brasileira.Nomes referenciais do movimento trazem retratos de figuras importantes do mesmo. É o caso do “Retrato de Tarsila”, de Anita Malfatti, e o “Retrato de Assis Chateaubriand”, criador do MASP, por Flávio de Carvalho.

 

As marcas dos intensos conflitos sociais e políticos do início do século 20 estão nas obras do pintor e muralista mexicano Diego Rivera, “O carregador” (Las Ilusiones), 1944, e “Guerra” (1942), de Lasar Segall, imigrante judeu da Lituânia que se muda para o Brasil no início do século 20. Como é o caso também do pintor ítalo-alemão Ernesto de Fiori, que deixa a Alemanha fugindo da repressão nazista e se torna um nome influente do modernismo brasileiro dos anos 1930 e 1940. Do artista, a mostra apresenta a obra “Duas amigas” (1943).Um dos artistas mais importantes do modernismo brasileiro, o escultor de origem italiana Victor Brecheret, criador do “Monumento às Bandeiras”, marco das celebrações do quarto centenário da cidade de São Paulo, está representado por seu “Autorretrato” (1940).

 

A criação de um acervo fotográfico também tem sido uma constante na história do museu, que as sistematizou, entre 1991 e 2012, por meio das doações da coleção Pirelli MASP, com trabalhos de fotógrafos brasileiros ou que possuam ligações com o Brasil. É o caso da fotógrafa de origem suíça Claudia Andujar, cuja série “Yanomami” (1974), feita a partir de longos períodos de imersão nesta cultura indígena, dialoga na mostra com a fotografia de João Musa, Barbara Wagner, Miguel Rio Branco e Luiz Braga.Movimento fundamental para a elevação da fotografia à categoria de arte, o Foto Cine Clube Bandeirante, fundado em 1939, fomentou e divulgou a obra de autores como Geraldo de Barros, “Menina do leite” (1946), e Antonio Ferreira Filho, “Naquele tempo…” (sem data).

 

Os desenhos de Albino Braz, parte do núcleo de 102 obras doadas ao MASP em 1974 pelo psiquiatra Osório César, foram realizados por pacientes do Hospital Psiquiátrico do Juquery, no contexto da Escola Livre de Artes Plásticas. Outrora consideradas “arte dos alienados”, essas obras foram reclassificadas e, enquanto arte brasileira, receberam sua primeira exposição no Museu em “Histórias da Loucura: Desenhos do Juquery”.

 

Artistas contemporâneas também integram a mostra, reforçando o caráter do museu em estar aberto a novas mídias, suportes e linguagens da arte. Uma sala apresenta o vídeo “Nada É” (2014), do artista Yuri Firmeza. Pertencente à série “Ruínas”, o vídeo mostra diferentes momentos da história da cidade de Alcântara, no Maranhão, e a documentação da “Festa do Divino”. Trabalho (2013-16), de Thiago Honório, é uma instalação que se apropria de ferramentas recebidas como presente de operários durante a reforma de um espaço no qual o artista participava de uma residência artística, transformando-as em esculturas que metaforizam o corpo dos trabalhadores.A mostra se encerra com a instalação de Nelson Leirner, “Adoração” (Altar para Roberto Carlos), 1966, que remete a uma nova forma de sagrado nos dias de hoje.

 

 

 

De 08 de fevereiro a 10 de abril.

 

Cores de Robert Capa

08/fev

A exposição “Capa em Cores”, cartaz do Oi Futuro, Praia do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta uma faceta menos conhecida do fotógrafo Robert Capa, mas tão fascinante quanto, exibindo uma retrospectiva inédita das imagens coloridas do famoso profissional. Robert Capa foi um dos mais célebres fotojornalistas do século XX. Iniciou sua carreira em 1938, cobrindo na China a guerra contra o Japão. Morreu em 1954 cobrindo a Guerra do Vietnã, ao ser fatalmente atingido.

 

O acervo de cerca de 140 fotografias, feitas com filmes Kodachrome e Ektachrome, inclui retratos de grandes nomes do cinema, da moda e da arte como Picasso, Ava Gardner, Capucine, Humphrey Bogart, Hemingway, Ingrid Bergman e Roberto Rossellini. Ícone da fotografia mundial, o húngaro Robert Capa ganhou fama com seus registros de guerra em preto em branco. A exposição “Capa em Cores”, exibe trabalhos menos divulgados fotógrafo. A partir de 1941, Capa usou regularmente filme colorido, mas ao longo dos anos seu trabalho em cores foi praticamente esquecido. Com curadoria de Cynthia Young, a mostra inclui publicações contextuais e documentos pessoais.

 

Além das imagens, a mostra apresenta objetos e registros pessoais como cartas, revistas que publicaram as suas fotos e até o áudio de uma entrevista – a única gravação existente da voz dele. Entre as cartas, várias correspondências com a equipe da agência Magnum sobre as suas coberturas fotográficas; com o irmão, que o ajudava a vender as fotos, e, em especial, uma carta para a mãe contando sobre a vida em Londres, que revela o lado bem-humorado e divertido do fotógrafo.

 

“Capa em Cores” foi organizado pelo International Center of Photography se tornou possível graças ao Comitê de Exposições do ICP e graças ao Departamento de Assuntos Culturais da Cidade de Nova Iorque em parceria com sua Câmara Municipal. Inaugurada em janeiro de 2014, em NY, a exposição já foi exibida em Budapeste, Tours, Lille e Madrid, chegando agora ao Rio de Janeiro.

 

 
Até 09 de abril.

Fotos na Marcelo Guarnieri/Rio

03/fev

A Galeria Marcelo Guarnieri, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura, no dia 9 de fevereiro, a exposição “Série Azul – Caretas de Maragojipe”, com trinta fotografias sobre o Carnaval feitas por João Farkas, – pesquisador da cultura popular – em Maragojipe, pequena cidade no recôncavo baiano. As obras do artista integram importantes coleções no Brasil e no exterior em instituições como a Maison Européenne de la Photographie, na França; International Center of Photography (ICP), nos EUA; Museu de Arte de São Paulo, MASP;  Museu de Arte do Rio, MAR; Museu de Arte Moderna da Bahia, MAM-BA, e Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto.

 

Esta pesquisa para a série fotográfica desta exposição começou há três anos, quando João Farkas conheceu a tradicional festa de carnaval de Maragojipe, que recebeu o título de Patrimônio Imaterial do Estado, por manter, até hoje, a tradição centenária dos “caretas”, pessoas que se fantasiam com roupas coloridas e máscaras de pano que cobrem todo o rosto, com duas grandes orelhas pontudas para o alto. “Essa era a forma das pessoas curtirem o carnaval incógnitas. Esta maneira de brincar o carnaval acontecia em toda a Bahia, há registros em Salvador, mas com o tempo a tradição foi se perdendo e só se manteve nessa pequena cidade do recôncavo baiano”, conta João Farkas, que em seu trabalho pesquisa a cultura popular, já tendo lançado livros sobre a cidade de Trancoso e sobre a Ocupação da Amazônia.

 

João Farkas ressalta que as fotografias que serão apresentadas na exposição “registram o carnaval popular em toda exuberância criativa, que é própria do brasileiro em geral e dos baianos especialmente”. Nas fotos, os “caretas” aparecem em um fundo azul, que foi descoberto pelo fotógrafo na cidade. O muro, de um azul intenso, virou uma espécie de estúdo fotógrafico, onde ele registrou os “caretas” que passavam durante o carnaval. Por isso, a série foi intitulada “Caretas de Maragojipe – Série Azul”. As fotos, que medem 60 cm X 40 cm cada, são impressões digitais de altíssima qualidade em jato de tinta, sobre alumínio, garantindo sua permanência e conservação.

 

Durante três anos, o fotógrafo frequentou e registrou o carnaval de Maragojipe, até chegar nas fotos que serão apresentadas na exposição. “No inicio registrei toda riqueza e variedade da festa em Maragojipe, mas aos poucos fui percebendo e focando nos ‘caretas’ e, finalmente, no grande insight percebi tratar-se de retratos mascarados, com suas expressões e personalidades, num jogo fascinante de simultaneamente esconder e revelar”, diz.

 

Com um aspecto visual riquíssimo, o que chama a atenção de João Farkas é que “essa tradição é o reconhecimento de que criatividade e arte não são privilégio dos ‘artistas’ mas são características universais latentes em todos os seres humanos”. De acordo com o curador Diógenes Moura: “este trabalho mostra uma tradição popular registrada anteriormente por fotógrafos como Pierre Verger e Marcel Gotherot, mas agora resignificada pelas informações culturais contemporâneas sem perder suas raízes”. O também curador Paulo Herkenhoff considera que “esta Série Azul sintetiza a expressão da cor do século XXI”.

 

 

 

Sobre o artista

 

João Farkas nasceu em São Paulo, em 1955, e vive e trabalha entre São Paulo e Salvador. Formou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo e continuou sua formação como fotógrafo em Nova York, no International Center of Photography e na School of Visual Arts. Seu trabalho-documento “Retratos da Ocupação da Amazônia” recebeu a bolsa Vitae e o Prêmio Aberje, em 1988. Seu trabalho “De Trancoso ao Espelho da Maravilha” que retrata a vida naquele vilarejo bahiano antes da invasão turística, foi objeto de publicação em 3 livros: “Museu Aberto do Descobrimento” e Nativos e Biribandos” e “Trancoso”, publicado pela Editora Cobogó, em 2016. Publicou, ainda, o livro “Amazônia Ocupada” (2015) coeditado e apresentado por Paulo Herkenhoff. Dentre suas exposições mais recentes estão: “A cor do Brasil” (2016), no Museu de Arte do Rio (MAR); “Amazônia”, na Galeria Marcelo Guarnieri, São Paulo, e no Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto, ambas em 2015; “Amazônia ocupada”, no SESC Bom Retiro, em São Paulo, também em 2015; “Histórias Mestiças” (2014), no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo; “Órbita” (2014), na Galeria Marcelo Guarnieri, em Ribeirão Preto, entre outras. Em 2015 o fotógrafo doou a sua documentação sobre a Vila de Trancoso onde foi instalado um Memorial do Povo, da Paisagems e da Cultura de Trancoso.

 

 

 

Até 11 de março.

Mostra de German Lorca

02/fev

Um dos precursores da fotografia moderna brasileira, German Lorca apresenta suas experimentações em exposição “Arte Ofício/Artifício”, individual no Sesc Bom Retiro, São Paulo, SP. Contador de formação, German Lorca teve seu primeiro contato com a fotografia enquanto estudava contabilidade. E foi um de seus colegas de classe, que trabalhava em uma loja de artigos fotográficos, que vendeu para German sua primeira câmera. Entusiasmado com sua nova máquina, o filho de imigrantes espanhóis começou a fotografar os aniversários dos filhos, piqueniques, passeios e eventos de sua família. Um tio de sua esposa, atento ao novo interesse do jovem German, o incentivou a estudar fotografia e procurar um curso para sua formação. Há mais de 70 anos, quando Lorca começou a buscar escolas de fotografia, os cursos oferecidos eram extremamente técnicos, porém German estava interessado em investigar as possibilidades da linguagem e uma das alternativas para discutir o tema, na época, eram os fotoclubes. Em 1947, Lorca entrou para o Foto Cine Club Bandeirantes, onde conheceu o artista Geraldo de Barros, que incentivou as experimentações feitas por German e pelo grupo de fotógrafos de sua geração. Entre eles estavam Thomaz Farkas e Eduardo Salvatore, que viriam a se tornar, ao lado de Lorca, os precursores da fotografia modernista brasileira. Logo, a fotografia passou a ser o ofício do artista, que, influenciado pelos seus colegas fotoclubistas, aplicou suas experimentações também no seu trabalho com publicidade e posteriormente nos registros em cores. O artista, de 94 anos, realizou fotografias para os mais variados contextos alcançando resultados que denunciam sua capacidade de propor, para além do registro da imagem estática e das histórias que o momento captado pode sugerir, discussões sobre a linguagem, uma premissa do modernismo que está impregnado em sua obra fotográfica.

 

 

Sobre a exposição

 

Com curadoria de Eder Chiodetto, e organizada em módulos que nomeiam a exposição, “Arte Ofício/Artifício” coloca em uma linha do tempo as fotografias de Lorca desenhando conceitualmente os desdobramentos de sua pesquisa. No módulo Arte, a investigação da linguagem se apresenta através do experimentalismo e a fotografia extrapola as possibilidades do registro formal em preto e branco. Em Ofício, a fotografia como laboro de Lorca aparece na mostra. Atento às necessidades do mercado de publicidade que crescia nos anos 1950 em São Paulo, German inaugurou seu estúdio de fotografia e passou a realizar trabalhos para marcas de renome que podem ser vistas na exposição. Por fim, no módulo Artifício, Lorca apresenta pela primeira vez seus experimentos em cores. Realizados desde a década de 1970, esta parte da exposição revela como German continua atento às novas possibilidades da linguagem e reafirma a atemporalidade de sua obra.

 

“As coisas acontecem e você faz as coisas acontecerem. Fazer acontecer é produzir uma foto e quando acontece você tem que estar com a máquina pronta no momento, como dizia o francês (Henri) Cartier-Bresson ‘o minuto decisivo’, mas eu digo o seguinte, você faz acontecer a foto, você constrói a foto”, German Lorca.

 

 

Até 26 de fevereiro.

Wolfenson no Anexo/Millan

26/jan

O Anexo Millan, Anexo, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta série inéditas de fotografias na exposição individual “Nósoutros”, de Bob Wolfenson, realizadas nas ruas de visitadas pelo mundo afora, com ênfase em Nova Iorque. O fotógrafo paulistano apresenta, desta vez, um conjunto de 28 trabalhos feitos ao longo de quatro anos, em cerca de 15 cidades do mundo, sempre em esquinas, cruzamentos e faixas de pedestres.

 

A palavra do artista
Nósoutros
A ideia desta série me ocorreu em 2012, num passeio pela praia de Coney Island, nos arredores de Nova York. Ao iniciar o caminho de volta a Manhattan, observei com interesse uma massa de desconhecidos entre si que aguardavam para atravessar a rua depois de um dia de lazer intenso sob o sol escaldante do verão nova-iorquino. A postura compartilhada de meros pedestres esperando o sinal abrir os tornava semelhantes, ao mesmo tempo que figurinos e tatuagens, anatomia, cor da pele e atitude (euforia ou introspecção) os distinguia. Fotografei-os com minha Leica de pequeno formato e guardei essas imagens como uma simples curiosidade de viajante. Mais tarde, ao revê-las em meu computador, surgiu a vontade de fotografar e organizar cenas como aquela mundo afora, ressaltando um dos mais marcantes paradoxos do ser humano, tão evidente naquele primeiro instante registrado: o de ser igual e diferente, o desejo de pertencer a um grupo e ao mesmo tempo querer se distinguir dele.

 

A ambição de criar painéis representativos de identidades humanas diversas porém genéricas me levou a vários países e populações. Um ano depois voltei a Coney Island, devidamente equipado com uma câmera de médio formato cuja performance na captura das imagens em alta definição é sua característica principal – suponho e quero que este aspecto permita ao espectador passear os olhos pelas ampliações e ver até o que o fotógrafo não enxerga quando dispara o obturador. Escolhi também fotografar grupos mais singulares, como os judeus ortodoxos de Crown Heights, os afro-americanos do Harlem, ambos em Nova York, bem como executivos engravatados chegando ao trabalho num típico dia de frio do inverno inglês, na City londrina. No mais, a maioria das cenas mostradas aqui foi feita a partir da procura fortuita de lugares onde o afluxo de transeuntes parecesse adequado ao meu intuito. No entanto, ao postar a câmera em um cruzamento e apontá-la para os que vão atravessar a rua, encontrei naturais desconfianças, mas encontrei também: as velozes transformações dos hábitos urbanos, os múltiplos signos da moda e a pluralidade étnica cada vez mais comum na vida contemporânea. Tudo isso emoldurado por recortes nas grandes metrópoles e pela condição climática vigente de cada época e local, a qual determinava a roupa e os humores dos passantes.

 

O processo de realização das fotografias seguiu princípios rígidos: as tomadas foram sempre feitas em cruzamentos ou faixas de segurança, e as pessoas estavam de fato naqueles lugares, mesmo que não tenham sido fotografadas no mesmo momento em que as que aparecem a seu lado na cópia final. Fiz algumas montagens para ressaltar os pressupostos que me levaram a realizar esta ideia. Por mais racional que seja uma empreitada como esta, o imponderável estará sempre presente enquanto houver o instante fotográfico. Nos anos em que me dediquei a este trabalho, pude perceber claramente que quando se está com uma máquina fotográfica no meio da rua, mesmo que com um tripé e com conceitos específicos em mente, não se pode controlar muita coisa. A rua é viva e nos impõe essa vivacidade.

 

 

 

 

De 31 de janeiro a 24 de fevereiro.

 

Paula Klien em Berlim

14/jan

Há alguns anos distante das lentes do circuito de moda e celebridade, no qual se destacou como uma das maiores fotógrafas do meio, tendo registrado personalidades nacionais como os atores Alexandre Nero, Marjorie Estiano e o arquiteto Oscar Niemeyer, dentre mais de 200 outros nomes conhecidos, Paula Klien dá uma guinada em sua trajetória e realiza exposição individual.

 
Após meses de intensa criação, esta carioca de Ipanema vai apresentar sua primeira individual de pinturas, em fevereiro, na aquabitArt gallery, situada na Auguststrasse, referência do circuito de artes em Berlim.

 
Utilizando técnicas de nanquim, a solo “Invisibilities” vai reunir dez grandes pinturas sobre papel, outra em grande dimensão sobre tela medindo 1,80 X 1,48cm, dois backlights, e um trabalho de caráter tridimensional feito de espuma com pintura em nanquim.
Em sua carreira fotográfica, a artista já participou de duas bienais e assinou campanhas e editoriais nas revistas Vogue Brasil e Rolling Stones. É autora dos ensaios “Gatos e Sapatos” e “ It`s Raining Men”, participou também de projetos como “Shakespeare – Retratos de uma Festa Luminosa”, “ Mulheres de Verdade”, “Brasileirice” e “Natural do Rio”. Foi agenciada, no Brasil, pela ABÁ mgt e representada no exterior pela Production Paradise. A divulgação do evento é de Fábio Cezanne, da Cezanne Comunicação – Assessoria de Imprensa em Cultura e Arte.

Ricardo Nauenberg | Entre Terra

16/dez

Fotografia
Curadoria Marc Pottier

 

Centro Cultural Correios RJ

 

Abertura: terça, 20 de dezembro, 19h
Aventura visual

 

Imagens de um subterrâneo urbano desaparecido

 

Ricardo Nauenberg tem um extenso currículo em TV, cinema e design, mas no começo de sua formação artística a fotografia foi seu principal instrumento de trabalho. Em maio de 2015, ele decidiu voltar ao imediatismo do clique.O cenário escolhido foi o subterrâneo da construção da Linha 4 do metrô carioca, inaugurada em agosto desse ano para a Olimpíada: uma paisagem à qual o público não teve acesso e desapareceu definitivamente quando a obra ficou pronta.Entre milhares de cliques, Nauenberg e o curador Marc Pottier escolheram 89 para compor a mostra “Entre Terra”, que abreem 20 de dezembro no Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, ocupando 600 metros quadrados de área expositiva. Acrescido de mais imagens, esse conjunto renderá também um livro a ser lançado no ano que vem.

 

As fotografias em cor e preto e branco não são sobre a obra de engenharia, mas sobre a capacidade de o homem interferir no meio ambiente. Nauenberg conta: “Decidi mergulhar em um ensaio sobre o tema e durante um ano fotografei essas interferências, procurando focar se eram cicatrizes (se mal feitas) ou tatuagens (se bem planejadas)… uma ação forte do homem no meio ambiente, com imagens e formas que surpreendem e que desapareceram, pois o processo se completaria em aproximadamente um ano”.

 

“Entre Terra” é um registro estético, distante do fotojornalismo. O que interessa a Nauenberg é, por exemplo, documentar uma paisagem transitória que ninguém captou, uma “Serra Pelada” submersa, como ele descreve. A lente de 600 mm, que achata planos, e a 7 mm, que distancia e cria linhas e perspectivas, foram sua escolha para se afastar do enfoque documental, jornalístico. Afinal, o que mais o atrai é a “interpretação do real” e não o factual.

 

O curador Marc Pottier diz que “[…] o que é essencial aqui é o que permanece invisível: a impressão, fotografia após fotografia, de um fascínio notável e imenso que vem da repetição e da revelação do poder de um artista que consegue impor a realidade a este mundo abarrotado com leis desconhecidas e a confirmação de que este trabalho é realmente o resultado de uma aventura espiritual profundamente vivida no limiar entre o consciente e o inconsciente. É a vitória do efêmero. Nas fotografias de Ricardo Nauenberg, o tempo parece já ter destruído a criação do homem.”Esse ensaio fotográfico sobre as variações humanas e geográficas foi realizado nas escavações do Itanhangá(Barra da Tijuca), da Antero de Quental e Igarapava (Leblon) e Praça Nossa Senhora da Paz (Ipanema).

 

 

Sobre o artista

 

Depois de uma rápida passagem pela pintura, estudando com Ivan Serpa, Ricardo Nauenberg se dedicou a colagens a partir de imagens reais. Na pesquisa por texturas e formas, passou, muitas vezes, a produzi-las com uma câmera fotográfica. Daí à fotografia pura foi um passo: estagiou no lendário estúdio Plug, de David Drew Zingg e Eduardo Clark, filho de Lygia Clark. Quem também trabalhava nesse estúdio como designer era um jovem alemão chamado Hans Donner, que acabou levando Nauenberg para a TV Globo, onde iniciou uma trajetória no design, na televisão e no cinema, seguida até hoje através de sua produtora de conteúdo Indústria imaginária.Durante dez anos na Globo, Nauenberg transitou do time de programação visual como diretor de arte a direção de Caso Verdade, Primo Basílio, de musicais como Free Jazz, Sting e Tina Turner e videoclips para o Fantástico. Deixou a TV Globo para se dedicar à montagem da TVA, primeira televisão a cabo no Brasil (do grupo Abril), e no desenvolvimento de série de ficção para a Rede Manchete.Com formação polivalente, em Design, Arquitetura e Economia, Nauenberg assina a criação e direção de séries de TV aberta e fechada sobre teatro, dança, meio ambiente e futebol; de espetáculos multimídias, de som e luz. É dele a criação e produção dos museus de Pierre Cardin na França, Japão, China e Austrália. Dirigiu o longa “O inventor de sonhos”, em 2013, com Sheron Menezes, Stenio Garcia, Icaro Silva, entre outros.Junto com a preparação da mostra Entre Terra, Ricardo dirige a série “Nas nuvens” (canal Arte 1), o doc “Cruzada São Sebastião” (Globo News) e a quarta temporada de “Audioretrato” (Music Box Brazil).“Nas nuvens” é sobre a feitura de super hits de Lulu Santos, Paralamas, Titãs, Paula Toller, Fernanda Abreu entre outros, nesse estúdio carioca histórico que dá nome ao programa. Em “Cruzada São Sebastião”, ele propõe uma radiografia humana desse “bairro” dentro do Leblon. “Audiorretrato”, já na quarta temporada, é um seriado sobre a “pessoa física” e não a jurídica de músicos brasileiros de tendências diversas.
De 21 de dezembro a 02 de março de 2017.

Otto Stupakoff: beleza e inquietude

A retrospectiva dedicada ao fotógrafo paulistano Otto Stupakoff, 1935-2009, com curadoria de Bob Wolfenson e Sergio Burgi, reúne cerca de 300 fotografias, além de publicações e vídeos apresentando sua extensa produção, realizada entre 1955 e 2005. Seu acervo está sob a guarda do Instituto Moreira Salles, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, desde 2008 e é composto por 16 mil imagens.
Pioneiro da fotografia de moda no Brasil, Stupakoff foi um dos fotógrafos brasileiros de maior projeção internacional. Além de ensaios de moda e retratos de celebridades internacionais do mundo das artes e da política, produzidos para revistas como Harper’s Bazaar, Life, Esquire, Glamour, Look e Vogue,Otto Stupakoff, que passou a parte mais produtiva de sua carreira vivendo em Nova York e Paris, deixou conjuntos menos conhecidos de retratos, nus, instantâneos de rua, fotografias de suas incontáveis viagens pelo mundo – inclusive pelo Ártico – e experimentações no limite do abstracionismo.
Para contemplar toda a sua trajetória, a mostra se divide em quatro grandes temas: seus anos de formação e primeiros trabalhos nos anos 1950; os anos de 1960 a 1970 e sua colaboração com as principais revistas de moda do mundo, como a Harper’s Bazaar e a Vogue francesa, além de retratos de personalidades como Jack Nicholson e Truman Capote; sua série de nus; e uma sala dedicada às viagens que fez.
Para o curador Sergio Burgi, “a obra de Stupakoff se associa com aquilo que Umberto Eco, no seu livro História da beleza, definiu como a beleza inquieta do Renascimento, em que forma, proporção e equilíbrio convivem com estranhamento e inquietação. As incursões de Otto nas artes plásticas ao longo de toda a sua trajetória, particularmente por meio de suas colagens e assemblagens, em paralelo às suas fotografias de naturezas-mortas e construções imagéticas quase surrealistas, convivem com fotografias verdadeiramente icônicas, de grande beleza e encantamento. Destacam-se, em especial, as imagens do universo feminino e da infância, em retratos, nus, fotografias de viagens e registros de seu âmbito familiar e íntimo, concebidas e realizadas dentro de uma linguagem fotográfica que transita entre a modernidadee a pós-modernidade. Inquietude, imaginação, liberdade e beleza formam, assim, a matéria-prima essencial da obra de Otto Stupakoff.”

 

 

 

Até abril de 2017.

O Galpão exibe “Hallstatt”

14/dez

O Galpão, da Fortes D´Aloia& Gabriel, Barra Funda, São Paulo, SP, apresenta a mostra coletiva “Hallstatt”, cuja curadoria traz os nomes de Maria do Carmo M. P. de Pontes e KikiMazzucchelli. O elenco de expositores é composto por nomes nacionais e internacionais como Alexandre da Cunha, AmieSiegel, CandiceLin, CaraghThuring, Daniel Sinsel, ImanIssa, Joshua Sex, Manoela Medeiros, Mauro Restiffe, Nuno Ramos, Oliver Laric, Tamara Henderson e Tobias Hoffknecht.

 

 

Sobre a exposição

 
“Hallstatt” toma a noção de dualidade como ponto de partida para uma reflexão sobre o significado da repetição de signos, imagens e formas no contexto contemporâneo. A ideia de dualidade estrutura o pensamento ocidental desde o mito fundador da criação, estabelecendo-se como tema recorrente na literatura e na psicanálise a partir do século XIX. A exposição reúne a obra de treze artistas que, em suas práticas, lidam com o duplo por meio de diferentes estratégias, seja em seu entendimento mais fundamental – através de simetrias formais – ou filosóficos e existenciais: o duplo como um estado alterado de percepção, cópia, reciclagem ou índice de realidades paralelas. Ao propor mais questões do que respostas definitivas, a mostra visa ampliar a discussão em torno do tema, tão urgente em um momento em que verdades absolutas são cada vez mais propagadas – e o lugar da verdade, cada vez mais difícil de se identificar.

 
Hallstatt é um vilarejo cinematográfico situado à beira de um lago rodeado por montanhas na Áustria. Há cerca de cinco anos, passou a receber um enorme fluxo de turistas chineses – mais do que o habitual, mesmo para um lugar cuja principal economia é o turismo. Um deles, desavisado, revelou a um local que na província de Guangdong, na China, uma cópia idêntica de Hallstatt encontrava-se em estado já avançado de construção, para a surpresa dos menos de mil habitantes do vilarejo, que não haviam sido consultados. De fato, a China tem a prática de reproduzir monumentos ocidentais em seu solo, mas pela primeira vez copiava-se uma cidade inteira. Essa apropriação é especialmente simbólica considerando-se que Hallstatt possui a mais antiga mina de sal do mundo e um dos mais antigos sítios arqueológicos da Europa. De certa forma, trata-se assim da cópia por excelência: a apropriação da matriz de uma cultura.

 

 

Sobre os artistas

 
Alexandre da Cunha, Rio de Janeiro, 1969. Vive em Londres, é mais conhecido por esculturas que revisitam e ressignificam objetos cotidianos. Suas telas – que o artista enxerga antes como esculturas de parede do que como pinturas – seguem a mesma lógica ao incorporar materiais como esfregões, chapéus, conchas e escovas. A série Amazons (2014 – em andamento) tem como matéria prima toalhas de praia com estampas extravagantes. Cada uma das obras de Amazons reúne um grupo de toalhas a princípio idênticas, que Da Cunha tinge – dando a cada parte diferentes graus de nitidez – e costura em sequência, enfatizando noções de acúmulo e repetição.

 
AmieSiegel, Chicago, 1974. Vive em Nova York, trabalha majoritariamente com instalações audiovisuais que lidam, de diversas maneiras, com noções de dualidade. O vídeo Genealogies (2016) é uma espécie de arqueologia de referências da artista, em que ela articula a ideia de que há sempre citações a outras obras em projetos supostamente originais, tomando “O Desprezo”, filme de 1963 de Jean-Luc Godard, como estudo de caso. O clássico de Godard é também o tema de The NoonComplex (2016) uma projeção dupla acompanhada de um televisor em que ela desconstrói o filme, removendo digitalmente Brigitte Bardot da narrativa. O televisor mostra uma atriz reencenando os movimentos de Bardot, incitando o espectador a um processo dialético de sobreposição de imagens para obter uma narrativa completa.

 
CandiceLin, Concord, Massachusetts, 1979. Vive em Los Angeles, faz uso de diversos suportes para elaborar uma investigação minuciosa sobre o reino animal, focando sobretudo em fenômenos naturais e microrganismos como fungos e bactérias. Por exemplo, Hormonal Fog (Study #1) (2016, em colaboração com Patrick Staff) consiste em uma máquina de fumaça emitindo periodicamente uma substância que bloqueia a produção de testosterona. Nas colagens apresentadas em “Hallstatt”, a artista explora narrativas sobre fenômenos naturais que foram historicamente marginalizadas pela ciência: registros sobre homens que produzem leite materno, histórias sobre médiuns do sexo feminino que canalizam grandes figuras políticas, entre outras. Apresentadas como as amostras de espécies características dos museus etnográficos, esses trabalhos traçam uma história paralela da ciência que desafia categorias binárias tradicionais relativas ao gênero, às práticas culturais e à reprodução.

 
As pinturas de CaraghThuring, Bruxelas, 1972. Vive em Londres, perpassam noções de dualidade através de diferentes gestos. Por exemplo, o híbrido entre um vulcão e uma pirâmide – e, em nível mais fundamental, o tijolo que constitui esse híbrido – é uma imagem recorrente em sua obra. Outras de suas telas são inspiradas por composições de artistas canônicos, como Édouard Manet e FilippoBrunelleschi. Há ainda pinturas que Thuring enxerga simplesmente como duplas, uma precisando da outra para existir. Aqui, a artista mostra três telas quase idênticas nas quais retrata vulcões – versões em bordado de um desenho que ela realizou no início de 2016, que por sua vez é inspirado em guaches napolitanos do século XIX –, fagocitando a própria obra ao mesclar noções de fundo e figura. Thuring mostra também duas outras telas em que usa tijolos para construir figuras humanas executadas em escalas contrastantes: três homens diminutos posando em David Gandy (2014) e uma mulher agigantada em BrickLady (2013).

 
Daniel Sinsel, Munique, 1976. Vive em Londres, incorpora materiais orgânicos como sementes ou peles de animais em composições que perpassam a superfície bidimensional da tela, conferindo-lhes uma qualidade escultórica. Seus primeiros trabalhos, produzidos no início da década de 2000 – muitos dos quais retratavam jovens homens nus ou seminus – já apontavam explicitamente o seu interesse em explorar a noção de erotismo na pintura. Esse tema recorre em toda a sua produção, mesmo nos trabalhos onde a referência é menos evidente. Nas duas obras recentes apresentadas em “Hallstatt”, por exemplo, o erotismo é evocado a partir da relação criada entre aquilo que está dentro e fora da tela, daquilo que sua superfície oferece ou oculta ao espectador. Além disso, ao incorporar objetos cuja materialidade não é completamente identificável, cria uma espécie de trompl’oeil que levanta dúvidas sobre o que é realidade ou representação. Pintura/escultura, dentro/fora, realidade/representação são apenas alguns dos dualismos que perpassam a obra de Sinsel, calcada, acima de tudo, no jogo de sedução que o artista estabelece entre espectador e obra.

 
Na série de esculturas intitulada Lexicon (2012 -em andamento), ImanIssa, Cairo, 1979. Vive entre Cairo e Nova York, revisita obras de arte que são apresentadas na forma de estudos para remakes contemporâneos. Embora retenham os títulos dos desenhos, pinturas, esculturas e fotografias originais, os trabalhos resultantes não são reproduções fiéis ou cópias das obras originais, mas interpretações cujas formas diferem significativamente de suas fontes. Ao propor novas formas para esses trabalhos, Issa busca comunicar algo mais familiar e consistente com sua própria experiência a partir das ideias sugeridas pelos títulos. As esculturas são acompanhadas de legendas museológicas que contém breves descrições dos elementos originais, bem como sua procedência e data, oferecendo pistas sobre a identidade de seus duplos originais sem revelá-los completamente.

 
Joshua Sex, Dublin, 1985. Vive em Londres, é um pintor e escritor cuja pintura está intrinsecamente ligada a noção de reciclagem. Durante o seu mestrado no Royal CollegeofArts, em Londres (2011 – 2013), o artista passou a se apropriar de fragmentos de telas descartados nos corredores da universidade, usando-os como base para as suas composições. O que começou por necessidade ou diversão tornou-se um modus-operandi de Sex, que a partir de então passou a sempre necessitar dessas pistas na forma de vestígios para compor suas telas. O artista apresenta um conjunto de cinco pinturas realizadas entre 2012 e 2015.

 
As esculturas, pinturas, performances e instalações de Manoela Medeiros, Rio de Janeiro, 1991. Vive no Rio de Janeiro, têm como foco o corpo e suas relações com o tempo e o espaço. A alusão à pele e à permeabilidade são elementos recorrentes tanto nos trabalhos em que utiliza seu próprio corpo como nas instalações site-specific em que trabalha sobre as superfícies da parede para criar composições ambientais. Nessas últimas – a exemplo da instalação que a artista desenvolveu especificamente para “Hallstatt”, Manoela Medeiros descasca obsessivamente seções do revestimento das paredes e cria espelhamentos das formas produzidas pela sua ação, às vezes utilizando o próprio detrito de tinta produzido em sua feitura ou elementos tridimensionais incorporados ao trabalho.

 
As fotografias de Mauro Restiffe, São José do Rio Pardo, 1970. Vive e trabalha em São Paulo, são invariavelmente produzidas por meio de procedimentos analógicos e sempre em P&B, o que lhe permite obter uma gama de tonalidades e texturas muito mais ampla do que na fotografia digital. Ao longo das últimas três décadas, Mauro Restiffe desenvolveu um sólido corpo de trabalhos no qual a arte e a arquitetura são assuntos recorrentes. A arquitetura de Brasília e seu simbolismo cultural e político são pano de fundo para duas séries produzidas respectivamente à ocasião do empossamento do Presidente Lula (Empossamento, 2003) e do enterro de Oscar Niemeyer (Oscar, 2012), da qual uma das imagens está presente em “Hallstatt”. Ao registrar o mesmo local após um intervalo de tempo, o artista estabelece uma relação de dualidade entre as séries, que faz com que as imagens sejam atualizadas e ressignificadas. A exposição inclui ainda dois trabalhos da série Rússia (2015), que evidenciam o interesse de Restiffe em capturar imagens (pinturas, fotografias, etc) dentro da imagem fotográfica, ressaltando a relação dialógica entre espectador e imagem e a natureza ilusória da imagem.

 
Nuno Ramos, São Paulo, 1960, onde vive e trabalha, explora noções de dualidade, mimese, intertextualidade e repetição através de diferentes linguagens e materiais, que vão do texto à imagem, do som à encenação. Em “Hallstatt”, Nuno Ramos apresenta 3 cinzas (Ai, pareciam eternas!), uma instalação efêmera composta por cal, cinza e sal. O artista reproduz no chão do Galpão a linha da fachada de três casas em que morou ­­– a da avó, a da mãe e a casa onde os filhos nasceram – utilizando um pó diferente para cada contorno. Ao longo da exposição, as linhas desmancham-se e rearranjam-se com pisadas e vento. A obra alude a 3 lamas (Ai, pareciam eternas!), instalação site-specific realizada por Nuno Ramos em 2012 mas, sobretudo, ao deslocamento de lugares afetivos, da memória. O artista exibe também a obra “Un Coup de Dés”, que é uma versão em vidro e ácido do poema de Stéphane Mallarmé, “Un Coup de Dés Jamais N’Abolira leHasard” (1897), tido como o primeiro poema tipográfico da história. Na versão de Ramos, as lâminas de vidro são sobrepostas, permitindo que os versos, gravados no vidro em ácido, sejam lidos em sua totalidade. O artista contribui ainda com o ensaio Bonecas russas, lição de teatro, publicado originalmente em seu livro “Ó”, de 2008, e republicado no catálogo da exposição.

 
Desde o início de sua prática artística há cerca de dez anos, Oliver Laric, Innsbruck, Austria, 1981. Vive em Berlim, toma a cópia, apropriação e ressignificação como nortes de sua obra. Em “Hallstatt”, Laric mostra duas esculturas que integraram sua exposição recente no Secession, em Viena (Photoplastik, abril – junho de 2016), em que ele produz scans em 3D de esculturas públicas localizadas na mesma cidade – no caso, o Monumento à Auguste Fickert de Franz Seifert (1929) e Polar Bearand Seal, de Otto Jarl (1902) – e os reimprime em poliamida. O artista disponibiliza todos esses scans em um website, onde qualquer um pode baixá-los, apontando assim também para a noção de dispersão.

 
Tamara Henderson, New Brunswick, Canadá, 1982. Vive no Canadá, produz majoritariamente esculturas e instalações – por vezes funcionais – que ela imagina enquanto em um estado alterado de percepção, seja sob hipnose, barbitúricos ou durante o sono. Em “Hallstatt”, Henderson mostra duas grandes cortinas que produziu durante uma residência em HospitalfieldHouse, em Arbroath, na Escócia. As obras funcionam como um portal para uma realidade paralela imaginada pela artista, um elemento de transição que assinala o movimento de passagem de uma dimensão a outra. Cada uma das peças sintetiza o imaginário subjetivo associado a essas realidades, consistindo, nas palavras da artista, em “cartões postais de paisagens enxergadas através de escotilhas”.

 
Tobias Hoffknecht, Bochum, Alemanha, 1987. Vive em Colônia, formou-se na Kunstakademie de Dusseldorf, em 2013, onde estudou sob a orientação de RosemarieTrockel. Adotando uma estética minimalista, Hoffknecht produz instalações geralmente compostas de duplas de elementos escultóricos que criam diferentes relações entre o espectador e o espaço expositivo. Com acabamento preciso, suas peças se assemelham a ready-mades industriais, embora sejam trabalhos únicos fabricados de acordo com as especificações do artista. Assim, estabelecem um diálogo estreito com o design, muitas vezes evocando mobiliários ou interferindo diretamente na arquitetura do espaço expositivo. Em “Hallstatt”, Hoffknecht apresenta duas esculturas inéditas em madeira e aço inoxidável, materiais recorrentes em sua prática.

 
Ainda em exposição estão cinco duplas de pratos que pertencem a duas coleções particulares de São Paulo e datam entre 1750 e 1860. Alguns foram adquiridos já em pares; em outros casos, os colecionadores compraram um e esperaram anos até encontrar o seu duplo. Por serem manufaturados, cada peça apresenta pequenas diferenças em relação a seu par – uma flor maior, uma árvore com folhagem mais espessa e assim por diante – convidando o espectador a inspecioná-los minuciosamente, como em um jogo dos sete erros. Há uma exceção curiosa, em que a discrepância é a princípio óbvia; após uma análise próxima, percebe-se que enquanto ambas caldeiras apresentam diferentes cenas palacianas, suas bordas repetem o mesmo padrão.

 

 
Até 10 de fevereiro de 2017.