Fotografias de César Fraga

25/out

Uma viagem afetiva do fotógrafo e designer gráfico Cesar Fraga por nove países africanos resultou em uma exposição que lança um olhar sobre os lugares de memória do tráfico de escravos para o Brasil. A mostra “Sankofa: Memória da Escravidão na África”, em cartaz na Caixa Cultural Rio de Janeiro, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta um total de 250 itens, incluindo 54 fotos, totens multimídia, textos com descrições dos países visitados e recursos de interatividade.

 

A curiosidade pelos fatos que antecederam a história da escravidão e o fascínio em relação às proximidades culturais entre o Brasil e os países africanos que comercializavam escravos foram os fios condutores que levaram César Fraga à expedição, na qual investigou as próprias origens. O fotógrafo e designer é bisneto de uma beneficiária da Lei do Ventre Livre, que libertava os filhos das mulheres escravas nascidos a partir de 1871, quando essa legislação pré-abolicionista foi aprovada.

 

Durante um ano na África do Sul, ele percebeu a necessidade de dar sua contribuição para encurtar a distância cultural que separa o Brasil do continente africano. As fotografias que integram a exposição foram publicadas no livro “Do Outro Lado”, resultado da expedição de Fraga, que documenta a cultura e o cotidiano das localidades visitadas e, por vezes, sua correlação próxima com os costumes brasileiros.

 

“Grande parte do povo brasileiro vem da mistura entre colonizadores brancos, indígenas nativos e negros trazidos à força da África. Referências europeias não faltam, basta ligar a TV. Mas há muito ainda a se descobrir sobre nossos ancestrais índios e negros, os grandes silenciados da história. Foi assim que nasceu o projeto Do outro lado”, conta Cesar Fraga. Designer formado pela Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj),  ele é fotógrafo autodidata e já atuou em projetos na América do Sul, Europa, África, Ásia e Antártica.

 

 

Roteiro

 

Elaborado pelo professor e escritor João Reis, considerado um dos mais importantes africanistas brasileiros, o roteiro da viagem abrangeu cidades e regiões protagonistas do tráfico de escravos. Entre 2013 e 2014, foram 60 dias percorrendo Cabo Verde, Senegal, Guiné-Bissau, Gana, Togo, Benim, Nigéria, Angola e Moçambique, países de onde saíram boa parte dos 11 milhões de homens e mulheres vendidos como escravos – quase metade tendo o Brasil como destino –ao longo de 350 anos.

 

O nome da exposição – “Sankofa” – refere-se a um mítico pássaro africano de duas cabeças, que, segundo a concepção nativa, simboliza voltar ao passado para dar outro sentido ao presente.

 

 

 

Até 22 de dezembro.

Gaudí no Brasil

O Museu de Arte de Santa Catarina, Masc, Florianópolis, tornou-se a primeira cidade do país a receber a exposição “Gaudí, Barcelona 1900”, do arquiteto catalão Antoni Gaudí. A exposição conta com patrocínio da Arteris, com apoio do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte (SOL) e da Fundação Catarinense de Cultura (FCC).

 

 

Curadores destacam processos construtivos dos projetos de Gaudí

 

Os curadores da exposição, Raimon Ramis e Pepe Serra Villalba, destacam os processos construtivos dos projetos de Gaudí por meio de modelos tridimensionais que ressaltam detalhes de sua arquitetura. No design, móveis e objetos, que vão de maçanetas de metal a peças em cerâmica e madeira, mostram como a criação artesanal conseguiu fundamentar a indústria. O conjunto das obras reunidas do consagrado arquiteto catalão testemunha a invenção de uma original geometria, calculada a partir da observação e estudo dos movimentos da natureza. Com este princípio racionalista protagonizado pelo orgânico, Gaudí instaura uma estética moderna única que marcou definitivamente a cidade de Barcelona.

 

Para ilustrar ainda mais a potência de um período em que a capital da Catalunha surge como projeto moderno de cidade, os curadores selecionaram 26 trabalhos entre objetos e elementos decorativos concebidos pelos chamados ensembliers(artesãos de alto nível), além de 16 pinturas. São artistas contemporâneos a Gaudí, que desenvolveram suas obras conforme os preceitos do modernismo catalão. Entre eles destacam-se os pintores Ramón Casas e Santiago Rusiñol, e ensembliers como Gaspar Homar ou Joan Busquets, que decoraram e mobiliaram as casas da burguesia catalã do período.

 

Trata-se da mesma burguesia que colaborou para a inovação e processo de integração entre urbanismo, arquitetura, arte, design e indústria, atuando como mecenas dessa importante geração de artistas e artesãos que configuraram um dos movimentos mais férteis e representativos da cultura catalã. “Um momento em que foram construídos os fundamentos culturais da Catalunha atual, em que o processo industrial, o lado íntimo, o momento, o acaso, a mecanização, entre outros, vão ganhando espaço, e a atividade artística vai se abrindo a novas propostas”, explicam os curadores. Neste panorama, sugere ainda a dupla, a obra de Gaudí condensa o debate técnico, estético, ideológico e social da virada do século.

 

A exposição “Gaudí, Barcelona 1900” reúne 71 obras do mestre catalão, sendo 46 maquetes (quatro delas em escalas monumentais) e 25 peças entre objetos e mobiliário. Completam a mostra mais 42 trabalhos de outros artistas e artesãos de Barcelona, produzidos nos anos 1900. Os trabalhos expostos procedem do Museu Nacional de Arte da Catalunha, Museu do Templo Expiatório da Sagrada Família e da Fundação Catalunya-La Pedrera, Gaudí.

 

 

 

Até 30 de outubro.

Estandartes de Heberth Sobral

19/out

A Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, vai inaugurar a exposição “Estandartes”, de Heberth Sobral, sob curadoria de Marco Antonio Teobaldo, no dia 29 de outubro, a partir de uma inusitada releitura das obras de Jean-Baptiste Debret sobre os costumes de africanos escravizados no Rio de Janeiro. O artista cria as mesmas cenas retratadas pelo artista francês no passado, a partir do uso de peças de plástico da marca de brinquedos Playmobill. As nove obras da exposição são apresentadas em formato de estandartes de grandes dimensões, com forte influência dos festejos populares  e do Barroco de Minas Gerais, terra natal do artista.

 

Em 2010, Heberth Sobral exibiu pela primeira vez a série “Violência não é brincadeira”, na qual retratava cenas e tipos urbanos cariocas em situações de violência divulgadas nos meios de comunicação. A característica marcante dessas obras é o uso da estética do universo Playmobill que fazem as vezes dos personagens retratados pelo artista. Esta criação acabou por se tornar a marca registrada de Sobral, que continuou a explorar este recurso, partindo também para reproduções de cenas de obras de arte icônicas, e, posteriormente, na releitura de padronagens de azulejaria portuguesa que desenvolveu em uma residência artística em Cascais, Portugal.

 

De acordo com o curador da exposição, o artista teve uma grande dificuldade em encontrar no Brasil as figuras de Playmobill de personagens negros, deparando-se com o desafio em importá-las, para que pudesse criar seus dioramas e fotografá-los, com o enquadramento muito aproximado aos apresentados nas pranchas de Debret. Em alguns casos, foi necessário criar adereços de forma artesanal, como as máscaras de ferro, abanadores e algumas peças de vestuário. Em outros, houve intervenções para que a cenografia e figurino apresentassem aspectos de desgaste do tempo, como revela o curador Marco Antonio Teobaldo.

 

 

De 29 de outubro até 14 de janeiro de 2017.

Mondrian/De Stjil no CCBB/Rio

“Mondrian e o Movimento De Stjil”, é o cartaz atual do CCBB, Centro, Rio de Janeiro, RJ, trata-se de uma mostra panorâmica que apresenta pinturas, desenhos de arquitetura, maquetes, mobiliário, documentários, publicações de época e fotografias do grupo de artistas que criaram o movimento da vanguarda moderna holandesa, De Stijl, iniciado como revista em 1917. O ícone do movimento é o pintor Piet Mondrian. Esses artistas elaboraram um tipo de “arte total”, usando cores primárias para criar obras sem restrições, claras e limpas, de acordo como que eles imaginavam que seria o futuro. A exposição mostra também o percurso de Mondrian da figuração à abstração. O acervo foi cedido pelo Museu Municipal de Haia.O movimento que foi uma reação às atrocidades da I Guerra Mundial, procurou formas de mudar o mundo através da arte. Designers, arquitetos e artistas plásticos uniram forças, em 1917, para lançar a revista De Stijl (O Estilo), uma publicação, em preto e branco, com apenas 1 000 exemplares. Trinta obras de Mondrian serão expostas na mostra, ao lado de trabalhos de setenta de seus contemporâneos, no maior acervo do gênero já exibido na América Latina. “Vieram trabalhos de fases pouco conhecidas, mas repletas de obras-primas. Mondrian sempre esteve em busca de uma linguagem que priorizasse o essencial e teve uma longa carreira, cheia de influências, antes de se encontrar no Stijl”, diz o curador Pieter Tjabbes.

 

 

Até 09 de janeiro de 2017.

 

Individual de Pedro Hurpia

Os fenômenos naturais, percebidos pelo homem quando emergem a superfície e elevam-se como aparência, ou ainda, quando o corpo é impactado diretamente por terremotos, deslizamentos de terras, ondas sonoras, margeiam a preocupação estética e as formas de apreensão na relação olhar/objeto na recente pesquisa do artista plástico brasiliense Pedro Hurpia. As obras, que se realizam em plataformas como fotografias, vídeos, desenhos, esculturas e instalações, compõem a primeira exibição individual do artista – no Jardim Paulista – na unidade de São Paulo da Galeria Marcelo Guarnieri.

 

A produção e o olhar de Pedro Hurpia remetem-nos aos artistas-pintores-viajantes, que durante as suas travessias em diferentes regiões e contextos, recolhem o material bruto usado em seus projetos. Para a mostra na Marcelo Guarnieri, por exemplo, o artista trabalha com desenhos de paisagens reais, registradas pela fotografia e paisagens construídas pelo real ou imaginário, realizados a partir dos padrões geológicos que constam nessas fotografias.

 

Com imagens fotográficas realizadas pelo próprio artista – salvo exceção das estereoscópicas dos vídeos e instalação – tratadas como referência inicial, parte-se para a composição, a recombinação e novos direcionamentos no desenho. O registro fotográfico procura captar aquilo que na formação geológica não se mostra de imediato, e que está oculto do campo de visão; neste sentido, o desenho é a revelação que faz justiça conferindo formas aos “ocultos” da própria natureza.

 

As noções de deslocamento e colapso, não aparecem somente na relação entre a fotografia e o fotografado – a natureza – mas ao próprio meio fotográfico. “A pesquisa surgiu quando adquiri um aparelho estereoscópico. As fotografias, utilizadas neste aparelho, são duplicadas e colocadas justapostas com uma leve diferença de deslocamento horizontal entre uma e outra. Com o aparelho colocado na posição correta do usuário, permite que se tenha uma ilusão tridimensional da imagem em questão”, conta o artista, que ficou interessado nas duas imagens idênticas e na possibilidade em se pensar uma “terceira imagem”, a partir deste método. Desde então, Hurpia passou a se interessar por essa investigação em seu processo criativo, com objetos e instalações que trouxessem esses duplos de uma maneira sutil, sem um aparato que causasse ilusões ópticas.

 

“obverso // reverso”, título da exposição, trata desse duplo da paisagem, que pode ser transfigurado na imagem impressa ou em “objetos-estruturas”. Em ambos os casos, a preocupação com o olhar, a dimensionalidade e a apreensão fenomênica do objeto: o frente e verso, direita e esquerda, obverso e reverso. Cada imagem e cada objeto se particularizam, também, por apresentarem um outro lado, que, para o artista, conjugam a possibilidade de abertura de realidades infinitas, além da superfície bidimensional e plana da imagem. No caso da formação geológica, lastro na natureza em que a inquietação do artista iniciou a sua “jornada”, segundo as palavras do próprio viajante Pedro Hurpia: “há um caminho e camadas para se chegar atrás de onde se encontrava anteriormente; longe do campo de visão, mas que pode ser projetada pela imaginação de experiências passadas”.

 

 
De 29 de outubro a 26 de novembro, na unidade São Paulo da Galeria Marcelo Guarnieri.

 

Na Athena Contemporânea

18/out

A galeria Athena Contemporânea apresenta, a exposição “Saudade e o que é possível fazer com as mãos”, com obras inéditas da artista mineira Raquel Versieux. Com curadoria de Raphael Fonseca, será apresentada uma grande instalação, composta por cerca de 200 objetos de cerâmica, que ocupará o chão da galeria, além de fotografias, esculturas e vídeos. Raquel Versieux nasceu em Belo Horizonte, em 1984, e possui obras na coleção do Museu de Arte do Rio (MAR), já tendo participado de importantes mostras como “Rumos”, do Itau Cultural, além de exposições no Paço Imperial, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Centro Cultural Banco do Nordeste, entre outras importantes instituições.

 

As obras que serão apresentadas na galeria Athena Contemporânea foram produzidas este ano, a partir de sua recente experiência na cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, onde é professora de Artes Visuais na Universidade Regional do Cariri, e de uma residência artística na Cidade do México. “Essas experiências fizeram com que a artista travasse contato com novas concepções em torno da relação entre imagem, natureza e cultura”, afirma o curador Raphael Fonseca.

 

No chão da galeria, estará a grande instalação “Quenga coco loco”, composta por cerca de duzentos objetos cerâmicos, feitos a partir da modelagem do barro em contato com cascas de coco-da-baía e de carnaúba, chamadas de “quenga”. A artista coloca o barro dentro dessas cascas e as deixa dentro de seu carro. “Com isso, elas ficam impregnadas desta viagem, vão pegando uma impressão do tempo e destes deslocamentos”, explica Raquel Versieux. O barro depois é queimado em um forno a lenha, “que tem a ver com o contexto local”, e dá origem aos objetos que formam a instalação. Um vídeo desse processo em que os cocos acompanham a artista em seus trajetos de carro também estará na exposição. A escolha do coco é proposital, a artista o utiliza como um “signo de representação da paisagem local”. “É como os coqueiros e as palmeiras, que desde o século XIX são usadas em pinturas e desenhos para representar o Brasil”, ressalta a artista.

 

A exposição terá, também, cinco versões da obra “Coração seguro”, escultura feita em metal com 1,20m de altura. No topo dela há uma pedra vermelha bem característica da região do Cariri, uma rocha sedimentar do tipo “Arenito da Formação Exu”, que tem 96 milhões de anos. Essa pedra é usada no calçamento da cidade, no revestimento de muros, e também está presente na fundação das casas. “A coloração avermelhada me faz lembrar um coração. Criei a escultura de forma que a pedra ficasse na altura do meu coração”, diz a artista. Essas esculturas estarão expostas na mostra e também haverá uma fotografia delas feita por Raquel Versieux, com a chapada do Araripe ao fundo.

 

Na exposição estarão, ainda, oito fotografias, que retratam a paisagem e o uso da terra. A artista destaca que os trabalhos têm uma relação entre si, não só por tratarem da saudade, mas também pela relação entre imagem, natureza e cultura. “A saudade a que me refiro não é só minha, mas também uma saudade do material com o qual trabalho. Penso na saudade que uma pedra é capaz de sentir ao ser quebrada, por exemplo, é uma saudade pré-histórica”, conta a artista. “A forma como observo e reconheço a terra e as práticas que nela acontecem, somada ao estado solitário em um novo contexto geográfico onde predomina a caatinga brasileira, me levaram à reflexão em torno dos sentidos de distância e saudade”, diz.

 

 

Residência artística no México

 

Raquel Versieux está há oito meses morando no Ceará. Durante este período, esteve também em residência artística por duas semanas no México, que foram importantes para ela concretizar tudo o que estava vendo e vivendo no nordeste do Brasil. A escultura “Coração Seguro”, por exemplo, surgiu no México e foi finalizada no Ceará. “Vi um operário construindo uma espécie de cone na Cidade do México, que seria preenchido de concreto e que serviria de base para um poste de luz. Ou seja, depois ele retornaria a terra. Me apropriei da forma, que me fez chegar nesta estrutura. Nela, vejo a relação entre um coqueiro e um poste de luz”, afirma.

 

 

Sobre a artista

 

Raquel Versieux nasceu em Belo Horizonte, em 1984. Dentre suas principais exposições individuais estão a mostra “Antes da última queima”, na Galeria de Arte IBEU, em 2015; “When the houses live”, na Six Galerija, na Croácia, e “A feira da incoerência”, na galeria Athena Contemporânea, ambas em 2013. Dentre suas principais exposições coletivas estão “Pavilhão Casa França-Brasil” (2016); “Aparição” (2015), na Caixa Cultural Rio de Janeiro; “Encruzilhada” (2015) e V Mostra/ Programa Aprofundamento, ambas na EAV Parque Lage; “Em desencanto” (2014), no Museu Mineiro, em Belo Horizonte; “Encontros Carbônicos” (2014), no Largo das Artes; “Imaginário (2013), no Museu de Arte do Rio; “Fronteiras (2013), no Espaço Cultural Sérgio Porto, no Rio de Janeiro; “Convite à viagem: Rumos Artes Visuais 2011 – 2013”, no Paço Imperial, Rio de Janeiro; “Entrecruzamentos” (2013), na Galeria Athena Contemporânea; “Á deriva: Rumos Artes Visuais 2011 -2013”, no Museu de Arte de Joinville, “Deslocamento F(R)Icção” (2012), no Galpão Capanema – Funarte, no Rio de Janeiro; “Perpendicular Fortaleza” (2012), no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Fortaleza; “Convite À Viagem: Rumos Artes Visuais 2011-2013”, no Itaú Cultural, em São Paulo; “Mostra Energias na Arte Edp” (2010), no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo; “Hélio Oiticica: Museu É o Mundo”, no Itaú Cultural, em São Paulo, entre outros.

 

De 20 de outubro a 19 de novembro.

Coletiva na SIM galeria

17/out

A Sim galeria, Curitiba, Paraná, apresenta a exposição coletiva “Toda janela é um projétil,é um projeto,é uma paisagem” com obras assinadas por Alfredo Volpi, Ana Elisa Egreja, Andre Komatsu, Antonio Bandeira, Antonio Malta Campos, Awst & Walther, Caio Reisewitz, Cícero Dias, Djanira, Edgard de Souza, Guignard, José Pancetti, Julia Kater, Juliana Stein, Luisa Brandelli, Marcelo Moscheta, Manuela Eichner, Mayana Redin, Miguel Bakun, Patricia Leite, Paulo Monteiro e Pedro França. A curadoria é de Paulo Miyada.

 

 

A palavra da curadoria

 

Toda janela é um projétil, é um projeto, é uma paisagem

 

Na história da humanidade, nem toda morada tem janelas e nem toda paisagem se percebe desde ambientes interiores. Mas, toda vez que há janelas, é possível percebê-las como metáfora e metonímia de modelos de privacidade, abordagens do espaço público e concepções da paisagem. Quem abre janelas edita, idealiza e constrói seu território.

 

Na história da arte, nem toda imagem é representação e nem toda representação emula a espacialidade de uma janela. Mas, toda vez que se representa uma paisagem,existe a oportunidade de exemplificar, demonstrar, analisar, criticar e/ou refletir os modos de percepção e concepção do território atuantes em dada época e lugar.

 

Embora lide com escalas espaciais e temporais que podem extrapolar as dimensões das vidas dos indivíduos, a própria concepção da paisagem é uma ação humana,que se faz junto do ambiente natural, mas nunca coincide com ele. Ver o mundo,enquadrá-lo e representá-lo é um ato de linguagem e, por consequência, de desígnio,desejo, expectativa e apreensão.

 

Assim, a história das paisagens de um território não é apenas uma oportunidade para refletir sobre continuidades e rupturas entre estilos, subjetividades e técnicas de dada cultura, mas também um lugar privilegiado de reflexão sobre projetos de humanidade, sociedade e presença em dado ambiente habitado.

 

Toda janela é um projétil, é um projeto, é uma paisagem é um ensaio expositivo com alguns dos mais relevantes paisagistas modernos brasileiros (junto a seus ideais de tempo, espaço e vida) e diversos artistas contemporâneos que se dedicam contínua ou pontualmente a reencontrar imaginários possíveis para a existência em seus territórios.

 

Há um tanto de isomorfismo, outro tanto de coincidência, mas o que realmente motiva este ensaio é fazer aflorar hipóteses de geografia humana cantadas pelos artistas em suas paisagens.

 

O embaralhamento entre tempos e regiões pode servir para deixar latentes ressonâncias entre sentidos poéticos ou processuais, em detrimento de reiterações classificatórias ou cronológicas. Objetos e objetivos transbordam categorizações,enquanto cada artista histórico atrai uma vizinhança peculiar.

 

Cícero Dias evoca uma visada alegórica da paisagem brasileira e, assim, dialoga com Manuela Eichner, Luisa Brandelli, Ana Elisa Egreja, Patricia Leite e Mayana Redin, em um conjunto que traz ainda a ressonância do imaginário vernacular em Djanira.Em seguida, José Pancetti agrega abordagens da paisagem em que são soberanas a duração, a intensidade e a extensão praieiras, acompanhado por Caio Reisewitz,Juliana Stein e a dupla Awst& Walther – além um desdobramento da obra de Redine pontuações de Alfredo Volpi e Miguel Bakun.

 

Já Alberto da Veiga Guignard condensa a paisagem como essencial substância mnemônica que se pode empilhar, acumular ou atravessar. Nisso está acompanhado por Edgard de Souza e Julia Kater. Bakun também pontua a sala e em seguida desfila modos de apreender empiricamente seu entorno, como quem faz da arte ferramenta de teste, assim como Marcelo Moscheta e Pedro França.

 

Adiante, Antonio Bandeira enfrenta a paisagem urbana como tensionamento expressivo da grelha ortogonal, ao lado de André Komatsu e de outro conjunto de obras de França. Finalmente, Volpi aborda também o espaço urbano, mas como ritmo prosaico de cores e formas pictóricas. A malevolência sagaz de seus gestos é aqui aproximada de obras de Antônio Malta Campos e Paulo Monteiro.Frente a esse panorama, algo que talvez impacte os mais inquietos com o estado do mundo em geral e especialmente de nosso país e de suas políticas será o caráter minoritário dos projetos ambientais encapsulados por essas poéticas, o modo como todas elas contrastam radicalmente com o que o Brasil tem anunciado como signo do desenvolvimento e do progresso. Seriam então os artistas sempre românticos em sua concepção da paisagem? Ou será que somos nós demasiado cegos para a correspondência entre o que vemos pela janela e o que vivemos em nossos corpos.

 

Paulo Miyada

 

 

 

De 21 de outubro a 17 de dezembro.

Alberto Martí em Salvador

13/out

“Os Adeuses” é a mostra fotográfica que o Instituto Cervantes, Ladeira da Barra, Salvador, BA, apresenta a partir do dia 17 de outubro em sua galeria de arte. A exposição reúne 51 imagens em preto e branco do premiado fotógrafo espanhol Alberto Martí, que documentou a grande epopéia da emigração de habitantes da Galícia, norte da Espanha, para a América, no final da década de 1950. Um dos pontos de chegada foi o Brasil, com maior concentração no território baiano.

 

 

Na abertura da mostra, no dia 17, às 19h30, haverá uma apresentação de música tradicional galega. A exposição é um dos atos comemorativos à passagem da Semana da Espanha em Salvador, cuja programação incluirá eventos sociais e institucionais, além de desfile militar e uma homenagem ao espanhol Fadrique de Toledo, capitão das tropas que expulsaram os holandeses de Salvador no século XVII. Haverá ainda a chegada ao porto da capital baiana do barco-escola espanhol Juan Sebastian Elcano.

 

 

Sobre o artista

 

Alberto Martí Villardefrancos nasceu em A Coruña, na Galícia, em 1922. Começou a trabalhar aos 12 anos de idade numa tradicional e legendária loja de fotografia galega chamada “Foto Blanco”. Mais tarde, se tornaria um dos fotógrafos mais importantes do centenário periódico “La Voz de Galícia”, onde trabalhou por décadas.  Com mais de 70 anos dedicados à fotografia, Martí recebeu numerosos prêmios nacionais e internacionais, em cidades como Madri, Barcelona e Buenos Aires. A premiação mais importante foi ganha em Madri, em 1960 – o Prêmio Nacional de Fotografia.

 

Com uma visão jornalística e grande senso estético, Alberto Martí foi testemunha de tudo o que ocorreu na cidade de A Coruña durante as últimas sete décadas. Documentou especialmente o embarque dos galegos entre os anos 1957 e 1963 desde os portos da Coruña e Vigo.  São imagens protagonizadas por gente anônima que tinha na fuga da Espanha uma forma de buscar melhores condições de vida na América.

 

 

Navio seqüestrado

 

Com curadoria de José Caruncho, a exposição está estruturada em três áreas: A Ida, A volta e O Navio “Santa Maria” (barco que fazia a rota Caracas-Lisboa-Vigo e foi sequestrado em 1961 com 586 passageiros, pelo Diretório Ibérico de Liberação com o objetivo de atrair a atenção mundial sobre a situação que estavam vivendo Portugal e Espanha com as ditaduras de Salazar e Franco). Segundo Pilar Cagiao Vila, membro do Conselho da Cultura Galega, as fotografias de Alberto Martí rodeavam as partidas dos emigrantes, “desde a chegada ao porto, ao terminal de passageiros, até a espera da partida e a acomodação a bordo, passando pelo mundo dos trâmites, dos papeis e dos funcionários”.

 

 

Até 17 de dezembro.

Nova coletiva no MAM-SP

10/out

O Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, apresenta a exposição Greve Geral, elaborada por alunos do curso Laboratório de Curadoria e Criação, sob supervisão da curadora Veronica Stigger. A mostra conta com 23 obras do acervo do MAM e é apresentada na biblioteca, no corredor de acesso dos profissionais da instituição e no saguão do museu. Intitulado de “A idade do ócio”, o curso foi realizado no próprio museu, tanto no segundo semestre de 2015 quanto nos primeiros meses deste ano. Os 16 participantes desenvolveram a linha curatorial, idealizaram a comunicação visual e escolheram produções de diferentes suportes que demostram situações de interrupção imprevistas do trabalho.

 

 

Segundo Veronica Stigger, vivemos em uma sociedade que transforma o trabalho no valor mais alto para preservar melhor as relações sociais e, principalmente, a produção. “Daí que toda forma de suspensão imprevista das atividades como a preguiça, o ócio e, sobretudo, a greve sejam sempre vistas como modos de resistência política”, explica a curadora. “Não por acaso, a mostra começa em um dos interstícios de espaços de trabalho do museu, o corredor de acesso, para se desenvolver na biblioteca”.

 

 

A exposição conta com obras que sugerem uma fuga da labuta e convidam ao repouso e à preguiça como as fotografias de Otto Stupakoff e Juan Esteves, o desenho de Eduardo Iglésias e a xilogravura de Eduardo Cruz. Outras produções demostram a inoperância da máquina capitalista como a serigrafia “Desestrutura para executivos I”, de Regina Silveira, além da imagem de uma engrenagem na pintura de Sergio Niculitcheff e o desenho de pregos de Cláudio Tozzi.

 

 

Há, ainda, a peça de acrílico “A câmara clara”, de Nelson Leirner, que recusa a própria condição de obra. A contradição fica por conta da suposta artificialidade de uma família saindo de férias na fotografia “Aero Willys”, de German Lorca. Outro ponto alto da mostra é que haverá um rodízio das obras selecionadas no meio do período de exposição, quando as produções feitas em papel serão trocadas por outras com o objetivo de exibir ainda mais obras do acervo do museu. Para complementar, o espaço expositivo da biblioteca propicia a exibição de livros e catálogos abertos em páginas que também exploram o tema da exposição.

 

 

Até 18 de dezembro.

Mostra de Fifi Tong

27/set

A partir da influência da carga genética na construção da família brasileira, a fotógrafa Fifi Tong, de origem chinesa, nascida em Passo Fundo no interior do Rio Grande do Sul e radicada em São Paulo desde 1992, retorna às suas origens para expor 31 retratos em preto e branco nas salas Negras do MARGS, Centro Histórico, Porto Alegre, RS.

 

Tudo começou com o retrato da família de Fifi, após revelar as imagens percebeu que poderia realizar um projeto significativo, eternizando gerações. No início fotografou apenas mulheres, na sequencia resolveu retratar famílias que carregavam traços no tempo. Após quinze anos de pesquisa, a fotógrafa reuniu em seu livro, “Origem – Retratos de Família no Brasil”, 50 fotografias de histórias, de etnias, níveis sociais e de diferentes regiões.

 

Conhecida no meio publicitário como uma das grandes retratistas brasileiras, Fifi clicou filhos e netos de africanos, europeus e asiáticos. Um dos objetivos do livro é propor a discussão do valor da família, mostrando a diversidade que compõem a população brasileira, fruto de migrações incessantes, dotada de uma cultura favorável à miscigenação.

 

Sobre a artista

 

Fotógrafa de origem chinesa, nascida em Passo Fundo no interior do Rio Grande do Sul, começou a fotografar aos 17 anos e logo no primeiro ano, venceu o concurso, Criança Sem Fronteiras, na categoria Amador, em Porto Alegre/RS. Em 1980, aos 18 anos, ingressou no Art Center College of Design, em Pasadena, Califórnia, onde se graduou com o titulo de B.F.A em fotografia. Iniciou sua carreira, trabalhando em Los Angeles e Milão. Como free lancer colaborou para estúdios de grandes agências brasileiras como a DPZ e W/Brasil. Em 1992 abriu estúdio próprio, publicando em 2009, o livro Origem – Retratos de Famílias no Brasil, com exposição homônima no Memorial do Imigrante, em São Paulo, com curadoria de Diógenes Moura. De lá pra cá Origens percorreu o Brasil com exposições individuais em 2013 no Rio de Janeiro no espaço Furnas Cultural e em Salvador no Centro Cultural dos Correios no ano de 2015, já no exterior foi à vez dos argentinos apreciarem as belíssimas imagens captadas pelo olhar sensível de Fifi em Buenos Aires no Centro Cultural Borges e em Salta no Museo de Arte Contemporâneo ambos em 2012. O livro Origem em 2010, foi premiado em terceiro lugar, no International Photography Awards na categoria Livro do Ano. Inquieta a fotógrafa participou paralelamente a este grandioso projeto de outras exposições. Em 2010 da mostra coletiva Eternal Feminine Plural, na Organização Internacional do Trabalho, em Genebra. Em abril de 2012 expos imagens da série Um Lugar Só Seu, no Espaço de Arte Trio, em São Paulo, com curadoria de Carolina Magano Prado. Nesse mesmo ano, participou do XVII Encuentros Abiertos, no Centro Cultural Recoleta, em Buenos Aires, com a individual O Tempo está Passando, série de retratos que documenta pessoas com mais de cem anos. Ainda no mesmo ano, participa da coletiva O Mais Parecido Possível – O Retrato, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, com curadoria de Diógenes Moura. Em outubro de 2013, faz parte da coletiva Jornada da Longevidade Arte e Cultura, com a exposição Entretempos: memória, com texto de Simonetta Persichetti.

 

De 06 de outubro a 06 de novembro.