Linguagens do corpo carioca

01/jun

O Museu de Arte do Rio inaugura “Linguagens do corpo carioca (a vertigem do Rio)”. Resultado de uma vasta pesquisa realizada sob a curadoria de Paulo Herkenhoff e cocuradoria de Milton Guran. A exposição reúne 800 obras de artistas consagrados – como Evandro Teixeira, Pierre Verger, Mario Testino, Bruno Veiga, Ana Stewart, Ricardo Chaves, Ricardo Beliel, Ana Kahn, Benoit Fournier, Marcia Zoet, Marcelo Correa, Daniel Martins, Alexandre Mazza, Gustavo Malheiros, – e nomes menos conhecidos, mas que igualmente captaram a essência da alma carioca por meio de seus trabalhos. A mostra integra a programação do “FotoRio 2016” e tem o apoio do banco J.P. Morgan.

 

“Linguagens do corpo carioca (a vertigem do Rio)” será inaugurada em 07 de junho, ocupando a galeria A do Pavilhão de Exposições. Para marcar a ocasião, às 11h, acontece uma Conversa de Galeria aberta ao público e com entrada gratuita. Participam do bate-papo os curadores e alguns dos artistas cujas obras integram a mostra.

 

Em cartaz durante os Jogos Olímpicos, a exposição toma como ponto de partida o corpo de quem vive na cidade para pôr em discussão a identidade social como uma espécie de gíria gestual. A abordagem transversal, característica comum às mais diversas mostras do MAR, se repete em “Linguagens do corpo carioca”, que é dividida em núcleos e traz à tona as mais diversas faces da vida na cidade.

 

Entre as tendências lançadas por aqui estão o highline (exercício de equilíbrio sobre uma fita elástica esticada entre dois pontos fixo no alto) e o surfe no trem. A camaradagem e a aproximação entre as classes, possível devido à segregação social marcante, estarão presentes em imagens do antigo Píer de Ipanema e dos cotidianos do samba e das comunidades. Também serão representadas as multidões nos jogos no Maracanã, manifestações políticas e até as filas do INSS. A famosa ginga das capas de discos da bossa nova, a cultura afro, a relação com o mar e personagens do imaginário do Rio também integram a mostra.

 

Na contramão das belezas de ser carioca, o visitante é confrontado com um Rio melancólico e marcado pela violência, por uma oposição ao prazer. Nesse contexto, três séries merecem destaque: a primeira, da artista Ana Khan, mostra o vazio deixado no exato local onde pessoas foram vítimas de balas perdidas; seguindo a mesma poética, fotos do coletivo Mão na Lata, feitas com uma câmera pinhole – que por ter uma fixação lenta da imagem não capta movimentos- mostram locais onde há somente construções, sem qualquer tipo de vida; fechando o núcleo, a série “Universidade Federal”, de Walter Carvalho, reflete sobre os lugares do crime na cidade.

Mostra de João Farkas

31/maio

O povo, a paisagem e a vida na vila de Trancoso e arredores entre 1977 e 1993, compõem a exposição com 27 fotografias (sendo 4 impressas em alumínio de alta permanência, e as restantes emjato de tinta sobre papel de algodão, com qualidade museográfica,  nas dimensões de 60 x 90 cm), que João Farkas apresenta na Paulo Darzé Galeria de Arte, Salvador, Bahia.

 

A relação de João Farkas com Trancoso vem de longas datas, inteiramente verificado ao nos defrontarmos em suas imagens com a construção de casinhas de barro, a subsistência pela pesca, o lazer por meio da natureza, e um cenário da vida de um local pacato, através de seu povo, da sua paisagem e do seu cotidiano em imagens da vila de Trancoso e arredores entre 1977 e 1993.  Para o fotógrafo, a mostra, onde vemos um local pacato, tem o desejo que o hoje tenha orgulho deste ontem e reconheça a cultura local, além de alertar os turistas para a beleza e a magia, e que não se esqueçam de olhar o céu.

 

AntonioRisério, em longo texto no livro, onde analisa antropologicamente e historicamente a região, inicia dizendo: “As fotos de João Farkas me tocam assim, simultaneamente, em três planos: o estético (lembrando-me uma observação de Victor Hugo em Os Trabalhadores do Mar: à beleza basta ser bela para fazer bem), o histórico e o antropológico, sem nunca eclipsar o presente. Deixo a leitura do plano estético para filósofos, artistas e críticos do fazer artístico. E me concentro no Brasil profundo da zona cabralina de nossa fachada atlântica, hoje tantas vezes transformado e desfigurado. Não para analisá-lo, obviamente, que isto aqui não é um estudo ou ensaio. Mas para tocar em alguns pontos memoriais e presenciais que as belas fotos de Farkas avivam”.

 

Durante a abertura da mostra foi lançado – nacionalmente – o livro “Trancoso”, Editora Cobogó, com 128 páginas, projeto gráfico de Kiko Farkas, textos assinados porWalter Firmo e Antônio Risério, com apoio editorial da Paulo Darzé Galeria de Arte.

 

 

 

A palavra do artista

 

João Farkas e a Bahia é um amor antigo. “Tem aí uma história boa também, um parentesco indireto com Jorge Amado, porque meu tio Joelson, muito próximo a nós (casado com a irmã de minha mãe, Fanny) era irmão de Jorge e James. E a Bahia sempre foi uma coisa muito presente em nossa família. Meu pai, Thomas Farkas, tinha um fascínio brutal pela Bahia. Perguntado certa vez quem ele gostaria de ser se não fosse o Thomaz, respondeu: Batatinha. Vim muitas vezes a Salvador com ele e me hospedei algumas vezes na casa do Rio Vermelho, tendo sempre a riqueza cultural baiana muito presente”.

 

“Com Trancoso a coisa aconteceu na época da contracultura, após a ressaca da militância política. Foi uma descoberta do paraíso. E minha ligação foi imediata. Pensei em morar lá, comprei terreno, fiz casa e inúmeros amigos. Mas percebi que se morasse lá não faria o registro daquilo tudo que me parecia tão frágil e tão preciso. Aquele equilíbrio de séculos entre o homem e seu ambiente que nós mesmos os forasteiros acabaríamos alterando. Os fotógrafos que estavam por lá tinham as lentes mofadas e os filmes derretidos pelo calor. Era impossível trabalhar morando lá. Então eu virei um cigano que vinha sempre que possível e fotografava sistematicamente tudo: o trabalho, as festas, as casas, as pessoas. Fui aceito como uma pessoa local. Fotografava livremente”.

 

“Então quando começaram a sugerir que eu fizesse exposição deste material e livro eu pensei que os primeiros que deveriam ver este material e poder usufruir dele seria a própria comunidade. Daí nasceu o projeto de um Memorial do Povo, da Cultura e da Paisagem de Trancoso. Um pequeno museu que inauguramos agora em março de 2016. Foram 30 obras doadas que estão expostas provisoriamente no espaço da comunidade, no centro de Trancoso. Esta foi minha doação a eles. Doei também o uso de minhas imagens da vila para usos culturais. Uma das sensações mais gratificantes de minha vida foi ver o pessoal de Trancoso curtindo a exposição, reconhecendo amigos e parentes, discutindo as fotografias e a forma de vida de então. Maravilhoso”.

 

“Trazer isto a Salvador é outra missão, que o Paulo Darzé me ajuda a cumprir. A gente tem a sensação que a Bahia tem tantas coisas maravilhosas: a chapada, Itacaré, a costa do coco, do dendê, o recôncavo, a Baía de Camamu, é tanta coisa, tanta riqueza, que a região de Trancoso é mais usufruída pelos ‘sudestinos’ como diz Risério ou pelos franceses, italianos, holandeses e americanos do que pelos próprios baianos. É preciso incluir Trancoso na geografia dos soteropolitanos”.

 

 

Texto de Walter Firmo – De Quase Nada, Tudo

 

Ao pousar os olhos nas fotografias obtidas pela retina humanitária de João Farkas – numa memorável viagem aos confins de um paraíso terrestre em vias de extinção – penso no fazer fotográfico; ou como foi bom para a pintura o descobrimento da fotografia, uma vez que, libertada revelaram-se os Picassos e Dalis relegando o homem máquina fotográfica como um instrumento que se alimenta da realidade e que muito circunstancialmente nos devolve algo que vale a pena. A fotografia ainda é demasiadamente jovem (infinitos serão seus rumos) para um vaticínio seguro de sua maioridade como arte ou aquilo. Afinal o que é arte? Nestas fotografias tenho a sensação da gratificação do estar, do viver e isto me basta. O João é um emissário audaz, vigilante na arte de transmitir encantos mil a desafortunados cosmopolitanos. A função social da fotografia é também nos remeter o sopro da aragem e o doce perfume da felicidade e João segreda, na função decimal do segundo eterno “amém” folhas e sentimentos, luzes e arrabaldes daquela comunidade costeira arredia mas hospitaleira.O brilho de Farkas é puro estado sólido do espírito lírico, direito clássico na maneira de olhar o valor das coisas dimensionando o simples e transformando o quase nada em tudo, isto porque o toque mágico da lira do povo – preciso e paulatino – mostra o afago da necessidade de se ver nenhum momento supérfluo, porém, intimista e revelador.Visionário e carinhoso azuleja o singular na razão direta do cidadão que ama seu país, enaltecendo suas cores, expressando sua aldeia e sua gente, discursando o ambiente iluminado e as nuvens glorificadas; de quebra uma inesquecível aula de sociologia desnudando com elegância o caráter dos caboclos, mulatos e cafuzos “com todas as suas roupas comuns dependuradas salpicando de estrelas nosso chão”. É ele quem diz: “Eu queria uma coisa que saísse do coração, não importava o tamanho.” Aí a gente medita e também galopa o prazer do seu olhar, a candura, o mistério, ser feliz é estar, heróis de si mesmos, o riso, o digno, o gesto, a fatalidade de ser simples.Aliás, seu impiedoso olhar equilibra-se na fronteira do fio da navalha flutuando entre o simples e o simplório. Porém, nosso “intrépido” cavaleiro apeando o animal enleva e sublima o passeio – pé-ante-pé, de porta em porta – e empunhando o bisturi de sua intacta retina revela amálgamas da alma primeira valorizando olhos, caras e bocas, decifrando-nos num estudo psicológico “farkiano” toda a sofisticação do simples onde a crítica cede lugar à análise e as doçuras e sutilezas desfilam ao sol dará – pois foi assim que o artista escolheu.

 

 

Até 14 de maio.

Nova representação

30/maio

A Galeria Silvia Cintra + Box4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, anuncia  que passa a representar a obra de Sebastião Salgado e sua primeira exposição na galeria será em julho deste ano.

 

Sobre o artista

 

Nasceu em 1942 na vila de Conceição do Capim , vive e trabalha em Paris. Sebastião Salgado hoje é reconhecido como um dos maiores nomes da fotografia mundial. Suas exposições já viajaram por todos os continentes do globo, sendo vistas por milhões de pessoas nos mais importantes museus do mundo.  Salgado possui também uma extensa bibliografia, sendo alguns de seus trabalhos mais conhecidos os livros das séries “Trabalhadores”, “Exodus” e mais recentemente “Gênesis”. Sebastião Salgado é também, ao lado de Lélia, com quem é casado, fundador do Projeto Terra, que apoia o reflorestamento e revitalização comunitária em Minas Gerais. Por ter uma obra extremamente ligada a causas sociais e humanitárias, Salgado é hoje Embaixador da Boa Vontade da UNICEF e membro honorário da Academia de Artes e Ciências dos  Estados Unidos. Recentemente o fotógrafo também foi eleito membro da respeitada Academia de Belas Artes da França. Em 2014 foi lançado o documentário “Sal da Terra” dirigido por Win Wenders e Juliano Salgado sobre a obra de Sebastião Salgado. O filme venceu o Cesar de Melhor Documentário e concorreu ao Oscar na mesma categoria.

Nova plataforma

25/maio

Com o objetivo de aproximar e conectar, através da tecnologia, artistas do público que se interessam pela arte contemporânea, as empresárias Manuela Seve e Renata Thomé, da Alpha´a, lançam aplicativo Alpha´a, é gratuito para ios e Android free onde artistas podem enviar obras, compartilhar a localização de seus estúdios receber visitas, e participar de votações. Após o resultado os ganhadores  tem retorno imediato de seus trabalhos através das votações, além de terem suas obras produzidas em edições tais como impressões de excelente qualidade, em papel e canvas. Trata-se de uma nova plataforma de artes. Atualmente são cerca de 1.000 artistas cadastrados.

 

“Rússia”, por Mauro Restiffe

18/maio

A Galeria Fortes Vilaça, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta “Rússia”, a terceira exposição individual de Mauro Restiffe na Fortes Vilaça. O artista apresenta fotografias em preto e branco que retratam dois momentos distintos das cidades de Moscou e São Petersburgo pós-União Soviética. Os trabalhos representam o resgate de um de seus mais importantes projetos investigativos, realizado em duas etapas: a primeira durante os anos de 1990; e a segunda em 2015, uma retomada a convite do Garage Museum of Contemporary Art, em Moscou. Restiffe associa sua contínua pesquisa em arquitetura e espaços urbanos a uma experiência pessoal e afetiva nos principais centros russos. O processo de criação que envolveu essa série fotográfica evoca um interesse antigo em desbravar uma cultura tão distinta, com uma abordagem intimista da relação tempo/espaço dentro de seu próprio trabalho. O olhar do artista conduz o espectador a ponderar sobre o processo histórico recente das cidades ao retratar cenas cotidianas em cenários ora grandiosos, ora modestos. A combinação entre as fotografias realizadas há vinte anos e as atuais são formalizadas através de dípticos, trípticos e polípticos, com algumas figuras individuais icônicas, que espelham a realidade e a sua representação, o público e o privado, o afetivo e o mundano. Um exemplo é o tríptico Winter Trap (1996/2015), onde uma mesma cena é mostrada em duas imagens distintas, patinadores na pintura de Bruegel estão lado a lado dos patinadores na vida real. A investigação de Restiffe sobrepõe a linguagem documental às referências da História da Arte e da fotografia. A arquitetura, em especial o brutalismo, e o diálogo poético travado entre as pessoas, objetos e o ambiente em que se encontram são temas recorrentes nestas obras. A utilização do filme analógico preto e branco e a granulação causada pela “puxada de asa” são recursos que emprestam mais uma vez à obra de Mauro uma sintonia precisa entre as características físicas das imagens e os temas escolhidos pelo artista.

 

Sobre o artista

 

Mauro Restiffe nasceu em 1970 em São José do Rio Pardo. Vive e trabalha em São Paulo. Dentre suas recentes exposições individuais estão: Post-Soviet Russia 1995/2015, Garage Museum (Moscou, 2016); São Paulo, Fora de Alcance, Instituto Moreira Salles (Rio de Janeiro, 2014); Obra, MAC-USP (São Paulo, 2013). Destaque ainda para suas participações em: Trienal de Aichi (Nagoya, Japão, 2016); Bienal de Cuenca (Equador,

2014); Bienal de São Paulo (2006); Panorama de Arte Brasileira (São Paulo, 2013 e 2005). Sua obra está presente em importantes coleções, como: Bronx Museum of the Arts (Nova York), Colección Cisneros (Caracas), Inhotim (Brumadinho), Instituto Moreira Salles (Rio de Janeiro), MAC-USP (São Paulo), MAM (São Paulo), Pinacoteca do Estado (São Paulo), SFMOMA (San Francisco), Tate Modern (Londres), TBA21 (Viena), entre  outras.

 

Até 18 de junho.

Krajcberg na CIGA 2016

17/maio

O escultor e fotógrafo Frans Krajcberg, de 95 anos, se notabilizou por seus retratos da natureza que, muitas vezes, são utilizados como matéria-prima para seus desenhos e relevos moldados em papel.

 

A Galeria Marcia Barrozo do Amaral, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, apresenta no próximo dia 20 de maio, o livro-arte do artista, com fotos assinadas, durante o CIGA 2016, Circuito Integrado das Galerias de Arte, organizado pela Art Rio.

 

Este livro-objeto – “Outra Natureza” – oferece aos colecionadores, pela primeira vez, uma fotografia original de Krajcberg, com sua assinatura gravada a fogo. São 12 imagens diferentes com tiragem de 6 cada uma, num total de 72 unidades.  “Outra Natureza” contém um estojo, a foto emoldurada e um álbum artesanal com as imagens e os textos escolhidos para este projeto.

 

O livro-arte encontra-se a disposição na galeria Marcia Barrozo do Amaral, no Rio de Janeiro. Contatos pelo telefone (21) 2267-3747.

 

Duas mostras na Lume

13/maio

A Galeria Lume, Jardim Europa, São Paulo, SP, exibe, simultaneamente, as individuais “Sentidos da Pele” de Gal Oppido e “A Bahia e seus sentidos” de Akira Cravo com curadoria dos próprios artistas. Em “Sentidos da Pele”, Gal Oppido apresenta 32 trabalhos onde os ensaios exploram o corpo humano como uma fonte geradora de significados quando sob interferências externas, sejam elas alegóricas, cirúrgicas, ou comportamentais. Nos registros da série “Bahia e seus sentidos” de Akira Cravo, as 14 fotografias exibem a “poesia” da Bahia, que ultrapassa e desafia qualquer paradigma, retratando um povo belo e plural.

 

Gal Oppido em sua individual, constrói suas obras com a pele – maior órgão humano que traduz em sua topografia o que um corpo deseja – em elemento base dando ênfase à capacidade do homem de “transformar a matéria e como essa ação transfigura seu corpo”. Buscando explorar diferentes padrões e suas identidades, o artista procura, através de seu olhar, as particularidades que deles emana como espaço, luz e cromatismo e a partir dessas premissas, que representam o par gerador dos trabalhos, Gal determina seus suportes – fotografia, desenho, performances ou imagens cinéticas. Um dos destaques de “Sentidos da Pele” são as peças escultóricas de vidro formando duas obras vitreopercussivas que provocam sons quando do contato entre performer e pingentes de cristal. Para o artista, “a manifestação autoral que se vale da imagem como suporte e das inquietudes de seu emissor, necessita da cumplicidade entre forma e conteúdo, sem perímetros que constranja seu objeto estético, conduzindo a técnica e seus instrumentos a favor da integridade de seu discurso“.

 

Em sua primeira individual na galeria, Akira Cravo expõe 14 fotografias da série inédita “A Bahia e seus Sentidos” construindo uma visão poética fidedigna do povo da Bahia, suas crenças no sagrado e profano, festas de largo, religiosidade, sincretismo do candomblé com o catolicismo e, especialmente, na luminosidade, que segundo o artista, existe apenas na Bahia. A proposta conceitual de Akira Cravo é possibilitar um contato mais próximo com o universo da magia que revela uma Bahia antiga, um povo belo por natureza que transmite poesia no olhar, a vaidade natural, a beleza do cenário natural e com especial ênfase, o povo. “A Bahia cheia de mistérios, mitos e sentidos”, declara. A sensibilidade do artista ao retratar seus personagens advém se sua busca pela beleza do simples. Ao externar sua visão no registro obtido, Akira Cravo cria uma marca que perdura através do tempo. Sua preocupação com os parâmetros de enquadramento são sua assinatura. “Trago o torso, o corpo e o rosto. Junto e separado em imagens pulsantes, coloridas, cheias de vida, de força e de fé”, define o artista.

 

Com as individuais, existe a possibilidade de retratar uma mesma sensação de formas únicas, transformando a arte em infinitas possibilidades de resultados únicos. Nos trabalhos apresentados tem-se tanto fotografias que “são inspiradas na poesia, que supera qualquer paradigma”, de Akira Cravo como criações onde “o fazer estético exclui sua inclusão a priori a uma ordem estabelecida” de Gal Oppido. Nessa combinação a Galeria Lume mantém sua proposta de proporcionar ao público conceitos, técnicas e estilos diversificados, porém complementares, no sentido de contribuir para a formação cultural dos espectadores. Coordenação: Felipe Hegg, Paulo Kassab Jr. e Victoria Zuffo

 

 

De 17 de maio a 18 de junho.

Dois : um dinamarquês, outro sueco

27/abr

A exposição “Veias”, na Caixa Cultural São Paulo, Centro, São Paulo, SP, exibe 105 imagens em preto e branco de dois grandes nomes da fotografia documental mundial – o sueco Anders Petersen, 1944, Estocolmo, e o dinamarquês Jacob Sobol, 1976, Copenhagen, que expõem juntos pela primeira vez. Com curadoria do sueco Imants Gross, os trabalhos têm em  comum um olhar íntimo sobre cenas cotidianas de pessoas marginalizadas na sociedade, como alcoólatras, viciados em drogas, prostitutas, travestis, criminosos e psicopatas. As imagens se tornam ainda mais impactantes com o grande formato das fotografias, que chegam a 2,5 metros de comprimento.

 

Para este trabalho na Caixa Cultural, os dois fotógrafos criaram uma espécie de diário pessoal onde anotaram reflexões pessoais sobre a vida, as pessoas e a forma como se encontra o mundo de hoje. “À primeira vista, as imagens de Petersen e Sobol podem parecer fortes e impiedosas para alguns, mas, indo além da superfície – ou da pele -, é uma representação intensa, quente e não tão semelhante com a realidade, mas que é sentida como real”, observa o curador Imants Gross.

 

Anders Petersen é considerado uma lenda da fotografia, e é conhecido pela capacidade de criar laços com as pessoas fotografadas, gente desconhecida que ganha um ar distinto. "As coisas que eu faço são uma espécie de fotografia documental privada. Esse é o verdadeiro desafio: estar presente, mas manter a distância", explica o sueco. Uma de suas imagens mais famosas foi usada na capa do álbum “Rain Dogs”, de 1976, do artista canadense Tom Waits.

 

Trinta anos mais novo, Jacob Sobol pode ser considerado um sucessor do mestre sueco, com seus registros repletos de imprevisibilidade do cotidiano. Sobol compara o ofício de tirar fotos ao de um caçador: "A relação que os caçadores estabelecem com a natureza ao seu redor é muito importante. É preciso estar interligado ao todo, e este sentimento tem deixado um grande impacto na minha vida e no trabalho.”

 

Artistas de gerações diferentes, possuem afinidades de linguagem, o que justificou esse encontro. Ambos pertencem à mesma escola de fotografia documental, em que o desafio do fotógrafo é estar presente o mais próximo possível de cenas privadas, mas com um distanciamento suficiente para registrá-las com olhos de voyeur. As suas preocupações os fazem observar muitas vezes o terrível, o compulsivo, o incontrolável e o sentimento de autodestruição que existe nas pessoas, mas ambos são fotógrafos, que destacam o “amor” em suas muitas e diferentes manifestações.

 

“As imagens que Petersen e Sobol nos oferecem, todas em preto e branco, podem parecer frias num primeiro momento, mas quando tomamos conhecimento dos universos retratados e dos personagens, conseguimos sentir o calor dos corpos, a intensidade das situações. É possível enxergar verdade e amor no olhar de quem está sendo revelado e também do seu revelador", conclui o produtor Luiz Prado.

 

Promovido pelo Instituto Cultural da Dinamarca, o projeto começou na Letônia, passou pela Rússia e China antes de vir ao Brasil com temporada já realizada também na Caixa Cultural de Curitiba, Salvador e Rio de Janeiro. ”É com grande satisfação que recebemos a arte de Petersen e Sobol, que têm em comum uma linguagem incomum. As imagens expostas trazem uma ausência de respostas, e revelam muitos questionamentos. Como dizem os dois fotógrafos: “Veias” não é sobre fotografia. É um documentário da vida abstrato, expressivo, emocionante e provocador”,explica Anders Hentze, diretor do Instituto Cultural da Dinamarca.

 

 

 

Até 08 de maio.

Verger/Guarnieri no Rio

25/abr

Em parceria com a Fundação Pierre Verger de Salvador, BA, a Galeria Marcelo Guarnieri apresenta a exposição “Pierre Verger” na inauguração de seu espaço expositivo em Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. O local inaugurado exibirá obras produzidas durante toda a trajetória do fotógrafo e etnografista franco-brasileiro. Grande parte do trabalho que ele desenvolveu era dedicado à pesquisa e aos registros ligados às religiões de matriz africana.

 

Verger começou a fotografar e viajar pelo mundo em 1932, aos 30 anos de idade. Durante os 14 primeiros anos de sua carreira como fotógrafo, suas imagens foram publicadas nas mais importantes revistas francesas e internacionais da época. Em 1946, quando chegou à Bahia, converteu-se ao Candomblé, tornou-se o babalaô Pierre “Fatumbi” Verger e, embora levasse um estilo de vida nômade, Salvador passou a ser sua residência fixa. Hoje, a casa onde vivia abriga fundação homônima dedicada à sua obra, às pesquisas e ao intercâmbio cultural entre Brasil e África.

 

Em 2015, a Galeria Marcelo Guarnieri promoveu duas mostras de Verger em suas unidades de São Paulo e Ribeirão Preto. Para a mostra do Rio, a galeria apresentará um novo recorte dividido em 3 blocos. Um deles é dedicado apenas aos registros com foco em apetrechos musicais clicados em países da América Latina e África – essas imagens foram exibidas no MAM-Bahia em 1992 e mostram tambores, instrumentos de sopro e cordas usados em rituais e celebrações.

 

O outro conjunto apresenta uma série de imagens selecionadas pelos editores da Revue Noire – Jean Loup Pivin e Pascal Martin Saint Léon – e pelo próprio fotógrafo, a partir de 300 negativos que foram expostos ou transformados em cópias de altíssima qualidade e, posteriormente, nos fotolitos do livro “Le Messager”. Apresentada no ano de 1993, pela Revue Noire, no Musée d’Art d’Afrique et d’Océanie, na França e na Suiça, “Pierre Verger, – O Mensageiro” destacou a importância da arte e da cultura africana para o ocidente, com mostras que colocaram, novamente, o público europeu em contato com o trabalho do fotógrafo. Verger esteve presente na abertura desta exposição em Paris, e a Revue Noire conseguiu que ele assinasse uma certa quantidade de cópias. Não era uma prática comum na trajetória de Verger, que privilegiava os negativos, por representarem as suas memórias.

 

Por fim, o último bloco da exposição carioca apresenta um grupo vintage de fotos raras ampliadas pelo próprio Verger em diferentes períodos de sua carreira – a partir dos anos 30. Entre elas, se destaca uma vista panorâmica de Pequim, cenas urbanas de Nova York, Mali e França. Importante ressaltar que essas imagens reunidas pela galeria foram ampliadas manualmente em sais de prata e apresentam a assinatura de Verger ou o carimbo de identificação.

 

Além de abrir esta exposição inaugural, a Galeria Marcelo Guarnieri chega ao Rio de Janeiro representando artistas como: Gabriela Machado, Luiz Paulo Baravelli, Masao Yamamoto e Mario Cravo Neto.

 

 

A palavra de Verger

 

“Nós concordamos em definir fotografia nos seguintes termos: a fotografia permite ver o que não tivemos tempo de ver, porque ela fixa. E mais, ela memoriza, ela é memória. O milagre é que essa emoção sentida diante de uma fotografia muda, testemunha de um fato fixado por um instantâneo, possa ser sentida espontaneamente por outros, revelando um fundo comum de sensibilidade, frequentemente reprimida, mas reveladora de sentimentos profundos, constantemente ignorados.” (Pierre “Fatumbi” Verger, na ocasião da exposição Pierre Verger, Le Messager, realizada pela Reuve Noire, em Paris e na Suíça. Abril de 1993.)

 

De 30 de abril a 11 de junho.

Lugar perdido da memória

08/abr

Gabriel Wickbold Studio & Gallery, Vila Nova Conceição, São Paulo, SP, expõe 32 obras da fotógrafa sérvia Isidora Gajic na mostra “Teias e Tramas”, com curadoria de Miguel Rio Branco. Em suas fotoso tempo é o fio condutor, a conexão entre os elementos e suas construções.. Nesta série, a escrita e as imagens, juntas, criam outros entendimentos, composições fluídas além da descrição, atingindo outra densidade. Na poética presente, o mar vira lâmina de chumbo, a neve transforma-se em luz celestial, permitindo que as portas da imaginação se abram para outras dimensões, além do que consideramos realidade.

 

Em  “Teias e Tramas”, o tempo e suas conexões com os elementos, suas construções, criam ficções e fricções: em ritmos suaves quase melódicos, porém com uma densidade dramática. “Na criação fotográfica atual existem equívocos primários, que limitam a nossa alma, que tentam nos levar a um mundo medíocre de selfies”, conceitua Isidora.

 

Histórias pessoais são o formato favorito do trabalho de Isidora Gajic. Ela transforma sentimentos e relacionamentos em fotografias. Usando imagens como uma forma de poesia visual, que desfoca autobiografia e ficção, ela cria livros artesanais, colagens, e diálogos visuais com imagens. Nas obras da artista, os conceitos básicos que se espera de uma fotografia: onde? Quando? O que é? Não são mais necessárias: a leitura é outra, a emoção prende e leva a um lugar perdido da memória, lugar sem referências. Segundo a fotógrafa, “se tentarmos ver nas imagens aqui construídas em grupos, apenas documentos do que ocorreu, estaremos nos diminuindo, caindo no erro das multidões que nem sequer vivenciar o presente sabem mais, apenas o captam para, congelado, servir de troféu”, diz a artista.

 

Sobre seu trabalho, o curador Rubens Fernandes Junior diz: “Isidora Gajic faz suas primeiras incursões em seu arquivo e por sua vez reúne algumas pulsões que provocam sensações diversas. Sua imagens – neve, teias de aranha, tramas irregulares, águas em movimentos aleatórios, entre outras situações – são provocativas. Em quase todas elas encontramos aquilo que o poeta russo Vladmir Maiakowski chamou de “fendas do acaso”, ou seja, situações visuais que promovem não apenas associações e situações inesperadas, mas também, distintas possibilidades poéticas e perceptivas”.

 

Seu colega curador e fotógrafo conceituado, Miguel Rio Branco, sintetiza: “A obviedade dos conceitos que são algo por demais presentes na arte contemporânea, algo que facilita a pseudo compreensão dos objetos de arte, não se encontram aqui: temos sim, caminhos abertos a várias interpretações que é a base da verdadeira poesia”. A coordenação é de Gabriel Wickbold.

 

 

Até 13 de maio.