Dois momentos: Caio Reisewitz e Saint Clair Cemin

25/jun

 

 

 

 

A Luciana Brito Galeria, Vila Olímpia, São Paulo, SP,  inaugurou as exposições “Tudo Vazio Agora Cheio de Mato”, fotografias de Caio Reisewitz, e “Fotini”, esculturas de Saint Clair Cemin. Reisewitz exibe uma seleção de nove obras sob uma narrativa inédita. Em outro espaço da galeria, Saint Clair Cemin volta para apresentar “Fotini”. Artista radicado nos Estados Unidos, Saint Clair é conhecido por lidar com uma diversidade de figuras, materiais e estilos de formas inusitadas e dramáticas.

 

Caio Reisewitz tem como objetivo mostrar um novo enfoque de pesquisa. Sem deixar de salientar sua preocupação com a ação e poder do homem, desta vez ele trabalha os espaços arquitetônicos, resgatando interiores de projetos históricos modernos ou católicos barrocos. De acordo com o próprio artista: “procuro registrar monumentos arquitetônicos brasileiros representativos e, a partir daí, pratico um exercício de reflexão e intervenção orgânica”. Esse processo criativo de fotomontagem intefere na história, transformando o registro e submergindo seus atributos originais.

 

Saint Clair Cemin exibe “Fotini”, nome próprio grego de mulher que, do ponto de vista etimológico, vem da palavra φως [fos – luz] e significa aquela que nasce da luz. A exposição empresta seu título da obra homônima, um martelo de aço de proporções agigantadas preso em uma caixa de vidro. Concebida como um dueto exclusivo, a exposição só se completa com outra escultura também de símbolo feminino,” Venus-Delilah”, uma tesoura em bronze, aberta, arrematada por formas marinhas e fixada em um altar de concreto.

 

Até 17 de agosto

Claudia Melli na Galeria Eduardo Fernandes

23/jun

 

O canto à capella é aquele entoado sem o uso de qualquer instrumento. Voz solitária. Esta remissão a um tipo de canto que nos endereça um chamado para um estado de quietude e interiorização pode ser visto como um gesto, mesmo que prosaico, que caminha na contramão de um mundo atual perpassado pelo ruído incessante. É desta natureza, mais próxima do murmúrio, de que nos fala as obras de Claudia Melli expostas desde o dia 19 de junho na Galeria Eduardo Fernandes, Vila Madalena, São Paulo, SP,  na mostra “Capella”.

 

 

Antes de qualquer gesto interpretativo é preciso recordar o processo de realização dos trabalhos da artista no que tange a técnica. Lembremos que o termo técnica,para os gregos antigos, significava arte. Ou seja, a téchne estava intimamente ligada ao processo de construção de uma poética, como mais tarde vai retomar Heidegger em seu texto “A Questão da Técnica”. Assim, as escolhas “técnicas” do artistas estão intimamente ligadas ao “conteúdo” da obra.

 

 

Quando enxergamos de longe um trabalho de Claudia cremos que estamos diante de uma fotografia. É somente um olhar mais atento e próximo que vai revelar que não se trata de uma foto, mas sim de desenho com nanquim sobre vidro. Esta conquista de um estado ilusório se dá através da alta precisão do desenho, do contraste entre o preto e o branco, entre claro e escuro. Mas o que tal técnica quer dizer, o que significa desenhar com nanquim sobre vidro no lugar de fotografar, mas ainda assim evocar o ato fotográfico? Esta pergunta é importante para chegarmos ao sentido do trabalho. O tempo que leva para a realização de cada obra (sempre única e não reprodutível), a concentração e o cuidado exigidos, o preciosismo que tal método demanda, todos estes elementos rimam com trabalhos nos quais a solidão se faz presente, nos quais nunca há presença de seres humanos.Tal modo de fazer encontra eco nos espaços vazios, permeados por presenças ausentes, ou mesmo paisagens que evocam certa melancolia, lembranças de um lugar já visto. Aí reside o parentesco com a fotografia, símbolo daquilo que congela um tempo e deflagra uma memória palpável de algo que já passou.

 

 

Sobre a artista

 

 

Nasceu em São Paulo, SP, 1966. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Frequentou diversos cursos no Parque Lage, tendo como professores Luiz Ernesto, Fernando Cochiaralle, Charles Watson entre outros. Realizou exposições individuais em 2012,  “Entre o Perto e o Distante” na Galeria HAP – Rio de Janeiro, RJ, 2011, “Tudo da vida é um país estrangeiro” na Galeria Eduardo Fernandes – São Paulo, SP, 2010, “Série Azul” na Galeria Penteado – Campinas, SP, 2008, “ONDE” no Durex Arte Contemporânea – Rio de Janeiro, RJ e em 2005, “Série verde” no Instituto Arte Clara – Rio de Janeiro, RJ.Participou de importantes exposições coletivas no Rio de Janeiro, São Paulo, Nova Iorque, e na Galeria A. Kunstandel – OSLO, Noruega, além de espaços institucionais como o Museu da República e Casa França-Brasil, ambos no Rio de Janeiro, Brasil. A artista possui obras na Coleção Gilberto Chateaubriand – MAM-RIO, Col. Banco Santander, Col. Banco Espírito Santo, Brazil Golden Art Investimentos, Artur Lescher, Heitor Martis e Fernanda Feitosa.

 

 

Até 08 de agosto.

Vanda Klabin Seleciona

14/jun

A Galeria Athena Contemporânea, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a mostra coletiva “Entrecruzamentos”. A exposição, com curadoria de Vanda Klabin, terá como tema o corpo e apresentará fotografias de oito artistas importantes do cenário da fotografia contemporânea brasileira, entre eles Alaír Gomes, Alexandre Mury, Brígida Baltar, Eduardo Masini, Paulo Bruscky, Raquel Versieux, Raphael Couto, Yuri Firmeza e Rodrigo Braga. A mostra está no circuito do FotoRio 2013, Encontro Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro.

 

“As fotografias não são somente pontos de referência, muitas vezes elas são detonadoras de ideias”. A frase de Francis Bacon, segundo Vanda Klabin, explica sobre o projeto de organizar a coletiva. Ela conta que o conjunto de obras proposto é um painel significativo de artistas atuantes no cenário da fotografia: “ – Essa mostra nasceu de um diálogo visual entre os trabalhos aqui apresentados, tendo o corpo como elemento constitutivo para sua realização, como um fluxo poético em suas múltiplas enunciações e desdobramentos conceituais, primordiais para a constituição do imaginário contemporâneo”, afirma Vanda.

 

Sobre os artistas

 

 

Alair Gomes – O artista teve uma sala em sua homenagem na Bienal de São Paulo do ano passado e em 2009, teve uma exposição individual na MEP, Maison Européene de la Photographie.

Alexandre Mury – Vai realizar exposição individual na Caixa Cultural, Rio de Janeiro, em julho e tem obras no acervo do Museu de Arte do Rio e no MAM-Rio.

Brígida Baltar – Fez uma exposição individual nas Cavalariças do Parque Lage em 2012 e participou de uma exposição em abril no MAM, Salvador, Bahia.

Eduardo Masini – Realizará exposição individual no Museu Inimá de Paula, Belo Horizonte, MG, em agosto deste ano.

Paulo Bruscky – Realizou uma exposição no Laboratório Interactivo de Arte, Ciencia y Tecnologia – Plataforma Bogotá, Colômbia, onde teve seu trabalho discutido. Tem obras no acervo da Tate e MOMA.

Raphael Couto – Participou da exposição “A imagem em questão”, Parque Lage, 2012.

Raquel Versieux – Fez uma residência na Croácia com o lançamento de um livro chamado “Neven” e acabou de participar do Rumos Itaú Cultural, no Paço Imperial

Rodrigo Braga – Participou da Bienal de São Paulo em 2012 e após ganhar o prêmio ICCO SP-Arte 2013, cumprirá período de residência em NY no RU, Residency Unlimited.

Yuri Firmeza – Participa de exposição coletiva no MAR, Rio de Janeiro. Encontra-se com exposição em Santander na Espanha. Está na coleção do MAM, Centro Cultural Banco do Nordeste, entre outros.

 

 

De 18 de junho a 20 de julho.

Arquitetura Brasileira em Fotografias

07/jun

O Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Arquitetura Brasileira Vista por Grandes Fotógrafos”, com curadoria de André Correa do Lago, dá continuidade a uma série de mostras sobre arquitetura brasileira organizada pelo Instituto Tomie Ohtake desde 2010. A primeira foi “Viver na Floresta”, com curadoria de Abílio Guerra, depois Julio Katinsky concebeu “O Coração da Cidade – A Invenção do Espaço de Convivência” e agora, o embaixador e profundo estudioso do tema, autor do livro “Oscar Niemeyer – Uma Arquitetura da Sedução”, apresenta obras referencias do país através das lentes de grandes nomes da fotografia.

 

 

Segundo André Correa do Lago, o fotógrafo de talento é um importante crítico de arquitetura, pois tem que conhecer a obra e analisá-la para procurar explicá-la através de imagens. “É nesse sentido que o fotógrafo, como diz Lucien Hervé, tem que destilar as ideias do arquiteto”.

 

 

Com 28 fotógrafos, onze dos quais brasileiros, a exposição conta com franceses e norte-americanos, além de um canadense, um argentino, dois alemães, dois italianos, um suíço, um espanhol e um ucraniano: Angelo Serravalle, Bob Wolfenson, Cristiano Mascaro, Dmitri Kessel, Fernando Stankuns, Francisco Albuquerque, Ge Kidder Smith, Hans Gunter Flieg, Iñigo Bujedo, Jean Manzon, Jorge Machado Moreira, Leonardo Finotti, Lucien Clergue, Marcel Gautherot, Massimo Listri, Michel Moch, Nelson Kon, Paolo Gasparini, Patrícia Cardoso, Peter Scheier, René Burri, Rob Crandall, Robert Polidori, Romulo Fialdini, Thomas Farkas, Todd Eberle, Virgile Simon Bertrand.

 

 

Dividida em duas partes, na primeira, a exposição reúne 18 edificações que tiveram grande influência no país e no mundo. Já na segunda parte, o curador procurou apresentar somente escadas e rampas, um dos maiores desafios para os arquitetos (e os fotógrafos!), porque algumas das mais belas escadas e rampas do século XX foram realizadas no Brasil.

 

 

“Essa exposição é dedicada aos fotógrafos que nos ajudam a descobrir, apreciar e eventualmente amar a arquitetura, e ao público que, cada vez mais, tem demonstrado identificar a fotografia e a arquitetura como duas das manifestações artísticas mais marcantes do século XXI”, declara André Correa do Lago.

 

 

 

De 11 de junho a 21 de julho.

 

No Instituto Tomie Othake

26/abr

A exposição “Coleção Itaú de Fotografia Brasileira”, organizada pelo Itaú Cultural e Instituto Tomie Ohtake, mapeia os últimos 60 anos da produção fotográfica nacional de caráter experimental. A exposição já foi apresentada, em 2012, na Maison Européenne de la Photographie, em Paris, e no Paço Imperial, no Rio de Janeiro. Cartaz do Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, com curadoria de Eder Chiodetto, a exposição apresenta 94 obras em um recorte do acervo de imagens fotográficas do Banco Itaú do final da década de 1940 até hoje estabelecendo um espelhamento lúdico entre obras modernistas e contemporâneas.

 

A diversidade e dimensão desse acervo permitiu ao curador selecionar obras ainda não exibidas nas duas mostras anteriores e criar novas relações de linguagem entre elas, imprimindo um novo conceito para esta edição. Eder Chiodetto manteve um núcleo de artistas modernistas como Geraldo de Barros, José Oiticica Filho, Thomaz Farkas, e José Yalenti, e acrescentou trabalhos contemporâneos de Cristiano Mascaro, Arthur Omar, Eduardo Coimbra, Bob Wolfenson, Paulo Nazareth, Alex Flemming, Albano Afonso, Pedro Motta e Mauro Restiffe.

 

“O processo curatorial mantém a essência de pesquisar a ressonância da fotografia modernista experimental, praticada com ênfase entre os anos 1940 e 1960, na fotografia contemporânea brasileira”, observa Eder Chiodetto. “A exposição contém obras que ilustram os dois períodos, mostrados lado a lado, para instigar a leitura conceitual e estética e ilustrar como o período modernista ressoa na produção contemporânea”, completa.

 

Nas palavras dele, esta mostra não segue uma cronologia para estabelecer um espelhamento lúdico, evidenciando as relações formais e uma atitude libertária diante da representação fotográfica presentes nos dois períodos. O conjunto de obras está dividido em dois espaços. “Uma das intenções dessa mostra é justamente sugerir pontos de contato entre os tempos pré e pós ditadura”, explica o curador.

 

O primeiro apresenta trabalhos que enfocam a paisagem urbana – tendo a arquitetura modernista da Escola Paulista como um ícone – e o homem marcando mais claramente as conexões e os desdobramentos estéticos e conceituais que ligam a produção dos fotógrafos modernos aos autores contemporâneos. São trabalhos, para citar alguns, de Thomaz Farkas, Cristiano Mascaro e Rubens Mano.

 

Em contraponto, no outro espaço são apresentados trabalhos de nomes como Ademar Manarini, José Oiticica Filho, Miguel Rio Branco, Mario Cravo Neto e Claudia Andujar que versam sobre o homem e sua identidade.

 

Entre a produção modernista e a contemporânea há um vácuo na produção experimental que coincide, não por acaso, com o período da ditadura militar (1964 – 1985). Foram raros os artistas que utilizaram a fotografia para experimentar novos limites da linguagem. Entre eles, destacam-se as séries “Para um Jovem de Brilhante Futuro”, de Carlos Zílio e “Viagem pelo Fantástico”, de Boris Kossoy, que fazem analogia aos tempos da ditadura.

 

Até 19 de maio.



Dois na Galeria Laura Marsiaj

25/abr

 

O artista visual baiano Fabio Magalhães inicia seu processo criativo com a elaboração de uma cena para atender a um ato fotográfico que termina em pintura. Ele trabalha a partir da própria imagem. Fábio Magalhães foca em uma persistência poética da pintura auto referencial, buscando ressaltar condições inconcebíveis de serem retratadas senão por meio de artifícios e distorções da realidade.

 

Na série inédita “Retratos Íntimos”, apresentada na Galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, composta por oito pinturas em grandes formatos, Fabio Magalhães produziu uma analogia aos sentimentos íntimos. Para construir essas metáforas visuais ele usa traqueias, línguas, carnes e vísceras. Num segundo momento amplia ou reduz as proporções para atingir seus objetivos. Em suas estratégias para elaboração das situações, algumas vezes, utiliza-se do próprio corpo, como o sangue coletado para compor uma tela. O artista utiliza desse artifício para compor uma metáfora onde o corpo é a anatomia e o sangue ilustra a obra através de seu vermelho vibrante.

 

A exposição resulta numa pintura contemporânea com recursos diversos para construir e apresentar ao público um trabalho que impressiona pelo impacto visual. Fábio Magalhães afirma que a inspiração para esta nova exposição é proveniente das suas observações do cotidiano.

 

Nascido na cidade de Tanque Novo, a 662 km de Salvador, Fábio Magalhães veio para a capital baiana estudar, e em 2001 ingressou na Escola de Belas Artes da UFBA, momento que aproveitou para experimentar várias técnicas até entender e perceber que a pintura seria a sua companheira de trabalho. Fabio foi um dos 45 artistas selecionados pelo Itaú Cultural no Programa Rumos – 2011/13, onde 1770 estavam inscritos.

 

Sala VIP no Espaço Anexo

 

 

O espaço Anexo da Galeria Laura Marsiaj vai surpreender os convidados. A artista argentina Ivana Vollaro transformou o lugar em uma “Sala VIP”, que convidará o público para passar por uma experiência clássica na rotina da vida cultural carioca. A instalação coloca em questão os espaços auto denominados exclusivos dentro de uma sociedade estratificada que cria códigos determinados, como pulseiras de todos os graus do vip e comportamentos que lidam com o super ego do indivíduo. Ivana coloca em debate o que significa estar dentro ou fora de um mesmo espaço subdividido. “Como nos movemos dentro desses espaços, por vezes delimitados por uma só simples corda?

 

Este trabalho fala sobre o absurdo dessas situações e reflete sobre a logística de ingresso e as formas de acesso a espaços tão limitados quanto desejados”, conta a artista. Cada visitante receberá uma pulseira (tem dourada e prateada), passará por seguranças e viverá todo o circuito de um “vip”. A surpresa virá quando chegar dentro do espaço. “Sala Vip” é a segunda exposição individual da artista na Galeria Laura Marsiaj e a quarta no Brasil. Em 2003 Ivana recebeu a Bolsa Antorchas para estudos no exterior e se mudou para São Paulo onde viveu até 2005. Já expôs em diversas galerias brasileiras, como no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, além de mostras realizadas pela Argentina e Canadá.

 

 

Até 18 de maio.

40 fotos de Boris Kossoy

08/mar

“Busca-me”, é a nova e inédita série concebida por Boris Kossoy, nome fundamental na história da fotografia brasileira – como autor e pensador –, será apresentada nesta sua primeira individual na galeria Berenice Arvani, Cerqueira César, São Paulo, SP. Conforme aponta o curador da exposição Diógenes Moura, as 40 fotografias (peças únicas, sem cópias), “não são apenas imagens, nem em seus signos e em suas representações, mas cada uma contém a vida inteira do fotógrafo”.

 

Segundo Moura, depois da exposição realizada na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 2008, Kossoy recolheu-se como de costume, em casa e em vários países do mundo e está de volta para comprovar que uma fotografia não possui apenas uma face exterior. “E, não sendo exterior, um dos seus manequins poderá inclusive sorrir, ou derramar uma lágrima. A fotografia de Kossoy é precisa: domina o tempo. O espectador sente a presença do fotógrafo invisível querendo sair para encontrar o sol, se aproximar do hidrante vermelho que, como os ETs, estão de volta. Os hidrantes, os ETs ou a natureza onde novamente no meio das folhas encontraremos outra máscara, um grito”, completa o curador.

 

Em “Busca-me”, Boris Kossoy evoca seu mundo flutuante, “um roteiro imaginado, entre muitos outros, de situações, prazeres, amores, perfumes e dores que afetaram para sempre seus sentidos. Vemos personagens deste teatro imaginário onde coabitam seres dos dois mundos e imaginamos os espectadores com eles interagindo numa relação secreta e triangular”, explica o fotógrafo. Todo esse universo foi interpretado a partir de paisagens, ruas e praças, o olhar do fotógrafo através das janelas, diante de espelhos, pelo interior de vitrines, nas telas do cinema e da TV e dos aparelhos eletrônicos.

 

Boris Kossoy, com seu preciosismo técnico e teórico, extrai, sobretudo, do profundo os fundamentos de sua fotografia. Com isso, vem construindo uma trajetória que o coloca como um dos mais importantes fotógrafos brasileiros, autor de produção aclamada também internacionalmente.

 

Sobre o artista

 

Suas obras fazem parte de importantes coleções permanentes, como do Museum of Modern Art – MoMA, N.Y; George Eastman House, Rochester, N.Y; Smithsonian Institution, Washington, D.C.); Bibliothèque Nationale de Paris, Paris, França; Museu de Arte de São Paulo, São Paulo, SP, entre outras.

 

Como pensador, Kossoy, recentemente assinou a curadoria da elogiada mostra “Um olhar sobre o Brasil. A Fotografia na construção da Imagem da Nação”, realizada no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP. Em sua produção intelectual, destacam-se os livros: Viagem pelo Fantástico; Hercule Florence, a Descoberta Isolada da Fotografia no Brasil; Origens e Expansão da Fotografia no Brasil – Século XIX; Fotografia e História; Realidades e Ficções na Trama Fotográfica e Os Tempos da Fotografia: O Efêmero e o Perpétuo.

 

Kossoy é também professor titular da Escola de Comunicações e Artes da USP, foi diretor do Museu da Imagem e do Som de São Paulo e do IDART – Divisão de Pesquisas do Centro Cultural São Paulo criou dentro da mesma universidade NEIIM – Núcleo de Estudos Interdisciplinares de Imagem e Memória. É membro do conselho consultivo da Coleção Pirelli-MASP de Fotografia, entre outras instituições culturais.

 

Até 19 de abril.

Um olhar sobre o Brasil/CCBB-Rio

28/fev

Com mais de 300 imagens de diferentes acervos públicos e coleções privadas, chega ao CCBB-Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, a exposição “Um olhar sobre o Brasil. A Fotografia na construção da Imagem da Nação”, realizada pela Fundación Mapfre, com a colaboração do Instituto Tomie Ohtake. O projeto inédito, de pensar 170 anos de história do país, 1883-2003, a partir do registro fotográfico, tem curadoria do especialista em história da fotografia Boris Kossoy e curadoria adjunta da antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz.

 

A mostra, com cenografia assinada por Daniela Thomas e Felipe Tassara, percorre caminhos de luz e sombra, costurando história e iconografia. Tomando como ponto de partida o momento próprio de invenção da técnica fotográfica, a exposição revisita o olhar “científico” que guiava as expedições estrangeiras, o gosto de D. Pedro II pelo novo suporte e os registros de revoltas populares como a de Canudos, até chegar à grande multiplicação de temas, ângulos, acontecimentos e reviravoltas que compuseram o longo século 20.

 

Cada fotografia se faz acompanhar por um pequeno texto; na verdade, sua micro-história, com informações que vão muito além da tradicional legenda (título, data, autor). Esse diferencial é conseqüência da ampla pesquisa realizada para a mostra, tanto referencial quanto iconográfica (essa última assinada por Vladimir Sacchetta). Ao refletir sobre as fotos escolhidas, o curador destaca o esforço em ”valorizar o simbólico, tentar evitar a redundância, destacar o anônimo e o cotidiano naquilo que têm de aparente e oculto, rever criticamente as imagens conhecidas e ideologicamente comprometidas com as histórias oficiais.”

 

A mostra

 

Para organizar o grande número de imagens, a curadoria estruturou o material a partir de quatro grandes eixos temáticos: política, sociedade, cultura/artes e cenários. Ao mesmo tempo, os 170 anos foram divididos em sete períodos, demarcados por fatos marcantes da história nacional: 1833 -1889/Luzes sobre o Império; 1889 – 1930/Urbanidade, conflitos, modernidade; 1930 -1937/Ideologias, revoluções, nacionalismos; 1937 -1945/Autoritarismo, repressão, resistência; 1945 -1964/Industrialização, desenvolvimento, anos dourados; 1964 -1985/Tempos sombrios e 1985 – 2003/O reacender das luzes.

 

Escolhida como ponto de partida da exposição, a data de 1833 refere-se às experiências precursoras de Antoine Hercule Romuald Florence, 1804–1879, levadas a efeito na vila de São Carlos (Campinas) e que o conduziram a uma descoberta independente da fotografia, pioneira nas Américas e contemporânea às que se realizavam na Europa, na mesma época.

 

Pensando ainda no século 19, Lilia Schwarcz ressalta os fotógrafos itinerantes que varreram o país de ponta a ponta – motivados, a princípio, pelo desejo de conhecer esse Império dado a costumes, climas e políticas em tudo tão distintos.

 

Hobby do imperador D.Pedro II, a fotografia tornou-se ferramenta para registrar um número cada vez maior de famílias da elite, em cenas devidamente posadas.  Junto com o registro da paisagem urbana, rural e natural, os retratos de estúdio introduziram a prática fotográfica no cotidiano das sociedades em todo o mundo.

 

Ao longo de todo o século 20 e com cada vez mais intensidade, a nova arte tomou as páginas das revistas e dos jornais, diversificou seus temas e, saindo às ruas, acompanhou os momentos mais marcantes da vida brasileira – alguns gloriosos, outros bastante sombrios.

 

Técnica documental, mas também plataforma da criação e profusão de sentido, a fotografia fez parte da construção da identidade nacional desde a época de sua invenção não só retratando, mas também contribuindo para definir costumes, numa intrincada rede de relações.

 

De 01 de março a 07 de abril.

No IMS – Rio

Luiza Baldan

O Instituto Moreira Salles, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “Lugar nenhum”, com 56 obras, entre pinturas e fotografias, produzidas por oito artistas contemporâneos brasileiros: Ana Prata, Celina Yamauchi, Lina Kim, Luiza Baldan, Marina Rheingantz, Rodrigo Andrade, Rubens Mano e Sofia Borges. A exposição tem curadoria do crítico de arte Lorenzo Mammì e da coordenadora de artes visuais do IMS, Heloisa Espada. No dia da abertura, às 17h, o IMS realiza uma mesa-redonda com os curadores e Sérgio Bruno Martins, crítico de arte e doutor em história da arte pela University College London.

Para compor a mostra, os curadores partiram da constatação de que um número significativo de fotógrafos e pintores contemporâneos brasileiros se interessam por assuntos comuns: lugares quase sempre vazios e anônimos, objetos e situações triviais. Por isso, o título da exposição está diretamente ligado ao conceito de terrain vague (terreno vago) – cunhado pelo arquiteto catalão Ignasi de Solá-Morales –, que são espaços aparentemente esquecidos, vazios, que no presente evidenciam um resquício do passado.

 

“Lugar nenhum” reúne artistas com percursos e referências distintas que, postos lado a lado, sugerem um sentido comum. Os três pintores que participantes – Marina Rheingantz, Ana Prata e Rodrigo Andrade – trabalham a partir de imagens fotográficas retiradas de diversas fontes. Embora a fotografia seja para eles uma potente fonte de ideias, a técnica detona um processo criativo que visa a desafios próprios à pintura. Os fotógrafos, por sua vez, cada um a seu modo, demonstram a mesma liberdade do pintor para interferir na cena registrada, seja modificando o lugar fisicamente, como faz Rubens Mano, seja por manipulações digitais, como fazem Lina Kim, Celina Yamauchi e, em alguns trabalhos, Sofia Borges.

 

Sobre as obras e os artistas

 

Lina Kim: as obras expostas fazem parte da série “Rooms”, 2003-2006, um de seus únicos trabalhos exclusivamente fotográficos. São três imagens de instalações – hoje abandonadas  – do Exército Soviético, na antiga Alemanha Oriental.

 

Luiza Baldan: serão exibidas fotografias das séries “Lagos”, 2004-2007, “De murunduns e fronteiras”, 2010, “Insulares”, 2010, “Pinturinhas”, 2009-2012, “A uma casa de distância da minha”, 2012 e “Diário urbano’, 2004-2012.

 

Rubens Mano apresenta dois dípticos, um deles é “Entre”, que retrata uma construção abandonada já prestes a ser reabsorvida pelo mato. Há em “Lugar nenhum” mais quatro imagens de sua autoria, entre elas “Construção da paisagem”, 2010, que deriva de uma intervenção feita no Museu de Belas Artes de Córdoba, Espanha.

 

Celina Yamauchi adota a fotografia em branco e preto como tema, mais do que como meio. Serão apresentadas 12 imagens produzidas entre os anos de 2011 e 2012, todas com planos muito fechados, com a câmera apontada para o chão para um canto ou para uma parede. A artista fotografa com câmera digital e, posteriormente, elimina as cores da imagem. O resultado são cenas de um colorido tênue e delicado. São as imagens mais intimistas da exposição.

 

Sofia Borges fotografa objetos e lugares, mas também reproduz fotografias de família, imagens de livros, painéis explicativos de museus científicos. Ela apresenta imagens de diferentes naturezas lado a lado, confundindo suas origens e usos. Seu trabalho investiga e questiona a fotografia como representação da realidade.

 

Ana Prata: a artista não pinta as coisas, mas as imagens das coisas: “Sete Lagoas”, 2012, é um cartão postal, “Grande circo”, 2011, é uma transmissão televisiva, “Rua”, 2012, se parece com uma foto tirada de um celular. Seu processo criativo, rápido e diversificado, aproxima sua pintura da versatilidade própria da fotografia.

 

Rodrigo Andrade: o artista trabalha a partir de fotografias retiradas da internet, de mídias impressas ou de seu arquivo pessoal. Em uma das telas apresentadas, ele faz referência a uma fotografia do japonês Daido Moriyama. Rodrigo Andrade transpõe imagens fotográficas para a tela por meio de uma pintura sofisticada e diversa para, em seguida, cobrir parte dessa pintura com camadas espessas de tinta à óleo.

 

Marina Rheingantz: para Lorenzo Mammì, “se há uma pintora do terrain vague, é ela. (…) Os seis óleos sobre tela apresentados nessa exposição não apenas representam terrenos baldios, lugares abandonados em que a história continua correndo, ainda que num ritmo mais lento: eles são um desses lugares, se comportam como eles”.

 

De 02 de março a 02 de junho.

Fialdini na Raquel Arnaud

30/jan

Um dos principais fotógrafos brasileiros, Romulo Fialdini, nesta sua primeira individual na Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP, revela a sua poética singular ao apresentar 24 fotografias autorais. A exposição “Pensei que fosse só eu”, reúne imagens selecionadas pela curadora Galciani Neves, que fazem parte de um livro de mesmo nome, que será lançado pela editora Superbacana +, na abertura da exposição, com cerca de 100 fotografias, em preto e branco, concebidas ao longo da extensa carreira do fotógrafo.

 

Para a exposição, a curadora destaca as imagens que evidenciam a singularidade das composições do fotógrafo a partir de seu olhar sobre a arquitetura e os espaços urbanos. Para o livro a curadora pesquisou o arquivo autoral de Romulo Fialdini que contém mais de 8 mil fotos. As obras selecionadas “são recortes de tempo distanciadas do fluxo da vida, como uma pausa ao ritmo do consumo das imagens rápidas atadas aos apelos artificiais”.

 

Depois de 12 anos dedicados ao design, o estúdio Superbacana ampliou a sua atuação ao criar a editora Superbacana +, com a proposta de desenvolver projetos culturais que conjuguem a produção de livros-objeto com exposições das obras publicadas. “Pensei que fosse só eu”, de Romulo Fialdini, é o projeto de estreia da editora, com tiragem inicial de 1500 exemplares, sendo 100 em formato de livros-objeto, em caixa acrílica, numerados, assinados e acompanhados de jogo da memória baseado nas fotos do livro.

 

Sobre o artista

 

Rômulo Fialdini foi fotógrafo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand de 1971 a 1974, onde produziu imagens para catálogos, livros de Pietro Maria Bardi e para o arquivo de documentos de Lina Bo Bardi. Essa experiência repercutiu em sua carreira e até hoje destaca-se como fotógrafo especialista na reprodução de obras de arte. Desde 1975 trabalha como fotógrafo independente, atuando também no campo editorial e de publicidade. Em paralelo, dedica-se à fotografia urbana e de arquitetura, realizando ensaios em preto e banco sobre cidades como Nova Iorque, Chicago e Montevidéu.

 

De 02 de fevereiro a 09 de março.