Exposição de Ashley Joy

23/ago

A artista americana Ashley Joy inaugura sua primeira exposição individual no Brasil, na galeria Pop-up, Itanhangá, Rio de Janeiro, RJ. “Chapters”, sob a curadoria de Shannon Botelho e visitação até 21 de setembro. A mostra é composta por 23 pinturas nas quais destaca-se os tons quentes, fluidez e intensidade, que refletem a abordagem abstrata da artista. Ashley Joy explora temporalidade, memória e subjetividade, utilizando a abstração para expressar suas ideias em um mundo em constante transformação, criando estruturas visuais assertivas através de uma criteriosa seleção de cores e formas. Seja em grandes ou pequenos formatos, os trabalhos alcançam uma resolução plástica devido a uma criteriosa seleção de cores e formas que, uma vez estabelecidas, compõem uma estrutura visual funcional e assertiva. “Em todos os trabalhos da artista, os elementos não aparecem gratuitamente, ao contrário, funcionam como artifícios de estabilização da própria pintura e conexão com o cotidiano do ateliê e da cidade”, afirma Shannon Botelho.

Desde que se mudou para o Rio de Janeiro em 2011, suas abstrações adquiriram novos elementos figurativos, influenciada pela presença constante das montanhas na paisagem da cidade. “Nelas a paisagem simula presença, sem imprimir, de fato, o seu registro. Como miragens, as pinturas figuram imagens somente em nossas suposições e expectativas, pois, se olharmos atentamente veremos que diante de nós estão as mesmas formas e cores habituais de sua abstração”.

As referências artísticas de Ashley incluem Tamara de Lempicka, cuja estética art déco e o uso de cores monocromáticas exerceram um impacto profundo em seu desenvolvimento durante a adolescência. Além disso, seu trabalho é profundamente influenciado por sua vida familiar. Desde cedo, ela compartilha com seus filhos o prazer da prática no ateliê, um hábito que herdou de sua própria mãe. “Acredito no potencial de uma criação matriarcal, onde a força e a presença feminina são fundamentais”, diz a artista. Foi logo após o nascimento de sua primeira filha que sua pintura autoral realmente emergiu, resultando em uma explosão criativa que a levou a produzir mais de cem quadros em grandes formatos. Mais recentemente, o universo da arte urbana tornou-se um elemento significativo na pesquisa de Ashley. Estêncil, desenhos, colagem, baixos-relevos, e a técnica de aquarela em acrílica são utilizados para criar camadas vibrantes, delicadas e fluídas.  “Como capítulos, essas camadas de imagens presentes nas ruas das cidades e que contam histórias, compõem temporalidades e estruturam uma narrativa da própria vida”, reforça o curador.

“Chapters” nos convida a refletir sobre o tempo, as memórias e a vida. “A pintura de Ashley, neste sentido, imita o ritmo intenso da vida cotidiana, semelhante a capítulos com as suas sequenciais surpresas, sem perder, contudo, a beleza das cores, das misturas e as esperanças”, conclui Shannon Botelho.

Sobre a artista

Ashley Joy nasceu em 1983, Austin, Texas – EUA. Vive e trabalha entre Brasil e EUA. Artista visual com formação em Belas Artes pela Universidade do Texas – EUA. A relação de Ashley com a pintura é profunda e familiar, acompanhando as diversas fases de sua vida. Após o nascimento da sua primeira filha, sua produção artística cresceu em escala e volume. Influenciada pela Street Art, Ashley Joy experimenta variados processos para construir camadas que revelam diferentes temporalidades em uma única obra. Utilizando técnicas como estêncil, desenho, colagem e alto-relevo, ela desenvolve um estilo único, criando camadas fluidas e delicadas em acrílico.

Diálogo entre artes

Art Lab Foto & Circuito Contemporâneo explora a fotografia e a arte do handmade em exposição coletiva. Curadoria de Juliana Mônaco une fotografia, joias e objetos de arte em diálogo com a história da arte e as transformações culturais.

A Art Lab Gallery, Vila Madalena, São Paulo, SP,  apresenta a exposição coletiva “Foto & Circuito Contemporâneo”, com a participação de 55 artistas, em uma homenagem ao Dia Mundial da Fotografia. A mostra reúne uma diversidade de expressões artísticas, destacando a fotografia como protagonista. A exposição celebra o poder da fotografia em capturar e refletir as transformações culturais, tecnológicas e sociais da contemporaneidade. Juliana Mônaco, em sua curadoria, selecionou uma variedade de obras que transita entre o tradicional e o inovador, desde registros documentais até experimentações abstratas, evidenciando a evolução da prática fotográfica ao longo do tempo, estabelecendo um paralelo com a história da arte e suas respostas às mudanças da sociedade.

O espaço dedicado à fotografia na mostra se torna um ambiente de diálogo intergeracional, onde novos talentos encontram-se com mestres consagrados, criando um circuito de troca e aprendizado contínuo. Essa pluralidade de olhares e técnicas oferece uma perspectiva abrangente do cenário fotográfico atual, refletindo as diversas maneiras como a fotografia continua a moldar e ser moldada pelo contexto cultural. Além da fotografia, a exposição também abre espaço para outras linguagens artísticas. Joias e obras de arte de suportes diversos como pintura, aquarela, criteriosamente selecionados, complementam a mostra. Esta integração reforça a proposta de Juliana Mônaco de expandir a compreensão da arte contemporânea, conectando diferentes práticas artísticas e oferecendo ao público uma experiência multifacetada.

“Foto & Circuito Contemporâneo” convida o espectador a explorar as interseções entre fotografia, design e arte, revelando as múltiplas possibilidades que emergem da interação entre essas disciplinas. A exposição reafirma o compromisso da Art Lab Gallery com a promoção de um circuito criativo dinâmico e inclusivo, que valoriza tanto o novo quanto o estabelecido, em um contínuo diálogo com a história da arte.

Foto & Circuito Contemporâneo

Curadoria: Juliana Mônaco

Artistas: Adriana Kling, Adriana Piraíno Sansiviero, Amanda Rigobeli, Arsenio Gallinaro Filho, Barrieu, Bernarda Ergueta, Bruno Góes, Carlos Sulian, Carol Lavoisier, Crys Rios, Dani Braido, DMs Tring Art, Emanuel Nunes, Evandro Oliveira, Felipe Manhães, Flavio Ardito, Gabi Castejon, GERMANO, Graça Tirelli, Gray Portela, GUS, Heitor Ponchio, Jorge Herrera, Juliana Rimenkis, Junior Aydar, Leo Fonteviva, Lena Emediato, Lidiane Macedo, Luciano Alarkon, Luh Abrão, Luiza Whitaker, Margareth Stewart, Maria Bertolini, Maria Eduarda Comas, Marina Nasser, Mari Kirk, Maurizio Catalucci, Pakatatu, Paola Lazzareschi, Patricia Falàbella, Rapha Mais, Rebeca Bedani, Ricardo Massolini, Ricárddo P. Pínto, Roger Mujica, Suzy Fukushima, Tomaz Favilla

Designers: Boreale, Liló, Marcelo Lopes, Sadhana Joias, Stella Abreu, Vivian Victor.

Abertura: 24 de agosto, sábado, das 16h às 18h

De 27 de agosto a 7 de setembro.

Novo espaço de exibições

22/ago

O Bradesco inaugura em São Paulo o centro de criatividade e expressão artística Casa Bradesco na região da Avenida Paulista. O espaço – composto por quatro salas – foi projetado para atender a diversidade das experiências culturais. O incentivo a cultura acontece em parceria com o espaço cultural Cidade Matarazzo. A Casa Brasdesco passará a estar disponível para visitação em 15 de setembro.

Na sala Aqui, haverá a exposição do artista plástico Anish Kapoor. No ambiente Ali, a criatividade infantil será o foco, com espaço para interação para as crianças explorarem suas habilidades artísticas. Além disso, no espaço Acima, foi criado um laboratório focado no desenvolvimento de jovens que tem na programação workshops e palestras.

Por fim, a sala Abaixo oferece programações diversificadas com propostas imersivas para cada expressão artística. O projeto conceitual da Casa Bradesco foi idealizado pelo arquiteto Rudy Ricciotti, conhecido por projetar obras experimentais como o exterior da Philharmonie Nikolaisaal, na Alemanha. Na Cidade Matarazzo, Ricciotti desenhou a fachada da Aya Hub.

A inauguração da Casa Bradesco se acrescenta à lista de projetos de naming rights do banco, que, há 15 anos, já conta com o Teatro Bradesco. Atualmente, a Cidade Matarazzo abriga o hotel Rosewood São Paulo, a Torre Mata Atlântica, o edifício corporativo que abriga a AYA Earth Partners. Além disso, também estão presentes no espaço a Capela Santa Luzia e os restaurantes Le Jardin, Blaise e Taraz.

A produção artística de Chivitz

A Expressão Cultural na Obra de Chivitz: Arte e Vida em Diálogo na Galeria Alma da Rua II. “Vida é Arte” apresenta novas criações do artista, incluindo sua primeira escultura colecionável e uma inovadora instalação de graffiti-vídeo.

A Galeria Alma da Rua II, localizada no icônico Beco do Batman, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Vida é Arte”, do artista Chivitz, com curadoria de Tito Bertolucci e Lara Pap. A mostra, a ser inaugurada no dia 24 de agosto, permanecendo em cartaz até o dia 17 de setembro, propõe uma reflexão sobre a profunda conexão entre arte, cultura e desenvolvimento pessoal, destacando o impacto dessas dimensões na trajetória de vida e na produção artística de Chivitz.

A mostra “Vida é Arte”, com por 11 trabalhos, destaca a inovação e o experimentalismo característicos da obra do artista, apresentando pela primeira vez uma escultura colecionável em resina, intitulada “Fella”, disponível em série numerada. Além disso, inclui também a obra “Visual Dealer”, uma instalação que combina graffiti e vídeo, evidenciando sua capacidade de transitar entre diferentes suportes e de incorporar novas tecnologias em suas criações. “Vida é Arte” marca um momento significativo na carreira de Chivitz, sendo esta a primeira vez que ele transporta o espírito de seu graffiti para o contexto de uma galeria de arte. As pinturas da exposição são compostas por signos visuais e cores vibrantes que dialogam com as culturas que influenciaram o artista, convidando o público a refletir sobre o impacto em sua própria vida. Chivitz, através de sua obra, busca estimular a valorização das culturas que enriquecem a experiência humana e promover o autoconhecimento do espectador. A exposição “Vida é Arte” reflete o compromisso da Galeria Alma da Rua II em promover o diálogo entre a arte e a cultura urbana, evidenciando a relevância dessas expressões na construção de identidades e na promoção do pensamento crítico.

Sobre o artista

Chivitz, nascido em 1976, em São Paulo, SP, é um artista que emergiu no final dos anos 1990, fundando um movimento que uniu os universos do graffiti e da tatuagem. Chivitz é um artista autodidata cuja trajetória criativa teve início em 1997, com a prática do graffiti e da tatuagem. Ao longo de sua trajetória, experimentou diversas técnicas e linguagens artísticas, incluindo desenho, pintura, caligrafia, escultura, vídeo arte, arte digital e modelagem 3D. Essa multiplicidade de formas de expressão reflete o diálogo contínuo entre as influências culturais que permeiam seu trabalho e o processo de autodescoberta que marca sua produção. Esse movimento contribuiu para o fortalecimento da cultura urbana na cidade, integrando elementos como skate, hip hop e street dance. Chivitz foi um dos fundadores do Museu Aberto de Arte Urbana, uma instituição experimental situada na Zona Norte de São Paulo, criada em 2011. Seu trabalho alcançou reconhecimento ao participar de exposições importantes, como “Puras Misturas” no Pavilhão das Culturas Brasileiras (2012), o “Salisbury International Arts Festival” na Inglaterra (2012) e a “IV Bienal de Graffiti Fine Art” no Memorial da América Latina (2018). Chivitz também colaborou com marcas como Disney, Marvel e Warner Bros., e integrou sua arte em produções audiovisuais, como shows de Pavilhão 9 e Charlie Brown Jr., filmes, e programas de TV. Em 2021, representou a cultura urbana paulista na Exposição Universal em Dubai.

Acontece em Brasília

21/ago

A Cerrado Galeria, localizada na QI 5 do Lago Sul, sediou o lançamento de um novo projeto dedicado ao fomento da cultura e da educação em artes visuais: a Cerrado Cultural. O evento foi marcado pela inauguração de duas exposições: “Mito, rito e ritmo interior: Rubem Valentim fazer como salvação”, com curadoria de Lilia Schwarcz, e “O centro é o oeste insurgente”, com curadoria de Divino Sobral e Lilia Schwarcz.

Rubem Valentim é considerado um dos mestres do construtivismo brasileiro e conhecido pelas composições geométricas com emblemas afro-brasileiros, o pintor, escultor e gravador baiano Rubem Valentim terá o legado exposto no espaço Cerrado Cultural, projeto de expansão da Cerrado Galeria. A mostra segue em cartaz até 1º de novembro.

Batizada de “Mito, rito e ritmo interior: Rubem Valentim fazer como salvação”, a exposição vai explorar as diferentes fases da carreira de Rubem Valentim, além de expor fotos e fontes originais. A mostra tem curadoria de Lilia Schwarcz, uma das principais pesquisadoras de história e de arte do país, além de estudiosa do artista desde 2018, quando participou da mostra “Rubem Valentim: Construções afro-atlânticas” no Masp, SP.

As obras ficarão divididas em salas a partir de uma ordem cronológica. A mostra inicia-se com as produções em que Rubem Valentim está testando a geometria com os elementos das religiões de matrizes africanas. Na sequência vem os trabalhos tridimensionais, com esculturas e obras mais rígidas e concretas, mas também sob a influência religiosa. O terceiro momento mostra a explosão de cores e paletas. A exposição continua com uma sala que apresenta o ateliê de Rubem Valentim, cedido pelo Instituto Rubem Valentim, e segue para o quinto e último ambiente, uma sala projetora inspirada num projeto expográfico do baiano. Cada um dos espaços é norteado por conteúdos e documentos que dão um panorama histórico. O objetivo é trazer os impasses contextuais do artista trazendo para o público as questões presentes nas obras.

A mostra é uma homenagem ao artista que escolheu a capital federal para morar durante um período de sua vida, fato que influenciou diretamente na inclusão do tridimensionalismo em sua obra. “Essa exposição, sediada em Brasília, pretende explorar o local da cidade como momento de inflexão e de agigantamento do trabalho mágico e emblemático de Valentim. Jovem como o artista, a nova capital federal se erguia de maneira monumental, a partir dos traçados retos e concretos, e o desafio acabou por fisgar o artista que nunca deixou de fato a cidade e seu convívio”, explica Lilia Schwarcz no texto curatorial da exposição.

Cerrado Cultural

Novo projeto da Cerrado Galeria, o espaço Cerrado Cultural nasce para ampliar a vocação da marca de dar visibilidade aos artistas e à produção do Centro-Oeste, por meio de um local para exposições, residências artísticas e formações educativas. Está localizado em uma chácara no Lago Sul em um espaço amplo – com mais de 1,6 mil metros quadrados. Duas exposições inauguram o espaço. Uma delas é a individual dedicada ao artista Rubem Valentim, a outra é uma coletiva com 15 artistas do Distrito Federal, Goiás e do Mato Grosso, intitulada “O centro é o oeste insurgente”, com curadoria de Divino Sobral e Lilia Schwarcz.

Bate-papo com Rose Afefé n’A Gentil Carioca

20/ago

Será no dia 24 de agosto, o encerramento da exposição “A vergonha quase me tirou a memória”. A Gentil Carioca e Rose Afefé convidam para uma conversa que começará às 14h na galeria e terá seu desfecho no Solar dos Abacaxis, onde a artista apresenta a obra-cidade “Terra do Pé Vermelho”.

A conversa começa n’A Gentil Carioca, onde a artista falará sobre a sua exposição “A vergonha quase me tirou a memória”, atualmente em exibição na galeria; o texto crítico é de Luiz Zerbini. As obras presentes na mostra surgem a partir de recortes das muitas recordações que Rose Afefé carrega de sua vida e infância no interior da Bahia. A artista, que em 2018 realizou a obra “Terra Afefé – uma microcidade levantada com terra na região da Chapada Diamantina” – traz desdobramentos da poética desse território em pinturas e instalações inéditas.

O bate-papo segue no Solar dos Abacaxis, onde Rose participa da exposição coletiva “Por uma outra ecologia: o que a matéria sabe sobre nós”, sob a curadoria de Matheus Morani e Thiago de Paula Souza. Nesta mostra, Rose Afefé apresenta o processo de fundação de uma nova cidade, chamada “Terra do Pé Vermelho”. A obra-cidade, concebida de forma fragmentada, tem como principal objetivo a circulação e redistribuição de recursos econômicos. Segundo Matheus Morani, “Rose a funda como um manifesto, estabelecendo um ecossistema financeiro que beneficia diretamente os moradores simbólicos desta Terra, em uma taxa de contrapartida social revertida à materialização de seus sonhos no valor de aquisição de cada uma destas fachadas. Assim como Terra Afefé, a Terra do Pé Vermelho se abre às comunidades para que habitem em seus mais diversos usos e desejos.”

E sábado é o último dia para visitar a exposição “Arqueologia de si”, de Novíssimo Edgar, que tem texto crítico da curadora Tamar Clarke-Brown.

Tramas, rendas e bilros

15/ago

Chama-se “Tramas, rendas e bilros”, a exposição e bate-papo com a artista plástica Beatriz Dagnese no Espaço Cultural HPM. Localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, RS, o Espaço Cultural do Hotel Praça da Matriz (HPM) hospedará entre 22 de agosto e 13 de outubro a exposição da artista plástica Beatriz Dagnese com mais de 20 desenhos já conhecidos ou inéditos, ressaltando a marca particular da autora: o uso de nanquim e grafite sobre papel na criação de imagens que transitam entre o figurativo e o abstrato.

Em paralelo à mostra, a artista participará de três encontros da série de bate-papos “Roda de Cultura”, com mediação por protagonistas do setor cultural. Estão programadas três edições do evento, ao longo de três quartas-feiras, sempre às 17h30min: 28 de agosto, 25 de setembro e 9 de outubro. A entrada é franca e aberta ao público em geral, porém com vagas limitadas – mediante inscrição pelo whatsapp (51) 9859-55690.

Sobre a artista

Nascida e criada em uma família de agricultores de ascendência italiana na zona rural de Nova Bassano (Serra Gaúcha), Beatriz Dagnese iniciou sua trajetória nas artes plásticas de modo intuitivo, aos 24 anos, ao ter sua atenção despertada por ilustrações publicadas na imprensa de Porto Alegre, para onde havia migrado na juventude, por conta do trabalho como enfermeira. Ela relembra hoje, aos 70 anos: “Desde a adolescência eu tinha muito claro que não queria para mim a vida agrícola, e sim estudar e trabalhar em outra área. Sempre me interessei por arte e queria fazer algo, mesmo sem saber exatamente o quê e imaginando que não tinha como sobreviver da atividade na época, até deparar com desenhos de Vera Lúcia Didonet nas páginas de um dos jornais deixados pelos médicos em uma sala de hospital onde eu cumpria expediente, em 1978”. A descoberta impactou Beatriz de tal forma que ela imediatamente passou a rabiscar a lápis uma série de esboços sobre folhas de receituários. “Eu achava que desenhava”, brinca. “Não parei mais. Fui experimentando outros materiais, técnicas e imagens que acabaram definindo um estilo, ao mesmo tempo em que continuava no setor da saúde. Já dividindo meu tempo entre Porto Alegre e Canela, montei um ateliê em minha casa no interior.”O encorajamento constante pelos amigos a levou a socializar pela primeira vez a sua obra, inscrevendo-se na edição 2008 do Salão do Jovem Artista, promovido pela RBS e Secretaria Estadual da Cultura. Resultado: o primeiro lugar na região da Serra Gaúcha. Dali em diante, Beatriz teria o seu trabalho reconhecido em outros certames, como o Salão da Câmara de Vereadores de Porto Alegre (Menção Honrosa) e Bienal do Mercosul de 2015. Aposentada da enfermagem e hoje totalmente dedicada ao trabalho com desenho, seu trabalho tem sido compartilhado em mostras individuais e coletivas dentro e fora do Rio Grande do Sul. A artista faz um balanço de seu ingresso e projeção na atividade: “Entrei na hora certa, com cinquenta e poucos anos, sem jamais me sentir incomodada por ter começado na arte em um momento que muitos podem considerar tardio”, avalia. “Para mim, criar é fazer o que os outros não fizeram.”

Sobre o Espaço cultural HPM

Inaugurado como imóvel residencial no final da década de 1920, o palacete do Largo João Amorim de Albuquerque nº 72 abriga há quase 50 anos o Hotel Praça da Matriz. O empreendimento passou por ampla revitalização e, sob o comando da família Patrício desde 2014, hospeda anônimos e famosos (a artista plástica Magliani residiu por três meses em seu retorno à cidade, em 1998), além de abrigar o Espaço Cultural HPM. No foco estão exposições, saraus, lançamentos de livros e outros eventos, em parceria com a empresa Práxis Gestão de Projetos. A origem do imóvel remonta a Luiz Alves de Castro (1884-1965), o “Capitão Lulu”, dono do cabaré-cassino “Clube dos Caçadores”, instalado de 1914 a 1938 na rua Andrade Neves (a poucas quadras dali) e enaltecido por cronistas e escritores como Erico Verissimo. A fortuna amealhada pelo empresário com a atividade ainda bancou, na mesma época, a construção do imponente edifício que hoje sedia o Espaço Cultural Força e Luz (Rua da Praia). Contratado por Lulu, o engenheiro e arquiteto teuto-gaúcho Alfred Haasler projetou quatro andares com subsolo, pátio interno e dois diferenciais naquele tempo: garagem e sistema francês para calefação de água, tudo em estilo eclético, com mármores, azulejos e outros materiais importados. O conjunto está inventariado como de interesse histórico pelo município e contemplado com o programa Monumenta, permitindo a recuperação de fachada, cobertura e estrutura elétrica. O proprietário não teve muito tempo para aproveitar tamanho requinte, pois migrou no início da década de 1930 para o Rio de Janeiro, ampliando atividades (foi sócio do Cassino da Urca e dono de diversos empreendimentos). Com o decreto federal que em 1946 proibiu os jogos-de-azar, Lulu se desfez do seu patrimônio em Porto Alegre. O palacete junto à Praça da Matriz – até então alugado a terceiros – trocou de mãos até ser adquirido em 1949 por um comerciante cuja nora, Ilita Patrício, mantém hoje o estabelecimento hoteleiro.

Exposição e livro de Gonçalo Ivo

14/ago

A Pinakotheke Cultural, no Rio de Janeiro, abrirá para o público no dia 19 de agosto a exposição “Gonçalo Ivo – Zeitgeist”, com 79 pinturas criadas pelo artista nos últimos cinco anos, das séries “Le jeu des perles de verre” (“Jogos de contas de vidro”), “Cosmogonias”, “Cardboards” e “L’inventaire des pierres solitaires” (“Inventário das pedras solitárias”). A exposição permanecerá em exibição até 28 de setembro.

Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho, presidente do Conselho do Museu de Arte do Rio, amigo do artista, e que acompanha seu trabalho há mais de trinta anos responderá pela curadoria. A quase totalidade dos trabalhos é inédita, e apenas cinco deles estiveram na exposição homônima realizada no Paço Imperial, em abril de 2022, que teve 26 obras selecionadas pelo mesmo curador.

Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho destaca que Gonçalo Ivo “é considerado um dos maiores coloristas contemporâneos do país”. O artista nasceu no Rio de Janeiro, em 15 de agosto de 1958, e se divide entre seus ateliês na serra de Teresópolis, no Rio de Janeiro, em Paris e em Madri. O termo Zeitgeist significa “espírito de tempo”, e foi usado inicialmente pelo filósofo e escritor alemão Johann Gottfried von Herder (1744-1803). Será exibido o filme “Gonçalo Ivo – uma biografia da cor” (2024, 28’), dirigido por Katia Maciel, com fotografia de Daniel Venosa, feito especialmente para a mostra.

A exposição será acompanhada do livro “Gonçalo Ivo – Zeitgeist” (Edições Pinakotheke), bilíngüe (port/ingl), com 328 páginas, em formato 21 x 27cm. A organização é de Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho, apresentação de Max Perlingeiro, e textos de Tomás Paredes, Nicholas Fox Weber, diretor-executivo da Josef & Anni Albers Foundation, Lêdo Ivo (1924-2012) e Nélida Piñon (1934-2022) – que fez sua última visita ao ateliê do artista em Teresópolis em maio de 2022 -, e um poema visual inédito de Luciano Figueiredo, criado especialmente para a publicação. O livro contém ainda uma detalhada cronologia do artista, e a mais longa entrevista concedida por ele, dada a Luiz Chrysostomo, “iniciada em janeiro de 2022, enquanto Gonçalo estava em suas residências-ateliê de Madri e Paris”, e finalizada “numa manhã ensolarada, no início do outono de 2023, no Museu Isamu Noguchi, em Nova York”.

Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho afirma que a exposição e o livro refletem “as inquietações do artista nos últimos cinco anos, vindo de uma sequência de vivências intensas, descobertas e afetos”. “Manifesta um profundo desejo de partilhar uma longeva trajetória de arte, marcada por percepções corajosas e fragmentadas de nossa contemporaneidade. Lidar com a não linearidade que a vida nos impõe e os espantos decorrentes dela, como bem disse o poeta Gullar, revela que a persistência é uma característica diferenciada da construção humana. Insistir, rever ou retornar não são contradições, mas ações que nos permitem existir e revelar um outro lado possível”, diz. O curador enfatiza que suas séries de trabalho “falam do tempo como tema central, buscam dar conta de um presente mutante, desobstruem uma voz interna que estava por vezes emudecida”. Outros aspectos do artista assinalados por Luiz Chrysostomo são “a facilidade com que navega e deglute manifestações do românico ao barroco espanhol, de culturas africanas ancestrais ao modernismo europeu”, e que se “confunde com o domínio técnico com que manipula pigmentos, têmperas e óleos”.

Max Perlingeiro, diretor da Pinakotheke Cultural, destaca que o público vai se surpreender com a exposição. “Além de trabalhar as cores como ninguém, ele está em constante mutação, como pode ser visto nessas três séries novas que surgiram em 2018”. Ele conta que a ideia do livro e da exposição surgiram ao ver a pintura “Cosmogonia – Melancolia, para Giacomo Leopardi e Francisco de Goya” (2021), na montagem da exposição no Paço Imperial, acompanhado por Luiz Chrysostomo: “Tive a certeza de que iria entrar nesse universo mágico da produção do seu novo livro. E que livro!”.

Programação infantil

Nos sábados, dias 31 de agosto e 14 de setembro, às 11h, haverá oficinas para as crianças, coordenadas pela equipe do educativo da Pinakotheke Cultural, a partir da exposição de Gonçalo Ivo. No primeiro sábado, a atividade será “Colagens Fantásticas: Transforme Papelão em Arte”, inspirada na série “Cardboard”. Em 14 de setembro, a oficina “Galáxias de Arte: Pinturas Mágicas das Cosmogonias” vai propor ao público infantil fazer pinturas, partindo das obras da série “Cosmogonia”. A entrada é gratuita, e a classificação é livre.

Vinicius Gerheim n’A Gentil Carioca São Paulo

A Gentil Carioca anuncia “Tororó”, a primeira exposição de Vinicius Gerheim n’A Gentil Carioca São Paulo. O texto crítico é assinado por Felipe Molitor, que observa: “Tororó apresenta um conjunto pujante de paisagens que vacilam entre cenários interiores e exteriores, onde mesmo as figuras mais evidentes são fugidias o suficiente para se libertarem em uma enxurrada de abstrações. Como se fossem reminiscências, os parcos registros de um quarto, sala, cozinha, quintal se misturam a jardins, matagais, céus ou riachos – uma confusão típica da fantasia dos sonhos. A dimensão onírica também pode fazer referência às imagens fugazes da memória, afinal, recordar lugares e momentos do passado envolve uma boa dose de imaginação.”

As obras, inéditas, despertam os sentidos com suas camadas de tinta ricas em cor e textura. Elas constroem perspectivas variadas, criando uma espacialidade única que transcende o racional. Os elementos emergem conforme as demandas da própria pintura, adaptando-se às formas e cores: um trovão pode se transformar em um galho, uma flor em uma boca, um galho em uma cobra, uma folha em um pássaro…

O artista ainda ressalta a beleza que surge da repetição e sobreposição de formas e cores nas telas: “É algo que exige muita paciência, dedicação, disciplina e uma certa energia atlética, pois é necessário repetir o processo várias vezes, aproveitando a camada de baixo enquanto ainda está ligeiramente molhada, sem perder o timing das outras camadas. Acho que tudo isso enriquece o processo.”

A individual ficará aberta à visitação até o dia 21 de setembro.

Viagem Pitoresca pelo Brasil

13/ago

Nara Roesler São Paulo apresentará, a partir do dia 17 de agosto, a exposição “Viagem Pitoresca pelo Brasil”, com dezenove fotografias em grande formato, recentes e inéditas, de Cássio Vasconcellos, produzidas nos últimos três anos, em que faz uma homenagem às florestas brasileiras, resultado de incursões pelos vestígios de mata atlântica em São Paulo, Paraná, e Rio de Janeiro. Em cartaz até 12 de outubro.

No salão com pé direito duplo, um painel curvo, com doze metros de extensão por três de altura, com a imagem de uma figueira da mata gaúcha, dará um caráter imersivo para o público. A curadoria é de Ana Maria Belluzzo, crítica e pesquisadora, professora titular de Historia da Arte da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da Universidade de São Paulo. O evento integra o Circuito Jardim Europa, que acontecerá neste dia.

Para produzir cada fotografia, muitas vezes o artista leva um dia inteiro de buscas pela luz e pelo ângulo perfeitos. As imagens são então trabalhadas digitalmente em várias etapas e camadas, até obter o resultado desejado. “Em uma representação que lembra muito os artistas viajantes, como Thomas Ender e Rugendas, Cássio faz um trabalho requintado, em que mesmo em fotos panorâmicas é possível identificar cada um dos elementos, em um naturismo e detalhismo tais que por instantes há a dúvida se é fotografia ou gravura”, observa o pesquisador e curador Theo Monteiro.

Na abertura, no dia 17 de agosto, será lançado o livro “Cássio Vasconcellos – Viagem Pitoresca pelo Brasil” (Fotô Editorial, 2024), com 192 páginas, formato 32 x 23,5cm, e textos da curadora e pesquisadora Ângela Berlinde, do historiador Julio Bandeira e do botânico Ricardo Cardim.

O título da exposição faz referência aos primeiros registros conhecidos das florestas brasileiras, iniciados pelo aristocrata e arqueólogo francês Conde de Clarac (1777-1847), com seu desenho “Floresta Virgem do Brasil”, gravado em metal por Claude François Fortier (1775-1835), em 1822, referência para os chamados “artistas viajantes” do século 19, integrantes da Missão Artística Francesa, como Jean-Baptiste Debret (1768-1848), que ao voltar à França publicou “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil” (1834-1839).

O curador e pesquisador Theo Monteiro salienta que “é muito difícil fotografar mata fechada, e com o tratamento feito por Cássio ele consegue criar um tipo de representação que lembra muito o que os viajantes estrangeiros faziam – Clarac, Rugendas (1802-1858), Thomas Ender (1793-1875) – só que é fotografia”. “Com este tratamento muito requintado e elaborado, ficamos na dúvida por alguns instantes se é fotografia ou gravura, que é uma ideia da fotografia e da arte contemporânea: de que meio estamos falando? Até que ponto aquele meio é verídico ou não, se é real ou imaginário? Não é simplesmente uma releitura de um trabalho acadêmico. Tem um jeito de fazer um enquadramento no olhar que fica compreensível. Por mais panorâmico que seja o trabalho do Cássio, você consegue identificar cada um dos elementos. Tem um naturismo, um detalhismo. Não é simplesmente bater uma foto da mata”, afirma.

Cássio Vasconcellos ressalta: “Não tenho a preocupação de revisitar os locais feitos pelos artistas viajantes, e até nem seria possível, com a transformação havida na paisagem desde então”.

Para o público perceber este diálogo proposto pelo artista com os pintores viajantes, estarão na exposição reproduções em alta qualidade das obras “Fôret Vierge Du Brésil” (“Floresta Virgem do Brasil”),1822, buril, 68 x 87 cm, gravura em metal de Claude Francois Fortier a partir de desenho do Conde de Clarac; “Forêt Vierge (Le bords du Parahiba)” e “Valle da Serra do Mar” (“Chaine de Montagnes près de la Mer”), litografias de Charles Motte (1784-1836), a partir de desenhos de Jean-Baptiste Debret, presentes na edição de “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, Paris, Firmin Didot Frères, tomo I,1834.

Ana Maria Belluzzo, no texto que acompanha a exposição, destaca que “o artista apura valores inerentes à fotografia, acentua e transforma registros do real, que são interpretados com aplicação de recursos de edições digitais”. “A imagem ganha teor expressivo ao aparecer revestida de dimensões plásticas, gráficas, táteis”, observa. “Sob comando da escrita da luz, os raios luminosos emitidos pela vegetação chegam até nós. Vistas em contraluz introduzem o sujeito/observador no interior da mata. Em contrapartida, o desfoque do fundo das fotos e o aspecto turvo de entes vegetais, em destaque, tendem a recriar cenários enigmáticos, até fantásticos. Motivam sensações oníricas. A visão da natureza nos escapa. A irrealidade da paisagem também se insinua pela extrema limpidez de pormenores ampliados. Imagens nos transportam para um mundo fantástico, por vezes fantasmático”.