Caio Reisewitz na Casa da Imagem

21/out

Com registros fotográficos do Pico do Jaraguá – formação montanhosa que registra o ponto mais alto da cidade de São Paulo -, Caio Reisewitz recupera uma paisagem que cada vez mais se oculta da perspectiva de horizonte, contrastando com um vertiginoso crescimento vertical/imobiliário. Como se costuma observar no trabalho de Caio, é possível perceber em “Jaraguá” a ausência da presença humana, que de forma alguma está representada, mas sim sugerida pelo confronto entre a cidade e a natureza.

 

A sucessiva reprodução do mesmo cenário geográfico recebe uma montagem instalativa (e não documental) por meio de procedimentos que se assemelham a técnicas outrora utilizadas na fotografia, indicando uma geografia de tempos passados e que tende a sobreviver apenas no imaginário e na memória dos moradores de uma cidade em expansão.

 

Segundo Henrique Siqueira, curador da Casa da Imagem, foi a pintura de um artista brasileiro ligado à representação da paisagem, Jorge Furtado de Mendonça, que estimulou a pesquisa de Reisewitz em acervos e o desenvolvimento da exposição na Casa da Imagem, Sé, São Paulo, SP. Siqueira destaca que, nestas fotografias, duas operações dimensionam a escala monumental de abordagem do Pico do Jaraguá. “Protagonista na topografia de São Paulo (‘ponta proeminente’, ‘protetor do vale’, na língua tupi-guarani), a elevação encontra-se seccionada, na atualidade, da mancha urbana que a cerca; um gesto proposital em circunscrevê-la no âmbito da idealização e de impelir autonomia no discurso poético”, completa o curador.

 

 

Sobre o artista

 

Caio Reisewitz, São Paulo, SP, Brasil, 1967. O artista – que expôs recentemente no International Center of Photografy em Nova York e que, em 2015, irá inaugurar individual na Maison Européenne de la Photographie em Paris e participar da Bienal de Gwangju na Coreia – procura estabelecer relações entre a construção do real e o registro do artificial. Ganhador de diversos prêmios, como os de aquisição do 4º e 6º salões do Museu de Arte Moderna da Bahia e o Prêmio Sérgio Motta de 2001, seu trabalho esteve presente na 51ª Bienal de Veneza, 26ª Bienal de São Paulo, 1ª Bienal del Fin del Mundo (Ushuaia), Nanjin Biennale (China). Suas obras estão nas coleções do Museu de Arte Moderna de São Paulo e da Cisneros Foundation (EUA parte do documental, da arquitetura e da apropriação do espaço para percorrer a linha tênue que separa a vida da arte.). Especializou-se em fotografia na Escola Superior de Artes de Darmstadt, e na Johannes Gutenberg-Universität Mainz, ambas na Alemanha. É mestre em poéticas visuais pela Universidade de São Paulo. Retorna ao Brasil em 1997, para consolidar-se como um dos fotógrafos mais importantes de sua geração, no campo das artes visuais. Manipulando as imagens de maneira sutil, o artista realiza encontros entre conceito e forma por meio de fotomontagens que, em alguns casos, como Joaçaba ou Parentinga, foram feitas a partir de colagens refotografadas. Sua proposta é também a de misturar realidade e subjetividade, ou seja, o que se vê, à percepção que temos do que estamos vendo. Por isso, retira de situações tensas imagens que não são apelativas, caso da série “Reforma Agrária”, feita no interior de Goiás e Iguaçu, fotografada depois de um período de chuvas fortes e enchentes. As fotos de Caio exploram principalmente temas como a paisagem, a ocupação do solo e o uso arquitetônico. Reisewitz propõe novas abordagens e recortes para paisagens familiares. Com técnicas elaboradas, o artista dá luz a obras refinadas, nas quais observa-se muitas das questões pertinentes à fotografia contemporânea.

 

De 25 de outubro a 22 de fevereiro de 2015.

Geraldo de Barros no IMS

15/out

O Instituto Moreira Salles, Gávea, Rio de Janeiro, RJ,  apresenta a exposição “Geraldo de Barros e a fotografia”. Com mais de 300 obras, essa é a maior exposição do designer, pintor e fotógrafo já realizada no Rio de Janeiro. A mostra resgata aspectos históricos e o caráter experimental da obra fotográfica do artista, enfocando sua relação com as gravuras e pinturas realizadas entre os anos 1940 e 1990. A curadoria é da pesquisadora Heloisa Espada, coordenadora de artes visuais do Instituto Moreira Salles. No dia da abertura, às 18h, ocorrerá visita guiada com a curadora e a artista Fabiana de Barros. E, às 16h, será exibido gratuitamente o filme “Sobras em obras”, de Michel Favre na sala de cinema.

 

Geraldo de Barros e a fotografia é organizada em três núcleos. O primeiro deles aborda a série fotográfica Fotoformas, produzida entre os anos 1940 e 1950. Serão mostrados exemplos das primeiras fotografias e desenhos feitos pelo artista no imediato pós-guerra, período em que ainda estava envolvido com uma pintura gestual de influência expressionista, monotipias que testemunham o início de seu envolvimento com a arte abstrata e pinturas concretas realizadas na década de 1950, quando o artista era membro do grupo Ruptura. Essa produção será mostrada lado a lado com as diversas experimentações fotográficas realizadas por Barros em Fotoformas: detalhes que enfatizam a estrutura geométrica de objetos do cotidiano; imagens borradas; solarizações; fotografias realizadas a partir de negativos pintados e riscados com instrumentos de gravura; fotografias abstratas realizadas a partir de múltiplas exposições do mesmo negativo; montagens de negativos etc.

 

Geraldo de Barros produzia fotografia, gravura e pintura de forma concomitante, e as diversas técnicas faziam parte de um mesmo processo criativo. Com o intuito de aproximar o público desse rico processo de trabalho, serão mostrados exemplos de negativos riscados pelo artista, bem como folhas de contatos originais que evidenciam as diferentes formas de intervenção na fotografia feitas pelo artista. Nesse núcleo, o visitante encontrará também um grande número de cópias vintage, oriundas de diversas coleções institucionais e privadas, que evidenciam as preocupações formais do artista ao ampliar suas imagens.

 

Com o objetivo de enfocar os modos originais de exibição das fotografias de Geraldo de Barros, a primeira sala da exposição será dedicada à exposição Fotoforma, que o artista realizou no Masp, ainda localizado na Rua 7 de Abril, no centro de São Paulo, em 1951. Serão mostrados documentos fotográficos, notícias e críticas sobre aquela que foi a primeira exposição fotográfica do artista.

 

O segundo núcleo da exposição é dedicado às pinturas realizadas pelo artista nos anos 1960 e 1970. Assim como outros pintores concretos de sua geração, nessa época, Geraldo de Barros se aproximou da Pop Art e da chamada Nova Figuração, que retomava a arte figurativa no contexto da cultura de massas. Ele pintava sobre fragmentos de outdoors publicitários, apropriando-se das fotografias usadas nos cartazes. Ao destacar o aspecto grotesco e invasivo da propaganda, as obras assumem um forte teor crítico.

 

A terceira parte da exposição aborda a série Sobras, realizada em seus últimos anos de vida, um momento em que o artista se encontrava parcialmente paralisado por uma série de isquemias cerebrais que sofreu a partir dos anos 1970. Após anos afastado da fotografia, Geraldo de Barros volta-se para seu arquivo de fotos de família guardado ao longo de décadas. Com a ajuda de uma assistente, ele corta, risca e monta pequenos fragmentos de negativos 35 mm sobre placas de vidros.

 

Geraldo de Barros e a fotografia mostrará pela primeira vez o conjunto completo de 268 colagens de negativos e positivos sobre vidro realizado por Geraldo de Barros no fim dos anos 1990, além de cerca de 70 fotografias ampliadas a partir dessas pequenas colagens. Dessa maneira, a série Sobras será apresentada como um intenso e fértil processo de trabalho, no qual, mais uma vez, Geraldo de Barros se distanciou do caráter documental da fotografia, manipulando-a e transformando-a de diferentes maneiras.

 

A exposição e o catálogo que a acompanha são frutos de uma parceria entre o Instituto Moreira Salles e o Sesc/SP, a instituição brasileira detentora da maior coleção fotográfica do artista, que apresentará Geraldo de Barros e a fotografia em 2015.

 

 

De 18 de outubro a 22 de fevereiro de 2015.

​Penna Prearo na Lume

A Galeria Lume, Itaim Bibi, São Paulo, SP, inaugura a exposição “Portal de Alice em Atlantis”, individual do fotógrafo Penna Prearo, com curadoria de Agnaldo Farias. A série composta por 21 fotografias abrange elementos da pintura e do cinema, com uso de equipamentos visuais acessórios como filtros, prismas, lanternas mágicas, caleidoscópios, entre outros, perfazendo um recorte da produção recente e da pesquisa atual do artista. A coordenação é de Paulo Kassab Jr. e Felipe Hegg.

 

A individual de Penna Prearo é composta por obras de diversas séries, como Ballerinas – em que o fotógrafo utiliza mosquiteiros de tule incorporados a cenários variados, como se os elementos interagissem entre si em uma apresentação de balé -, Falange Ciclope – cujos personagens, desta vez, são representados por rodas de bicicletas -, Carrossel para um Kubrick Solitário – onde um cavalinho de madeira aparece sempre no clima fantástico característico de sua obra -, Portal de Alice – série composta por cenas que parecem parodiar a realidade, entre outras.

 

Em uma miscelânea de alusões e temas para a composição de suas fotografias, Penna Prearo realiza confrontos e tensões entre imagens, enfatiza a cor em seus trabalhos e destaca um repertório que vai de Alice no País das Maravilhas (de Lewis Carroll, publicado em 1865), inserindo a fábula na lendária ilha de Atlantis, ou Atlântida, criando seu universo individual.

 

Nas séries de Penna Prearo, o registro fotográfico não se presta a apenas registrar coisas e situações comuns. Sua função ultrapassa esse patamar onde cria cenas de sonho, reais ou imaginárias, parafraseando a realidade. Seus trabalhos remetem a recortes de narrativas não lineares e à realidade cultural e underground das cidades por onde passa.

 

 

A palavra do curador

 

Penna Prearo habita um mundo ainda incógnito para nós, um universo de fábulas e desvarios, com influências que não vem de ilusões, mas das existências ali vividas. Em sua obra, nada surge da casualidade, cada escolha vem de uma razão bem pensada, de referências artísticas principalmente pictóricas e cinematográficas. “Portal de Alice em Atlantis” mostra fragmentos do planeta homônimo onde o fotógrafo vive, com narrativas elaboradas como um diretor que constrói cenas e inventa cenários. As situações retratadas tem personagens tão improváveis quanto um mosquiteiro de tule, um cavalinho de pau, a cabeça de uma escultura clássica, duas rodas de bicicletas ou um hidrante, que o artista, em suas infatigáveis peregrinações, percebe e trata como personagens enigmáticas, poderosas em suas presenças silenciosas. “Sua poética afigura-se como um diário do maravilhoso que ele consegue fazer irromper de um cotidiano que os tristes e desavisados supõem comum.”

 

 

 

 Poema do artista

 

“Albergaria de seres transmutantes,

portas de entrada de Alices fugazes,

sistemas organizados,

desertores procurando

lascas de um tempo curvado.

Flechadas de luz farpada

em alvos transitórios.

Translúcidas paisagens

convidando para uma viagem

num transatlântico enfurecido

com bilhete só de volta.

Um dia mais, um dia menos.”

 

 

De 23 de outubro a 28 de novembro.

Memória mutante

08/out

A constante reconstrução do espaço urbano central de São Paulo é tema de “Memória Mutante”, exposição de fotografias simultânea à mostra “Ibirapuera: modernidades sobrepostas”, que ocorre também na OCA, Pavilhão Lucas Nogueira Garcez, Parque Ibirapuera, Portal 3, São Paulo, SP, sob realização do Museu da Cidade.

 

A curadoria de Henrique Siqueira reúne 210 fotografias pertencentes à Coleção de Fotografias Iconográficas do Museu da Cidade de São Paulo e propõe o encontro das imagens de Militão Augusto de Azevedo (1862) e Ivo Justino (1970), como forma de dimensionar a complexidade das camadas de memória urbana.

 

Siqueira destaca que, há pouco mais de 100 anos, São Paulo assistiu ao desaparecimento da antiga Igreja da Sé e de todo o quarteirão ao seu redor, operação que marcou o começo das grandes obras destinadas à edificação de uma cidade moderna e cosmopolita. Ele reforça que o binômio demolir/construir, repetido no período da verticalização da área central e da implantação do plano viário de Prestes Maia, consolidou-se como um dos pilares da renovação urbana. “Privilegiando o novo, esta lógica de reconstrução ininterrupta desafiou a permanência dos espaços públicos, conduzindo a um apagamento da paisagem e do pensamento arquitetônico vigente no passado.”

 

Essa característica paulistana tem como consequência a ampliação do papel da fotografia no registro da história da cidade. Intencionalmente, o curador selecionou fotografias pontuais de casos históricos que agitaram a identificação afetiva da cidade, como a demolição do Belvedere Trianon, o incêndio da Estação da Luz ou a construção do Hangar do Campo de Marte. A mostra também apresenta a documentação realizada pela Seção de Iconografia da Prefeitura sobre as habitações populares e ensaios que reproduzem o cotidiano nas indústrias de tecelagem.

 

O gesto oficial de colecionar fotografias na municipalidade inicia-se em 1938, com a aquisição do lote de negativos de vidro pertencente ao fotógrafo Aurélio Becherini, dando origem à atual Coleção de Fotografias Iconográficas do Museu da Cidade de São Paulo, de onde vieram todas as imagens apresentadas nessa exposição. Coube a outro fotógrafo, Benedito Junqueira Duarte, iniciar a ampliação e a primeira catalogação dessa coleção; hoje ela conta com mais de 70 mil fotografias que documentam a transformação urbana de São Paulo nos últimos 154 anos.

 

 

 De 09 de outubro de 2014 a 01 de fevereiro de 2015.

A Coleção Joaquim Paiva no MAM

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Petrobras, Bradesco Seguros, Light e Organização Techint apresentam, a exposição “Limiares – A Coleção Joaquim Paiva no MAM”,  40 fotografias do acervo pertencente ao diplomata nascido em 1946, em Vitória, que reuniu uma das mais importantes coleções do país em fotografia brasileira e estrangeira. Fotógrafo desde 1970, Joaquim Paiva começou a colecionar em 1978, quando adquiriu trabalhos da fotógrafa americana Diane Arbus, 1923-1971. Depois de se formar em Direito, ingressou na carreira diplomática em 1969, e desde então serviu em vários países, como Canadá, Venezuela, Peru, Argentina, Portugal, Espanha e Estados Unidos.

 

Completam a exposição 19 obras das coleções do MAM e Gilberto Chateaubriand, também em comodato com o Museu.  A ideia de se fazer uma mostra em que as fotografias da coleção dialogassem com obras do acervo do Museu e da coleção de Gilberto Chateaubriand, partiu do próprio Joaquim Paiva e foi prontamente aceita pela curadoria do Museu. “Mostra-se aqui uma parte da coleção de Joaquim Paiva, que não esgota nem esgotará as suas múltiplas leituras. A esse recorte confrontam-se outros trabalhos das coleções do MAM, não necessariamente fotografias, procurando contaminar aquilo que, por motivos de taxonomia, ainda permanece separado: o vídeo com a pintura, o precário com o que foi feito para durar, o documento com a arte”, explicam os curadores do MAM.

 

Em 2005, o MAM passou a abrigar a Coleção Joaquim Paiva sob o regime de comodato, e atualmente estão no Museu 1.963 trabalhos de fotógrafos brasileiros e estrangeiros, adquiridos a partir do início dos anos 1980.

“Embora tenha sido iniciada como uma coleção privada, o gesto do colecionador é invariavelmente público e coloca ao escrutínio coletivo o que foi acervo privado ou criação individual. É sobre diferentes representações do público e do privado no mundo da arte que fala “Limiares – a Coleção Joaquim Paiva no MAM”, propondo ser um recorte sobre as naturezas dos espaços representados na materialidade da imagem, em especial a imagem fotográfica”, afirmam os curadores.

 

Dois trabalhos abrem a exposição: uma série de José Diniz, na qual o aparece o próprio Joaquim Paiva e uma instalação de sacolas de instituições museológicas internacionais, de Jac Leirner, “que iguala, com humor e argúcia, o mundo da arte ao mundo dos negócios, centrando a sua atenção sobre aspectos formais”.

 

A mostra terá, ainda, a fotografia “Gol”, do importante fotógrafo Thomas Farkas, Budapeste, Hungria, 1924 – São Paulo SP, Brasil, 2011, da década de 1940; “Índio Yanomami”, de 1991, da fotógrafa Claudia Andujar, Neuchâtel, Suíça/Brasil, 1931; “Sem título”, de Alberto Ferreira Lima; fotos da série “Natureza Moderna”, de Bill Jorden, entre outras.

 

Dialogando com as fotografias da coleção Joaquim Paiva, haverá obras do acervo do MAM e da Coleção Gilberto Chateaubriand, como a escultura “Mapa Mudo”, de Ivens Machado, de 1979; “Duas casas”, de Nuno Ramos, de 1996; a pintura “A Ilha”, de Luiz Zerbini, de 1995; “Sem título”, de 1979/1988, de Miguel Rio Branco, entre outras.

 

 

Sobre a Coleção Joaquim Paiva

 

Desde 2005, o MAM Rio possui, em regime comodato, grande parte da coleção do diplomata Joaquim Paiva. A coleção teve início em 1981 quando o diplomata começou a adquirir sistematicamente fotografias brasileiras contemporâneas. No museu estão depositadas 1963 obras que registram o que há de mais representativo na fotografia brasileira de nosso tempo. Desde retratos e paisagens à experimentos fotográficos dos anos 1990. Entre os nomes mais representativos da coleção estão: Pierre Verger com a sua preciosa documentação sobre a cultura afro-brasileira; Geraldo de Barros e seus experimentalismos técnicos; Miguel Rio Branco que busca a intensidade das cores no universo mais dura da realidade brasileira, o fotojornalismo ligado à temática social e bem brasileira de Walter Firmo, a atitude questionadora sobre o ato de fotografar da artista Rosângela Rennó entre outros. Nesse sentido a Coleção Joaquim Paiva representa no MAM toda a qualidade e a pluralidade de trabalhos e tendências que a fotografia contemporânea brasileira pode oferecer.

 

 

Texto da Curadoria

 

Em 2005, sob a forma de comodato, o MAM passou a abrigar a Coleção Joaquim Paiva que conta atualmente com 1.963 trabalhos de fotógrafos brasileiros e estrangeiros, adquiridos a partir do início dos anos 80.

 

Embora tenha sido iniciada como uma coleção privada, o gesto do colecionador é invariavelmente público e coloca ao escrutínio coletivo o que foi acervo privado ou criação individual. É sobre diferentes representações do público e do privado no mundo da arte que fala “Limiares – a Coleção Joaquim Paiva no MAM”, propondo ser um recorte sobre as naturezas dos espaços representados na materialidade da imagem, em especial a imagem fotográfica.

 

Mostra-se aqui uma parte da coleção que não esgota nem esgotará as suas múltiplas leituras. A esse recorte confrontaram-se outros trabalhos das coleções do MAM, não necessariamente fotografias, procurando contaminar aquilo que, por motivos de taxonomia, ainda permanece separado: o vídeo com a pintura, o precário com o que foi feito para durar, o documento com a arte.

 

Dois trabalhos abrem a exposição: uma série de José Diniz, na qual o próprio Joaquim Paiva aparece mostrando as diane arbus e os geraldo de barros de sua coleção, e uma instalação de sacolas de instituições museológicas internacionais, Names (Museums), de Jac Leirner, que iguala, com humor e argúcia, o mundo da arte ao mundo dos negócios, centrando a sua atenção sobre aspectos formais.

 

Uma vez definidos os pontos de partida da exposição – o colecionador e o museu –, o percurso se torna aberto e não linear ao redor das ideias de espaço físico e mental. Os espaços da casa, da rua, da praia ou do abrigo coexistem com os lugares de passagem, a informalidade do espaço público e o enfrentamento social.

 

O espaço do íntimo e as novas relações objeto-sujeito fotografados caracterizam boa parte da produção fotográfica contemporânea. Existem vestígios de subjetividade na materialidade da fotografia que se torna campo de partilha de angústias, fraturas pessoais e afirmação do eu, com particular relevância para o diário e as narrativas/ficções pessoais.

 

Na videoinstalação Os Raimundos, os Severinos e os Franciscos, de Maurício Dias & Walter Reidweg, porteiros nordestinos na cidade de São Paulo simulam um regresso à casa depois de um dia de trabalho, entrando um a um, e agindo como se não estivessem vendo um ao outro, e quando todos estão instalados, olham diretamente para a câmera, deixando evidente a cumplicidade deles com o ato de filmar.

 

A transitoriedade do lugar de quem vê e de quem é visto é patente no “distanciamento” das imagens de Bill Jorden e Anderson Wrangle, na “narrativa em abismo” de Javier Silva Mainel ou nos sujeitos que se tornam objetos de perseguição, em Regina de Paula.

 

Finalmente, a cauda do tatu desaparecendo por baixo de uma mesa (Miguel Rio Branco). Intrigante fotografia. Intrigante animal que se transforma em bola quando ameaçado pelo perigo. Metáfora para pensar as imagens hoje numa dupla condição: a sua abertura às mais imprevistas relações e, no sentido inverso, o fato de os signos terem se tornado tão densos a ponto de formar uma casca dura, através dos quais já não se vê nada.

 

 

Até 18 de janeiro de 2015.

Fotografias de Daniel Sasso

06/out

Um verdadeiro paradoxo toma conta do Museu do Trabalho, Porto Alegre, RS, quando as fotografias de Daniel Sasso, repletas de vivacidade e frescor invadem o espaço expositivo do Museu na mostra “Ideia Morta – A Frustração em Delírios Cintilantes”. Essa exposição no Museu do Trabalho é um desdobramento da mostra “Ideia Morta – A Frustração em Devaneios Coloridos”, apresentada por Sasso em 2010, na Livraria Cultura de Porto Alegre, sucesso de público e crítica. Publicitário, artista e principalmente fotógrafo, Daniel Sasso sempre mergulhou profundamente no estudo das mais diversas técnicas fotográficas. Daí o seu perfil ousado que mistura o tradicional com a inovação, captando imagens com técnicas rudimentares como a pinhole (câmera fotográfica sem lente), até a tecnologia digital de captura e tratamento. Inquieto, Sasso já está trabalhando em um novo projeto totalmente diferente do exposto no Museu, mas que ainda está em segredo.

 

Texto de Vitor Necchi

 

Há uma tríade de efes sugerida pelas imagens reunidas na exposição Ideia Morta – A Frustração em Delírios Cintilantes, de Daniel Sasso: fato-farsa-fantasia.

 

Cada palavra decorre de uma leitura, da maneira que se reage à visão nada corriqueira de uma mulher se lançando ao espaço, quando os pés se desgrudam de uma superfície elevada. Ou ainda quando ela se detém sobre trilhos, confrontando o vagão que se aproxima. Não há fim em nenhuma delas – tudo é começo. Cada cena surpreende e instaura uma nova possibilidade, principalmente para quem traduz o mundo ancorado na vida que se tem, e não na que se poderia ter.

 

Fato. Se encaradas dessa forma, esta seria a associação imediata: suicídio. Esqueça-se disso. O mundo está farto de literalidade. No universo das possibilidades sugeridas pelo trabalho de Daniel, abandone a leitura que cumpre o protocolo da obviedade. O mundo pode ser tão previsível que o entendimento das pessoas beira a grosseria, deformação de olhos viciados, embrutecidos ou preguiçosos. A vida é mais do que fatos.

 

Farsa. Esqueça também. Não existe tapeação nessas imagens que sugerem mulheres aladas e destemidas, quase mitológicas, quase impossíveis, senhoras do acaso. Não há engodo, mentira, embuste. Não seja ingênuo em pensar que a fotografia guarda compromisso com a realidade. Nem mesmo da foto documental se poderia exigir um estatuto de verdade, como se o registro fosse testemunho de fé sobre a existência de algo. A verdade é uma perspectiva, um compromisso do autor com a situação ou o personagem fotografados. Trata-se de uma relação ética, uma intenção. A farsa resulta da traição do olhar de quem faz – ou de quem vê.

 

Fantasia. Bem-vindo seja a este reino tão necessário e abandonado. Humanos são terrestres e não nasceram para voar, mas as mulheres de Daniel conseguem mais do que meramente caminhar porque o artista se insurge. Ele desdenha a previsibilidade dos fatos e a doença coletiva que torna o olhar refém da mesmice. Se manipulou, se de fato flagrou uma das cenas, pouco importa – a fantasia independe do que se vê, ela resulta de como se vê. Sem ela, resta a loucura.

 

 

Até 23 de novembro.

O vasto mundo de Romy

29/set

A fotógrafa Romy Pocztaruk exibe em exposição individual na SIM Galeria, Batel, Curitiba, PR, com fotos e vídeos realizados em diversos países que viajou observando os detalhes arquitetônicos das cidades que foram sedes de Olimpíadas durante a história. O mote é o Brasil, o próximo país olímpico, em 2016. A mostra, denominada de “Um, vasto mundo”, apresenta imagens das vilas olímpicas de Berlim, na Alemanha, que organizou o evento esportivo em 1936, e Saravejo, na Bósnia, sede de 1984. A partir dos resquícios abandonados, na maior parte das vezes instalações em ruínas, a artista rastreia o impacto do evento, que caracteriza como “apocalíptico”. A curadoria é de Gabriela Motta. Destaque da cena nacional, Romy Pocztaruk inaugurou exposição individual no Santander Cultural, Porto Alegre, RS, e participa da delegação brasileira na atual edição da 31ª Bienal Internacional de São Paulo.

 

 

Um vasto mundo

 

O exercício de olhar, olhar, olhar e de novo olhar estas e outras dezenas de imagens traz à tona uma constante no percurso da Romy: a viagem como trabalho. Amazonas, Islândia, Uruguai, Alemanha, Nova Iorque, Bósnia, China são algum dos lugares para os quais a artista apontou sua câmara. No entanto, ao ver as imagens, salvas poucas exceções, não é possível dizer precisamente em qual país cada uma delas foi feita. Os trailers estacionados estão na Islândia ou no Uruguai? Os restos de concreto tomados por vegetação são sobras de obras em Manaus ou em Sarajevo? O carro funerário está ao lado de um prédio administrativo ou do muro de Gaza ou de uma igreja em Reykjavík? A resposta “certa” dessas perguntas é sempre a segunda opção: Uruguai, Sarajevo e Reykjavík; mas a insistente indefinição geográfica das imagens conduz a outras reflexões.

 

Quando se sabe em que lugar cada fotografia foi feita, claro, contextualizam-se as imagens, atribui-se a elas uma história, um clima, uma identidade. No entanto, tudo isso logo se perde novamente, fazendo emergir do conjunto de trabalhos uma tônica dominante que revela não o específico de cada lugar, mas o comum de todos eles. Essa imprecisão dos locais nos leva à compreensão de um mundo não delimitado por fronteiras políticas, aquelas que acabam sempre, em algum momento, gerando guerras, mortes, destruição. Uma constante entre tantas outras que nos definem.

 

Ao reconhecer a importância da viagem para o trabalho da Romy, é preciso comentar esse tipo de procedimento em relação à arte como um todo. Muito se fala de uma pegada etnográfica da arte contemporânea. Pelo menos desde os anos 1970, identifica-se uma parcela de artistas preocupada em investigar/entender outros mundos além daquele que lhes diz respeito. Isso também, reiteradamente, aponta para a fragilidade desse modo de agir, geralmente moldado por vícios de um olhar exterior aos contextos, incapaz – porque é mesmo impossível – de se libertar de seus próprios códigos. De fato, esse problema já era reconhecido pelos próprios etnógrafos, como Lévi-Strauss, que falava da equivalência das culturas e da limitação de falar de algum povo sem fazer parte dele.

 

Quando a imagem fotográfica é o principal meio através do qual se materializa a obra de um artista, por sua vez, construída a partir de andanças pelo mundo, a relação com esse outro se complica ainda mais, já que a tendência é associar a fotografia à realidade. Por mais que já tenha se escrito muito sobre o risco de se entender a fotografia como meio privilegiado para tratar do real, ainda costumamos vê-la como apreensão e registro de alguma verdade. Entretanto, a única verdade de uma foto é sua própria realidade, tamanho, cor, contraste, textura, recorte de imagem. Elas até podem partir de um “real”, mas jamais irão além daquilo que enquadram, do espaço que escapa à lente do fotógrafo.

 

Assim é que a obra da Romy, o recorte aqui apresentado, se situa entre um procedimento etnográfico que não tenta destacar do estrangeiro seu exotismo e o entendimento da fotografia enquanto imagem construída. No olhar da artista sobre o “outro”, sobre a paisagem cultural estrangeira, há pouco sobre o específico de um povo, de uma região, de um país. Nessas fotografias, há muito sobre o que nos equipara, sobre o que nos torna sempre o mesmo homem, que destrói, constrói, arruma a casa, transporta seu mundo sobre quatro ou duas rodas. Entender-se como igual, nem mais, nem menos, nem melhor, nem pior é um partido que não necessariamente nega as singularidades da cada indivíduo, mas assume aquilo que temos em comum como o verdadeiramente extraordinário de todos nós.

 

Ao mesmo tempo, esses trabalhos de Romy insistem em nos lembrar que, como as palavras desse texto, fotografia é linguagem. Enquanto linguagem, essas imagens não encerram um sentido, e sim uma multiplicidade de significados, tanto sobre suas características individuais quanto sobre o real do qual partem, bem como sobre quem as fez. Porém, ao contrário do que se poderia concluir, a autonomia dessas imagens não as retiram do mundo do qual partem. Essas fotografias, ao se apresentarem também como linguagem, assumem a ambiguidade do meio, contribuindo para o sentimento de dúvida gerado pelo conteúdo das imagens.

 

 

Arrumar a casa

 

Dois interiores. Duas salas arrumadas, cores, flores, cadeiras, quadros na parede. Um ambiente doméstico que, em breve, receberá quem vive ali. Duas casas, uma na China e outra na Amazônia. Tão distantes e tão próximas, porque feitas por gente: cabeça, ombro, joelho e pé. Tudo igual, tudo radicalmente o mesmo e diferente. O instante captado no relógio da casa brasileira também permite congelar o tempo na China. Enquanto aqui o sol está prestes a atingir seu ápice, lá a noite já chegou. No dia seguinte, o ciclo se repetirá, as tarefas do dia serão realizadas, as cadeiras receberão o peso dos corpos. Talvez nossa maior diferença não passe das onze horas de fuso horário que nos distanciam.

 

 

Habitar espaços

 

Há um conjunto de fotografias de rastros de ocupação no interior de algumas ruínas. Não se sabe por que essas construções foram abandonadas. Intui-se que, como sempre, a violência ou o descaso esvaziaram esses lugares. Nas três imagens, janelas se abrem para o exterior, fazendo com que o ar atravesse esses ambientes, arejando-os. As carcaças desses prédios e os vestígios de novos usos dessas estruturas fazem com que se sobressaia dessas imagens muito mais uma noção de transformação do que de pesar. Ao mesmo tempo, a dramaticidade das fotos apresenta esses lugares como cenários. Assim como aqueles que, possivelmente, ali realizaram um ritual, uma pintura, um espetáculo teatral, Romy também ocupa esses lugares, enquadra-os atenta às sobreposições temporais e de uso que abrigam.

 

 

Inventar imagens

 

A imagem de quatro colunas que abre a exposição se conecta àquela de uma construção no deserto. Enquanto a miragem que vemos ao longe é “real”, uma construção perdida no meio de um mundo de areia, as colunas, altivas e imponentes num outro deserto, são “falsas”, restos de um set de filmagem. Esse jogo entre o que é visível e o que não é – por exemplo, quando vemos as colunas, mas não vemos sua artificialidade – se revela agudamente nessas fotografias e atravessa todas as obras aqui reunidas.

 

Romy manipula habilmente aquilo que tem em mãos, o aparato tecnológico capaz de gerar imagens. A máquina a serviço de um olhar que se quer sempre múltiplo, ambíguo, abrangente. Assim, a artista compartilha com o espectador um olhar perplexo com uma certa dureza do mundo. Mas, sobretudo, nos convida a duvidar dessas e de todas as imagens e de qualquer ideia de verdade absoluta.

 

Gabriela Motta

 

 

Até 31 de outubro.

Ivan Grilo no CCSP

15/set

Com curadoria de Bernardo Mosqueira, “Quando cai o céu” é a nova individual do artista Ivan Grilo, será o próximo cartaz do CCSP – Centro Cultural São Paulo, Paraíso, São Paulo, SP. A exposição, que é fruto da premiação que o artista conquistou no edital PROAC Artes Visuais 2013, apresenta 13 conjuntos de trabalhos, entre fotografias e instalações. Ao ser agraciado com o prêmio, Grilo foi pesquisar os arquivos do Centro Cultural São Paulo, onde encontrou documentos de uma rica pesquisa idealizada em 1938 por Mário de Andrade, então diretor do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo.

 

Ao mesmo tempo em que as manifestações populares corriam o risco de desaparecer com a crescente urbanização do país, o avanço tecnológico da época trazia novas possibilidades de captação destes eventos através de fotos, áudios e filmes.  Foi essa questão que levou o importante escritor a organizar a Missão de Pesquisas Folclóricas, expedição que buscou mapear as origens da cultura popular brasileira. Não fosse a chegada de Prestes Maia ao governo Municipal, a expedição se concluiria e o levantamento inicial proposto não teria parando em Pernambuco, mas alcançando o culturalmente rico estado da Bahia.

 

Interessados mais no que deixou de ser registrado pela equipe de Mário de Andrade, Ivan Grilo e Bernardo Mosqueira foram a campo em busca de subsídios para a realização da presente exposição. Em “Quando cai o céu”, Ivan Grilo busca mesclar as influências das vivências com as culturas ancestrais africanas adquiridas durante a viagem à Bahia com o modelo cartesiano de trabalho que sempre adotou em suas produções.

 

 

A palavra do curador

 

“Nosso trabalho se relacionava, então, também, com toda a genealogia de artistas viajantes interessados no Homem. Logo que optamos pela Bahia, decidimos ir a Cachoeira: importante cidade pra história do povo negro no Brasil. Em Salvador, antes, tivemos acesso irrestrito a todo o material da Fundação Pierre Verger, e lá encontramos a certidão de sua passagem por aquele município. Porém, logo entendemos que nosso interesse não seria registrar (capturar e trazer) a imagem do exótico. Diferente disso, nosso interesse é a crítica social e as narrativas: mais especificamente, somos encantados pela relação entre resistência e história oral. Os trabalhos de Ivan expandem, preenchem e iluminam a interseção entre o rigor conceitual, a crítica social e a criação (ou tradução) de narrativas poéticas. Não há nada nessa montagem que não tenha razão de ser”.

 

Ainda segundo o curador, “A história do povo negro no Brasil não é de vencedores, nem perdedores, nem vencidos, mas, sim, uma história de sobreviventes em glória. “Somos escolhidos da sorte. Somos tambores ricos de fé. (…). Somos o amor e seus aliados. Somos os filhos dos encantados”, ouvimos na Bahia. Por isso, “Quando cai o céu” é apenas onde começamos a contar a história de algumas nações que foram muito mais violentamente exploradas do que pensamos, mas que são muito mais do que se pode imaginar”, completa.

 

 

Sobre o artista

 

Ivan Grilo, 1986, vive e trabalha em Itatiba/SP. Graduado em Artes Visuais pela PUC-Campinas, atuou durante três anos como artista-assistente no atelier de Marcelo Moscheta. Atualmente participa das exposições coletivas: “Novas Aquisições da Coleção Gilberto Chateaubriand”, no MAM (RJ) e “Pororoca, a Amazônia no MAR”, no Museu de Arte do Rio. Em 2013 exibiu “Estudo para medir forças” na Casa França-Brasil (RJ), integrando o Projeto Cofre; além de ser premiado no edital PROAC Artes Visuais, do Governo do Estado de São Paulo, que deu origem à presente exposição. Em 2012 recebeu o Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, além de ter sido indicado ao Prêmio Investidor Profissional de Arte (PIPA) e ter participado da residência internacional “Transitante: entre álbuns e arquivos” no Arquivo Municipal Fotográfico de Lisboa / Portugal. Dentre as principais coletivas estão: “Bienal MASP Pirelli de Fotografia”, em São Paulo, “I Bienal do Barro” em Caruaru-PE, “2nd Ural BiennialofContemporaryArt”, na Rússia, “16a Bienal de Cerveira”, em Portugal, “11a Bienal do Recôncavo” em São Félix / BA, e “Arte Pará”, no Museu Histórico do Estado do Pará. Tem obras nos acervos do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro/Coleção Gilberto Chateaubriand (MAM), no Museu de Arte do Rio (MAR), na Fundação Bienal de Cerveira, entre outros. Atualmente é representado por Luciana Caravello Arte Contemporânea (RJ) e SIM Galeria (PR).

 

 

Sobre o CCSP

 

Espaço público de cultura e convívio, o Centro Cultural São Paulo (da Secretaria Municipal de Cultura) recebe o público em quatro pavimentos de uma área de 46.500 m² localizada entre as ruas Vergueiro e a 23 de maio, e entre as estações Vergueiro e Paraíso do Metrô. Inaugurado em 13 de maio de 1982, a partir da necessidade de uma extensão da Biblioteca Mário de Andrade, transformou-se em um dos primeiros espaços culturais multidisciplinares do país. O projeto concebido por um grupo de arquitetos coordenado por Eurico Prado Lopes e Luiz Telles deu origem a um espaço caracterizado pela arquitetura do encontro, que atualmente oferece: um conjunto de bibliotecas com acervo multidisciplinar, expressivas coleções da cidade de São Paulo – Coleção de Arte da Cidade, Discoteca Oneyda Alvarenga, Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade, Arquivo Multimeios e Coleção Memória do Centro Cultural São Paulo.

 

 

De 20 de setembro a 07 de dezembro.

Tapetes Voadores na ArtRio

12/set

 

Luste Editores promove o lançamento do livro “Os Tapetes Voadores da Mata Atlântica”, da artista plástica Cristina Schleder, na edição 2014 da ArtRio, Pier Mauá, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A obra conta com fotografias autorais que registram texturas, tramas e detalhes de sua inspiração maior – a Natureza, sendo que as imagens e espelhamentos de alguns fragmentos possibilitam novos significados à importância e beleza deste ecossistema. O patrocínio é do Banco Pine.

 

Para a criação da série, Cristina Schleder adentrou a área da Mata Atlântica munida de olhos treinados em busca do inusitado, do oculto, e não de uma mera imagem. Em seus momentos preferidos, os “pós-chuva” ou os dias nublados de luz prateada, quando a vegetação atinge seu pico de beleza, a artista vislumbrava detalhes de cores que surgiam em troncos e musgos, criando uma inédita fábula visual formada por fotografias marcantes. Sua imersão era tamanha que encontrava novos personagens, os quais a acolhiam e descortinavam um novo cenário, levando-a a lembrar das estórias em que os seres viajavam em tapetes voadores. Desenhos, formatos, cores e padronagens surgiam diante da artista, leves e harmônicos, que possibilitavam a imaginação de Cristina alçar vôo.

 

Nas palavras da própria artista, travestida em uma personagem de contos: “(…) a verdade deste pensamento mágico conseguia levá-la para todos os lugares imaginados, sentada em seu próprio tapete voador que a mata, com seus fios, tramas e bordados, teceu especialmente para ela.”

 

 

 Quando: 13 de setembro, às 15h

Vik Muniz no Rio

09/set

A segunda exposição que a Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro exibe é do consagrado Vik Muniz. O artista, que atua entre Nova York e o Rio de Janeiro, apresenta 11 trabalhos, inéditos no Brasil, de duas séries recentes, “Álbum” e “Postcards from Nowhere”. Nelas, trabalha com fragmentos de fotos e de cartões postais, respectivamente, para trazer à tona e subverter os mecanismos pelos quais as imagens são percebidas, quando decompostas nas suas várias camadas de compreensão: o detalhe, a totalidade e o imaginário de quem a vê.

 

Formadas por fotos em p&b e sépia retiradas de recordações de famílias, as imagens da série “Álbum” são elas mesmas enormes reproduções de cenas pessoais imortalizadas pela câmera. Tirar fotografias era, até pouco mais da metade do século 20, uma ação quase solene, reservada a ocasiões especiais, pelo preço e especificidade dos materiais utilizados. Dessa forma, apenas os momentos verdadeiramente memoráveis mereciam registro.

 

Com o barateamento do equipamento e o advento da tecnologia digital em sua reprodutibilidade infinita e instantânea, a fotografia hoje tornou-se corriqueira, perdendo a dimensão de solenidade e de intimidade. É isso que Vik Muniz problematiza em “Álbum”, por meio da miríade de imagens que concorrem para formar a macrofoto.

 

O olhar do espectador divide-se entre concentrar-se na imagem maior, que aqui pode ser a menina da baliza de uma fanfarra, o senhor orgulhoso do produto de sua pesca ou a jovem posando na praia, ou focar as várias pequenas recordações que parecem se perder na coletividade e impessoalidade. Assim, o público se vê confrontado por questões como a experiência pessoal em contraponto à experiência coletiva, à formação da memória e a banalização da imagem com a saturação de sua incessante produção.

 

 

Sobre o artista

 

Vik Muniz nasceu em 1961, em São Paulo. Vive e trabalha em Nova York e Rio de Janeiro. Participou de inúmeras bienais, como da 49ª Bienal de Veneza, Itália (2001); 24ª Bienal de São Paulo, Brasil (1998); Bienal de Arte Contemporânea de Moscou, Rússia (2009), entre outras. O Tamanho do Mundo (Santander Cultural, Porto Alegre, Brasil, 2014), Más acá de la imagen (Museo de Arte del Banco de la República, Bogotá, Colômbia, 2013); Clayton days (The Frick, Pittsburgh, EUA, 2013); são suas mais recentes exposições individuais. Algumas das mostras coletivas de que participou são: Superreal: alternative realities in photography and video (El Museo del Barrio, Nova Iorque, EUA, 2013); Travessias 2 (Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro, Brasil, 2013); e Swept away (Museum of Arts and Design, Nova Iorque, 2012);. Suas obras integram acervos como: Museum of Modern Art, Nova Iorque, EUA; Centre Pompidou, Paris, França; Guggenheim Museum, Nova Iorque, EUA; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri, Espanha; Inhotim, Brumadinho, Brasil, entre outros.

 

 

Até 12 de outubro.